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Aspectos Culturais Influenciam Gestao de SSO 20-03-2007
Aspectos Culturais Influenciam Gestao de SSO 20-03-2007
SEGURANÇA E SAÚDE
OCUPACIONAL
(Um desafio que desafia)
1
2
ÍNDICE
3
2. OS DESAFIOS DA TRANSPOSIÇÃO DA SEGURANÇA E DA SAÚDE
OCUPACIONAL DO SEGUNDO PARA O TERCEIRO ESTÁGIO DE
MATURIDADE ..................................................................................................... 81
2.1. Por que ainda ocorrem acidentes em ambientes supostamente
seguros? ....................................................................................................... 81
4
PARTE 1
5
01. ASPECTOS CRÍTICOS DA SEGURANÇA NO TRABALHO AINDA
FORTEMENTE MARCANTES NAS EMPRESAS BRASILEIRAS
(Os desafios da Segurança e Saúde Ocupacional)
6
1.1. Dificuldades que interferem nas ações de SSO, impedindo-as de romper
as barreiras que as situam em segundo plano nas organizações
QUADRO 1
Objetivos
Pretendidos
Aspectos
Técnicos
Aspectos
Culturais
7
primordial da deferência conferida pela empresa ao tema. É pela definição dos
objetivos que se percebe não apenas a importância que a empresa confere ao
tema, mas principalmente o alcance real das intenções explicitadas. Quanto mais
claros e compatíveis com a realidade da empresa forem os objetivos
determinados por ela em relação à segurança no trabalho, maiores serão as
possibilidades de obtenção de sucesso e menores as margens de erros e
consequentemente de frustrações e desgastes por não alcançá-los. Lembrando
que o engajamento das pessoas nos programas de SSO depende
fundamentalmente do que se pretende, de fato, alcançar e do “estado de
espírito” da população alvo, principalmente dos ocupantes de cargos de chefia.
8
de longe, o que há de mais significativo para facilitar, inibir ou inviabilizar o sucesso
dessa iniciativa nas empresas. Daí a preocupação em explorar um pouco mais esse
terreno na busca de pistas que possam nos auxiliar no entendimento dos elementos
que sustentam e fomentam a cultura de SSO ainda fortemente marcante na maioria
das empresas brasileiras. O sucesso como o insucesso de qualquer iniciativa na
área de Segurança e Saúde Ocupacional decorre da compreensão e principalmente
da maneira de lidar com os traços fundamentais da cultura nesse terreno.
Compreender por que as pessoas agem e como agem são questões que devem,
necessariamente, anteceder a qualquer iniciativa da empresa nesse terreno,
especialmente em relação ao como devem agir. A expressão – “só se muda o que
se conhece” – no terreno da Segurança e Saúde Ocupacional é aplicada sem
nenhum retoque.
Por mais elaborado que seja um programa de SSO e por melhor que sejam as
ferramentas por ele disponibilizadas para o diagnóstico e a correção dos riscos do
trabalho sem um sistema consistente de SSO que dê sustentação às suas ações e
que, principalmente, assegure a participação compromissada de todas as pessoas
com elas envolvidas, especialmente dos ocupantes de cargos de chefia da empresa,
em todos os níveis, os resultados certamente serão limitados, e em muitas
situações, decepcionantes. E essa limitação não se circunscreve apenas ao
combate aos riscos instalados, mas também na manutenção das medidas corretivas
implementadas e principalmente nas restrições à geração de novas situações de
risco.
9
A incapacidade de preservar as medidas de controle implementadas não se reflete
apenas no aumento da probabilidade de ocorrência de acidentes, mas também e
principalmente, na capacidade de prever e impedir o surgimento de situações de
risco semelhantes ou idênticas às corrigidas. Esse paradoxo, resultante da ausência
ou da precariedade dos sistemas de SSO e do comportamento inconseqüente de
algumas chefias culmina no desgaste e na depreciação desse serviço nas empresas
levando-o ao descrédito, principalmente por parte dos altos executivos que não o vê
com bons olhos. Pior ainda, o vê como uma espécie de “saco sem fundo”, onde o
que se faz é como se nada tivesse sido feito. Paradoxalmente, esse sentimento dos
executivos, pelo menos no que pudemos avaliar, resulta das posturas assumidas por
eles mesmos em relação ao tema. Posturas expressas em discursos que não
correspondem, na prática, ao que efetivamente se faz.
Exemplo típico dessa situação foi encontrado numa das empresas onde o
diagnóstico de maturidade de SSO foi realizado. Nela, num determinado ano ao
inventariar os riscos no trabalho, foram identificadas 742 situações de não
conformidade em SSO, nas atividades de manutenção. Montou-se um programa de
controle com cronograma definido para três anos. Por ocasião do fechamento do
referido cronograma foi realizado um novo inventário de riscos, onde, para surpresa
geral, foram identificadas, nas mesmas atividades, outras 658 situações não
conforme. Estudos posteriores indicaram que muitas das situações novas
encontradas resultaram da falta de manutenção das medidas de controle
implementadas ou de sua retirada sem a devida recolocação. E pior do que a
precariedade na conservação das medidas de controle é a permissividade na
geração de novos riscos, muitos semelhantes e/ou idênticos aos que foram
corrigidos.
10
trabalhadores e 4.046 ocupantes de cargos de chefia. O referido diagnóstico foi e
continua sendo realizado em empresas dos ramos de mineração, siderurgia,
metalurgia, construção civil, papel e celulose e logística, nos estados de Minas
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. É importante ressaltar que os dados
resultantes desse trabalho têm servido de base para reestruturação dos programas
de SSO, especificamente no que se refere aos aspectos comportamentais, tanto de
gestores quanto de trabalhadores.
11
centro das atenções – quando deveria ser o sistema produtivo – a segurança no
trabalho é comumente entendida e abordada como relações trabalhistas. Deve-se
ressaltar que essa vinculação não é aqui mencionada como aspecto negativo, mas
apenas situacional. Não há dúvida de que o principal desafio a ser enfrentado em
relação à segurança no trabalho localiza-se nos traços da cultura dominante, nos
modelos de gestão de SSO e na capacidade de fazê-los funcionar.
12
sistemas e/ou programas de SSO estruturados com base nesse expediente
terminam se transformando num labirinto burocrático onde os aspetos de “fachada”,
meticulosamente formulados, se sobrepõem aos conteúdos úteis, geradores de
resultados. No papel tais sistemas e/ou programas se afiguram como
extraordinários, na prática, no entanto, não passam de um enorme acervo
burocrático com baixíssima capacidade funcional. Burocracia perversa onde se
alardeia possuir o que efetivamente não se possui. Paradoxalmente o mesmo
fenômeno vem ocorrendo, em algumas empresas, em relação à gestão da OHSAS
18.001 que, uma vez alcançada a certificação almejada é colocada em quarentena,
melhor dizendo, esquecida.
13
responsabilizados por isso, da mesma forma não são avaliados individualmente e
menos ainda cobrados como deveriam sê-los.
De outra feita, numa verificação, ainda que superficial, constata-se não serem as
metas de SSO suficientemente claras e nem tampouco estabelecidos critérios
rígidos de como atingi-las. Se as metas não são claras, as cobranças não fogem à
regra. É importante verificar que em relação às metas de produção, além da
preocupação no seu estabelecimento e na definição do como atingi-las, há um
elenco de medidas administrativas prontas para serem usadas na correção dos
desvios. Aliás, todo o esforço é voltado para a antecipação das falhas. A pergunta
que se impõe diante dessa constatação é: porque o mesmo fenômeno não ocorre
em relação à Segurança e Saúde Ocupacional? Não há dúvida de que as respostas
podem ser encontradas em muitos outros desvios, mas principalmente na
desvinculação da segurança dos sistemas produtivos e na desobrigação dos
ocupantes de cargos de chefia, sobretudo das áreas operacionais, na sua condução.
14
formalmente, considerados por seus respectivos empregadores como responsáveis,
de fato, pela promoção da Segurança e Saúde Ocupacional – se esquivam, de todas
as maneiras possíveis, de assumir, sem restrição, o papel de gestores e
responsáveis pelos programas de Segurança e Saúde Ocupacional, diga-se de
passagem, caros, muitos deles propostos às vezes pela direção das empresas. É
certo que essa postura vem declinando em muitas empresas, principalmente nas de
grande porte, nos últimos anos, mas não a ponto de já ter amadurecido uma nova
experiência onde as questões relacionadas à Segurança e Saúde Ocupacional
sejam consideradas como parte integrante do sistema produtivo e administradas por
quem administra o sistema produtivo. Questões merecedoras, portanto, da mesma
importância conferida aos itens de produção, manutenção e logística, por exemplo.
A importância a que nos referimos evidentemente não se limita ao discurso, mas
principalmente às ações práticas. 3
15
das cobranças. Essas ferramentas funcionam não apenas como alavanca, mas
como combustível da política de SSO preconizada pela empresa.
16
O estabelecimento de metas “zero acidente” em empresas dos ramos mencionados,
nas condições aventadas, não é definido com base em dados reais onde se avaliam
o que a empresa gastaria, em termos de dinheiro, tempo e de tecnologias para
zerar, de fato, os acidentes, e menos ainda quanto custaria, em termos de
credibilidade (desgaste), não alcançar as metas pretendidas, definidas e difundidas.
Assim se vê que metas de SSO, de um modo geral, na maioria das empresas, não
são definidas com base em dados concretos, em elementos exeqüíveis e
mensuráveis, resultando disso a descrença dos trabalhadores na maioria das
iniciativas da empresa nesse terreno. E o pior dessa descrença está no que a
Segurança no Trabalho representa para os trabalhadores e a associação que eles
fazem entre os resultados por ela obtidos e a figura do SESMT da empresa. Na
maioria das empresas o SESMT é visto não apenas pelos trabalhadores, mas
também pela maioria dos executivos, como um organismo incapaz de dar solução
definitiva aos problemas que afetam a segurança e a saúde dos trabalhadores nas
empresas. E o aspecto severo dessa visão é que ela não leva em conta os
fundamentos dos modelos de gestão de SSO que limitam o poder dos técnicos na
tomada de decisões em relação aos controles dos riscos. Comumente são
conferidos aos técnicos do SESMT papéis e atribuições para os quais sabidamente
não dispõem de poder para administrá-los. E ainda que o poder lhes fosse conferido,
o sistema de gestão da produção não lhes facultaria exercitá-lo, sem conflitos.
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muitos executivos a cometer outros equívocos comprometedores na gestão de SSO
em suas empresas. O primeiro deles, por sinal, o mais danoso, é o corte de
orçamentos destinados ao saneamento de riscos no trabalho, sem avaliar as reais
conseqüências dessa decisão, explicitamente fundamentada na redução de custos,
quando se sabe que esse tipo de decisão está efetivamente centrado na escassez
de informações. Ressaltando que pior do que o corte de orçamentos é não haver
orçamentos definidos para o setor ou quando há, não priorizar adequadamente o
seu emprego.
Um alto executivo dificilmente tomaria uma decisão que pudesse comprometer sua
organização, baseada em dados sólidos. Ele coloca o assunto em segundo plano,
não porque ele assim o fosse, mas por falta de informações consistentes. O
segundo tropeço é sustentar publicamente, sem nenhuma restrição, que os
acidentes de trabalho ocorridos nas suas empresas tiveram como causa
preponderante a negligência e/ou a imprudência das vítimas. Essa colocação pode
ser cabível num ambiente onde os riscos do trabalho são sobejamente conhecidos,
avaliados e suficientemente controlados, o que nem sempre é o caso da maioria das
empresas brasileiras, especialmente dos ramos de negócios anteriormente
mencionados.
O trabalhador, por vários motivos, pode cometer erros graves na execução de suas
atividades, incluindo negligência e imprudência, mas também pode errar na tentativa
de compensar a ausência de acertos que a organização não lhe faculta. Daí não ser
prudente afirmar, sem as ressalvas devidas, que a principal causa de acidentes
numa empresa está no comportamento inconseqüente do trabalhador,
independentemente das razões que o motivam. Não há dúvida de que a maioria
esmagadora dos acidentes de trabalho tem como causa uma estreita ligação com
comportamentos inadequados ou inseguros, ora da parte do trabalhador, ora de sua
chefia imediata, que o manda ou o permite trabalhar em desacordo com os
procedimentos de trabalho. Nesse sentido, sem perder de vista a questão do
comportamento, o que tem de ser estudado e corrigido é o que está dando origem
ao comportamento inadequado.
Uma pesquisa realizada por Whiteley C. A., publicada com o título “A Organização
Totalmente Voltada para o Cliente”, mostra que de cada grupo de 100 problemas
conhecidos do pessoal da base, notadamente os trabalhadores, os supervisores
18
conhecem 74% deles, perdendo, portanto, 26% de informações que podem ser
representativas nas tomadas de decisões. Dos supervisores para os gerentes os
números são ainda mais expressivos, tornando a situação ainda mais crítica. Dos
74%, de domínio dos supervisores, chegam aos gerentes apenas 9%. E destes para
a diretoria, 4%. É importante ressaltar que o livro de Whiteley foi publicado no final
dos anos noventa, e que em função da chamada “Reestruturação Produtiva”,
ocorrida no referido período, muita coisa mudou na estrutura organizativa das
empresas, com repercussão significativa nas funções dos supervisores (ver o item
“1.9. O ordenamento formal do trabalho e os conflitos de poder – a quê ou a quem o
trabalhador deve obediência: aos ditames das normas escritas ou às ordens verbais
ou ao silêncio deliberado de sua chefia imediata?”, página 39).
QUADRO 2
4%
a 6% de
conhecimento
da Alta
Administração
45% a 60%
de conhecimento
das Gerências das Áreas
80% a 100% de
conhecimento dos
Trabalhadores
19
boa performance de suas empresas nesse terreno. A fala dos executivos, afirmando
a qualidade dos serviços de SSO de suas empresas, não deixa de ser verdadeira,
evidentemente que fundamentada nos dados de que eles dispõem. A filtragem de
informações sobre as reais condições de trabalho, na maioria das empresas
brasileiras foi e certamente continuará sendo um problema cuja solução esbarra na
cultura de SSO ainda fortemente predominante.
Curioso é que essa disposição negativa de dar fluxo às informações sobre SSO não
é totalmente consciente ou premeditada, sendo por isso, bem mais difícil de ser
abordada e corrigida. Não encontramos nas empresas, onde o trabalho foi e
continua sendo desenvolvido, propósitos deliberados de bloquear informações. O
fenômeno é espontâneo, porém muito mais arraigado do que se imagina. O bloqueio
está relacionado ao valor que se confere ao tema. Sendo assunto de somenos
importância, sua tramitação não foge à regra.
20
(trabalhadores) e pelos ocupantes de cargos de chefia podem ser vistas na Tabela
18:
21
TABELA 18
Q18. Em sua opinião, os acidentes ocorridos nos últimos anos, na empresa na qual
você trabalha, tiveram como causas principais:
Cargo
Resposta Gestor Colaborador
n % n %
1. Pressões exercidas pelo Facilitador (supervisor) da
área no cumprimento dos cronogramas de 48 11,35 1.138 31,52
produção;
2. Condições inseguras do trabalho (máquinas e
143 33,81 2.011 55,71
equipamentos perigosos sem a proteção devida);
3. Deficiência na identificação e avaliação dos riscos
195 46,10 2.663 73,77
do trabalho;
4. Treinamento inadequado dos colaboradores para a
143 33,81 1.029 28,50
execução correta do trabalho;
5. Aceitação das condições de riscos como situações
224 52,96 2.445 67,73
normais de trabalho;
6. Falhas na organização do trabalho (tarefas
200 47,28 1.719 47,62
descritas de uma maneira e executadas de outra).
Nota: Os percentuais na tabela e no gráfico somam mais de 100%, pois, cada empregado pôde
citar mais de uma resposta.
Casos sem informação: Gestores 6 casos Colaboradores 22 casos
10 0
G E S TO R
90
C o la b o ra d o r
80
73 ,77
70 6 7,73
60 52 ,9 6
55,71
50 4 6 ,1 4 7,2 8
4 7,6 2
40 3 3 ,8 1
3 3 ,8 1
30 3 1, 5 2
2 8 ,5
20
11, 3 5
10
0
1 2 3 4 5 6 O p ç õ e s d e re s p o s t a
22
está na combinação dos itens 3 e 5. A aceitação das condições de riscos como
situações normais de trabalho é explicada, dentre outras razões, pela deficiência de
conhecimento. O efeito imediato da aceitação das condições de risco como situação
normal de trabalho pode ser observado no perfil de respostas ao item 6, que
aparece com valores expressivos, tanto na representação dos gestores quanto dos
colaboradores.
TABELA 31
Q24. Marque entre as afirmativas abaixo, aquelas que você acredita serem as
principais causas dos acidentes ocorridos na empresa, nos últimos anos:
Cargo
Resposta Gestor
n %
1. O planejamento da produção é elaborado sem levar em conta os
48 11,40
aspectos da Segurança e Saúde Ocupacional;
2. Existência de riscos sem controle ou controlados de forma
208 49,40
precária;
3. Os trabalhadores, por dificuldades no entendimento das Normas,
238 56,53
deixam de cumpri-las parcial ou totalmente;
4. Falhas na identificação e avaliação dos riscos do trabalho; 420 99,76
5. Faltam aos Gestores das áreas, conhecimentos e recursos
66 15,67
suficientes para controlar os riscos do trabalho;
6. As ações de Segurança e Saúde Ocupacional estão a cargo dos
técnicos do SESMT que, embora tecnicamente capazes, não 127 30,16
dispõem de poder para intervir nas condições de trabalho.
Nota: Os percentuais na tabela somam mais de 100%, pois, cada empregado pôde citar
mais de uma resposta.
8 casos sem informação
23
verdadeira extensão, conferindo a eles importância exagerada e/ou minimizando-os.
Não havendo entendimento em relação à natureza e importância dos riscos, não
haverá, da mesma forma, entendimento em relação à definição e implementação
das medidas de controle necessárias. A distância que separa a importância
conferida à SSO por parte dos ocupantes de cargos de chefia, sobretudo das áreas
operacionais, em relação aos técnicos do SESMT, constitui-se na principal matriz de
conflitos entre esses dois seguimentos nas empresas onde o diagnóstico de
maturidade de SSO foi realizado. O problema pode ser observado em outras
questões, como aparece no tabela 57 – “Roteiro de Entrevistas” - com destaque
para o item 1, “As atribuições e responsabilidades em SSO são nominalmente
definidas no rol de atribuições dos ocupantes de cargos de chefia” que aparece com
68,65% na representação dos gestores e com 27,66% dos técnicos do SESMT. Já
no item 5, “A empresa cobra resultados positivos em SSO, mas não é
suficientemente clara em relação ao que compete aos ocupantes de cargos de
chefia nessa área”, que aparece com 10,64% na representação dos gestores e com
66,96% dos técnicos do SESMT. A diferença de percepção entre os grupos é grande
e compromete o entendimento, especialmente na definição e implementação das
medidas de controle.
24
TABELA 57
10 0
GES TOR
90
S ES M T
80
70 6 8 ,56
6 5,9 6
60
50 4 7,9 9
4 4 ,6 8
40
3 4 ,0 4
30 2 7,6 6
17 , 9 7
20
10 , 6 4
9 ,2 2
10 8 ,51 3 ,78
0 0
1 2 3 4 5 6 O p ç õ e s d e re s p o s t a
25
É importante destacar que a combinação dos resultados obtidos nos itens referentes
5
às tabelas mencionadas não apenas comprometem os programas de SSO em
curso na empresa, mas impedi-los de cumprir as suas finalidades. E não há como
fugir à regra: “o ato de mudar começa pelo pleno conhecimento daquilo que se
deseja mudar”.
26
necessário ao auditor fiscal do trabalho levantar, na empresa fiscalizada, todos os
itens de SSO em desacordo com as normas legais vigentes e transformá-los em
notificações. A inviabilidade dessa ação não esbarra apenas em questões de
natureza técnica, mas principalmente na missão da fiscalização. Além disso, a
fiscalização confere, por dever de ofício, um peso considerável aos aspectos
burocráticos – verificação de documentos – em detrimento da auditagem das reais
condições dos ambientes de trabalho.
Outro traço da cultura de SSO ainda fortemente marcante na maioria das empresas
brasileiras evidencia-se pelo estabelecimento do nexo causal dos acidentes com
base no comportamento dos trabalhadores. Relacionar o comportamento do
trabalhador com a prevenção ou a ocorrência de acidentes no trabalho – não
importando se o impacto do acidente é uma intoxicação aguda ou uma fratura óssea
ou coisa do mesmo gênero – não é tarefa difícil nem mesmo para os leigos no
assunto, quanto mais para quem milita profissionalmente no ramo da promoção da
Segurança e Saúde Ocupacional. O mesmo, todavia, não ocorre quando se
pretende elucidar as origens do comportamento dos indivíduos, o que, em última
27
instância, é o que interessa a quem lida com a gestão da Segurança e Saúde
Ocupacional.
28
Afora os equívocos que culminam em julgamentos errôneos ou os motivos que
orientam o comportamento do trabalhador, a alteração de comportamento em
relação ao que se qualifica como sendo o corretamente esperado não deixa de ser
um sério agravante na exposição aos riscos ocupacionais, sobretudo quando esses
riscos não são suficientemente identificados, avaliados e de pleno conhecimento dos
próprios trabalhadores.
Imaginar que um trabalhador se exponha a uma condição de risco que pode lesá-lo
ou matá-lo simplesmente porque é displicente, imprudente, negligente ou
indisciplinado é não compreender os princípios naturais que norteiam a preservação
da vida e ignorar os determinantes do comportamento humano. Muitas vezes o
trabalhador se comporta de maneira equivocada no trabalho, em franca
desobediência a determinadas regras de segurança, simplesmente porque não lhe
foi proporcionada outra alternativa para realizar o trabalho com a assertiva esperada,
incluindo os aspectos de segurança. Nesse sentido é conveniente ressaltar que,
nem sempre, o trabalhador é cobrado pela maneira (certa ou errada) de como se
está trabalhando ou se deveria trabalhar, mas pelo resultado do trabalho realizado.
Daí o ímpeto do trabalhador em realizar o trabalho ainda que em desacordo com as
normas que orientam a sua realização. Às vezes o trabalhador não é apenas
incentivado a realizar determinadas tarefas em desacordo com os procedimentos de
trabalho, mas forçado pelas circunstâncias impostas pelo próprio trabalho ou por
pressões exercidas pelas suas chefias imediatas. O diagnóstico de maturidade de
SSO realizado nas empresas mencionadas não deixa dúvidas quanto ao afirmado,
sobretudo em relação ao que os trabalhadores denominam de “ausência deliberada
do supervisor”. O supervisor, em muitas situações, finge não ver o trabalhador
desrespeitar padrões ou regras de trabalho. Quando isso ocorre, o trabalhador não
se comporta de maneira diferente: ignora a presença do supervisor e passa por cima
das regras ou procedimentos normativos do trabalho.
A esse respeito é conveniente lembrar que num passado não distante, menos de
dez anos, o bom trabalhador era aquele que não reclamava de nada, não
questionava coisa alguma, que fosse dotado de enorme senso de improvisação e
que obedecesse não apenas às ordens explicitas, mas o que pudesse agradar à sua
chefia imediata. Não se pode esquecer também, que a formatação do trabalho
(definição de normas de procedimento) é coisa muito recente e nem sempre
29
formuladas com base nas reais condições de trabalho e nas vivências e
experiências dos trabalhadores.
30
Dificuldades de relacionamento com colegas e/ou com chefias motivadas por
conflitos oriundos do próprio trabalho ou por fadiga resultante da sobrecarga de
trabalho.
Angústia de saber que não pode mais contar com a aposentadoria especial,
como era antes da reforma da Previdência Social, e de tornar-se vulnerável à
dispensa do trabalho antes de completar o tempo necessário para a
aposentadoria, exigido pelas novas regras do sistema previdenciário. Esse item
31
aparece com mais intensidade nos trabalhadores com idade superior a cinqüenta
8
anos e que ainda não dispõem do tempo necessário para se aposentarem.
32
estudá-lo em profundidade, definindo, qualificando e/ou quantificando suas reais
causas para, na seqüência, combatê-las utilizando-se de meios adequados.
33
1.6. A maneira como o trabalho é organizado e sua relação com o
comportamento dos trabalhadores
A definição da causa dos acidentes de trabalho pela via do “ato inseguro” não peca
apenas por privilegiar o comportamento do trabalhador como causa preponderante
dos acidentes de trabalho, em detrimento da qualidade dos ambientes e da
organização do mesmo, mas principalmente por imaginar que os erros cometidos
pelo trabalhador na execução de suas tarefas derivam simplesmente das limitações
do próprio trabalhador, não guardando, por isso, nenhuma relação com as condições
de trabalho, com os modos de ser e de agir da empresa, na pessoa, sobretudo de
seus prepostos. Esse entendimento combinado com o extremo de se imaginar que o
comportamento do trabalhador, não importando as razões que o determinem, não
deve ser abordado como causa de acidente, porque o trabalhador em todos os
sentidos deve ser visto e tratado como vítima, não apenas empobrece qualquer
iniciativa na área de gestão de SSO, mas concorre para reforçar as teses que
sustentam não ser a segurança no trabalho um problema de gestão empresarial em
todas as suas nuanças, mas um problema relacionado apenas à qualidade da mão-
de-obra da empresa. Sendo essa principal razão da inclusão da SSO no rol das
relações trabalhistas.
34
Essa forma equivocada de abordar a questão reflete negativamente em todas as
iniciativas de fazer segurança, mas de forma decisiva nas práticas de treinamento
em prevenção de acidentes. De um modo geral os treinamentos abordam os riscos
do trabalho desvinculados dos processos produtivos, numa falsa crença de que a
capacitação do trabalhador para fazer segurança seja a solução mais produtiva na
prevenção de acidentes, o que nem sempre ocorre. O treinamento em prevenção de
acidentes produz bons resultados, não há dúvidas, quando associado à melhoria
contínua dos ambientes e, principalmente, da organização do trabalho.
Afirmar que o trabalhador decide por conta própria como se comportar em relação
às normas que orientam o trabalho, sem levar em conta o complexo de variáveis que
envolvem o próprio trabalho, sobretudo no que se refere às relações de poder,
revela não apenas uma inversão de papéis, mas, principalmente, uma demonstração
clara da maneira como o trabalho é organizado naquele ambiente, bem como as
fragilidades dos seus sistemas de controle.
A organização da produção e o que dela decorre – fazer o quê, por que, como,
onde, quando e especialmente por quem – sempre e necessariamente serão de
responsabilidade da empresa, na pessoa de seus prepostos, e não dos
trabalhadores. Não acreditamos que o trabalhador, em nenhuma empresa brasileira,
em face da cultura do trabalho ainda predominante no Brasil, disponha de poder
para decidir, individualmente, como deve se comportar no trabalho,
35
independentemente das determinações normativas impostas pela empresa. O que
se afigura como mais provável, nesse particular, são as falhas no ordenamento
9
formal do trabalho e as deficiências nos controles exercidos pela empresa.
Esse ponto de vista apóia-se no raciocínio de que se expor a uma situação de risco
à saúde e/ou à integridade física, sem saber o que isso significa, é bem diferente do
que estar consciente do problema e ter que a ele se submeter sem condições para
agir. Nesse caso, o dano não se restringe apenas àquele ocasionado pelo risco em
questão, mas também pela angústia de saber o que está ocorrendo e não poder se
proteger. Oferecer essa condição ao trabalhador, na expectativa de que ela seja um
caminho alternativo para a solução do problema acidentário, além de não
representar solução nenhuma, aprofunda ainda mais o fosso que separa os
propósitos da empresa em relação ao tema do engajamento espontâneo e
compromissado dos trabalhadores.
36
Nada mais danoso a qualquer programa de gestão de SSO do que o
constrangimento sofrido por trabalhadores que passaram por treinamento específico
de segurança, promovidos pela própria empresa, mas que ao tentarem colocar em
prática as lições aprendidas são impedidos de fazê-lo, ora por decisão de suas
chefias imediatas, sem justificativas convincentes para isso, ora porque as
condições de trabalho não o permitem. No caso da segunda hipótese, o conflito está
intimamente relacionado ao fato de o conteúdo do treinamento não ter levado em
conta as peculiaridades do ambiente e a natureza do trabalho porque se tratava de
segurança e não de trabalho correto. Em todos os sentidos, a ocorrência desse fato
pode ser debitada à desvinculação da segurança do trabalho dos processos
produtivos e da não responsabilização das gerências das áreas operacionais pela
sua condução.
Eliminar, nesse sentido, pressupõe reduzir os níveis dos agentes patogênicos abaixo
dos limites legais de tolerância, o que seria feito, por meio de medida de proteção
coletiva ou pelo uso de Equipamento de Proteção Individual, que não interfere nos
agentes patogênicos, mas na atenuação de seus efeitos. O questionamento dos
37
trabalhadores, no que nos foi possível observar, reside na frase “eliminar o risco” e o
que dela decorre – a supressão do adicional de insalubridade. O trabalhador não é
contra a eliminação do risco, o que ele não quer é perder o adicional de
insalubridade.
38
menos complicada e de menor custo para as empresas. O referido adicional incide
sobre o salário mínimo e é pago a uma parcela restrita da população de
trabalhadores expostos a riscos ocupacionais. No nosso entendimento, tanto os
trabalhadores quanto às empresas, deveriam rever suas posições, vez que muitas
outras questões envolvidas no assunto, no momento das negociações, não são
devidamente consideradas pelas partes interessadas.
39
Com a adoção das alíquotas suplementares destinadas ao custeio da aposentadoria
especial muita coisa mudou e continua mudando nas empresas. As condições de
trabalho vêm se alterando, em muitas situações, para melhor. E para que os
esforços não se circunscrevam apenas aos aspectos fiscais é conveniente que os
trabalhadores estejam atentos, acompanhando e avaliando a eficácia das
mudanças, sobretudo no que se refere à qualidade dos ambientes de trabalho.
40
1.9. O ordenamento formal do trabalho e os conflitos de poder – a quê ou a
quem o trabalhador deve obediência: aos ditames das normas escritas ou
às ordens verbais ou ao silêncio deliberado de sua chefia imediata?
Outro aspecto relevante, fruto dos traços da cultura ainda fortemente marcante na
maioria das empresas brasileiras, que interfere de maneira negativa no desempenho
da gestão da Segurança e Saúde Ocupacional, é o dualismo crescente vivenciado
cotidianamente pelos trabalhadores no atendimento ao ordenamento formal do
trabalho. O fosso que ainda separa o discurso do trabalho formal (normas e/ou
procedimentos escritos) da diversidade de formas práticas – nem sempre em
conformidade com que está escrito – de realização de tarefas por parte dos
trabalhadores, às vezes até orientados pelas suas chefias imediatas, relaciona-se,
no que pudemos identificar, entre vários outros motivos, aos que se seguem:
Dificuldades, por parte tanto dos gestores das empresas quanto dos
trabalhadores, em lidar com trabalho orientado por regras formais. A prescrição
do trabalho, ainda que bem feita, representa para uma parcela considerável da
população trabalhadora, incluindo gestores, uma espécie de entrave – de
empecilho na realização de suas atividades;
41
Falta de cobrança por parte dos supervisores. Os critérios de avaliação de
desempenho centrados em produção terminam refletindo nas posturas dos
supervisores em relação ao descumprimento dos procedimentos tanto de
trabalho quando de segurança.
42
Dos fatores mencionados, no nosso entendimento, sem nenhuma dúvida, o
fenômeno que denominamos duplicidade de orientação é o que mais perturba os
trabalhadores no exercício de seu trabalho. Fenômeno decorrente das inúmeras
incompatibilidades existentes entre trabalhadores e condições de trabalho e
principalmente entre trabalhadores e chefias imediatas e de quebra, com técnicos de
segurança. Enfatizamos que por se tratar de um fenômeno relativamente recente,
não foi ainda suficientemente avaliado, mas que está diuturnamente presente nas
vivências dos trabalhadores no seu dia-a-dia de trabalho.
43
mencionadas, e especialmente pelo fato de terem as empresas idealizado e
implementado um conjunto de mudanças internas sem ruptura com modelos
anteriores. 12
44
figura desenvolta, despachada, sem a necessidade de chefia para controlar os seus
movimentos, enfim, para o exercício de um trabalho onde o chefe é uma folha de
papel ou uma tela de computador onde está escrito o que fazer e como fazer. Esse
exercício requer maturidade. A essa ponderação acrescenta-se a herança escravista
que marcou profundamente as relações de trabalho no Brasil, por mais de três
séculos ininterruptos. Isso sem contar com a teorização do trabalho, exigência dos
novos tempos.
Um outro fator relevante, que não pode ser ignorado na compreensão do fenômeno
(teoria e prática) é a dificuldade de se estabelecer parâmetros entre a execução de
uma atividade pela via da prática e a realização da mesma atividade seguindo
orientações fundamentadas em elementos teóricos. É importante lembrar que o ato
“fazer” constitui-se numa ação caracteristicamente motora, aprendida e aprimorada
através da observação e da repetitividade; deferentemente da concepção teórica da
mesma atividade, que passa pelo terreno da cognição. Por essa e por outras razões
é que surgem e se avolumam os conflitos vivenciados pelos trabalhadores no seu
cotidiano de trabalho.
45
no diagnóstico, não estão conseguindo responder, com a presteza necessária, ao
volume de informações oriundas de seus comandados.
As raízes desses conflitos, pelo observado, além dos traços da cultura ainda
fortemente marcante nas empresas, estão nos objetivos que nortearam a
implantação dos programas que deram origem ao ordenamento formal das
atividades produtivas: qualidade – ISO 9.000, meio ambiente – ISO 14.000 e
segurança e saúde ocupacional, OHSAS 18.001.
Uma outra questão não menos importante que emerge nesse cenário é a dificuldade
de conciliar o manancial de conhecimentos técnicos adquiridos através da educação
formal com experiências práticas resultantes das vivências diárias dos trabalhadores
com suas ocupações. Evidencia-se uma dificuldade, se não explícita, velada, por
46
parte dos detentores do conhecimento teórico em aceitar as experiências dos
trabalhadores, não apenas como verdade substancial, mas como solução para
determinados problemas para os quais o conhecimento teórico revela-se
insuficiente.
É importante enfatizar, contudo, que muita coisa mudou nas empresas, e certamente
para melhor, em menos de uma década, em decorrência da implementação dos
referidos programas. E teria mudado mais se o processo de mudanças em curso
não tivesse sofrido o arrefecimento que sofreu tão logo as empresas alcançaram o
seu objetivo primordial que era a certificação formal. E principalmente se as
mudanças tivessem de início, contemplado a qualidade de vida dos trabalhadores
pelo menos na sua relação cotidiana com o trabalho.
Porém, essa transformação exige posturas coerentes com o que se pretende mudar,
especialmente por parte das gerências das áreas operacionais e dos supervisores,
47
que fazem a ligação entre os trabalhadores e as regras definidas para o trabalho. E
os meios impulsionadores dessas mudanças, sem dúvida alguma, residem nas
diversas modalidades de educação, de médio e longo prazo, conjugados com
ferramentas administrativas apropriadas, onde estejam definidos, com a clareza
necessária, o que a empresa espera de seus colaboradores e os meios
indispensáveis para transformar o idealizado em realidades mensuráveis. Nunca é
demais lembrar que o modelo de gestão ora em curso nas empresas se assemelha
a um banco de três pernas, que podem ser entendidas como: conhecimento,
método e disciplina.
Por outro lado, essa nova forma de gerir as empresas obrigou todo o seu corpo
gerencial, especialmente às gerências de produção, inclusive os supervisores e
facilitadores a estudar e se envolver direta e fortemente com atividades de cunho
gerencial em detrimento do conhecimento técnico e das experiências práticas
exigidas pelos sistemas produtivos. Estudos recentes, realizados por nós, nesse
sentido, vêm revelando que, a partir de meados da década de noventa, de cada
cinco cursos promovidos pelas empresas principalmente para seus supervisores e
facilitadores, três a quatro são da área de gestão e apenas um ou dois, das áreas
técnicas, com conteúdos voltados para os aspectos técnicos relacionados às suas
áreas de atuação. Reflexos dessa situação podem ser observados no diagnóstico de
maturidade de SSO realizado nas unidades industriais anteriormente mencionadas,
na Tabela 25, na fala dos colaboradores, com destaque para:
48
Itens 4, “O Supervisor/Facilitador busca obter junto aos operadores informações de
como o equipamento opera, e tenta ajudar na solução de problemas”, que aparece
com valores expressivos, 40,14%. Na mesma tabela, no item 6, o fenômeno se
evidencia de outra forma, “Os operadores conhecem melhor os equipamentos e os
seus limites técnicos do que o Supervisor/Facilitador”, aparecendo com 54,23%.
Ainda em relação à Tabela 25, itens 1, “O Supervisor/Facilitador é suficientemente
capacitado e é o orientador das ações do grupo”, aparece com 36,30%, índice
considerado demasiadamente baixo. Ressalte-se que o trabalhador conhecer a
funcionalidade do equipamento mais do que o seu supervisor é compreensível e
pode não se constituir em problema. A falha está na percepção dos limites técnicos
do equipamento.
Convém ressaltar que esse fenômeno não vem interferindo no relacionamento dos
supervisores com seus comandados apenas no que diz respeito à sua presença
física nos locais de trabalho, mas também nas demandas de natureza técnica,
ligadas às suas áreas de trabalho. Antes o trabalhador recebia ordens diretas e
orientação técnica de seus supervisores até mesmo para as coisas mais simples.
Em vista dos novos sistemas de gestão, isso passou a ser dificultado por problemas
de agenda do supervisor, que pouco tempo dispõe para o atendimento a esse tipo
de demanda.
49
TABELA 25
Cargo
Resposta Colaborador
n %
1. O Supervisor/Facilitador é suficientemente capacitado e é o
1.314 36,30
orientador das ações do grupo;
2. O Supervisor/Facilitador conhece os processos e os
equipamentos, mas não orienta suficientemente o grupo quanto 294 8,12
às questões relativas à correta operação dos mesmos;
3. O Supervisor/Facilitador conhece os processos, mas não tem
domínio suficiente sobre as características técnicas dos 1.159 32,02
equipamentos;
4. O Supervisor/Facilitador busca obter junto aos operadores
informações de como o equipamento funciona para melhor 1.453 40,14
orientá-los na operação dos mesmos;
5. Os conhecimentos do Supervisor/Facilitador em relação aos
835 23,07
equipamentos são limitados;
6. Os operadores conhecem melhor os equipamentos e os seus
1.963 54,23
limites técnicos do que o Supervisor/Facilitador.
Nota: Os percentuais na tabela somam mais de 100%, pois, cada empregado pôde citar mais de
uma resposta.
12 casos sem informação
Por outro lado, o investimento que o supervisor fazia no seu aprimoramento técnico
decresceu de maneira acentuada, em função do volume de trabalho de natureza
gerencial exigido pelo próprio sistema. As conseqüências dessa defasagem podem
se manifestar no relacionamento do supervisor com seus comandados e repercutir
diretamente num dos aspectos mais importantes desse tipo de relacionamento, que
é a credibilidade. Certamente, o relacionamento entre trabalhador e supervisor se
altera para pior, no momento em que o trabalhador não obtém, por inteiro, de seu
supervisor as informações técnicas de que ele necessita por ocasião da abordagem.
50
trabalhadores em relação às suas ocupações. Os trabalhadores tiveram que
aprender a trabalhar sob supervisão limitada, não apenas em termos da presença
física dos supervisores, mas também das orientações técnicas por eles prestadas.
TABELA 10
Q10. Ao se deparar com uma situação de risco considerado grave, você foi
orientado pelo seu Facilitador/supervisor a:
Cargo
Resposta Gestor Colaborador
n % n %
1. Interromper a atividade imediatamente e comunicar
288 68,09 2251 62,35
o fato ao seu Facilitador;
2. Comunicar a situação de risco ao Facilitador e
71 16,78 775 21,47
esperar a decisão trabalhando na mesma atividade;
3. Continuar trabalhando independentemente da
36 8,51 243 6,73
situação de risco verificada;
4. Solicitar auxílio de colegas de trabalho para ajudar
107 25,30 1596 44,21
na solução do problema;
5. As Normas de Trabalho e/ou Segurança e Saúde
Ocupacional são omissas em relação a situação 54 12,77 810 22,44
dessa natureza;
6. Não há instruções escritas de como se comportar
57 13,48 1043 28,89
diante de situação dessa natureza.
Nota: Os percentuais na tabela e no gráfico somam mais de 100%, pois, cada empregado pôde
citar mais de uma resposta.
Casos sem informação: Gestores 6 casos Colaboradores 22 casos
51
Diferença de precepção – gestores e técnicos do SESMT
10 0
G ES T O R
90
S ES M T
80
70 6 8 ,0 9
60 6 2 ,3 5
50
4 4 ,2 1
40
30 2 5,3 2 8 ,8 9
2 1, 4 7
20 2 2 ,4 4
16 , 7 8 12 , 7 7 13 , 4 8
10 6 ,73
8 ,51
0
1 2 3 4 5 6 O pç õ e s d e re s p o s t a
A questão que se impõe diante de tudo isso é saber qual o grau de confiabilidade
desse sistema em relação aos riscos oferecidos pelo trabalho e a sua relação com a
ocorrência de acidentes, por sinal, alta. É importante destacar que um percentual
considerável dos acidentes graves, inclusive com mortes, ocorridos nos cinco
últimos anos, que conseguimos estudar, teve como causa principal 13 a
desobediência a procedimentos formais de trabalho. Paradoxalmente, os
procedimentos formais de trabalho que deveriam funcionar como espinha dorsal de
orientação e controle vêm se transformando, em alguns casos, em peças geradoras
de conflitos, de indutores de erros na execução das tarefas e, conseqüentemente,
de acidentes graves. Evidentemente que não são os procedimentos responsáveis
pela ocorrência de acidentes, mas pela maneira como as pessoas se comportam em
relação a eles. Assim, tão ou mais importante do que atribuir ao descumprimento de
procedimentos a responsabilidade pelos distúrbios nas relações de trabalho, é
definir por que os ditos procedimentos não são observados, pelo menos no mínimo
das expectativas. A desobediência a regras do trabalho é um fenômeno facilmente
percebível, o que não é simples é determinar e corrigir as suas causas.
52
o diagnóstico de maturidade de SSO realizado em oito grandes empresas mineiras,
dos ramos de metalurgia, siderurgia, mineração, construção civil e serviços, nos
anos de 1995 e 1996. Os mesmos itens abordados àquela época continuaram sendo
estudados nos anos de 2001 até a presente data, e os resultados obtidos,
comparados aos primeiros diagnósticos, não sofreram alterações substanciais como
se imaginava que pudesse ter ocorrido devido à movimentação havida no mesmo
período em decorrência do aprimoramento dos programas de segurança, qualidade
e meio ambiente, segundo prescrições contidas no conjunto de normas: ISO 9.000 e
ISO 14.000, OHSAS 18.001, referentes à Segurança e Saúde Ocupacional e na SA
8.000, referente à Responsabilidade Social.
53
atribuição orientar, coordenar e facilitar o trabalho de outrem, como gerente,
supervisor, encarregado e líder de equipes.
54
por essas operações tinham conhecimento limitado sobre o risco presente, o que
tornava a operação ainda mais perigosa e comprometedora da integridade física
dos operadores.
55
de acidentes, da mesma forma que é feito quando se trata dos itens relacionados à
produção.
56
de forma efetiva. Dessa forma, tudo o que se faz é acompanhado do sentido, cada
vez maior, de urgência e de improvisações. Pouco ou nada é feito na antecipação
dos problemas, tudo é voltado para o atendimento precário dos problemas
instalados e acumulados ao longo do tempo. E o pior: nesse modelo de gestão estão
ausentes os responsáveis pela condução das ações de SSO, quer seja para
identificar ou corrigir os riscos presentes.
57
excesso de horas extras, ritmo acelerado de trabalho, carga excessiva de trabalho,
pressão por produção, fadiga, entre outros. Sem contar que os trabalhadores das
empresas terceirizadas comumente ocupam o mesmo local de trabalho dos
trabalhadores da empresa principal, fazem os piores serviços, são temporários, com
ganhos indiretos praticamente nenhum e ganham bem menos que os trabalhadores
da contratante, às vezes para fazerem o mesmo trabalho.
58
conduzida por um SESMT que não dispõe de poder para intervir diretamente nos
processos de trabalho, que enfrenta dificuldades não só em determinar papéis e
atribuições para as gerências operacionais, mas principalmente em fazer essas
gerências cumprirem fielmente os seus papéis. Essa incumbência, na maioria das
empresas, está a cargo da gerência de Recursos Humanos, que por seu turno,
dispõe de poder relativo para decidir. Essa fase é denominada “gestão de
segurança pelo SESMT”.
59
A principal característica desse estágio é a incorporação das ações da
segurança do trabalho às atividades produtivas e a transformação dos
gestores das áreas, especialmente os supervisores, de simples
colaboradores, coadjuvantes, em responsáveis, de fato, por sua condução e
pelos seus resultados.
60
pela sociedade, e principalmente pelos seus parceiros comerciais, como empresa
verdadeiramente responsável e comprometida, de fato, com os valores éticos tão
reivindicados pela sociedade contemporânea. Nessa fase, os aspectos de
Segurança e Saúde Ocupacional não se caracterizam como objeto da ordem do dia
nas organizações, eles são partes integrantes do sistema, que não requer destaque
especial. Nessa fase, dadas as suas características, uma vez amadurecidas, a
empresa pode se beneficiar com a transferência de tecnologias de Segurança e
Saúde Ocupacional, sobretudo, para atuar no seu próprio ramo de negócio. Entre os
produtos de SSO, hoje disponibilizados no mercado internacional e comercializados
pelas consultorias do ramo muitos surgiram por meio desse expediente.
61
Os gestores que estão diretamente envolvidos com os riscos podem saber
de sua existência, mas não se esforçam para corrigi-los por alegação de
falta de apoio por parte de suas chefias superiores.
Essa situação foi vivenciada na quase totalidade das empresas trabalhadas por
onde passamos. Evidentemente, tal procedimento é sustentado pela filosofia de que
segurança não é parte integrante do negócio da empresa, podendo por isso ser
minimizada ou transferida para quem, sabidamente, não dispõe de poder para tomar
as decisões necessárias em relação às medidas de controle.
62
A afirmação acima pode ser comprovada mediante comparação das posturas
assumidas pelas empresas em relação às políticas de meio ambiente em
comparação com as políticas de Segurança e Saúde Ocupacional. Os custos das
não conformidades em relação ao meio ambiente justificam investimentos
compatíveis na sua correção. O mesmo, infelizmente não ocorre quando se trata de
Segurança e Saúde Ocupacional, salvo em relação às alíquotas de custeio da
aposentadoria especial quando forem efetivamente cobradas.
63
dono ou quem responde pela empresa determina, com clareza e firmeza, que as
questões de Segurança e Saúde Ocupacional façam parte das atribuições de seus
prepostos, a vontade a que nos referimos está automaticamente definida e
incorporada ao modo de ser e agir das pessoas. Não nos consta que algum gerente,
por sua conta e risco, resolva definir o que fazer nas empresas, a não ser que suas
decisões sejam sobejamente vantajosas ao negócio que ele administra, e mesmo
assim é preciso convencer aos seus superiores da conveniência de tal
procedimento. O que o gestor faz é pautado em regras definidas pela empresa ou
pela ausência delas.
É importante ressaltar que tudo o que a empresa produz vincula-se não apenas à
sua marca, mas também à figura do seu titular – dono ou executivo. Assim, o que a
empresa produz não deixa de refletir a imagem de quem a dirige. As coisas boas ou
ruins produzidas pela empresa carregam indelevelmente a marca do dono, de seu
empreendedor.16 E no tocante à Segurança e Saúde Ocupacional não há nenhuma
diferença. As empresas que conhecemos que reverteram as condições de trabalho,
isto é, de condições precárias para condições aceitáveis, boas ou ótimas, foram
aquelas nas quais os seus dirigentes assim o decidiram. Os ganhos que essas
empresas auferiram e continuam auferindo, com a melhoria das condições de
trabalho, refletem o esforço e dedicação de seus dirigentes.
Ter-se acostumado a uma situação errada, onde há exposição não controlada a uma
situação de risco, é fatal para a reflexão correta sobre o problema, pois, no ato de
pensar sobre o todo, essa variável não se faz presente, não é considerada e muito
menos solucionada.
64
adequada, nem tampouco comparada com situações criadas no cérebro. Assim
sendo, não fará parte da análise do problema nem merecerá qualquer ação
corretiva. A ausência de ação é explicada, nesse caso, pela ponta inversa do
processo: não havendo percepção, reagir a quê? Daí a importância da percepção do
risco, seja por parte dos trabalhadores seja por parte do gestor, que em última
instância é quem responde legal e administrativamente por essa atividade.
O fator tempo na convivência com situações de risco, sem os controles devido, é por
demais relevante visto que quanto mais tempo o indivíduo convive com uma
determinada realidade mais familiar ela se faz e mais difícil se torna corrigi-la. Uma
coisa é corrigir uma situação de risco ainda não acomodada (aceita como tal) no
cérebro de uma pessoa, e outra muito diferente é corrigir o que de tão familiar
tornou-se parte de suas vivências cotidianas. A convivência com o que apenas
incomoda – lembrando que há situação de risco considerada grave que não
incomoda – com o passar do tempo, transforma-se em normalidade perfeitamente
aceita.
Negar a verdade posta – a vivência cotidiana com o risco – não se faz com palavras
ou ações que não sejam específicas e endereçadas a sua correção. É necessário o
surgimento de situações outras, renovadoras dos modos de perceber e agir, ao
alcance das pessoas envolvidas com a situação descrita. Ao se afirmar que uma
situação está errada é absolutamente necessário mostrar, ensinar e exigir que se
65
faça o que é correto. Sem isso, a afirmação torna-se de pouca ou nenhuma
serventia. Notificar uma situação errada sem apontar e exigir que se faça o que é
correto torna-se um exercício inócuo, especialmente em relação à mudança de
atitudes por parte de quem está envolvido com os processos de trabalho. Daí a
imprescindibilidade do conhecimento do gestor acerca dos riscos do trabalho que ele
supervisiona. Fato que vem ocorrendo, no sentido inverso, em decorrência, primeiro,
em conseqüência da deficiência na atualização de conhecimentos por parte dos
supervisores/facilitadores, segundo, pela sua pouca permanência nas frentes de
trabalho. Esse achado ficou patente no diagnóstico de maturidade de SSO realizado
em todas as empresas por onde passamos, incluindo as quatro unidades industriais
dos ramos de metalurgia.
66
a segunda, mais ou menos, liga-se ao fato de as questões de segurança serem
tratadas por pessoas não diretamente envolvidas com os processos produtivos –
conseqüentemente, nem com as situações de risco, nem com a criação e
manutenção das mesmas. Vale ressaltar que essa alegação tem sido
frequentemente utilizada nas justificativas apontadas por todos os grupos de
trabalho que pudemos acompanhar e avaliar.
Nos ambientes onde a política de SSO determina que as ações de segurança façam
parte das atribuições dos gerentes, dos gestores, e que somente a eles compete
buscar soluções, certamente não será legítima a especulação sobre quem é
chamado de ninguém. O ninguém se transforma em alguém nem tanto oculto como
antes, que pode perfeitamente ser localizado e responsabilizado por deixar de fazer
o que é de sua competência. Nesse sentido não é difícil compreender e aceitar que
um dos principais obstáculos interposto na Gestão da Segurança e Saúde
Ocupacional nas empresas é a falta de clareza na definição formal de quem, de fato,
é a responsabilidade pela segurança dos trabalhadores. E menos difícil ainda torna-
67
se compreender que a indefinição de quem é quem nesse terreno é que gera a
figura do tão decantado “ninguém”. Em relação às unidades industriais
mencionadas, o que conseguimos apurar é que elas cobram resultados em SSO,
mas não são suficientemente claras em relação às atribuições das pessoas
envolvidas com os processos produtivos no tocante à segurança dos trabalhadores.
(vide item 5, tabela 57.
68
O constatado não foi “falta de tempo”, e sim falta de compromisso, caracterizado
pela vontade de fazer e pela ausência de cobrança da parte de quem tem o poder
para decidir sobre o ato de fazer. Nos lugares onde havia compromisso, vontade e
cobrança sistemática, os índices de correções foram incomparavelmente maiores
resultando em redução sistemática de erros na realização das tarefas e
consequentemente da prevenção de acidentes. Com isso, cada vez mais
acreditamos que a segurança do trabalho somente existe, de fato, onde a direção da
empresa decide que segurança é parte essencial das ações de produção, cabendo
aos ocupantes de cargo de chefia a atribuição de fazê-la, sem ressalvas. Segurança
não é questão de bom senso, como se imaginava até pouco tempo atrás, mas uma
questão de conhecimento (técnico e gerencial) e de poder para decidir.
69
próximas; opção por equipamentos desprovidos de proteção em função de
custos. Inicialmente, a empresa pode até contabilizar algum “ganho” com essas
opções. No entanto, de acordo com o sistema legal vigente (exigência tanto do
INSS como do Ministério do Trabalho e Emprego), é necessário observar
seriamente a questão do custo-benefício nesses casos específicos. Às vezes, a
economia que se faz, num dado momento, não cobre o volume de passivos que
a situação irá gerar, sem contar outros aborrecimentos, tais como o
comprometimento da imagem da empresa, cujo custo, em termos de prejuízo,
poderá ser bem maior.
70
por decisão de quem tem poder para decidir e decide. Nesse particular
enfatizamos que não foram poucas as vezes que testemunhamos a
trasformação de ambientes agressivos, com elevados índices de ocorrência de
acidentes em ambientes de baixa agressividade, onde praticamente não há mais
acidentes. Os recursos aplicados nessas transformações decorreram do
engajamento e do comprometimento das partes interessadas, especialmente dos
gestores das áreas operacionais. E em outras circunstâncias, da vontade política
da direção das empresas. Não queremos dizer com isso que a questão dos
recursos deva ser considerada irrelevante, principalmente numa economia
alimentada por crises que repercutem seriamente na vida das empresas.
Todavia, o que se deve fazer é estabelecer prioridades, mediante investimento
nos ambientes cujas condições e riscos não podem ser relegados, nem
tampouco assumidos sem critério, e onde não haja uma margem razoável de
segurança.
Considerando-se a questão da SSO sob o ponto de vista dos custos (o que não
deveria ocorrer), torna-se absolutamente necessário o delineamento de qual das
opções é a mais vantajosa: tornar os ambientes de trabalho seguros, pelo menos
conforme o que estabelece a lei, ou correr o risco de ter que bancar as
conseqüências das não-conformidades? As experiências têm demonstrado que as
não-conformidades, além de mais onerosas, na maioria das vezes, são cobradas
com volumosos acréscimos (multas e juros) que poderiam perfeitamente ser
evitados.
71
como é o caso da indústria química, da siderurgia e da mineração, papel e celulose,
por exempolo.
72
Pensar sobre essas possibilidades não serve apenas aos propósitos aqui definidos,
mas também aos dos programas de Qualidade e de Meio Ambiente adotados em
tantas empresas da atualidade e/ou a quaisquer outros movimentos educativos cuja
implantação se faça necessária nas organizações. Em relação à ausência de
respostas às solicitações de SSO, sugerimos consultar o capítulo intitulado
“Sugestões para revisão, elaboração e implementação de ferramentas de auxílio à
gestão da segurança e saúde ocupacional”, página 130, especificamente o item que
trata do cumprimento de cronogramas de SSO. A ausência de ferramentas de
gestão de SSO condizentes com a realidade da empresa, especialmente no que se
refere à cultura dominante de SSO é uma questão que não dever ser desprezada.
Não são poucas as empresas que dispõem de ferramentas sofisticadas de gestão
de SSO e nem por isso conseguem alcançar os objetivos almejados. Nesses casos
o problema não está nas ferramentas de SSO, mas na cultura da empresa que não
atingiu ainda o estágio de maturidade requerido pelas referidas ferramentas.
Ressaltando que a evolução desse processo depende fundamentalmente das
posturas assumidas pela direção da empresa.
Dos itens verificados nos últimos diagnósticos, comparados aos primeiros, o que
mais chamou atenção foi a duplicidade de ordens que o trabalhador, em certas
circunstâncias, continua tendo que acatar para a realização de suas tarefas. Essas
ordens consistem em procedimentos formais de trabalho, denominados
“procedimento operacional padrão, procedimento padrão operacional” ou
simplesmente “tarefa padrão”, e em instruções verbais de suas chefias imediatas –
os supervisores ou facilitadores.
73
O nó da questão está no jeito prático que os trabalhadores, por necessidade ou por
falhas nos sistemas de controle, desenvolveram para realizar a maioria das tarefas
relacionadas ao seu trabalho, nem sempre coincidente com o que está descrito nos
referidos procedimentos. E, como se impõe que as tarefas sejam realizadas a
despeito das dificuldades vivenciadas pelos trabalhadores, estes, com pleno
conhecimento de suas chefias ou, pior, às vezes até orientados e autorizados por
elas, de maneira informal, atropelam os procedimentos escritos e realizam as tarefas
do seu jeito – jeito este igual ou pior do que como se fazia antes da instituição dos
padrões escritos.
Se o trabalhador não segue com rigor tais procedimentos, isso significa que ele irá
lidar com os riscos presentes, utilizando-se de práticas remanescentes à época em
que o trabalho não era formalizado. E é justamente isso que, na prática, acontece. O
problema maior é que dessa experiência surgiu um outro complicador, que na
dinâmica do trabalho tem contribuído, em muito, para piorar o relacionamento do
trabalhador com os riscos do trabalho. Trata-se do vazio que se formou entre as
experiências vivenciadas no passado, as quais o trabalhador bem ou mal dominava,
e o que se pretendeu fazer a partir da formalização sistemática do trabalho. Esse
vazio, em todos os sentidos, tem aumentado a probabilidade de o trabalhador se
acidentar pelo cometimento de erros no trabalho, em decorrência da inadequação
das práticas antigas de realizar as tarefas da maneira como são descritas, e pela
impossibilidade de colocar em prática o que seria necessário em função da nova
ordem estabelecida nas relações de trabalho.
Essa cunha interposta entre o trabalho prescrito e o trabalho real tem sido apontada
por quem vem estudando o problema, como responsável pela avalanche de
74
improvisações ou arranjos desenvolvidos pelo trabalhador para realizar suas tarefas
no tempo estipulado, do que tem resultado o crescente número de acidentes.
Lembrando que a presença do facilitador nos ambientes de trabalho é restrita. Essa
situação apareceu, com bastante evidência, nas respostas dos trabalhadores à
última versão do questionário e, sobretudo nas entrevistas nas questões que
abordam o trabalho normalizado e suas formas de realização. Das opções de
respostas previstas para as referidas questões, a que se referia à cobrança de
produção, independentemente das dificuldades de observar os aspectos formais do
trabalho, foi a que obteve maior adesão dos trabalhadores, aparecendo com mais de
40% em todas as empresas onde o diagnóstico foi realizado, especialmente nas
quatro empresas do ramo metalúrgico.
75
Muitas foram as empresas que conseguiram reduzir, de maneira espetacular, a
ocorrência de acidentes, até mesmo dos quase acidentes, durante e nos anos
subseqüentes à implantação dos referidos programas, mas que, pelas razões acima
mencionadas, vêm amargando um crescimento contínuo de seus índices de
acidentes, envolvendo perdas materiais e humana. Muitas dessas empresas, em
decorrência de tal situação, vêm tentando, primeiro, compreender melhor o que está
acontecendo, desenvolvendo estudos sistemáticos que envolvem ora a natureza e a
adequação dos procedimentos de trabalho, ora a capacitação e o comprometimento
dos trabalhadores em relação a eles. Muitos achados interessantes vêm se
evidenciando nesses estudos; um deles é a assertiva de que nenhuma mudança se
consolida sem o esgotamento daquilo que se pretende superar e, em contrapartida,
o amadurecimento, não só como definição de valor, mas também e principalmente
como prática daquilo que se almeja como sendo a nova ordem pretendida.
Introduzir mudanças no trabalho, num país como o Brasil, não é tarefa simples como
imaginavam e ainda imaginam muitos dos promotores dos citados programas,
sobretudo de origem estrangeira, onde o cenário cultural, em relação ao mundo do
trabalho, é bastante diferente do brasileiro. Convém ressaltar que a formação do
patronato e da classe trabalhadora entre nós surgiu dos escombros do sistema
escravista que durou por volta de trezentos e cinqüenta anos. O modelo capitalista
que se seguiu ao escravismo, definindo regras de compra e venda de trabalho,
apenas se estabeleceu em definitivo com Getúlio Vargas, nos anos quarenta do
século XX, portanto há sessenta anos ou duas gerações.
76
trabalho) constitui-se no mais importante preventivo das tensões e das angústias
que costumam povoar a vida de uma parcela considerável de trabalhadores nas
relações cotidianas com o trabalho. Da mesma forma, não há dúvida de que as
mudanças necessárias requerem investimentos de monta, tanto na educação como
nas relações de trabalho.
3. O fosso que separa o discurso (SSO como valor) da prática (o que efetivamente
é feito) constitui o mais importante obstáculo no desenvolvimento das ações de
SSO na empresa.
5. As tarefas são descritas nos procedimentos com base no que é desejável, porém
nem sempre são consideradas as dificuldades que os trabalhadores enfrentam
na execução das tarefas da maneira como são descritas.
6. O treinamento para o cumprimento dos Procedimentos de Trabalho é, via de
regra, inadequado, porque não leva, ou leva pouco em conta, a realidade do
77
ambiente de trabalho e as dificuldades vivenciadas pelos trabalhadores para o
pronto atendimento aos padrões estabelecidos.
8. O trabalhador sabe que o que é mais importante para a empresa não é como o
trabalho está sendo executado, mas o resultado final (a produção).
9. O trabalhador não é cobrado pela maneira como está trabalhando, mas pelo
resultado do trabalho realizado. De tal postura resulta o fato de os supervisores
não verem ou fingirem que não estão vendo o cometimento de “erros” na
execução de suas tarefas – desobediência aos procedimentos de trabalho.
10. Supervisão ambígua. O supervisor sabe o que tem de ser feito (está escrito nos
procedimentos). Sabe fazer conforme o prescrito; no entanto faculta fazer com
base nas experiências consolidadas ao longo do tempo, porque sabe que o mais
importante para a empresa não é como fazer, mas o resultado final do trabalho
(a obtenção da produção esperada).
11. Ambigüidade entre o que está escrito e o que é possível fazer. O trabalhador tem
uma dificuldade enorme em definir o que ou a quem obedecer – se à prescrição
das tarefas definidas nos procedimentos de trabalho, se às ordens verbais ou ao
silêncio deliberado de seu supervisor.
78
essa informação com o nível de conhecimento dos supervisores acerca dos
riscos do trabalho. O diagnóstico revela que o conhecimento dos supervisores
sobre os riscos do trabalho é insuficiente).
14. O trabalhador, embora sabendo (está escrito nos procedimentos) que pode
recusar-se a executar uma tarefa perigosa sem a proteção devida, prefere
executá-la em desobediência às normas, por não ter certeza de qual seria a
reação da sua chefia em face de sua recusa.
16. Por não ser a segurança parte integrante das atividades produtivas, quem cria ou
mantém a situação de risco (chefias das áreas operacionais) não se sente
inteiramente responsável por sua correção.
17. Por ser a produção vista como prioritária, seus responsáveis estão sempre
alegando não dispor de recursos para correção das situações de risco, ainda que
o recurso seja apenas o comprometimento.
18. A segurança do trabalho é “exigida” pela chefias, desde que não interfira nos
cronogramas de produção.
79
desenvolvidas, o problema existe e se manifesta, em alguns pontos, de maneira
bem parecida com o que ocorre no Brasil e em outros países em vias de
desenvolvimento.
Em função do que foi visto até aqui, é possível afirmar, com convicção, que o juízo
formulado pelos trabalhadores acerca da segurança e saúde no trabalho está
intimamente relacionado ao conteúdo e à maturidade dos programas de Segurança
Saúde Ocupacional desenvolvidos nas empresas onde trabalham.
80
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que também são de seu
conhecimento.
A despeito das dificuldades, muitas empresas estão perseguindo esse objetivo, com
razoável sucesso. Muitas estão transpondo as barreiras de segundo estágio de
maturidade de SSO. Outras, já se definiram como de terceiro estágio de maturidade,
isto é, já conseguiram incluir as ações de SSO às atividades produtivas e
transformar os ocupantes de cargos de chefia, em responsáveis, de fato, pela sua
condução. O importante é acreditar que isso é perfeitamente possível e investir na
sua concretização, principalmente reduzindo a distância que separa o discurso do
que é desejável das práticas vivenciadas no dia-a-dia.
81
PARTE 2
82
02. OS DESAFIOS DA TRANSPOSIÇÃO DA SEGURANÇA E DA
SAÚDE OCUPACIONAL DO SEGUNDO PARA O TERCEIRO
ESTÁGIO DE MATURIDADE
O distanciamento dos altos executivos das questões de SSO, por questões culturais
ou por desinformação ou, pior ainda, pelo uso de informações imprecisas, tem
provocado sérios transtornos no correto gerenciamento desse seguimento de
trabalho nas empresas. O exemplo típico dessa situação é o patrocínio de cortes ou
a não inclusão de orçamentos destinados a melhorias nas condições de trabalho,
que resultariam não apenas em prevenção de acidentes, mas também na redução
dos custos de produção decorrentes da depreciação precoce de equipamentos, da
danificação de matéria-prima, do absenteísmo e de gastos com passivos
previdenciários e trabalhistas. Isso sem contar os estragos à imagem da empresa
em decorrência de acidentes graves envolvendo pessoas e danos ao meio ambiente
83
que poderiam perfeitamente ser evitados. Outro problema, não menos importante, é
a falta ou deficiência de um serviço ou gerência corporativa que tivesse por objetivo
conceber e uniformizar políticas e diretrizes de SSO para toda a corporação. A
ausência desse serviço, entre outros distúrbios, culmina na concepção e
disseminação de práticas de SSO concebidas pelas gerências locais, nem sempre
compatíveis com o que está sendo feito em outras unidades.
Conceber de forma dualística o mundo do trabalho faz parecer que existem duas
situações distintas nas relações de trabalho: uma que consiste em apenas trabalhar,
e outra, trabalhar com segurança. Reforça-se a idéia de trabalhar com segurança
numa clara alusão ao fato de que é possível trabalhar sem a mesma, e que, se
pretendida a segurança, será necessária a implantação de medidas específicas,
suplementares, para garanti-la. Essa forma de pensar pode nos levar ao raciocínio
de que uma operação a ser efetivada implica procedimentos específicos da atividade
em apreço, complementados por mecanismos outros, garantidores da segurança
dos trabalhadores. 17
Nossa visão contradiz esse raciocínio, defendendo que a execução correta de uma
determinada tarefa traz em si mesma o postulado da segurança. A insegurança, por
84
conseguinte, é o pressuposto da realização de uma tarefa de forma irregular,
incorreta, incompleta ou em desacordo com o que fora planejado. Nesse caso, o que
deve ser observado e corrigido não é a insegurança evidenciada na realização de
uma dada atividade, mas a feitura em si, com correção e/ou com adequação, uma
vez que é dessa inadequação que surge, de maneira agravada, a condição de risco.
Senão vejamos: suponhamos uma operação de soldagem em um ambiente fechado,
onde a ventilação é comprovadamente precária. O que entendemos ser um trabalho
correto nessa operação? Seria o trabalhador executar a tarefa conforme
especificada no procedimento de trabalho e devidamente autorizado a realizá-la, em
um ambiente dotado de um sistema efetivo de ventilação diluidora e/ou exaustora
capaz de manter os níveis de contaminantes em seus limites mínimos; seria o
trabalhador utilizar equipamentos de proteção individual que o impedissem de inalar
substâncias tóxicas oriundas da fusão dos metais e o protegessem contra
queimaduras, radiações e ruído. E mais, o monitoramento biológico (exames
médicos) desse trabalhador, de tempos em tempos, no sentido de verificar a eficácia
das medidas de controle, coletivas e individuais, combinadas com o controle das
questões ergonômicas. Isso é o que se pode chamar de trabalho correto de
soldagem em ambiente fechado. Diferente disso seria realizar a operação de
soldagem com base em critérios de planejamento, em ambiente aberto, e observar
os demais procedimentos mencionados.
Outro exemplo que bem ilustra nossa idéia é o das frentes de mina a céu aberto, em
indústrias extrativas de minério de ferro, por exemplo, onde as bancadas acabam
18
formando outras, em nível inferior, sem a colocação de leiras . Ora, a leira é um
dos recursos imprescindíveis de segurança utilizados nessa situação, pois funciona
não apenas como sinalização, mas principalmente como barreira contra quedas de
máquinas e equipamentos, de uma bancada para outra. Uma frente de mina – nas
condições anteriormente mencionadas, onde as atividades de lavra se realizam em
regime ininterrupto, com sinalização precária e sem leira de proteção – pode
configurar situação de risco grave e iminente.
85
passo que, para o trabalhador, pode significar a morte. Raramente um acidente
dessa natureza não culmina em morte do operador e perda total do equipamento.
86
Tal procedimento nos parece trabalho correto e não necessita do concurso de
terceiros, não importando a qualificação, para determinar a sua realização. O
problema é que plataforma elevada de trabalho ou andaime não é parte integrante
da obra; sua qualidade, boa ou ruim, não agrega valor facilmente mensurável ao
produto acabado. Por seu turno, o cliente não compra andaime ou plataforma
elevada de trabalho, nem outro tipo de segurança dos trabalhadores – compra
apartamentos, pontes, instalações industriais, serviços de reparos, etc. Essa talvez
seja, ao lado da negligência da Previdência Social – que não apura causas nem
responsabilidades pelos acidentes de trabalho por ocasião da concessão dos
benefícios a que os trabalhadores lesionados fazem jus – a razão pela qual a
construção e a utilização do andaime, por exemplo, fiquem a cargo do encarregado
de obras e não do engenheiro responsável pelo empreendimento, o mesmo que
responde pela sua qualidade. Quanto aos andaimes, é comum não encontrar numa
obra um engenheiro civil que saiba projetá-los e construí-los corretamente, isto é, de
acordo com as normas técnicas e legais vigentes. Os engenheiros civis não
aprenderam isso nas escolas de Engenharia. Quando demonstram sabê-lo, o mais
provável é que tenham aprendido com os mestres ou encarregados de obras, que,
por sua vez, jamais ouviram dizer que existem normas técnicas para construção e
utilização de andaimes, salvo andaimes metálicos, que já são construídos dentro
dos padrões técnicos e legais. Depreende-se disso que a segurança do trabalho
passa às vezes mais pelas questões de ordem cultural do que propriamente pelas
questões de ordem técnica, assunto que procuraremos tratar mais adiante.
87
trabalhador lesado apela para a lei para pleitear a reparação (indenização) pelo
dano sofrido, o que também não é nada fácil.
Evidentemente que não são apenas a inclusão das ações de SSO ao sistema
produtivo e a transformação dos gestores das áreas de riscos em responsáveis pela
segurança dos trabalhadores a solução definitiva do problema. Essas duas medidas,
pela sua natureza, representam apenas o primeiro passo na transposição do
segundo para o terceiro estágio de maturidade dos programas de SSO. No entanto,
sem a efetivação dessa medida, outras requeridas pelo referido estágio dificilmente
seriam efetivadas.
88
Se administrar é “fazer acontecer”, impõe-se a necessidade de complementar a
questão: fazer o quê, fazer onde, fazer como, fazer quando e fazer por quê? E,
especialmente, fazer através de quem?
Essa situação poderia ser representada por um triângulo, em que um dos vértices
seria ocupado pelo problema, no nosso caso, pelo cenário de riscos que se pretende
gerenciar; o outro, pelo complexo de informações técnico-gerenciais capazes de
facilitar a resolutividade do problema (solução dos riscos) e o último, pela
governabilidade (poder para implementar a solução dos problemas), isto é, pela
fração de poder que o administrador dispõe para intervir nos problemas e
implementar sua solução ou criar novos problemas. Resumindo, o ato de administrar
necessariamente envolve: lidar com problemas, gerar mecanismos de solução e
dispor de poder para intervir. Essa situação poderá ser mais bem visualizada no
quadro abaixo.
QUADRO 3
Gestão de
SSO
“PODER" “SOLUÇÃO”
3. Implementar 2. Definir
e manter os medidas de
controles 89 controle
90
2.3.1. Do vértice do problema: dos riscos do trabalho
As causas dos riscos existentes nos ambientes de trabalho podem ser definidas,
para efeitos meramente didáticos, como subjetivas e objetivas. Subjetivas quando
dizem respeito às concepções, idéias e/ou posturas de quem administra ou governa;
objetivas quando dizem respeito aos elementos concretos – no caso em tela, ao
ambiente físico de trabalho envolvendo todo o complexo de riscos, aos processos e
métodos de trabalho e às demais variáveis que formam o seu complexo
organizativo.
Analisadas as causas subjetivas, depreende-se que elas são oriundas das diversas
maneiras com que os indivíduos pensam, percebem e entendem os processos nos
quais estão envolvidos. O ato de pensar, especificamente, consiste na utilização de
habilidades intelectuais e informações preexistentes na mente a fim de se chegar a
novas idéias. Já as ações originam-se dos conhecimentos adquiridos e são
conformadas por crenças e valores do indivíduo, tendo como referencial os traços
fundamentais da cultura em que ele se insere.
91
Considerando-se que o ato de governar consiste em intervir numa situação que, na
sua dinâmica, envolvem causas e efeitos, e que o ato de administrar destina-se a
“fazer acontecer”, obtém-se que é necessário transformar a situação em pauta, ou o
problema, em outra situação que, ao invés de prejudicar, determine o alcance dos
resultados almejados. Donde se conclui que o primeiro momento do ato de
administrar ou governar é o absoluto e total conhecimento de todas as variáveis
existentes numa dada realidade.
92
2.3.2. Do vértice da resolutividade: solução do problema – riscos
Voltemos novamente à questão das leiras nas bordas das bancadas em lavras a céu
aberto, anteriormente mencionadas. O importante não é observar as leiras em si, se
estão ou não colocadas nos locais exigidos, se são dimensionadas como determina
a Norma Regulamentadora 22, do Ministério do Trabalho e Emprego. O que se
precisa, como administrador, gerente, supervisor ou líder, é saber: quem autoriza a
93
abertura de frentes de lavras, colocar equipamentos pesados no local e homens
para operar esses e outros recursos, sem a colocação das leiras nos seus devidos
lugares de forma a proteger operadores e equipamentos? Da mesma forma que as
frentes de lavra não são abertas sem a intervenção direta de quem decide sobre os
trabalhos ali desenvolvidos, o mesmo ocorre com a ausência das leiras. Certamente
as leiras não seriam “esquecidas” se fizessem parte do processo de lavra. E
justamente por não fazerem parte do processo de lavra é que sua ausência
comporta todo tipo de “esquecimento” ou de ausências deliberadas. E mais do que
isso, uma série de argumentos desprovidos de fundamentos, porém “aceitos”, sobre
sua ausência. O poder disponível para autorizar a colocação das leiras não é
diferente do poder que autoriza a realização de trabalhos sem esse dispositivo de
segurança. A questão não está no poder de decidir, mas no valor que se atribui à
segurança no trabalho. Não é a presença ou não das leiras que deve ser o objeto
da apreciação, mas a definição e o endereçamento da responsabilidade por sua
colocação. A questão não é técnica, mas gerencial. Se o responsável pela lavra
decidir – além do discurso – que nenhuma frente de lavra será aberta sem a
presença de leiras, não há dúvida de que elas serão colocadas sem nenhum
questionamento ou resmungo. A presença ou não das leiras deve ser vista e
entendida como conseqüência das decisões gerenciais ali implementadas ou de sua
ausência. Em relação às decisões – colocação ou não das leiras – é importante
enfatizar que elas não devem ser decididas pelas gerências locais. O que as
gerências locais devem fazer é cumprir, com rigor, as determinações das gerências
ou diretorias corporativas.
Não se poderia comparar a existência ou não das leiras à qualidade e ao uso dos
andaimes comumente empregados na construção civil, onde a fiscalização é
precária? A movimentação de carga suspensa por meio de pontes rolantes
trafegando sobre pessoas? A empilhadeira trafegando em velocidade acima da
permitida e com carga posicionada de forma irregular? A motorista colocando lonas
em caminhões, sem proteção contra quedas? A eletricista fazendo reparo em rede
elétrica sem os bloqueios devidos? A trabalhador fazendo reparo em telhado
industrial sem uso de cinto de segurança conectado a cabo-guia? A trabalhador
96
executando trabalho em ambientes confinados sem os procedimentos de segurança
exigidos?
Para quem deseja tratar a segurança do trabalho como parte integrante do sistema
produtivo, e não como um adendo ao sistema, sem dúvida, as interrogações
formuladas procedem e precisam ser consideradas e respondidas. Sugerimos
utilizar o exemplo das leiras, adaptando-o às diversas situações de riscos existentes
nos diversos ramos de negócios e nas diversas áreas e ocupações, quaisquer que
sejam elas.
Outro exemplo ilustrativo do nosso ponto de vista: passarelas sem proteção lateral
em pisos elevados de trabalho. Como a grade de proteção (guarda-corpo e
rodapé) não é imprescindível para a passagem de pessoas pela passarela, sua
existência ou não pouca diferença faz, principalmente para os seus usuários. Pode
ser retirada por alguma razão e depois não ser recolocada, o que não impede a
passagem de pessoas pela passarela. Por outro lado, se é colocado um obstáculo
na passarela capaz de atrapalhar ou impedir a passagem, imediatamente, aparece
alguém para isso constatar e reclamar, para pensar e definir por sua retirada.
97
2.3.3. Do vértice da governabilidade: do poder para resolver
O termo “governabilidade” refere-se ao ato de governar, que, por sua vez, está
intimamente relacionado ao exercício do poder. Quem governa exercita uma fração
de poder numa dada realidade, independentemente da natureza da ocupação.
A disponibilidade de poder e o seu exercício não são por si só, capazes de produzir
os resultados almejados naquilo que se pretende realizar. Evidentemente, a
disponibilidade de poder é fator de absoluta relevância no ato de gerenciar ou
governar. Para seu exercício, há que se responder, com clareza, às questões:
98
É importante ressaltar que todo problema instalado nas empresas é resultante de
decisões prévias (pensar e agir) oriundas de reflexões e comparações feitas num
dado momento, numa dada realidade. Em se tratando de situações relacionadas ao
ambiente, às condições e à organização do trabalho, nada ocorre ao acaso: tudo é
fruto de decisões de quem está envolvido na questão, fazendo ou deixando de fazer.
Se considerarmos o ato de pensar na sua relação com o ato de fazer, e
compreendermos que toda situação materializada (leiras, andaimes, proteção de
passarelas, máquinas sem proteção, uso indiscriminado de produtos tóxicos,
equipamentos de proteção individual utilizados de forma incorreta, erros na
execução do trabalho) é resultante dessa relação pensar/agir, perceberemos a
importância da governabilidade tanto para decidir o que fazer numa dada situação
como para buscar, com determinação, as verdadeiras causas geradoras dos
problemas. Agir sem conhecer, às vezes, é pior do não agir. Se o mais importante
na tarefa de prevenir acidentes é não deixar de fazer o que precisa ser feito e se não
se conhece o que precisa ser corrigido, é como se nada existisse. É como se o
ambiente de trabalho fosse totalmente desprovido de perigos e riscos. E nesse
particular é de fundamental importância relembrar que o trabalhador faz o que
determina os procedimentos de trabalho, quando existem procedimentos ou faz o
que a sua chefia imediata determina e/ou permite. Não nos consta que o trabalhador
dispõe de poder para decidir a forma de trabalhar que lhe convém, ele se orienta
pelos procedimentos de trabalho ou pelas ordens de suas respectivas chefias. Não
se esquecendo de que a omissão funciona como uma ordem, daí a necessidade de
o supervisor responder por ela. Mais grave do que uma ordem mal transmitida é a
omissão em relação ao que e ao como fazer.
99
Quando se cria na empresa um espaço facilitador para tratar dos problemas
existentes, especialmente dos riscos do trabalho, nas suas dimensões de efeitos e
causas e destas últimas – as suas vertentes já mencionadas – é possível melhorar,
de forma considerável, a visão dos problemas na sua verdadeira essência e dar-lhes
soluções adequadas. É assim que a cultura instalada deixa de ser um entrave ao
tratamento adequado das questões para tornar-se ponto de partida para a
transformação cultural necessária ao efetivo gerenciamento integrado da segurança,
da qualidade e do meio ambiente. Lembrando que é impossível pensar em gestão
integrada de segurança, qualidade e meio ambiente, antes de integrar totalmente as
ações de SSO ao sistema produtivo.
102
03. SUGESTÕES PARA REVISÃO, ELABORAÇÃO E
IMPLEMENTAÇÃO DE FERRAMENTAS DE AUXÍLIO À GESTÃO DA
SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL
103
não padronizá-las. Não devemos nos esquecer que os padrões de trabalho devem
ser vistos e tratados como uma garantia de controle e não como um mecanismo de
engessamento do sistema produtivo. O descumprimento de padrões de trabalho,
independentemente da razão, além de outros prejuízos que acarretam ao sistema
produtivo, constitui-se na mais poderosa arma de corrosão de qualquer sistema
organizacional. Convém ressaltar que uma das causas identificadas do não
cumprimento dos padrões de trabalho está intimamente relacionada ao conceito de
padrão, que deve ser entendido como um objeto que serve de modelo à feitura de
outro. A falta de critério na definição dos padrões de trabalho associada à sofrível
maturidade cultural brasileira em relação ao que é formal não deixa de ser a
principal causa das dificuldades enfrentadas pelas empresas em desenvolver e
amadurecer as práticas de trabalho normalizado.
a) Dificuldades no entendimento das regras e/ou normas de SSO por parte dos
trabalhadores. Esse item aparece com mais de 40%, na representação dos
trabalhadores, em todas as empresas avaliadas.
104
d) Distanciamento dos supervisores de seus comandados em decorrência do
volume de trabalho burocrático realizado em escritório. Atualmente um supervisor
não consegue permanecer por mais da metade do tempo útil de trabalho junto
aos seus comandados (vide item 1.9. “O ordenamento formal do trabalho e os
conflitos de pode”, página 39). Em decorrência disso, ele precisa ter garantia de
que o trabalho, na sua ausência, seja realizado precisamente como está descrito
nos procedimentos. Essa postura exigirá, da parte do próprio supervisor, uma
constante revisão e atualização dos procedimentos de trabalho, da capacitação
dos colaboradores e de rigor na disciplina.
105
diagnóstico com valores superior a 50%, na representação dos trabalhadores e
técnicos do SESMT, em todas as empresas avaliadas.
106
imediatamente interrompido. Nessas circunstâncias prevalecerá o direito à Recusa
de Tarefa (RT) (vide Quadro 5, VERIFICAÇÃO DE RISCO, página 110).
107
indistintamente. Todavia, é conveniente lembrar que a formação cultural brasileira,
no tocante a esse expediente, não é a mesma dos povos cuja cultura foi largamente
influenciada pela Reforma Protestante ou dos nipônicos, por exemplo. A nossa
formação cultural, em termos de disciplina, está em via de evolução. Não podemos
afirmar que somos avessos à disciplina, como também não podemos afirmar que
somos suficientemente disciplinados.
109
colaboradores estarão fazendo. E o mais importante, tomarão conhecimento das
causas do não cumprimento integral dos atuais procedimentos de trabalho.
110
QUADRO 4A
N d R - Natureza
do Risco
Severidade
Definição de
prioridades na
Solução dos riscos
3 3 6 9 Risco grave
e iminente
(intolerável)
Risco
grave
2 2 4
6
Risco médio
ou moderado
1 1 2 3
Risco leve –
tolerável
1 2 3 Probabilidade
111
QUADRO 4B – DEFINIÇÃO DE SEVERIDADE
Severidade
CRITÉRIOS Pontuação
da Lesão
112
QUADRO 5
VERIFICAÇÃO DE RISCO
Perguntas
SIM
É possível realizar a
Interromper
tarefa seguindo à NÃO ou não iniciar
regra?
tarefa
SIM
Executa
113
QUADRO 6
114
na visão da maioria dos executivos das empresas, corresponde ao mais difícil de ser
implementado. É importante salientar que essa dificuldade está relacionada a vários
fatores, entre ele a dissociação das ações de SSO do sistema produtivo – os
gestores das áreas operacionais não enxergam a segurança como indispensável –
resultando disso falhas na identificação e avaliação dos riscos.
115
Baixa, se é capaz de identificar e propor o controle, mas não é capaz de
implementá-lo inteiramente.
QUADRO 7
MATURIDADE BAIXA
MATURIDADE MÉDIA
MATURIDADE ALTA
PASSOS COMPLETADOS 1 2 3 4 5
NOTA: Os graus de maturidade definem-se em função de se ter completado,
com sucesso, os seguintes passos:
CORREÇÃO
IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS;
DEFINIÇÃO DO CONTROLE;
IMPLEMENTAÇÃO DO CONTROLE;
MANUTENÇÃO DO CONTROLE.
PREVEÇÃO
IMPEDIR O SURGIMENTO DE NOVOS RISCOS.
116
3.3. Ferramentas de apoio à gestão de SSO
117
3.1.2. Responsabilidades em relação à SSO
118
As pessoas precisam saber, com absoluta clareza, o que estará em jogo quando
deixarem de cumprir as suas obrigações (atribuições). E mais, precisam saber
explicar (justificar) e ter ambientes favoráveis para serem ouvidas, quando deixarem
de cumprir os seus papéis por falta de recursos ou por outras injunções de ordem
administrativa provenientes de decisões superiores. Da mesma forma, é preciso que
seja do conhecimento de todos o que será ou não aceito como justificativa pelo não
cumprimento das obrigações previamente definidas, especialmente contidas nos
planos de ação. É importante que as pessoas conheçam a extensão do fosso que
separa, na empresa, o discurso de SSO daquilo que efetivamente é feito, na prática.
No discurso a empresa, na pessoa de seus dirigentes, diz fazer tudo o que precisa
ser feito e mais; na prática, todavia, pode não ser isso o que efetivamente ocorre. Na
maioria das vezes, a segurança é vista e tratada como um adendo à produção, não
sendo, por conseguinte, tratada no mesmo nível de importância com que são
tratados os itens relacionados ao negócio fim da empresa. A explicitação clara dos
papéis em SSO previne, entre outros distúrbios, a ocorrência de conflitos
decorrentes de cobranças mal endereçadas e de repreensões improcedentes.
119
de trabalho, ou se o descumprimento, de fato, figuram-se como indisciplina, na
acepção da palavra. Ao optarem pela aplicação de medidas disciplinares, os
supervisores devem levar em conta as considerações contidas no Quadro 8, com os
respectivos comentários, página 117.
QUADRO 8
Estando a empresa em dia com o que lhe compete fazer, por exemplo: descrição
clara e precisa de atribuições, treinamento apropriado do colaborador, condições
adequadas do trabalho, determinação do que fazer, e decidindo pela aplicação de
medidas disciplinares, os supervisores devem observar atentamente as referências
contidas na quadro 8, página 117.
120
ITEM 2, quando o supervisor não estiver inteiramente seguro de sua assertividade,
isto é, tiver dúvida em relação ao que está mandando ou permitindo fazer, mesmo
considerando que o trabalhador esteja errado, a probabilidade de a medida
disciplinar não produzir os efeitos esperados é muito alta. Ressaltando que quando
uma medida disciplinar fracassa no papel de corrigir, transforma-se em estímulo à
animosidade. Assim como o trabalhador sabe quando a punição é cabível, sabe
melhor ainda, quando ela é inoportuna, improcedente e injusta. Quando a punição é
cabível, o trabalhador pode não aceitá-la de bom grado, porém não a vê como
injusta e descabida ou como perseguição.
121
empresa, mas no domínio do conhecimento e, sobretudo no endereçamento de
cobranças, com desdobramento nas relações de poder. A punição, ainda que
cabível, em todos os sentidos, deverá ser o último recurso a ser empregado na
correção de desvios de comportamento. Ela representa, para as partes envolvidas,
um sinal inequívoco de fracasso. Fracasso do punido que não foi capaz de fazer o
que deveria ser feito ou de não se expressar por meio da recusa ao trabalho, diante
da impossibilidade de realizá-lo como lhe fora ordenado. Fracasso do gestor por ter
atingido o limite do convencimento ou por ter, por conveniência, optado pela lei do
menor esforço, não importando as circunstâncias e menos ainda os impactos
produzidos pela medida. A punição pode ser comparada a uma faca de dois gumes,
tanto pode lograr benefícios, quando corretamente aplicada, quanto malefícios
quando aplicada indiscriminadamente. O pior dos malefícios, sem dúvida, é a
animosidade silenciosa, porém, corrosiva. Não se esquecendo de que o reforço da
motivação pela via do reconhecimento das atitudes corretas é sempre mais
construtivo do que a correção pela via da punição.
122
Entendendo que essa medida, corretamente implementada, é uma das poucas,
senão a única, que poderá, em médio e longo prazo, colocar as ações de SSO no
primeiro plano de importância na empresa.
123
3.1.6. Fluxo das Ações de SSO (implementação, acompanhamento e
avaliação)
124
b) Capacidade de resolutividade. A capacidade de resolutividade é avaliada a
partir da descrição formal das atribuições, dos níveis de responsabilidades, da
fração de poder conferida pelo cargo que as lideranças ocupam, dos recursos
colocados à disposição do proponente das ações, bem como do seu nível de
conhecimento (gerencial e técnico) tanto dos gestores quanto dos trabalhadores
acerca do assunto. Ressaltando que é da definição formal das atribuições que
derivam as demais exigências mencionadas. Todos os colaboradores da
empresa, indistintamente, devem saber, formalmente, o que lhes competem
fazer em termos de Segurança e Saúde Ocupacional, e, da mesma forma, o que
estará em jogo quando deixarem de cumprir com as suas obrigações. Segurança
no trabalho é uma questão de decisão. E decisão decorre do exercício do poder.
126
Lembrete importante: um dos piores erros cometidos na condução dos
programas de SSO é a tolerância deliberada em relação à permanência dos
riscos no trabalho. Enfatizando que a tolerância, nos diversos níveis hierárquicos
da empresa, em relação ao descumprimento de cronogramas de SSO, além do
desgaste e da desmoralização que acarretarão à política de SSO da empresa, cria
ambiente favorável à geração indiscriminada de novas situações de risco. Se falta
rigor na correção dos riscos instalados, a mesma postura certamente se repetirá na
prevenção de novos riscos. Essa é uma questão que não deve ser deixada de lado
por ser ela definidora da performance dos programas de SSO na empresa.
O controle do fluxo das ações previstas nos cronogramas de SSO poderá ser feito
pelos profissionais do SESMT, que manterão a diretoria da empresa, por meio de
relatórios sucintos, constantemente informada do andamento das ações
programadas.
É importante que na análise seja levada em conta a definição situacional dos riscos.
a) Primeira situação: os riscos eram conhecidos, isto é, identificados, analisados e
com medidas de controle implementadas?
b) Segunda situação: os ricos eram conhecidos, mas não suficientemente
controlados?
c) Terceira situação: os riscos não eram conhecidos?
127
A existência do risco, nesse modelo de análise, é absolutamente secundária,
importante é o deslinde de suas origens. O mesmo procedimento deverá ser
adotado em relação ao comportamento inseguro. Nesse modelo de análise, o
comportamento inseguro deverá ser entendido e tratado como conseqüência e não
como causa dos eventos.
Uma análise de acidente orientada para a prevenção e não para esclarecer como o
acidente ocorreu e principalmente para nomear culpados é aquela que privilegia as
origens dos problemas. É aquela que procura desvendar o porquê dos problemas e
não apenas como os mesmos se manifestam. O mesmo critério utilizado na análise
deverá ser adotado em relação às medidas de controle. Não se devem adotar
medidas para corrigir apenas os erros explícitos (as condições de risco que geraram
o acidente), mas, principalmente, o que lhes deu causa. A correção dos fatores que
deram e/ou continuam dando origem aos problemas, em se tratando de
comportamento, notadamente de ocupante de cargo de chefia, pode não ser fácil,
por não ser simples, mas é absolutamente factível, desde que haja vontade política
de quem detém poder para tomar decisões. Mudar comportamento, especialmente
de chefia, significa mexer na cultura dominante da empresa. E isso somente se fará
com conhecimento de causa e de cima para baixo. Quem muda a cultura de uma
empresa é o seu dono ou quem dispõe de poder para tal. Lembrando que toda
mudança implica em transformação que se fará mediante ruptura com as práticas
que se pretende suprimir. Em segurança do trabalho não há meio termo, muda ou
não muda o que precisa ser mudado. Isso explica porque algumas empresas,
notadamente de grande porte, embora dispondo de uma estrutura colossal de
gestão para cuidar da segurança e saúde no trabalho não conseguem, em médio e
longo prazo, elevar a segurança e saúde ocupacional ao terceiro estágio de
maturidade, e com isso, alcançar os objetivos pretendidos.
128
3.4. Treinamento em SSO
129
3.5. Prevenção de novos riscos
130
Os grupos de trabalho – da operação e/ou da manutenção – deverão ser
responsabilizados pela geração de novos riscos no trabalho, sem o conhecimento
e o consentimento de suas respectivas chefias, que deverão, por sua vez, assumir
integralmente a responsabilidade pelas possíveis conseqüências advindas dos
mesmos.
132
04. SUGESTÕES DE MELHORIAS DE SSO LEVANTADAS EM
SEMINÁRIOS INTERNOS PROMOVIDOS PELAS EMPRESAS ONDE
O DIAGNÓSTICO DE MATURIDADE DE SSO FOI REALIZADO
26
Definir e difundir regras e/ou procedimentos que não permitem flexibilização
Incluir e/ou rever itens SSO nos contratos de prestação de serviço. As empresas
contratadas deverão seguir os mesmos critérios adotados pela contratante. Os
contratos deverão prever penalidades (tipos e critérios para aplicação) por
descumprimento de normas ou regras de SSO definidas pela contratante. Rever
critérios para aprovação, acompanhamento e avaliação dos programas de SSO das
empresas prestadoras de serviços, nomeando responsáveis por essa tarefa.
Lembrando que o principal responsável pela segurança dos trabalhadores
terceirizados é o tomador do serviço em questão. Lembrando que a empresa
135
contratante responde, solidariamente, pelos acidentes sofridos por trabalhadores
terceirizados. Uma das empresas participantes dos seminários relatou ter optado
pela contratação de serviço especializado em segurança do trabalho exclusivamente
para acompanhar as ações de SSO das empresas prestadoras de serviços. Esse
serviço faz o que as chefias das áreas deveriam fazer.
Horas extras
Definir critérios rígidos para realização de horas extras. Horas extras não devem ser
utilizadas como economia de mão de obra e nem tampouco como aumento de
salário dos trabalhadores. Excesso de horas extras constitui-se numa das principais
causas de fadiga que culmina no cometimento de erros no trabalho e
consequentemente de acidentes. “Dobra”, em nenhuma hipótese deverá ser
permitida. Quando se tratar de trabalhos de manutenção envolvendo grandes
paradas, torna-se necessário redobrar a vigilância em relação às contratadas no
tocante a realização de horas extras.
137
Supervisão eventual
Definir quem responderá pelo supervisor e/ou facilitador nas suas ausências normais
e eventuais. Os trabalhadores precisam saber, com clareza, a quem recorrer na
ausência do supervisor titular. Tomar cuidado para não resgatar a figura do
“cachimbo” e prevenir eventuais reclamações trabalhistas.
Compete aos gestores das áreas bem como aos supervisores definir o que precisam
aprender para melhorar o seu desempenho com vista à obtenção de melhores
resultados em SSO. Fazer o mesmo em relação aos colaboradores. É importante
que as solicitações de treinamento sejam devidamente justificadas, de preferência
incluídas nos PDI.
Crescimento do grupo
Agenda de trabalho
138
importante lembrar que “sufoco” nem sempre é sinônimo e nem garantia de bom
desempenho.
Incentivos
139
considerados como tal. E mais do que isso, monitorados. Constitui-se desserviço à
Segurança no Trabalho o tratamento idêntico à situações diferentes.
Oportunidades
Penalidades
140
critérios de avaliação de desempenho em SSO, conhecidos e aceitos. Os itens de
avaliação de desempenho (indicadores de resultados) devem centrar
prioritariamente nas atividades de prevenção (correção dos riscos instalados e
restrições no surgimento de novos riscos) e não nos indicadores finais de acidentes,
como Coeficientes de Freqüência e de Gravidade, que estão vinculados à ocorrência
e gravidade dos acidentes. Os colaboradores precisam ser reconhecidos pelas boas
práticas de segurança, daí a necessidade de definir itens de sucesso que eles
deverão perseguir. E da mesma forma, observados quando deixarem de cumprir o
que lhes é determinado. A avaliação de desempenho será feita pelo supervisor de
cada trabalhador obedecendo a critérios definidos e largamente difundidos.
Gerentes, supervisores e colaboradores que não alcançarem à pontuação de
premiação (itens de avaliação individual) serão penalizados individualmente. O
grupo não deverá ser punido por comportamento inadequado de um dos seus
membros. 27
141
QUADRO 9
Vide quadro 4A, Reincidência Demissão do faltoso e de sua respectiva chefia imediata.
Página 108
QUADRO 10
No quadro 11, página 141, são sugeridos informes que devem ser considerados na
avaliação de desempenho onde se avalia os itens considerados como positivos que
poderão se transformar em objeto de reconhecimento e consequentemente de
premiação. Da mesma forma, itens negativos que poderão se transformar em objeto
de sanções. As avaliações deverão ser feitas mediante regras claras e de
conhecimento de todos. É importante que seja facultado ao colaborador, sujeito a
alguma penalidade, direito de defesa. Esse exercício termina conferindo a
segurança no trabalho certo grau de importância e funciona como instrumento
pedagógico.
As penalidades não deverão ser aplicadas pelas chefias e nem pelo diretor ou
gerente geral, mas pelo comitê gestor da segurança no trabalho. Essa medida, além
de dividir responsabilidades, evita responsabilizar uma única pessoa por decisões
que sabidamente inspiram antipatia.
143
QUADRO 11
144
e) Medidas disciplinas previstas para serem aplicadas por desobediência às
regras de segurança definidas pela empresa. Sobre as medidas disciplinares é
importante que os colaboradores saibam quando e em que circunstâncias elas
serão aplicadas. Da mesma forma é importante que os colaboradores saibam
como recorrer das medidas disciplinares, julgadas por eles, incorretas ou
improcedentes.
NOTA: a cartilha deverá ser distribuída pelas chefias imediatas dos colaboradores,
preferencialmente por ocasião de algum tipo de treinamento ou no decorrer das
conversações de segurança “DDS”.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
____. SSO - Compreensão e equívocos. Revista Proteção, São Paulo, n. 122, 113,
114. 2001.
____. Aspectos culturais influenciam a prevenção. Revista CIPA, Ano XXVIII, n. 327,
São Pulo, 2007.
____. Indenizações por acidentes do trabalho ou doenças Ocupacionais. 1ª. ed. São
Paulo: Ed. Ltr, 2005.
OLEA, Manuel Alonso. Introdução ao direito do trabalho. 4. ed.. São Paulo: Ed. LTR,
1974, 294 p.
146
NOTAS:
147
1
O diagnóstico de maturidade de SSO se baseia nas seguintes fontes de informações:
1. Histórico acidentário da empresa, nos três últimos anos (acidentes com ou sem afastamento);
2. Entrevistas com trabalhadores que sofreram acidentes e que retornaram ao trabalho;
3. Acompanhamento de trabalhadores em atividades de riscos elevados, com procedimentos de trabalho
(normas) definidos;
4. Entrevistas com ocupantes de cargo de chefias – do diretor ao supervisor;
5. Entrevistas com Técnicos do SESMT (engenheiros e técnicos de segurança);
6. Questionários de SSO aplicados em toda a população trabalhadora da empresa, incluindo empresas
contratadas permanentes.
2
A esse respeito conversamos com quatro diretores de empresas onde ocorreram acidentes fatais.
Unanimemente disseram que o constrangimento não se circunscrevia apenas às mortes, mas também às
explicações prestadas aos Conselhos de Administração e principalmente à imprensa.
3
Sugerimos verificar o conteúdo das mensagens de congratulações ou de reconhecimentos por metas
alcançadas, de parte da maioria dos dirigentes das grandes corporações, endereçadas ao público interno de
suas organizações, verificando, no conjunto das referências, o item segurança no trabalho. Na maioria delas o
assunto não é tratado ou tratado de maneira imprópria.
4
Esses dados foram levantados em oito empresas de grande porte, localizadas nos Estados de Minas Gerais,
São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, nos anos de 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006. Os dados são parciais, uma
vez que o levantamento não foi ainda concluído.
5
O questionário de SSO, respondido por gestores é composto de 37 questões. O questionário de SSO,
respondido por trabalhadores é composto de 27 questões. Todas as questões são formuladas com seis
alternativas de respostas, facultando ao entrevistado responder mais de uma alternativa. O roteiro de
entrevistas com gestores e técnicos do SESMT segue o mesmo padrão e é composto por 10 questões
cuidadosamente elaboradas.
6
A palavra legalista, entre aspas, refere-se aos desvios, na prática, do verdadeiro sentido da palavra. Algumas
empresas, e não são poucas, “maquiam” seus ambientes de trabalho com programas legais, como Mapas de
Risco, PPRA, PGR, PCMAT, PCMSO e mais recentemente com o PPP – elaborados normalmente pelos
técnicos do SESMT ou por consultor externo, sem o envolvimento direto e compromissado dos gestores das
áreas produtivas e dos trabalhadores – com o objetivo de “parecer cumprir” a Lei. Paradoxalmente, por essa
via, acabam gastando mais do que se estivessem controlando efetivamente os seus ambientes de trabalho. Por
esse expediente, algumas empresas continuam não protegendo os seus trabalhadores e abrindo espaços ao
acúmulo de passivos, especialmente de natureza previdenciário, como é o caso, no momento, da alíquota
suplementar destinada ao custeio da aposentadoria especial.
7
A RT – Recusa de Tarefa, é indiscutivelmente uma das ferramentas mais importantes no controle dos riscos
do trabalho. Seu emprego, no entanto, constitui-se num tremendo desafio. Não é tarefa fácil remover a memória
das relações de trabalho legadas pelo modelo escravista. O receio do trabalhador em fazer uso da RT, em
muitas situações, não se deve a dificuldades nos relacionamentos com suas chefias imediatas, mas na
memória da opressão que dominou as relações de trabalho até o terceiro quartel do século XX.
8
Os itens levantados nas quatro empresas do ramo de metalurgia não diferem em praticamente nada do que foi
levantado em outros ramos de atividades onde o trabalho já foi e/ou está sendo realizado, envolvendo mais de
16.000 trabalhadores e 4.000 ocupantes de cargos de chefia.
9
A respeito do descumprimento de normas, por parte dos trabalhadores, o diagnóstico de maturidade de SSO
realizado em seis grandes empresas, dos ramos de mineração, siderurgia, metalurgia, papel celulose, transporte
e construção civil, revela que o cerne da questão está na natureza e na incompatibilidade das normas com as
condições de trabalho e na falta de vontade política das empresas em corrigi-las. As normas, na sua grande
maioria, são genéricas, prolixas e de difícil compreensão e, em certos casos, de memorização impossível por
parte dos trabalhadores. A impressão que se tem é que muitas normas foram elaboradas com o propósito
precípuo de dar formato aos programas que as empresas buscam certificação formal e não para serem tratadas
como parte essencial dos processos produtivos.
10
Somente a partir de final do ano de 1998 é que a Previdência Social passou a exigir das empresas pagamento
adicional para custeio da aposentadoria especial. O custeio da aposentadoria especial é um fato inquestionável,
teria que haver. A questão é que a Previdência, ao tomar essa decisão, visou exclusivamente o ajuste de caixa
sem levar em conta o impacto da medida na vida dos trabalhadores e no caixa das empresas, sobretudo das
pequenas. Ressalte-se que os trabalhadores atingidos pela medida, na sua grande maioria, trabalham em
condições verdadeiramente agressivas à saúde; portanto, além da possibilidade de adoecerem em decorrência
das condições de trabalho, envelhecem mais cedo do que os demais. E aí é que está o cerne da questão:
envelhecimento e empregabilidade, no Brasil, não rimam facilmente a favor do trabalhador, nem mesmo para os
que trabalham em condições salubres, quanto mais para os que trabalham em ambientes desfavoráveis à saúde
– insalubres na verdadeira acepção do termo. Não é da cultura brasileira o trabalhador envelhecer trabalhando,
com vínculos formais de trabalho, sem os transtornos culturais decorrentes do processo de envelhecimento,
salvo no setor público – pelo menos, por enquanto. A atual medida impôs a um contingente considerável de
trabalhadores vinculados ao regime geral da Previdência mais tempo de trabalho, uma vez que as empresas, na
maioria das situações, vêm optando pelo controle da exposição aos riscos, principalmente pelo uso compulsório
de equipamento de proteção individual, medida tecnicamente questionável, porém legal. Ressalte-se que os
trabalhadores até então beneficiados com a aposentadoria especial trabalhavam (contribuíam) por 15, 20 e 25
anos e saíam do trabalho, como medida preventiva, com menos tempo de exposição aos riscos oferecidos pelo
trabalho em questão. Doravante, muitos terão que contribuir para a Previdência Social por mais tempo,
dependendo de duas questões fundamentais: emprego e saúde. Os efeitos dessa medida certamente
começarão a ser sentidos, mais fortemente, nos próximos anos. Daí a necessidade de os trabalhadores se
cuidarem, de participarem ativamente das políticas e dos programas de Segurança e Saúde Ocupacional das
suas respectivas empresas, especialmente daqueles que cuidam dos controles dos riscos ambientais.
11
Um bom serviço de Higiene Ocupacional, entre outros benefícios, pode servir a empresa para: 1) Identificar e
quantificar, com o rigor necessário, os agentes ambientais existentes nos ambientes de trabalho. 2) Definir e
priorizar investimentos de monta em medidas de controle de riscos ambientais. 3) Gerar memórias técnicas que
darão suficiente sustentação nos embates envolvendo a segurança e a saúde no trabalho, tais como: a)
negociações coletivas com sindicatos, b) negociações e acordos com órgãos e agências do governo, c) defesas
em processos judiciais, d) definição de pagamento de adicionais de insalubridade e periculosidade, e) definição
de pagamento das alíquotas suplementares referentes ao custeio da aposentadoria especial, entre outros.
12
Mudanças profundas, sem ruptura com os modelos anteriores, dificilmente promovem inteiramente as
transformações almejadas. As razões são várias, mas principalmente devidas as incoerências e ao volume de
ações antagônicas vivenciadas a um só tempo. As incoerências manifestam-se em todos os sentidos, mas de
forma mais visível no descaso em relação aos mecanismos (instrumentos) da nova ordem pretendida. No caso
em apreço, de um lado, os supervisores fingem que estão mandando fazer as coisas conforme prescrição
formal; de outro, os trabalhadores os imitam, reproduzindo a mesma postura, fingindo que lhes obedecem. E,
assim, as mudanças pretendidas não se realizam, pelo menos na sua totalidade. No conjunto de mudanças
levado a cabo pelas empresas nos últimos anos, esse fenômeno mais se evidenciou como árdua tarefa de
implementação dos programas de qualidade total e de meio ambiente. Em relação à SSO a situação não é
diferente, sobretudo a partir da adoção da OHSAS 18.001.
13
Dados extraídos das fichas de análise de acidentes.
14
Características preponderantes dos estágios de SSO:
o PRIMEIRO ESTÁGIO (administração movida por crise):
o As ações de Segurança e Saúde Ocupacional são movidas por crises. Toda energia e recursos são
empregados na abordagem de problemas (riscos) já instalados em detrimento das práticas preventivas ou
da antecipação dos riscos.
o Não há definição clara de responsabilidades pela condução das ações de segurança; todos na empresa
são tidos como responsáveis, mas, ao mesmo tempo, não há um responsável de quem se possa cobrar
ações e resultados.
o A Segurança do Trabalho só adquire importância em momentos de crise, isto é, quando ocorrem
acidentes de alguma gravidade ou quando a empresa é interpelada pelo sindicato dos colaboradores, por
órgãos públicos de fiscalização, pelo Ministério Público do Trabalho ou pela Justiça do Trabalho.
o As ações de controle, quando surgem são implementadas em caráter de urgência.
o O atendimento à legislação é feito, via de regra, por pressão de órgãos públicos responsáveis pela
fiscalização, por representação sindical ou por decisão judicial.
o A Segurança no Trabalho é tratada como uma questão de “bom senso”. Ela é confiada a quem não
dispõe de preparo suficiente para conduzi-la de maneira adequada. Não há Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT e quando há, acumula outras funções em
detrimento da Segurança ou é totalmente desviado de suas atividades precípuas.
o A Segurança e Saúde Ocupacional são vistas como incompatíveis com a produção (aumenta custos,
dificulta e atrapalha o andamento “normal” das atividades produtivas).
o O discurso da Segurança do Trabalho é ambíguo e contraditório. Às vezes diz-se que a Segurança é
importante e necessária, mas na prática, o que é feito não é compatível com os riscos do trabalho. Os riscos
são vistos como inerentes ao trabalho e os acidentes como fatalidade e/ou descuido dos colaboradores.
o A produção é prioritária, independentemente das condições ambientais e/ou de trabalho em que a
mesma se realiza.
o As questões éticas e morais pertinentes à garantia da Segurança e Saúde Ocupacional são de pouca
relevância ou nulas.