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Curso de

Sexualidade Humana

MÓDULO III

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descritos nas Referências Bibliográficas.
MÓDULO III

V- Homossexualidade

1- Introdução

Atualmente, não é politicamente correto procurar ou mesmo sugerir uma


causa para a homossexualidade. Já houve muitas especulações a respeito das
causas da homossexualidade, sendo levantadas como possibilidades as questões,
psicológicas, hormonais, neuroendócrinas, cerebrais e genéticas. No entanto, até o
presente não foram encontrados dados conclusivos a respeito.
A busca de identificação das origens da homossexualidade acaba
apresentando profunda relação com a ideologia vigente em cada cultura, em
determinado tempo e espaço.
Todo comportamento humano tem causas e razões, seja o comportamento
arbitrariamente considerado normal ou anormal. A homossexualidade é mais bem
compreendida como uma desembocadura comum – atividade sexual que representa
muitas fontes diferentes, algumas baseadas em conflitos, algumas não baseadas em
conflitos, e muitas sobre as quais apenas a especulação é possível. Este tópico não
tenta ser politicamente correto: ele não pode evitar áreas, pontos de vista ou dados
controvertidos e não resolve conflitos de opiniões emocionalmente sustentados.
Este conteúdo é baseado em revisão bibliográfica citada ao final do material
e não reflete a posição ou ideologia do Portal Educação ou de seus colaboradores a
respeito do tema.
2- Definições

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O prefixo “homo” vem da palavra grega que significa “mesmo” e o termo
“homossexualidade” refere-se genericamente a qualquer atividade sexual entre
pessoas do mesmo sexo.
“Lesbianismo” é frequentemente usado para designar a homossexualidade
feminina. A palavra gay (alegre, em inglês) é comumente usada com referência ao
sujeito homossexual, podendo ser usada para ambos os sexos, mas o é comumente
para homossexuais masculinos.
Gay também passou a indicar um grupo particular de homossexuais –
aqueles que são aberta e orgulhosamente homossexuais – e o estilo de vida viável
para os que ignoram e desafiam a estigmatização.
Os termos “homossexual enrustido” e “homossexual egodistônico” são,
circunstancialmente, usados para aqueles que estão em conflito ou ainda não
assumiram sua condição e, especificamente para aqueles que reconhecem a base
conflituosa de sua orientação e não têm orgulho dela.
O termo “homossexualidade”, quando usado correta ou incorretamente como
diagnóstico, é enganador, pois ele sugere uma unidade de significado ou de
atividades sexuais que não é valida. A atividade homossexual ocorre em uma ampla
variedade de circunstâncias emocionais e existenciais que tornam a atividade
conceitual e qualitativamente distinta, mesmo que os comportamentos anatômicos e
genitais possam ser idênticos.
Homossexualidade e heterossexualidade não são sempre orientações para
toda a vida, mutuamente excludentes, pois uma grande parcela de sujeitos teve
ambos os tipos de experiências em determinados momentos de suas vidas.
A palavra “homossexualidade” é usada aqui com referência ao padrão
sexual de atração erótica ou atividade sexual preferencial ou exclusiva entre
pessoas do mesmo sexo, independentemente da disponibilidade de parceiros
heterossexuais. “Preferencial” não deve ser erroneamente interpretado como
significando uma escolha consciente entre opções iguais, psicologicamente
disponíveis e sexualmente excitantes. A preferência é conscientemente conhecida,
mas a direção da orientação sexual, quer heterossexual ou homossexual, é algo que

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a pessoa simplesmente descobre em si mesma: não se tem uma escolha original
quanto à orientação erótica.

3- Homossexualidade como Categoria Diagnóstica

A condição oficial da homossexualidade como diagnóstico de transtorno


mental mudou marcadamente desde a década de 1960. Na primeira edição do
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-I), publicado em
1952, a homossexualidade foi incluída entre os distúrbios sociopáticos da
personalidade, como um desvio sexual envolvendo comportamento patológico.
Na segunda edição do (DSM-III), publicada em 1968, a categoria dos
distúrbios sociopáticos da personalidade não mais aparecia, mas a
homossexualidade continuava entre os desvios sexuais, sendo os desviantes
descritos como incapazes de substituir suas práticas pelo comportamento sexual
normal.
Em 1973, após muita agitação e protesto de ativistas gays e com o apoio de
muitos psiquiatras, o conselho diretor da American Psychiatric Association decidiu
retirar a homossexualidade como diagnóstico de doença mental. Tal decisão
despertou considerável controvérsia e o assunto foi submetido a uma votação pelos
membros, que decidiram, por uma maioria de 58% (de um trabalho de pouco mais
de 10.000 votos), manter a decisão do conselho. A questão não ficou resolvida para
muitos psiquiatras, entretanto, conforme demonstrado por uma pesquisa realizada
pela revista Medical Aspects of Human Sexuality, em 1977, dos primeiros 2.500, dos
10.000 psiquiatras que responderam, 69% consideravam homossexualidade uma
adaptação patológica, em oposição a uma variação normal.
A posição oficial permaneceu, entretanto, e na terceira edição (DSM-III),
publicada em 1980, a homossexualidade não mais aparecia como diagnóstico,
aparecendo o termo “homossexualidade egodistônica” na categoria geral dos
transtornos psicossexuais.
O raciocínio era de que apenas nos perturbados por sua homossexualidade
é que ela constituía um transtorno psicológico. Os critérios diagnósticos requeriam,

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basicamente, que a orientação homossexual fosse uma preocupação interior
persistente do paciente; a simples insatisfação e conflito moderados entre a
homossexualidade do sujeito e a sociedade não qualificam o diagnóstico.
A décima revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
relacionados à saúde (CID 10), da Organização Mundial de Saúde, inclui uma
categoria de orientação sexual egodistônica sob o título de transtornos psicológicos
e comportamentais associados com desenvolvimento e a orientação sexual. O tópico
é acompanhado por uma observação de que a orientação sexual isoladamente não
deve ser considerada um transtorno. A categoria egodistônica é assim definida: a
identidade de gênero ou preferência sexual não está em dúvida, mas a pessoa
gostaria que ela fosse diferente em razão dos transtornos psicológicos ou
comportamentais associados, podendo procurar tratamento para modificá-la.
Entretanto, na terceira edição revisada e na quarta edição do DSM (DSM-III
e DSM-IV, respectivamente), a homossexualidade egodistônica não é mais um
termo diagnóstico. Sob “transtornos sexuais sem outra especificação”, uma das três
categorias é o sofrimento persistente e marcado em relação à orientação sexual.
Desaparecem quaisquer comentários ou critérios diagnósticos, e supõe-se que a
condição poderia incluir heterossexuais que sofram com sua heterossexualidade e
desejam persistentemente serem homossexuais.

4- Possíveis bases para a homossexualidade

Integração – A tentativa de entender as raízes da orientação sexual é


universal: ela não se concentra na homossexualidade com o pressuposto de que a
heterossexualidade não necessita de explicação.
Biologia, ambiente familiar-cultural e psicodinâmica intrapsíquica andam
juntos e são invariavelmente determinantes de todos os aspectos da vida, não
apenas da orientação sexual.
Em relação à homossexualidade, nenhuma influência atua sozinha ou de
forma única. A predisposição biológica pode ajudar a determinar o quanto vulnerável
ou resistente é uma pessoa em relação à influência dos pais. Ela pode desempenhar

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um papel na potência do conflito intrapsíquico X realidade ambiental. O poder da
influência dos pais pode sobrepor-se à predisposição à heterossexualidade ou
homossexualidade. As qualidades positivas ou negativas dos relacionamentos de
um menino com seus pares e adultos do mesmo sexo podem sobrepujar um
autoconceito não masculino ou ser uma influência adicional à orientação
homossexual.
Indiscutivelmente, entre as espécies de mamíferos, a biologia típica da
espécie e as condições de criação resultam em heterossexualidade como
preferência adulta. Segundo este ponto de vista, a homossexualidade como
preferência adulta representa uma adaptação – com frequência incontestavelmente
bem-sucedida – a diferenciação e condições evolutivas de qualquer natureza que
tornem a heterossexualidade típica da espécie inacessível ou inaceitável.

A questão da psicopatologia – Este assunto é controvertido e tem forte


carga emocional, mas as formas assumidas pelas controvérsias repetidas vezes
criam confusão e perdem o alvo de vista. A questão geralmente se concentra em se
a homossexualidade é, por definição, psicopatológica, e se a homossexualidade é,
portanto, doentia e a heterossexualidade, saudável. Deveria ser óbvio que a
heterossexualidade não traz consigo uma imunidade especial contra a
psicopatologia.
Todas as famílias e todos os ambientes são falíveis e deturpantes, em algum
grau. Nada indica que as famílias dos homossexuais sejam mais patogênicas do que
as famílias da maioria dos heterossexuais. Pessoas heterossexuais têm tanta
probabilidade quanto homossexuais de terem encontrado impedimentos ao
desenvolvimento ideal em várias áreas e de terem formado compromissos
sintomáticos.

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VI- Parafilias

As parafilias são expressões anormais da sexualidade, que podem variar de


um comportamento quase normal a um comportamento destrutivo ou danoso
somente para a própria pessoa ou também para o parceiro, até um comportamento
considerado destrutivo ou ameaçador para a comunidade como um todo.
Os impulsos parafílicos podem ocorrer em situações raras, intermitentes ou
compulsivas, e podem ser acidentais ou oferecer a única via de expressão da
sexualidade.
Uma fantasia especial, com seus componentes inconscientes e conscientes,
é o elemento principal da parafilia, com excitação sexual e orgasmo como
fenômenos associados que reforçam a fantasia ou o impulso. A influência dessas
fantasias e suas manifestações comportamentais, muitas vezes, vão além da esfera
sexual e atingem toda a vida da pessoa.
Como nos diz Gabbard (1998), poucos transtornos psiquiátricos são
carregados de tantas implicações moralistas quanto as parafilias. Determinar que um
sujeito sofre de um desvio na área da sexualidade implica o estabelecimento de uma
clara norma de conduta sexual. Quem irá estabelecer estas normas? A psiquiatria
deve ser a guardiã moral da conduta sexual? Podemos utilizar termos como desvio
sexual, perversão ou mesmo parafilia sem conotação pejorativa?
A evolução da definição da atividade perversa revela até que ponto a
nosologia psiquiátrica espelha a sociedade da qual ela emana. No contexto de uma
cultura que considerava a sexualidade normal em termos relativamente estreitos,
Freud definiu a atividade sexual como perversa de acordo com vários critérios:
1) Focalizava regiões não genitais do corpo.
2) Ao invés de coexistir com a prática padrão de intercurso sexual com
um parceiro do sexo oposto, ela sobrepujava e substituía esta prática.
3) Ela tende a ser a única prática sexual do sujeito.
Freud observou que traços de perversão podiam ser encontrados em
virtualmente qualquer pessoa cujo inconsciente estivesse sujeito à investigação
psicanalítica.

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Desde o primeiro artigo de Freud, as atitudes culturais a respeito da
sexualidade passaram por modificações dramáticas. À medida que a sexualidade
tornou-se uma área legitimada para o estudo científico, ficou evidente que os casais
“normais” envolviam-se em uma variedade de comportamentos sexuais. Relações
orogenitais, por exemplo, passaram a ser amplamente aceitas como comportamento
sexual saudável. De forma análoga, a homossexualidade e o relacionamento anal
foram retirados das listas das atividades perversas. Mais recentemente a
preocupação com a AIDS aumentou a consciência pública sobre a prevalência
relativamente alta de relações sexuais anais entre casais heterossexuais.
Os escritores psicanalíticos têm repetidamente confirmado a observação de
Freud de que existe uma essência perversa latente em todos nós. Logo, a
psicanálise foi acompanhada por uma atitude de maior aceitação em relação à
sexualidade perversa. McDougall (1986) enfatizou que as fantasias perversas são
encontradas regularmente em todo comportamento sexual adulto, mas tendem a
provocar poucos problemas por não serem vividos como compulsivos. Ela sugeriu o
uso do termo neossexualidade para refletir a natureza inovadora da prática e o
intenso investimento do sujeito na sua busca. Enfatizou que os clínicos devem ser
empáticos com seus pacientes que vivenciam estas solicitações sexuais como
necessárias para a sobrevivência emocional.
Em um esforço de excluir julgamento na sua definição de parafilias, o DSM-
IV sugeriu a restrição do termo a situações nas quais objetos não-humanos são
utilizados, nas quais a humilhação ou dor real são infligidas a alguém ou a um
parceiro, ou nas quais estão envolvidos adultos ou crianças que não concordam com
a situação. Para lidar com o continuum entre a fantasia e a ação, o DSM-IV
desenvolveu um espectrum de severidade. Nas formas “leves”, os pacientes sofrem
com seus desejos sexuais parafílicos, mas não os atuam. Nos graus “moderados” de
severidade, os pacientes traduzem seus desejos em ações, mas apenas
ocasionalmente. Em caos “severos”, os pacientes repetidamente atuam seus
desejos parafílicos. Finalmente, em um esforço de ser mais científico e menos
pejorativo, o DSM-IV utiliza o termo parafilia em vez de perversão ou desvio.

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1- Epidemiologia

As parafilias são praticadas apenas por uma pequena porcentagem da


população, mas sua natureza insistente e repetitiva resulta em alta ocorrência. Por
isso, uma grande proporção da população foi vitimizada por pessoas com parafilias.
O DSM-IV sugere que a prevalência é bem mais alta do que o número de
casos diagnosticados em instituições clínicas gerais, com base no grande mercado
comercial de pornografia e parafernália parafílica.
Entre os casos legalmente identificados de parafilia, a pedofilia é a mais
comum. De 10 a 20% de todas as crianças foram molestadas até os 18 anos de
idade. Como uma criança é o objeto, o ato é visto com mais seriedade, e são feitos
esforços maiores para localizar os culpados do que em outras parafilias.
Pessoas com exibicionismo que se mostram publicamente para crianças
também costumam ser presas. Aquelas com voyeurismo podem ser presas, mas seu
risco não é grande. Vinte por cento das mulheres adultas já foram alvo de pessoas
com exibicionismo e voyeurismo.
O masoquismo e o sadismo sexuais são sub-representados em qualquer
estimativa de prevalência. Este último costuma ganhar atenção somente em casos
sensacionalistas de estupro, brutalidade e assassinatos.
As parafilias excretórias raramente são relatadas, uma vez que a atividade
tende a acontecer de forma consensual entre adultos ou entre prostitutas e seus
clientes.
Pessoas com fetichismo raramente se envolvem com o sistema legal. A
zoofilia como uma verdadeira parafilia é rara.

2- Diagnóstico e características clínicas

Os critérios diagnósticos do DSM-IV para as parafilias incluem a presença


de uma fantasia e o impulso intenso de agir segundo a fantasia ou sua elaboração
comportamental. A fantasia pode causar sofrimento ao paciente, contém material
sexual incomum, relativamente fixo e demonstra apenas variações menores. A

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excitação e o orgasmo dependem da elaboração mental ou do desempenho
comportamental da fantasia. A atividade sexual é ritualizada ou estereotipada,
fazendo uso de objetos degradados, reduzidos ou desumanizados.

- Exibicionismo

Critérios diagnósticos do DSM-IV para exibicionismo

A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias, anseios


sexuais e comportamentos sexualmente excitantes recorrentes e intensos
envolvendo a exposição dos próprios genitais a um estranho insuspeito.
B. A pessoa realizou estes desejos sexuais, ou os desejos sexuais ou
fantasias sexuais causam acentuado sofrimento ou dificuldade
interpessoal.

Fonte: DSM IV

Este é um impulso recorrente de expor os genitais a um estranho ou a uma


pessoa desavisada. A excitação sexual ocorre em antecipação à exposição, e o
orgasmo é ocasionado pela masturbação durante ou após o evento.
Em quase 100% dos casos, os exibicionistas são homens que se expõem a
mulheres. Sua dinâmica é afirmar a masculinidade exibindo o pênis e observando as
reações da vítima – medo, surpresa e repulsa.

- Psicodinâmica do exibicionismo: expondo publicamente seus genitais a


mulheres e meninas estranhas, o exibicionista reassegura a si mesmo que ele não é
castrado.
A reação de choque que suas atitudes provocam ajuda-o a lidar com a
ansiedade de castração e dá a ele um sentimento de poder em relação ao sexo
oposto. Geralmente, os atos exibicionistas ocorrem após uma situação na qual o

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ofensor sentiu-se humilhado, na maioria das vezes, por uma mulher. Em troca, o
exibicionista vinga-se desta humilhação chocando mulheres estranhas.
Além disso, a exposição dos genitais possibilita ao homem recuperar algum
sentido de valor e identidade masculina positiva. Com frequência estes homens
revelam uma profunda insegurança em relação a seu sentido de masculinidade.
Por outro lado, alguns autores afirmam que a ansiedade de castração não
capta totalmente a motivação para o ato exibicionista. Nesta visão, a ameaça “é
melhor colocada em termos de identidade, pois a humilhação tem a ver com a
‘ansiedade existencial’, uma ameaça à identidade de gênero nuclear”. Os
exibicionistas com assiduidade sentem que não causam impacto em ninguém de sua
família e assim têm que recorrer a medidas extraordinárias para serem notados.
Cada ato exibicionista pode, consequentemente, ser uma tentativa de reverter uma
situação traumática da infância.

- Fetichismo

Critérios diagnósticos do DSM-IV para fetichismo

A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente


excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais e anseios ou
comportamentos envolvendo o uso de objetos inanimados (por exemplo,
roupas íntimas femininas).
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social
ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. Os objetos de fetiche não se restringem a artigos de vestuário feminino
usados no travestismo (como no travestismo fetichista) ou a dispositivos
desenvolvidos com a finalidade de estimulação tátil da genitália (por
exemplo, vibrador).

Fonte: DSM IV

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No fetichismo, o foco sexual está em objetos (por exemplo, sapatos, luvas,
meias) associados intimamente ao corpo humano. O fetiche em particular está ligado
a alguém intimamente envolvido com o paciente durante a infância e tem uma
qualidade associada a essa pessoa amada, necessária ou até mesmo
traumatizadora. Em geral, o transtorno começa na adolescência, embora possa ter
se estabelecido na infância. Depois de efetivado, tende a ser crônico.
A atividade sexual pode ser direcionada para o fetiche em si (por exemplo,
masturbação com ou dentro de um sapato), ou este pode ser incorporado ao
intercurso sexual (por exemplo, a exigência de que sejam usados sapatos de salto
alto). O transtorno é quase exclusivamente encontrado em homens.

- Frotteurismo

Critérios diagnósticos do DSM-IV para Frotteurismo

A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente


excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo tocar e esfregar-se em uma pessoa sem o seu
consentimento.
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social
ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Fonte: DSM IV

Costuma ser caracterizado pelo ato de um homem esfregar seu pênis contra
as nádegas ou outras partes do corpo de uma mulher totalmente vestida para
alcançar o orgasmo.
Em outros casos, pode-se usar as mãos para esfregar uma vítima
desavisada. Os atos tendem a ocorrer em lugares muito cheios, em especial metrôs
e ônibus.

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Homens com frotteurismo são extremamente passivos e isolados, e esse
ato, muitas vezes, é sua única fonte de gratificação sexual. A expressão da
agressividade nessa parafilia fica logo aparente.

- Pedofilia

Critérios diagnósticos do DSM-IV para Pedofilia


A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente
excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança pré-
púbere (geralmente com idade inferior a 13 anos).
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social
ou ocupacional em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. O indivíduo tem no mínimo 16 anos e é pelo menos cinco anos mais velho
do que a criança ou crianças no critério A.
Nota: Não incluir um indivíduo no final da adolescência envolvido em um
relacionamento sexual contínuo com uma criança com 12 ou 13 anos de idade.

Especificar se:
Atração sexual pelo sexo masculino
Atração sexual pelo sexo feminino
Atração sexual por ambos os sexos

Especificar se:
Restrita ao incesto

Especificar se:
Tipo exclusivo (atração apenas por crianças)
Tipo não exclusivo
Fonte: DSM IV

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Envolve impulsos ou excitação sexuais recorrentes e intensos em relação a
crianças de 13 anos de idade ou menos por um período de pelo menos seis meses.
Pessoas com a condição têm no mínimo 16 anos de idade e pelo menos cinco anos
a mais do que suas vítimas. Quando o perpetrador é um adolescente envolvido em
um relacionamento sexual com uma criança de 12 ou 13 anos de idade, o
diagnóstico não é feito.
A maioria dos molestamentos de crianças envolve toques genitais ou sexo
oral. A penetração vaginal ou anal ocorre com pouca frequência, exceto em casos
de incesto.
Embora a maioria das vítimas que chegam à atenção pública seja composta
de meninas, este achado parece ser um produto do processo de encaminhamento.
Os criminosos relatam que, quando tocam uma criança, a maioria das vítimas são
meninos. Esse número faz um contraste acentuado com os números de vitimização
de crianças sem toque, tais como espiar por janelas e exibicionismo; 99% desses
casos são feitos contra meninas. 95% dos pedófilos são heterossexuais, e 50%
tinham consumido álcool em excesso no momento do incidente. Além da pedofilia,
um número significativo dos perpetradores está ou já esteve envolvido em
exibicionismo, voyeurismo ou estupro.

- Masoquismo sexual

Critérios diagnósticos do DSM-IV para masoquismo sexual

A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente


excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo o ato (real, não simulado) de ser humilhado, espancado,
atado ou de outra forma submetido a sofrimento.
B. As fantasias, os impulsos sexuais ou os comportamentos causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social
ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Fonte: DSM IV

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O masoquismo deve seu nome às atividades de Leopold Von Sacher-
Masoch, um romancista austríaco do século XIX, cujos personagens derivam prazer
sexual de serem abusados e dominados por mulheres.
Segundo o DSM-IV, pessoas com masoquismo sexual têm uma
preocupação recorrente com impulsos e fantasias sexuais envolvendo o fato de
serem humilhadas, espancadas, amarradas ou de alguma outra forma submetidas a
sofrimento.
As práticas sexuais masoquistas são mais comuns entre homens do que
entre mulheres. Cerca de 30% dos portadores de masoquismo sexual também têm
fantasias sádicas. O masoquismo moral envolve a necessidade de sofrer, mas não é
acompanhado de fantasias sexuais.

- Sadismo sexual

Critérios diagnósticos do DSM-IV para sadismo sexual

A. Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente


excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo atos (reais, não simulados) nos quais o sofrimento psicológico
ou físico (incluindo humilhação) da vítima é sexualmente excitante para o
indivíduo.
B. O indivíduo realizou estes desejos sexuais com outra pessoa sem seu
consentimento, ou os desejos e as fantasias sexuais causam acentuado
sofrimento ou dificuldade interpessoal.

Fonte: DSM IV

O início do transtorno em geral acontece antes dos 18 anos de idade, e a


maioria das pessoas que o apresentam são homens. O transtorno foi batizado com o
nome do Marquês de Sade, um autor francês do século XVIII repetidamente preso
por seus atos sexuais violentos contra mulheres.

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O sadismo sexual está relacionado ao estupro, embora este seja
considerado uma expressão de poder. Alguns estupradores sádicos, no entanto,
matam suas vítimas após o sexo. Em muitos casos, essas pessoas têm
esquizofrenia subjacente. Alguns autores falam em cinco causas que contribuem
para o sadismo sexual: predisposição hereditária; mau funcionamento hormonal;
relacionamentos patológicos; história de abuso sexual e presença de outros
transtornos mentais.

- Voyeurismo

Critérios diagnósticos do DSM-IV para voyeurismo

A. Durante um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente


excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo o ato de observar uma pessoa que está nua, a se despir ou
em atividade sexual, a qual não suspeita que está sendo observada.
B. O indivíduo realizou estes desejos sexuais com outra pessoa sem seu
consentimento, ou os desejos e as fantasias causam acentuado
sofrimento ou dificuldade interpessoal.

Fonte: DSM IV

O voyeurismo, também conhecido como escopofilia, é a preocupação


recorrente com fantasias e atos que envolvem observar pessoas que estão nuas, ou
se vestindo, ou em atividade sexual.
A masturbação até o orgasmo geralmente acompanha ou segue-se ao
evento. O primeiro ato do tipo costuma ocorrer durante a infância, e é mais comum
em homens.

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- Travestismo fetichista

Critérios diagnósticos do DSM-IV para travestismo fetichista

A. Por um período mínimo de seis meses, em um homem heterossexual,


fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos
sexuais ou comportamentos envolvendo o uso de roupas íntimas
femininas.
B. As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou
ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

Especificar se:
Com disforia quanto ao gênero: se o indivíduo sente um desconforto com
o papel ou a identidade de gênero.

Fonte: DSM IV

O travestismo fetichista é descrito como fantasias e impulsos sexuais de


vestir-se com roupas do sexo oposto como meio de excitação e como coadjuvante
da masturbação ou do coito.
Começa na infância ou no início da adolescência. À medida que os anos
passam, alguns homens com o transtorno querem vestir-se e viver como mulheres.
Com mulheres, tal comportamento é mais raro. Essas pessoas são classificadas no
DSM-IV como portadoras de travestismo fetichista e disforia quanto ao gênero. Em
geral, usam mais de um artigo de vestuário do sexo oposto; com frequência, um
guarda-roupa inteiro está envolvido.

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Quando um homem com travestismo fetichista está vestido de mulher, sua
aparência de feminilidade pode ser notável, embora não no mesmo grau encontrado
no transexualismo. Quando não estão vestidos com roupas de mulher, os homens
com o transtorno podem ser hipermasculinos em aparência e ocupação.
O transtorno pode variar de um ato solitário, deprimido e cheio de culpa até
um estilo de vida egossintônico com inserção social em uma subcultura de
travestismo.
A condição clínica manifesta de travestismo fetichista pode começar na fase
da latência, mas é vista com maior constância em torno da puberdade ou na
adolescência. A prática explicita de vestir-se com roupas do sexo oposto em geral
não principia até que a mobilidade e a relativa independência dos pais estejam bem
estabelecidas.

- Parafilia sem outra especificação

Critérios diagnósticos do DSM IV para parafilia sem outra especificação

Esta categoria é incluída para a codificação de parafilias que não satisfazem


os critérios para qualquer das categorias específicas. Os exemplos incluem
escatologia telefônica (telefonemas obscenos), necrofilia (cadáveres), parcialismo
(foco exclusivo em uma parte do corpo), zoofilia (animais), coprofilia (fezes),
clismafilia (enemas) e urofilia (urina), entre outras.

Fonte: DSM IV

- Escatologia por telefone ou computador: a escatologia por telefone se


caracteriza por telefonemas obscenos e envolve um parceiro desavisado. A tensão e
a excitação começam em antecipação da chamada; quem recebe a chamada escuta
enquanto a pessoa que chama (geralmente um homem) expõe suas fantasias ou a
induz a falar sobre sua atividade sexual. A conversa é acompanhada de
masturbação, que tende a ser consumada depois que o contato é interrompido.

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As pessoas também usam redes interativas de computador, às vezes, de
maneira compulsiva, para mandar mensagens obscenas por correio eletrônico e
transmitir imagens sexualmente explícitas.
Em função do anonimato dos usuários nas salas de bate-papo, o sexo on-
line (cybersex) permite a algumas pessoas desempenhar o papel do sexo oposto, o
que representa um método alternativo de expressar fantasias de travestismo e
transexualismo.
Um dos perigos dessa prática é que os pedófilos a utilizam com frequência
para fazer contato com crianças ou adolescentes, que são convencidos a encontrá-
los pessoalmente, sendo então molestados.
Muitos contatos por computador se transformam em relacionamentos off-
line. Embora algumas pessoas relatem que os encontros frente a frente geram
relacionamentos significativos, a maioria desses encontros é cheia de decepção e
desilusão, pois a pessoa fantasiada não consegue satisfazer as expectativas
inconscientes de perfeição. Em outras situações, quando adultos se encontram,
podem ocorrer estupros ou até mesmo homicídios.

- Necrofilia: é a obsessão em obter gratificação sexual por meio de


cadáveres. A maioria das pessoas com esse transtorno encontra cadáveres em
necrotério, mas se sabe de algumas que roubaram túmulos ou até mesmo
assassinaram para satisfazer seus impulsos sexuais.

- Parcialismo: pessoas com este transtorno concentram sua atividade


sexual em uma parte do corpo e excluem as demais.

- Zoofilia: na zoofilia, animais – que podem ser treinados para participar –


são incorporados nas fantasias de excitação ou atividades sexuais, incluindo
intercurso, masturbação e contato oral-genital. A zoofilia como parafilia organizada é
rara. Para muitas pessoas, os animais são a principal fonte de relacionamento, e por
isso não surpreende que uma ampla variedade de animais domésticos seja usada
de forma sensual ou sexual.

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- Coprofilia e Clismafilia: a coprofilia é o prazer sexual associado ao desejo
de defecar no parceiro, de que o parceiro defeque na pessoa ou de comer fezes
(coprofagia). Uma variante é a vocalização compulsiva de palavras obscenas
(coprolalia) e a clismafilia em que se usa enemas como parte da estimulação sexual.

- Urofilia: forma de erotismo uretral onde o interesse do prazer sexual está


associado ao desejo de urinar no parceiro ou de que o parceiro urine na pessoa.

- Masturbação: é uma atividade normal e comum em todos os estágios da


vida. As técnicas de masturbação variam em ambos os sexos e entre as pessoas. A
masturbação só é anormal, quando é o único tipo de atividade sexual realizada na
vida adulta, quando sua frequência indica uma compulsão ou disfunção sexual ou
quando é consistentemente preferida em detrimento do sexo com um parceiro.

3- Cid 10

Na décima revisão do CID 10, as parafilias são classificadas como


transtornos da preferência sexual. São listados seis transtornos específicos –
fetichismo, travestismo fetichista, exibicionismo, voyeurismo, pedofilia e
sadomasoquismo – e três categorias residuais – múltiplos transtornos da preferência
sexual, outros transtornos da preferência sexual e transtorno da preferência sexual
não especificado.

4- Entendimento psicodinâmico das parafilias

Em grande parte, a etiologia das parafilias permanece encoberta por


mistérios. Embora alguns estudos tenham sugerido que fatores biológicos
contribuem para a patogênese da perversão, os dados estão longe de serem
definitivos. Mesmo que fatores biológicos estejam presentes, questões psicológicas
obviamente têm um papel crucial na determinação da escolha da parafilia e do
significado subjacente aos atos sexuais.

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A compreensão psicanalítica em muito iluminou os obscuros recessos da
psique perversa. Entretanto, devemos adequada e modestamente observar que os
modelos psicodinâmicos podem esclarecer sobre o significado de uma perversão
sem necessariamente estabelecer uma etiologia definitiva.

- Exibicionismo e Voyeurismo

Expondo publicamente seus genitais a mulheres e meninas estranhas, o


exibicionista reassegura a si mesmo que ele não é castrado.
O inverso do exibicionismo – o voyeurismo – também envolve uma violação
da privacidade de uma mulher estranha, um triunfo agressivo, mas secreto, sobre o
sexo feminino.
Alguns autores vinculam estas tendências a uma fixação na cena primária
da infância, na qual a criança testemunha ou escuta o relacionamento sexual dos
pais. Esta experiência traumática precoce poderia desencadear a ansiedade de
castração na criança e então levá-la a representar repetidas vezes a cena como um
adulto, na tentativa de ativamente dominar um trauma vivenciado de forma passiva.

- Sadismo e Masoquismo

As pessoas que necessitam de fantasias ou atitudes sádicas para obter


gratificação estão com frequência de forma inconsciente tentando reverter cenários
da infância nos quais foram vítimas de abuso físico ou sexual.
Infligindo em outros o que elas passaram na infância, elas se vingam e ao
mesmo tempo obtêm uma sensação de domínio sobre o trauma da infância.
Pacientes masoquistas que necessitam ser humilhados e até mesmo sentirem dor
para obter o prazer sexual também podem estar repetindo experiências de abuso na
infância.
Em alguns casos, estes pacientes se defendem da ansiedade de separação
submetendo-se ao abuso. Eles frequentemente se convencem de que uma relação é

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a única forma disponível de relação objetal: um relacionamento abusivo é melhor
que nenhum relacionamento.
O sadismo e o masoquismo são únicos no sentido de serem as únicas
perversões clássicas que ocorrem regularmente em ambos os sexos. Embora o
masoquismo tenha sido ligado de forma estereotipada às mulheres, formas
modificadas de fantasias sádicas ou masoquistas são encontradas regularmente em
quase todas as pessoas.
Os pacientes que buscam a psicoterapia ou psicanálise com inibições
sexuais, com frequência fantasias altamente sádicas que os impedem de envolver-
se sexualmente com outras pessoas.
Na perspectiva da psicologia do self, a conduta masoquista é um franco
esforço de restauração de estar vivo ou de coesão do eu. Embora aparentemente
autodestrutivo, o masoquismo pode ser vivenciado pelo paciente como uma
representação do eu.
Stolorow e colaboradores (1988 ) relataram o tratamento de uma paciente de
19 anos de idade altamente perturbada, que pedia a todo momento ao terapeuta que
batesse nela. Em resposta às persistentes perguntas do terapeuta sobre a razão de
ela querer que ele batesse nela, ela escreveu: “A dor física é melhor que a morte
espiritual”. Na ausência de dor e abuso físico nas mãos de outros, esta paciente
sentia como se não estivesse ligada a mais ninguém. Estes autores observaram que
os pacientes masoquistas com frequência organizam toda a sua vida para preencher
as necessidades de seus pais. Como resultado, sua própria experiência afetiva
interna torna-se remota e inacessível por ter sido sacrificada a serviço dos pais.

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- Fetichismo

Para obter a excitação sexual, os fetichistas utilizam um objeto inanimado,


frequentemente uma peça de roupa íntima de mulher, ou um sapato, ou uma parte
não genital do corpo.

Freud explicou o fetichismo como tendo origem na ansiedade de castração.


O objeto escolhido como fetiche simbolicamente representa o “pênis feminino”, um
deslocamento que ajudou o fetichista a superar a ansiedade de castração.
Segundo a premissa de que a consciência masculina dos genitais femininos
aumentou o medo do homem de perder seus próprios genitais e ficar como uma
mulher, Freud pensou que esta simbolização inconsciente explicava a ocorrência
relativamente comum do fetichismo. Ele afirmou que na mente do fetichista co-
existem duas ideias: negação da castração e afirmação da castração.

- Pedofilia

Dentre todas as perversões, a pedofilia é a que tem maior probabilidade de


despertar sentimentos de aversão e desprezo naqueles que a tratam. Ao satisfazer
seus desejos sexuais, o pedófilo pode causar um dano irreparável a uma criança
inocente. Algumas conceitualizações ou formulações psicodinâmicas podem
possibilitar aos clínicos manter um grau de empatia e compreensão quando tentam
tratar estes pacientes.
De acordo com a visão de Freud, a pedofilia representa uma escolha
narcisista de objeto – ou seja, um pedófilo vê uma criança como uma imagem
espelhada de si mesmo como criança. São considerados também, impotentes e
fracos, que procuram as crianças como objetos sexuais pelo fato de estas
oferecerem menos resistência, ou criarem menos ansiedade que os parceiros
adultos, possibilitando assim aos pedófilos evitar a ansiedade de castração.

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Na prática clínica, vê-se que muitos pedófilos sofrem de patologia narcisista
de caráter, incluindo variantes psicopáticas. A atividade sexual com crianças pré-
púberes pode manter elevada a frágil autoestima do pedófilo. De forma semelhante,
muitos sujeitos com estas perversões escolhem profissões nas quais eles possam
interagir com crianças, pelo fato de as respostas idealizadas das crianças ajudá-los
a manter sua autoestima positiva.
Em contraposição, o pedófilo frequentemente idealiza estas crianças; assim
a atividade sexual com eles envolve a fantasia inconsciente de fusão com um objeto
ideal ou a restauração de um eu jovem, idealizado.
Quando a atividade pedófila ocorre em conjunto com um transtorno de
personalidade narcisista com traços antissociais, ou como parte de uma estrutura de
caráter psicopática, os determinantes inconscientes do comportamento podem estar
estreitamente relacionados à dinâmica do sadismo. A conquista sexual da criança é
a ferramenta da vingança. Os pedófilos comumente foram vítimas de abuso sexual
na infância, e uma sensação de triunfo e poder pode acompanhar sua transformação
de um trauma passivo em uma vitimização cometida ativamente.
O poder e a agressão são também preocupações relevantes para os
pedófilos cuja atividade sexual é limitada a relacionamentos incestuosos com seus
próprios filhos ou enteados. Existe uma sensação de controle e poder em relação
aos parceiros sexuais. Estes pais incestuosos abrigam uma extraordinária
hostilidade em relação às mulheres e com frequência pensam no pênis como uma
arma a ser utilizada em atos de vingança contra as mulheres. Alguns até admitiram
que sentimentos de intensa raiva produzem ereção.

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- Transvestismo

Nesta parafilia, o paciente masculino se veste como uma mulher para obter
excitação sexual que leva ao intercurso heterossexual ou à masturbação. O paciente
pode comportar-se de forma tradicionalmente masculina enquanto vestido de
homem, mas fica efeminado quando vestido de mulher.
A compreensão psicanalítica envolve a noção de mãe fálica. Imaginando
que esta mãe possui um pênis, mesmo que ele não seja claramente visível, o
menino supera sua ansiedade de castração. O ato de transvestir-se pode ser, então,
uma identificação com a mãe fálica.
O trabalho clínico com travestis revela que, quando eles se transvestem, na
maioria das vezes, vivenciam uma fusão com um objeto materno intrapsíquico. Isto
os reassegura de que eles não correm perigo de perder a presença materna
tranquilizadora dentro deles. Estes homens são sempre heterossexuais, mas sua
sexualidade é com frequência inibida.

5- Casos clínicos

CASO 1 - Um homem de 53 anos que não saía de casa em função da


agorafobia e que já havia se casado quatro vezes buscou ajuda por causa da perda
recente do controle em relação à sua necessidade habitual de fetichismo por pés e
fantasias de humilhação e dominação. Afirmou que seus impulsos masoquistas
dominavam todos os seus momentos conscientes. Ele recorda de sentir-se excitado
por pés femininos desde os quatro anos de idade. Quando sua mãe se sentava em
uma cadeira e colocava as solas em seu rosto, desenvolvia uma ereção. Na infância
passava boa parte do seu tempo orquestrando brincadeiras nas quais as babás ou
as vizinhas colocavam os pés em seu rosto. Adulto, diz que gosta de ser degradado
e humilhado por uma mulher que o deixe sem qualquer capacidade de tomar
decisões. Sente-se excitado pelo couro e pelo cheiro dos pés – particularmente ao
ser forçado a suportar odores repulsivos de pés. A insistência de sua nova esposa
para que buscasse ajuda surgiu depois que ele solicitou a ela dominação total

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dizendo: “Eu quero ser subjugado, não ter como escapar, e depois ser usado como
escravo para o sexo e para cozinhar e limpar a casa”. Ela ameaçou deixá-lo, levando
a filha de quatro anos de idade, e insistiu que procurasse ajuda profissional. Quando
sua primeira esposa se recusou a ter tal comportamento, ele teve um caso com uma
mulher que o chicoteava. A segunda esposa “gostava de brincar de senhora e
escravo”, até ele se tornar tão obcecado que ela se sentiu desconfortável. Seu
terceiro casamento, aos 50 anos de idade, foi uma ladra muito agressiva que o
dominava sexualmente, mas que não se importava com ele fora do quarto de dormir.
Para ter relações sexuais durante a última década, ele tinha de fantasiar situações
de dominação. Masturbava-se pelo menos uma vez por dia desde os 17 anos de
idade e continua a tentar regular suas frequentes tensões sexuais 3 a 4 vezes por
dia via masturbação ou relação sexual com a esposa.

Caso 2 - Um homem de 67 anos de idade, com doutorado, cuja aspiração


por sucesso como empreendedor permaneceu inalterada a despeito de uma vida
inteira de fracassos, tocou os genitais da sua neta de nove anos sob o pretexto de
ensinar o que outras pessoas jamais deveriam fazer com ela. A criança, visivelmente
perturbada, contou o ocorrido à mãe, que logo convocou uma reunião familiar para
expor um segredo que havia mantido até então: quando tinha entre 13 e 16 anos de
idade, tivera intimidades sexuais com o pai, o qual havia lhe dito que não seria bom
que sua mãe deprimida ficasse sabendo. A filha mais jovem também tinha sido
abordada quando estava na puberdade, mas havia repelido o pai com veemência. O
homem disse que ele e sua amada neta estavam em um momento de ternura
habitual quando, “por nenhum motivo especial”, ele começou a educá-la. Ele não
tinha se interessado eroticamente por ela; estava apenas em seu estado habitual de
frustração sexual e financeira. Embora potente, não tinha interesse no sexo com sua
esposa distímica, que não era capaz de trabalhar e se queixava constantemente dos
fracassos vocacionais do marido e de sérios problemas financeiros.

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Caso 3 - Uma mulher de 38 anos, magra e bem-vestida, mãe de três filhos,
com uma incapacidade ao longo da vida toda de obter orgasmo com um parceiro
buscou ajuda em virtude do transtorno distímico com ideação suicida recorrente,
abuso de sedativos e aversão a experiências sexuais com seu marido a que ela
muito valorizava. Ela tinha se masturbado quase todos os dias de sua vida
pensando em ser queimada, penetrada dolorosamente com instrumentos cirúrgicos.
A fantasia com instrumentos médicos começou aos 19 anos de idade, quando
trabalhava no consultório de um urologista. Ela considerava suas fantasias
“doentias, incontroláveis, mas necessárias para aliviar as tensões”. Havia sido uma
criança extremamente tímida, com fobias sociais e da escola até a vida adulta, mas
não recordava qualquer procedimento médico na infância, experiência de
queimadura ou abuso físico ou sexual que pudesse explicar por que sua vida erótica
havia sido dominada pelo masoquismo. Ela era muito próxima de sua mãe obesa,
raramente via o pai trabalhador e idealizado, e relutava em discutir a possibilidade
de que tivesse experimentado qualquer dor e sofrimento em seu lar.

Caso 4 - Um médico controlador e narcisista, criado desde os 12 anos de


idade, somente pela mãe viúva tinha prazer com a carga erótica do espancamento
desde os seis anos de idade. Socialmente inibido durante a adolescência e os 20
anos, casou-se com a primeira mulher que namorou e aos poucos revelou a ela seu
padrão secreto de excitação ao imaginar-se espancado mulheres. Embora
horrorizada, a esposa concordava em satisfazê-lo em certas situações como um
complemento ao seu comportamento sexual comum. Ele só ejaculava quando
imaginava o espancamento. Após o sexto episódio de depressão ansiosa da esposa
em 20 anos de casamento, seu psicólogo a instruiu a recusar-se a satisfazer as
fantasias do marido. Ele caiu em desespero, foi diagnosticado com transtorno
depressivo maior e escreveu uma longa carta para a esposa explicando por que
tinha o direito de espancá-la. Ele afirmava que não tinha ideia de que a participação
dela naquela humilhação pudesse afetar sua saúde mental – “Ela negava a ter
orgasmos algumas vezes depois que a espancava!”. Ele tentou suicídio como
solução para o dilema de escolher entre a felicidade dele ou dela, e tornar-se

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consciente de que o que estava pedindo era abusivo. Ficou chocado ao descobrir
que a esposa já tinha considerado o suicídio como uma solução para sua armadilha
conjugal de amar um homem que de outra forma era um marido afetuoso e bom pai,
mas que tinha uma necessidade sexual doentia e inexplicada.

FIM DO MÓDULO III

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