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Sexualidade Humana
MÓDULO IV
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mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos nas Referências Bibliográficas.
MÓDULO IV
- A Fase Oral
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A partir da atividade de chupar, Freud pode mostrar como a pulsão sexual,
que a princípio se satisfaz por apoio a uma função vital (o ato de mamar), adquire
autonomia e se satisfaz de forma autoerótica.
Podemos exemplificar, discutindo o fenômeno autoerótico de chupar o
polegar, que já é evidente no recém-nascido e pode considerar-se como um reflexo
inato. Este reflexo, embora esteja ligado à função da nutrição, dela é independente.
O chupar do polegar mostra que o prazer que se obtém do seio ou da mamadeira
não se baseia só na gratificação da fome, mas também na estimulação da mucosa
oral erógena; se não fosse assim, a criança retiraria, desapontada, o polegar, visto
que este não produz leite. Assim, a excitação sexual apoiou-se, originalmente, na
necessidade de alimento.
Os muitos fenômenos, nos quais se encontra no adulto o erotismo oral são:
o beijo, práticas perversas, os hábitos de beber e fumar e muitos outros costumes
alimentares. Não podemos, contudo, salientar, que na bebida e no fumo, não há,
apenas, erotismo oral, porque o álcool e a nicotina são também toxinas que, por via
química, produzem alterações desejadas no balanço dos conflitos psíquicos:
alterações que diminuem as inibições, aumentam a autoestima e eliminam a
ansiedade.
O objetivo do erotismo oral é, primeiramente, a estimulação autoerótica
prazerosa da zona erógena; a seguir a incorporação de objetos. O aparecimento de
uma gula particularmente intensa, quer seja manifesta, quer se mostre uma vez
reprimida, sob a forma de derivados, é de relacionar-se sempre com o erotismo oral.
- A Fase Sádico-anal
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O objetivo primário do erotismo anal são as sensações prazerosas
produzidas pela defecação. Mais adiante, a experiência vem ensinar que a
estimulação da mucosa do reto pode aumentar com a retenção da massa fecal; as
tendências à retenção anal exemplificam bem as combinações de prazer erógeno e
segurança contra a ansiedade. O medo da excreção originalmente prazerosa leva à
retenção e à descoberta do prazer que esta última produz. A possibilidade de
realizar estimulação intensa pela mucosa (além da sensação mais intensa pelo
aumento da tensão pela retenção) é responsável pelo prazer tensional, que é maior
no erotismo anal do que em qualquer outro. Aqueles que, nas suas satisfações,
procuram prolongar o pré-prazer e estender o prazer final são sempre, latentemente,
eróticos-anais.
A origem e o caráter da conexão que existe entre impulsos anais e sádicos,
em parte, devem-se às influências frustradoras e, em parte, ao caráter dos objetivos
de incorporação. Somam-se a isso, dois fatores: em primeiro lugar, o fato de a
eliminação ser, objetivamente, tão destrutiva quanto a incorporação; o objeto do
primeiro ato sádico-anal são as próprias fezes, cuja expulsão se percebe como uma
espécie de ato sádico; posteriormente, as pessoas são tratadas como já o foram as
fezes; em segundo lugar, o fator de “poder social” que está ligado ao controle dos
esfíncteres; exercitado no asseio, a criança encontra oportunidade efetiva para
exprimir oposição contra os adultos.
Razões fisiológicas existem para a conexão de erotismo anal, de um lado, e,
do outro lado, ambivalência e bissexualidade. O erotismo anal faz com que a criança
trate um objeto, as fezes, de maneira contraditória; expele a matéria para fora do
corpo e a retém como se fosse um objeto amado; aí está a raiz fisiológica da
“ambivalência anal”. Por outro lado ainda, o reto como um órgão oco excretório que
é, pode expelir alguma coisa; assim também, o órgão oco pode ser estimulado por
um corpo estranho que o penetre. As tendências masculinas derivam da primeira
afirmação, enquanto as tendências femininas da segunda. Temos aí a raiz fisiológica
da conexão existente entre erotismo anal e bissexualidade.
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Os primeiros desejos anais são, na certa, autoeróticos. Tanto a eliminação
prazerosa quanto a retenção prazerosa podem ser obtidas sem objeto algum. O fato
de este prazer ser experimentado em um momento que a criança vive sentimentos
de onipotência traz um sentimento de poder, sobre sua evacuação. Vemos isto
posteriormente, expresso em muitos resíduos neuróticos e supersticiosos.
O prazer é obtido pela estimulação da mucosa retal, mas as fezes,
instrumento pelo qual se obtém este prazer, também se tornam objeto libidinal,
representando uma coisa que, primeiramente, é do corpo do sujeito, mas que se
transforma em objeto externo, o modelo de algo que se pode perder.
Há certos prazeres anais que, pela primeira vez, se percebem nas
sensações que acompanham os cuidados maternos, quando se mudam as fraldas;
este cuidado e, posteriormente, conflitos suscitados pela aprendizagem higiênica da
criança, pouco a pouco transformam os desejos anais autoeróticos em desejos de
objetos, os quais, depois, serão tratados tal quais as fezes. Podem ser tanto retidas
ou introjetadas (existem diversos tipos de incorporação anal) quanto eliminadas e
expulsas.
Outras zonas erógenas e impulsos parciais que não são tão valorizados na
teoria analítica, muitas vezes, desempenham papel tão decisivo na gênese das
neuroses e na formação do caráter quanto o erotismo oral e anal.
- Erotismo Uretral
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É comum as crianças molharem ativamente as calças ou a cama por prazer
autoerótico. Mais adiante, pode desenvolver-se a enurese como sintoma neurótico
involuntário, cuja natureza é o equivalente inconsciente da masturbação.
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Assim como existe um impulso sexual para tocar e olhar, assim também há
impulsos da mesma ordem no sentido de ouvir, saborear e cheirar. Os fenômenos
de sexualidade gustativa coincidem quase sempre com o erotismo oral, enquanto os
fenômenos de sexualidade olfativa coincidem com o erotismo anal.
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Nesta fase, o menino identifica-se com seu pênis, valoriza o órgão em
demasia o que se explica pelo fato de que é mesmo neste período que ele se
enriquece tanto em sensações, e aparecem em primeiro plano, tendências a
penetrar ativamente com ele.
O medo de alguma coisa acontecer a este órgão é chamado de angústia de
castração. Medo que tem um papel significativo no desenvolvimento total do menino,
justificado pela grande valorização narcísica do pênis neste período.
Vê-se, que o ambiente das crianças lhes reforçam as ideias fantásticas de
punição. Muitos adultos ameaçam o menino de “cortar-lhe isto” quando o
surpreendem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros
castigos que sugerem, a sério ou brincando, e a criança interpreta-os como ameaças
de castração.
Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não contêm qualquer
ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo menino que tenha a
consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existam realmente criaturas
sem pênis: a observação dos genitais femininos. Há vezes em que uma observação
como esta traz um caráter sério a uma ameaça anterior a que não se dera maior
atenção. Em outros casos, a realização da fase fálica basta, só ela, para ativar
ameaças passadas que não haviam causado impressão intensa durante os períodos
pré-genitais.
O fato de os adultos ameaçarem ou brincarem de castração com tanta
facilidade e animação, constitui, certamente, a expressão dos seus próprios
complexos de castração. Amedrontar os outros é um meio ótimo para acalmar os
próprios temores, do que resulta que os complexos de castração vão passando de
geração em geração. Não sabemos de que forma eles se formaram originalmente,
mas é certo que o respectivo desenvolvimento tem história muito remota.
Corresponde a intensidade da angústia de castração à valorização intensa
do órgão genital na fase fálica. Valorização esta, que faz o menino decidir (quando
enfrenta a questão: ou renuncio às minhas funções genitais, ou arrisco o meu pênis)
em benefício da desistência da função. Um adulto perguntará: “para que serve um
órgão, quando me proíbem de usá-lo?”
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No período fálico, contudo, os fatores narcísicos contrabalançam com os
sexuais, de modo que a posse do pênis vem a ser o objetivo principal.
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O fato de a menina pensar: “Fui punida”; enquanto o menino tem medo:
“posso ser punido”, é responsável pela diferença considerável que se vê no
desenvolvimento posterior do sujeito.
Complicam-se, porém, as coisas nas meninas mais crescidas e nas
mulheres adultas. O que se considera como masculino e como feminino varia muito
de uma cultura para outra e estes padrões culturais, com os conflitos que se
desenvolvem em torno deles, complicam as “consequências psicológicas da
diferença anatômica”. Neste particular, lembra-nos Fromm (ANO), quando nos diz
que certas diferenças biológicas resultam em diferenças caracterológicas; fundem-se
com as que são produzidas por fatores sociais; e estes são muito mais fortes no
efeito respectivo, podendo tanto aumentar ou eliminar, quanto inverter
biologicamente, diferenças arraigadas.
A significação do período fálico para o sexo feminino associa-se ao fato dos
genitais femininos terem duas zonas erógenas principais: o clitóris e a vagina.
Durante o período genital infantil, o clitóris ocupa o primeiro plano; no período adulto
é a vagina. A transferência do clitóris como zona principal para a vagina é uma etapa
que ocorre de modo definido na puberdade ou só depois desta, quando sua fixação
materna preponderante se volta para o pai.
Surgem riscos para a ocorrência de transtornos do desenvolvimento. Isto
quando, ou uma fixação forte na sexualidade clitoriana, ou uma repulsa temerosa da
sexualidade vaginal, impedem o estabelecimento da primazia genital.
- O complexo de Édipo
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O complexo de Édipo traduz-se pela combinação de amor genital pelo pai do
sexo oposto e desejos ciumentos de morte contra o pai do mesmo sexo. Estes
sentimentos significam várias coisas, cuja forma especial depende, por sua vez, da
constituição e da experiência de cada sujeito.
A experiência é que configura a forma especial do complexo de Édipo. Mas
que dizer do próprio complexo de Édipo? É fato biológico, inerente à espécie
humana, ou é produto da instituição social da família, sujeito às mesmas alterações
que esta?
Digamos, para começar, que a diferença entre biologicamente determinado
e socialmente determinado, é relativa. Não foi um complexo de Édipo místico, inato,
que criou a família como lugar onde pudesse ser satisfeito: foi a família que criou o
complexo de Édipo. Em segundo lugar, depende da resposta que se dê à definição
do complexo de Édipo. O bebê humano, necessitado de cuidados e amor, é
biologicamente mais fraco do que outros filhos de mamíferos; daí por que sempre há
de exigir amor dos adultos que o criam e o protegem, que vivem à sua volta; e
sempre há de desenvolver ódio e inveja das pessoas que lhe tiram este amor. Se é
isto que se chama complexo de Édipo tem fundamento biológico.
Por outro lado, no sentido empregado por Freud, de combinação de amor
genital pelo pai do sexo oposto e desejos ciumentos de morte contra o pai do
mesmo sexo, o complexo de Édipo sugere uma combinação altamente integrada de
atitudes emocionais que constitui o clímax do longo desenvolvimento da sexualidade
infantil. Neste sentido, é, fora de dúvida, produto da influência familiar. Se a
instituição familiar tivesse de alterar-se, necessariamente se alteraria também o
padrão do complexo de Édipo. Tem-se mostrado que as sociedades em que as
configurações familiares são diferentes da nossa têm, realmente, complexos de
Édipo diferentes.
O problema do complexo de Édipo reduz-se assim, ao problema da origem
da família, capítulo interessante e ainda sem solução. Toda criança no auge do
complexo de Édipo deve experimentar decepções e ofensas narcísicas: o
competidor é um adulto, o que lhe dá vantagens e privilégios. Reage-se a essas
ofensas narcísicas de maneiras muito diversas, conforme a criança, dependendo da
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constituição, das formas concretas em que as ofensas são experimentadas e de
todas as experiências anteriores.
Toda criança deseja intensamente ser adulta e “brincar de adulto”. Mas ser
criança também tem vantagens. Sempre que teme as suas próprias emoções e a
implacabilidade dos seus impulsos eróticos e agressivos, a criança é capaz de
refugiar-se na atitude: “Nada disso é sério demais porque ainda sou uma criança” e
também no desejo de receber ajuda externa.
Tanto o desejo de ser adulto, quanto o sentimento de que se é protegido
enquanto ainda é criança geram fixações e, mais tarde, vem a fazer com que muitos
sujeitos se portem e se sintam como se ainda fossem crianças na fase fálica.
Seria errado imaginar não haver na infância outros objetos de amor que não
fosse o pai do sexo oposto. Também irmãos, tios, tias, avós, amigos e conhecidos
dos pais, têm, às vezes, influência decisiva. Há muitas crianças que experimentam
love affairs (casos de amor) de algum tipo com outras crianças do mesmo sexo, ou
do sexo oposto, ou com adultos; e talvez ocorresse maior número destes casos
entre crianças, se a educação não visasse à respectiva proibição.
No que diz respeito ao mecanismo da escolha de objeto, Freud distinguiu o
tipo anaclítico e o tipo narcisista. No tipo anaclítico de escolha, escolhe-se um objeto
passado, em geral o pai do sexo oposto, às vezes, o pai do mesmo sexo, irmãos, ou
outras pessoas do ambiente em que a criança vive. No tipo narcisista de escolha,
escolhe-se um objeto porque representa certas características da própria
personalidade do sujeito.
Tanto um tipo quanto o outro, são capazes de operar:
a) De maneira positiva: o objeto escolhido assemelha-se ao objeto passado
ou ao próprio ego do sujeito.
b) De maneira negativa: o objeto escolhido é o oposto do objeto passado
ou do ego do próprio sujeito.
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c) A maneira ideal: o objeto escolhido representa aquilo que, noutro tempo,
o sujeito desejou que o objeto passado ou seu próprio ego fossem.
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Não há dúvida de que esta diferença fisiológica contribui para os papéis
prevalentes do medo de castração ou do medo da perda do amor no homem e na
mulher, respectivamente. Esta contribuição é, quando muito, uma contribuição
secundária tardia. A preponderância relativa dos temores respectivos estabelece-se
na infância, muito antes das primeiras experiências do contato sexual.
A mudança do objeto é um dos fatores que complicam o desenvolvimento
das mulheres em comparação com os homens.
O segundo fator é a dupla índole da sexualidade genital feminina. É certo
que a sexualidade prostática dos homens desempenha papel menos significativo do
que a sexualidade clitoriana. Não esquecer, no entanto, que não só estas diferenças
fisiológicas são preponderantes: existem também (o que é mais importante)
diferenças culturais e sociais na educação dos sexos.
1- A sexualidade do adolescente
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representa o pai e a chefe representa a mãe. Nessa casa, verdadeiro
estabelecimento noturno, os encontros geralmente ocorrem à noite, sendo que os
meninos chegam um a um, trazendo suas esteiras de deitar, e em seguida chegam
as meninas, todas juntas. Após as atividades preliminares (penteado, massagem),
todo mundo se prepara para ir para a cama. De manhã as meninas devem sair do
Ghotul antes do alvorecer. De fato, uma menina não pode permitir que seus pais a
vejam nem quando ela sai de casa para ir para o Ghothul, nem quando volta. O
sistema do Ghotul obriga as jovens a mudar de parceiro a cada dois ou três dias. Em
troca, se futuros esposos vivem na mesma Ghotul, eles não devem se aproximar um
do outro. Há também todo um círculo de parentesco proibido. Sem dúvida,
poderíamos citar outros exemplos, em outras culturas, descritos de forma notável
por Mead ou Malinoviski. A ligação existente entre a organização social e a
sexualidade dos adolescentes está mais do que provada.
Para ficar apenas na civilização ocidental, as mudanças constatadas no
nível dos comportamentos sexuais dos adolescentes não podem ser isoladas das
modificações sociais globais relacionadas a essa faixa etária ao longo dos últimos 30
anos.
Contudo, encontra-se uma constante quaisquer que sejam as épocas ou as
sociedades. Alguns estudiosos sugerem que de fato a moralidade convencional, isto
é, as regras sociais, podem proteger o casal e sua intimidade contra a agressão do
grupo ampliado do qual ela faz parte, mas ao preço de uma sexualidade
“autorizada”. Esta hipótese repousa na ideia de que a reação do grupo em face do
casal é fundamentalmente ambivalente: a idealização e a esperança que o casal
evoca no grupo do qual faz parte são contrabalançadas pela inveja, o ressentimento
e o desejo do grupo de destruir essa união. Isto explica porque os sujeitos ou os
casais reagem sempre por um distanciamento em face da “ideologia oficial”.
Essa observação é importante para os adolescentes, que têm como uma de
suas tarefas a capacidade de estabelecer pouco a pouco uma sexualidade pessoal
satisfatória e realizá-la na intimidade de um casal. Assim, convém examinar nos
adolescentes sua capacidade de se realizar em uma vida de casal com uma certa
independência em face do grupo social a sua volta. Este último pode ser o grupo
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social dos adultos e dos pais, mas também o grupo social dos iguais, isto é, de
outros adolescentes. Não é raro, por exemplo, ver adolescentes cujos
comportamentos fazem crer em uma grande liberação sexual, mas que na verdade
mascaram uma séria inibição e que refletem um fracasso na diferenciação do casal
ou do sujeito em face dos valores ideológicos convencionais do grupo de iguais.
Para esse autor, é preciso deixar claro: “As formas de atividades sexuais
que necessitam ser consideradas como anormais em termos de desenvolvimento
psicológico [...] são aquelas que excluem a heterossexualidade como a atividade
sexual primária entre dois sujeitos” (autor, ano, pág.).
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Assim, a homossexualidade, o fetichismo, o travestismo e as parafilias
pertencem a essa categoria. Entretanto, essas condutas só podem ser consideradas
como patológicas à medida que são um indício de que o adolescente não integrou
uma imagem do corpo fisicamente madura ou não estabeleceu uma identidade
sexual pessoal.
Antes disso, estas condutas podem parecer como o indício de um esforço do
Ego para estabelecer uma identidade sexual. De acordo com este autor, é desejável
informar o adolescente antes de qualquer tratamento da própria concepção do
terapeuta acerca da normalidade de tal conduta sexual.
Podemos distinguir três categorias de dificuldades no âmbito da sexualidade
do adolescente:
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As dificuldades da realização sexual
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Finalmente, abordaremos os diferentes transtornos menstruais da
adolescência: amenorreia primária ou secundária, dismenorreia, metrorragia ou
menorragia. Eles requerem um balanço orgânico, mas em geral traduzem uma
aceitação difícil pela adolescente de sua feminilidade. Nesses problemas cotidianos
da medicina, costuma-se desprezar um apoio psicológico.
A masturbação
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A ligação entre o ato masturbatório e a fantasia interessa particularmente ao
clínico: para os psicanalistas, o adolescente que se masturba introjeta uma imagem
da cena primitiva na qual, por seu ato, ele pode ser pai e mãe ao mesmo tempo. O
“processo masturbatório” realiza então, por excelência, a ilusão bissexual da vida
erótica, o ideal hermafrodita. Assim, ao se masturbar, o adolescente controla
magicamente seus pais e nega o perigo da castração.
O ato e a fantasia associada a ele são, portanto, o lugar de um desejo
profundamente proibido, e criam sentimentos de culpabilidade, de vergonha e de
ansiedade.
Se o ato masturbatório é facilmente admissível e confessável, o mesmo não
ocorre com a fantasia que o acompanha. O conteúdo das fantasias masturbatórias,
para alguns, atravessa duas etapas.
No início da adolescência, as fantasias masturbatórias são mais de natureza
regressiva; encontram-se aí as fases eróticas do início da vida, orais, anais, sádicas,
narcísicas, homossexuais e heterossexuais; posteriormente, elas se tornam mais
heterossexuais e centram-se em um parceiro preciso.
A masturbação é vivida pelo Ego, então, como uma preparação para
assumir o papel de parceiro sexual, o que lhe dá um valor positivo. No momento da
resolução do complexo de Édipo e da interiorização do Superego, podemos
descrevê-la como uma fantasia masturbatória central. Ela não depende da existência
ou não de uma conduta masturbatória atuada na infância. É universal. Durante o
período de latência, o conteúdo dessa fantasia permanece inconsciente. Na
adolescência, ele adquire um novo sentido em razão da masturbação fisiológica dos
órgãos genitais e impõe novas exigências ao Ego.
Na adolescência, o processo masturbatório, que associa masturbação e
fantasia, torna possível a integração e depois a evolução de fantasias perversas da
infância: ela ajuda o Ego a se organizar em torno da supremacia da genitalidade e
do prazer terminal.
Para alguns, isso é particularmente verdade no menino. Na adolescente,
parece que o ato masturbatório é menos frequente, e que o processo masturbatório,
tal como acabamos de descrever, afetaria mais a totalidade do seu corpo.
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No caso em que o ato masturbatório é ausente ou reprimido, a fantasia não
tem mais saída corporal, e, nessas condições, a libido e a energia que seriam
descarregadas no ato podem se infiltrar em atividades do Ego e alterar seu
desenvolvimento.
Vale lembrar, a esse respeito, o artigo de M. Klein, de 1927, intitulado
“Contribuição a psicogênese dos tiques”: o autor mostra como uma supressão
radical da masturbação engendrou em um pré-adolescente, além de uma grande
inibição relacionada aos interesses intelectuais e às relações sociais, o surgimento
de um tique importante e preocupante.
Em consonância com Ferenczi, ela afirma que “o tique é o equivalente da
masturbação” e, mais do que isso, das fantasias masturbatórias ligadas a ela. Assim,
a análise dessas fantasias masturbatórias foi a chave da compreensão do tique, e,
depois, de seu desaparecimento. Tal análise permitiu a esse pré-adolescente
superar seu medo, tocar seus órgãos genitais e assim vencer seu temor diante da
masturbação.
No momento da adolescência, pode-se considerar que a ausência total de
masturbação ou seu aparecimento muito tardio traduz, mais do que as condutas
masturbatórias muito frequentes, um estado patológico. Contudo, as ligações entre
certos aspectos psicopatológicos e o retardo ou a ausência de masturbação são
complexas.
No tratamento de adolescentes que apresentam um “desmoronamento
psíquico” ou uma perturbação mental grave, a masturbação é sentida como algo
profundamente angustiante ou mesmo em discordância com eles. Toda sensação
pelo corpo e no corpo é experimentada como uma verdadeira ruptura e como uma
ameaça para seu próprio Ego: a ejaculação noturna, as relações sexuais e a
masturbação representam para esses adolescentes uma perpétua demanda pelo
corpo de sentir algo que eles justamente tentam negar.
No nível da fantasia masturbatória, surge uma confusão a propósito do papel
respectivo do homem e da mulher no ato sexual, não há mais ilusão bissexual, mas
uma confusão de identidade.
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A homossexualidade
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• Temor e/ou pensamento homossexual: às vezes, o clínico é interpelado
pelo adolescente que julga ser homossexual porque se sente “atraído” pelos de seu
sexo. Essas fantasias tão frequentes geralmente se integram a uma relação de
amizade intensa, ou uma atração no grupo de colegas do mesmo sexo. Elas
testemunham a intensidade da ligação edipiana invertida e da necessidade de se
desligar dela apoiando-se no amigo ou no grupo.
Às vezes, são os pais que levam seus adolescentes à consulta, com o temor
de que este seja homossexual, por atitudes e interesses que consideram ambíguos.
Essa situação costuma ser preocupante, pois, diante dessas recriminações dos pais,
o adolescente corre o risco de entrar em um processo de identificação negativa
(identificar-se com os aspectos temidos pelos pais para tentar se livrar de uma
ligação edipiana invasiva), cortina de fumaça de uma patologia subjacente em geral
importante.
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• As relações homossexuais propriamente ditas representam uma situação
clínica muito menos frequente.
Frente a uma conduta homossexual na adolescência, é preciso esclarecer
algumas coisas:
a) Se a atividade homossexual existiu antes da adolescência, o que em
geral testemunha que as distorções na imagem corporal preexistiam
antes da puberdade.
b) Se as passagens ao ato sexual homossexuais ocorreram pouco depois
da transformação da puberdade e se duraram toda a adolescência,
situação em que a elaboração psicodinâmica da adolescência corre o
sério risco de ter sido seriamente entravada.
c) Se a atividade homossexual implica uma penetração (anal, oral) ou
apenas uma masturbação recíproca, o que em geral testemunha apego
à fantasia da completude da primeira infância.
d) Se o parceiro sexual é único e carregado de uma significação sexual
afetiva particular (o que ainda pode se integrar a uma relação de apoio
identitário ou de submissão a uma ligação edipiana particularmente
intensa) ou, ao contrário, se há vários parceiros sexuais sem
envolvimento afetivo, o que pode representar necessidade de ataque ao
próprio corpo ou do objeto.
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Significações psicológicas e psicopatológicas
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Portanto, o objeto passa representar o Eu real e o ideal do Eu. As
manifestações homossexuais são então fenômenos de ordem narcísica. Elas [as
manifestações homossexuais] são mais significativas da profundidade da regressão
do que do papel sexual posterior do sujeito. Assim, para Anna Freud, a distinção
entre a homossexualidade latente e a homossexualidade manifesta aplica-se à
sexualidade adulta, e não pode servir para explicar a masturbação mútua e outros
jogos sexuais entre adolescentes.
Finalmente, ao se inscrever a significação da conduta homossexual no
processo integral da adolescência, não se pode deixar de assinalar a importância do
grupo de identificação de iguais, que tem como função a integração da libido
homossexual e a resolução de problemas colocados pela identificação com o genitor
do sexo oposto.
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Se o travestismo pode se manter por muito tempo como uma prática
limitada, em certos casos, o adolescente ou o jovem adulto entra em uma relação de
tipo homossexual.
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A puberdade, com o aparecimento de seios e de menstruação nas meninas
e das ereções nos meninos, pode ser vista como catastrófica. São muito comuns
nessa época as crises de depressão e os gestos suicidas. Aspectos perversos,
neuróticos ou psicóticos podem prevalecer, segundo os sujeitos, mas, de todo modo,
trata-se de um transtorno profundo da autoimagem que o adolescente vem reavivar.
Entretanto, nem todos os adolescentes transexuais consideram a puberdade
intolerável; alguns se resignam às mudanças corporais, tentam por muito tempo
tornar compatível a personalidade com o corpo, e se comportam de acordo com o
que o entorno espera deles, mas nunca conseguem suprimir seus sentimentos.
A compreensão psicanalítica do transexualismo está mais estabelecida para
o transexualismo masculino do que para o transexualismo feminino. Para o primeiro,
a inibição ou aniquilação de toda angústia de castração até a castração real
encontraria sua origem na simbiose original e excessiva com a mãe e a carência
paterna.
Em certos casos, a demanda ou, pelo menos, o tema transexual (declaração
do sujeito que diz ter um corpo do sexo atribuído no nascimento, mas uma “alma do
outro sexo”) aparece relativamente cedo na infância. Numerosos autores se
indagaram sobre a infância dos transexuais. A criança teria sido vítima de uma
intensa angústia de abandono materno que tenta superar com uma fantasia de fusão
com ela.
Para alguns autores, haveria no passado desses pacientes uma infância
feita de excesso de mãe e escassez de pai; o menino teria vivido com sua mãe uma
simbiose extremamente perfeita e extremamente feliz. O pai, seja por sua ausência
ou por sua insignificância, não procurou interromper em nenhum momento. Essa
simbiose estreita estaria na origem de uma “identidade de gênero” perturbada,
marcada por uma feminilidade precoce e acentuada no menino.
Nem todos os autores encontram esses dados. Para outros clínicos, a
criança se conforma àquilo que ela imagina que é preciso ser para que a amem. É
em torno de uma necessidade-desejo que se constitui uma identidade primária.
Porém, todos os autores enfatizam uma qualidade particular da relação mãe-filho,
mas isso parece mais evidente nos meninos.
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Embora a maioria das demandas cirúrgicas e/ou endocrinológicas dos
transexuais ocorram na idade adulta, a adolescência parece ser um período
privilegiado para uma abordagem psicopatológica desse problema, antes que ele se
cristalize em sua personalidade adulta.
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Os problemas psicopatológicos são então variáveis: ora o sujeito aceita bem
essa situação e o tratamento que é necessário, ora se instala um estado depressivo,
surgem gestos suicidas, ora a condição de ambiguidade se estabelece na própria
personalidade: nesse caso, o sujeito se organiza segundo uma “identidade
hermafrodita” com a capacidade de intercambiar o parceiro sexual.
Ao contrário do que ocorre na homossexualidade, os transtornos não se
referem ao objeto sexual, mas à identidade sexual.
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Atitude dos pais
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- A contracepção: aparentemente, os pais aceitam com muito mais facilidade
a contracepção para sua filha e, inclusive, se antecipam à solicitação desta.
- As ligações incestuosas que existiam entre seu filho e ele são reavivadas
e, sobretudo, surgem brutalmente à consciência. Enquanto perdura a imaturidade
fisiológica do filho, os desejos incestuosos, inconscientes, podem ser facilmente
ocultados: jogos de carícias e afagos diversos são possíveis e não angustiantes, na
medida em que um dos parceiros, por sua fisiologia, ainda é imaturo. Na
adolescência é bem diferente.
- A sexualidade dos adolescentes faz reviver em um ou nos dois genitores
seus próprios traumatismos. Uma mãe particularmente submissa à própria mãe
durante sua adolescência pode, por exemplo, reviver cruelmente o conflito com sua
filha e não suportar a sexualidade desta. De resto, isso pode resultar tanto em um
liberalismo excessivo quanto em uma rigidez abusiva por parte dos pais.
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- A sexualidade nascente dos adolescentes é inconscientemente percebida
pelos pais como o fim da sua. Se os adolescentes devem realizar um trabalho de
luto pela infância perdida, os pais devem igualmente produzir um luto, em relação a
sua vida sexual.
2- Sexualidade na velhice
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A concepção pioneira de Freud (1905/1969) afirmando o prazer como
objetivo da sexualidade humana desvinculou-a da reprodução. A tese de Freud veio
a ser confirmada com a recente emergência do conceito de saúde sexual e com a
sua dissociação progressiva do conceito de reprodução, o que coloca em evidência
a autonomia da vida sexual e sua importância para a realização e o bem-estar dos
indivíduos durante toda a vida.
Mas esta liberdade ideológica só pôde tornar-se realidade com a conquista
tecnológica dos hormônios sintéticos. Tornou-se possível tanto a contracepção,
quanto a terapia de reposição hormonal, que facilita manter a função sexual
prazerosa após a menopausa. Mais recentemente, o sildenafil e o tadalafil vieram
proteger os homens das perturbações da ereção cujo potencial patológico se revela
provavelmente muito mais no nível psicológico que fisiológico. Assim, os progressos
da medicina minimizam as barreiras biológicas que dificultavam a manutenção da
atividade sexual na segunda metade da vida.
Espera-se que junto com a dilatação da esperança de vida e do progresso
científico e técnico que o homem tem sido capaz de pôr em marcha, haja uma
evolução social e cultural e uma mudança das mentalidades capaz de integrar a
sexualidade das pessoas idosas harmoniosamente em tais avanços.
Para compreender a problemática da sexualidade nos adultos maduros e
idosos (após os 50 anos de idade), é preciso levar em conta os fatores básicos que
afetam o comportamento e a resposta sexual em qualquer idade:
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b) Preconceitos sociais. Do ponto de vista do ciclo vital, o envelhecimento
é um processo bio-psico-social, ou seja: caracterizado por mudanças fisiológicas,
psicológicas e nos papéis sociais. Independentemente da especificidade e da
heterogeneidade do envelhecimento individual, a psicogerontologia tem assinalado
que a experiência subjetiva do envelhecimento é amplamente influenciada pela
ideologia cultural.
A vivência subjetiva é marcada pela inevitabilidade das modificações
corporais e das competências físicas, pelas modificações em nível dos recursos
cognitivos e adaptativos, pelas alterações de papéis e da posição nas hierarquias
sociais, assim como pelo impacto negativo de atitudes e estereótipos relativos ao
envelhecimento. A crença na progressiva e generalizada incompetência, assim como
na impotência sexual dos idosos faz parte intrínseca destes estereótipos. Acuados
entre as múltiplas exigências adaptativas que as alterações do envelhecimento
comportam, os indivíduos enfrentam dificuldades para preservar a identidade
pessoal e a integridade de alguns papéis e funções, sobretudo àqueles relativos à
sexualidade que a sociedade atentamente vigia.
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d) Conhecimentos sobre a sexualidade. Muitos homens deixam de ter
relações e se tornam impotentes porque não compreendem as mudanças
fisiológicas ligadas ao processo do envelhecimento, interpretam-nas como sendo
sintomas de impotência. Com sua autoestima baixa, ficam receosos de não
conseguirem uma ereção e acabam evitando ter relações para não serem
confrontados com a frustração.
Em um estudo verificaram que a causa mais frequente de cessação das
relações sexuais é atribuída aos homens, tanto no depoimento dos próprios homens,
quanto no das mulheres, apesar de os homens declararem continuar interessados
em sexo com mais frequência do que as mulheres.
e) Status conjugal. A regularidade das relações sexuais está muito ligada à
oportunidade representada pela situação conjugal. De um ponto de vista
demográfico, a proporção de mulheres é predominante nesta população em razão
de uma esperança de vida nitidamente superior a dos homens. Esta diferença tende
a acentuar-se à medida que a idade avança. A primeira consequência deste dado
objetivo é a limitação das oportunidades de relações sexualizadas, particularmente
para as mulheres. Entretanto, a falta de um parceiro disponível pode explicar o
abandono de relações sexuais, mas não explica a renúncia a interesses a
comportamentos sexuais, fato que ocorre frequentemente mesmo entre pessoas
casadas e satisfeitas com a sua relação conjugal.
Se a condição de saúde pode ser uma das explicações possíveis para o
abandono da sexualidade ativa e explicar, indiretamente, um menor interesse pela
sexualidade em geral, outras explicações poderão ser encontradas no âmbito das
experiências de vida prévias e relativas, especificamente, à qualidade da relação
conjugal e sexual desenvolvida ao longo da vida. Por um lado, se inibições existiam,
elas tendem a cristalizar-se e, por outro lado, a degradação das relações afetivas,
em virtude dos conflitos e rancores não elaborados, pode afastar emocionalmente o
casal. Raiva e ressentimento acumulados ao longo dos anos destroem a atração
erótica.
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Como vemos, com o passar do tempo, estes cinco fatores básicos que
contextualizam a sexualidade humana passam a pesar ainda mais sobre o indivíduo
envelhecido, restringindo a amplitude das escolhas pessoais. O caminho da
renúncia é facilitado face à sua fragilidade psicofisiológica, contexto que representa
um sexto fator, específico a esta população.
Duas teorias complementares permitem compreender o processo subjetivo
que favorece esta renúncia à sexualidade. Por um lado, a teoria psicossociológica
dos scripts que explica a ligação direta entre os papéis culturais atribuídos aos
indivíduos segundo seu status social (inclusive faixa etária), e os scripts
intrapsíquicos que permitem aos indivíduos reconhecer e reagir a circunstâncias
sexualmente excitantes dentro de um contexto socialmente significativo
positivamente valorizado. A cultura ocidental atribui um script sexual negativo ao
indivíduo envelhecido, script que ele se recusa a assumir.
Por outro lado, a teoria psicanalítica explica como a clivagem entre a ternura
e a sensualidade proposta por Freud (1912/1969) é reativada neste período tardio
da vida de maneira ainda mais insidiosa. Vovô e vovó são anjos da guarda com um
corpo diáfano, liberado de todo traço de sensualidade. Esta fábula deve ser
preservada a todo custo; se preciso for, sob o controle dos filhos que se tornam, por
sua vez, guardiões do recalcamento (ou da supressão). Ocorre, assim, uma inversão
dos papéis que ocupavam na adolescência. Os adultos maduros são compelidos a
ocultarem cuidadosamente todo e qualquer interesse sexual sob pena de serem
socialmente desconsiderados e afetivamente rejeitados pela própria família.
A complementaridade entre a teoria sociológica e a teoria psicanalítica
permite esclarecer a dupla natureza deste fenômeno no qual o processo
intrapsíquico de exclusão da sexualidade é fruto, ao mesmo tempo, da interiorização
dos ideais culturais e da situação de fragilidade psicofisiológica que leva a assumir a
clivagem imposta.
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A geração que ultrapassou os cinquenta anos, idade que marca o início das
alterações bio-psico-sociais, caracterizando o envelhecimento, confronta-se
atualmente com um conflito entre os estereótipos e os valores ligados à sexualidade
internalizados ao longo da vida e a oferta recente de recursos que permitem assumir
as inclinações pessoais realmente percebidas.
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Nesse contexto, o desenho de novas formas de sociabilidade se apresentam
constituindo uma mudança significativa no "modo de vida", em que o esboço de uma
nova experiência cotidiana se configura como pano de fundo para pensarmos a
questão da diferença entre os sexos.
Os principais fenômenos constitutivos dessa mudança são: a crise da forma
burguesa da família nuclear (monogâmica e heterossexual), a entrada da mulher no
mercado de trabalho, a separação da sexualidade da reprodução. Todos esses
fenômenos provocaram uma crise nas referências organizadoras da sociedade
moderna, principalmente a partir do abandono das fronteiras homem-público e
mulher-privado, configurando um novo território para pensar as sexualidades.
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Diante desse quadro, a base da família nuclear ruiu e sobre ela permanece o
que sempre foi mais frágil: as relações conjugais. Sobre esse assunto, existem
várias análises distintas. De um lado, existem aqueles que constatam uma crescente
“indiferenciação” entre os papéis masculinos e femininos. Conforme Elisabeth
Badinter (1986, pág.): "Há quinze anos, apaga-se pouco a pouco, na maioria das
sociedades ocidentais, a linha que separa os campos da maternidade e da
paternidade. Os homens começam a aprender diretamente o que significa ser pai, e
a fazer para os filhos o que as mulheres fizeram no decorrer dos tempos".
E, de outro, alguns autores argumentam que a grande modificação na
organização familiar é provocada pela crise da autoridade paterna e do casamento,
o que faz com que ocorra um estreitamento das relações consanguíneas entre mãe
e filho e certa “expulsão do masculino”.
Seja como for, o que nos interessa salientar é o significado da mudança do
papel da família nuclear na cultura contemporânea, principalmente no que se refere
à radicalização do paradoxo constitutivo das sociedades democráticas ocidentais
que, ao mesmo tempo em que valorizam a autonomia do indivíduo, se organizam a
partir de instituições hierárquicas.
Nesse contexto, a relação conjugal não se realiza mais a partir das normas
fundantes da família moderna. Desde a proclamação da “igualdade entre os sexos”,
o lugar do homem e da mulher na família está em questão.
Nestes últimos 30 anos, assistimos ao surgimento do "casamento-
conversação", o qual se constitui a partir de uma eterna construção e desconstrução
de laços, em que, mesmo que consideremos que o ponto de estabilidade seja a
relação mãe-filho, como mostram as pesquisas mais recentes, é certo que a família
nuclear não pode mais ser considerada uma base sólida para construção da
identidade.
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Nos anos 1960 e 1970 o trabalho feminino era considerado pelos homens e
pelas mulheres uma questão econômica, caracterizado como o 'segundo salário',
uma forma de a mulher 'ajudar' nas despesas do lar.
O que observamos hoje é uma mudança significativa da relação da mulher
com o seu trabalho. O trabalho feminino não é mais um agregado, mas sim parte de
uma exigência individual e de identidade das mulheres. Elas trabalham também
porque querem. Independentemente da vida familiar, o trabalho feminino se tornou
um valor. Não queremos dizer com isso que as mulheres não sejam mais as
principais responsáveis pela organização do lar, mas a necessidade de trabalhar
'fora' se caracteriza, também, como um desejo de autonomia, em que a identidade
feminina não exclui uma vida profissional de sucesso.
Assim, a clássica divisão sexual de trabalho, se não se modificou totalmente,
está no mínimo sob pressão. As mulheres incorporaram o significado de trabalhar
'fora' e construir uma carreira profissional como sendo um valor constituinte da sua
identidade.
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A possibilidade de arbítrio sobre o próprio corpo e o acesso a uma
sexualidade não reprodutiva foi, sem dúvida, umas das principais conquistas das
mulheres. Mesmo considerando que sempre, na história da humanidade, tivessem
existido formas diversas de contracepção, o que mudou com a pílula foi a
medicalização e a legitimação dessa prática. Nesse sentido, as mulheres puderam
programar suas vidas e exercer tanto a sua vida profissional como a própria
experiência da maternidade de forma mais satisfatória.
Porém, de lá até agora, entre sexualidade e reprodução não houve apenas
uma ruptura, mas uma distância de que ainda não podemos vislumbrar de todo o
significado. A nova onda das técnicas de reprodução assistida – para citar algumas:
fecundação in vitro; inseminação artificial com ou sem doador; doação de óvulos;
implementação, congelamento e manipulação de embriões e maternidade de
substituição ('aluguel de útero') – provocaram uma turbulência nos nossos valores,
crenças e representações sobre a filiação, como também uma reviravolta na
representação da relação entre natureza e cultura.
Desde o momento da efetivação da primeira fertilização in vitro, realizada em
1978, assistimos a vários dilemas éticos provocados pelo avanço da pesquisa
científica na área da procriação artificial, como, por exemplo, a dificuldade de impor
limites entre a manipulação de embriões; o problema de administrar as várias
referências parentais que se somam desde a biológica, a social e ainda a
possibilidade de uma terceira, 'de aluguel'; a normatização de doações de embriões,
óvulos e esperma; o direito de casais de homossexuais ou de famílias
monoparentais recorrerem à procriação assistida.
Diante desse quadro, o que consideramos mais importante é que, para além
de cada caso específico, o que está em jogo é um conjunto de incertezas, que não
aprofundamos aqui, mas que interferem no estatuto simbólico da filiação.
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Considerações finais
FIM DO MÓDULO IV
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Glossário
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Referências Bibliográficas
_____. Tratado de Psiquiatria. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, v.2, 1999.
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SOUZA, D. H. Amor solitário: uma análise dentro da perspectiva do gênero. Revista
Ártemis, João Pessoa, v. 7, p. inicial-final, 2007.
FIM DO CURSO!
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