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A PSICOLOGIA DO

COMPORTAMENTO ESCOLAR
Rita de Cássia Spréa Uhle
Gustavo Thayllon França Silva
Pós-graduação em Educação
Diretores
Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho
Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar
Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo

Editora
Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona
Projeto Gráfico Evelyn Caroline Betim Araujo
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.

Edição 2021
A Psicologia do Comportamento Escolar

Rita de Cássia Spréa Uhle


Gustavo Thayllon França Silva

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo expor os comportamentos influentes em sala de aula, apresentando
suas causas, contextos e as consequências ocasionadas pelas ações e decisões dos alunos, que muitas vezes
impedem o desenvolvimento próprio e de seus colegas. Visa explanar a respeito do comportamento escolar
por intermédio das teorias de aprendizagem, a fim de compreendê-lo; por meio desse reconhecimento, aplicar
estratégias, assim como teorias que a psicologia proporciona para um tratamento e acompanhamento efetivo
na busca de bons relacionamentos sociais, melhorando as condições em sala de aula e aperfeiçoando o apren-
dizado. Destaca transtornos e atitudes que influenciam o ambiente estudantil. Utiliza como fonte diversas
bibliografias para compreender e basear informações a respeito do assunto. Discute questões relacionadas ao
papel do educador no processo de aprendizagem e no manejo com problemas característicos no comporta-
mento escolar, com opções de estratégias e práticas.
Palavras-chave: Comportamento escolar. Psicologia. Transtornos.

1 INTRODUÇÃO
O comportamento escolar é reflexo do contexto e dos relacionamentos de cada aluno. As situações marcan-
tes, problemáticas ou não, influenciam diretamente as ações das crianças em seu ambiente, no caso a escola, em
que precisam lidar com suas questões, colegas e professores e também se encontrar no processo de aprendizagem.
Quando existem falhas, esse processo é interrompido ou distorcido, gerando prejuízos para a própria criança e
para o ambiente escolar.
Problemas como desatenção, transtornos emocionais ou psicológicos, traumas e até mesmo violência são
entendidos como fatores determinantes no comportamento individual, que influenciam e ocasionam crises nas
salas de aula.
O objetivo deste trabalho é compreender esses comportamentos e indicar as possibilidades oferecidas pela
psicologia no intuito de colaborar para um aprendizado dentro dos limites aceitos e, também, relacionamentos
aceitáveis tanto na escola quanto em casa.
Essa abordagem da psicologia comportamental escolar é necessária, uma vez que alunos reconhecidos como
preguiçosos ou desatentos na verdade podem sofrer algum distúrbio e, com a intervenção correta, podem se
adequar ao padrão escolar e aprender dentro de seus limites.
A relevância se dá pela necessidade de os professores reconhecerem cada tipo de transtorno, para assim
lidarem da maneira mais adequada com toda a turma, identificando os conflitos, aprendendo a lidar com eles e
encontrando soluções para o convívio dentro da escola.
2 TEORIAS DA APRENDIZAGEM 2 behaviorismo – foco nos aspectos mais obje-
tivos do comportamento, como estímulo,
O que é aprendizagem?
resposta e recompensa.
Todas as mudanças relativamente
permanentes no potencial de 2 cognitivismo – concentração nos conceitos
comportamento, que resultam da biológicos, na atividade mental humana.
experiência, mas não são causadas
por cansaço, maturação, drogas,
Os psicólogos behavioristas examinam o compor-
lesões ou doenças (LEFRANÇOIS, tamento real e as condições que levam a tal atitude,
2008, p. 6). lidam com estímulos, respostas ao comportamento. Já
os psicólogos cognitivistas, sem contradizer o behavio-
A aprendizagem pode ser considerada um resul-
rismo, acreditam que o comportamento humano se
tado da experiência vivida e vai além da definição de
baseia em atividades como pensar, desejar, raciocinar,
obtenção de informações, uma vez que as informa-
o que envolve o processo intelectual, a formação de
ções obtidas nem sempre se fazem óbvias no processo
conceitos, a memória e a percepção.
de aprendizagem.
As mudanças de comportamento são evidências
da ação da aprendizagem, mas isso não significa que
todas as mudanças de comportamento a procedam,
3 TERAPIA COGNITIVA
pois alterações resultantes de cansaço e drogas são COMPORTAMENTAL – TCC
temporárias, e não se caracterizam como prova de que A terapia cognitiva comportamental surgiu nos
houve aprendizagem. Ela implica em mudanças na anos 60 do século XX, e foi implementada pelo psi-
capacidade de fazer algo e na disposição em realizá-lo. quiatra Aaron Beck. Baseia-se em teorias desenvolvi-
A generalização e a discriminação são importan- das na formulação de planos de tratamento e orien-
tes na aprendizagem. A generalização diz respeito ao tação das ações do terapeuta. Possui dois princípios
envolvimento com os comportamentos aprendidos centrais (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008, p. 15):
anteriormente, na solução de novas situações. Nem 2 as cognições têm uma influência controla-
todas as situações podem ser apresentadas em sala de dora sobre as emoções e os comportamentos
aula, por isso a importância da generalização, uma vez dos indivíduos.
que se ensina para generalizar (LEFRANÇOIS, 2008,
2 o modo como as pessoas agem ou se compor-
p. 127). Já a discriminação complementa a generaliza-
tam pode afetar profundamente seus padrões
ção e implica na distinção entre situações semelhantes
de pensamentos e suas emoções.
que precisem de respostas diferenciadas, agregando
valor ao aprendizado social, o que é certo fazer ou não. Existem três proposições fundamentais que definem
as características presentes na terapia cognitivo-compor-
tamental (DOBSON apud KNAPP, 2004, p. 19):
2.1 Teoria científica
2 a atividade cognitiva influencia o compor-
Teoria científica é o conjunto de afirmações con- tamento.
gruentes que objetiva explicar determinadas observa-
ções. A teoria tem o propósito de avaliar, resumir e orga- 2 a atividade cognitiva pode ser monitorada
nizar fatos, assim como ser compreensível e simples, e alterada.
para melhor compreensão. E para entender as mudan- 2 o comportamento desejado pode ser influen-
ças comportamentais, existe a teoria da aprendizagem. ciado mediante a mudança cognitiva.
Essa teoria, também conhecida como teoria com- Essa terapia tem como objetivo a correção das
portamental, tem como objetivo organizar as hipóte- distorções do pensamento (KNAPP, 2004, p. 20) e se
ses, as observações feitas a respeito do comportamento baseia na relação existente entre cognição, emoção e
humano (LEFRANÇOIS, 2008, p. 22). pensamento, responsável pelo funcionamento normal
As teorias da aprendizagem tiveram suas origens do ser humano.
na explicação do comportamento baseado em instin- Knapp (2004) afirma que a TCC se apoia no pres-
tos e emoções (LEFRANÇOIS, 2008, p. 22). Existem suposto teórico de que as experiências de cada indiví-
duas classificações para essas teorias: duo são determinantes na interpretação das situações

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A Psicologia do Comportamento Escolar

em seu contexto. O que ele pensa a respeito dos acon- estilo de relação terapêutica cola-
tecimentos gera determinadas emoções e comporta- borativa, simples e voltada para a
ação. Embora a relação entre tera-
mentos. Esses pensamentos que influenciam, muitas peuta e paciente não seja conside-
vezes, podem ser distorcidos, fato que é conhecido rada o mecanismo principal para a
como distorções cognitivas. mudança como em algumas outras
formas de psicoterapia, uma boa
De acordo com Knapp, aliança de trabalho é uma parte
Se a situação é avaliada errone- essencialmente importante do tra-
amente, essas distorções podem tamento (BECK apud WRIGHT;
amplificar o impacto das percep- BASCO; THASE, 2008, p. 33)..
ções falhas. As distorções cogni- Esses fatores específicos que Beck coloca como
tivas podem levar o indivíduo a
conclusões equivocadas mesmo
fundamentais no vínculo terapêutico são habilidades
quando sua percepção da situação necessárias para o educador no ambiente escolar. A rela-
está acurada. O objetivo da terapia ção entre aluno e professor/educador define o curso do
cognitiva é corrigir as distorções do comportamento no ambiente escolar. Para os autores,
pensamento (2004, p. 20). há a necessidade de o profissional se envolver, demons-
As técnicas utilizadas na TCC auxiliam na identi- trar compreensão e flexibilidade ao reagir às caracte-
ficação, na avaliação e na modificação de pensamentos rísticas singulares de sintomas, crenças e influências
e crenças disfuncionais, pois sabe-se que a alteração em cada pessoa. A colaboração entre ambos auxilia na
desses pensamentos tem impactos significativos na identificação dos problemas e na busca por soluções.
vida do paciente. As crenças, conceitos incondicio- Essas teorias são utilizadas pelos profissionais em
nais estabelecidos, formam-se com as experiências e se diversas situações, como no relacionamento e no com-
consolidam durante a vida. Knapp (2004, p. 21) diz portamento em sala de aula.
ainda que “as crenças disfuncionais são absolutistas, Aprendizagem social pode signifi-
generalizadas e cristalizadas; [...] sendo ativadas nos car toda a aprendizagem que ocorre
transtornos emocionais”. como resultado da interação social
(uma definição de processo) ou o
tipo de aprendizagem que está envol-
3.1 Relacionamento professoraluno vido na descoberta de quais com-
portamentos são esperados e aceitá-
sob a influência da TCC veis nas diferentes situações sociais
(LEFRANÇOIS, 2008, p. 391).
Em pesquisas realizadas a respeito da psicoterapia,
Michael Lambert constatou que “o impacto do tera- A teoria de aprendizagem social dá dois significa-
peuta pode ter caráter tanto positivo, quanto negativo, dos ao termo, uma aprendizagem ocorrida da intera-
por isso a importância dos aspectos pessoais do pro- ção social, como uma consequência, e o processo pelo
fissional, bem como da sua formação e treinamento” qual todos aprendem. Essa aprendizagem é o conheci-
(LAMBERT apud PICCOLOTO; WAINER; PIC- mento a respeito do que é aceitável socialmente.
COLOTO, 2008, p. 14). Para Guy Lefrançois, uma das mais importan-
Pode-se traçar um paralelo entre essa pesquisa tes tarefas de acompanhar o crescimento infantil é o
com o relacionamento vincular entre professor e aluno ensinamento sobre os comportamentos adequados no
na sala de aula. O vínculo positivo que o professor aspecto social (2008, p. 373). Isso é a socialização. As
estabelece com seu aluno influencia o seu desempenho instituições são consideradas as maiores influências
durante todo o ano letivo. nesse processo. E essas instituições são: família, igreja,
meios de comunicação, escola. As crianças recebem
Beck sempre considerou a necessidade de alguns delas valores e crenças que definem a cultura em que
fatores específicos no tratamento terapêutico, tais estão inseridas.
como: calor humano, empatia, genuinidade e con-
Mas como uma criança aprende o que é social-
fiança. A base da TCC é a utilização do questiona-
mente aceitável?
mento como instrumento de abordagem.
Uma das características atraentes Albert Bandura, psicólogo, dá a resposta com o
da terapia cognitivo-comporta- termo “aprendizagem” por observação, que vem da
mental (TCC) é o emprego de um imitação.

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A teoria reconhece a enorme sig- 2 controle simbólico – atividades humanas
nificância da nossa capacidade de influenciadas por processos internos. Um
antecipar as consequências de nos-
exemplo é o pensamento, que pode afetar o
sos comportamentos, de simbolizar
e perceber as relações de causa e comportamento das pessoas.
efeito. O poder dos modelos tem a Existem vários fatores que influenciam o compor-
ver, principalmente, com sua fun-
ção informativa. Os modelos nos
tamento, o qual pode ser determinado por problemas,
informam não apenas como fazer perdas e abusos. Mas, mesmo em face de situações com-
certas coisas, mas também as con- plicadas e desestruturadoras, há uma possibilidade de
sequências que os nossos compor- manter um bom comportamento por meio de cuidados,
tamentos podem ter (LEFRAN- compreensão. Isso pode ser conhecido como resiliência.
ÇOIS, 2008, p. 376).
A resiliência, que pode ser definida como resis-
Dentro da aprendizagem por observação, encon-
tência aos choques, é uma maneira de enfrentar gran-
tram-se alguns processos diferentes que completam
des problemas. Segundo Poletti e Dobbs, a resiliência
essa etapa:
pode ocorrer em situações de risco devido a fatores de
2 processo de atenção – a atenção é necessá- estresse e tensão. As autoras dizem não ser uma tarefa
ria para aprender. Segundo Brandura (apud fácil acabar com todas as cicatrizes, mas os resilien-
LEFRANÇOIS, 2008), estar atento ao com- tes podem viver com dignidade, ainda que tenham
portamento depende da importância dada a sofrido abusos quando crianças. Para elas, os educa-
ele. Aquilo que é valorizado tem muita atenção. dores podem enxergar de outra maneira a evolução
2 processo de retenção – além de prestar de seus alunos, com muito mais atenção, disposição e
atenção, é preciso lembrar o que foi visto. motivação (2007, p. 17).
Existem dois tipos de representação no processo Essa característica surge a partir do tempera-
de aprendizado: visual e verbal. Ambos mento da pessoa, de seu contexto cultural, das marcas
são importantes, porém cada um tem sua e feridas que possui, e do apoio que ela recebe. Está na
relevância para a transmissão de informações. ajuda de organizações, no amor próprio, na valoriza-
2 processo de reprodução motora – compor- ção pessoal, na religião e, por não ser uma constante,
tamentos concretos são alcançados por meio deve ser incentivada sempre.
dessa imitação, que é feita com habilidade [...] cada um vive seus dramas e feri-
física e intelectual. Pode promover a correção das de maneira única e individual.
Não se pode fazer uma descrição
da ação ou ensinamento passado.
padronizada das consequências de
2 processos motivacionais – motivos são um trauma ou outro numa criança.
razões e causas do comportamento e, para A maneira pela qual ela vai superálo
ou não depende de seu patrimônio
aprender, é preciso haver motivação.
genético, das circunstâncias de sua
Para Brandura (apud LEFRANÇOIS, 2008), primeira infância, das mensagens
não se pode definir o comportamento apenas pelas que recebeu, das ligações afetivas
intervenções externas ou internas. Os estímulos que criou e da segurança que estas
lhe fizeram sentir (POLETTI;
externos não são os únicos responsáveis pelo com- DOBBS, 2007, p. 4041).
portamento humano, e o mesmo pode ser dito de
estímulos internos. O autor acredita que existem três A resiliência, como comportamento, pode ser
sistemas que, em conjunto, determinam o compor- ensinada às crianças. Ela se constrói na união dos fato-
tamento das pessoas: res internos, por meio de mensagens verbais e visuais
ou elementos externos, com a presença de adultos,
2 controle de estímulos – ações reflexas usa- acontecimentos importantes. Ela pode ser promovida
das para responder a determinados estímu- nas escolas pela motivação, pois com esse incentivo a
los, como medo, espirro, amor, susto. criança desenvolve competência social, aprende a con-
2 controle de resultados – alguns comporta- viver bem com os outros, aprende a se comunicar e
mentos são controlados por suas consequên- busca a resolução de suas questões, estabelecendo seus
cias, são ações condicionadas. objetivos e pedindo auxílio quando necessário.

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A Psicologia do Comportamento Escolar

As autoras acreditam que a escola é um lugar 2 pré-consciente – conteúdos de fácil acesso à


essencial para as crianças que estão sofrendo, indepen- consciência, memórias recentes.
demente dos problemas (POLETTI; DOBBS, 2007, 2 consciente – parte do aparelho psíquico que
p. 50). Lá, ela precisa encontrar pessoas preocupadas
recebe informações do mundo interior e exte-
com seu bem-estar, assim como em casa; ter esperança,
rior ao mesmo tempo é o tempo presente.
tendo uma razão para acreditar em si mesma; ter opor-
tunidade de participação, aumentando sua autoestima O segundo tópico, ou segunda estrutura apresen-
e se sentindo parte de um todo, segura, ativa e feliz. tada, é a do modelo estrutural, ou chamada de estru-
tura da personalidade, dividida entre o ID, o EGO e o
SUPEREGO. Vamos conhecer tais estruturas.
4 ABORDAGEM PSICANALÍTICA 2 ID – parte mais primitiva da nossa personali-
Antes de conceituarmos a psicanálise, é necessário dade, regida pelo princípio do prazer, possui
conhecer seu fundador, um austriaco chamado os conteúdos inconscientes.
Sigmund freud. Ele desenvolveu a psicanálise com 2 EGO – regido pelo princípio da realidade,
base em suas publicações, sendo a primeira delas a atua como um mediador entre o ID e o supe-
interpretação dos sonhos. rego, fonte dos mecanismos de defesa.
Freud buscava, por meio da psicanálise, trabalhar 2 SUPEREGO – atua como um kuiz, trabalha
a escuta e a observação, dois aspectos mentais que as pelo principio das normas sociais e regras,
pessoas não conseguiam acessar com tanta facilidade.
sempre proibindo, julgando e trabalhando
Neste viés, essa escuta e observação era desenvol- com conceitos e preconceitos.
vida por meio da técnica da associação livre de ideias,
Neste momento, chegamos à parte da psicanálise
em que Freud buscava, sem julgamentos e aponta-
que mais chama a atenção dos educadores: da mesma
mentos, fazer observações e correlações das falas dos
forma que Piaget e outros autores dividem o desenvol-
sujeitos e de seus pacientes. Neste sentido, a psica-
vimento humano e comportamental em fases, Freud
nálise é
também assim o fez, e são denominadas os estágios
como um procedimento de inves- de desenvolvimento psicossexual: da infância à vida
tigação dos processos mentais, um
método de tratamento e uma dis-
adulta. Freud chocou toda a sociedade ao afirmar que
ciplina científica. Mais tarde, em a criança possuía uma sexualidade, contudo, essa sexu-
1926, no trabalho Podem os leigos alidade exprimia um desenvolvimento humano e de
exercer psicanálise?, ele comple- aprendizagens. Essas fases são organizadas em:
menta a sua definição afirmando
que “deve existir uma união entre 2 fase oral – 0 a 1 ano – libido centrada na
curar e investigar”, com o que até parte oral, nas gratificações, a aprendizagem
hoje todo psicanalista clínico há está nos lábios e a boca representa a sede prin-
de concordar, porquanto os três
cipal da libido. O sugar e o chupar, dão prazer.
aspectos acima mencionados estão
intimamente conectados, são 2 fase anal – 1 a 3 anos – início do controle
simultâneos e indissociados entre si dos esfincteres, e a exigência dos pais neste
(ZIMERMAN, 1999, p. 31).
controle.
Portanto, a psicanálise é um método de investi-
2 fase fálica – 3 a 5 anos – início da cuirosi-
gação que se orienta para a melhoria das condições de
dade, fase dos porquês, ansiedade de castra-
vida dos sujeitos. Caminhando por este viés, Freud
ção e inveja do pênis, complexo de édipo.
desenvolveu dentro da psicanálise duas teorias, que
são chamadas de 1ª e 2ª tópica Freudiana: a primeira 2 fase de latência – 5 a 10 anos – os dese-
denomina-se modelo topográfico, que divide o apa- jos sexuais não resolvidos são reprimidos
relho psiquico em três estruturas, sendo: pelo superego. A sexualidade não avança, o
ego desenvolve a moralidade, a vergonha e a
2 inconsciente – conteúdos de dificil acesso,
repulsa. Início da escolaridade.
não presentes na consciência, mas que inte-
refem em todos os atos dos seres humanos, 2 fase genital – 10 anos em diante – a libido
conteúdos reprimidos e traumáticos. retorna, o conhecimento das diferenças

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sexuais, as formas de satisfazer suas necessi- 6 GESTÃO DE RELACIONAMENTO
dades eróticas. E COMPORTAMENTO ESCOLAR
O importante de se conhecer a psicanálise para a Em qualquer escola, os mesmos
educação, além de conhecer os estágios do desenvolvi- alunos podem se comportar de
mento humano e seus reflexos, está também em com- maneira diferente, em diferentes
preendermos uma nova forma de educação, aquela que cenários e com diferentes professo-
res. O comportamento do profes-
não julga, que não reprime, e sim, aquela que escuta, sor e o comportamento do aluno
observa e intervém. têm um efeito recíproco um sobre
Para além disso, podemos também trazer concei- o outro e sobre o sempre presente
“público” de colegas (ROGERS,
tos, como o de transferência, que são vínculos estabe- 2008, p. 17).
lecidos entre docentes e discentes; caso a transferência
não ocorra, a aprendizagem dificilmente ocorrerá de Bill Rogers afirma que tanto o professor quanto o
forma satisfatória. aluno ensinam um ao outro pelo seu comportamento
relacional diário (2008, p. 17). Rogers acredita que,
ainda que professor ou o aluno estejam passsando por
5 ABORDAGEM DA AFETIVIDADE um dia ruim, o comportamento e a sua administração
Henri Wallon, comumente conhecido nas litera- podem influenciar na ocorrência de incidentes. Uma
turas como Wallon, foi um psicológo, médico e filo- importante ferramenta para benefícios em sala de aula
sofo francês que estudou em profundidade os aspectos é ser um profissional reflexivo, que avalia a prática e a
da afetividade humana e tambem as questões relacio- gestão de ensino.
nadas à infância. Entretanto, muitos comportamentos inadequa-
Da mesma forma como outros autores, Wallon dos em determinadas situações impedem que haja
apresentou conceitos importantes para a área da edu- uma real reflexão e, até mesmo, uma mudança de posi-
cação, como exemplo, a teoria dos campos funcionais, cionamento. Rogers nomeia comportamentos secun-
que se configura em movimento, afetividade, inteli- dários, atitudes como olhar de desaprovação, mau
gência e pessoa, sendo a base para o desenvolvimento humor, irritação e rebelião e diz que estes são conside-
cognitivo dos sujeitos. rados mais intolerantes que os comportamentos pri-
mários, quais sejam: não realizar tarefas, atrasos, etc.
Da mesma forma como Freud, Piaget e outros,
Wallon propôs os estágios do desenvolvimento; con- Para haver um bom desenvolvimento do grupo
tudo, afirmou que eles não são sequenciais e fixos, e de alunos, é necessário o estabelecimento da gestão
sim uma ampliação e melhora do outro. São eles: comportamental por meio de práticas e habilidades.
Durante essa fase, o professor faz um acompanhamento
2 estágio impulsivo-emocional – do nas- para destacar responsabilidades da turma, seus direitos
cimento até 1 ano de idade – emoções e deveres. Existem algumas metas da gestão de compor-
enquanto instrumento; tamento a serem alcançadas (ROGERS, 2008, p. 49):
2 estágio sensorio-motor e projetivo – até 2 reconhecer/ser responsável por seu com-
três anos de idade – mundo externo preva- portamento;
lece, interação com prática, movimento e
objeto; 2 respeitar os direitos, sentimentos e necessida-
des dos outros;
2 estágio do personalismo – até os seis anos de
idade – desenvolvimento da personalidade; 2 construir relações funcionais.
2 estágio categorial – inteligência predomina Muitas escolas utilizam o acordo comportamental
sobre as emoções, a questão do controle e da em sala de aula para estabelecer direitos e responsabili-
inteligência emocional. A questão da memo- dades compartilhados.
rização também se faz presente. Os alunos participam, juntamente
com seus professores, de “um
2 estágio da adolescência – a partir dos 12 acordo” abordando direitos, res-
anos de idade – puberdade, sexualidade, ponsabilidades e regras em comum
curiosidade. sobre o comportamento e aprendi-

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A Psicologia do Comportamento Escolar

zagem; as consequências principais apresentando as questões envolvidas, como compor-


para um comportamento inaceitá- tamentos aborrecedores frequentes ou não. Também
vel e uma estrutura de apoio para
auxiliar os alunos quando eles estão
é necessário equilibrar os aspectos disciplinares com
se esforçando com seu comporta- o apoio adequado: mediação, restituição, aconselha-
mento e aprendizagem (ROGERS, mento e até planos de comportamento para cada aluno.
2008, p. 51).

Para que os alunos entendam o que lhes é pro- 7 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL


posto, é preciso comunicação e linguagem adequada
É a capacidade natural que nós, os
ao contexto, assim como uma expressão dinâmica.
humanos, temos para gerir nossas
Quando utilizada de maneira correta, pode ser a base emoções com o objetivo de nos
para relacionamentos positivos e funcionais. Existem adaptarmos às circunstâncias de
alguns princípios básicos para o desenvolvimento nosso ambiente; capacidade que
dessa linguagem, entre eles pode-se destacar uma inte- podemos melhorar mediante a
introspecção e a prática (AGÜERA,
ração corretiva, declarações assertivas, tom de voz res-
2008, p. 91).
peitoso e positivo. O processo de ensino flui à medida
que o professor se apresenta interessado e envolvido Baron (apud AGÜERA, 2008, p. 92) define a
no progresso de seu aluno com atitudes como encora- inteligência emocional a partir de três fatores:
jamento, dedicação e positivismo. 2 percepção da emoção – itens que reconhe-
De acordo com Bill Rogers, um professor precisa cem as emoções por expressões faciais, dese-
de habilidade para se relacionar e se comunicar com os nhos e relatos.
alunos. Esses são atributos essenciais para motivar o tra- 2 compreensão da emoção – itens que reco-
balho com tarefas e relações interpessoais (2008, p. 151). nhecem a mudança das emoções ao longo do
Todo comportamento gera uma consequência e o tempo e como se misturam.
professor necessita saber gerenciá-las. 2 regulação das emoções – testes qualificado-
Consequências comportamentais, res das estratégias a serem seguidas, situações
como uma característica de disci- problemáticas de ordem emocional.
plina cuidadosa, são uma tentativa
do professor de ligar o comporta- Para Agüera (2008), a inteligência emocional é
mento perturbador ou errado do fator determinante para o sucesso profissional e até
aluno a um resultado que, espe- mesmo de domínios científicos. A inteligência emo-
rase, enfatizará a imparcialidade cional é composta por competências; a primeira é
e a justiça, e até mesmo ensinará
à criança alguma coisa sobre res- emocional, a segunda, competência pessoal e, por fim,
ponsabilidade final (ROGERS, competência social. Com uma boa administração de
2008, p. 156). ambas, é possível um contentamento individual, ape-
AA aplicação de consequências sugere uma orga- sar de dilemas, e um bom relacionamento interpessoal.
nização de resultados, permitindo aos alunos experi- Goleman (apud AGÜERA, 2008, p. 95) define a
mentar a reação de suas atitudes comportamentais. competência emocional como:
Assim como escolhem incomodar, optam por enfren- uma meta habilidade composta
tar as consequências geradas. pelas habilidades de saber contro-
lar os impulsos emocionais, saber
As detenções também podem ser
desprenderse dos estados de ânimo
usadas para rastrear se alunos, tur-
negativos e saber adiar gratificações
mas e professores estão passando
(2008, p. 95).
por dificuldades. Elas são uma
“advertência antecipada” de que
professores experientes podem (e
deveriam) oferecer apoio moral e 7.1 Comportamento em sala de aula
prático (ROGERS, 2008, p. 172).
A indisciplina é um problema comum em salas
Para lidar com essas reações, é preciso haver uma de aula e demanda do professor atitudes corretivas e
administração das consequências negociáveis e não disciplinares. A conduta indisciplinar pode ser cau-
negociáveis. Ambas devem ser explicadas de antemão, sada por diversos fatores, como problemas psicológi-

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cos, familiares, estruturação familiar e pode, também,
transformar-se com o contexto social em que a criança
As crianças precisam, assim
esteja inserida. como todos os indivíduos, de
As situações de indisciplina têm relação com uma
perspectiva pedagógica, uma vez que problemas peda-
regras para manter um bom
gógicos influenciam atitudes indisciplinares. relacionamento.
Segundo Silvia Parrat-Dayan, “a disciplina é um De um modo geral, a indisciplina pode ser enten-
conjunto de regras de conduta estabelecidas para man- dida como um problema de razão social e, por isso,
ter a ordem e o desenvolvimento normal das atividades deve ser considerada uma questão pedagógica para ser
de uma aula ou num estabelecimento escolar” (2008, p. compreendida nos relacionamentos entre professor e
20). A autora diz que o conceito de indisciplina se traduz
aluno (intervenção escolar). Ela deve ser vista não ape-
de várias maneiras e também por diversas interpretações.
nas como um problema pessoal, mas como parte da
Existem três referências para a avaliação: a do aluno, a
responsabilidade das instituições de ensino. É na sala
do professor e a da escola. A indisciplina se mostra nas
de aula que o aluno vai aprender tanto o conteúdo
condutas e nos relacionamentos interpessoais do aluno.
quanto o manejo de conflitos.
A avaliação é feita pela escola, por exemplo, na
Para combater a indisciplina nas escolas, é preciso
ausência de valores democráticos ao se declarar como
levar em consideração o desenvolvimento da criança e
tal, e da perspectiva do professor se ele obedece ou não
adotar postura e ideia construtivistas e motivacionais,
as normas estabelecidas e sua intervenção em questões
por meio de democracia, estímulo ao respeito, debate,
problemáticas com seus alunos.
atitudes que dependem da formação do professor.
As crianças precisam, assim como todos os indiví- Segundo Parrat-Dayan, educar não é estabelecer exi-
duos, de regras para manter um bom relacionamento gências às crianças, é fixar normas e supervisionar para
no ambiente em que estão inseridas, nesse caso, a que sejam cumpridas (2008, p. 69).
escola. Quando essas regras não são devidamente assi-
Um projeto de investigação, que foi dirigido por
miladas ou seguidas, existe o problema indisciplinar, o
Neuenschewander (apud PARRAT-DAYAN, 2008, p.
qual é associado a problemas de moral.
70), sugere quatro tipos de gestão de classe, com as
Agir moralmente significa se con- regras sociais elaboradas:
formar às regras da moral, que são
exteriores à consciência da criança 2 soberano – equilíbrio entre regras e flexi-
porque foram elaboradas sem ela. bilidade.
Mas chegará o momento em que
a criança entrará em contato com 2 regulamentado – pouco flexível.
essas regras. Esse momento da
existência da criança é decisivo
2 relacional – há muita flexibilidade e pou-
no que diz respeito à formação cas regras.
da disciplina (PARRAT-DAYAN, 2 desorganizado – não há regras ou flexibilidade.
2008, p. 32).
O soberano é o mais exigente, contudo, eficaz por
As regras são necessárias ao ambiente escolar, uma
sua avaliação de ensino.
vez que agem como instrumentos no processo de edu-
cação moral. A autora sugere que uma escola demo-
crática promove e favorece a cooperação e a interação 7.2 Habilidades sociais em sala
entre os alunos e que é a fonte de autonomia intelec-
tual e moral. de aula – professor e aluno
Os motivos para a indisciplina podem ser encon- Turmas difíceis de lidar podem desestruturar um
trados tanto nas escolas quanto fora delas. As causas bom professor, abalando a confiança dos mais expe-
externas podem ser influência de programas de televi- rientes. Por essa razão, é importante contar com o
são, relacionamentos sociais, falta de valores e proble- apoio dos colegas no desenvolvimento de um plano de
mas familiares. Já as internas estão presentes na rela- ação colegial para restabelecer a turma “difícil”.
ção professor-aluno, adaptação ao contexto, perfil do O professor precisa, por meio de habilidades,
aluno, interesse e habilidades. estruturar interações sociais educativas, pois seu posi-

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A Psicologia do Comportamento Escolar

cionamento – maneira de lidar com os objetivos pro- crianças e ajudam a definir a personalidade e as ações
postos com os alunos – pode interferir no comporta- de cada uma. Quando passam por situações embara-
mento da sala em geral. çosas, constrangedoras ou até mesmo problemáticas,
É preciso levar em consideração algumas as crianças tendem a revelar suas frustrações por meio
questões: quantos são os alunos perturbadores, quão de comportamentos, assim como ocorre em momen-
frequentes são suas ações e quem são os líderes desse tos de alegria. Esses comportamentos influenciam seu
comportamento. Assim que reconhecidas, o professor aprendizado e os relacionamentos sociais.
pode fazer reuniões com sua turma, a fim de responder Com dinamismo, trabalhos criativos e motiva-
à seguinte pergunta: o que podemos fazer para mudar ção, um professor pode proporcionar uma mudança
nossa sala de aula e como? em sala de aula, incentivando a responsabilidade e o
O professor pode destacar os direitos e as respon- anseio por aprender.
sabilidades dos alunos, provando que o comporta- O profissional que cuida de uma criança com
mento pode afetar a segurança da turma e mostrando dificuldade de aprendizagem, para garantir a normali-
quais as consequências de não agir conforme as regras zação das aquisições de conhecimento, precisa conhe-
estabelecidas. Segundo Bill Rogers (2008), os alu- cer a maneira como se dá o aprendizado, os fatores
nos devem estar cientes dos resultados da reunião e influentes, as características pessoais e de desenvolvi-
o professor deve publicá-los sempre que possível, de mento. Somente assim terá as condições necessárias
maneira positiva e estimulante. O autor oferece um para determinar a melhor opção terapêutica.
roteiro de ações para lidar com o mau comportamento
A aprendizagem, como um fenômeno psicoló-
em sala de aula, com o apoio de colegas:
gico, precisa ser compreendida em diversos fatores,
2 análise do problema – por meio de um con- tanto biológicos quanto psicossociais, já que a inte-
tato planejado, estruturado. ligência interage com a emoção, agregando valor ao
2 estabelecimento de objetivos – conquistar a processo cognitivo.
atenção dos alunos ou habilidades particula-
res na linguagem da disciplina, por exemplo.
7.3 Emoção na sala de aula
2 feedback – apresentar os resultados dos obje-
As emoções são sinais entre animais da mesma
tivos conquistados.
espécie, que comunicam duas mentes entre si (HOB-
2 desengajamento – o professor recebe o apoio SON apud AGÜERA, 2008, p. 78). Essas emoções
mais distante, dando-lhe a oportunidade de podem ser positivas ou negativas, mas sempre são
se ajustar às habilidades encontradas. traduzidas pelo comportamento social. Em uma sala
Silvia Parrat-Dayan acredita que o professor não de aula, os alunos estão sempre apresentando suas
pode apenas transmitir seu conhecimento, e sim guiar emoções com variados comportamentos, ansiosos por
e acompanhar o seu aluno nas atividades, investiga- atenção, mesmo que para isso desafiem, instiguem,
ções e tentativas (2008, p. 116). questionem ou, até mesmo, ofendam. Esses alunos são
conhecidos como desafiadores.
Além do mais, o educador é o per-
sonagemchave no que se refere ao Esses estudantes fazem parte de um grupo que
desenvolvimento de interações representa 5% do geral, com comportamentos carac-
positivas; portanto, ele desenha,
em colaboração com toda a equipe
terísticos, inconvenientes e perturbadores. Existe tam-
educativa, uma estratégia que mos- bém o grupo de alunos que participa e se dedica, o qual,
tre aos alunos a necessidade de segundo que segundo as estatísticas, é a maioria, 80%.
escutar, de dialogar, de ter tolerân-
cia, de enfrentar os conflitos, de O comportamento, para Rudolf Dreikurs (apud
reconhecer os erros e de conseguir ROGERS, 2008, p. 171), dirige-se a objetivos especí-
progressivamente a independência ficos e particulares, tendo como base a busca por acei-
de critério (PARRAT-DAYAN, tação social. Há crianças que procuram se adaptar por
2008, p. 116-117).
meio de comportamentos atentivos. O autor desafia os
Sentimentos, transtornos, família e acontecimen- educadores a encontrarem o objetivo comportamental
tos são peças expressivas na construção do caráter das de seus alunos.

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8 BULLYING INFLUENCIANDO O pode transformar a visão de uma criança briguenta
COMPORTAMENTO ESCOLAR na de alguém que precisa de ajuda para lidar com a
raiva, a frustração e a violência. Os problemas, quando
A definição de bullying, segundo Fante, é: exteriorizados, podem ser encarados como algo a ser
Palavra de origem inglesa, adotada controlado, o que pode gerar um sentimento de res-
em muitos países para definir o ponsabilidade no tratamento deles.
desejo consciente e deliberado de
maltratar uma outra pessoa e colo- É preciso que haja o conhecimento da realidade
cá-la sob tensão; termo que concei- da escola, reconhecendo as diversas formas de violência
tua os comportamentos agressivos escolar. O educador deve ter como objetivo e, a partir
e antissociais, utilizado pela litera-
tura psicológica anglo-saxônica nos
daí, compreender seu papel para evitar e até mesmo
estudos sobre o problema da vio- eliminar esse tipo de atitude dentro de sala de aula.
lência escolar (2005, p. 27). Para identificar o bullying, faz-se uma investigação
Esse fenômeno é antigo, mas professores e edu- em sala de aula, utilizando um questionário, que pode
cadores só começaram a ter consciência da relevância abranger um contexto mais amplo ou ser mais espe-
dele a partir dos anos 70 do século XX. cífico e fazer perguntas descritivas e diretas. Existem
instrumentos de investigação que servem como identi-
Conflitos entre alunos são comuns em determina-
ficação de alunos problemáticos, vítimas de agressões,
das situações, porém, se essa agressividade é intencio-
como a redação sobre a vida familiar ou uma entrevista
nada, há uma influência no contexto da sala de aula,
particular, em que o aluno é questionado sobre sua
promovendo comportamentos similares.
rotina e costumes familiares.
Não é um comportamento restrito a crianças de
Além desses aspectos, existem algumas vanta-
baixa renda e sua ação é percebida em muitas escolas
gens com o estímulo ao vínculo, como o esforço do
em todo o país, sejam elas municipais, estaduais ou par-
aluno em ser o melhor que puder, a construção da
ticulares. O bullying é um problema crônico, que gera
autoestima, a segurança, a satisfação, o compromisso
baixa autoestima e dificuldades de relacionamento.
e a participação.
Agressões marcam a personalidade e a vida de Os educadores podem criar opor-
uma criança e de um jovem por toda sua vida. As tunidades de os alunos tornarem
consequências são diversas e podem ocasionar deci- visíveis o eu de sua preferência e
sões erradas, assim como falhas de comportamento. sua determinação, mesmo quando
Questões como essas são preocupantes tanto para pais todas as pessoas têm uma história
problemática a respeito desses alu-
e educadores quanto para psicólogos, por isso a neces- nos – casos de fracasso, de bullying
sidade de se investigar mais sobre esse tema, desco- ou de falta de respeito (BEAU-
brindo causas, coibindo a violência, trazendo as infor- DOIN; TAYLOR, 2006, p. 121).
mações relevantes a respeito do bullying para dentro A colaboração de todos na turma é uma ação
das salas de aula e indicando opções de tratamento de valorizada para minimizar os efeitos e as consequên-
casos relacionados. cias do bullying. No entanto, para que ela aconteça,
Uma reação para incidentes de bullying na escola métodos de competitividade não devem coexistir.
envolve algumas características, como a colaboração A autorreflexão também é uma ação necessária para
e a contextualização da perspectiva. A colaboração que o contexto seja modificado. Ela traz vantagens ao
implica uma atitude dos educadores de minimizar a permitir uma avaliação dos valores e intenções, habi-
problemática entre os alunos necessitados de assis- lidade de atenção e percepção e melhoria do relacio-
tência, buscando cooperação e colaboração com uma namento com outras pessoas.
parceria positiva no controle de problemas relaciona- Reconehcendo e avaliando os problemas que
dos ao desrespeito e ao bullying. Já a contextualiza- envolvem bullying, é o momento de alterar a realidade
ção serve para indicar uma perspectiva sociocultural, escolar pelas estratégias de intervenção. Esse posicio-
otimizando uma análise dos contextos da vida social namento facilita a reflexão, promovendo a humaniza-
da criança. ção dos problemas, o que os torna comuns a todos e
Uma forma para diminuir esses problemas é a propicia um envolvimento geral na busca da solução
exteriorização de pensamentos e sentimentos, o que concreta para ele.

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A Psicologia do Comportamento Escolar

8.1 Perfis existentes no bullying experiência subjetiva da situação,


estabelecese um tipo bem diferente
Existem três personagens envolvidos nessa reali- de conversa. Os alunos sentemse
dade: o agressor, a vítima e o espectador ou testemu- então ouvidos e respeitados, talvez
nha. O perfil do agressor é caracterizado pela presença não tentem provar nem defender
nada, e criase um contexto no qual
de violência, muitas vezes aprendida com adultos
pode surgir a compreensão e a reso-
relacionados. Ele tem um caráter provocador e inti- lução de problemas.
midador e possui dificuldades de relacionamento, pois
acredita que tudo deve ser feito conforme seu desejo. A verdade não pode ser encontrada, mas existe
uma diversidade de perspectivas a serem conheci-
A vítima é a criança tímida e retraída, que não das e analisadas. A punição para as consequências de
tem capacidade de se defender, por se sentir inse- atos irresponsáveis nem sempre é útil para modificar
gura, discriminada e excluída. Ela não se sente à o comportamento do aluno, antes colaboram com
vontade no ambiente escolar e pode desenvolver as pressões, frustrações e resistência a autoridade. As
inúmeros distúrbios de personalidade, como se tor- punições constantes “levam professores e aluno a ficar
nar uma pessoa ansiosa, depressiva, com grandes presos em um ciclo vicioso cheio de problemas, no
danos à sua autoestima. qual as mesmas reações se repetem” (BEAUDOIN;
Já a testemunha é a criança que não participa do TAYLOR, 2006, p. 53).
ato de violência ou é submetida a ele, mas o presencia Para haver mudança no comportamento, as boas
em seu cotidiano e não denuncia por insegurança ou intenções contam e são importantes, mas por si só não
medo da reação do agressor. Isso gera conivência e até são determinantes para a transformação. A presença
mesmo a falsa sensação de que ações como o bullying da capacitação e do encorajamento aos alunos se faz
não são tão erradas. necessária para que eles cumpram esse propósito.

8.2 O papel do educador 8.3 Divórcio e novo casamento


Existem diversas causas que auxiliam no envol- A separação dos pais causa sofrimento na criança,
vimento de crianças e adolescentes com bullying. Os sentimento que gera marcas, as quais, se não forem
alunos, para Beaudoin e Taylor (2006, p. 45), não são percebidas, podem ter influência no comportamento
o problema, mas sim “o sentimento da falta de opções atual e futuro da criança, tanto na família quanto na
(devido aos bloqueios contextuais) [...]”. De acordo escola. A autoestima é gerada pela identidade adqui-
com as autoras, rida de ambos os pais e, quando há uma separação,
Os jovens envolvidos em questões essa identidade se perde, tornando a criança isolada
de desrespeito e bullying bullying e retraída.
precisam de um auxílio que eles
realmente possam fazer escolhas Após todo o processo de separação, a criança pre-
diferentes [...] isso não significa cisa se sentir segura, sabendo o que aconteceu a ela
adultos expondo opções, mas sim e à sua família. Por isso, é preciso administrar senti-
jovens que são convidados a rea-
lizar um processo mais aprofun-
mentos, informações e até o comportamento em sala
dado de autoinvestigação, dado o de aula. Se a criança começa a apresentar mau rendi-
contexto específico de suas vidas mento ou um comportamento inaceitável em sala, ela
(2006, p. 44). pode estar passando por problemas em casa.
O educador deve considerar o contexto em que Para trabalhar o problema de uma forma posi-
cada um de seus alunos vive e está envolvido. Não tiva, existem estratégias como: histórias e programas
pode apenas julgar a situação pelo ato em si, mas antes de televisão que ajudem a turma a entender os sen-
conhecer as histórias, problemáticas ou não. timentos experimentados em situações semelhantes.
De acordo com Beaudoin e Taylor (2006, p. 48), Atividades esportivas, de lazer, podem ajudar a criança
a esquecer ou a desviar seus pensamentos referentes ao
se os educadores reconhecerem
que nenhuma verdade efetiva pode problema, à frustração. Outra atividade interessante é
ser descoberta, mas sim apenas a de expressão emocional, na qual a criança pode se
a perspectiva de cada aluno e sua expressar por meio de música, filme, arte etc.

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A separação dos pais pode interferir no bom com- 2 Negligência: ignorância com relação às
portamento da criança e, se isso acontecer, ela preci- necessidades da criança; todo tipo de des-
sará de apoio para enfrentar tal situação, necessitará de cuido, como deixar de alimentar, vestir ou
alguém que a escute, que lhe dê atenção e que a motive até mesmo cuidar da saúde da criança.
a se ocupar com as tarefas escolares.
O abuso pode ocorrer no ambiente escolar, sendo
que pode conter as características de um ou mais tipos
9 INFLUÊNCIA DOS TRANSTORNOS de violência. Faz parte do papel de educar estar atento
PSIQUIÁTRICOS/EMOCIONAIS aos sinais de abuso.
NA SALA DE AULA As crianças podem apresentar problemas especí-
ficos e transtornos característicos, os quais dificultam
A criança pode sofrer transtornos psicológicos,
o processo de aprendizagem e interrompem o desen-
sociais, físicos, ocasionados por perdas e frustrações.
Problemas como esses estão presentes em sala de aula volvimento de relações e do comportamento em sala
e precisam ser reconhecidos para serem tratados da de aula. Um transtorno conhecido e bastante comum
maneira adequada. em crianças de idade escolar é o transtorno de deficit
de atenção.
Esses transtornos podem acontecer em qualquer
fase da vida, contudo, são comuns à infância, e os pro-
fessores devem estar preparados para receber crianças
que passaram por algum problema. Situações como o
9.1 Transtorno de deficit de atenção
ciclo inicial da escola básica, a não aceitação ou ridicu- e hiperatividade – TDAH
larização por parte de crianças mais velhas podem cau-
Trata-se de um problema comum e constante
sar euforia, mal-estar e angústia. Muitas vezes a criança
em escolas; muitos professores e educadores ainda
não se sente acolhida na escola.
não sabem lidar com portadores desse transtorno. De
Para lidar com esses transtornos emocionais, não acordo com o DSMIVTR (2002, p. 112), a definição
é preciso uma fórmula mágica ou um padrão preesta- de TDAH é a seguinte:
belecido, uma vez que cada criança tem características
Alguns sintomas hiperativoimpul-
específicas e problemas individuais. A generosidade e a sivos que causam comprometi-
compreensão do contexto social e emocional são aliadas mento devem ter estado presente
no reconhecimento e no tratamento de transtornos. antes dos 7 anos, mas muitos indi-
víduos são diagnosticados depois,
A separação dos pais pode após a presença dos sintomas por
alguns anos [...]. Algum compro-
interferir no comportamento metimento deve estar presente em
pelo menos dois contextos (por ex.
da criança. em casa e na escola ou trabalho).
[...] Deve haver claras evidências
As desordens emocionais são ocasionadas, em de interferência no funcionamento
social, acadêmico ou ocupacional
sua maioria, por abusos. Uma criança pode passar
próprio do nível de desenvolvi-
por situações problemáticas e ser abusada fisicamente, mento [...].
emocionalmente, sexualmente ou até por negligência.
A criança portadora de TDAH pode apresentar
2 Abuso físico: tapas, socos e queimaduras, vários sintomas, contudo, destacam-se a desatenção,
feitos por pais, familiares ou responsáveis. a hiperatividade ou a impulsividade, separadamente
2 Abuso emocional: causado por rejeição, ou em conjunto. Esse transtorno, por ser crônico,
maus tratos. É um dos mais difíceis de ser não pode ser eliminado, mas tratado para que a
reconhecido, pois influencia diretamente no criança com essa síndrome possa ter sua vida orga-
desenvolvimento emocional da criança. nizada, apresentando um comportamento funcional
2 Abuso sexual: toques inadequados, porno- tanto em casa quanto na escola.
grafia, ou algum envolvimento para o qual O TDAH surge, geralmente, no início da infância
a criança não está preparada ou com o qual e permanece durante toda a fase adulta, tendo como
não consentiu. principais sintomas a distração e a impulsividade, além

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A Psicologia do Comportamento Escolar

da incapacidade de relacionamento e adequação aos Uma intervenção utilizada com frequência no


colegas. Mesmo que esses sintomas possam acontecer manejo do comportamento em sala de aula inclui o
em idades diferentes, são mais acentuados na infância, controle de contingência, em que a atenção positiva
e, mesmo que a criança conheça as regras estipuladas, ou negativa do professor se faz reforço; as estratégias
não as obedece em situações sociais. cognitivo-comportamentais, em que são trabalhadas a
A incidência de TDAH em crianças é muito autoconversa, a repetição de instruções e a aprendiza-
comum, principalmente em idade escolar (6 a 12 gem assistida por pares, um método eficaz no aumento
anos). O comportamento dessas crianças pode ser exa- das habilidades escolares (podem ser escolhidos cole-
gerado em relação às atividades (tarefas chatas, com- gas para ajudar a copiar as tarefas).
plicadas, fáceis) e as habilidades se mostram deficien- As crianças com TDAH apre-
tes, gerando prejuízos nas relações sociais. sentam prejuízo no desempenho
escolar em vários níveis. Assim, os
Educadores que lidam com crianças portadoras programas para ensinar habilidades
desse distúrbio devem levar em consideração os sin- escolares precisam ter como alvo
tanto habilidades gerais quanto
tomas que variam de acordo com o estágio do desen-
específicas. As habilidades escolares
volvimento da criança, para auxiliar na identificação geralmente são ensinadas por meio
do problema, assim como no seu tratamento. A hipe- de estratégias cognitivo-comporta-
ratividade, por exemplo, é mais percebida em crianças mentais em aulas especiais ou pro-
mais jovens. Já a desatenção é percebida em crianças fessores particulares (CONNERS,
2009, p. 83).
mais velhas, intensificando-se em jovens, uma vez que
o grau de atenção exigido para determinadas ativida- A terapia multimodal é indicada por ser eficaz e
des aumenta conforme a idade. consiste em medicamentos e tratamentos psicossociais
Crianças com TDAH com prevalência de desa- e, além disso, há o treinamento dos pais, controle em
tenção tendem a se isolar mais, dificultando os rela- sala de aula, reforço comportamental e terapia para
cionamentos e a maturação, a qual depende de habi- habilidade social (CONNERS, 2009, p. 8687).
lidades sociais para existir, gerando uma ansiedade e O TDAH geralmente se apresenta com comor-
resistência no envolvimento grupal. bidades, ou seja, outros transtornos em conjunto.
Existem algumas técnicas de avaliação que podem Essas comorbidades podem ser: desvios de conduta,
ser usadas para o diagnóstico do TDAH, tais como: transtornos de humor (bipolaridade, depressão) e
ansiedade. Quando há o diagnóstico desses transtor-
2 entrevistas e coleta de histórias – o histórico nos, é preciso haver também um tratamento especí-
familiar, médico, psiquiátrico e as entrevistas fico para o convívio social adequado. Uma doença
com familiares e com o próprio paciente são comórbida bastante comum é o transtorno desafia-
ferramentas importantes para identificar o per- dor de oposição.
fil sintomático de TDAH. São avaliadas quatro
áreas: ambiente familiar, desempenho escolar,
relações sociais e funcionamento pessoal. 9.2 Transtorno desafiador
2 observação – é uma técnica pouco utilizada, de oposição – TDO
porém, eficiente, pois auxilia no acompa- Esse transtorno consiste em um comportamento
nhamento do paciente em situações regu- opositivo às figuras de autoridade e, em geral, é dire-
lares e pode melhorar o diagnóstico. São cionado a pais e professores. Há sempre uma agressivi-
avaliados sinais como: inquietação motora, dade latente na criança, ela discute sobre tudo e culpa
atenção e impulsividade, habilidades sociais outros por suas atitudes.
e de relacionamento.
A criança com TDO apresenta, em
Além de medicamentos, existe o tratamento psi- geral, baixa autoestima devido às
cológico que, muitas vezes, é a melhor indicação para frequentes críticas que recebe e pela
determinados pacientes que apresentam, por exemplo, sensação de que está sendo injus-
tamente criticada e punida. Esse
deficit de habilidades escolares. Ainda que o remédio padrão de comportamento gera
auxilie na melhora em alguns pontos específicos, não consequências negativas a longo
é o suficiente. prazo, e está associado a vários

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marcadores de mau prognóstico na TDAH, baixa autoestima, problemas com aceitação
vida adulta (ROHDE; MATTOS, da família e colegas, assim como problemas decorren-
2003, p. 86).
tes desse transtorno. A depressão, aliada ao TDAH,
O tratamento indicado para TDO é o cogniti- prejudica a vida estudantil da criança, gerando mais
vo-comportamental, no qual acontece um acompa- falta de atenção e interesse pelas atividades propostas
nhamento do paciente em questão e de sua família em sala, como também a dificuldade de aprendizagem.
no conhecimento a respeito da doença e quais as
A depressão nessa fase pode existir por si só ou
maneiras possíveis para lidar com ela, tanto em casa
estar associada a alguns fatores relevantes na vida
quanto na escola, proporcionando assim uma vida
da criança. De acordo com Aquino (1999, p. 65), a
social saudável.
infância é um tempo de desenvolvimento e aprendi-
zagem, assim como de descoberta de oportunidades e
9.3 Transtorno de conduta desafios. Nesse período, a depressão é mal compreen-
Outro transtorno possível de ser diagnosticado dida. A criança se mostra infeliz, desinteressada, com
como comorbidade é o transtorno de conduta, no a autoestima baixa. Tem a sensação de não ser amada,
qual se reconhecem mentiras frequentes, fugas, abu- não se sente segura e por essa razão sofre e se afasta
sos e crueldade. Esses fatores colaboram para destruir dos demais, o que prejudica seu desenvolvimento e sua
relacionamentos sociais, familiares e escolares, prevale- interação com outras crianças e também familiares.
cendo até a idade adulta. Ainda segundo Aquino, o prazer é parte integral
O transtorno de conduta, de acordo com o DSMI- da vida de uma criança e um componente necessá-
VTR (2002), é um padrão repetitivo e persistente rio para a aprendizagem, crescimento e divertimento
de comportamento, no qual são violados os direitos (1999, p. 67).
básicos dos outros ou as normas sociais. O transtorno Existem alguns comportamentos que indicam a
envolve violar regras, causar perdas ou danos a pro- presença da depressão na vida de uma criança: frequ-
priedades, defraudar ou furtar e causar danos físicos a ência e rendimento escolar baixos, fugas de casa, pro-
pessoas ou a animais. blemas de relacionamento com colegas e família. Essa
interação de múltiplos fatores pode ocasionar grande
O TDAH geralmente se dificuldade educacional, gerando um aprendizado
apresenta com comorbidades, fraco, quase inexistente.
As crianças em idade escolar podem receber
ou seja, outros transtornos em estrutura e apoio nesse ambiente, para lidar com sen-
conjunto. timentos fortes e muitas vezes incompreensíveis. Os
professores, unidos aos pais, podem oferecer cuida-
A investigação e a avaliação correta em relação às dos a fim de reduzir a reação depressiva, mostrando à
comorbidades pode ajudar na identificação de grupos criança que é amada e não ficará sozinha. Mas, além da
de pacientes específicos e na busca pelo tratamento intervenção de pais e educadores, profissionais podem
correto. Estando ciente do histórico familiar, de colaborar nesse processo de solução do conflito, com
acontecimentos marcantes e características pessoais do avaliações mais aprofundadas, testes criteriosos e tera-
paciente, há a oportunidade de respostas para o manejo pia individual, assim como familiar.
dos transtornos e a modificação cognitiva, já que esta
pode ser alterada com o propósito de melhorias, tanto 9.5 Transtorno da ansiedade generalizada
individuais quanto sociais.
De acordo com o DSMIVTR (2002), o trans-
torno de ansiedade generalizada consiste em ansiedade
9.4 Depressão na infância e preocupação excessivas com diversos eventos ou ati-
Existe ainda a depressão infantil, em que são iden- vidades. Ocorre na maioria dos dias durante aproxi-
tificadas alterações no comportamento, como retrai- madamente seis meses, sendo que o indivíduo consi-
mento, irritação, desânimo e agressividade. Entre as dera difícil controlar a preocupação.
razões existentes para o surgimento da depressão nessa Esse transtorno está associado a sintomas como: irri-
fase, podem ser destacadas: o próprio diagnóstico de tabilidade, inquietação e dificuldade de concentração. A

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A Psicologia do Comportamento Escolar

psicoterapia, terapia cognitiva comportamental em ques- (que causam acentuada ansiedade


tão, busca conceder aos pacientes o desenvolvimento de ou sofrimento) e ou compulsões
(que servem para neutralizar a
estratégias para lidar com os sintomas da ansiedade. ansiedade). As obsessões são ideias,
pensamentos, impulsos ou imagens
persistentes, que são vivenciados
9.6 Transtorno alimentar como intrusivos e inadequados e
A bulimia nervosa (BN) e a anorexia nervosa causam acentuada ansiedade ou
sofrimento. [...] As compulsões
(AN) são distúrbios alimentares, assim como o grupo são comportamentos repetitivos ou
dos não definidos (Ednos), que são mais comuns entre atos mentais cujo objetivo é preve-
os pacientes. nir ou reduzir a ansiedade ou sofri-
mento, em vez de oferecer prazer
A TCC para o tratamento desse transtorno tem ou gratificação (2002, p. 443).
como objetivo a redução dos sintomas. Knapp explica
que “o foco cognitivo é a preocupação extrema com a As crenças no TOC são identificadas como dis-
forma e peso e a proposta de atitudes alternativas mais funcionais e as técnicas cognitivas propõem a sua cor-
saudáveis em relação à comida, peso, forma e imagem reção. Knapp mostra algumas etapas na utilização da
corporal” (2004, p. 301). TCC para TOC: avaliação do paciente e indicação do
tratamento adequado; motivação e estabelecimento da
Barlow acredita que tanto a BN quanto a AN relação terapêutica; treinamento na identificação dos
podem ser tratadas pela TCC, ainda que a primeira sintomas; sessões de terapia com técnicas comporta-
seja mais pesquisada. Para ele, as estratégias terapêu- mentais e cognitivas para a correção de pensamentos e
ticas se estendem a outros transtornos, como a AN crenças disfuncionais e a prevenção da recaída com a
(BARLOW, 1999, p. 314). No caso da BN, o trata- terapia de manutenção (2004, p. 196).
mento é realizado com a psicoeducação, com informa-
ções a respeito dos sintomas da bulimia, compulsões
alimentares e as consequências médicas. 9.8 Transtorno de personalidade
A AN é considerada um transtorno grave e tem A TCC, ainda que tenha sido elaborada para
seu tratamento diferenciado da BN. Um programa de o tratamento do transtorno do humor unipolar, foi
TCC de três estágios foi desenvolvido para a AN. Nele estendida a outros distúrbios, como o caso do trans-
se avalia a natureza do distúrbio, auxiliando na motiva- torno de personalidade.
ção para uma mudança; prescrição de objetivos de peso; Esse distúrbio dificulta a interação social do seu
normalização de padrões alimentares; reconhecimento portador, já que este não tem um bom repertório para
das crenças disfuncionais relacionadas à comida e o tra- lidar com seus pensamentos e crenças distorcidas ou
balho com a autoestima (KNAPP, 2004, p. 302). disfuncionais. Ele se torna um indivíduo desconfiado
A observação desse quadro de distúrbio alimen- e evita contato íntimo com os demais. Para Knapp
tar, muitas vezes, é vista em primeira instância no (2004), esse comportamento é caracterizado como um
ambiente escolar. O banheiro é um local utilizado por desafio para terapeutas que lidam com pacientes que
várias crianças/adolescentes e estes percebem alguém apresentam esse transtorno.
realizando purgações (vômitos). Colegas notam que Para o tratamento, a TCC foca na modificação
determinado colega nunca lancha e sempre está preo- das crenças disfuncionais, como na aplicação de outros
cupado com sua aparência. Por meio de comentários distúrbios. Mas há algumas características que forçam
e em redações e composições de texto, o aluno, muita uma adaptação da terapia no acompanhamento ao
vezes, coloca a distorção cognitiva. Educadores atentos paciente, pois este tem problemas de relacionamento
e que conhecem os sintomas tomam providências ime- interpessoal. Por essa razão, o terapeuta se apresenta
diatamente para ajudar o aluno. mais confrontativo.

9.7 Transtorno obsessivo compulsivo – TOC 9.9 Transtorno de pânico – TP


O DSMIVTR diz que Circunstâncias desagradáveis e estressantes podem
O transtorno obsessivo compul- ocasionar o pânico, como a morte de pessoas signifi-
sivo caracterizase por obsessões cativas, doenças graves e conflitos. Essas ocorrências

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podem gerar sensações de ansiedade, característica ças inteligentes, normalmente escolarizadas e livres de
presente no distúrbio. interferências causadas por disfunções visuais, auditi-
A técnica da TCC para o tratamento do trans- vas ou lesões cerebrais. Também não pode ter como
torno do pânico é bem aceita entre os profissionais causa comprometimentos de origem emocional. Vem
acompanhada, quase constantemente, de grandes difi-
da saúde e professores, e tem mostrado sua eficácia ao
culdades na aquisição de regras ortográficas.
longo do tempo de experimentos.
O modelo cognitivo-comporta- Segundo Ciasca (2003), dislexia é a falha no
mental tem como foco principal o processamento da habilidade da leitura e da escrita
papel do medo dos sintomas físicos durante o desenvolvimento. É o mais incidente entre
associados à ansiedade, das cogni- os distúrbios específicos da aprendizagem, pois tem
ções catastróficas e da conduta evi-
como característica um atraso do desenvolvimento ou
tativa na gênese e na manutenção
do transtorno de pânico (OTTO; a diminuição em traduzir sons em símbolos gráficos e
DECKERSBACH apud KNAPP, compreender qualquer material escrito.
2004, p. 219).
Ainda para Ciasca (2003), as dificuldades de
aprendizagem ficam entre 5 e 7%, e as dificuldades
10 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM escolares entre 10 e 15%. Sabe-se que a incidência
da dislexia situa-se entre 10 e 15% da população,
Dificuldade de aprendizagem é uma expressão sem distinção entre raças, culturas ou condição
geral que se refere a várias desordens manifestadas nos socioeconômica.
processos de aquisição de leitura, escrita, fala, compre-
ensão auditiva e raciocínio matemático. Essas desordens As crianças disléxicas apresentam as seguintes
são intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam dificuldades: deficit perceptivo, transposições de letras
dificuldades funcionais relacionadas ao sistema nervoso e sílabas, inversões, substituições, inclusões, omissões,
central, e podem ocorrer durante toda a vida. perseverações, confusões entre vogais, confusões entre
sons surdos e sonoros.
O órgão privilegiado da aprendizagem é o cérebro. O
cérebro humano é um sistema complexo, que estabelece Para definir o que é dislexia, é necessário saber
relações com o mundo que o rodeia. Portanto, as relações o significado de leitura, que é uma forma de apren-
entre o cérebro e o comportamento e entre o cérebro e a dizagem simbólica, na qual mudanças podem alterar
os significados das palavras. Para a comprerensão da
aprendizagem são as mesmas quando se abordam as rela-
escrita, são necessárias atenção, organização e ima-
ções com as dificuldades de aprendizagem (DA).
gem mental.
Faz-se necessário conhecer a estrutura e o fun-
O Manual Diagnóstico de Transtornos Men-
cionamento do cérebro para melhor compreender
tais – DSMIV (2002, p. 112) dá a seguinte definição
as suas relações dinâmicas e complexas na apren-
para dislexia:
dizagem, porém, o foco deste trabalho é conhecer
melhor sobre a visão da reeducação da dislexia, por Comprometimento acentuado no
desenvolvimento das habilidades
uma abordagem estruturada.
de reconhecimento das palavras e
Atualmente, não se podem separar os aspectos da compreensão da leitura. O diag-
psicossociológicos ou psicoculturais dos aspectos neu- nóstico é realizado somente se esta
incapacidade interferir significati-
rofisiológicos ou neurobiológicos da concepção das vamente no desempenho escolar
dificuldades de aprendizagem. ou nas atividades da vida diária que
requerem habilidades de leitura.

10.1 Dislexia O diagnóstico da dislexia começa a partir da per-


cepção dos pais com relação à alfabetização da criança,
Quando se fala em dislexia, ainda é comum as
que mostra, aparentemente, um desinteresse pela
pessoas reagirem da seguinte forma: “O que é isso? Já leitura ou pela escrita. Além dos problemas específi-
ouvi falar, mas não sei o que é”. cos com a leitura, a criança passa por uma avaliação
A dislexia é uma dificuldade duradoura na apren- devido ao seu comportamento, resultado de um fra-
dizagem da leitura e de seu automatismo em crian- casso na aprendizagem.

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A Psicologia do Comportamento Escolar

Mais que conhecer o histórico familiar e cultural Segundo Ajurianguerra e Hécaen (apud ROTTA;
da criança, é preciso observar sua leitura e escrita: se OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 212), “a dispraxia
há confusão de letras, troca de sílabas e dificuldade de é um transtorno de atividade gestual aparecido em
compreensão do texto lido. O tratamento adequado um indivíduo cujos órgãos de execução da ação estão
para esse distúrbio consiste na reestruturação da lin- intactos e que tenha pleno conhecimento do ato a
guagem educacional e envolve uma avaliação especí- cumprir”. Segundo esses autores, existem alguns tipos
fica, pois a dislexia tem causas e sintomas que variam de dispraxia, entre elas:
de pessoa para pessoa. 2 alterações dos desempenhos motores – difi-
culdades motoras;
10.2 Discalculia 2 dispraxia construtiva – mais comum em
De acordo com a Academia Ame- crianças;
ricana de Psiquiatria, a discalculia é
a dificuldade em aprender matemá-
2 discinesia espacial – falta de organização dos
tica, com falhas para adquirir pro- movimentos;
ficiência adequada neste domínio
2 dispraxias especializadas – verbal, facial, ocu-
cognitivo, a despeito de inteligên-
cia normal, oportunidade escolar, lar, etc.
estabilidade emocional e motivação A dispraxia é uma das causas para a dificuldade
necessária (ROTTA; OHLWEILER;
RIESGO, 2006, p. 202).
de aprendizagem escolar, já que, nessa fase, a criança
se isola mais por causa de seus erros e falhas, sendo
Crianças com esse tipo de problema tendem a ser discriminada por seus colegas de classe por causa de
vistas como preguiçosas e desinteressadas, mas uma suas limitações motoras.
estimativa revela que cerca de 3 a 6% das crianças, em
geral, possui discalculia do desenvolvimento. Isso contribui para uma baixa autoestima, o que
prejudica todo o processo de desenvolvimento cog-
Os sintomas mais comuns são: erros na formula- nitivo. Como tratamento, a alternativa é a educação
ção dos números, incapacidade de realizar operações psicomotora que dá uma noção de espaço e de como
simples, dificuldades de ler corretamente e realizar lidar com ele, por meio de exercícios ritmados, relaxa-
operações como multiplicação e divisão. É necessário mentos e o domínio sobre o corpo.
haver um acompanhamento dos alunos que apresen-
tam dificuldades em matemática, pois eles precisam
ser estimulados com atividades para que seu desenvol- 10.4 Disgrafia
vimento cognitivo e as relações dentro da sala de aula A disgrafia se configura como um transtorno espe-
não sejam comprometidos. cífico de aprendizagem na área da linguagem escrita,
Duas estratégias importantes no manejo desse que acaba ocasionando prejuizos também no processo
transtorno são: o trabalho dos conceitos numéricos, de oralidade da leitura.
em que a criança faz associações dos símbolos à quan- Uma perturbação de tipo funcio-
tidade por meio de atividades; e as operações aritmé- nal que afeta a qualidade da escrita
ticas trabalhadas de maneira a incentivar a criança na do sujeito, no que se refere ao seu
traçado ou à grafia.” (Torres & Fer-
percepção da soma como acréscimo, subtração pela nández, 2001, p. 127); prende-se
diminuição e assim por diante. com a “codificação escrita (…),
com problemas de execução gráfica
e de escrita das palavras (CRUZ,
10.3 Dispraxia 2009, p. 180).
Para entender o conceito de dispraxia, primei- Se configura comumente como uma letra feia,
ramente deve-se conhecer sobre praxia, que pode ser contudo, apresenta também algumas características
definida como “a capacidade que o indivíduo tem de que precisam ser observaveis, como a rigidez no tra-
realizar um ato mais ou menos complexo, anterior- çado, a lentidão, o esforço excessivo, a dificuldade para
mente aprendido, de forma voluntária, ou seja, sob ler o que escreveu, letras desproporcionais quanto ao
ordem” (ROTTA, 2006, p. 208). tamanho e formas.

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10.5 Disortografia 10.6 TEA
A disortografia também se configura como um O Transtorno do Espectro do Autismo se confi-
transtorno específico de aprendizagem, voltado para gura como um transtorno neurobiológico que afeta
a área da linguagem; o sujeito apresenta dificuldade sobretudo as habilidades de comunicação e interação
na ortografia correta das palavras e sentenças. Pode ser social do sujeito; suas características e sintomas apre-
definida como sentam-se logo nos primeiros anos de vida do sujeito.
perturbação que afeta as aptidões da De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria,
escrita e que se traduz por dificul- alguns sinais podem ser observados logo no primeiro
dades persistentes e recorrentes na
capacidade da criança em compor
ano de vida de um sujeito que possui autismo, sendo:
textos escritos. As dificuldades cen- perder habilidades já adquiridas,
tram-se na organização, estrutura- como balbucio ou gesto dêitico de
ção e composição de textos escritos; alcançar, contato ocular ou sorriso
a construção frásica é pobre e geral- social; – não se voltar para sons,
mente curta, observa-se a presença ruídos e vozes no ambiente; – não
de múltiplos erros ortográficos e apresentar sorriso social; – baixo
[por vezes] má qualidade gráfica contato ocular e deficiência no olhar
(PEREIRA, 2009, p. 9). sustentado; – baixa atenção à face
humana (preferência por objetos);
Algumas estratégias e sugestões podem ser ofer- – demonstrar maior interesse por
tadas a pais e professores de crianças com este tipo de objetos do que por pessoas; – não
transtorno de aprendizagem. De acordo com Fernán- seguir objetos e pessoas próximos em
dez (2009, p. 6) são as seguintes: movimento; – apresentar pouca ou
nenhuma vocalização; – não aceitar
2 dizer à criança que você entende a sua difi- o toque; – não responder ao nome;
culdade e que você fará o que for possível – imitação pobre; – baixa frequência
de sorriso e reciprocidade social, bem
para ajudá-la;
como restrito engajamento social
2 entender que crianças com disortografia (pouca iniciativa e baixa disponibi-
apresentam necessidade de tempo maior lidade de resposta) – interesses não
usuais, como fixação em estímulos
para realizar as tarefas escritas e, então, ofe- sensório-viso-motores; – incômodo
recer mais tempo para essa tarefa em sala de incomum com sons altos; – distúrbio
aula é necessário; de sono moderado ou grave; – irrita-
bilidade no colo e pouca responsivi-
2 explicar para a criança como a escrita e a orto- dade no momento da amamentação.
grafia funcionam, podendo, depois, utilizar (2019, p.2).
a produção espontânea da própria criança
Como sujeitos com autismo apresentam deter-
(palavras e histórias de poucas linhas) para
minados prejuízos não apenas nas habilidades sociais,
explicar o que ocorreu com a escrita para, em mas nas comunicacionais, recomenda-se o acompa-
seguida, promover a escrita ortográfica; nhamento de terapias diversas, como fonoaudiologia,
2 diferenciar os erros de ortografia das falhas musicoterapia, psicopedagofia, terapia ocupacional,
de compreensão e possibilidade de elabora- equoterapia, dentre outras.
ção de respostas, para que a avaliação incida Na escola, os professores precisam ficar atentos
sobre o conteúdo; quanto a sujeitos com autismo, precisam criar ambien-
2 a criança deve saber o que fez e por que pre- tes confortáveis, criando vínculos de transferência,
cisa corrigir; objetivando fazer com que o sujeito se sinta parte do
processo, conhecendo seus interesses e pontos de afeto.
2 valorizar o empenho do aluno e não somente
o desempenho;
2 ajudar em provas escritas na leitura, para que
10.7 Técnicas cognitivas comportamentais que
a criança não fique sem entender; o professor pode utilizar no ambiente escolar
2 usar provas orais como um recurso extra se a A psicologia do comportamento escolar utiliza
escrita estiver muito comprometida. muitas técnicas da terapia cognitiva comportamental.

20 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Psicologia do Comportamento Escolar

Embora sejam muito utilizadas para o tratamento de plementam no incentivo ao aprendizado, “mantendo
diversos transtornos, existem algumas técnicas bas- o tratamento bemorganizado, eficiente e focado”
tante comuns para os comportamentos em sala de aula (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008, p. 59).
ou no ambiente escolar. A fim de utilizar o meio mais acertado, é preciso
Para a utilização da terapia, existem técnicas cog- haver um minucioso diagnóstico, pois a criança não
nitivas que auxiliam o terapeuta no alcance de seus consegue, por mais que compreenda as circunstâncias
objetivos. Segundo Beck (apud KNAPP): dos problemas que enfrenta, estabelecer uma narrativa
[...] A terapia cognitiva não é defi- organizada para que seu terapeuta possa elaborar um
nida pelas técnicas que são empre- diagnóstico de seu transtorno. Após esse diagnóstico,
gadas, mas pela ênfase que o tera- baseado em critérios e dados, o terapeuta usa a lingua-
peuta dá ao papel dos pensamentos gem mais acessível e compreensível à criança, desde a
na causa e manutenção dos trans-
gráfica até a teatral.
tornos (2004, p. 133).
Os problemas podem ter várias raízes: ser asso-
Entre as técnicas comportamentais, podem ser
ciados a fatores genéticos, em que cromossomopa-
destacadas:
tias podem alterar o comportamento do aluno; pro-
2 monitoramento – o aluno, com a ajuda do blemas familiares, em que abusos e traumas podem
professor, controla comportamentos especí- fazer a diferença. Qual seja a fonte do problema, ele
ficos. Por exemplo: com o uso do baralho precisa ser identificado, compreendido, diagnosti-
das emoções. cado e tratado, para que o educando não tenha pre-
2 programação de atividades – o professor juízos na fase adulta, em relacionamentos pessoais,
prescreve atividades diárias que podem trazer sociais e de trabalho.
recompensas ao aluno.
2 prescrição de tarefas graduais – como auxí- 11 CONSIDERAÇÕES
lio ao aluno para que não se sinta deprimido;
Tendo como base a relação existente entre o
sugestão de atividades benéficas que ele
mesmo se propõe a realizar. comportamento escolar e a psicologia, compreende-
-se que há a necessidade de um cuidado e acompa-
2 resolução de problemas – o professor dis- nhamento maior em sala de aula, a fim de reconhecer
ponibiliza uma variedade de respostas como e definir problemas a serem trabalhados com o auxí-
alternativas a situações problemáticas. Iden- lio de professores, profissionais da área – terapeutas,
tificar o problema, avaliar as consequências psicólogos, psicopedagogos etc. – e a interação de
de cada solução, escolher e colocar em prá- alunos e pais.
tica a solução preferencial.
Todas as ações em sala de aula refletem situações
2 controle de contingências – os professores,
vividas pelas crianças e podem ocasionar consequên-
orientados pelo terapeuta, identificam o
cias influentes no desenvolvimento individual e social.
comportamento do aluno, cumprido por
Por essa razão, a criança precisa aprender a se relacio-
interesse, e estabelecem uma recompensa.
nar sem que os problemas sejam fatores determinantes
2 avaliação e modificação de crenças – as no processo de aprendizagem.
crenças precisam ser modificadas; para isso,
A psicologia possui as ferramentas necessárias
utiliza-se o exame de vantagens e desvanta-
para identificar distúrbios que possam interromper a
gens, experimento comportamental,etc.
aprendizagem, mecanismos para lidar com as proble-
2 experimento comportamental – usado com máticas como violência e desrespeito, que se refiram
o propósito de avaliar os pensamentos e cren- ao ambiente escolar ou familiar. Assim, é possível ame-
ças do aluno, examina os resultados de seu nizar marcas características, ocasionadas por diversas
experimento e considera a modificação de causas e contextos que tendem a influenciar e, até
suas crenças. mesmo, danificar o ambiente em sala de aula por meio
A estruturação e a educação caminham unidas no de comportamentos inaceitáveis, agressivos e que pre-
processo de tratamento da TCC, pois ambas se com- judicam as relações sociais.

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 21


REFERÊNCIAS OHDE, L. A.; MATTOS, P. Princípios e práticas em
TDAH. Porto Alegre: Artmed, 2003.
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Artes Médicas, 1995. hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION PARRAT-DAYAN, S. (2008). Como enfrentar a
(APA). DSM IV TR: Manual Diagnóstico e indisciplina na escola. São Paulo: Contexto.
Estatístico de Transtornos Mentais. 4ª Edição PEREIRA, R. S. (2009). Dislexia e Disortografia –
Revisada. Porto Alegre: Artmed, 2002 Programa de Intervenção e Reeducação (vol. I e II).
AGÜERA, L. G. Além da inteligência emocional. Montijo: You!Books.
São Paulo: Cengage Learning, 2008. ROGERS, B. Gestão de relacionamento e
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Disortografia e Disgrafia. Amadora: McGrawHill.
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Específicas. Lisboa: LIDEL - Edições Técnicas, Lda. WRIGHT, J.; BASCO, M.; THASE, M. Aprendendo
a terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre:
DSMIVTR. Manual diagnóstico e estatístico de
Artmed, 2008.
transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos:
FERNANDEZ, Ygual Amparo. Avaliação e intervenção
teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática.
da disortografia baseada na semiologia dos erros:
Porto Alegre: Artmed, 1999.
revisão da literatura. Ver. CEFAC, São Paulo.

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Material Complementar
LEITURAS COMPLEMENTARES
Os textos a seguir selecionados para leitura e desenvolvimento acadêmico retratam as produções de pes-
quisadores da área. A leitura e a análise desses textos contribui para o seu conhecimento, além de subsidiar a
realização das avaliações, já que as questões são elaboradas também a partir deles.
Para acessar os sites a seguir basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.
BOLSONI SILVA, A. T.; DEL PRETTE, A. Problemas de comportamento: um panorama da área. Revista
Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 91103, dez. 2003. Disponível
em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtcc/v5n2/v5n2a02.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2021.
SOUZA, I.; SERRA, M. A.; MATTOS, P.; FRANCO, V. A. Comorbidade em crianças e adolescentes com
transtorno do deficit de atenção. Arquivos de Neuro−Psiquiatria, São Paulo, v. 59, n. 2b, p. 401406, jun.
2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/anp/v59n2B/a17v592b.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2021.
PEDROZA, Regina Lucia Sucupira. Psicanálise e educação: análise das práticas pedagógicas e formação do pro-
fessor. Psicol. educ., São Paulo , n. 30, p. 81-96, jun. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752010000100007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 2 fev. 2021.
SILVA, Gustavo Thayllon França. Métodos de avaliação e intervenção clínica psicopedagogicas: uma análise
através das dificuldades de aprendizagens. Disponível em: http://co.unicaen.com.br:89/periodicos/index.php/
UNICA/article/view/134. Acesso em: 2 fev. 2021.
SILVA, Gustavo Thayllon França; BARBOSA, Gabriele Fernanda Cordeiro. Processo de alfabetização de
crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo. Disponível em: https://uninter.com/
cadernosuninter/index.php/intersaberes/article/view/1295. Acesso em: 2 fev. 2021.
RODRIGUES, Sônia das Dores; CIASCA, Sylvia Maria. Dislexia na escola: identificação e possibilidades de
intervenção. Rev. psicopedag., v. 33, n. 100, p. 86-97, 2016 . Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862016000100010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 2 fev. 2021.
HIPOLITO, Rodolfo. Uma visão multidisciplinar dos transtornos de aprendizagem. Psicol. esc. educ.,
v. 12, n. 2, p. 463-465, 2008 . Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1413-85572008000200018&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 2 fev. 2021.
SILVA, Gustavo Thayllon França; SILVA, Arthur Araújo. Neurociência educacional enquanto instrumento
de apoio à Psicopedagogia. Disponível em: https://www.cadernosuninter.com/index.php/intersaberes/article/
view/1349. Acesso em 30/09/2021.
LIRA, Jessica; ROCHA, Julliana. Freud: contribuições acerca da aprendizagem e suas implicações educacionais.
Vínculo, v. 9, n. 2, p. 39-43, 2012. Disponível em: : http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstrac-
t&pid=S1806-24902012000200007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 30/09/2021.

VÍDEOS
Os vídeos selecionados retratam de forma audiovisual os conceitos abordados nesta disciplina.
Para acessar os sites a seguir basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.

1. Psicanálise e educação
Nesta sequência de vídeos, apresenta-se toda a história da psicanálise, desde os primórdios de seu fundador até
chegar nas questões contemporâneas, do ID, EGO, SUPEREGO, inconsciente, pré-consciente, consciente,
ansiedade, complexo de Édipo, dentre outros. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XxDP90so-
ZJk. Acesso em: 3 mar. 2021.

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A Psicologia do Comportamento Escolar

2.Inteligência emocional
A inteligência emocional é conhecida como a inteligência do coração, pois está diretamente ligada às emoções
humanas. Ela é a expressão do domínio das emoções para lidar com situações diárias. O psicólogo interpessoal
Lacordaire Faiad afirma, nesse vídeo, que a criança necessita do adulto para socializá-la em seu contexto cultu-
ral, o que interfere nas relações futuras. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PSxY43eGHXg.
Acesso em: 2 fev. 2021.

3. Hiperatividade e déficit de atenção na escola – parte 1


O aprender implica em diversidade, e o desafio do educador não é encontrar o melhor método a ser uti- lizado,
mas aprender a incluir o diferente dentro de um contexto, o que nem sempre é uma tarefa fácil. É o que explica
a psicopedagoga Ana Silvia nesse vídeo sobre TDAH na escola. Disponível em: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=vd0i4l3hu28. Acesso em 30/09/2021.

4. Hiperatividade e déficit de atenção na escola – parte 2.


Esse vídeo apresenta a visão do psiquiatra infantil Luís Augusto Rohde, que acredita que a estrutura da escola
e o ambiente escolar precisam ser elaborados e adequados para que crianças com problemas como TDAH pos-
sam se desenvolver. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=98FGzjHOvBo&feature=PlayList &p=
7143FE26 C5E4F830&index=16. Acesso em: 2 fev. 2021.

5. Transtornos de aprendizagem
Este vídeo apresenta caracteristicas muito interessantes para nossas discussões, comentando acerca da diferen-
ciação das dificuldades de aprendizagem e dos transtornos específicos de aprendizagem enquanto um campo
do conhecimento interdisciplinar. Além disso, o vídeo apresenta as diferenças que existem entre os dois termos.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sOcrCJ1RTGg. Acesso em: 2 fev. 2021.

6. Discalculia
Neste vídeo, a Dr. Nádia Bossa conversa acerca do transtorno específico da aprendizagem que traz prejuizos
na matemática, bem como formas de avaliação pelo profissional da psicologia, psicopedagogia e pedagogia, A
Dr. Nádia mostra exemplos claros de produções de seus pacientes. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=mfHXkM1ctD0&t=69s. Acesso em: 2 fev. 2021.

7. Dislexia
Neste vídeo, apresenta-se uma entrevista em que o foco é a dislexia enquanto transtorno específico de apren-
dizagem, que interfere sobretudo nas linguagens orais e escrita e em todo o seu processamento, bem como nas
dificuldades voltadas para a consciência fonológica. O vídeo apresenta um dialógo acerca das causas, sintomas e
tratamentos deste transtorno. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Uo418gQTPnY. Acesso em:
2 fev. 2021.

8. Disgrafia
Neste vídeo, a Dr. Nádia Bossa comenta acerca do transtorno da escrita, denominado disgrafia. Este trans-
torno caracteriza-se em uma dificuldade acentuada do sujeito escrever letras e números, comumente conhecido
como “letra feia”. Ela endossa as questões relacionadas ao diagnóstico, avaliação e interrvenção. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=7tndJj-RapY. Acesso em: 2 fev. 2021.

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 25


26 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL

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