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HIPÓTESES DE ESCRITA
Dolores Schussler
1 Processo psicogenético do objeto escrita
As crianças são leitoras de seu mundo antes mesmo de serem alfabetizadas
oficialmente, sobretudo, porque já vivenciaram marcas da escrita, manifestaram
curiosidades em relação à escrita, já pensaram sobre a escrita e fizeram registros a seus
modos, que é a porta de entrada para o mundo da escrita e da leitura. Entretanto, mesmo
que elas já possuam noções básicas dos traçados iniciais, neste caso a língua escrita, o
objeto, a escrita alfabética em forma de sistematização1 até a apropriação do sistema de
escrita alfabética, inúmeras delas ainda apresentam dificuldades em transpor as técnicas
da escrita na representação das letras e palavras.
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É no espaço escolar que, para a maioria das crianças, o processo de desenvolvimento da escrita ocorre de forma sistemática.
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Que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da sua vida, de uma evolução natural, cognitiva quando a
criança constrói seu conhecimento na interação com o meio e se desenvolve ao longo de estágios para evoluírem, que são: estágio
sensório motor, (do nascimento até aproximadamente dois anos de idade); estágio pré-operatório (mais ou menos 7 - 8 anos); estágio
operatório concreto (em média, até os 11 - 12 anos) estágio operatório formal (por volta dos 14 – 15 anos de idade).
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Talvez possam ter influenciado uma desmetodização no processo de alfabetização, passando do como se ensina para o como se
aprende, ou seja: O aprendente “[...] é a criança em desenvolvimento e o objeto a ser aprendido é a escrita alfabética e seus usos;
aquele que ensina a/o professora/or alfabetizadora/or e a interação entre quem aprende e quem ensina. Em outras palavras, inclui a
criança que aprende um objeto de conhecimento – a língua escrita- e aquele que com ela interage para que
ela se aproprie desse objeto”. (SOARES (2020, p. 41).
sim, uma teoria de aprendizagem construtivista4, mostrando como objetivo, o processo
de um caminho pelo qual a criança percorre até alfabetizar-se. Em vista dessa
intencionalidade, Ferreiro e Teberoski (1999, p. 17), esclarecem que o objetivo foi: “[...]
tentar uma explicação dos processos e das formas mediante as quais a criança consegue
aprender a ler e a escrever”, e, “[...] apresentar a interpretação do processo do ponto de
vista do sujeito que aprende [...] ou seja, [...] o caminho que a criança deverá percorrer
para compreender as características, o valor e a função da escrita [...]”. Soares (2020, p.
55) concebe que Ferreiro e Teberosky:
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Sobre o termo construtivismo, para Soares, (2020, p. 56), [...] designa uma teoria de desenvolvimento do conhecimento que se aplica
à diversas áreas, não apenas à alfabetização; sobretudo, não é um “método” de alfabetização como tem sido erroneamente
considerado”. (SOARES, 2020, p. 56). Construtivismo é uma abordagem metodológica..
necessárias para que os alunos possam ter avanços evolutivos e progressivos na
construção da escrita.
Cabe ressaltar, que para tais intencionalidades, requer-se que se realizem períodos
de sondagem5, que se constituem referência das várias formas de construção do sistema
de escrita em que as crianças se encontram. Segundo Soares (2020, p. 57), “diagnosticar
os níveis de compreensão da escrita6 em que se encontram as crianças, tem para a ação
educativa de alfabetizar em situação escolar, objetivos pedagógicos [...]”. A autora
conclui: “A partir desse diagnóstico, podem ser definidos procedimentos de mediação
pedagógica que estimulem e orientem as crianças a progredir, a avançar de um nível
seguinte, atuando, nas palavras de Vygotsky, sobre sua zona de desenvolvimento
potencial [...]” (SOARES, 2020, p. 57). Sobre as primeiras escritas da criança, Soares,
(2020, p. 61), assim refere:
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Sugere-se as sondagens: iniciais e posteriormente seus avanços em sondagem mensal ou bimestral, durante toda a etapa do ciclo
da alfabetização.
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Necessário pedagogicamente diagnosticar periodicamente.
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Concebe-la como protagonista no processo, que ela escreve do jeito dela, o que ela já sabe, omite letras, palavras, mas não significa
que a criança aprende sozinha, corrigir sim, mas deixá-la fazer suas próprias descobertas, por exemplo, descobrir os erros cometidos,
mediando, apontando, como dizer à ela- (Você não acha que está faltando uma letra nesta palavra, etc.). Isso protagoniza suas próprias
aprendizagens, pois ela está em processo construtivo.
unidade, representando ou o nome do objeto desenhado ou uma oração
associada à imagem. Na terceira fase, a criança começa a considerar
algumas das propriedades físicas ou gráficas do texto. Finalmente, na
quarta fase, ela começa a busca por uma correspondência termo a termo
entre fragmentos gráficos e segmentações sonoras. As autoras ressaltam
que “em todos os níveis o significado do texto é prognosticado a partir
da imagem.
Ferreiro e Teberosky (1986, p.22) mencionam ainda que a criança, ao experimentar
a construção do conhecimento socialmente já criado, erra e isso faz parte do processo,
porque ela “compara, exclui, ordena, categoriza, reformula, comprova, formula hipóteses,
reorganiza etc., em ação interiorizada (pensamento)”. Destacam, portanto as autoras:
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Compreendendo desenvolvimento e aprendizagem, de acordo com Soares (2020, p.52): Desenvolvimento: Processo que resulta dos
níveis de maturação psicológica da criança em interação com experiências com a língua escrita em seu contexto sociocultural- o
desenvolvimento de dentro para fora. Aprendizagem: Processo pelo qual a criança, pela mediação de outros, adquire informações
sobre a escrita e habilidades com a escrita , o que possibilita que formule e reformule conceitos a respeito de escrita – a aprendizagem
se faz de fora para dentro.
escrita é o de ‘marcas’ em diferentes suportes. As crianças tentam imitar essas marcas
inicialmente em rabiscos [...] e finalmente com letras [...]”. (SOARES, 2020, p.77; grifos
da autora).
Neste processo, às vezes ela segura o lápis com as duas mãos, sem um parâmetro,
em movimentos de diversas direções até mesmo saindo do limite da folha. Na sequência,
elas vão fazendo traços, desenhos em formatos circulares de figuras que representam
animais, humanos, etc. São tentativas de representar aquilo que imaginam estarem
escrevendo, grafismos que vão mudando, evoluindo com a idade. Essas crianças
encontram-se no nível pré-silábico. Para Ferreiro e Teberosky (1999, p.194):
Entretanto no estágio silábico sem valor sonoro elas utilizam qualquer letra para
escrever uma palavra, e, muitas vezes utiliza uma letra para cada sílaba, ou qualquer letra,
como por exemplo: a palavra “CAVALO” pode ser escrita por ela nas letras: “ERT”, ou
outras letras, talvez as consoantes ou vogais que elas já conhecem. É possível observar
escritas apresentadas por Soares (2020), que foram colhidas em grupos de crianças,
produzidas por elas. As crianças segmentam palavras em sílabas, mas usam uma letra ou
qualquer letra para cada sílaba, sem ter relação com a sílaba. Soares (2020, p. 88)
menciona que neste processo, “[...] ainda não chegaram ao conceito de que as letras
representam sons da fala, ainda não atribuem valor sonoro à sílaba”. Salienta ainda:
Quando for questionada sobre a quantidade de vezes que se abre a boca para
pronunciar determinada palavra, por exemplo, torna-se consciente de que a palavra tem
uma maior quantidade de letras, porém usa ainda letras conhecidas por ela até então, mas
são letras que correspondem aos sons (valores sonoros). Assim sendo, na correspondência
sonora, ainda é comum que elas omitam letras ou usam mais letras do que requer a
palavra. Em vista disso, embora já escreveram usando as sílabas das palavras com valor
sonoro “[...] ainda [...] não conseguem ler o que escreveram sem o apoio das figuras, mas
já [...] dizem o nome das letras” (SOARES, 2020, p. 99).
Para avançar, Soares (2020, p. 88) menciona que é importante propor atividades
que estimulam a criança avançar para o nível silábico com valor sonoro, como “jogos
lúdicos de aliteração9 e rima, com palavras retiradas de parlendas, poemas ou histórias,
colaboram para tornar consciente o som da sílaba [...]”. Pedagogicamente, na didática é
desenvolver a “[...] consciência fonológica por meio de atividades de reconhecimento de
sons iguais no início ou fim de palavras diferentes [...] e que sejam adequadas ao nível de
conceitualização da escrita das crianças” (SOARES, 2020, p. 89). Para Ferreiro e
Teberosky (1994, p. 266)
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De aliterações são as semelhanças sonoras que aparecem no começo das palavras; e rimas são semelhanças sonoras que aparecem
no final das palavras. Ambos se complementam.
com respeito aos níveis precedentes. (FERREIRO E TEBEROSKY, 1986 apud MOLL,
1996, p. 111).
Quando a criança começa a trabalhar com a hipótese silábica- alfabética, duas das
características da escrita anterior podem desaparecer momentaneamente. A criança
começa a escrever com maior correspondência, ainda que às vezes, também omita
algumas letras ao escrever.
Ainda sob este nível de escrita, quando a criança está tentando aproximar o
máximo à representação sonora da representação gráfica, ainda está em conflitos,
continua tendo dificuldades, já em aspectos menores, ela já escreve as palavras e frases,
mas confunde as letras que sinalizam a mesma palavra, ou seja, suas representações ainda
se confundem como o som, como no exemplo da palavra (Casa) em que poderá substituir
o “C” por “K” e o “S” por “Z”, e assim sucessivamente com outras palavras que possuem
letras com sons parecidos. Ferreiro e Teberosky (1986) descrevem, “[...] isto não quer
dizer que as dificuldades tenham sido superadas: a partir do momento que se defronta
com as dificuldades próprias da ortografia, mas não terá problemas de escrita, no sentido
estrito” (FERREIRO E TEBEROSKY, 1986 apud MOLL, 1996, p.113).
Dentro das dificuldades da própria ortografia, quando nesta fase são comuns os
erros ortográficos, as crianças sabem que a escrita está relacionada à pauta sonora, da
cadeia sonora da fala, elas têm tendência a escrever exatamente como se pronunciam as
palavras. Deste modo, a criança pode combinar só vogais ou só consoantes, fazendo
grafias equivalentes para palavras diferentes ou combinar vogais e consoantes numa
mesma palavra, na tentativa de ajustar os sons, mas sem tornar ainda sua escrita
socializável. Soares (2020, p. 109), enfatiza que: “Neste nível, há um avanço qualitativo-
a criança percebe que o som de algumas sílabas pode ser segmentado, em mais de um
som (mais de um fonema) [...] ou seja, já identifica alguns fonemas – e relaciona os sons
com as letras que os representam”.
Sob a ótica dos conflitos vivenciados pela criança, talvez aquela que apresenta
hipótese de escrita silábica-alfabética possa não ter aprendido as correspondências
fonemas-letras (SOARES, 2020). Enfim, os possiveis erros cometidos pela criança,
nesses caminhos, são sempre construtivos e passiveis de resolução pela própria criança,
na medida que o objetivo é o avanço progressivo.
Mesmo assim, segundo a autora, é um grande avanço para a criança “ao escrever
com maior correspondência, pois, “[...] avançaram em seu conceito da natureza da escrita
na representação de sons da fala, já se aproximando do nível do fonema” (SOARES,
2020, p. 112). Para Moll (1996, p. 113) “no processo psicogenético da construção da
escrita, Ferreiro e Teberosky apresentam o nível “[...] como a passagem da hipótese
silábica para a alfabética”. Então, o período silábico-alfabético marca a transição entre o
que ela vai abandonando das hipóteses anteriores e as seguintes, quando ela ingressa num
passo futuro, quando ela está muito próxima para a descoberta da escrita alfabética.
Nessa fase, embora ainda possa omitir letras e não separar todas as palavras na
frase, juntar muitas palavras numa só, esquecendo algumas letras, etc., ela é capaz de
demonstrar que conhece o modo de construção da escrita. Na escrita alfabética a criança
já venceu praticamente todos os obstáculos conceituais para a compreensão do sistema
alfabético de escrita. Para Ferreiro e Teberosky (1999, p. 219):
[...] Isto não quer dizer que as dificuldades tenham sido superadas: a
partir do momento que se defronta com as dificuldades próprias da
ortografia, mas não terá problemas de escrita, no sentido estrito. (Apud
MOLL,1996, p. 113).
Contudo, se as dificuldades e os conflitos persistem, mas de maneira menos
expressiva, pois a criança já escreve as palavras e frases corretas.
Isto posto, implica, porém, que nesse processo, Soares (2020) aponta que por
vezes, em sala de aula, “[...] embora o desenvolvimento e a aprendizagem sejam lineares,
poderão ocorrer entre elas, ritmos diferentes, dependendo da facilidade ou dificuldades
de aprendizagem [...]”. A criança pode apresentar uma certa oscilação na construção da
escrita, contudo, isso faz parte do desenvolvimento.
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(geralmente no final do 2º ano).
regridem: em um momento estão numa fase, em seguida voltam a fase
anterior; há crianças que estão simultaneamente em mais de uma fase
[...] escrevem algumas palavras silabicamente com valor sonoro, outras
sem valor sonoro, ou em algumas palavras são silábicas com valor
sonoro, em outras, silábico-alfabéticas, etc. (SOARES, 2020, p. 115).
Percebemos que em seus processos evolutivos poderão ocorrer também que
algumas pulem uma das etapas ou até mesmo possam transitar por mais de uma etapa ao
mesmo tempo. Nesse sentido, considera-se que nenhuma aprendizagem é uniforme, e, de
repente algumas depois de alguns meses estejam alfabetizados, enquanto outras requerem
de dois a três anos para consolidar suas aprendizagens básicas.
Todavia, sabendo que cada fase correponde a um caminho que a criança percorre
em suas características específicas de aprendizados até alfabetizar-se, cada passo, cada
fase concluída é sempre um processo construtivo, que é o caminho para o
desenvolvimento da leitura e da escrita. De modo geral, ao se tornarem alfabéticas, elas
já escrevem basicamente de modo correto e possuem fluência de leitura, podendo talvez
ler ainda de modo devagar, se propõe a pensar algumas palavras, soletra silenciosamente,
etc. Quando a criança atinge o nível de hipótese de escrita alfabética, é o ponto de chegada
para avançar, progredir em estudos posteriores, embora ela ainda se defronte com
dificuldades próprias de ortografia, na fixação das regras da língua escrita.
Em tempo:
Para ampliar conhecimentos, sugiro a leitura do livro: SOARES, Magda.
Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e escrever. Contexto, SP,
REFERÊNCIAS
2020.
REFERÊNCIAS
SOARES, Magda. Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e escrever. Contexto,
SP, 2020.