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PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA: AS HIPÓTESES DE ESCRITA

NO CONTEXTO DA SALA DE AULA

SÍNTESE

A Psicogênese da língua escrita descreve como o aprendiz se apropria dos


conceitos e das habilidades de ler e escrever, mostrando que a aquisição desses atos
linguísticos segue um percurso semelhante àquele que a humanidade percorreu até
chegar ao sistema alfabético, ou seja, o aluno, na fase pré-silábica do caminho que
percorre até alfabetizar-se, ignora que a palavra escrita representa a palavra falada e
desconhece como essa representação se processa.
O referencial teórico da Psicogênese da língua escrita leva-nos a entender que a
escrita é uma reconstrução real e inteligente, com um sistema de representação
historicamente construído pela humanidade e pela criança que se alfabetiza, embora não
reinvente as letras e os números.
A criança alfabetiza a si mesma e inicia essa aprendizagem antes mesmo de
entrar na escola, e seus efeitos prolongam-se após a ação pedagógica período durante o
qual para conhecer a natureza da escrita deve participar de atividades de produção e
interpretação escritas, tendo o professor o papel de mediador entre a criança e a escrita,
criando estratégias que propiciem o contato do aprendiz com esse objeto social para que
possa pensar e agir sobre ele.
A mediação do alfabetizador não o desobriga de seu papel de informante sobre
as convenções do código escrito. Ele pode aproveitar o subsídio dos alfabetizados ou
mesmo de alunos da classe que estejam em níveis mais avançados de escrita e que
possam ser informantes das relações a serem descobertas pelos que se encontrem em
fases de escrita mais primitivas
Nesse contexto, os erros são parte do processo individual de “construir” os
conceitos necessários à compreensão do sistema, diante do processo de construção da
escrita como um sistema de representação da linguagem, concebendo a criança como
protagonista do seu próprio aprendizado. O educador, por sua vez, precisará
compreender todo esse processo de construção, para poder intervir de forma competente
nas hipóteses elaboradas pela criança.
Relevante é lembrar que juntamente com as revelações de Ferreiro e
Teberosky, já descritas, foram divulgadas concepções que não eram delas, mas
geradoras de muitos equívocos, que inclusive lhes causaram muito constrangimento.
Essas concepções foram e continuam sendo divulgadas até hoje.
A partir desse modo de pensar, as crianças acabam desenvolvendo sistemas de
interpretação que são como os esquemas de assimilação, isso porque toda informação
interpretada pela criança, faz com que ela crie sentido a tudo aquilo que está sendo
interpretado. No processo em questão, de assimilação alfabética e da produção escrita, a
criança, em sua aprendizagem e desenvolvimento dessa linguagem, elabora sistemas.
Com base nesses pressupostos, Emilia Ferreiro critica a alfabetização tradicional,
porque julga a prontidão das crianças para o aprendizado da leitura e da escrita por meio
de avaliações de percepção (capacidade de discriminar sons e sinais, por exemplo) e de
motricidade (coordenação, orientação espacial etc.).
Dessa forma, dá-se peso excessivo para um aspecto exterior da escrita (saber
desenhar as letras) e deixa-se de lado suas características conceituais, ou seja, a
compreensão da natureza da escrita e sua organização. Para os construtivistas, o
aprendizado da alfabetização não ocorre desligado do conteúdo da escrita.
É por não levar em conta o ponto mais importante da alfabetização que os
métodos tradicionais insistem em introduzir os alunos à leitura com palavras
aparentemente simples e sonoras (como babá, bebê, papa), mas que, do ponto de vista
da assimilação das crianças, simplesmente não se ligam a nada. Segundo o mesmo
raciocínio equivocado, o contato da criança com a organização da escrita é adiado para
quando ela já for capaz de ler as palavras isoladas, embora as relações que ela
estabelece com os textos inteiros sejam enriquecedoras desde o início.
Atualmente, os professores definem o processo de alfabetização como
sinônimo de uma técnica. Entretanto, no processo de alfabetização inicial nem sempre
esses critérios são utilizados. Os professores ensinam da mesma maneira como
aprenderam quando eram alunos, e não aceitam os erros que seus alunos cometem.
Uma das principais consequências dos ensinamentos trazidos pela obra de
Emília Ferreiro na alfabetização é a recusa ao uso das cartilhas. Segundo ela, a
compreensão da função social da escrita deve ser estimulada com o uso de textos de
atualidade, livros, histórias, jornais, revistas.

REFERÊNCIAS
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1985.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes


Médicas Sul, 1999

FERREIRO, E; PALACIO, M.G. Os processos de leitura e escrita. Novas perspectivas.


Porto Alegre; Artmed, 1987.

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