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Graduação em Psicologia
Belo Horizonte
2020
Nathalia Malta Martins
Belo Horizonte
2020
Nathalia Malta Martins
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Carla de Abreu Machado Derzi (Orientadora) – PUC Minas
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Hélio Cardoso de Miranda Júnior (Leitor) – PUC Minas
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7
2 METODOLOGIA .................................................................................................. 9
3 HISTÓRIA DE O ................................................................................................. 11
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 28
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1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
Para responder os objetivos desta pesquisa será realizada uma análise das
manifestações clínicas da personagem fictícia do livro de Pauline Rèage ,“A História
de O” (2005), chamada O. Tal livro servirá de análise para o projeto em questão,
para remeter a teoria do gozo masoquista, as pulsões de morte e como tais pulsões
se manifestam em um sujeito, no caso em questão, em O.
Para fazer a análise, será utilizada a pesquisa qualitativa. Segundo Neves
(1996), a pesquisa qualitativa consiste em um conjunto de técnicas interpretativas
que têm como objetivo descrever e decodificar, a partir de um estudo de dados
descritivos com um contato direto, o objeto estudado. Ainda segundo o autor, a
perspectiva do que será estudado é levada em conta, as singularidades fazem parte
da pesquisa. Além de não ser uma pesquisa que busca enumerar ou medir eventos.
O estudo será também conduzido através de pesquisas bibliográficas que
constituirão uma revisão de literatura. Lakatos (2002) cita que a pesquisa
bibliográfica é a pesquisa feita a partir de toda bibliografia que foi publicada acerca
de um tema. Tais publicações podem ser de jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias e também podem ser de vias orais, como, rádio e gravações e ainda de
filmes, documentários, etc. Porém, a autora enfatiza que a pesquisa bibliográfica não
é uma cópia do que já foi dito por outros autores e sim “[...] propicia o exame de um
tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras.” (p. 71,
2002). Pode-se dizer, mais especificamente que será utilizada, dentro da pesquisa
bibliográfica, a pesquisa psicanalítica, pois esta será a abordagem principal para
realizar a análise da obra literária.
Para Moreira et al (2018) ao realizar uma pesquisa psicanalítica o
pesquisador deve ocupar uma posição de analisante, ou seja, deve ser movido pelo
não saber e enquanto pesquisa, como consequência, produz efeitos em si mesmo. É
uma pesquisa que leva em conta a própria subjetividade do pesquisador, dito de
outra forma, é o olhar do pesquisador que dará forma ao objeto de pesquisa, é a
partir da transferência que se estruturará a pesquisa. (ELIA, 1999 apud MOREIRA et
al, 2018). Um dos pontos cruciais deste tipo de pesquisa, ainda segundo a autora, é
que ela parte da afetação do analista pelo real da clínica e sua característica, é a
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3 A HISTÓRIA DE O
Ele a possuiria assim, como um deus possui suas criaturas, das quais ele se
apodera sob o disfarce de um monstro ou de um pássaro, do espírito
invisível ou do êxtase. Ele não queria se separar dela. Quanto mais a
entregasse mais ela pertenceria a ele. (RÈAGE, 2005, p. 62)
O escutou tudo o que René falou, com muita alegria, pois ela tinha a certeza
que ele a amava. Em muitos momentos ela necessitava da afirmação do amante
sobre o seu amor. Uma noite René tocou uma das outras garotas que também
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desejo.” (RÈAGE, 2005 p 123-124). Mesmo com essa vontade, a jovem amava
René e quanto mais se doava a Sir Stephen mais amada se sentia. René tinha uma
admiração muito grande por Sir Stephen, em certa medida se submetia a ele como
se ele fosse um deus, o soberano e ele tinha e desejava idolatra-lo, logo, quando ele
devolvia O para os seus braços René buscava nela marcas de um deus. Certa vez,
após desobedecer a Sir Stephen, O levou várias chicotadas pelo seu corpo,
chicotadas que tiraram sangue da moça. René admirava cada vergão que surgiu
após o açoitamento e disse com alegria em seus olhos que amava muito O e a
possuiu.
A única parte da vida de O que ainda lhe pertencia era o seu trabalho como
fotógrafa, quando foi para o seu trabalho conheceu uma mulher que seria sua
modelo no dia que se chamava Jaqueline. O logo se encantou pela jovem, assim
como René quando foi buscá-la no trabalho e Jaqueline lá se encontrava. René
contou para Sir Stephen de Jaqueline que também se interessou pela garota. Sir
Stephen exigiu que O conquistasse a jovem e a levasse ao castelo, onde também se
tornaria submissa. O se recusa internamente pois admira extremamente a modelo,
mas não pode recusar a exigência de seu mestre.
O e René começam a se aproximar de Jaqueline e em certo ponto
conseguem. Jaqueline vai morar com O e as duas, por muitas vezes, trocavam
carícias. O seduz e enlaça Jaqueline como não faz com seus mestres. Nem sempre
funcionava pois Jaqueline e René se aproximavam cada dia mais, assim como O de
Sir Stephen. Sir Stephen era um mestre muito mais exigente e mais seguro que
René e O sentia uma certa igualdade entre ela e Sir Stephen, os dois pelo menos
tinham a mesma idade, o que anulava nela o sentimento de submissão apesar de
ele existir e ser muito forte. O que Sir Stephen desejava era o desejo de O também,
simplesmente pelo falo de que era ele quem estava fazendo o pedido.
O diz a René que não levaria Jackeline ao castelo como consequência, René
a ordena que fale então a modelo que ele estava apaixonado por ela e que ele a
levaria então para o castelo. O reluta mas, por fim, dá o recado de seu amante para
Jaqueline. O percebendo a aproximação dos dois, se volta a Sir Stephen, que
estava se apaixonando por ela. Sir Stephen não só a usava como escrava, como
objeto, mas também lhe acariciava e a beijava. O se apaixonava assim por ele.
Certo dia, Sir Stephen leva O para a casa de uma amiga, Anne-Marie, uma
mulher dominadora que torturava, açoitava e marcava as mulheres que lá se
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encontravam a pedido de seus respectivos mestres. Sir Stephen diz a O que iria
marcá-la com suas iniciais e colocaria argolas e correntes em seu sexo,
demonstrando assim que ela o pertencia. O nesse momento é questionada se
consentia tal ato e ela consente, tentando provar seu amor por Sir Stephen e por
René e pensando que dessa forma eles a amariam ainda mais. Os dois vão embora
juntos pois Anne-Marie colocaria as argolas em O no início do próximo mês. No
carro a jovem começa a pensar em René, se questionar se ela tinha se tornado tão
obediente a Sir Stephen que seu amante pudesse ter deixado de amá-la. Será que
René lhe entregou a Sir Stephen tão inteiramente que não a amava mais?
Chegando em casa, O pegou um taxi e foi às pressas ao trabalho de René. René
calmamente pediu que a secretária dele saísse e os deixasse a sós. O preferia que
tivesse sido repreendida pelo seu ato, a repreensão seria uma prova de amor. O
amante questionou o que estava acontecendo e O diz que teve medo de que ele não
a amasse mais, René riu. O falou que voltando da casa de Anne-Marie, e logo parou
pois achou que René ficaria bravo ao saber de Anne, mas ele logo já falou que sabia
de tudo e O completa “[...] não me importo com o que farão comigo, mas diga se
você ainda me ama.” (RÈAGE, 2005, p. 183). René completa afirmando que a ama e
ela novamente se sente segura.
René se planeja e comunica a O que iria para Escócia visitar sua família e por
um momento ela pensou que ele a levaria, o que não aconteceu. Sir Stephen a avisa
que iria buscá-la e iriam para casa de Anne-Marie. Sir Stephen a deixou, mas, antes
de ir embora perguntou “você é minha, O, você é mesmo minha?” (RÈAGE, 2005, p.
187), a beijou e foi embora.
Após dias sendo algemada e açoitada entre suas coxas onde, segundo Anne-
Marie, a pele era mais sensível e devia ser preparada, finalmente chegou o dia de
pertencer plenamente a Sir Stephen. As argolas são postas em seu sexo e as
iniciais do amante são marcadas em suas nádegas a ferro em brasa.
É aqui, onde você é tão curva e lisa, que vamos imprimir as iniciais de Sir
Stephen, de um lado e do outro da fenda das ancas. Vou trazer você
novamente à frente do espelho, na véspera de ir embora, você não vai se
reconhecer. (RÈAGE, 2005, p.199)
próximos, andavam juntos e todos pensavam que ela era alguma sobrinha dele pois,
ele a tratava com mais carinho e ela continuava tratando-o respeitosamente. Nas
ruas de Paris quando os dois passeavam de vez em vez Sir Stephen a levava para
algum beco ou algum outro lugar escondido a beijava, a possuía e em seguida dizia
que amava-a.
Certa vez, Sir Stephen a chamou para um almoço com mais dois amigos, era
a primeira vez que aquilo acontecia. Chegando no almoço, Sir Stephen apresentou
O para os dois amigos e disse a eles quem era ela. O se sentou entre os dois
amigos e enquanto todos comiam eles a tocavam. Sir Stephen mostrava aos amigos
os seios da amante, o seu sexo com as argolas, suas iniciais na anca da jovem. O
reconheceu um dos dois amigos, ele esteve no castelo e a possuiu, o outro amigo
era desconhecido.
Sir Stephen ofereceu O aos dois amigos. O primeiro, que havia estado no
castelo logo tratou de possui-la, obrigou-a a se ajoelhar abrir seu zíper, expor o seu
sexo e o satisfez com a boca. O outro jovem não gostou da situação e da submissão
de O; mesmo assim, a tomou pelas mãos chamou um taxi e a levou para seu quarto
de hotel, possuiu seu sexo e sua anca diversas vezes, somente a deixou ir embora
após usar todos os orifícios da moça, até machucar. Quando O voltou para seu
mestre no dia seguinte, Sir Stephen contou que Eric, o amigo desconhecido, tinha se
apaixonado por ela e pediu para que ele libertasse O para que os dois pudessem se
casar. Sir Stephen diz que O era livre para escolher, mas que ela lhe pertencia e
avisou que Eric passaria lá as 15 horas para saber a resposta. O respondeu que Sir
Stephen lhe castigasse e mostrasse a Eric a quem ela pertencia. Eric viu a cena e
foi embora nunca mais procurando a moça.
Sir Stephen fala com O que agora ela teria que contar tudo para Jaqueline,
pois as duas moravam juntas e as argolas iam ser vistas em algum momento e era
então para recrutá-la para o castelo. De fato o que Sir Stephen disse aconteceu, O
estava tomando banho quando Jaqueline entrou no banheiro e viu as argolas de O
que logo tratou de lhe contar tudo, sua submissão a René e Sir Stephen, sobre o
castelo e tudo que sofria nas mãos dos dois meios-irmãos. Jaqueline fica
horrorizada com tudo que ouviu e com as argolas enquanto O sentia um tremendo
orgulho de tudo aquilo. René e Jaqueline se aproximavam assim como Sir Stephen
e O.
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Certa vez, O, Sir Stephen, Jaqueline, sua irmã e René foram para uma casa
alugada de campo em Cannes, onde todos eles passariam o mês juntos. Os dias
iam passando e O percebia como René estava apaixonado por Jaqueline e não se
sentia mal com aquilo, por não ter mais o amor de seu mestre René, pois, percebe
que Jaqueline não o ama da mesma forma e o domina. O então fica feliz por ter o
amor de Sir Stephen, um homem mais forte, viril e dominador que René. Sua
dependência emocional se volta totalmente para Sir Stephen.
No final do livro, Sir Stephen apresenta O para um amigo, conhecido por o
Comandante. Sir Stephen diz que O lhe pertence, mas que a emprestaria se fosse
necessário. O nesse momento está nua em pé se mostrando para o Comandante a
pedido de seu mestre. O estava incomodada e em um ato de desespero olhou para
Sir Stephen que se colocou atrás dela e segurou suas mãos deixando que ela se
apoiasse nele e logo o desconforto virou segurança. O ouviu quando então Sir
Stephen e o Comandante combinaram de emprestá-la na semana seguinte.
Uma semana depois Sir Stephen pega uma caixa que continha várias
máscaras de animais e escolhe a coruja e diz a O que ela seria a coruja do
Comandante e que seria levada pela coleira. Durante a tarde Sir Stephen ficou ao
lado de O o tempo todo, dormindo e de noite mandou servir o jantar apenas para os
dois no quarto e por volta de meia noite saíram para o evento do Comandante. O
desceu do carro nua, com a máscara de coruja e sendo puxada pela coleira, os
convidados da festa começaram a questionar quem era ela, de quem ela era e o
Comandante logo falou, ao ir de encontro de O e Sir Stephen, que ela seria de todos
eles se assim desejassem, e todos entraram para a festa.
O ficou exposta todo tempo, as pessoas iam até ela, a tocavam, alguns
pegavam em seu sexo, outros debochavam e riam e outros admiravam. O começou
a procurar Sir Stephen com o olhar e de início não o viu, somente quando o avistou
que se sentiu segura novamente. Ele estava de olho nela. Todos que chegavam
perto da jovem nem sequer se dirigiam a ela, ela era apenas um objeto em
exposição, não era um ser humano. No final da festa, a música parou e os
convidados foram embora. Sir Stephen e o Comandante se dirigiram a O, lhe tiraram
a máscara, a coleira a levaram para o meio do pátio, a debruçaram sobre uma mesa
e abusaram da moça, revezando, mas também, ao mesmo tempo.
O livro acaba desta maneira, mas a autora nos oferece mais dois finais. O
primeiro é quando, logo após a festa, Sir Stephen leva O para o castelo e lá a
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abandona, nunca mais retorna para buscá-la. O segundo é quando O percebe que
Sir Stephen está para abandoná-la e não suportando essa ideia prefere morrer. A
jovem então pede a Sir Stephen para se matar e ele consente.
4 O GOZO MASOQUISTA DE O
suma, na passagem ao ato não há palavras, apenas o ato por si só. Dito isto, Freud
(1920/1987) percebe que existe algo no psiquismo que não busca o prazer, que está
além de buscar esse prazer e constrói as pulsões de morte, o gozo em Lacan.
Dessa forma articula-se esse campo mencionado com o real e não com o campo do
simbólico, já que não se situa na ordem do dizível.
Freud (1920/1987) vai classificar as pulsões sexuais e de autoconservação/do
ego como pulsões de vida, aquelas que são regidas pelo princípio do prazer e que
têm sua energia investida em um objeto. As pulsões de morte são regidas pelo além
do princípio do prazer e não têm um objeto para investir sua energia pois possui
uma energia dispersa, livre, desligada, é uma tendência para a morte e é nela que
se funda a compulsão à repetição. O vive a compulsão à repetição em seus
relacionamentos, primeiro com René, ela vive a relação sadomasoquista com seu
amante para não perder o amor do mesmo. Sua trajetória se inicia no castelo, onde
é confinada por diversos dias se submetendo aos abusos de vários homens, com o
consentimento de René, e açoitamentos. À medida que os dias no castelo iam se
passando os abusos se tornavam piores, como a vez em que depois de uma longa
sessão de sadomasoquismo com vários homens ela foi levada a sua cela quase
desmaiada. Com tudo isso, a única coisa que ela pensava era que não podia perder
o amor de René, que ela se submeteria a tudo, a todo suplício. Se aquele preço era
o que ela havia de pagar para garantir tal amor ela suportaria outros homens a
penetrando, chicotadas até seu sangue escorrer, mais de um homem abusando de
suas ancas, entre outros. Dias depois de sair do castelo René apresenta Sir Stephen
a O e diz que ela também iria pertencer-lhe. Após se tornar escrava de mais um
mestre, Sir Stephen, ela repete a história, porém agora esse mestre seria mais
rigoroso e mais agressivo.
A pulsão de morte seria redefinida por Lacan como sendo uma pulsação de
gozo que insiste na repetição de cadeia significante inconsciente. O prazer e
o gozo não pertencem ao mesmo registro. O prazer é uma barreira contra o
gozo, que se manifesta sempre como excesso em relação ao prazer,
confinando com a dor. (VALAS, 2001, p. 7)
p.146). Ela aceitava tudo, menos perder o amor de Sir Stephen. “A fim de provocar
a punição [...] o masoquista deve fazer o que é desaconselhável, [...] e, talvez,
destruir sua própria existência real.” (FREUD, 1924/1996, p. 178). Freud encerra seu
artigo “O problema econômico do masoquismo”, explicitando que essa destruição
que o sujeito faz de si mesmo, no caso O se anulando e tomando como se fossem
seus os desejos de Sir Stephen, não pode se realizar sem uma satisfação libidinal.
O único momento em que O tem a possibilidade de viver um relacionamento
“normal”, ou seja, quando Eric quer tirá-la da relação sadomasoquista e casar-se
com ela, O não se interessa, pelo contrário, recusa-o livremente para continuar
sendo escrava de Sir Stephen e assim ir conquistando cada vez mais o seu amor.
Eric queria proporcionar prazer a O, e ela não queria pois ele não fazia parte de seu
gozo masoquista, ela queria o além do princípio do prazer. Tal fato evidencia que a
personagem se implica no próprio sofrimento, o que quer dizer que ela não possui
apenas um lugar de vítima, ela se desloca de tal lugar e é denunciada a sua
responsabilidade subjetiva.
O gozo de O estava em Sir Stephen desempenhando sua função de sadista
para com ela, assim como o gozo de Sir Stephen estava na função de O de ser
masoquista para o Sir Stephen, ou seja, o masoquista tem uma tendência a entregar
o seu gozo para o Outro para satisfazê-lo. O que ocorre então é uma encenação,
como explicita Schermann (2003), o masoquista faz uma simulação levando-o até o
limiar e assim fazendo com que o gozo retorne para o próprio corpo. O se entregava
para seus mestres, tanto René quanto Sir Stephen mas, o mais importante, ela se
colocava a serviço do Outro. O ocupava o lugar de objeto do Outro e só se
relacionava com quem fazia o papel de sádico para ela. Um momento em que fica
claro este lugar de objeto é quando O está no castelo em sua cela, acorrentada na
cama após ser abusada e açoitada por quatro homens a pedido de René, ela
começa a pensar que de tudo que havia sofrido naquele castelo, a única coisa que
havia lhe incomodado em todo o abuso era que ela não podia usar suas mãos,
estavam amarradas e então ela não podia se defender. Porém, logo após esse
pensamento outro veio, será que se suas mãos estivessem soltas ela iria mesmo se
defender? O tinha um misto de sentimentos, sentia terror e doçura com tudo aquilo
que estava vivendo no castelo, ela aderia a todo sofrimento ali presente. Eric logo,
não se tornaria uma possibilidade pois ele queria desposá-la, tirá-la do sofrimento.
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para nomeá-lo de falo.” (p. 145). Pode-se dizer que Sir Stephen e René possuem
aquilo que O não possui, o falo e exercem a função de falo na fantasia masoquista
da mesma, logo, ela não pode perdê-los pois, perdendo-os teria que lidar com a
castração.
dependência entre ela e seus mestres, uma dependência de amor. Mas que amor
que seria este? Um amor que não leva em consideração a falta?
[...] ali onde o desejo foi expulso temos o masoquismo como último recurso
para ligar o corpo ao simbólico e não se cair na insuportável e insustentável
leveza do ser. (Lacan,1973-1974 apud Siqueira, 2014, p.11)
Em suma, para O não é o amor que está ligando-a aos seus mestres, pode-se
dizer que ao invés disto o que a personagem vive é uma parceria sintomática, que
irá ser discutida no capítulo seguinte.
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5 A PARCERIA SINTOMÁTICA
enigmática.” (p. 161). O autor continua ainda dizendo que este parceiro possui um
status de sintoma e utiliza da teoria lacaniana para explanar três tipos de parceiros.
O parceiro-imagem, parceiro-símbolo e o parceiro-sintoma, sendo este último o que
será abordado neste estudo.
autoerótico a autora enfatiza que também é um gozo aloerótico pois sempre inclui o
Outro, mesmo na masturbação. Segundo Zalcberg (2010) na masturbação
masculina é na medida em que o órgão está “fora do corpo” e marcado de
alteridade, na mulher, por sua vez, o gozo se encontra em seu próprio corpo, sem
perder de vista que este corpo próprio é outro. O que faz com que possam existir
dois destinos para alcançar o Outro, a partir dos escritos da autora. O primeiro é
através do gozo que vai alcançar o objeto a e o segundo é alcançar o Outro por
meio do amor, que colocará de lado o corpo e utilizará da palavra. Ainda mais,
segundo Lacan, citado por Miller (2000) a mulher é sempre objeto a para um
homem, um meio para o gozo e pode ser para a mulher, além de parceiro-sintoma,
um parceiro-devastação.
O parceiro-devastação é justamente aquele que degrada, deprecia de formas
particularmente cruéis, sua parceira. Segundo Miller (2000) a mulher se vê
devastada com os dizeres de seu companheiro, mas com análise percebe também
que goza de sua dor. As injúrias, os maus tratos são o núcleo de seu gozo. A mulher
escolhe seu parceiro justamente devido a essa degradação e mais, ela precisa disso
para se tornar mulher.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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7 REFERÊNCIAS