Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FEIRA DE SANTANA
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS/PROFLETRAS
Avenida Transnordestina, S/N - Bairro Novo Horizonte - CEP 44.036-900
Fone: (75) 3161-8872 – E-mail: profletras@uefs.br
www.profletras.uefs.com.br
FEIRA DE SANTANA
2016
NATHALIA MACHADO MATOS
FEIRA DE SANTANA
2016
TERMO DE APROVAÇÃO
___________________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Lívia de Carvalho Mendonça
Orientadora (PROFLETRAS/UEFS) (UNEB)
___________________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Zenaide de Oliveira Novais Carneiro
Coorientadora (PROFLETRAS/UEFS)
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Patrício Nunes Barreiros
Membro interno (PROFLETRAS/UEFS)
___________________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ligia Pellon de Lima Bulhões
Membro externo (PPGEL/UNEB)
A Deus, pelo dom da vida e pelo seu amparo, sem o qual não seria possível ter enfrentado
tantos desafios.
À minha família e, especialmente, à minha mãe e à minha avó, pelo amor e apoio constante.
Aos meus amigos, pelo incentivo e pela compreensão nos momentos de ausência.
A Renata Souza, por sua amizade e por compartilhar comigo esta caminhada. Meu infinito
agradecimento.
A Ana Claudia, Helanya, Joelma, Jucelma e Patrícia, que se tornaram verdadeiras amigas e
fizeram este percurso mais leve.
Aos professores Patrício Nunes Barreiros, Ligia Pellon de Lima Bulhões e Zenaide de
Oliveira Novais Carneiro, pelas valiosas contribuições.
A todos do Colégio Estadual Governador João Durval Carneiro: equipe gestora, professores,
funcionários, pais e, em especial, meus queridos alunos, que participaram desta pesquisa e me
ensinaram tanto a partir de suas vivências.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para realização deste trabalho. Afinal,
ninguém constrói nada sozinho.
RESUMO
Working with reading and writing in contemporary times has been one of the great challenges
for the language teacher. In this perspective, the purpose of this work was to present a
pedagogical proposal, in the model of a didactic sequence, for the development of discursive
skills related to reading and writing activities, using as a learning object the genre reportage
transmitted in digital media. The subjects who participated in the development of this didactic
sequence were students from the 8th grade class of a state school network located in a city in
the interior of Bahia. Considering that one of the main events that characterize the current
society are the advancement and diffusion of the digital technologies, it is observed the need
to integrate the new technologies to the process of teaching and learning. However, it is
important to emphasize that this integration must develop consciously and critically and,
above all, present a pedagogical intentionality, since the use of technology in the classroom is
not justified by itself. It is based on this pressing need that, through the didactic sequence
proposed in this work, it was intended to provide practices for understanding and producing
texts, culminating in the creation of an online magazine, the final product of this research. For
that, the genre was mobilized, since reporting is a textual activity that is part of daily life and
relevant in the journalistic sphere. The methodological procedures adopted in the study take
into account the qualitative approach of the research, being ethnographic and of an applied
nature. The basic theoretical assumptions involved the proposal of adaptation to the model of
Dolz, Noverraz and Schneuwly (2004); The theory of Bakhtin and his Circle; Studies of
authors of Textual Linguistics, as well as of different theoretical frameworks that deal with
the study of writing and text. The results and conclusions reached above all show that it is
possible to develop a didactic sequence that allows for the practice of comprehension and
production of texts and the use of digital technologies as an instrument for acquiring
information and for socializing the knowledge produced.
Cf. - conferir
Dr. - doutor
Dr.ª - doutora
km - quilômetros
prof. - professor
prof.ª - professora
s/n - sem número
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO 14
2 LEITURA E ESCRITA EM MEIO DIGITAL: ALGUMAS 18
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
2.1 CONCEITOS BÁSICOS: LÍNGUA, SUJEITO E TEXTO 19
2.2 DAS CONCEPÇÕES DE GÊNERO 22
2.2.1 O gênero discursivo na perspectiva bakhtiniana 22
2.2.2 A noção de gênero à luz da Linguística Textual 24
2.2.3 Gênero e ensino: a sequência didática como proposta de transposição 27
didática
2.3 OS DOMÍNIOS DISCURSIVOS 30
2.3.1 O domínio jornalístico 32
2.3.1.1 O Webjornalismo 37
2.3.1.2 Os gêneros jornalísticos na escola 39
2.4 O GÊNERO REPORTAGEM 40
2.5 LEITURA E ESCRITA: DO LETRAMENTO AOS 44
MULTILETRAMENTOS
2.5.1 Multimodalidade, hipertexto e letramento digital 50
3 METODOLOGIA 55
3.1 A ABORDAGEM DA PESQUISA 55
3.2 O TIPO DA PESQUISA 56
3.3 A NATUREZA DA PESQUISA 57
3.3.1 A sequência didática 58
3.3.2 A sequência didática: uma proposta de adapatação 61
3.4 OS PROCEDIMENTOS E OS INSTRUMENTOS DE TRABALHO 62
3.4.1 Critérios para análise das produções textuais 66
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 69
4.1 CENÁRIO DA PESQUISA 69
4.1.1 Características da comunidade 74
4.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA 75
4.2.1 A professora pesquisadora 75
4.2.2 Descrição do grupo geral dos sujeitos estudantes da pesquisa 77
4.2.3 Descrição do grupo específico dos sujeitos estudantes da pesquisa 83
4.2.4 Descrição do grupo dos sujeitos pais dos estudantes pesquisados 91
4.3 A SEQUÊNCIA DIDÁTICA DESENVOLVIDA 96
4.4 ANÁLISE DAS PRODUÇÕES TEXTUAIS 114
4.4.1 Análise das produções iniciais 114
4.4.2 Análise das produções finais 127
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 136
REFERÊNCIAS 141
APÊNDICE A - AUTORIZAÇÃO DA DIREÇÃO 145
APÊNDICE B - TCLE 146
APÊNDICE C - TALE 148
APÊNDICE D - MATERIAL DIDÁTICO 150
APÊNDICE E - SISTEMATIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA 205
ANEXO F - QUESTIONÁRIO 1 215
ANEXO G - QUESTIONÁRIO 2 217
ANEXO H - QUESTIONÁRIO PAIS/RESPONSÁVEIS 218
ANEXO I - INSTALAÇÕES DO CEGJDC 219
ANEXO J - PRODUÇÃO INICIAL DO SUJEITO R01 220
ANEXO K - PRODUÇÃO INICIAL DO SUJEITO R02 222
ANEXO L - PRODUÇÃO INICIAL DO SUJEITO R03 225
ANEXO M - PRODUÇÃO INICIAL DO SUJEITO R04 226
ANEXO N - PRODUÇÃO FINAL DO SUJEITO R01 228
ANEXO O - PRODUÇÃO FINAL DO SUJEITO R02 230
ANEXO P - PRODUÇÃO FINAL DO SUJEITO R03 233
14
1 INTRODUÇÃO
esse célebre desenvolvimento tecnológico é a educação. Ela é uma das áreas de atuação que
mais podem se beneficiar de tanta inovação” (XAVIER, 2008, p. 2).
Nessa perspectiva, é possível refletirmos que as práticas de ensino de língua pautadas
no estudo de questões gramaticais, ortográficas e vocabulares descontextualizadas das práticas
discursivas que constituem a linguagem humana nos parecem pouco significativas, por
entendermos que a escola é o lugar para vivenciar e estudar interações discursivas concretas
que se aproximem de esferas extra-escolares.
Com isso, nasce a seguinte questão que mobilizou esta pesquisa: é possível uma
sequência didática ser exequível propiciando práticas de compreensão e produção de textos,
que culminem na criação de uma revista on-line, como produto final de uma pesquisa e na
formação de alunos leitores e redatores?
A partir da questão mobilizada, configuram-se como objeto de estudo desta pesquisa
as práticas de leitura e escrita, sobretudo, as que estão vinculadas ao uso das tecnologias
digitais como instrumento de aquisição de informações e socialização do saber produzido.
Nesse sentido, objetivamos, de modo geral, neste trabalho, apresentar uma proposta de
intervenção, no modelo de uma sequência didática, para o desenvolvimento das competências
discursivas relacionadas às atividades de leitura e de escrita, utilizando como objeto de
aprendizagem o gênero reportagem veiculado em meios digitais.
Vale salientar que a sequência didática que propomos visa à produção de textos
considerando um interlocutor real, rompendo com a tradicional concepção de ensino na qual
se escreve textos na escola para cumprir tarefa, tendo como destinatário o professor. Desse
modo, entendemos a língua como uma prática social. Para tanto, sugerimos a publicação das
produções escritas realizadas no contexto de ensino em uma revista on-line construída pelos
estudantes com orientação e supervisão direta da professora, que também é a pesquisadora.
Dessa forma, o gênero selecionado é a reportagem, tendo em vista que essa
“representa uma atividade textual de grande importância na esfera jornalística, uma vez que
objetiva a divulgação de um fato, porém de maneira mais aprofundada, apresentando
elementos de comprovação, descrição detalhada [...]” (BROCARDO E COSTA-HÜBES,
2015, p. 8). Entendemos que na reportagem, é possível combinar outros gêneros, como
entrevistas, tabelas, colunas explicativas e infográficos; também é viável agregar outras
modalidades da linguagem ao texto escrito, como a imagem e o som, a depender do
suporte/veículo. De acordo com Bonini (2011), o estudo dos gêneros jornalísticos apresenta
uma relevância social, visto que contribui para a formação do sujeito crítico e habilidoso na
leitura e escrita de textos jornalísticos.
16
digital. Nesse intuito, consideramos os estudos realizados por Dionísio (2011, 2014), Ribeiro
(2009, 2012), Coscarelli (2012), Chartier (2002) e Araújo (2010).
Portanto, o conjunto das cinco subseções expostas nesta seção serve, como já dito,
para apresentar a perspectiva teórica que norteia esta pesquisa, bem como para situar a
perspectiva de análise desenvolvida no estudo.
Como a proposta aqui é apresentar uma intervenção didática para o ensino de língua
portuguesa, consideramos necessário apresentar algumas noções teóricas que nortearam o
desenvolvimento deste trabalho. A primeira refere-se à concepção de língua que se quer
ensinar. Entendemos que um professor, ao assumir determinada postura em sala de aula e ao
optar por determinado caminho teórico, está sendo guiado não pelo objeto em si, mas pela sua
percepção acerca do mesmo. A esse respeito, Marcuschi (2008, p. 50) versa que “o ensino,
seja lá do que for, é sempre o ensino de uma visão do objeto e de uma relação com ele”.
Essa lógica aplica-se também ao ensino da língua portuguesa. Desse modo,
esclarecemos, de antemão, que entendemos a língua como uma prática social, compartilhada
por sujeitos heterogêneos. Essa compreensão de língua está alinhada à noção sociointerativa,
na qual a língua é concebida não apenas como sistema, mas como uma atividade de interação
entre sujeitos sociais, sem deixar de ponderar os aspectos cognitivos e históricos que dizem
respeito à natureza linguística. Essa concepção é defendida por Marcuschi (2008) da seguinte
maneira:
Notamos, com essa reflexão, que o pesquisador situa os sujeitos como produtores e
receptores de textos, nos quais é possível a inserção de variados conteúdos, bem como a
construção e a inferência dos sentidos que perpassam os enunciados.
De acordo com Cavalcante (2013), os sujeitos, que participam do processo de
interação, devem ser vistos como agentes sociais que consideram o contexto
sociocomunicativo, histórico e cultural na construção dos sentidos e das referências dos
textos. Desse modo, ao interlocutor (ouvinte/leitor) são delegadas importantes funções que
estão além da decodificação do código linguístico (conjunto de estruturas da língua) e das
intenções do autor.
Atribuímos essa concepção de sujeito também aos participantes desta pesquisa: a
professora de língua portuguesa, os pais e os alunos da 8ª série de um colégio da rede estadual
no interior da Bahia, sujeitos reais, concretos e situados histórica e socialmente. Anunciamos,
desde já, que o perfil desses alunos será melhor apresentado na seção referente à descrição e
21
análise dos dados, na qual descreveremos os dados coletados através dos questionários e da
observação das pastas documentais dos alunos, na etapa da sondagem.
No que se refere ao texto, observamos que Marcuschi (2008, p. 88) o define como
“unidade máxima de funcionamento da língua”. Nessa perspectiva, o autor afirma que:
Compreendemos, assim, que o texto é o próprio lugar da interação, uma vez que
ninguém interage linguisticamente através de palavras ou frases soltas e descontextualizadas.
Nesse sentido, Koch (2015) reflete que a concepção de texto está relacionada à noção que se
tem de língua e sujeito. Assim, neste trabalho, comungamos da definição de texto como
“evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”
(BEAUGRANDE, 1997, p. 10 apud MARCUSCHI, 2008; CAVALCANTE, 2013; KOCH,
2015).
Dessa maneira, considerar o texto um “evento comunicativo” é reportar-se à língua
em situações concretas de uso, de interação, em que estão em jogo não apenas conhecimentos
de ordem linguística, mas também outros conhecimentos extraídos do convívio sociocultural e
das operações cognitivas.
Neste trabalho, tomamos ainda como referência as orientações dos PCNs (1998). De
acordo com o documento, o ensino de língua materna deve objetivar a ampliação da
competência discursiva do aluno, de modo que esse possa utilizar a língua de modo variado,
produzindo diferentes efeitos de sentido e adequando a linguagem às mais diversas situações
comunicativas. Nessa perspectiva, não há como instituir outra unidade básica de ensino da
língua que não o texto, conforme se verifica:
[...] não é possível tomar como unidades básicas do processo de ensino as que
decorrem de uma análise de estratos – letras/fonemas, sílabas, palavras, sintagmas,
frases – que, descontextualizados, são normalmente tomados como exemplos de
estudo gramatical e pouco têm a ver com a competência discursiva. Dentro desse
marco, a unidade básica do ensino só pode ser o texto (BRASIL, 1998, p. 23).
Entendemos, com isso, que o processo de ensino da língua está a serviço do sujeito
produtor de texto e para o desenvolvimento de sua competência discursiva. Por essa razão,
22
situamos a importância do fato de que, neste trabalho, tenha-se iniciado a primeira subseção
apresentando as concepções de língua, sujeito e texto. Além disso, essas reflexões
subsidiaram a construção da proposta de intervenção desenvolvida. Desse modo,
compreendemos que tanto aquele que escreve/fala como aquele lê/ouve são sujeitos ativos
que, mediados pela língua/linguagem, constroem a si e ao mundo, por meio do texto.
Apoiando-nos na concepção de que toda manifestação oral ou escrita acontece por
meio de textos e que esses textos se materializam em forma de gêneros textuais orais e
escritos, trataremos, na subseção a seguir, das concepções de gênero segundo Bakhtin e à luz
dos estudos de autores da Línguística Textual. Serão também tecidas algumas considerações
acerca do ensino de língua pautado no trabalho com os gêneros.
O termo gênero, assim como o seu estudo, tem ganhado bastante notoriedade dentro
das investigações sobre a linguagem por meio de diversas abordagens. Apesar disso, o gênero
não é uma noção recentemente pensada, como bem demonstra Marcuschi (2008). Seus
estudos iniciaram-se no campo da Literatura com Platão e Aristóteles, mas hoje abrangem as
mais diversas áreas do conhecimento.
Neste trabalho, apresentamos a concepção de gênero a partir de duas perspectivas
diferentes, mas não opostas: o conceito de gênero discursivo segundo Bakhtin; e do ponto de
vista de alguns autores da Linguística Textual, que, não obstante, realizaram seus estudos
sobre gêneros a partir da releitura dos postulados bakhtinianos.
O uso da língua, conforme Bakhtin (2003), concretiza-se por meio dos gêneros do
discurso que, por sua vez, são definidos pelo autor como “tipos relativamente estáveis de
enunciados” (BAKHTIN, 2003, p. 262). Nessa perspectiva, os gêneros, transmitidos social e
historicamente, são “estáveis” porque não são criados a cada vez que o sujeito se vê envolvido
em uma situação de interlocução. Contudo, essa estabilidade deve ser analisada com
ressalvas, uma vez que os gêneros estão propícios à contínua renovação.
Se, por um lado, sem a existência e o domínio dos gêneros, a comunicação verbal
seria quase impossível, pois o caráter normativo deles facilita a eficiência da comunicação.
23
Por outro, os gêneros são maleáveis e flexíveis até o ponto de que não se infrinjam suas
características essenciais.
Segundo o autor,
[...] impossível não se comunicar verbalmente por algum gênero, assim como é
impossível não se comunicar verbalmente por algum texto. Isso porque toda a
manifestação verbal se dá sempre por meio de textos realizados em algum gênero.
Em outros termos, a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual
(MARCUSCHI, 2008, p.154).
Sobre essa questão, reportamo-nos ainda à constatação feita por Koch e Elias (2014),
que ratifica o dizer de Marcuschi (2008),
Sobre isso, Cristovão (2009, p. 2) pontua que “enquanto os gêneros mais informais
vão sendo apropriados no decorrer das atividades cotidianas, sem necessidade de ensino
formal, os gêneros mais formais, orais ou escritos, necessitam ser aprendidos mais
sistematicamente”. A partir dessas reflexões, podemos entender, por um lado, que os alunos
chegam ao ambiente escolar dominando determinados gêneros, principalmente aqueles que
estão intrinsecamente relacionados ou presentes em seu cotidiano. Por outro lado, constitui-se
como responsabilidade da escola o ensino dos diversos gêneros orais e escritos que não são
dominados pelo o aluno e que requerem uma aprendizagem formal. Portanto, para tratarmos
sobre o gênero e ensino, destinamos a subsubseção que segue.
Sobre o ensino de língua com base nos gêneros, podemos afirmar que a publicação
dos PCNs, em 1998, foi um marco para a difusão dessa proposta no Brasil, uma vez que o
documento trouxe a noção de gênero para primeiro plano nas questões de ensino e
aprendizagem da língua. Segundo Rojo (2005),
O trabalho escolar será realizado, evidentemente, sobre os gêneros que o aluno não
domina ou o faz de maneira insuficiente; sobre aqueles dificilmente acessíveis,
espontaneamente, pela maioria dos alunos; e sobre gêneros públicos e não privados
[...]. As sequências didáticas servem, portanto, para dar acesso aos alunos a práticas
de linguagem novas ou dificilmente domináveis (DOLZ; NOVERRAZ;
SCHNEUWLY, 2004, p. 83).
Entendemos, com isso, que quanto mais diversidade de gêneros o aluno dominar,
tanto na oralidade quanto na escrita, mais possibilidades de utilizá-los, no seu dia a dia, ele
terá. E a escola ocupa um lugar de destaque nessa questão, pois cabe a ela proporcionar
situações de interação dos alunos com esses gêneros e o desenvolvimento de suas habilidades
para operá-los de forma eficiente.
Quanto à sua estrutura, a sequência didática deve estar organizada basicamente em
quatro etapas, a saber:
a) a apresentação da situação, cujo objetivo é fundamentar a necessidade de
produção e aprendizagem relacionada a um gênero discursivo, oral e/ou escrito;
b) a produção inicial, em que o aluno deve elaborar um texto, oral ou escrito, na
tentativa de responder à situação de interlocução, proposta anteriormente. Essa produção
inicial oferecerá ao professor subsídios para diagnosticar a compreensão, ou não, que o aluno
tem do referido gênero;
30
Os gêneros são entidades que fazem parte dos domínios discursivos. O domínio
discursivo abrange uma esfera de comunicação que não se restringe a um único gênero,
podendo resultar no surgimento de vários deles em dada rotina comunicativa. De acordo com
Marcuschi (2008),
[...] entendemos como domínio discursivo uma esfera da vida social ou institucional
(religiosa, jurídica, pedagógica, política, industrial, militar, familiar, lúdica, etc.) na
qual se dão práticas que organizam formas de comunicação e respectivas estratégias
de compreensão. Assim, os domínios discursivos produzem modelos de ação
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geração para geração com
efeitos definidos e claros (MARCUSCHI, 2008, p. 194).
domínios. Desse modo, nos parece possível afirmar que os gêneros estão contidos no domínio
discursivo.
Marcuschi (2008) argumenta, ainda, que alguns gêneros podem fazer parte de mais
de um domínio discursivo, enquanto outros não possuem a mesma flexibilidade. Há também
domínios discursivos que abarcam uma diversidade maior de gêneros, enquanto outros são
mais resistentes. O domínio instrucional, por exemplo, contempla uma vasta variedade de
gêneros, tanto orais quanto escritos, já o domínio militar é apontado por Marcuschi (2008)
como um dos campos que menos apresenta diversidade de gêneros, conforme ilustra o quadro
a seguir:
Vale ressaltar que essa não é uma listagem fixa, uma vez que não há como indicar
com precisão quantos gêneros existem em cada domínio discursivo. Até porque os gêneros
32
são entidades dinâmicas, de modo que podem surgir e desaparecer em função das
necessidades comunicativas e do contexto sociocultural. O que, certamente, podemos
constatar é que, em alguns domínios discursivos, a diversidade de gêneros é maior que em
outros.
Salientamos, ainda, que a familiaridade com determinado gênero depende da relação
do indivíduo com o domínio discursivo a que o gênero está ligado. Assim, para os estudantes
universitários podem lhes parecer muito mais comuns os gêneros do domínio instrucional, do
que do domínio militar, por exemplo.
Trataremos, a seguir, do domínio discursivo de interesse neste trabalho: o
jornalístico. É nele que está situado o gênero reportagem, que se configura como objeto de
aprendizagem da nossa sequência didátca.
Tratar de gêneros jornalísticos é uma tarefa um tanto complexa, uma vez que
estudos desse tipo na área da Comunicação são recentes e, mesmo assim, de acordo
com Bonini (2001a), não definem claramente o que é um gênero jornalístico e a sua
forma de constituição. Um dos estudiosos que se destaca na área jornalística é José
Marques de Melo, embora não esclarecendo a noção de gênero (KINDERMANN,
2003, p. 30).
Chaparro (1998), embora o fundador desta discussão tenha sido Beltrão (1969, 1980, 1980)”
(BONINI, 2003, p. 212).
Segundo Bonini (2003), Melo (1985) faz distinção entre o jornalismo informativo e o
jornalismo opinativo. No primeiro grupo, o autor situa a nota, a notícia, a reportagem e a
entrevista. Enquanto, no segundo, estão o editorial, o comentário, o artigo, a resenha, a
coluna, a crônica, a caricatura e a carta.
Como é de se supor, o jornalismo informativo corresponde à função que os
jornalistas assumem de registrarem os fatos e os informarem à sociedade, presumivelmente,
de forma objetiva e imparcial. Quanto ao jornalismo opinativo, esse ocorre quando há uma
reação diante das notícias, difundindo-se opiniões.
Contudo, a classificação de Melo (1985) é criticada por Chaparro (1998). No que diz
respeito a essa questão, Bonini (2003) declara que:
De modo geral, a releitura que Chaparro faz do trabalho de Melo tem base em dois
posicionamentos críticos. O primeiro deles é o de que o paradigma
informação/opinião não serve mais, se é que já serviu, como critério para a
tipificação das formas discursivas do jornal, pois a atividade jornalística não se
orienta, guiada pelo critério da objetividade, para a escolha de um ou outro destes
compartimentos. Pelo contrário, para o autor, o fazer jornalístico está imerso em
uma teia de processos e razões sociais, de modo que opinião e informação se
imbricam e, evidentemente: “[...] os juízos de valor estão lá, implícitos, nas
intencionalidades das estratégias autorais, e explícitos, nas falas (escolhidas) dos
personagens, às vezes até nos títulos” (p.114). Argumenta, ainda, que os gêneros
estão atrelados a uma prática, mais do que a um critério externo de se posicionar,
alternadamente, entre neutralidade e o envolvimento (BONINI, 2003, p. 214).
Conforme podemos observar, para Chaparro (1998), essa classificação não é válida,
visto que, na prática, a distinção entre jornalismo informativo e jornalismo opinativo não
ocorre, ao invés disso, estão imbricados. Segundo o autor, embora a função de determinados
gêneros do jornal seja informar, as próprias escolhas do fazer jornalístico são subjetivas e
estão atreladas ao ponto de vista daquele que escreve, por mais que esse nem sempre se
manifeste no texto de forma explícita. Dessa forma, o jornalismo não se divide, mas se
constrói com informações e opiniões.
Com efeito, nós sabemos, por meio dos estudos da linguagem e do discurso, que a
imparcialidade e a objetividade são ideais, mas não possíveis. Uma vez que todo texto carrega
marcas que correspondem tanto ao contexto histórico-social no qual foi produzido, quanto à
ideologia de seu autor.
A título de exemplificação, podemos citar Antunes (2010). Sabemos que todo texto
existe para cumprir determinado objetivo, que pode ser: expor, explicar, convencer, persuadir,
34
defender um ponto de vista, propor uma ideia, dar uma notícia, divulgar um resultado,
informar, dentre outros. A autora, contudo, ressalta que a lista desses propósitos é
praticamente inesgotável e que, além disso, “eles não são mutuamente excludentes: pode-se
relatar um fato com o propósito de convencer alguém de alguma coisa; pode-se trazer uma
informação com o propósito de defender um ponto de vista” (ANTUNES, 2010, p. 70). Nessa
perspectiva, a autora acrescenta que:
Notamos que nos quatro manuais de estilo analisados, Bonini (2003) não encontrou
nenhum verbete específico sobre gênero ou gêneros jornalísticos, embora considere que, em
35
um dos manuais, o termo de gênero tenha sido empregado de forma pertinente em diversas
ocorrências. Nesse sentido, o autor observou que:
Este manual também traz em seu índice remissivo o termo gênero jornalístico,
arrolando os seguintes gêneros: análise, feature, artigo, crônica, crítica, matéria,
resenha. Dois destes termos, contudo, “feature” e “matéria” não correspondem
claramente a gêneros, mostrando mais uma vez que não é fácil apontar os gêneros do
jornal, mesmo em uma pequena lista (BONINI, 2003, p. 222).
Ao final desse estudo, Bonini (2003) chegou ao seguinte inventário dos gêneros do
domínio jornalístico:
Quadro 2 - Gêneros do domínio jornalístico arrolados nos manuais de estilo, nos dicionários de
comunicação e na literatura acadêmica da área de comunicação
NA ATIVI-DADE NO JORNAL
JORNA-LÍSTICA CENTRAIS PERIFÉRICOS
PRESOS LIVRES
AUTÔNOMOS CONJUGADOS
* reunião de pauta * carta do leitor * análise * cronologia * anúncio [teaser,
* pauta * expediente * artigo * gráfico classificados,
* coletiva: * cabeçalho * nota [suelto, * mapa saia-e-blusa]
entrevista * chamada obituário] * perfil * propaganda
* editorial * notícia * story-board * aviso
* foto-manchete * reportagem * tabela * cupom
* índice * entrevista * errata * expressão de
* enquete * fotografia opinião
* fotorreporta- [fotopotoca, * informe
gem portrait, de cena] publicitário
* foto-legenda * ficha técnica * ensaio
* comentário * galeria * editorial de
* crítica * grade moda
* resenha * indicador * crônica
* tira * cotação * horóscopo
* cartum * infográfico * teste
* charge * lista * folhetim
* roteiro [questionário, * charada
* previsão do vocabulário, * palavra cruzada
tempo discografia, * poesia
* carta-consulta bibliografia] * conto
* efeméride * lidão * edital
* endereço * balancete
eletrônico * receita
* caricatura * ata
* referência * apostila
bibliográfica * dama
* endereço * xadrez
* cineminha
Fonte: Bonini (2003, p. 225).
36
Diante do exposto, observamos que realizar uma classificação universal dos gêneros
do jornal é, praticamente, uma tarefa impossível, uma vez que os gêneros, em geral, estão
37
sempre em mudança, em transformação. O que pode ser um gênero hoje, amanhã não será
mais; ou o que pode ser um gênero em um determinado país, não o é em outra sociedade.
Além disso, a concepção de gênero varia de autor para autor, o que é também um fator
determinante quando se trata do levantamento dos gêneros existentes.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à proximidade entre alguns gêneros
desse domínio discursivo. Em um artigo mais recente, Bonini (2011) versa sobre essa questão.
Para o autor, as fronteiras entre os gêneros do domínio jornalístico são fluidas e, muitas vezes,
tênues. Nesse sentido, afirma que:
Muitos gêneros não se distinguem claramente, seja porque apresentam uma relação
direta com a tarefa que está na base do texto, seja porque detêm modos de
enunciação e temáticas muito próximos. A reportagem, por exemplo, dependendo do
material coletado, pode se parecer com uma notícia, com um perfil ou com uma
entrevista. A resenha e a crítica também são gêneros bastante parecidos que
constantemente se sobrepõem. Do mesmo modo, a distinção entre artigo de opinião,
comentário e análise também não é clara nos exemplares analisados (BONINI, 2011,
p. 64).
2.3.1.1 O Webjornalismo
Vivemos em uma época marcada pelo excesso de informação que, em grande parte,
chega até nós por meio do discurso jornalístico. Antes, os indivíduos eram bombardeados,
diariamente, com notícias, hoje já são bombardeados minuto a minuto, via canais de televisão
e sites de jornalismo na internet.
Percebemos, desse modo, que as técnicas de produção e distribuição dos gêneros
jornalísticos estão diretamente relacionadas aos aparatos tecnológicos existentes em cada
período de tempo. Reportamo-nos ao exemplo da evolução do jornalismo norte-americano
apontado por Canavilhas (2006, p. 2), “a imprensa norte-americana [...] registrou um período
de franco desenvolvimento em paralelo com o crescimento dos caminhos-de-ferro norte-
38
americanos, pois desta forma os jornais puderam aumentar de forma substancial a sua área de
influência”.
Nessa perspectiva, o jornalismo não poderia ficar alheio ao uso da internet na
contemporaneidade. O termo webjornalismo, ou ainda ciberjornalismo, passou, então, a ser
utilizado a designar a modalidade jornalística surgida no final do século XX que se apropria
do ciberespaço para construção de conteúdos jornalísticos. Damos preferência à expressão
“construção de conteúdo”, ao invés de “difusão de conteúdo”, para ressaltar o caráter de
coletividade dessa construção, entre autores e leitores.
Inicialmente, a utilização da internet para a atividade jornalística caracterizou-se pela
digitalização dos mesmos textos da versão impressa, sem ainda explorar as potencialidades
oferecidas pelo meio. Esse costuma ser identificado como o Webjornalismo de primeira
geração. “O material que vai para a rede é apenas transportado e disponibilizado, o que marca
um aproveitamento do produto jornalístico que, já desde meados da década de 1990, é
totalmente elaborado segundo critérios de digitalização, resultado da informatização das
redações” (DALMONTE, 2009, p. 122).
Na fase posterior, denominada Webjornalismo de segunda geração, “começam a
surgir modalidades de um produto jornalístico elaborado com base nas possibilidades
oferecidas pela rede. No entanto, é importante ressaltar que essa segunda modalidade ainda
está aparelhada ao modelo do jornal impresso, que lhe serve de referência” (DALMONTE,
2009, p. 122). Dentre as principais inovações dessa fase, pode ser citado o uso dos links com
chamadas para outros textos e do e-mail, que passa a ser utilizado como ferramenta de
comunicação entre jornalista e leitor ou entre os leitores.
Já a fase subsequente, definida como Webjornalismo de terceira geração, é marcada
“por uma produção jornalística especialmente desenvolvida para web, o que compreende a
internet como um ambiente inovador, apontando como um novo meio de comunicação. Nessa
fase, há o enriquecimento da narrativa jornalística, sobretudo pelo uso de recursos multimídia
e de interatividade, dentre outros” (DALMONTE, 2009, p. 122). É importante ressaltar,
contudo, que as referidas fases não são excludentes.
Ao comparar o jornalismo impresso com o jornalismo feito na web, Canavilhas
(2006) afirma que:
Nas edições online o espaço é tendencialmente infinito. Podem fazer-se cortes por
razões estilísticas, mas não por questões espaciais. Em lugar de uma notícia fechada
entre as quatro margens de uma página, o jornalista pode oferecer novos horizontes
imediatos de leitura através de ligações entre pequenos textos e outros elementos
multimédia organizados em camadas de informação (CANAVILHAS, 2006, p. 7).
39
Entendemos, assim, que webjornalismo não pode ser visto como uma ruptura ou
negação de uma tradição. Tampouco podemos concebê-lo como um fenômeno concluído, mas
sim em constituição, em que suas características próprias ainda estão se consolidando.
Tecemos, nesta sub-subsubseção, algumas considerações acerca do webjornalismo,
uma vez que consideramos relevante o trabalho não apenas com o jornal impresso, mas com
as demais formas de veiculação dos gêneros jornalísticos, tais como: a televisão, o rádio, a
revista, embora privilegiemos as mídias digitais. Na sub-subsubseção a seguir, refletiremos
sobre a abordagem dos gêneros jornalísticos no contexto escolar.
(1) alguns desses gêneros já estão inseridos no trabalho escolar e nos livros didáticos;
(2) certos gêneros do jornal são mais relevantes em termos das práticas sociais correntes
na sociedade;
(3) alguns gêneros propiciam exercícios mais relevantes no sentido do desenvolvimento
de habilidades de linguagem importantes;
(4) alguns desses gêneros caracterizam melhor o jornal e o discurso jornalístico
(BONINI, 2011, p. 66).
40
Compreendemos que esses critérios são relevantes, pois nos orientam a selecionar os
gêneros que são adequados ao trabalho escolar. O autor, ainda, afirma “ser aconselhável
estudar os gêneros essenciais ao entendimento do jornal, pois eles funcionam em conjunto, de
modo que a explicação de um depende de se explicar outro ou outros” (BONINI, 2011, p. 66).
São muitos os estudos relacionados aos gêneros jornalísticos. Como também são
numerosas as propostas de trabalho que vêm sendo desenvolvidas no contexto escolar dentro
dessa perspectiva. No nosso caso, a sequência didática que apresentamos tem como foco o
gênero reportagem, especialmente as que são veiculadas no meio digital.
Considerando os critérios apresentados por Bonini (2011), dentre os gêneros
jornalísticos, selecionamos a reportagem, uma vez que essa “representa uma atividade textual
de grande importância na esfera jornalística, uma vez que objetiva a divulgação de um fato,
porém de maneira mais aprofundada, apresentando elementos de comprovação, descrição
detalhada [...]” (BROCARDO E COSTA-HÜBES, 2015, p. 8).
Na subseção a seguir, trataremos com maior especificidade do gênero reportagem,
por entendermos que não há como pensar numa proposta de ensino dessa natureza, sem dispor
de uma análise descritiva que explicite as dimensões ensináveis do gênero a ser transposto
para a sala de aula. Ou seja, como ponto de partida, é necessário um estudo que forneça as
potencialidades didáticas do objeto de ensino.
É por assim pensarmos que, nesta subseção, damos uma maior atenção ao gênero
reportagem. Nesse sentido, reafirmamos que o conhecimento sobre sua função social, seu
contexto de produção e circulação, sua organização composicional e suas marcas linguísticas
foi imprescindível para a construção da sequência didática com foco no gênero em questão.
Segundo Brocardo e Costa-Hübes (2015),
41
De início, podemos constatar que este gênero representa uma atividade textual de
grande importância na esfera jornalística, uma vez que objetiva a divulgação de um
fato, porém de maneira mais aprofundada, apresentando elementos de comprovação,
descrição detalhada e, em muitos textos, destaca-se até recursos de argumentação.
Pode-se afirmar, portanto, que se configura como uma notícia ampliada. Sua
circulação se dá, normalmente, em diversos veículos/suportes, o que influencia, de
certa forma, em sua constituição, tanto formal quanto linguística (BROCARDO;
COSTA-HÜBES, 2015, p. 8).
Com a descrição apresentada pelas autoras nos parece possível obter uma visão
ampla acerca da reportagem. Trata-se de um gênero pertencente ao domínio jornalístico,
conforme já mencionado, e que tem como propósito comunicativo a divulgação de um fato de
maneira mais detalhada e aprofundada. Esse, inclusive, é um dos critérios adotados para
diferenciar a reportagem da notícia, gêneros considerados muito próximos. Assim, afirmam
Brocardo e Costa-Hübes (2015):
Assim notamos que cabe à reportagem uma abordagem mais intensa a respeito do
fato. No Manual, por exemplo, sugere-se que se planeje a escrita, previamente, e que se colha
o máximo de informações possíveis para que se tenha material suficiente para redigir o texto.
Conforme Silva (2012, p. 194), seria, portanto, o propósito comunicativo do gênero
reportagem: “informar a respeito de um assunto (ou desdobramentos de um fato), não estando
42
Nos títulos dados em gêneros jornalísticos, há implícita uma função apelativa com a
finalidade de chamar a atenção do leitor e atrair seu olhar, deixando-o decidir o que
quer ler e provocando a leitura do texto todo. [...] A gravata da reportagem, ou seja,
o subtítulo, são as linhas colocadas abaixo do título que têm a função de completar o
título e de apresentar de maneira resumida o assunto a ser tratado no texto. O olho
ocorre como recurso gráfico no qual é retirada uma frase de efeito ou impactante e é
colocada em destaque entre aspas dentro de um pequeno boxe ou espaço e em meio
às colunas em que são escritas as reportagens. [...] O lead é o relato inicial do texto
devendo informar o que é mais importante no texto e não o mais interessante. E
outro elemento característico é o box, que é uma caixa de texto diferenciada pela cor
e ganha destaque por utilizar textos combinados com tabelas, gráficos ou fotos
referenciando-se ao assunto (GAYDECZKA, 2007, p. 111).
Com isso, observamos que a reportagem circula, socialmente, por meio de suportes
impressos (jornais, revistas), assim como por meio das mídias eletrônicas (rádio, televisão,
computador). Acerca dessa questão, Brocardo e Costa-Hübes (2015, p. 16) sinalizam que:
Nesse sentido, não podemos negar é que, perante uma sociedade marcada por
mudanças no campo das tecnologias digitais, os gêneros se modificam, se transformam e
muitos passam a incorporar outras linguagens que não somente a verbal. É a respeito da
44
chegada de tais tecnologias e seus efeitos na linguagem oral e escrita que se encarrega a
próxima subseção.
Quando tratamos de leitura e escrita, é quase que impossível não associar essas
práticas ao ambiente escolar e, em especial, às aulas de língua portuguesa. De fato, é na escola
que a maioria das pessoas aprende a ler e a escrever. No entanto, a leitura e a escrita estão
presentes em praticamente todas as esferas das atividades humanas, embora nem sempre seja
fácil se dar conta disso.
Não é raro escutarmos de nossos alunos coisas do tipo “eu não gosto de ler”, “eu leio
pouco” ou “eu não sei escrever”5. Isso se deve, em parte, à concepção que se tem de leitura e
escrita como atividades estritamente escolares, conforme resultados de pesquisas já
desenvolvidas, a exemplo da realizada por Mendonça (2009, p. 104), na qual a pesquisadora
analisa: “pode-se constatar que a concepção tradicional de língua e de texto em geral ainda
fundamenta o trabalho em língua portuguesa na escola”.
Contudo, também lidamos com as práticas de leitura e escrita diariamente no
convívio social. Quando nos orientamos pelo que está escrito em uma placa ou respondemos a
uma mensagem de whatsapp, por exemplo, estamos realizando o que, recentemente,
convencionou-se chamar de letramento.
Esse conceito é relativamente novo, principalmente, quando se fala em âmbito de
Brasil. De acordo com Soares (2010, p. 32), “a palavra letramento ainda não está
dicionarizada6, porque foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa, tanto que
quase podemos datar com precisão sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa
palavra foi usada pela primeira vez”. Aqui a autora refere-se ao livro de Mary Kato, No
mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística, publicado em 1986.
De lá pra cá o termo vem sendo, frequentemente, utilizado e debatido. Segundo
Kleiman (2005),
5
Faço essa afirmação, baseando-me na minha experiência profissional.
6
Hoje, a palavra letramento já se encontra dicionarizada, mas não com a mesma acepção que lhe damos neste
texto: “letramento sm 1. Ant. A linguagem escrita 2. Pedag. V alfabetização, acepção 2”. Disponível em: <
http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=letramento>. Acesso em: 29 ago. 2016. No dicionário
consultado, a abreviação “Ant.” faz menção a “antigo, antiguado”. Diferenciamos, ainda, letramento de
alfabetização. Ainda que sejam conceitos que se inter-relacionam, a alfabetização está ligada aos processos
técnicos de codificação e decodificação, enquanto o letramento relaciona-se às práticas sociais (Cf. Soares,
2010).
45
Não podemos negar que definir o que é letramento não é tarefa das mais simples.
Afinal, Soares (2010, p. 66) já nos advertia que “o letramento cobre uma vasta gama de
conhecimentos, habilidades, capacidades, valores, usos e funções sociais; o conceito de
letramento envolve, portanto sutilezas e complexidades difíceis de serem contempladas em
uma única definição”.
Contudo, não vamos enveredar por essa discussão. De modo que, neste trabalho,
consideramos a seguinte definição: “Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de
aprender a ler e escrever; o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um
indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita” (SOARES, 2010, p. 18).
Esclarecemos que não estamos querendo simplificar as coisas, nem extrair o grau de
complexidade inerente ao conceito. O que desejamos que fique claro é que o letramento está
além do saber ler e escrever. É fazer uso desses saberes no contexto social e cultural no qual
se vive, por isso não está restrito aos muros da escola. Segundo Kleiman (2005, p. 6), “o
conceito de letramento surge como uma forma de explicar o impacto da escrita em todas as
esferas de atividades e não somente nas atividades escolares”.
É considerado letrado não apenas aquele que escreve e lê, mas todos os que
participam de maneira significativa de práticas de letramento. Podemos utilizar como
exemplo, o caso citado por Soares (2010) de uma criança que ainda não sabe ler e escrever,
mas que já folheia os livros, simula estar lendo e escrevendo ou, até mesmo, ouve as histórias
que lhe são lidas. Essa criança pode ser considerada letrada, uma vez que, já percebe a função
e o uso da escrita e da leitura no contexto em que vive.
Ressaltamos, contudo, que existem diferentes tipos e níveis de letramento, que,
conforme Soares (2010), dependem das necessidades e das demandas do indivíduo e do seu
meio social e cultural. Nesse sentido, reafirmamos que o indivíduo letrado é aquele que “usa
socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às
demandas sociais de leitura e escrita” (SOARES, 2010, p. 40).
Há de se convir que as demandas sociais de leitura e escrita, na contemporaneidade,
são muitas, ou melhor, múltiplas. Os usos da língua escrita foram mudando ao longo da
história e a tecnologia que lhes dá suporte também. Com isso, as exigências aumentaram:
46
“antes se esperava que a criança usasse lápis e papel para escrever de forma legível, hoje se
espera que ela escreva coisas com sentido no caderno e no computador, e também que use a
internet” (KLEIMAN, 2005, p. 20-21).
Dessa maneira, observamos que o termo letramento pode até ser relativamente novo,
mas as práticas de leitura e escrita não. Como fenômenos sociais, elas acompanham e sofrem
influências das transformações, inclusive as tecnológicas, que permeiam a história das
sociedades. Em grande parte das sociedades contemporâneas, a presença das tecnologias
digitais tem sido marcante, de modo que, com seu uso, têm-se potencializado e/ou criado
novas possibilidades de expressão e comunicação, o que tem exigido de nós as mais variadas
e multifacetadas práticas de letramento. Nas palavras de Dionísio (2011, p. 138), “na
atualidade, uma pessoa letrada deve ser capaz de atribuir sentidos a mensagens oriundas de
múltiplas fontes de linguagem, bem como ser capaz de produzir mensagens, incorporando
múltiplas fontes de linguagem”.
De acordo com Rojo (2012), o conceito apropriado para o momento não seria mais
letramento ou até mesmo letramentos múltiplos (termo que passou a ser utilizado para se
referir à multiplicidade e variedade das práticas letradas reconhecidas ou não pelas
sociedades), mas multiletramentos. Uma vez que o prefixo “multi” “aponta para dois tipos
específicos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente
urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade
semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica”
(ROJO, 2012, p. 13).
Nessa perspectiva, é necessário levar em consideração não apenas a diversidade de
linguagens que constituem os textos (multimodalidade), mas também à variedade de culturas
característica das sociedades globalizadas (multiculturalidade). Daí a proposta de se ampliar a
noção de letramento para multiletramentos, no plural, já que as práticas de leitura e escrita são
múltiplas e misturam-se, hibridizam-se, assim como as práticas culturais.
No entanto, a autora ressalva que os novos letramentos “não são simplesmente
consequência de avanços tecnológicos. Eles estão relacionados a uma nova mentalidade, que
pode ou não ser exercida por meio das novas tecnologias digitais” (ROJO, 2013, p. 7). Na
contemporaneidade, configuram-se novas práticas de linguagens, não só porque são novas as
ferramentas de leitura e escrita e as formas de circulação dos textos, mas também porque são
novas as relações multiculturais.
No que diz respeito à multiculturalidade, Rojo (2013, p. 17) afirma que “as culturas
são híbridas, dinâmicas, abertas à perpétua transformação, em movimento. Não são, portanto,
47
Até meados do século XIX, dois tipos de cultura se delineavam nas sociedades
ocidentais: de um lado, a cultura erudita das elites, de outro a cultura popular,
produzida no seio das classes dominadas. O advento da cultura de massas a partir da
explosão dos meios de reprodução técnico-industriais – jornal, foto, cinema –,
seguida da onipresença dos meios eletrônicos de difusão – rádio e televisão –,
produziu um impacto atordoante naquela tradicional divisão da cultura em erudita,
culta, de um lado, e cultura popular, de outro. Ao absorver e digerir, dentro de si,
essas duas formas de cultura, a cultura de massas tende a dissolver a polaridade
entre o popular e o erudito, anulando as suas fronteiras. Disso resultam cruzamentos
culturais em que o tradicional e o moderno, o artesanal e o industrial mesclam-se em
tecidos híbridos e voláteis próprios das culturas urbanas.
Com o agigantamento crescente dos meios de comunicação de massa, no século XX,
foram também crescendo as dificuldades de estabelecer distinções claras entre o
popular, o erudito e o massivo (SANTAELLA, 2003, p. 52).
Contudo, isso não significa dizer, ressalta a autora, que o erudito e o popular
deixaram de existir, mas que a linha que as separam tem se tornado cada vez mais tênue.
Nesse sentido, Santaella (2003) afirma:
[...] foi na década final do século XX que se evidenciaram de maneira mais intensa
os estudos sobre a hibridização de diversos processos culturais. O conceito de
“hibridização”, então, acabou sendo usado para descrever inúmeras situações de
relação cultural – desde processos interétnicos, de cruzamentos de fronteiras,
descolonização e globalização, até fusões artísticas, literárias e linguísticas. Diante
dessa intensificação, o autor busca levantar a hipótese de que o acesso à maior
variedade de bens, facilitado pelos movimentos globalizadores, democratizou, de
certa forma, a capacidade de combinar e criar multiculturalidades. De acordo com
ele, o conceito de hibridização refere-se a “processos socioculturais nos quais
estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para
gerar novas estruturas, objetos e práticas” (GARCÍA CANCLINI, 2008 [1989] apud
TEIXEIRA; LITRON, 2012, p. 169).
para isso, o professor necessita dispor de bases teóricas sólidas e atualizadas que o auxiliem
na preparação de atividades em sala de aula, que visem promover um ensino na perspectiva
dos multiletramentos.
Portanto, com o objetivo de refletirmos sobre as diferentes semioses que se
apresentam nos diferentes gêneros, sobretudo aqueles que fazem parte das esferas cotidianas
da vida dos estudantes, apresentamos a subsubseção que segue.
No nosso dia a dia, temos o contato com textos que vêm adquirindo cada vez mais
novas configurações, que transcendem a modalidade escrita da linguagem. Segundo Dionísio
(2011, p. 137), “afirmar que estamos vivendo na era da tecnologia e que as formas de
interação são influenciadas pelos avanços tecnológicos é afirmar o óbvio”. Dito de outra
forma, os avanços tecnológicos, na contemporaneidade, têm instigado a promoção de novas
composições textuais, sendo essas constituídas por elementos advindos das diferentes formas
da linguagem (escrita, oral, visual etc.).
Entendemos que todo texto, oral ou escrito, é por si multimodal, não podendo existir
em uma única modalidade, uma vez que, quando falamos ou escrevemos, usamos ao menos
dois modos de representação: “palavras e gestos, palavras e entonação, palavras e imagens,
palavras e tipográficas, palavras e sorrisos, palavras e animações etc.” (DIONÍSIO, 2011, p.
139). A multimodalidade é, portanto, um traço constitutivo de qualquer texto.
Nesse sentido, Dionísio (2014, p. 42) afirma que “é no texto, materialidade dos
gêneros, onde os modos (imagem, escrita, som, música, linhas, cores, tamanho, ângulos,
entonação, ritmos, efeitos visuais, melodia etc.) são realizados. O que faz com que um modo
seja multimodal são as combinações com outros modos para criar sentidos”.
A autora ressalva que conceber os gêneros como multimodais é considerar “também
à própria disposição gráfica do texto no papel ou na tela do computador” (DIONÍSIO, 2011,
p. 141). Sendo assim, é necessário atentar para todos os sistemas de signos usados na
construção de sentidos do texto. O simples destaque do título, os usos de diferentes tipos de
letras, tamanho e cor tornam qualquer texto escrito multimodal.
No entanto, com o uso das tecnologias digitais, as possibilidades de multimodalidade
se ampliam. Ao tratar dos gêneros emergentes nesse contexto, Marcuschi (2004, p. 13) reflete
que: “pode-se dizer que parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao fato de reunir num só
meio várias formas de expressão, tais como texto, som e imagem, o que lhe dá maleabilidade
51
Compreendemos, com isso, que, no contexto das mídias digitais, nos parece possível
pensarmos no hipertexto. O meio digital é responsável por oferecer uma “superabundância
textual”. Textos que antes eram tradicionalmente distribuídos nos mais diferentes objetos
(livros, revistas, jornais etc.) agora não só estão disponíveis em um único suporte, a tela,
como também podem se relacionar entre si. Trata-se da “multiplicação dos vínculos
hipertextuais”.
De acordo com Ribeiro (2012, p. 96), “uma das características mais debatidas do
hipertexto é a não linearidade de sua arquitetura, que enseja a ação não linear de leitura pelo
‘usuário’”. O que, para alguns, é uma característica basilar; para outros, a não linearidade é
importante, mas não suficiente para se considerar um texto como hipertexto, a saber:
[...] Xavier (2007) e Soares (2002), por exemplo, afirmam ser necessário estar em
ambiente digital para que um texto não linear seja um hipertexto. Outros tantos
pesquisadores preferem considerar, genealogicamente, como Bolter e Grusin (2000),
que hipertextos já existem há quase um milênio. Para esses, sumários e notas de
rodapé levam o leitor à navegação e podem ser a realização primária dos links, já
que, funcionalmente, acionam não linearidades num texto, mesmo estando ele em
papel (por exemplo, LÉVY, 1993; CHARTIER, 2001a; 2001b) (RIBEIRO, 2012, p.
97).
Dessa maneira, neste trabalho, assumimos a perspectiva daqueles que entendem que
o hipertexto não está atrelado apenas ao digital. Ou seja, entendemos que “mesmo com
tecnologias analógicas, produtos editoriais como revistas, jornais e livros de referência
apresentavam ao leitor uma arquitetura composta de fragmentos, justaposições e propostas de
busca e navegação” (RIBEIRO, 2012, p. 97).
52
Segundo Chartier (2002, p. 21), “nasce aqui uma pergunta: como pensar a leitura
diante de uma oferta textual que a técnica eletrônica multiplica mais ainda do que a invenção
da imprensa?”. Nesse sentido, acrescenta que:
Esse fato nos faz refletir o quão se tornou necessário ressignificar, não só as práticas
de leitura, como também as de produção textual no ambiente escolar. Se considerarmos a
diversidade de textos disponíveis, parece-nos possível afirmar que a escola ainda se restringe
ao texto impresso e ainda não prepara o aluno para leitura e escrita de textos em diferentes
mídias. Nesse sentido, ela também pode inserir cada vez mais o uso das tecnologias digitais
para que os alunos possam aprender a ler, escrever e expressar-se por meio delas.
Ribeiro (2009, p. 16) corrobora com esse pensamento ao afirmar que “já [...] não
basta mais ter competência apenas para lidar com o impresso”. De acordo com a autora, “a
internet e as máquinas digitais estão entre as opções mais recentes de letramento. Por isso
uma preocupação com os usos das novas tecnologias surgiu entre aqueles que investigam
leitura e escrita” (RIBEIRO, 2009, p. 20).
As questões tratadas por Chartier (2002) e Ribeiro (2009) iluminam a noção do que
alguns estudiosos convencionaram chamar de letramento digital, fato que corresponde ao
desenvolvimento das habilidades necessárias para que práticas de leitura e escrita se deem de
forma efetiva no ambiente digital. Segundo Coscarelli e Ribeiro (2005, p. 9 apud RIBEIRO,
2009, p. 27) “Letramento digital é o nome que damos, então, à ampliação do leque de
possibilidades de contato com a escrita também em ambiente digital (tanto para ler quanto
para escrever)”.
Diante disso, parece-nos pertinente refletirmos sobre a necessidade das escolas
integrarem as tecnologias digitais ao processo de ensino-aprendizagem e promoverem o
letramento digital.
Essa necessidade se mostra, pois, em resultados de pesquisas desenvolvidas no
contexto da escola básica, como os apresentados por Mendonça (2009), os quais nos
asseguram que:
Depreendemos disso que, talvez, o impasse maior agora seja como promover o
referido letramento digital. Planejar atividades dentro dessa perspectiva não é uma tarefa fácil,
sendo necessário ponderar alguns aspectos.
Nesse sentido, consideramos pertinentes algumas considerações feitas por Araújo
(2010). A primeira delas é quando o autor chama atenção para o fim pedagógico:
é preciso atentar para que a proposição da atividade seja feita sob a perspectiva de
ensino produtivo (HALLIDAY; McINTOSH; STREVENS, 1974), em que o aluno
reflita sobre o fenômeno estudado, construindo, assim, conhecimentos sobre a
própria língua. [...] Além disso, [...] há de se fazer um equilíbrio entre o lúdico e o
didático, de forma que o objeto seja interessante do ponto de vista da ludicidade,
mas que principalmente traga um conteúdo de ensino e viabilize aprendizagem
(ARAÚJO, 2010, p. 166).
Com isso, observamos que a tecnologia não pode ser vista apenas como um recurso
lúdico, mas seu uso precisa ter como objetivo primeiro e principal, a promoção da
aprendizagem. É importante também que a proposta didática não seja “uma simples
transposição de uma atividade normalmente feita no suporte papel para a tela” (ARAÚJO,
2010, p. 167). Para isso, o autor chama atenção para dois critérios: o de usabilidade, que
corresponde à facilidade do usuário ao utilizar as tecnologias digitais, e o de interatividade,
que diz respeito à possibilidade de o usuário interagir.
Portanto, com vistas a estabelecer o diálogo entre a teoria, perpassada pelas
diferentes vozes dos autores, e a prática, que reflete as aplicações das noções no contexto real
de seus usos na vida cotidiana, destinou-se todo o conjunto dessa segunda seção. A seguir,
apresentaremos a maneira como a pesquisa foi estruturada do ponto de vista metodológico.
55
3 METODOLOGIA
realizá-lo plenamente, mas é essencial conservar-se nessa meta, para não fazer do
objeto construído um objeto inventado. A simples escolha de um objeto já significa
um julgamento de valor na medida em que ele é privilegiado como mais
significativo entre tantos outros sujeitos à pesquisa. [...] Quanto mais o pesquisador
tem consciência de suas preferências pessoais mais é capaz de evitar o bias, muito
mais do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por
considerações científicas (GOLDENBERG, 1997, p. 45).
3. 3 A NATUREZA DA PESQUISA
De acordo com Silveira e Córdova (2009, p. 35), tem-se por objetivo na pesquisa
aplicada: “gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas
específicos. Envolve verdades e interesses locais”. Nessa perspectiva, escolhemos a sequência
didática como alternativa de aplicação, com vistas às questões relativas ao tema que se
investiga, no contexto de sala de aula.
58
A seguir, detalhamos cada uma das etapas do modelo da sequência didática proposto
pelos pesquisadores de Genebra:
a) Apresentação da situação
De acordo com os autores, a apresentação da situação visa preparar o aluno para a
atividade de expressão oral ou escrita que será desenvolvida, expondo-lhes “um projeto de
comunicação que será realizado ‘verdadeiramente’ na produção inicial” (DOLZ;
NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 84). É, portanto, o momento em que se constrói uma
representação da situação de comunicação e da atividade de linguagem que a ser executada.
Na apresentação da situação, deve-se expor um problema de comunicação bem
definido e preparar os conteúdos dos textos que serão produzidos. É necessário que os alunos
compreendam a situação de comunicação na qual vão agir. Nesse sentido, os autores sugerem
que quatro perguntas sejam respondidas nessa etapa, a saber: 1) qual gênero será abordado?;
2) a quem se dirige a produção?; 3) que forma assumirá a produção?; e 4) quem participará da
produção?
Em outras palavras, é um momento de tomada de decisões. Define-se: o gênero
(carta, bilhete, receita, seminário, debate, notícia, reportagem etc.); a modalidade (oral ou
escrita); o destinatário (os alunos da escola ou de outras escolas, os pais etc.); o meio de
circulação (jornal, cartaz, rádio etc.); o modo como será realizada (em grupo,
individualmente, todos juntos etc.). Dessa maneira, os alunos terão acesso às informações
necessárias para que conheçam o projeto de comunicação que lhes está sendo proposto.
b) Produção inicial
A partir da situação apresentada, é realizada a produção inicial relacionada com o
gênero proposto. Dolz, Noverraz, Schneuwly (2004) afirmam que, se a apresentação da
situação for bem elaborada e desenvolvida adequadamente, a primeira produção será bem
sucedida. É esse primeiro texto elaborado pelos alunos que oferece dados importantes para o
60
consciência do que foi e do que ainda precisa ser aprendido, tendo em vista a sua participação
e a realização das atividades que foram propostas.
Refletimos, ainda, que a sequência didática não se deve encerrar na produção final.
Considerando a importância da publicação das produções textuais dos alunos, sugerimos a
etapa da culminância, que consiste em criar condições para que o texto encontre seus
interlocutores. Faz-se necessário planejar como os textos produzidos durante a sequência
didática irão ao encontro de seus leitores/consumidores, uma vez que cada gênero tem suas
formas de circulação e apropriação na sociedade.
A partir da nossa proposta de adaptação do modelo da sequência didática, chegamos
ao seguinte esquema:
Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir das discussões tecidas na disciplina de Texto e Ensino, ministrada
pelo professor doutor Patrício Nunes Barreiros, no curso de Mestrado Profissional em Letras.
7
Os questionários que foram utilizados neste estudo são uma adaptação dos questionários produzidos por
Mendonça (2009).
8
Os questionários que foram utilizados neste estudo são uma adaptação dos questionários produzidos por
Mendonça (2009).
65
fornecidas precisavam ser autênticas, notamos que alguns alunos responderam-nos muito
rápido.
Orientados pelo CEP, eliminamos dos questionários dirigidos aos alunos as questões
que pudessem revelar a identidade dos alunos ou causar-lhes constrangimento. Nesse sentido,
recorremos às suas pastas documentais a fim de levantar os dados de que precisávamos, tais
como: a data de nascimento; o desempenho escolar nas séries anteriores; e o lugar da
residência (zona rural ou zona urbana).
Realizamos também uma entrevista com os pais de quatro estudantes que integram o
grupo específico deste estudo, a fim de compreendermos melhor o contexto sócio-cultural em
que vivem os alunos. Para tanto, orientamo-nos pelo questionário apresentado no anexo H.
Quanto à produção do diário de bordo, esse foi fundamental para o registro e
posterior análise da aplicação da sequência didática. Uma das contribuições da escrita do
diário está relacionada ao fato de proporcionar uma reflexão sobre a prática, além de
possibilitar análises mais complexas do contexto escolar. Nesse sentido, o diário de bordo foi
tomado como instrumento para a organização, retomada, sistematização e reflexão das
experiências vivenciadas. Nele, podemos não só relatar as ações e as dificuldades
encontradas, como também registrar, do ponto de vista pessoal, as nossas observações e
impressões.
Elaboramos ainda um material didático (Cf. apêndice D) para ser utilizado como
recurso na aplicação da sequência. Para isso, baseamo-nos nas características do gênero
apresentadas na seção anterior. O material está organizado em seis capítulos e é composto
basicamente por seções explicativas, atividades de leitura, de escrita e fichas avaliativas, a
serem respondidas ao final de cada etapa. Salientamos que o material foi sendo adaptado e,
até mesmo, construído no decorrer da aplicação, tendo em vista as necessidades que iam
surgindo.
Buscamos produzir um material didático que estivesse em consonância com as
principais orientações apresentadas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que
corresponde ao mais antigo dos programas voltados à avaliação e distribuição de obras
didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira, iniciado em 1929. Nesse sentido,
sinalizamos que houve um cuidado desde o projeto gráfico-editorial do material até a
elaboração de atividades que propiciassem aos estudantes oportunidades de desenvolver
ativamente as habilidades envolvidas no processo de aprendizagem e de modo a integrar as
tecnologias ao trabalho escolar.
66
Para análise das produções textuais dos alunos, precisávamos definir previamente
critérios que nos orientassem. Para tanto, recorreremos aos quadros teóricos, apresentados na
67
seção anterior deste trabalho. Utilizamos, ainda, como referência os aspectos sinalizados por
Antunes (2010) para análise de textos em sua dimensão global, a saber:
a) O universo de referência
Por se tratar de um gênero situado no domínio jornalístico, verificamos se as
reportagens produzidas pelos alunos apresentavam relações com um mundo real, e não com
um mundo fictício. Dentro desse critério, procuramos analisar, ainda, a questão da adequação
ao contexto de produção e circulação do gênero.
De acordo com a autora,
b) A unidade temática
Considerando esse critério, verificamos se os textos se desenvolveram, ou não, em
torno de um único tema. Em outras palavras, observamos se suas partes convergiam para o
mesmo ponto, ou seja, para a ideia central do texto.
c) A progressão do tema
Sob esse critério, procuramos observar como o tema ia sendo desenvolvido ao longo
do texto. No caso da reportagem, esse gênero caracteriza-se pela divulgação de um fato ou
assunto de forma mais aprofundada. Isso implica dizer que se espera que, acerca do mesmo
tema, coisas novas sejam acrescentadas. Faz-se necessário, portanto, observar como essas
informações vão progredindo no texto.
d) O propósito comunicativo
Todo texto é elaborado com uma finalidade. Nessa perspectiva, verificamos se as
produções textuais dos alunos cumpriam o propósito comunicativo relacionado ao gênero
reportagem: informar.
e) Os esquemas de composição do texto, conforme o gênero
Antunes (2010, p. 72) retoma Bakhtin, ao afirmar que os gêneros são “modelos ‘mais
ou menos estáveis’”. Dessa maneira, procuramos verificar se os textos apresentavam
propriedades que o caracterizavam como pertencente ao gênero em questão. Nesse sentido,
analisamos:
a presença dos elementos estruturais do gênero, a saber: o título, o subtítulo, o lead e
o corpo do texto;
68
a presença de depoimentos;
o uso de recursos visuais, como fotografias e ilustrações.
Entendemos que o critério de esquema de composição do texto, conforme o gênero
está relacionado ao conceito de construção composicional postulado por Bakhtin e seu
Círculo.
f) A relevância informativa
Esse critério diz respeito às novidades apresentadas nos textos, seja na forma, seja no
conteúdo. Aumenta-se a relevância do texto quanto mais se foge das obviedades. Segundo
Antunes (2010, p. 74), “o bom texto, portanto, é aquele que traz um grau de informatividade
adequado às suas circunstâncias de circulação”. Na reportagem, as novidades são
imprescindíveis, uma vez que o gênero constitui-se das informações levantadas através
trabalho investigativo do repórter.
g) As relações com outros textos
Partindo do princípio de que todo texto contém outros textos prévios, procuramos
verificar, a inserção de outras vozes na superfície dos textos produzidos pelos alunos. Esse
critério está, portanto, relacionado à questão da intertextualidade.
Entendemos por intertextualidade, quando um texto retoma uma parte ou a totalidade
de outro texto. A intertextualidade pode ocorrer de maneira explícita (quando há citação da
fonte do intertexto) ou de maneira implícita (quando ocorre sem citação expressa da fonte).
Elementos tradicionais estabelecidos em outros campos teóricos também foram
utilizados para caracterizar e compreender as produções iniciais e finais dos estudantes
pesquisados, a saber: observação e intervenção da professora pesquisadora; dados biossociais
dos estudantes; meio social no qual vivem, produções escritas fora do contexto escolar.
69
9
Dados disponíveis em: <<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=292910>>. Acesso em: 26 set.
2016.
70
construir um cruzeiro e edificar uma capela, sob a invocação dos apóstolos São Felipe e São
Tiago, que se tornaram padroeiros da nova localidade.
Nesse período, o pequeno povoado era conhecido pela designação de São Felipe das
Roças, tal a quantidade de lavouras de mandioca, fumo, cana-de-açúcar e cereais existentes.
Mais tarde, talvez por terem verificado que as cabeceiras do rio Copioba não estavam muito
longe do povoado, passaram a chamá-lo de São Felipe das Cabeceiras. Mas, em virtude do
seu grande desenvolvimento, em 29 de maio de 1880, foi criado o município com a
denominação de São Felipe. Sua composição administrativa é de dois distritos: São Felipe e
Caraípe, de acordo com a Lei nº 628, de 30 de dezembro de 1953.
Conforme os dados divulgados pelo IBGE, atualmente o município possui, em
média, 205,989 km² de extensão. Em 2010, sua população estimada era de 20.305 habitantes,
sendo que mais da metade (10.485 habitantes) residiam na zona rural. Nos últimos seis anos,
verificamos que houve um aumento demográfico, uma vez que se estima que a população
atual seja de 21.935 habitantes.
O Colégio Estadual Governador João Durval Carneiro – localizado na rua Dr.
Djalma Rocha Galvão, s/n, Centro – foi criado em 1986, através de um convênio firmado
entre a Prefeitura Municipal de São Felipe e o Governo do Estado da Bahia. Inicialmente,
havia apenas quatro salas de aula, existindo a oferta somente das séries iniciais do Ensino
Fundamental. Nessa época, seu nome também era outro, Escola Estadual de 1º Grau
Governador João Durval Carneiro.
No ano de 1992, a escola passou pela primeira ampliação e, em 2002, foi construído
um segundo pavilhão de salas de aula, tendo em vista a implementação do Segundo Grau.
Desde essa data, o “João Durval”, como também é conhecido, passou a ser considerada a
principal unidade escolar do município por ser a maior e única escola pública que tem a oferta
do Ensino Médio na cidade.
Sua estrutura física atual é composta por: três pavilhões; uma quadra poliesportiva,
que está em vias de reforma; e uma ampla área externa, onde acontecem os eventos de grande
porte do colégio, como a culminância de projetos interdisciplinares, e que também é utilizada
como estacionamento, sobretudo por professores, funcionários e visitantes.
As salas de aula estão concentradas nos pavilhões Prof. José Guedes e Prof.ª Maria
Alice S. N. Espínola. São treze ao total, sendo que uma delas é reservada para a Educação
Especial. A maioria das salas é ampla e, normalmente, tem-se o número de carteiras
suficientes para acomodar os alunos. Algumas possuem janelas grandes e todas são equipadas
com ventiladores de teto. No entanto, isso não é suficiente para amenizar o calor, sobretudo
71
no turno vespertino e nos meses em que a temperatura está mais alta. Percebe-se, ainda, que
as salas de aula carecem de pintura, pois suas paredes estão riscadas.
No pavilhão Raymundo dos Santos Ferreira, estão: a sala da direção e vice-direção; a
sala dos professores; a sala de xerografia; o almoxarifado/sala de arquivo; a rádio escolar; a
sala de informática/biblioteca; a sala de vídeo; o auditório, que tem capacidade para acomodar
200 pessoas; a secretaria; a despensa; a cozinha; o depósito; e o pátio, que funciona também
como refeitório. Além disso, no colégio há rampas de acesso para cadeirantes e seis
banheiros, sendo dois adaptados para deficientes físicos. Grande parte das suas instalações
pode ser conferida no anexo I.
Ressaltamos que, na sala de informática, há doze computadores com conexão à
internet. Esses computadores podem ser utilizados pelos alunos para realizarem pesquisas e as
atividades escolares propostas pelos professores. Esclarecemos, ainda, que a internet utilizada
no colégio é financiada pela Secretária da Educação do Estado da Bahia (SEC).
Na sala de Educação Especial, são atendidas pessoas da comunidade que têm
necessidades especiais auditivas e intelectuais, tais como Síndrome de Down, paralisia
cerebral, autismo, TDA, TDA/H e dislexia. De acordo com informações cedidas pelo colégio,
a sala conta com uma equipe de profissionais preparados para o atendimento a essas pessoas:
técnicos em Libras, pedagogo e psicopedagogo. Nesse sentido, é desenvolvido um conjunto
de atividades que estimulam o processo da comunicação entre mudos, surdos e falantes, bem
como são realizadas propostas pedagógicas que estimulam o cognitivo, permitindo que se
abra um caminho facilitador para a aprendizagem e respeitando as limitações físicas e
psíquicas desses sujeitos.
Além do prédio situado na sede municipal, a instituição conta ainda com um anexo
na Vila Caraípe, distrito de São Felipe, onde funcionam uma turma de 3º ano do Ensino
Médio e uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Hoje, o Colégio João Durval está vinculado ao Núcleo Regional de Educação – NRE
21, sediado em Santo Antônio de Jesus. O NRE 21 é responsável por cinquenta e nove escolas
localizadas nos vinte municípios do Território de Identidade do Recôncavo, conforme é
ilustrado na figura a seguir:
72
pontuação obtida foi 2,4. No quadro abaixo, podemos observar as notas do colégio e as metas
projetadas:
ensino é desde 2012, após aprovação em um concurso público para professor, realizado pela
Secretaria de Administração do Estado da Bahia (SAEB) em 2010, sendo convocada para
lecionar língua portuguesa no Colégio Estadual Governador João Durval Carneiro.
Como resido em Feira de Santana, para chegar a São Felipe, tenho que me deslocar
cerca de 110 km, sendo necessário recorrer a dois transportes públicos, posto que há apenas
um horário de ônibus da linha Feira de Santana - São Felipe e o mesmo é incompatível com
meu horário de trabalho. Dessa maneira, a viagem de ida dura, aproximadamente, duas horas
e meia, incluindo aqui o tempo de espera entre um transporte e outro. No retorno, é feito o
mesmo procedimento.
Apesar de ser uma viagem cansativa, gosto do lugar onde trabalho, sobretudo pela
relação amistosa entre os sujeitos que ali convivem: professores, alunos, direção e
funcionários. Confesso que, no início, assustei-me com a distância que teria que percorrer
para chegar até São Felipe. Contudo, recordo-me que, já nas primeiras semanas de trabalho,
senti-me acolhida. Contei com a ajuda dos colegas para encontrar um lugar onde ficar durante
os dias de trabalho, já que seria inviável ir e retornar, diariamente, para Feira de Santana.
Ademais, fui bem recebida pelos alunos.
Tendo em vista meu aperfeiçoamento profissional, fiz alguns cursos de formação
continuada nestes últimos anos. A decisão por fazer a seleção do Mestrado Profissional se deu
por diversos motivos. Um deles é que sempre tive a vontade de dar seguimento à minha
formação acadêmica. Além disso, identifiquei-me com a proposta do PROFLETRAS, cujo
objetivo maior é a capacitação de professores em língua portuguesa para exercício da
docência no Ensino Fundamental com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade do
ensino no país.
De 2010 a 2014, trabalhei como professora de Espanhol e Arte numa escola
particular na cidade de Santo Estevão. Nessa instituição, foi implantado um sistema de ensino
que contava com um material de apoio digital integrado ao material impresso. Surgiu daí o
meu interesse pelo uso das tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem, não
apenas como ferramenta didática, mas como próprio objeto de estudo. Quando foi necessário
construir, no PROFLETRAS, uma proposta de ensino tendo em vista a realidade onde
atuávamos, percebi a oportunidade de estudar mais sobre o assunto e de também propiciar
essa experiência aos alunos do Colégio João Durval.
Outra questão também inquietante para mim diz respeito às dificuldades dos alunos
quanto às práticas de leitura e escrita, sobretudo, no contexto escolar. Tais dificuldades são
77
atestadas tanto no próprio cotidiano escolar quanto no baixo rendimento desses alunos em
avaliações internas e/ou externas.
Foi, então, que me lancei no desafio de realizar a seleção de um Mestrado
Profissionalizante, no qual tive a oportunidade não só de construir e aplicar uma sequência
didática com vistas ao desenvolvimento das competências discursivas a partir do gênero
reportagem veiculada no meio digital, mas também de (re)pensar sobre as minhas próprias
ações enquanto profissional e pessoa. Nesse sentido, o PROFLETRAS foi para mim uma
experiência transformadora e que proporcionou, ao longo desse percurso, diversos momentos
de reflexão.
No conjunto do desenvolvimento deste trabalho, segue a descrição geral dos demais
envolvidos neste percurso de pesquisa, presentes na subsubseção a seguir.
Quadro 7 - Práticas de leitura e escrita do grupo geral dos sujeitos estudantes fora do contexto escolar
CÓDIGO GOSTA GOSTA DE OS SITUAÇÃO EM QUE MAIS TEM TIPO DE REVISTA TEM PARA QUE MAIS COSTUMA
DE DE LER ESCREVER FAMILIARES UTILIZA A ESCRITA ACESSO A QUE ATRAI ACESSO À UTILIZA A ACESSAR
IDENTIFI- COSTUMAM REVISTAS INTERNET INTERNET REVISTAS
CAÇÃO LER/ 0- Lista de compras E/OU 0- Semanais OU JORNAIS
DO ESCREVER 1- Bilhete para recado JORNAIS 1- Curiosidade 0- Redes sociais ON-LINE
SUJEITO EM CASA 1- Trabalhos
2- Diário científica
3- Cartas 2- Moda escolares
4- Whatsapp/Facebook 3- Entretenimento 2- Email
5- Outra 4- Horóscopo 3- Manter-se
5- Esporte informado
6- Carros 4- Outro
7- Outro
Sim Não Sim Não Sim Não 0 1 2 3 4 5 Sim Não 0 1 2 3 4 5 6 7 Sim Não 0 1 2 3 4 Sim Não
G02
G03
G05
G08
G09
G10
G11
G12
G14
G15
G16
G17
G19
G21
G22
G23
Fonte: Quadro elaborado por Mendonça (2009) e adaptado pela pesquisadora, considerando a realidade local da pesquisa.
81
No que diz respeito aos alunos que compõem o grupo específico, utilizamos os
mesmos instrumentos para coleta de dados e chegamos ao seguinte quadro descritivo:
84
Quadro 10 - Práticas de leitura e escrita do grupo específico dos sujeitos estudantes fora do contexto escolar
CÓDIGO GOSTA GOSTA DE OS SITUAÇÃO EM QUE MAIS TEM TIPO DE REVISTA QUE TEM PARA QUE MAIS COSTUMA
DE DE LER ESCREVER FAMILIARES UTILIZA A ESCRITA ACESSO A ATRAI ACESSO À UTILIZA A ACESSAR
IDENTIFI- COSTUMAM REVISTAS INTERNET INTERNET REVISTAS
CAÇÃO LER/ 0- Lista de compras E/OU 0- Semanais OU JORNAIS
DO ESCREVER 1- Bilhete para recado JORNAIS 1- Curiosidade 0- Redes sociais ON-LINE
SUJEITO EM CASA 1- Trabalhos
2- Diário científica
3- Cartas 2- Moda escolares
4- Whatsapp/Facebook 3- Entretenimento 2- Email
5- Outra 4- Horóscopo 3- Manter-se
5- Esporte informado
6- Carros 4- Outro
7- Outro
Sim Não Sim Não Sim Não 0 1 2 3 4 5 Sim Não 0 1 2 3 4 5 6 7 Sim Não 0 1 2 3 4 Sim Não
R01
R02
R03
R04
Fonte: Quadro elaborado por Mendonça (2009) e adaptado pela pesquisadora, considerando a realidade local da pesquisa.
87
Diante desses dados, verificamos que, fora do contexto escolar, as práticas de leitura
e escrita dos alunos que compõem o grupo específico estão relacionadas,
principalmente, ao meio digital.
89
Quadro 11 - Práticas de leitura e escrita do grupo específico dos sujeitos estudantes no contexto escolar
CÓDIGO DE GOSTA DE LER GOSTA DE UTILIZA OS UTILIZA A INTERNET LÊ REVISTAS OU
IDENTIFICAÇÃO ESCREVER COMPUTADORES JORNAIS
DO SUJEITO
Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não
R01
R02
R03
R04
Fonte: Quadro elaborado por Mendonça (2009) e adaptado pela pesquisadora, considerando a realidade local da pesquisa.
90
A partir da análise dos dados coletados por meio das entrevistas realizadas com os
pais dos alunos que compõem o grupo específico de sujeitos considerado nesta pesquisa,
chegamos ao seguinte quadro descritivo:
92
Fonte: Quadro elaborado por Mendonça (2009) e adaptado pela pesquisadora, considerando a realidade local da pesquisa.
93
Quadro 13 - Práticas sociais das famílias do grupo específico dos sujeitos estudantes
IDENTIFICAÇÃO COSTUMA-SE COSTUMA-SE POSSUI PARA QUE SE QUAL A COSTUMA-SE ASSINAM
DO SUJEITO LER EM ESCREVER COMPUTADOR COSTUMA PRINCIPAL ASSISTIR A JORNAL OU
ENTREVISTADO CASA? EM CASA? EM CASA? UTILIZAR O ATIVIDADE DE PROGRAMAS REVISTA?
COMPUTADOR? LAZER DA DE TV?
FAMÍLIA?
0- Acessar redes
sociais
1- Fazer trabalhos
escolares
2- Enviar e
receber e-mails
3- Manter-se
informado
4- Outros
Sim Não Sim Não Sim Não 0 1 2 3 4 Sim Não Sim Não
Nenhuma das mães declarou que a família possui assinatura de revista ou jornal
impresso.
Descrevemos, realmente, na subseção que segue, como foi possível desenvolver a
sequência didática no contexto real de aprendizagem.
6
Consideramos como presença constante, o estudante que teve freqüência igual ou superior a 70% da carga
horária utilizada para a aplicação da sequência didática.
97
Apresentação do gênero
modo, verificamos que o texto jornalístico, a exemplo da reportagem, não é totalmente isento
de parcialidade, visto que nele está presente a posição ideológica do autor.
a finalidade de se manterem informadas, uma vez que nesse ambiente as notícias são
frequentemente atualizadas.
Pedimos, então, que os alunos visitassem o site da revista Superinteressante. Para
isso, orientamos que utilizassem o endereço eletrônico que constava no material didático (Cf.
apêndice D, p. 159). Como nenhum dos estudantes conhecia o site, solicitamos que
observassem a página inicial: as imagens, as informações verbais, a estrutura. Explicamos que
algumas revistas possuíam um público leitor bastante definido, por exemplo, havia
publicações que eram dirigidas especificamente ao público feminino; já outras, ao público
infanto-juvenil e assim por diante. Chegamos à conclusão de que, no caso da
Superinteressante, aqueles que se interessavam pelo conteúdo da revista eram, em sua
maioria, jovens ou pessoas que gostavam de tecnologia ou descobertas científicas.
Depois, foi o momento de acessar a reportagem Os 10 comerciais de cerveja mais
machistas dos últimos tempos7 no site da Super. Os que sentiram necessidade utilizaram as
instruções presentes no material (Cf. apêndice D, p. 159-160). Observamos que, durante a
leitura do texto, os alunos interagiam entre si, riam e comentavam sobre os vídeos em que
clicavam. Concluído o tempo que foi disponibilizado para a leitura, perguntamos-lhes o que
acharam do texto e o que haviam notado de diferente entre a reportagem que acabaram de ler
e a outra que havíamos trabalhado na atividade anterior. Eles responderam que uma possuía
vídeo e a outra não. Discutimos, então, se a presença dos vídeos era importante para a
compreensão daquela reportagem. Uma aluna, então, relatou que não havia assistido a todos
os vídeos, mas que eles eram interessantes porque mostravam os comerciais de cerveja que
foram citados no texto, já que alguns ela não conhecia.
Chamamos atenção, ainda, para os links, palavras e expressões sublinhadas no texto e
que, quando clicados, davam acesso a outras páginas. Solicitamos também que observassem
que havia um espaço reservado para comentários, o que permitia ao leitor interagir a qualquer
momento com a redação da revista e até mesmo com outros leitores. A intenção era que, aos
poucos, os alunos se dessem conta de alguns aspectos relacionados à reportagem publicada na
web.
Após esse momento, pedimos que a atividade do material (Cf. apêndice D, p. 160)
fosse respondida. Uma das questões da atividade solicitava que o aluno expressasse sua
opinião a respeito do uso da imagem feminina nas propagandas de cervejarias. Em outra
questão, requisitava-se que fossem apontadas as diferenças entre a reportagem publicada na
7
Disponível em: <http://super.abril.com.br/cotidiano/os-10-comerciais-de-cerveja-mais-machistas-dos-ultimos-
tempos>. Acesso em: 10 out. 2016.
100
Reconhecimento do gênero
8
Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2016/07/medico-debocha-de-paciente-na-
internet-nao-existe-peleumonia.html>. Acesso em: 10 out. 2016.
101
episódios que haviam visto na televisão. Apresentamos, então, imagens de algumas situações
que marcaram a cerimônia: pedidos de casamento; participação de deficientes físicos;
protestos políticos; e, por fim, uma fotografia da onça Juma. Questionamos se eles sabiam o
que havia acontecido com o animal, alguns responderam que sim. Em seguida, foi exibido o
vídeo A morte da onça Juma em evento da tocha olímpica no Amazonas9. Apesar de abordar
uma questão séria, o vídeo apresentava certo tom humorístico, uma vez que o personagem
utilizava uma linguagem coloquial, mais descontraída, para comentar o sacrifício da onça
durante o evento de revezamento da tocha, demonstrando sua indignação diante do ocorrido.
O vídeo foi utilizado como mote para apresentarmos a reportagem a ser trabalhada.
No entanto, resolvemos lançar um desafio para turma e lhe perguntamos se aquele vídeo
poderia ser considerado uma reportagem televisiva. Curiosamente, uma aluna respondeu que
sim, pois estava informando a respeito de um fato ocorrido na sociedade. Apesar de coerente,
essa não era a resposta que esperávamos. Pedimos, então, que fossem observados alguns
aspectos do vídeo, como: a postura, a vestimenta e a linguagem utilizada pelo personagem; a
forma como ele emitia explicitamente sua opinião sobre o que aconteceu. Comparando essas
informações com o que conheciam de reportagem televisiva, os alunos chegaram à conclusão
de que aquele vídeo não poderia ser considerado uma reportagem.
9
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=94AaZxxVjrU>. Acesso em: 10 out. 2016.
102
Produção inicial
Antes da produção inicial, retomamos a situação de comunicação, uma vez que essa
já havia sido apresentada aos alunos no primeiro encontro. Nessa aula, lhes mostramos o
protótipo da revista on-line elaborado previamente pela professora na plataforma do
WordPress e que seria, posteriormente, alimentado com as reportagens produzidas por eles.
Foi possível observar que alguns alunos se mostraram bastante receptivos e animados com a
proposta.
Em seguida, anunciamos que, naquele momento, faríamos uma espécie de “reunião
de pauta”, em que decidiríamos o conteúdo das reportagens, o público alvo da revista e como
10
Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2016/06/o-fim-tragico-da-onca-juma-exibida-em-
passagem-da-tocha-e-sacrificada-apos-fuga.html>. Acesso em: 10 out. 2016.
103
os textos seriam produzidos. Ficou decidido que as produções seriam realizadas em equipe e
que cada uma deveria escolher um tema/assunto. Quanto ao público, como teríamos
reportagens sobre diversas temáticas, não seria possível considerar um tipo de leitor
específico, mas sim um público vasto.
Convidamos para participar dessa aula um sujeito são-felipense, que, apesar de não
ser jornalista, criou um blog de notícias e reportagens, o São Felipe News. Por ter outros
compromissos na data, o convidado não atendeu ao convite. O objetivo era que ele
compartilhasse sua experiência de escrever textos jornalísticos para o blog. Quando comentei,
com os alunos, do convite que havia feito, alguns relataram que o conheciam. Aproveitamos a
oportunidade e expomos que, hoje em dia, com o advento da internet, muitas pessoas, como
Leandro que não possui uma formação acadêmica na área, criaram blogs ou sites de
jornalismo para divulgar notícias, sobretudo a respeito da sua cidade e região.
Após essa conversa inicial, as equipes se reuniram e lhes foi sugerida a atividade do
material (Cf. apêndice D, p. 176-178) para que os alunos pudessem planejar a escrita da
reportagem. Procuramos enfatizar a importância de se coletar dados, colher depoimentos de
especialistas e pessoas relacionadas ao assunto, selecionar imagens, vídeos ou outros recursos
visuais para compor o texto. Definidos os conteúdos das reportagens, nos dirigimos ao
laboratório de informática, para que as primeiras pesquisas fossem realizadas. Os alunos,
então, começaram a responder a atividade que consistia numa espécie de roteiro. Tentamos,
dessa forma, auxiliá-los no processo de escrita, já que aquela era a produção inicial. Esse
momento de planejamento requisitou uma assistência maior por parte da professora, tanto na
construção dos roteiros, já que alguns precisaram ser adaptados, como na orientação das
pesquisas. Como não foi possível concluir a atividade em classe, foi solicitado que os alunos a
realizassem em casa. Disponibilizamos também uma folha de rascunho para as equipes que
quisessem utilizá-la antes de digitar o texto.
Na aula seguinte, fomos à sala de informática para redigir a reportagem no programa
Microsoft Word. Embora muitos tenham demonstrado domínio do programa, foi necessário
esclarecer algumas dúvidas. A maioria dos alunos parecia envolvida com realização da
produção. Acordamos que cada equipe deveria enviar a reportagem para professora, após
concluí-la. Quatro alunos não fizeram a produção inicial, salientamos que os mesmos não
tiveram uma frequência constante e tampouco realizaram as atividades que já haviam sido
propostas até o momento.
104
a consultar as atividades anteriores. Isso nos mostrou que esses aspectos precisavam ser
revistos, já que os alguns alunos ainda não haviam se apropriado desses conceitos.
Módulos de intervenção
Identificadas as dificuldades nos textos dos alunos, partimos para aplicação dos
módulos de intervenção. Elaboramos dois módulos com o objetivo de minimizar os
“problemas” que foram observadas nas produções iniciais. No primeiro, propusemos
atividades para trabalhar detalhadamente cada parte da reportagem: o lead, o corpo do texto, o
título e o subtítulo. No segundo módulo, exploramos a questão das imagens, vídeos e recursos
gráficos utilizados na composição do texto.
Módulo 1
Módulo 2
auxiliando a professora a esclarecer as eventuais dúvidas que surgissem por parte dos demais
colegas.
Observamos que os alunos pareciam bastante animados e envolvidos com o que
estavam fazendo, já que se tratava de uma experiência nova para eles. À medida que
realizavam a atividade, era possível ouvir relatos de contentamento a respeito do próprio
trabalho.
Produção final
Nesse texto, a aluna inseriu um link para um vídeo disponível no YouTube, já que
para postar vídeo na plataforma do WordPress demandaria um custo. Como havia também
relação entre alguns textos produzidos pelos alunos, fizemos links entre as produções também.
A escolha dos assuntos a serem abordados nos textos, mais uma vez, ficou a cargo de
cada equipe e dos alunos que iriam fazer as produções individualmente. Um dos sujeitos
decidiu fazer uma reportagem sobre depressão na adolescência, o que nos chamou atenção.
Quando questionado sobre a escolha do assunto, ele respondeu que conhecia algumas pessoas
que estavam passando ou já passaram por essa situação.
A professora ficou responsável pela edição final da revista, que seria posteriormente
apresentada aos alunos no momento da culminância. Afinal, eles ainda não tinham visto como
havia ficado a revista totalmente pronta.
11
Para ter acesso à revista on-line Eu repórter, produzida pelos alunos e pela professora nessa sequência didática,
utilizar o endereço eletrônico: eureporterblog.wordpress.com
111
Foi uma unidade diferente, trabalhamos mais com a tecnologia, foi uma experiência muito
boa! Aprendir tantas coisas novas e legais que não sabia, me ajudou a entender melhor. Foi
diferente, adorei todas as aulas, principalmente nas aulas virtuais.
Minha participação foi boa! Mim sair bem, pois dei o meu melhor, em todas as atividades.
Provavelmente, a aula utilizou o termo “aulas virtuais” para se referir aos encontros
que ocorreram na sala de informática e em que os alunos utilizaram os computadores para
realizar as atividades, as pesquisas e produzirem a reportagem.
O projeto foi muito legal, aprendi coisas novas me enturmei mais, ajudou a compreender
melhor o que é notícia e reportagem, como fazer etc. foi muito interessante podermos fazer
112
nossa própria reportagem, aprender como utilizar o blog. Minha participação nele em
porcentagem dou 95%. Eu participei fiz todas as atividades propostas. Gostei muito, trouxe
novas propostas de conhecer mais o mundo através da reportagem.
Com vistas à divulgação das produções textuais dos alunos, criamos, na plataforma
do WordPress, um blog nos moldes de uma revista on-line. Optamos por utilizar o WordPress
por essa ser uma plataforma de fácil manuseio, gratuita e acessível. A construção de um site
demandaria a contratação de um profissional e sua manutenção seria custosa. Desse modo, o
uso da plataforma WordPress foi uma alternativa eficaz e econômica para socializar as
produções dos alunos.
O WordPress é um aplicativo de sistema de gerenciamento de conteúdo para web,
direcionado, especialmente, para criação de blogs, mas que, neste trabalho, foi utilizado para
criação de uma revista on-line. Para se criar um blog, no WordPress, é necessário acessar o
site br.wordpress.com e ter uma conta de e-mail para realização de um cadastro. Na
plataforma, são disponibilizados diversos temas, muitos deles, gratuitos. O tema corresponde
ao layout do blog. O próprio site do WordPress oferece informações que possibilitam ao
usuário criar seu blog de forma personalizada.
Para ter acesso à revista on-line Eu repórter, produzida pelos alunos e pela
professora nessa sequência didática, pode ser utilizado o endereço eletrônico:
eureporterblog.wordpress.com.
A revista possui um menu que está dividido em seis páginas, a saber: Início, Sobre,
Reportagens, A redação, Sites de interesse e Contato. Na página Sobre, há um texto produzido
pela professora contextualizando a produção da revista. Na página Reportagens, podem ser
encontrados os textos dos alunos, que estão organizados por temáticas, conforme se verifica
na figura a seguir:
113
O título da revista, Eu repórter, foi uma sugestão da professora e que foi aceito pelos
estudantes. A ideia é que o título representasse o trabalho investigativo dos estudantes, que
114
Com base na descrição dos dados e nos critérios propostos para as análises das
produções escritas dos estudantes é possível afirmarmos que as experiências das produções
escritas dos sujeitos R01, R02, R03 e R04 revelaram-se adequadas ao projeto enunciativo. Os
dados demonstram que, de modo geral, mesmo sendo uma produção inicial, foi possível
identificarmos nos textos desenvolvidos pelos estudantes características específicas do gênero
reportagem, tais como: a abordagem de temas/assuntos reais e pertinentes; o emprego de uma
linguagem com certo nível de formalidade; o propósito comunicativo de informar; a presença
dos elementos estruturais (título, subtítulo, lead e o corpo do texto); a inserção de
depoimentos; e o uso de recursos visuais. Entendemos assim, que o alcance do objetivo
proposto da produção do gênero reportagem pelos sujeitos da pesquisa foi possível graças ao
desenvolvimento efetivo na aplicação da sequência didática no contexto escolar, já que,
conforme mostraram os dados, os referidos sujeitos não possuíam, fora da escola,
experiências como produtores de textos dessas esferas de atividades.
Com isso, observamos que os dados subsidiaram o entendimento de que a
experiência de base etnográfica propicia ao professor no contexto escolar, o direcionamento
de suas ações. Ou seja, foi graças à aplicação de instrumento de sondagem e de pesquisa fora
da sala de aula, que foi possível verificarmos que as experiências de produção e recepção de
textos dentro do domínio escolar só lograriam êxito, se considerássemos quem eram esses
estudantes, quais os seus dados biossociais e quais eram as suas experiências de escrita fora
da escola.
Dessa maneira, mesmo sendo em uma produção inicial, os dados revelaram que R01,
R02, R03 e R04 produziram textos estruturalmente adequados ao projeto enunciativo
proposto, pois, com o entendimento de que se ausentava da vida dos estudantes pesquisados
as experiências de produção de textos da esfera jornalística, a professora pesquisadora pode
115
12
O título foi alterado pela estudante no momento da reescrita para Aconteceu, marcou e ficou e está disponível
em: < https://eureporterblog.wordpress.com/2016/09/06/aconteceu-marcou-e-ficou/>.
121
a morte da onça Juma, foram bastante noticiadas e chegou a chamar a atenção da mídia
internacional; já outras não tiveram tanto destaque, revelando-se como novidade para alguns
leitores.
Já nas relações com outros textos, os dados de escrita de R02 mostram que, de forma
explícita, foi utilizado o depoimento de uma autoridade relacionada a um dos fatos
mencionados no texto. Pressupõem-se, ainda, a relação com outros textos que foram
utilizados para levantamento de informações. Inclusive, os últimos parágrafos do texto
revelam que a estudante apropriou-se de textos de outras fontes, embora não tenha feito
menção a essa fonte, uma vez que não verificamos, nestes parágrafos, as mesmas marcas
linguístico-discursivas que se manifestaram no início do texto.
Concluímos, a partir disso que o texto inicial de R02 apresenta-se adequada à
proposta de produção. No entanto, há aspectos formais que precisavam ser revistos, como: a
construção do título, do subtítulo, do lead e de alguns outros parágrafos do texto que
apresentaram problemas de concordância verbal e pontuação; a manutenção da unidade
temática; e a apropriação de outros textos sem menção à fonte.
Por sua vez, R03, que fora do contexto escolar costuma acessar as redes sociais; que,
como R01, R02 e R04, gosta de ler em casa, especialmente, livros de drama e aventura; e,
assim como R01 e R02, está habituada a escrever mensagens no Whatsapp e no Facebook,
declarou que se interessa por revistas sobre descobertas e curiosidades científicas e que a mãe
costuma ler/escrever em casa.
Os dados, ainda, mostraram que o uso da internet por R03 se dá em casa através de
planos de internet, de modo que já acessou o site da Capricho. Os dados revelaram, portanto,
que as práticas de leitura e escrita do sujeito R03 estão relacionadas, principalmente, ao meio
digital. Notamos também que a experiência de leitura e escrita que R03 possui advém da
influência da sua mãe, já que essa costuma ler a Bíblia e está cursando no momento o Ensino
Médio. A mesma afirmou acompanhar os estudos da filha, sobretudo em casa, quando essa
realiza as atividades e trabalhos extra-escolares. Quanto às práticas de lazer, a família de R03
costuma visitar os demais familiares, além do mais assiste a jornais e novelas na TV.
Assim, os dados de escrita da produção inicial do sujeito R03, intitulada JDC 30
anos (Cf. anexo L), revelaram-se, sistematicamente, da seguinte maneira:
122
B – Unidade temática
Ideias convergem para o tema central do texto.
X Ideias convergem para outras ideias para além do texto.
C – Progressão temática
X Há progressão temática.
Elementos são repetidos, à medida que o texto é produzido, dificultando a progressão.
D – Propósito comunicativo
X Cumpre o propósito comunicativo de informar.
Distancia-se do propósito comunicativo de informar.
E – Esquema de composição do texto, conforme o gênero
X Apresenta título.
X Apresenta subtítulo.
X Apresenta lead.
X Apresenta depoimentos.
X Possui recursos visuais.
F – Relevância informativa
X Possui diversificadas novidades no trabalho investigativo de repórter.
Possui pouca novidade no trabalho investigativo de repórter.
G – Relações com outros textos
X Possui intertextualidade implícita.
X Possui intertextualidade explícita.
Não possui intertextualidade.
Fonte: Elaborado pela professora pesquisadora a partir do que propõe Antunes (2010).
como uma informação adicional ao leitor. Ademais, escolha desse tema/assunto nos pareceu
bastante interessante e parece estar relacionado ao cotidiano do estudante, que é um dos
integrantes da Filarmônica.
No que tange à progressão do tema, há, no texto, uma progressão constante, pois a
cada parágrafo novas informações são acrescentadas. Contudo, algumas informações parecem
soltas, a título de exemplo, citamos o terceiro parágrafo: “Vários instrumentos como saxofone
alto e tenor, trombone, clarinete, trompete, tuba, bumbo, cacha, prato, repique e etc”. Desse
modo, observamos que, na produção de R04, ausentam-se alguns elementos que dariam
coesão ao texto.
No que diz respeito ao propósito comunicativo, notamos na produção de R04 a
finalidade de informar.
Sobre os esquemas de composição do texto, conforme o gênero, verificamos, no
texto, a presença dos seguintes elementos estruturais: o título, o subtítulo, o lead e o corpo do
texto, o que atende à construção composicional típica do gênero. Contudo, no subtítulo, não
foi feita nenhuma menção à Filarmônica, embora esse seja o assunto principal do texto. No
lead, observamos alguns desvios às normas gramaticais, como problemas com a pontuação,
sendo que esse aspecto se repete em outros momentos do texto. Consideramos também que os
recursos visuais poderiam ser melhor explorados na produção textual do sujeito R04.
Acerca da relevância informativa, consideramos que a novidade está em seu
conteúdo. O autor não só noticia a participação da Filarmônica Copioba na procissão de São
Felipe e São Tiago, como também apresenta ao leitor informações acerca da origem e da
composição atual do grupo musical.
Já nas relações com outros textos, os dados de escrita sobre R04 mostram que há
intertextualidade no depoimento citado, em que o autor dá espaço à outra voz explícita na
superfície do texto. A intertextualidade se dá também de forma implícita, uma vez que se
supõe que o aluno tenha pesquisado sobre o assunto em outros textos.
Concluímos, a partir disso que o texto inicial de R04 apresenta-se adequada à
proposta de produção. No entanto, há aspectos que precisavam ser revistos, como: a
construção do subtítulo e de alguns parágrafos; a forma de introduzir os depoimentos,
utilizando adequadamente as marcas linguísticas do discurso direto; o uso de elementos que
garantem a coesão do texto; o uso dos recursos visuais; a manutenção da unidade temática;
desvios da escrita padrão, sobretudo, no que se refere ao uso da pontuação.
Salientamos que o sujeito R04 se recusou a fazer a produção final, alegando não ter
interesse porque a atividade não valeria nota. Esse dado nos revela, por um lado, que a
127
tradição do quantificar ainda prevalece no contexto escolar. Por outro lado, esse mesmo
estudante mostrou-se bastante participativo ao longo da realização da sequência didática. Ele
interagia nas atividades em equipe e demonstrou ter certo domínio das ferramentas
tecnológicas, uma vez que ele manejava o computador com tranquilidade e destreza. Além do
mais, não apresentou dificuldades quando utilizou o WordPress, apesar de não ter computador
em casa e residir na zona rural. Nesse caso, o dado biossocial de residir da zona rural, não
parece exercer grau de dificuldade, no contexto pesquisado, para saber utilizar os recursos
tecnológicos.
Desse modo, por um lado, notamos nesse estudante que há o entendimento de sua
parte, de que a escola parece exercer uma forma de sua ascensão na vida. Talvez, por outro, o
que a escola ainda não o tenha transmitido como mensagem é que a aprendizagem está para
além das avaliações quantitativas, mas que é um processo e, como tal, pressupõe etapas a
serem desenvolvidas.
Na subsubseção seguinte, damos continuidade às análises das produções da escrita de
cada sujeito. Entendemos que entre as produções iniciais e finais existe um continuum e que
só propomos essa divisão por uma questão de estruturação do nosso trabalho, que sugere que
seja feita uma comparação entre as duas produções dos sujeitos, a fim de que se perceba a
evolução na escrita dos estudantes, após o trabalho realizado com os módulos de intervenção
empregados no desenvolvimento das sequências didáticas. Podemos afirmar, ainda, que no
momento de produção inicial já observávamos evolução, como é o caso do aprendizado e
cumprimento, adequação ao projeto do dizer desenvolvido por cada estudante pesquisado,
bem como reconhecimento estrutural de um gênero, considerado a partir da pesquisa de base
etnográfica, não familiar na vida cotidiana dos estudantes.
F – Relevância informativa
X Possui diversificadas novidades no trabalho investigativo de repórter.
Possui pouca novidade no trabalho investigativo de repórter.
G – Relações com outros textos
X Possui intertextualidade implícita.
X Possui intertextualidade explícita.
Não possui intertextualidade.
Fonte: Elaborado pela professora pesquisadora a partir do que propõe Antunes (2010).
Já nas relações com outros textos, os dados de escrita de R02 mostram que, de forma
explícita, a intertextualidade se manifesta no depoimento de três pessoas relacionadas ao
tema. Pressupomos, ainda, a relação com outros textos que foram utilizados para o
levantamento das informações.
Concluímos, a partir disso que o texto final de R02 apresenta-se adequada à proposta
de produção. Com relação à primeira produção, observamos que houve avanço quanto: à
unidade temática, que é preservada durante todo o texto; ao esquema de composição do
gênero, quando emprega adequadamente o discurso direto e indireto para inserir os
depoimentos no texto; à relevância informativa, já que a estudante apresenta no seu texto
novos elementos que dizem respeito à forma. Contudo, assim como no primeiro texto
produzido pela estudante, Jogos olímpicos e acontecimentos, precisa ser revista a construção
de alguns parágrafos da produção final.
Passamos, então, à produção final do sujeito R03, intitulada Gravidez na
adolescência (Cf. anexo P):
X Apresenta subtítulo.
X Apresenta lead.
X Apresenta depoimentos.
X Possui recursos visuais.
F – Relevância informativa
X Possui diversificadas novidades no trabalho investigativo de repórter.
Possui pouca novidade no trabalho investigativo de repórter.
G – Relações com outros textos
X Possui intertextualidade implícita.
X Possui intertextualidade explícita.
Não possui intertextualidade.
Fonte: Elaborado pela professora pesquisadora a partir do que propõe Antunes (2010).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista que o nosso objetivo maior, neste trabalho, foi o de apresentar uma
proposta de intervenção para o desenvolvimento das competências discursivas indissociáveis
das atividades humanas de leitura e escrita, a partir do gênero reportagem veiculada no meio
digital, tecemos algumas reflexões acerca dos quadros teóricos que subsidiaram a nossa
prática. Partimos, então, do pressuposto de que o ensino de língua se revela mais significativo,
quando tomamos como unidade de ensino o texto e como objeto mediador do processo os
gêneros, tal como postulam os PCNs (BRASIL, 1998).
Procuramos também descrever o percurso que utilizamos para construir, implementar
e acompanhar nossa proposta para o ensino de língua portuguesa apoiada na noção de gênero
e nos princípios da sequência didática. Salientamos que, na construção dessa sequência,
procuramos considerar: a) o contexto em que seria aplicada: um colégio da rede estadual de
ensino, situado em um município do interior da Bahia; b) os sujeitos participantes: os
estudantes, a professora pesquisadora e os pais e/ou responsáveis por esses estudantes da 8ª
série do referido colégio; c) as práticas de produção e recepção de textos fora da escola.
Esses dados mostraram a forma como a professora pesquisadora conduziu a pesquisa
qualitativa de base etnográfica, na qual são considerados os sujeitos reais e suas práticas de
escrita dentro e fora da escola, necessários ao desenvolvimento e produção do saber.
Concluímos que os dados sugerem haver a necessidade real do mergulho nos contextos
situados da escola básica, fato que diminui o distanciamento da escola e, consequentemente, o
aprendizado, dos reais interesses dos estudantes no aprendizado para a vida.
Foi selecionado o gênero reportagem, tendo em vista que essa “representa uma
atividade textual de grande importância na esfera jornalística, uma vez que objetiva a
divulgação de um fato, porém de maneira mais aprofundada, apresentando elementos de
comprovação, descrição detalhada [...]” (BROCARDO E COSTA-HÜBES, 2015, p. 8).
Consideramos, ainda, o fato de que o estudo dos gêneros jornalísticos apresenta uma
relevância social, contribuindo para formação do sujeito crítico e habilidoso no manejo de tais
manifestações. Observamos, nesse gênero, a possibilidade de se trabalhar com a
multimodalidade, o hipertexto e o letramento digital, uma vez que optamos por explorar as
reportagens veiculadas em sites da web.
Nesse sentido, concluímos que a análise dos dados apresentados serviu para
responder outra questão desta pesquisa, pois viabilizou o desenvolvimento real e exequível da
137
precoce. Concluímos que os dados sugerem haver uma necessidade premente da escola
mergulhar na realidade local dos estudantes e, a partir do trabalho sistemático que
desenvolvemos, como foi o caso da eleição do gênero reportagem, atestar que, dessa forma
parece possível que os estudantes tenham maiores chances de identificar e compreender textos
do gênero em diversas situações, além de serem capazes de produzi-los.
Constatamos, no decorrer da aplicação da sequência didática, que ainda não está
presente nos alunos, sujeitos desta pesquisa, a cultura do planejar, do produzir, do refazer e do
socializar. Enfrentamos dificuldades também nos momentos de leitura, uma vez que
percebemos que nosso alunado não está habituado a ler textos mais extensos.
O fato de um dos alunos do grupo específico de sujeitos se negar a realizar a
produção final, alegando não ser uma atividade para nota, nos revelou o quanto a tradição do
quantificar ainda prevalece no contexto escolar. Nessa perspectiva, refletimos acerca da
necessidade da nota, que é algo estritamente advindo do controle, dar lugar para o
aprendizado como um todo. Afinal, produzimos um texto porque temos um projeto
enunciativo do dizer, ao qual só damos o acabamento, quando esgotamos o referido projeto, e
não para alcançar uma média escolar.
Contudo, observamos que os estudantes foram capazes de realizar produções textuais
adequadas ao contexto de produção, sendo possível identificar em seus textos as
características específicas do gênero reportagem, quando foram expostos a uma situação de
comunicação concreta e já de posse de algumas noções a respeito do gênero.
Percebemos um maior entusiasmo por parte dos alunos nas atividades desenvolvidas
na sala de informática, quando precisávamos fazer uso dos computadores. O uso da tecnologia
e da internet foi um atrativo, em consequência dos ricos recursos e possibilidades que
oferecem. Ao produzirem seus textos na plataforma do WordPress, os alunos utilizaram
vídeos, imagens e links na composição de suas reportagens. Esses dados revelam o
encaminhamento para a culminância desta pesquisa que é a criação de uma revista on-line, o
que responde a uma das questões iniciais deste trabalho.
Concluímos, portanto, ser positivo viabilizar a disponibilização das produções dos
estudantes na rede, considerando interlocutores e rompendo com a tradicional concepção de
ensino em que se escreve textos na escola para cumprir uma tarefa, tendo como destinatário o
professor, conforme resultados de pesquisa desenvolvida por Mendonça (2009). Assim,
verificamos ser possível que outras pessoas tivessem acesso aos textos produzidos pelos
alunos, dando assim, um significado à atividade de produção textual, na qual interagem
interlocutores reais.
139
Verificamos, ainda, que a produção de uma revista on-line foi uma proposta de
trabalho possível de ser realizada, embora requeira grande empenho, tanto por parte do
professor, quanto por parte dos alunos. Os dados sugerem, inclusive, a possibilidade de
ampliação da proposta aqui apresentada, a partir do estudo de outros gêneros jornalísticos, tais
como: a entrevista, o artigo de opinião, a carta do leitor, a crônica etc.
Diante do contexto de pesquisa apresentado, os imprevistos que surgiram pelo meio
do caminho atestaram que “nenhuma pesquisa é totalmente controlável, com início, meio e
fim previsíveis” (GOLDENBERG, 1997, p. 13). Foi necessário estarmos preparados para
lidar com as situações inesperadas, que não foram previstas no início da pesquisa. Segundo
Goldenberg (1997), Howard Becker “enfatiza a necessidade de tornar explícitos os resultados
negativos dos estudos, de mostrar as dificuldades e os (des)caminhos percorridos pelo
pesquisador até chegar aos resultados de sua pesquisa” (GOLDENBERG, 1997, p. 48).
E assim, “no meio do caminho tinha uma pedra”. É, nessa perspectiva, que
salientamos que o desenvolvimento desta proposta não foi um processo sem obstáculos, já
que houve situações reais enfrentadas no contexto de sala de aula, tais como: a frequência
irregular de alguns estudantes; a resistência por parte da maioria, em participar das discussões
orais e em realizar determinadas atividades; a oscilação do sinal da internet; a suspensão de
aulas por motivos variados. Dessa última, resultou a prorrogação da aplicação da sequência
didática para muito além do previsto. Esses fatos sugerem, contudo, que o contexto da sala de
aula se assemelha ao que ocorre em uma pesquisa: não é possível controlar todos os eventos
que ocorrem durante as unidades letivas, mas é possível reorganizar as rotas e sugerir novos
caminhos rumos à construção do aprendizado, nesse caso em particular, a apropriação da
leitura e produção de textos.
Por fim, atestamos que, a partir das etapas cumpridas desta pesquisa é possível ao
professor dar continuidade à sua formação profissional, como foi o meu caso, em particular.
Entendemos que ingressar no curso do PROFLETRAS foi o caminho. No entanto, o saldo
desses dois últimos anos de estudo vai muito além da obtenção de um título. Por diversas
vezes, peguei-me refletindo sobre a minha própria prática e, até mesmo, sobre a compreensão
de ensino de língua que tinha, anteriormente. Foram muitas também as decisões tomadas ao
longo deste percurso, à medida que novos questionamentos iam surgindo. Pensar, planejar,
implementar e acompanhar uma proposta pedagógica com vistas ao desenvolvimento das
competências discursivas dos estudantes participantes constituem um grande desafio. Nesse
sentido, este estudo revelou-se transformador não só da realidade na qual se interveio, mas,
sobretudo, para a pesquisadora e professora, tanto na perspectiva profissional quanto pessoal.
140
Logo, chegamos ao final deste trabalho com a certeza de que o ensino da língua
tendo como foco a apropriação de um gênero pressupõe um estágio prévio de planejamento e
organização do ensino, fato que sugere a avaliação do material e do método a serem
utilizados. Portanto, esperamos que o nosso estudo seja inspiração para que professores
também elaborem as suas sequências didáticas ou modifiquem outras já existentes, conforme
a necessidade do contexto de intervenção direta.
141
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, Marli Eliza D. A. Etnografia da Prática Escolar. São Paulo: Papirus, 2004.
ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Editora Parábola,
2010.
ARAÚJO, N. M.. Objetos de aprendizagem de língua portuguesa. In: ARAÚJO, J.; LIMA,
S.C.; DIEB, M. Línguas na Web: links entre ensino e aprendizagem. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010.
p.155-176.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
________. Os gêneros do jornal: questões de pesquisa e ensino. In: KARWOSKI, Acir Mário;
GAYDECZKA, Beatriz; BRITO, Karim Siebeneicher (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e
ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 53-68.
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-webjornalismo-piramide-invertida.pdf>. Acesso
em: 16 mar. 2016.
DIONÍSIO, Angela Paiva. Gêneros textuais e multimodalidade. In: KARWOSKI, Acir Mário;
GADECZKA, Beatriz; BRITO, Karim Siebeneicher (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e
ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 137-152.
FARIA, Maria Alice de Oliveira. Como usar o jornal na sala de aula. 10 ed. São Paulo:
Contexto, 2009.
KLEIMAN, Angela B. Preciso “ensinar” o letramento?: Não basta ensinar a ler e a escrever?
Cefiel/ IEL/Unicamp, 2005.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3
ed. São Paulo: Contexto, 2014.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os segredos do texto. 8 ed. São Paulo:
Cortez, 2015.
MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.
ROJO, Roxane. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In:
MEURER, J. L.; BONINI, Adair; MOTTA-ROTH, Désirée. Gêneros: teorias, métodos e
debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. p. 184-207.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2010.
AUTORIZAÇÃO DA DIREÇÃO
Eu _______________________________________________________, diretor(a) do
Colégio Estadual Governador João Durval Carneiro, localizado no município de São Felipe,
interior da Bahia, autorizo a realização do estudo “LEITURA E ESCRITA EM MEIO
DIGITAL: O GÊNERO REPORTAGEM NO CONTEXTO DA REVISTA ELETRÔNICA
COMO OBJETO DE APRENDIZAGEM”13, a ser conduzido pela pesquisadora e professora
da referida instituição Nathalia Machado Matos, matrícula 11539777-2, com os alunos
matriculados na 8ª série do Ensino Fundamental II. A professora Nathalia poderá utilizar os
espaços do colégio para desenvolver a pesquisa, a saber: sala de aula, sala de leitura, sala de
informática, sala de vídeo. Salienta-se a relevância da pesquisa para o desenvolvimento das
competências discursivas indissociáveis das atividades humanas de leitura e escrita.
Declaro-me informado(a) das características, objetivos da pesquisa, bem como das atividades
que serão realizadas pela pesquisadora na instituição a qual represento.
13
Quando a declaração foi assinada, o título do trabalho era esse. Posteriormente, foi substituído por “LEITURA
E ESCRITA NA PRODUÇÃO DE UMA REVISTA NO SUPORTE DIGITAL: O GÊNERO REPORTAGEM
COMO OBJETO DE APRENDIZAGEM”. O mesmo ocorreu com o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e com o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido.
146
APÊNDICE B: TCLE
ser tomada.
Serão realizados alguns registros fotográficos pela própria professora/pesquisadora, com
o objetivo de registrar a rotina da sala de aula e não com o intuito de expor a identidade do
aluno, de modo que serão tomados devidos cuidados para que isso não ocorra.
Você e seu filho não terão nenhuma despesa em relação a essa pesquisa. Caso haja
algum custo da sua parte, vocês serão ressarcidos. E, se ainda tiverem algum dano, garantimos
indenização, mediante decisão judicial.
Você também poderá recusar a participação do aluno na pesquisa, ou retirar seu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar. Por desejar sair da pesquisa, o
aluno não sofrerá qualquer prejuízo.
Os resultados da pesquisa serão disponibilizados, provavelmente, em fevereiro de 2017,
mediante a realização de uma reunião, para qual você e seu filho serão convidados com
antecedência.
A pesquisadora envolvida com o referido projeto é Nathalia Machado Matos, aluna do
Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras), oferecido pela Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS); e com ela poderá manter contato pelo telefone da secretaria do Programa
(75) 3161-8872, pelo email profletras@uefs.br ou no seguinte endereço: Av. Transnordestina,
s/n, Novo Horizonte Feira de Santana-BA - CEP: 44.036-900, na Sala da Secretaria do
ProfLetras, Prédio de Pós-Graduação em Letras, módulo 2. Para dúvidas a respeito de
questões éticas, você poderá entrar em contato com o CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) da
UEFS através do telefone (75) 3161-8067 ou pelo email cep@uefs.br.
É assegurada a assistência, em relação ao acompanhamento nas atividades a serem
desenvolvidas durante toda pesquisa, bem como é garantido o livre acesso a todas as
informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências, enfim, tudo o
que você queira saber antes, durante e depois a participação do seu filho.
Caso seja do seu interesse, você pode solicitar que uma pessoa de sua confiança faça a
leitura e esclarecimento sobre este termo.
Se você consente que seu filho participe dessa pesquisa, assine este termo em duas vias,
ficando uma com você e outra com a pesquisadora.
___________________________________________________________________________
(Pai ou responsável do participante da pesquisa)
___________________________________________________________________________
(Pesquisadora)
___________________________________________________________________________
(Pesquisadora-colaboradora)
148
APÊNDICE C: TALE
ser tomada.
Você não terá nenhuma despesa em relação a essa pesquisa. Caso haja algum custo da
sua parte, você será ressarcido. E, se ainda tiver algum dano, garantimos indenização,
mediante decisão judicial.
Você também poderá se recusar a participar da pesquisa a qualquer momento, sem
precisar justificar. Por desejar sair da pesquisa, você não sofrerá qualquer prejuízo.
Os resultados da pesquisa serão disponibilizados, provavelmente, em fevereiro de 2017,
mediante a realização de uma reunião, para qual você e seus pais (ou responsável) serão
convidados com antecedência.
A pesquisadora envolvida com o referido projeto é Nathalia Machado Matos, aluna do
Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras), oferecido pela Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS); e com ela poderá manter contato pelo telefone da secretaria do Programa
(75) 3161-8872, pelo email profletras@uefs.br ou no seguinte endereço: Av. Transnordestina,
s/n, Novo Horizonte Feira de Santana-BA - CEP: 44.036-900, na Sala da Secretaria do
ProfLetras, Prédio de Pós-Graduação em Letras, módulo 2.
Para dúvidas a respeito de questões éticas, você poderá entrar em contato com o CEP
(Comitê de Ética em Pesquisa) da UEFS através do telefone (75) 3161-8067 ou pelo email
cep@uefs.br.
É assegurada a assistência, em relação ao acompanhamento nas atividades a serem
desenvolvidas durante toda pesquisa, bem como é garantido o livre acesso a todas as
informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências, enfim, tudo o
que você queira saber antes, durante e depois a sua participação.
Se você aceita participar dessa pesquisa, assine este termo em duas vias, ficando uma
com você e outra com a pesquisadora.
___________________________________________________________________________
(Participante da pesquisa)
___________________________________________________________________________
(Pesquisadora)
___________________________________________________________________________
(Pesquisadora-colaboradora)
150
WordPress.
“Reunião de pauta” para decidir as temáticas das
reportagens.
Participação do autor do blog São Felipe News, para
compartilhar a experiência de escrever textos
jornalísticos e dar dicas aos estudantes de como
produzir uma boa reportagem.
Planejamento da produção escrita, mediante a
realização da atividade do material didático.
09 Produzir a primeira Redigir a reportagem no programa Microsoft Word. Computadores; Sala de informática.
reportagem. material
didático (cf.
apêndice,
p. 179-182).
10 Avaliar as Trocar, entre as equipes, as reportagens produzidas. Material Sala de aula.
produções escritas Avaliar a produção escrita recebida, utilizando a ficha didático (cf.
iniciais. avaliativa presente no material didático. apêndice p.
Devolver as reportagens para seus autores, juntamente 183-184);
com a ficha avaliativa preenchida pela outra equipe. reportagens
produzidas
pelos
estudantes
impressas.
MÓDULO DE INTERVENÇÃO I
LOCAL DE
ENCONTRO Nº OBJETIVOS AÇÕES RECURSOS DESENVOLVIMENTO
DA ATIVIDADE
210
11 Perceber como as Retomar a definição e a função do lead. Data show; Sala de aula.
informações estão Leitura do lead da reportagem Escola reduz aulas em material
organizadas e 30 minutos por falta de dinheiro para merenda, didático (cf.
articuladas no lead; presente no material didático, observando quais apêndice D,
informações são apresentadas no trecho e como estão p. 185-188).
Redigir o lead. articuladas.
Realização, em equipe, de atividade: os alunos
recebem pedaços de papel, contendo em cada pedaço
uma dessas informações: “Morte de das pessoas”;
“Desabamento de ciclovia”; “Avenida Niemeyer São
Conrado, Zona Sul do Rio”; “quinta-feira”; “cair no
mar”. Eles têm que montar um lead com essas
informações, fazendo as modificações necessárias.
Se necessário, exibir o Vídeo mostra momento exato do
desabamento da ciclovia no Rio, disponível no site do
YouTube, para que os alunos se familiarizem com o
fato a ser retratado no lead que eles vão produzir.
Socializar as produções do lead.
Expor no quadro um dos leads produzido, na atividade
anterior, para reescrita coletiva, caso seja necessário.
Exposição de algumas regras retiradas do Manual de
Redação e Estilo do Jornal O Estado de S. Paulo de
como redigir um bom lead.
Reescrita do lead das reportagens produzidas na etapa
da produção inicial.
12 Perceber como as Realização, em equipe, de atividade: os estudantes Material Sala de aula.
informações estão recebem os fragmentos da reportagem Homem é preso didático (cf.
211
CULMINÂNCIA
LOCAL DE
ENCONTRO Nº OBJETIVOS AÇÕES RECURSOS DESENVOLVIMENTO
DA ATIVIDADE
20 Lançar a revista Após editar a revista e revisar as produções escritas, a Computadores; Sala de informática.
on-line Eu professora convida os estudantes para conhecerem o material
repórter; produto final da sequência didática: a revista on-line didático (cf.
Eu repórter. apêndice D,
Avaliar o Divulgação do endereço eletrônico da revista. p. 207).
desenvolvimento Realização do lanche para confraternizar.
da sequência Realização da avaliação final, presente no material
didática. didático, sobre o desenvolvimento de todas as etapas
da SD.
Fonte: Quadro elaborado por Mendonça (2009) e adaptado pela pesquisadora, considerando a realidade local da pesquisa.
215
ANEXO F: Questionário 1
216
217
ANEXO G: Questionário 2
218
As eleições em São Felipe irão acontecer no dia ´´2 de outubro de 2016´´ com os candidatos a
prefeito e vereador da cidade através dos votos dos eleitores.
Um depoimento de uma eleitora falou que a cidade precisa de políticos realmente engajados
com a causa social, com propostas e em especial atitudes coletivas e necessárias a toda
população principalmente os que mais precisam.
Concorrendo às eleições 2016 temos três candidatos a prefeito de São Felipe no partido PT
(Partido dos Trabalhadores) Zé Carlos com seu vice Adriano, no DEM (Democratas) o
escolhido foi Rozálio Souza como vice Choquinha, e no PSB (Partido Socialista Brasileiro) o
atual secretario de administração Pedro Junior e como vice Francine.
O candidato a vereador Pedro Bala disse que está apoiando o prefeito Rozálio porque para
algumas oposições Sr. Rozálio é um velho já tem 84 anos, para mim ele é exemplo de caráter
221
Os Jogos Olímpicos aconteceu neste ano de 2016 pela primeira vez no Brasil na cidade do
Rio de Janeiro, os jogos iniciou em 5 de agosto e encerrou na data 21 de agosto teve 15 dias
de duração, participaram mais de 200 países sendo eles o Brasil, Estados unidos, Grã-
Bretanha e China.
Os Jogos Olímpicos teve origem em Olimpíada na Grécia Antiga em meados de 776 A.C, os
jogos eram realizados naquele período para homenagear os deuses gregos, sendo Zeus o mais
homenageado. Os jogos também eram realizado para promover a amizade e integração entre
os povos.
A morte de Juma
Durante o revezamento da tocha olímpica que percorreu todo Brasil um fato chocou o mundo,
foi a morte de Juma uma onça pintada com cerca de nove anos, a tragédia aconteceu em
Manaus (AM), ela foi morta logo após tentar fugir e avançar em um militar do exército e foi
morta com um tiro de pistola, o acontecimento chocou todo o Brasil e causou comoção nas
redes sociais, virou notícia internacional no entanto acabou motivando um pedido de
desculpas dos organizadores dos Jogos Olímpicos.
Onça Juma que foi morta no revezamento da tocha olímpica (foto: reprodução/Internet)
A raça de juma está na lista de espécie ameaçadas do Ibama desde 2003, segundo o coronel
Luiz Gustavo Evelym, do CMA, a história de Juma se parece com outras 10 onças que vivem
no exercito, “Elas chegaram resgatadas de cativeiros, depois de terem sofrido maus tratos e
serem atendidas pela nossa equipe de veterinários que faz parte do mesmo complexo militar”.
Chocante
Uma das cenas mais impressionantes dos Jogos no Rio de Janeiro aconteceu na fase
classificatória masculina dos saltos ginástica artística. O francês Samir Ait Said caiu de mal
jeito, fraturou a perna e comoveu o público presente na Arena.
224
Sem Zika
Teve atleta que desistiu de participar dos Jogos por conta do surto da doença. Outros vieram,
mas mostraram preocupação. A goleira Hope Solo, que divulgou um “kit” contra o mosquito
antes de viajar o Brasil, sofreu com a torcida que gritava “zika” toda vez que a norte-
americana pegava na bola.
Marquinhos exibe a inédita medalha de ouro do futebol brasileiro (Foto: Laurence Griffiths)
JDC 30 anos
Data importante para todos que trabalham e estudam no Colégio João Durval
Carneiro.
O time brasileiro foi campeão de todas as edições do torneio, desde que a modalidade foi
inserida nos jogos em Atenas e de lá para cá a seleção conquistou quatro títulos Atenas
(2004), Pequim (2008), Londres (2012) e no Rio de Janeiro (2016).
Como campeões paralímpicos temos os baianos Jefinho e Cássio que são de Salvador. “Eu e
Cássio ficamos muito feliz de dar um ânimo para o time de Salvador volte à série A no ano
que vem”, falou Jefinho.
Regras
O esporte é disputado por pessoas com deficiência visual e as regras são baseadas no futsal.
Os atletas de linha usam vendas nos olhos para evitar qualquer vantagem e o goleiro é o único
que enxerga.
A partida e composta por dois tempos de 25 minutos cada, com intervalo de 10 minutos. O
som dos guizos do interior da bola orienta os jogadores e existem três classificações que são
chamados de B1, B2, B3 para classificar o grau de dificuldade dos atletas:
B1 - Cegos totais ou com percepção de luz, mas sem reconhecer o formato de uma mão a
qualquer distancia.
B2 - Atletas com percepção de vultos.
B3 - Atletas que conseguem definir imagens.
E por causa das categorias B2 e B3 que os atletas usam vendas para que não fiquem com
vantagem sobre o adversário.
Depressão na adolescência
Os sintomas e as causas da depressão na adolescência.
A depressão que poucos levam a sério tem suas causas e consequências. Vários adolescentes
morrem por suicídio por causa da doença. Vários fatores causam a depressão emocional, por
exemplo palavras que machucam e a falta de apoio da família em momentos difíceis.
Dois terços dos suicídios são cometidos por adolescentes que estavam deprimidos. Isso pode
ser evitado se prestar atenção nos sintomas que são: 1- humor depressivo: o adolescente
parece não sentir alegria ou prazer de viver, 2- Apatia: as vezes é confundida com preguiça, 3-
Isolamento social: os adolescentes deprimidos tendem a se isolar de amigos e familiares, 4-
Irritabilidade e instabilidade: mau humor, descontrole emocional e explosões de raiva, 5-
Alteração no ritmo do sono: o adolescente pode dormi mais ou menos que o de costume , 6-
Alteração no apetite: não querer comer ou querer comer mais do que o costume
principalmente por alimentos doces, 8- Uso de drogas: muitas vezes resultantes de tentativas
de auto medicação, 9- Auto mutilação: em situações de auto sofrimento alguns adolescentes
podem adotar um comportamento auto destrutivo, cortando-se ou queimando-se e por fim um
dos mais preocupantes, 10- Pensamentos suicidas: são comuns ideias mórbidas e tentativas de
suicídio.
A auto mutilação
A auto mutilação é onde o adolescente deprimido acha o meio de aliviar suas dores, na
maioria das vezes cortando-se.
"Eu sofria bullying no colégio, eu me cortava para aliviar a dor que eu sentia. Quando eu me
auto mutilava cortando meus braços e minhas pernas, eu libertava a dor que sentia vendo
aquele sangue escorrendo nos meus pulsos era um alivio enorme naquele instante eu
conseguia parar de sentir a dor, mas logo voltava e tinha necessidade de me corta novamente"
disse Julia*, a adolescente de 13 anos. Ela afirmou também que as pessoas não a
compreendia, falavam que ela estava querendo chamar atenção.
Motivos
Muitas das vezes a depressão na adolescência e causada por brigas familiares, separação de
pais, morte de pessoas queridas, existe muitas outras causas dessa doença. Como tratamento o
envolvimento da família é essencial e fundamental. "os pai devem acompanhar de perto o
tratamento seguir a orientação dadas pelos profissionais envolvidos. Não julgar ou criticar o
filho por estar deprimido e, se necessário fazer mudanças no ambiente familiar", diz o
psiquiatra Miguel Ângelo Boarte.
232
*O nome da menina entrevistada foi alterado para manter a sua identidade em sigilo.
Gravidez na adolescência
O número de adolescentes grávidas entre 15 e 19 anos aumentou 15%
no Brasil. Os riscos, causas, métodos contraceptivos e depoimentos de
adolescentes.
Luana* é uma adolescente. “Fui mãe com 12 anos, expulsa de casa pelos meus pais, tive total
apoio do meu marido e fui morar com ele. Durante a gravidez interrompi os estudos. No
período que engravidei, parei de tomar as pílulas porque achava que só a camisinha iria
prevenir. Então acabei gerando meu lindo menino. Saber que eu gerei ele de dentro de mim é
minha maior alegria de viver”, relata a adolescente.
Nessa fase e nessas circunstâncias, muitas adolescentes tomam a atitude de sair de casa, de
fazer aborto, deixa os estudos ou abandonar o filho, fugindo da responsabilidade.
234
Além das consequências, a gravidez precoce gera muito conflito interior, pela insegurança
financeira e as dificuldades em educar a criança, por isso os adolescentes necessitam de
cuidados atenção e apoio dos pais.
Por isso, informamos que só se engravida se o sêmen chegar ao útero da mulher durante o seu
período, fértil, que ocorre geralmente 14 dias antes da menstruação descer.
Além desses há ainda um método contraceptivos que não é adequado a adolescência. É o DIU
(Dispositivo Intra Uterino). Trata-se de um mecanismo depositado, apenas pelo médico, no
útero da mulher e que deve ser acompanhado pelo menos de 6 em 6 meses pelo ginecologista.
As principais causas
O apoio da família
Havendo apoio da família, os riscos de aborto, de fuga de casa, abandono de estudos e outros
prejuízos podem ser minimizados, tornando a situação mais aceitável pela grávida e por todos
os familiares.
É preciso pensar que, em virtude de uma gravidez precoce, a adolescente poderá perder suas
perspectivas de futuro. Sem o apoio familiar, muita coisa pode mudar no futuro da
adolescente grávida e ela pode chegar a uma depressão por não aguentar a pressão de toda a
situação.