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A TERCEIRIZAÇÃO

TRABALHISTA E A
RESPONSABILIDADE POR
VERBAS TRABALHISTAS

Autoria: Mariana dos Reis André Cruz Poli

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
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Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
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Julia dos Santos
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Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Lucilaine Ignacio da Silva


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa: UNIASSELVI


Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

P766a

Poli, Mariana dos Reis André Cruz

A terceirização trabalhista e a responsabilidade por verbas tra-


balhistas. / Mariana dos Reis André Cruz Poli – Indaial: UNIASSELVI, 2018.
108 p.; il.

ISBN 978-85-53158-41-6

1.Direito do trabalho – Brasil. 2.Terceirização – Legislação – Brasil.


II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 344.8101
Mariana dos Reis André Cruz Poli

Mestre em Direito Constitucional do Programa Stricto


Sensu em Direito de Pós-graduação da Instituição
Toledo de Ensino de Bauru-SP. Especialista em
Direito Público pela Universidade Gama Filho.
Especialista em Direito Tributário pela Fundação
Getúlio Vargas de São Paulo. Advogada.
Sumário

APRESENTAÇÃO.....................................................................07

CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo da Terceirização Trabalhista.......09

CAPÍTULO 2
Caracterização e Efeitos Jurídicos....................................23

CAPÍTULO 3
Especificidade da Administração Pública...........................37

CAPÍTULO 4
Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74............................47

CAPÍTULO 5
Terceirização e Responsabilidade.......................................67

CAPÍTULO 6
Pontos Relevantes da Terceirização Trabalhista............79

CAPÍTULO 7
Aspectos Processuais.......................................................... 91

CAPÍTULO 8
Do Controle da Terceirização...........................................103
APRESENTAÇÃO
Este livro foi elaborado com o objetivo de ressaltar as alterações ocorridas
na Lei 6.019/1974, bem como na aplicação da Súmula 331, do Tribunal Superior
do Trabalho, no tocante a Terceirização Trabalhista, em decorrência da aprovação
em 2017 das Leis nº 13.429 e 13.467.

O livro apresentará lacunas, bem como não esgotará todo o tema, pois, por se
tratar de legislação nova no âmbito trabalhista, ainda há necessidade de aguardar
o posicionamento que será adotado pela doutrina majoritária e jurisprudência.

A matéria, Terceirização Trabalhista, é examinada não apenas de forma


conceitual, mas também, através de análise de questões controvertidas
verificadas, principalmente, após a Reforma Trabalhista de 2017.

Com o estudo da evolução histórica deste instituto será possível compreender


o seu desenvolvimento e a sua criação ao longo da evolução da legislação no
Brasil e no mundo, bem como o motivo pelo qual adotaram as terminologias
utilizadas na legislação e o fundamento, o momento político e social que era vivido
quando foi fomentada a utilização da Terceirização Trabalhista.

Igualmente, será possível caracterizar os tipos de terceirizações que existem


em nosso ordenamento jurídico, bem como quais serão os efeitos que cada um
deles trará para o contrato de prestação de serviços, levando-se em consideração
a responsabilidade do tomador de serviços e do fornecedor de mão de obra
através do presente instituto.

Ainda, será observado e demonstrado em quais hipóteses será possível a


contratação de empresa terceirizada pela Administração Pública, bem como quais
serão as suas responsabilidades perante as verbas trabalhistas do empregado
terceirizado, diante de suas especificidades.

Através da identificação das alterações realizadas na Lei nº 6.019/74, será


possível identificar a possibilidade de aplicação da lei do trabalho temporário para
a terceirização trabalhista, bem como as hipóteses de pactuação, as formalidades
e prazos estabelecidos e que devem ser respeitados, sob pena de, muitas vezes,
ser considerada a nulidade do contrato de prestação de serviços formalizado
entre tomador e terceirizante.
A partir da análise do presente livro, será possível compreender as
diferenciadas situações de terceirização trabalhista que podem ocorrer no dia
a dia, bem como a forma correta de garantir os direitos deste instituto, quando
violados, junto ao poder judiciário.

Por fim, e não menos importante, restará evidente as limitações da


terceirização trabalhista.

Bons estudos!
C APÍTULO 1
Introdução ao Estudo da
Terceirização Trabalhista

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender o surgimento, a evolução, o conceito e os fundamentos da


terceirização trabalhista, identificando suas funções e características.

� Analisar as relações de trabalho em relação à terceirização com base nos


direitos e garantias fundamentais.

� Analisar a influência da Lei 13.429/2017 na terceirização.


A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Terceirização
Trabalhista

Contextualização
A terceirização trabalhista surgiu em decorrência da globalização e de crises
econômicas suportadas pelos mais diversos países como forma de baixar custo
de produção.

Assim, restará devidamente demonstrado com a evolução e contexto


históricos do surgimento deste instituto, a terceirização trabalhista, que este foi
criado tão somente para atender às necessidades das empresas, o que gerou
muito desgastes e fraudes em detrimento do empregado.

Com ele surge o modelo trilateral de relação socioeconômica e jurídica,


sendo que até então se falava apenas em relação bilateral de trabalho.

Toda essa construção normativa e de costume restará devidamente


demonstrada neste capítulo.

Evolução Histórica da Terceirização


Trabalhista
Conforme lição de Sergio Pinto Martins (2017, p. 22, que norteia todo este
estudo sobre a evolução histórica desse instituto, a terceirização surgiu no
Brasil, pelas multinacionais, “por volta do ano de 1950, pelo interesse que tinham
em se preocupar apenas com a essência do seu negócio”, com o objetivo de
desverticalizar as empresas, gerando novos empregos e novas empresas
especializadas em determinado ramo de prestação de serviços, sendo a
terceirização, um ramo bastante dinâmico, e que deve ser compatibilizado com a
legislação vigente.

Este fenômeno possui realidade histórico-cultural e deve ser analisado de


acordo com a noção do seu desenvolvimento dinâmico no transcurso do tempo,
uma vez que ao estudar o passado, compreende-se o que ocorreu com o instituto
durante o passar dos anos, tantos seus progressos como retrocessos.

Para se ter ideia, na Grécia, tivemos as primeiras aparições da terceirização


trabalhista, já que as pessoas alugavam escravos, os quais eram usados no
trabalho nas minas.

Frisa-se que as terceirizações surgiram, com maior ou menor intensidade


em alguns países, mas em razão das crises econômicas passadas nestes locais,

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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

já que em época de crise o empresário busca diminuir o custo da produção,


principalmente do que lhe é mais oneroso, ou seja, a mão de obra.

A terceirização também esteve presente no período da Segunda Guerra


Mundial, oportunidade em que as indústrias bélicas estavam assoberbadas
de trabalho e não estavam conseguindo produzir em larga escala como era
necessário. Diante de tal fato, verificou-se a possibilidade de delegar a terceiros
algumas fases da fabricação de armas, e assim conseguir aumentar a produção,
fornecendo todo armamento necessário para a guerra.

Como já informado anteriormente, no Brasil, a ideia de terceirização foi


trazida pelas empresas multinacionais, por volta do ano de 1950, quando elas
entenderam por bem se preocupar tão somente com a essência do seu negócio.
Como exemplo, temos as montadoras, que visavam, já naquela época, apenas
à montagem final dos veículos automotores, terceirizando a produção de
determinadas peças e outras fases da produção de componentes dos automóveis.

Outra forma de terceirização surgiu no ano de 1964, uma vez que a Lei
nº 4.594 prevê em seu artigo 17 que a seguradora não pode vender seguros
diretamente ao segurando, precisando se valer da prestação de serviços do
corretor autônomo ou de corretoras de seguro.

As empresas terceirizadas de limpeza e conservação surgiram em 1967,


sendo consideradas as pioneiras no Brasil.

Ainda, a legislação, em 1966, por meio dos Decretos nº 1212 e nº 1216, de


referido ano, permitiu a prestação de serviços de segurança bancário por meio de
empresa de segurança privada.

Já o Decreto nº 62756, de 22 de maio de 1968, trouxe as regras necessárias


de funcionamento das agências de colocação ou intermediação de mão de obra,
tornando lícita a contratação de funcionários por estas agências.

Com o advento do Decreto-Lei nº 1034, de outubro de 1969, que trata


das medidas de segurança das instituições bancárias, caixas econômicas e
cooperativas de créditos, também se verificou a possibilidade de contratação de
terceiros para vigilância ostensiva, desde que respeitado o disposto no artigo 2º
de referido Decreto-Lei, ou seja, que o serviço fosse exercido por elemento sem
antecedentes criminais e com aprovação da Polícia Federal. Já o artigo 4º de
referido Decreto-Lei era expresso no sentido de que as instituições financeiras
poderiam admitir funcionários de segurança ou contratá-los a partir de empresas
especializadas.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Terceirização
Trabalhista

As empresas de serviços temporários surgiram nos Estados Unidos, quando


um advogado contratou uma datilógrafa tão somente para datilografar um recurso
de 120 laudas, já que sua secretária estava doente e não pôde executar o serviço
em tempo hábil. Assim, iniciou uma empresa de fornecimento de mão de obra
temporária.

Em 3 de janeiro de 1972, na França, foi editada a Lei nº 72-1, que trata


do trabalho temporário, definindo que pessoas físicas ou jurídicas colocavam,
provisoriamente, à disposição dos tomadores de mão de obra, ou clientes,
as pessoas assalariadas, que seriam remuneradas para um determinado fim,
podendo, inclusive, ser utilizado no meio rural.

No ano de 1973, a locação de mão de obra no Brasil se tornou frequente,


havendo mais de 50.000 trabalhadores nessas condições na cidade de São
Paulo, prestando serviços a mais de 10.000 empresas, sendo certo que o único
objetivo dessas empresas era a mão de obra mais barata, sem ter que arcar com
os custos do registro de funcionários.

Em 1974, o Deputado João Alves apresentou o Projeto de Lei nº 1.347, o


qual se transformou na Lei nº 6.019/74, dispondo sobre o Trabalho Temporário
nas Empresas Urbanas e dá outras providências.

Nesse contexto, em 1974, surge a primeira norma brasileira que efetivamente


cuidou da Terceirização, Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, a qual regula o
trabalho temporário, restando evidente que nosso legislador buscou subsídios na
Lei Francesa nº 72-1 para edição desta lei, já que a semelhança entre elas é
evidente. Frise-se, por oportuno, que o Decreto nº 73.841, de 13 de março de
1974, regulamentou a legislação brasileira em comento.

Essa legislação tinha como cerne a regulamentação do trabalho temporário,


já que alguns trabalhadores não podiam trabalhar de forma permanente e em
período integral, como o caso, por exemplo, dos estudantes, jovens em idade de
prestação de serviço militar, donas de casa, aposentados, dentre outros, e não
concorrer com o trabalho permanente.

Assim, os bancos passaram a terceirizar suas atividades, inclusive


contratando funcionários para cumprir jornadas de oito horas diárias e não mais
as seis horas dos bancários.

Em 1983, mais precisamente em 20 de junho do referido ano, é editada a


Lei nº 7.102, a qual legislou sobre a segurança dos estabelecimentos financeiros,
permitindo a exploração de serviços de vigilância e de transporte de valores

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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

no setor financeiro, revogando o Decreto-Lei nº 1.034. A Lei nº 7.102 foi


regulamentada pelo Decreto nº 89.056, de 24 de novembro de 1983.

Assim, a partir das Leis nº 6.019/74 e nº 7.102, tivemos a triangulação da


relação de trabalho (empregado, empregador e tomador de serviços), não sendo
mais bilateral a referida relação (empregado e empregador).

O fenômeno da terceirização vem sendo usado no mundo inteiro,


principalmente na Europa. Em nosso país, passou a ser adotado pelas empresas,
evidenciando a passagem da era industrial para a dos serviços.

Posteriormente, nos países industrializados, surgiu a quarteirização, ou seja,


foi criado o fenômeno de gerenciamento de empresas terceirizadas.

Deixando agora de analisar o aspecto econômico, passamos a estudar


o aspecto jurídico da terceirização, já que este fenômeno trouxe problemas na
esfera trabalhista quanto à existência ou não de relação de emprego entre a
pessoa terceirizada e sua ex-empresa.

Saliente-se que o artigo 170, inciso VIII, da Constituição Federal (BRASIL,


1988), estabelece o princípio de que a ordem econômica busca o pleno emprego,
sendo que, por ser uma regra programática, deve ser complementada por lei
ordinária, não podendo valer a interpretação de que a terceirização é proibida
quando implica diminuição de postos de trabalho nas empresas, uma vez que o
dispositivo constitucional é apenas um princípio a ser buscado. Na lição de Sergio
Pinto Martins (2017, p. 25):

Os conflitos trabalhistas que decorrem da terceirização são


relacionados à existência ou não da relação de emprego,
dando ensejo à definição de uma posição da jurisprudência do
TST, consubstanciada inicialmente na Súmula 256 do Colendo
Tribunal Superior do Trabalho e posteriormente na sua revisão
pela Súmula 331.

Não podemos deixar de mencionar a lição de Rafael Caldera (1985, p. 18)


de que:

O Direito do trabalho não pode ser inimigo do progresso, porque


é fonte e instrumento do progresso. Não pode ser inimigo da
riqueza, porque sua aspiração é que ela alcance um número
cada vez maior de pessoas. Não pode ser hostil aos avanços
tecnológicos, pois eles são efeito do trabalho.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Terceirização
Trabalhista

Portanto, há necessidade de conciliação entre os avanços tecnológicos,


aptos, inclusive, a gerar novos empregos.

Apenas a título de ilustração, as estatísticas do TST mostram um grande


número de processos sobre terceirização, conforme se depreende do quadro
a seguir, extraído da obra Terceirização no direito do trabalho, de Sergio Pinto
Martins (2017):

Quadro 1 – Processos decorrentes da terceirização


Ano Número de processos
2011 9.296
2012 16.181
2013 16.438
2014 15.082
Até abril de 2015 16.323
Fonte: Martins (2017, p. 26).

Não podemos deixar de analisar a Lei nº 13.429, de 31 de março 2017, a qual


alterou a Lei nº 6.019/74, já que com o advento desta lei a terceirização passou a
ter um diploma legal no Brasil, ainda que inserido dentro da Lei nº 6.019/74, que
trata do trabalho temporário.

Terceirização no Direito Comparado


Em uma breve análise acerca da terceirização no direito comparado, vemos
que há países que proíbem a utilização da terceirização, por considerarem
prejudicial ao trabalhador, como é o caso da Itália e da Suécia.

Já outros países admitem apenas a contratação de trabalhador temporário,


como é o caso da França, Bélgica e Noruega, por exemplo.

No caso da Alemanha, Inglaterra e Suíça, por exemplo, a terceirização não


é regulamentada, o que acaba dando maior força às negociações coletivas de
trabalho.

Por fim, o Japão prevê a terceirização e a regulamenta, inclusive, possuindo


legislação específica que trata da matéria.

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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Terminologia
São vários os nomes utilizados para denominar a contratação de terceiros
pela empresa para prestação de serviços ligados a sua atividade-meio, tais
como terceirização, terciarização, subcontratação, filialização, reconcentração,
desverticalização, exteriorização do emprego, focalização, parceria etc.

Em que pese haver diversas nomenclaturas para o tema na obra do professor


Sergio Pinto Martins (2017), trataremos de algumas das terminologias utilizadas,
já que há, no Brasil e no mundo, diversas formas de denominar a terceirização.
Vejamos:

• Terciarização: decorre do fato de que o setor terciário, na


cadeia produtiva, é o setor de serviços, já que o primário é a
agricultura e o secundário, a indústria.
• Terceirização: entende-se pelo fato de a empresa contratar
serviços de terceiros para a realização da sua atividade-
meio.
• Reconcentração e desverticalização: são processos de
terceirização. Na primeira, as empresas são concentradas
em uma espécie de fusão, sendo que a desverticalização é
o descarte de atividades não rendosas dentro da empresa
(próximo a nossa terceirização), bem como a contratação
de serviços de terceiros para aqueles serviços que antes
eram executados pela própria empresa, normalmente em
empresas de menor porte (MARTINS, 2017, p. 27).

No Brasil, inicialmente, o termo terceirização foi utilizado na administração de


empresas, sendo utilizado, posteriormente, pelos tribunais trabalhistas, podendo
ser descrito como contratação de terceiros para realização de atividades que não
constituam o objeto principal da empresa.

Segundo Maurício Godinho Delgado (2012, p. 435), a expressão


terceirização “resulta de neologismo oriundo da palavra terceiro, compreendido
como intermediário, interveniente”.

O vínculo de emprego se forma com o empregador aparente, ou seja, com


a prestadora de serviços, desde que preenchidos os requisitos legais, caso
contrário, nos termos do princípio trabalhista da primazia da realidade, o vínculo
de emprego será com seu real empregador, ou seja, com o tomador.

Em países mais adiantados surgiu a terceirização gerenciada, ou a chamada


quarteirização, que é a contratação de uma empresa especializada que gerencia
as empresas terceirizadas. Essa empresa passa a administrar os fornecedores da

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Terceirização
Trabalhista

terceirizante, em razão do grande número deles. Exemplo de quarteirização é a


empresa GR, integrante do Grupo Ticket Serviços, que gerencia os fornecedores
da IBM.

É importante salientar que já se fala, no Brasil, da desterceirização, ou seja,


a retomada pela empresa dos serviços terceirizados, uma vez que restou constado
que a terceirização foi falha, não houve a mesma qualidade do terceirizante na
prestação de serviços.

Conceito
A terceirização é uma “relação trilateral”, ou seja, é composta pelo
“trabalhador, intermediador de mão de obra e o tomador de serviços”. Nessa
conceituação, temos que o intermediador de mão de obra é o empregador
aparente, formal ou dissimulado e o tomador de serviços, o empregador real ou
natural, conforme muito bem observado por Volia Bomfim Cassar (2016, p. 480).

Segundo Maurício Godinho (2012, p. 435), “terceirização é o fenômeno pelo


qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe
seria correspondente”.

Para Sergio Pinto Martins (2017, p. 31), terceirização é “a possibilidade


de contratar empresa prestadora de serviços para a realização de atividades
específicas da tomadora”, compreendendo ainda, “uma forma de contratação
que vai agregar a atividade-fim de uma empresa, normalmente a que presta os
serviços, à atividade meio de outra”.

A partir da análise desses conceitos de terceirização, verifica-se que seu


objetivo é permitir a flexibilização das empresas para que estas possam continuar
competitivas no mercado, já que a contratação de uma empresa prestadora de
serviço de atividade-meio reduz os custos da tomadora com folha de pagamento.

Conclui-se, também, a partir dos conceitos de terceirização, que esta não


se confunde com empreitada e com subcontratação, isso porque, naquela o
interesse é no resultado de uma única obra, por exemplo, construção de um muro.
Já a subcontratação visa à contratação de mão de obra para suprir o aumento de
produção pontual.

Ainda, a terceirização se distingue do contrato de trabalho, uma vez que este


é bilateral e aquele é trilateral, além disso, sua natureza jurídica é de contrato de
prestação de serviços, sendo uma forma de gerir de mão de obra.

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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Fundamentos
A terceirização decorre da necessidade dos empresários de buscar
alternativas para reduzir seu custo de produção a fim de se manterem competitivos
no mercado, em decorrência da globalização ou crise econômica mundial,
conforme restou devidamente demonstrado alhures.

Diante de tal cenário, e da inexistência de legislação que proibisse as formas


de exteriorização de mão de obra, as mais diversas foram criadas, gerando ato
ilícito, em violação ao artigo 187, do Código Civil, já que este dispõe que “[...]
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes” (Brasil, 2002).

Com esta busca das empresas de solucionar um problema capital, de


mercado e consequente abuso em face dos trabalhadores, não restou alternativa
ao judiciário, senão ampliar as hipóteses de terceirização, cancelando a Súmula
287, do C. TST e editando a Súmula 331, a seguir transcrita:

Súmula nº 331 do TST


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à
redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e
31.05.2011
I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é
ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos
serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019,
de 03.01.1974).
II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa
interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da
Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37,
II, da CF/1988).
III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação
de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de
conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados
ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a
pessoalidade e a subordinação direta.
IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte
do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que
haja participado da relação processual e conste também do
título executivo judicial.
V – Os entes integrantes da Administração Pública direta e
indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições
do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no
cumprimento das obrigações da Lei nº 8.666, de 21.06.1993,

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Terceirização
Trabalhista

especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações


contratuais e legais da prestadora de serviço como
empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero
inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela
empresa regularmente contratada.
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços
abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes
ao período da prestação laboral (BRASIL, 2017).

Ocorre que, muitas vezes, o vínculo de emprego, na verdade, está


mascarado, sendo que o verdadeiro empregador é o tomador de serviços. Nestes
casos, há que ressaltar que há violação de vários princípios, sejam constitucionais
ou do próprio Direito do Trabalho, sendo que a seguir estão elencados alguns dos
princípios violados com a contratação de prestadores de serviços, com a única
intenção de burlar a legislação trabalhista vigente, vejamos:

• da proteção ao empregado;
• da norma mais favorável;
• da condição mais benéfica ;
• do tratamento isonômico entre os trabalhadores que prestam serviços em
uma mesma empresa;
• do único enquadramento sindical;
• do único empregador.

O princípio da proteção ao empregado, por exemplo, tem força constitucional,


nos termos do artigo 7º, caput, da Constituição Federal, já que traz um rol
exemplificativo, em seus diversos incisos, dos direitos dos trabalhadores,
direitos mínimos que devem ser respeitados, dispondo que “são direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social”.

Logo, a ausência de um dos requisitos da Lei nº 6.019/74 ou da Lei nº


7.102/83 gera nulidade da cláusula de intermediação de mão de obra, com o
reconhecimento de vínculo direto com o tomador de serviços.

Ainda, a Instrução Normativa nº 3/97, do Ministério do Trabalho, vem tentando


inibir os abusos das empresas em fraudar a terceirização. Verifica-se que se trata
de um trabalho em conjunto de várias esferas, judiciais ou administrativas, para
que as fraudes sejam extintas, bem como sejam respeitadas as leis, a Constituição
Federal e as Instruções Normativas, como forma de inibir a utilização ilegal da
terceirização trabalhista.

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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Atividades de Estudos:

1) Qual o objetivo da terceirização?


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2) Quando a terceirização surgiu no Brasil?


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Algumas Considerações
A partir da análise do presente capítulo foi possível observar toda a influência
histórica que acarretou na criação deste instituto de direito do trabalho, qual seja,
a terceirização trabalhista, bem como seu conceito, restando evidenciado que se
trata de uma situação diferenciada, já que é uma relação jurídica trilateral, e não
bilateral como ocorre nos contratos de trabalhos convencionais, cujo objetivo é
puramente mercantil, visando à diminuição do custo da mão de obra.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Terceirização
Trabalhista

Referências
BRASIL. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o trabalho
temporário nas empresas urbanas, e dá outras providências. Promulgada em 3 de
janeiro de 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6019.
htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

_____. Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983. Dispõe sobre segurança


para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e
funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e
de transporte de valores, e dá outras providências. Promulgada em 20 de junho
de 1983. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7102.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada


em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, em 10 de


janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/
l10406.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Resolução nº 220 de 18 de setembro de 2017. Súmulas da Jurisprudência


Uniforme do Tribunal Superior do Trabalho. Divulgado no Diário Oficial da
Justiça do Trabalho em 21, 22 e 25 de setembro de 2017. Disponível em:
<http://www.tst.jus.br/web/guest/sumulas>. Acesso em: 12 jun. 2018.

CALDERA, Rafael. Discurso. Anais do XI Congresso Internacional de Direito


do Trabalho e Seguridade Social. Caracas, 1985, v.1, p. 18.

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 12. ed. São Paulo: Método, 2016.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
LTr, 2012.

MARTINS, Sergio Pinto. Terceirização no direito do trabalho. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

21
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

22
C APÍTULO 2
Caracterização e Efeitos Jurídicos

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar as características e espécies de terceirização.

� Compreender os efeitos jurídicos da terceirização, identificando o vínculo do


terceirizado com o tomador de serviços, bem como a necessidade de salário
equitativo.
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

24
Capítulo 2 Caracterização e Efeitos Jurídicos

Contextualização
A terceirização para a doutrina majoritária pode ser lícita ou ilícita, sendo que,
para alguns autores, deveria ser classificada como regular ou irregular, uma vez
que este tipo de prestação de serviços não é proibido pela legislação vigente.

Assim, dentro desse contexto, passaremos a analisar, sob a égide das


normas vigentes em nosso ordenamento jurídico, a caracterização e os efeitos
jurídicos da terceirização no direito do trabalho.

Terceirização Lícita e Ilícita


Primeiramente, faz-se importante mencionar que não existe norma vedando
a contratação de serviços por terceiros em nosso ordenamento jurídico vigente,
sendo que, de forma geral, são dois os limites da terceirização, quais sejam: a) os
constitucionais; b) os legais.

Não podemos esquecer que a terceirização, como não é vedada pelo


ordenamento jurídico vigente, precisa ser analisada sob o crivo do princípio da
dignidade da pessoa humana, o qual contempla um dos objetivos fundamentais
da República Federativa do Brasil, previsto no artigo 3º, inciso III, da Constituição
Federal, qual seja, “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais” (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Ainda, é necessário fazer a sistematização do inciso III, do artigo 3º da CF,


anteriormente transcrito, com o artigo 170, da Constituição Federal, restando
devidamente demonstrado serem lícitos quaisquer serviços, vejamos: “a ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios” (BRASIL, 1988, s.p.).

Portanto, o Código Civil, de forma lícita, e com fundamento nos artigos


constitucionais mencionados alhures, trata, de forma totalmente lícita, da
prestação de serviços, em seus artigos 593 a 609, bem como da empreitada, em
seus artigos 610 a 626.

Assim, resta evidente que essa forma de contratação nem sempre é ilegal ou
ilícita, sendo considerada válida, legal ou lícita, sempre que cumpridos os ditames
legais.

25
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

A partir da análise do inciso I, da Súmula 331, do C. TST é possível concluir


que, uma vez constada a fraude, o vínculo de emprego será diretamente com o
tomador de serviços, não sendo esta a regra, mas a exceção. Vejamos:

Súmula nº 331 do TST


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação)
- Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é
ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador
dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº
6.019, de 03.01.1974) (BRASIL, 2011, s.p.).

Frise-se, por oportuno, que a aplicação do inciso transcrito somente será


possível quando da aplicação conjunta do artigo 9º da CLT “serão nulos de pleno
direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a
aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação” (BRASIL, 1943, s.p.),
já que se faz necessário o reconhecimento da nulidade de um negócio jurídico,
para que seja celebrado outro.

Conforme preconizado por Sergio Pinto Martins (2017, p. 214), e para melhor
entender os tipos de terceirização, vale transcrever a distinção entre terceirização
legal ou lícita e ilegal ou ilícita:

A terceirização legal ou lícita é a que observa os preceitos


legais relativos aos direitos dos trabalhadores, não pretendendo
fraudá-los, distanciando-se da existência da relação de
emprego. A terceirização ilegal ou ilícita é a que se refere à
locação permanente de mão de obra, que pode dar ensejo a
fraudes e a prejuízos aos trabalhadores. (grifo nosso)

Ainda, segundo Vólia Bomfim Cassar (2016, p. 489), as terceirizações têm


que ser classificadas como regulares e irregulares, “porque não há lei que as
proíba”.

A partir dessa distinção, analisaremos de forma detalhada as terceirizações


lícitas e ilícitas.

a) Terceirização Lícita

As terceirizações lícitas, segundo Maurício Godinho Delgado (2012, p. 449),


“estão, hoje, claramente assentadas pelo texto da Súmula 331,TST”, constituindo
quatro grandes grupos de situações sociojurídicas delimitadas, quais sejam,
trabalho temporário, atividade de vigilância, atividade de conservação e limpeza e
serviços ligados à atividade-meio do tomador de serviços.

26
Capítulo 2 Caracterização e Efeitos Jurídicos

Para Sergio Pinto Martins (2017, p. 214), “a terceirização é lícita, pois toda
a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada
mediante retribuição (artigo 594 do Código Civil)”.

A partir desses conceitos de terceirização lícita, é importante analisar


algumas das suas hipóteses previstas em nosso ordenamento jurídico:

a) Trabalho temporário (Lei nº 6.019/74 e Súmula 331, I, do


C. TST): nesta situação será lícita a terceirização por se tratar
de necessidade transitória, seja pela substituição de pessoal
permanente, seja pelo aumento inesperado de serviços da
empresa, de forma extraordinária. Explica-se ainda que este
tipo de prestação de serviços para o tomador não pode superar
180 (cento e oitenta) dias.
b) Vigilantes: (Lei nº 7.102/83 e Súmula 331, III, do C. TST):
hoje, com a redação da Súmula 331, do C. TST, qualquer
atividade empresária ou pessoa física, pode contratar vigilante
através de empresas especializadas.
c) Conservação e limpeza (Súmula 331, III, do C. TST): este
foi um dos primeiros ramos a entrar na atividade terceirizante
no Brasil.
d) Serviços ligados à atividade-meio (Súmula 331, do C. TST):
não se trata de um grupo expresso, bastando que a atividade
terceirizada não seja a preponderante da empresa tomadora
dos serviços.

Além disso, não podemos deixar de elencar outras hipóteses de terceirização


lícita, vejamos: a empreitada (artigos 610 a 626, do CC), a subempreitada (artigo
455, da CLT), das empresas que estejam no formato da Lei Complementar nº
116/2003, representante comercial autônomo (Lei nº 4.886/65), compensação de
cheques, estagiários (Lei nº 11.788/2008) e cooperativas (Lei nº 12.690/2012).

A terceirização na prestação de serviços de telecomunicação também é


possível, Lei nº 9.472/1997, artigo 94, inciso II, quanto à instalação e manutenção
de telefones. Vejamos:

Art. 94. No cumprimento de seus deveres, a concessionária


poderá, observadas as condições e limites estabelecidos pela
agência:
[...]
II - contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem
como a implementação de projetos associados. (grifo nosso)
§ 1° Em qualquer caso, a concessionária continuará sempre
responsável perante a agência e os usuários.
§ 2° Serão regidas pelo direito comum as relações da
concessionária com os terceiros, que não terão direitos
frente à agência, observado o disposto no art. 117 desta Lei.
(grifo nosso)

27
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Na prestação de serviços terceirizados não podem estar presentes os


elementos do artigo 3º da CLT, entre o tomador de serviços e do prestador,
principalmente a subordinação, sendo certo que o tomador pode exigir, de forma
técnica, como será prestado o serviço, mas não pode solicitar que a prestação
de serviços seja realizada por uma pessoa determinada, e tampouco, poderá
controlar a sua jornada de trabalho, por exemplo.

Importante relembrar neste momento as disposições do artigo 3º da CLT,


vejamos:

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que


prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob
a dependência deste e mediante salário.
Parágrafo único - Não haverá distinções relativas à espécie
de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho
intelectual, técnico e manual. (BRASIL, 1943, s.p.).

Portanto, a fim de manter a licitude da terceirização, bem como não


caracterizar a relação de emprego entre o tomador e o prestador, nos ditames de
Sergio Pinto Martins (2017, p. 216), a terceirizada tem que seguir algumas regras,
quais sejam:

a) Idoneidade econômica.
b) Assunção de riscos.
c) Especialização no serviço.
d) Direção dos serviços prestados.
e) Utilização do serviço, principalmente na atividade-meio.
f) Necessidade extraordinária e temporária dos serviços.

Ainda, conforme entendimento de Martins (2017, p. 217), o quadro de


funcionários da empresa prestadora de serviços será composto por empregados
contratados por prazo indeterminado, ou seja, permanentes, porém, “prestando
serviços para tomadores de diversos”. Já na tomadora, “a mão de obra extra será
utilizada apenas quando necessária”.

O artigo 6º da CLT dispõe que “não se distingue entre o trabalho realizado


no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado
e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos
da relação de emprego”. (Brasil, 1943, grifo nosso). Logo, deve-se evitar a
terceirização para pessoas físicas, já que é muito fácil a caracterização do vínculo
empregatício nestas hipóteses, bem como priorizar a contratação com pessoa
jurídica.

28
Capítulo 2 Caracterização e Efeitos Jurídicos

Não é demais rememorar que, nos termos do artigo 3º da CLT, anteriormente


transcrito, o contrato de trabalho se dá com pessoa física, não havendo falar em
vínculo de emprego entre pessoas jurídicas.

Aplica-se nestes casos o princípio da primazia da realidade, prevalecendo,


sempre, a verdade dos fatos, a relação que verdadeiramente ocorreu entre
prestador e tomador, independentemente do nome contratual dado à situação
jurídica, restando evidenciada a relação de emprego, nos moldes do artigo 3º da
CLT, esta será reconhecida, considerando nulo o contrato firmado.

Portanto, não é possível generalizar afirmando que toda terceirização é


ilícita ou lícita, uma vez que dependerá do caso concreto e da realidade fática
vivenciada pelas partes naquele determinado caso concreto.

A Lei nº 13.429/2017 não pode impedir a terceirização, pois isso prejudicaria o


sistema econômico e financeiro, uma vez que não seriam mais criadas empresas
e, tampouco, postos de trabalhos em nosso país.

A distinção da terceirização lícita ou legal da terceirização fraudulenta, ilícita


ou ilegal não é matéria fácil, cabendo ao poder judiciário que faça essa análise
caso a caso.

Atividades de Estudos:

1) Da análise do estudo realizado acerca da terceirização lícita, é


possível afirmar que uma empresa que terceirizar secretárias é
lícita? Justifique e fundamente.
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2) O ex-funcionário da tomadora, agora como autônomo ou


microempreendedor, deve ser contratado como terceirizado?
Justifique e fundamente.
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_______________________________________________________
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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

b) Da ausência de pessoalidade e subordinação diretas

A terceirização não pode ser utilizada de forma a burlar, fraudar a legislação


contida na Consolidação das Leis Trabalhistas, razão pela qual o inciso III, da
Súmula 331, do TST, tomou o cuidado de prever, esta somente será possível
quando ausentes a pessoalidade e a subordinação direta, vejamos:

Súmula nº 331 do TST


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação)
- Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
[...]
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação
de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de
conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados
ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a
pessoalidade e a subordinação direta.

Frise-se que a subordinação direta e a pessoalidade existirão entre o


empregado e a empresa terceirizante, jamais com a empresa tomadora de
serviços, pois se este último fato ocorrer, estaremos diante de uma terceirização
fraudulenta.

Repise-se, por oportuno, a exceção do inciso I, da Súmula 331, do TST, uma


vez que no caso de trabalho temporário, não se exige a ausência de pessoalidade
e subordinação entre obreiro e tomador de serviços.

Conforme salientado por Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 451), o trabalho


temporário “é a única modalidade de terceirização lícita em que se permite
a pessoalidade e a subordinação diretas do trabalhador terceirizado perante o
tomador de serviços”.

c) Da terceirização ilícita

Portanto, toda terceirização realizada sem a observância dos ditames


da Súmula 331, do TST, bem como da legislação apontada no tópico em que
tratamos da terceirização lícita, será ilícita, pois estaremos diante de uma tentativa
de fraudar, burlar os artigos 2º e 3º da CLT, já que existirá um vínculo de emprego
mascarado.

Nestes casos será analisado com qual empresa realmente existe o vínculo
de emprego (prestadoras e tomadoras), com base no princípio da primazia da
realidade.

30
Capítulo 2 Caracterização e Efeitos Jurídicos

Segundo Gustavo Felipe Barbosa Garcia (2018, p. 70), princípio da primazia


da realidade “indica que, na relação de emprego, deve prevalecer a efetiva
realidade dos fatos, e não eventual forma construída em desacordo com a
verdade”.

d) Dos efeitos jurídicos da terceirização

A terceirização acarreta dois efeitos jurídicos, devidamente previstos no


inciso I, da Súmula 331, do TST, quais sejam: a) reconhecimento de vínculo
empregatício com o tomador de serviços; b) o chamado salário equitativo; os
quais serão abordados separadamente.

e) Do vínculo com o tomador de serviços

O vínculo de emprego com o tomador de serviços será reconhecido sempre


que ficar caracterizada que foi fraudulenta a contratação de mão de obra por
empresa interposta, conforme previsto no inciso I, da Súmula 331, do TST,
(BRASIL, 2011).

Conforme já estudado anteriormente, a contratação de mão de obra por


empresa interposta não é ilegal, a não ser quando esta for fraudulenta, ou
seja, tenha a intenção de frustrar a aplicação da lei trabalhista vigente em uma
determinada relação de trabalho.

Portanto, nos termos do inciso I, da Súmula 331, do TST, (BRASIL, 2011),


uma vez constatada a fraude, será nulo o contrato de trabalho firmado com a
empresa interposta, com o consequente reconhecimento de vínculo de emprego
com a empresa tomadora de serviços, aplicando-se, de imediato, a norma coletiva
da categoria da tomadora, bem como todos os benefícios que os seus funcionários
possuem.

Frise-se, no entanto, que há uma exceção para esta regra, qual seja, nos
casos de trabalho temporário, já que estes contratos terão prazo de 180 dias,
consecutivos ou não, prorrogáveis por mais 90 dias, §§ 1º e 2º, do artigo 10, da
Lei nº 6.019/74, vejamos:

Art. 10.  Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de


serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os
trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho
temporário. (grifo nosso).
§1o O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo
empregador, não poderá exceder ao prazo de cento e
oitenta dias, consecutivos ou não. (grifo nosso).

31
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

§2o O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias,


consecutivos ou não, além do prazo estabelecido no § 1o deste
artigo, quando comprovada a manutenção das condições que
o ensejaram. (grifo nosso).

Não podemos deixar de observar que o artigo 10, parágrafos 1º e 2º da


Lei nº 6.019/74, foi introduzido pela Lei nº 13.429/2017, denominada “Reforma
Trabalhista”, que será abordada no tópico do trabalho temporário.

Portanto, é evidente que, uma vez constada fraude na contratação de


empresa interposta, haverá o reconhecimento de vínculo de emprego direto com
o tomador de serviços.

f) Da isonomia: salário equitativo

Primeiramente, há que ser recordado que os trabalhadores, necessariamente,


devem ter tratamento isonômico na relação de emprego, ou seja, não podem ser
tratados de formas distintas, que acarretem diferenças salariais ou exercício de
funções.

No entanto, quando há contratação de empresa terceirizada para a prestação


de serviços nos tomadores, ainda que de forma lícita, há dúvidas quanto à
manutenção da isonomia entre estes funcionários, pois, normalmente, não há
tratamento isonômico entre o obreiro terceirizado em face dos trabalhadores
pertencentes ao quadro de funcionários da empresa tomadora.

O artigo 7º, inciso XXXII, da CF, traz preceito antidiscriminatório, e taxativo,


uma vez que garante os direitos básicos dos trabalhadores urbanos ou rurais,
bem como proíbe qualquer distinção entre os mais variados tipos de trabalho.
Vejamos:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social:
[...]
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico
e intelectual ou entre os profissionais respectivos; (BRASIL,
1988, s.p., grifo nosso)

Já o artigo 461, da CLT, com sua redação alterada pela Lei nº 13.467/2017,
dispõe que “sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao
mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá
igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade” (BRASIL,
2017, grifo nosso). Logo, o trabalho exercido por dois trabalhadores para o mesmo
empregador acarreta o direito à equiparação salarial.

32
Capítulo 2 Caracterização e Efeitos Jurídicos

Por sua vez, o artigo 12, alínea “a” da Lei nº 6019/74, garante ao trabalhador
terceirizado “remuneração equivalente à percebida pelos empregados de
mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária,
garantida, em qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional”
(BRASIL, 1974, s.p., grifo nosso). Evidente a existência do que hoje, chamamos,
de salário equitativo.

Verifica-se, portanto, que, a partir da análise da alínea “a”, do artigo 12, da


Lei nº 6019/74, de modo a mitigar o caráter antissocial da fórmula terceirizante,
foi dada interpretação de que todas as parcelas de caráter salarial que são
devidas aos empregados originários da entidade tomadora são estendidas aos
trabalhadores terceirizados, havendo diversos julgados neste sentido.

No entanto, a jurisprudência não é pacífica neste sentido, mantendo a


interpretação de que se a terceirização é lícita, o salário é do padrão remuneratório
da prestadora de serviços e não da tomadora, sendo certo que hoje, temos muitos
postos de trabalhos de empresas terceirizadas com salários inferiores aos salários
dos tomadores de serviços.

Isso porque, na terceirização temos uma triangulação, sendo que um


empregado pertence ao tomador de serviço e o outro à empresa prestadora
de serviços, não havendo como falar em equiparação salarial, já que um dos
requisitos para a equiparação é prestar serviço para o mesmo empregador.

Esclareça-se que a regra do artigo 12, da Lei nº 6.019/74,


Esclareça-se que
é aplicável tão somente aos trabalhadores temporários, não se a regra do artigo
estendendo a todas as classes e tipos de empresas terceirizadas. 12, da Lei nº
6.019/74, é aplicável
Conforme observado por Martins (2017, p. 171), “não pode tão somente aos
ser aplicada por analogia a regra da alínea ‘a’ do art. 12 da Lei nº trabalhadores
6.019/74 em relação a outras empresas que fazem terceirização, temporários, não
se estendendo a
como empresas de segurança, vigilância e transporte de valores,
todas as classes e
empresas de limpezas ou outras” (grifo nosso), uma vez que o serviço tipos de empresas
de segurança, previsto na Lei nº 7102/83, é norma posterior à lei de terceirizadas.
temporários e não trouxe regra neste sentido, o que poderia ter feito.

Já o serviço de limpeza e conservação não é regulamentado, não possui


norma regulamentando esta atividade, não podendo ser aplicada a analogia neste
caso. A Orientação jurisprudencial 383 da SDBI-1 do TST afirma que:

33
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

383. TERCEIRIZAÇÃO. EMPREGADOS DA EMPRESA


PRESTADORA DE SERVIÇOS E DA TOMADORA.
ISONOMIA. ART. 12, “A”, DA LEI Nº 6.019, DE 03.01.1974.
(mantida) - Res. 175/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e
31.05.2011
A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa
interposta, não gera vínculo de emprego com ente da
Administração Pública, não afastando, contudo, pelo princípio
da isonomia, o direito dos empregados terceirizados às
mesmas verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas
àqueles contratados pelo tomador dos serviços, desde que
presente a igualdade de funções. Aplicação analógica do art.
12, “a”, da Lei nº 6.019, de 03.01.1974.

Já Delgado (2012, p. 454) entende que é “plenamente compatível com as


demais situações-tipo de terceirização” aplicar a analogia, possibilitada no artigo
8º da CLT, quando conjugada à norma Constitucional e com a alínea “a”, do artigo
12, da Lei nº 6.019/74.

A priori, comungamos do entendimento de Sergio Pinto Martins (2017), já


que se trata de empregadores diferentes, quais sejam, tomador de serviços e
prestador de serviços, bem como por inexistir legislação específica que autorize a
equiparação salarial.

No entanto, frise-se a necessidade de interpretar a legislação sempre à luz


da Constituição Federal e dos princípios de direito do trabalho.

Algumas Considerações
Com o estudo da terceirização lícita e ilícita é possível observar que uma vez
demonstrada que a terceirização foi realizada por empresa interposta de forma a
mascarar a relação de emprego com o tomador de serviço, esta será considerada
nula de pleno direito, bem como poderá ser reconhecido o vínculo de emprego
diretamente com a empresa onde é prestado o serviço, aplicando o princípio da
primazia da realidade.

34
Capítulo 2 Caracterização e Efeitos Jurídicos

Referências
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das
Leis do Trabalho. Aprovada em 1 de maio de 1943. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada


em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o trabalho temporário


nas empresas urbanas, e dá outras providências. Promulgada em 3 de janeiro
de 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6019.htm>.
Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983. Dispõe sobre segurança


para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e
funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e
de transporte de valores, e dá outras providências. Promulgada em 20 de junho de
1983. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7102.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização dos


serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador
e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº 8, de
1995. Promulgada em 16 de junho de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l9472.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, em 10 de


janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/
l10406.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Resolução nº 220 de 18 de setembro de 2017. Súmulas da Jurisprudência


Uniforme do Tribunal Superior do Trabalho. Divulgado no Diário Oficial da Justiça
do Trabalho em 21, 22 e 25 de setembro de 2017. Disponível em:
<http://www.tst.jus.br/web/guest/sumulas>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Resolução nº 220 de 18 de setembro de 2017. 01 – Subseção I Especializada em


Dissídios Individuais – SBDI I. Divulgado no Diário Oficial da Justiça do Trabalho em
21, 22 e 25 de setembro de 2017. Disponível em: <http://www.tc.df.gov.br/c/document_
library/get_file?p_l_id=927025&groupId=657810&folderId=2602211&name=DLFE-
18552.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2018.

35
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho, 12. ed. São Paulo: Método, 2016.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
LTr, 2012.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 12. ed. rev.,
atul. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

MARTINS, Sergio Pinto. Terceirização no direito do trabalho. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

36
C APÍTULO 3
Especificidade da Administração
Pública

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar a possibilidade de contratação de prestadores de serviços pela


administração pública.

� Identificar a responsabilidade da administração pública nos casos de


terceirização.

Professora convidada:
Gabriela Gavioli
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

38
Capítulo 3 Especificidade da Administração Pública

Contextualização
A terceirização de mão de obra na administração pública é plenamente
possível, inclusive sendo realizada de forma lícita, conforme restará plenamente
demonstrado neste capítulo.
A terceirização
Na verdade, a terceirização na administração pública já vem na administração
ocorrendo, conforme se observa da coleta de lixo e transporte público, pública já vem
além da medição de consumo de água, de gás, energia elétrica, dentre ocorrendo, conforme
se observa da
outros serviços que já são realizados por meio de empresa interposta,
coleta de lixo e
ou seja, de mão de obra terceirizada.
transporte público,
além da medição de
Como ensina Delgado (2012, p. 455), o que gera dúvidas em consumo de água,
relação a essa forma de contratar, é que a Constituição Federal de de gás, energia
1988 “colocou a aprovação prévia em concurso público de provas ou elétrica, dentre
de provas e títulos” para investidura em cargo ou emprego público, outros serviços que
regra esta que impôs óbice ao reconhecimento de vínculo entre o já são realizados por
meio de empresa
tomador de serviços (poder público) e o prestador de serviços, ainda
interposta, ou seja,
que caracterizada a ilicitude da terceirização.
de mão de obra
terceirizada.
Portanto, ao analisar o artigo 37, inciso II e parágrafo 2º da
Constituição Federal, é possível observar que é inviável, juridicamente, o
reconhecimento de vínculo de emprego entre o trabalhador e a administração
pública, ainda que reste caracterizada a terceirização ilícita, uma vez que a forma
da contratação é a essência do ato de contratação de trabalhadores. Vejamos:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:                         
[...]
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade
do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração.
[...]
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará
a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável,
nos termos da lei (BRASIL, 1988, s.p., grifo nosso).

Corroborando o texto constitucional, bem como consagrando o entendimento


do Tribunal Superior do Trabalho, foi editado o inciso II, da Súmula 331, do TST,
prevendo, expressamente, que não gera vínculo de emprego com a administração
pública a contratação irregular de empresa interposta. Vejamos:

39
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Súmula nº 331 do TST


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação)
- Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
[...]
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa
interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da
Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art.
37, II, da CF/1988). (BRASIL, 2011, s.p., grifo nosso).

Saliente-se que não poderá a administração pública terceirizar serviços que


lhe são peculiares, tais como justiça, segurança pública, fiscalização, diplomacia,
dentre outros.

A administração pública pode terceirizar serviços através da concessão e


permissão, nos termos da Lei nº 8.987/95, a qual regulamenta o artigo 175 da
Constituição Federal, ao prever que “incumbe ao Poder Público, na forma da
lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de
licitação, a prestação de serviços públicos” (BRASIL, 1995).

Os conceitos de permissão e concessão estão previstos no artigo 2º, incisos


II e IV da Lei nº 8.987/95, transcritos a seguir:

Art. 2o Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:


[...]
II - concessão de serviço público: a delegação de sua
prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na
modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de
empresas que demonstre capacidade para seu desempenho,
por sua conta e risco e por prazo determinado;
[...]
IV - permissão de serviço público: a delegação, a título
precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos,
feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco (BRASIL, 1995, s.p., grifo nosso).
Há possibilidade
de terceirização
de serviços Ainda é possível verificar a possibilidade de terceirização dos
públicos, mas que serviços públicos a partir da simples leitura do artigo 25, parágrafo
o reconhecimento 1º, da Lei nº 8.987/95, no qual restou possibilitada a contratação de
da sua ilicitude não terceiros para o “desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias
gera o direito ao
ou complementares ao serviço concedido, bem como a implementação
reconhecimento
de vínculo de de projetos associados” (BRASIL, 1995).
emprego entre
a administração Portanto, é evidente que há possibilidade de terceirização de
pública e o serviços públicos, mas que o reconhecimento da sua ilicitude não gera o
empregado direito ao reconhecimento de vínculo de emprego entre a administração
terceirizado.
pública e o empregado terceirizado.

40
Capítulo 3 Especificidade da Administração Pública

Do Inciso II da Súmula 331, do TST


Conforme estudado no tópico anterior, o inciso II, do artigo 37 da Tal regra é
Constituição Federal, prevê que a investidura em cargo ou emprego aplicada para a
público depende de aprovação em concurso público, sendo certo que administração
tal regra é aplicada para a administração pública direta, indireta ou pública direta,
fundacional. indireta ou
fundacional.

Em análise ao inciso XXI, do artigo 37, da Constituição Federal, é possível


contratar serviços de terceiros pela administração pública, desde que realizada a
contratação por meio de licitação, corroborando também a disposição do artigo
175 da CF.

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as


obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei,
o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica
e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
obrigações. (BRASIL, 1988, s.p., grifo nosso).

Portanto, não há falar em vínculo de emprego entre o trabalhador terceirizado


e a administração pública direta, indireta ou empresas estatais.

Frise-se, ainda, que da leitura do texto constitucional em questão, qual seja,


artigo 37, inciso II, o trabalhador que não foi aprovado em concurso público não
pode ser considerado como empregado público, sendo certo que não respeitar
esse preceito legal também violaria o princípio da legalidade.

O requisito concurso público é essencial à validade do negócio jurídico.


Lembrando que a validade do negócio jurídico está regulamentada no Código
Civil Brasileiro, nos artigos transcritos a seguir:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá


de forma especial, senão quando a lei expressamente a
exigir.

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

41
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

IV - não revestir a forma prescrita em lei;


V - for preterida alguma solenidade que a lei considere
essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática,
sem cominar sanção. (BRASIL, 2002, s.p.).

O “caput” do artigo 37 da Constituição Federal dispõe que a administração


pública está adstrita ao princípio da legalidade, sendo que o princípio da primazia
da realidade não pode prevalecer diante desta regra de ordem pública.

Isso porque a norma constitucional está acima das regras ordinárias da CLT,
bem como dos princípios do Direito do Trabalho, que somente são aplicados em
caso de lacuna na lei, nos termos do artigo 8º da CLT, in verbis:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do


Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais,
decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia,
por equidade e outros princípios e normas gerais de direito,
principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo
com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre
de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público. (BRASIL, 1943, s.p.).

Em que pese haver posicionamentos diversos sobre a existência


Estando a
administração ou não de direitos trabalhistas a serem pagos para o trabalhador
pública adstrita terceirizado, filiamo-nos ao posicionamento do Sergio Pinto Martins
ao princípio da (2017, p. 199) que afirma que, minoritária na jurisprudência, “a falta de
legalidade, não há concurso tanto é ilegal para a administração como para o trabalhador,
falar em aplicação que deveria saber de sua necessidade, pois não pode ignorar a lei (art.
do princípio
3º da Lei de Introdução)”.
da primazia da
realidade, em razão
da hierarquia de Saliente-se que, estando a administração pública adstrita ao
normas. princípio da legalidade, não há falar em aplicação do princípio da
primazia da realidade, em razão da hierarquia de normas.

Da Responsabildiade da Administração
Pública
A administração pública tem o dever de fiscalizar o contrato de prestação
de serviços firmado entre ela e a empresa prestadora de serviços, conforme se
observa dos artigos 58, inciso III e 67 caput, ambos da Lei nº 8.666/93, in verbis:

42
Capítulo 3 Especificidade da Administração Pública

Art. 58.  O regime jurídico dos contratos administrativos


instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a
eles, a prerrogativa de:
[...]
III - fiscalizar-lhes a execução;

Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada


e fiscalizada por um representante da Administração
especialmente designado, permitida a contratação de terceiros
para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa
atribuição (BRASIL, 1993, s.p.).

Ainda o artigo 68 da Lei nº 8.666/93 dispõe que “o contratado deverá manter


preposto, aceito pela Administração, no local da obra ou serviço, para representá-
lo na execução do contrato” (BRASIL, 1993, s.p., grifo nosso).

Portanto, a execução do contrato deverá ser fiscalizada e Demonstrada


acompanhada por um representante da administração pública, sendo a culpa da
certo que esta poderá responder por ação ou omissão, quando causar administração
prejuízo a outrem, conforme disposto no artigo CC. Portanto, uma pública, esta
responderá
vez demonstrada a culpa da administração pública, esta responderá
subsidiariamente
subsidiariamente pelas verbas trabalhistas dos prestadores de pelas verbas
serviços terceirizados. trabalhistas dos
prestadores
Corroborando esse entendimento, vale transcrever os incisos IV e de serviços
V, da Súmula 331, do C. TST: terceirizados.

Súmula nº 331 do TST


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação)
- Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
[...]
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do
empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador
dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja
participado da relação processual e conste também do título
executivo judicial.
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta
respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item
IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento
das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993, especialmente
na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e
legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida
responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das
obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente
contratada. (BRASIL, 2011, s.p., grifo nosso).

No entanto, o simples fato de a empresa interposta não pagar as


verbas trabalhistas aos seus funcionários não transfere de forma automática
a responsabilidade destes valores para a administração pública, devendo
ser devidamente comprovada culpa dela, ou seja, a falta de fiscalização e
acompanhamento do contrato de prestação de serviços.
43
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Atividades de Estudos:

1) A administração pública responde subsidiariamente em qualquer


situação pelas verbas trabalhistas devidas ao empregado da
empresa terceirizada?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

Algumas Considerações
Restou evidente que nos casos de terceirização com ente público, há
um contrato administrativo firmado com a empresa prestadora de serviço
especializado, precedido de um processo de licitação.

A Lei nº 13.429/2017, também conhecida como Reforma Trabalhista, não é


aplicada apenas para a esfera privada, podendo dar margem ao entendimento de
que pode ser aplicada, em tese, à administração pública.

Não há falar em vínculo de emprego com a administração pública do


empregado da terceirizada, tendo em vista que está ausente o requisito de
aprovação em concurso público, previsto no artigo 37, II, e parágrafo 2º, da
Constituição Federal de 1988.

44
Capítulo 3 Especificidade da Administração Pública

Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada
em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da


Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Promulgada
em 24 de julho de 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
l8212cons.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de


concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da
Constituição Federal, e dá outras providências. Promulgada em 13 de fevereiro de
1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987compilada.
htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.

______. Resolução nº 220 de 18 de setembro de 2017. Súmulas da Jurisprudência


Uniforme do Tribunal Superior do Trabalho. Divulgado no Diário Oficial da
Justiça do Trabalho em 21, 22 e 25 de setembro de 2017. Disponível em:
<http://www.tst.jus.br/web/guest/sumulas>. Acesso em: 12 jun. 2018.

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 12. ed. São Paulo: Método, 2016.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
LTr, 2012.

MARTINS, Sergio Pinto. Terceirização no direito do trabalho. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

45
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

46
C APÍTULO 4
Terceirização Através da Lei Nº
6.019/74

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar as alterações realizadas pela reforma trabalhista na Lei nº


6.019/1974.

� Diferenciar as hipóteses de aplicação das penas privativas de liberdade e


restritiva de direitos.

Professora convidada:
Gabriela Gavioli
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

48
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

Contextualização
A Lei nº 6.019/1974 sofreu duas alterações no ano de 2017, a primeira foi
com o advento da Lei nº 13.429, de 31 de março, e a segunda modificação foi
com a Lei nº 13.467, de 13 de julho.

A Lei nº 13.429/2017 alterou os dispositivos legais da Lei nº 6.019/1974, que


dispõe sobre o trabalho temporário, e versa sobre as relações de trabalho na
empresa de prestação de serviços a terceiros.

Já a segunda Lei, nº 13.467/2017, também conhecida como Reforma


Trabalhista, alterou diversos artigos da Lei nº 6.019/1974, inclusive, incluindo
novas regras para a terceirização trabalhista.

Assim, a partir da análise do artigo 1º da Lei nº 6.019/1974, nota-se que,


com a alteração realizada pela Lei no 13.429/2017, as relações de trabalho na
empresa de trabalho temporário, na empresa de prestações de serviços e nas
respectivas tomadoras de serviço e contratante são regidas pela Lei do Trabalho
Temporário, in verbis:

Art. 1o As relações de trabalho na empresa de trabalho


temporário, na empresa de prestação de serviços e nas
respectivas tomadoras de serviço e contratante regem-se por
esta Lei.
Que os temas
Assim, é possível concluir que os temas relativos ao trabalho relativos ao trabalho
temporário e a terceirização agora são regidos pela mesma legislação, temporário e a
sendo que até a entrada em vigor da Lei nº 13.429/2017, a terceirização terceirização agora
era disciplinada tão somente pela Súmula 331, do TST, a qual teve sua são regidos pela
mesma legislação.
aplicação suspensa, ou até mesmo revogada, ainda que parcialmente.

Do Trabalho Temporário
O artigo 2º da Lei no 6.019/1974, com a redação dada pela Lei no 13.429/2017,
conceitua trabalho temporário como sendo:

Aquele prestado por pessoa física contratada por uma empresa


de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma
empresa tomadora de serviços, para atender à necessidade de
substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda
complementar de serviços (grifo nosso).

49
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

A fim de esclarecer o que é uma demanda complementar, o §2º, do artigo 2º,


da Lei no 6.019/1974, cuja redação foi incluída pela Lei no 13.429/2017, de forma
expressa, dispõe que:

§2o Considera-se complementar a demanda de serviços que


seja oriunda de fatores imprevisíveis ou, quando decorrente de
fatores previsíveis, tenha natureza intermitente, periódica ou
sazonal (grifo nosso).

Exemplificando o Exemplificando o que é considerado fator de natureza periódica,


que é considerado temos o caso do afastamento da gestante por 120 (cento e vinte) dias.
fator de natureza Já um caso sazonal, podemos citar os casos de safra.
periódica, temos o
caso do afastamento
Segundo Mauricio Delgado Godinho (2012, p. 461), o fator
da gestante por 120
(cento e vinte) dias. natureza periódica pode ser dividido em duas hipóteses:
Já um caso sazonal,
podemos citar os A primeira dessas hipóteses (necessidade transitória de
substituição de pessoal regular e permanente da empresa
casos de safra.
tomadora) diz respeito a situações rotineiras de substituição
de empregados originais da empresa tomadora (férias; licença-
maternidade; outras licenças previdenciárias etc.).
A segunda dessas hipóteses (necessidade resultante de
acréscimo extraordinário de serviços da empresa tomadora)
abrange situações de elevação excepcional da produção ou de
serviço da empresa tomadora.

Evidente, portanto, que são estritas as hipóteses de formalização da


pactuação de contrato temporário.

Ainda, o mesmo artigo 2º, da Lei no 6.019/1974, em seu parágrafo 1º,


cuja redação também foi incluída pela Lei no 13.429/2017, de forma expressa,
estabelece um proibitivo para a contratação de trabalhador temporário, vejamos:

§1o É proibida a contratação de trabalho temporário para


a substituição de trabalhadores em greve, salvo nos casos
previstos em lei (grifo nosso).

A proibição acima prevista na legislação tem o intuito de não inviabilizar a


greve, pois se o empregador contratar temporários para substituir os grevistas,
não haverá qualquer efeito a paralização dos obreiros grevistas.

Importante salientar que, em caso de greve abusiva é possível a


contratação de trabalhador temporário, conforme artigos 9º e 14 da Lei
nº 7.783/1989, a qual dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as
atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade e dá outras providências.

50
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

Para que não pairem dúvidas sobre o que é greve abusiva e que permite a
contratação de trabalhador temporário, vale transcrever os artigos 9º e 14 da Lei
no 7.783/1989, in verbis:

Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de


negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou
diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes
de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja
paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração
irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a
manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades
da empresa quando da cessação do movimento.
[...]
Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância
das normas contidas na presente Lei, bem como a
manutenção da paralisação após a celebração de acordo,
convenção ou decisão da Justiça do Trabalho. (grifo nosso)
Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou
sentença normativa não constitui abuso do exercício do direito
de greve a paralisação que:
I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou
condição;
II - seja motivada pela superveniência de fatos novos ou
acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a
relação de trabalho.

Para Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018, p. 221), embora apontado por
parte da doutrina que o trabalho temporário é uma modalidade expressamente
prevista em lei de terceirização,

[...] no trabalho temporário o que ocorre, na realidade, não


é a contratação de serviços especializados pela empresa
prestadora (terceirizada), mas sim o fornecimento de mão de
obra, em regra vedado pelo sistema jurídico, embora admitido,
excepcionalmente, nas hipóteses legais em questão [...].

No entanto, uma vez ausentes as razões justificadoras do contrato de


prestação de serviços temporários e, ainda assim, este for firmado, a relação de
emprego será reconhecida diretamente com o tomador de serviço, uma vez que a
relação triangular existente é fraudulenta, nos termos do artigo 9º da CLT. Vejamos:

Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com


o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos
preceitos contidos na presente Consolidação.

Saliente-se que, na terceirização lícita, não há pessoalidade e subordinação


direta entre o empregado da prestadora de serviço e a empresa tomadora de
serviço, sendo certo que, uma vez que para o tomador de serviço não “importa” o
profissional que vai realizar o serviço, o seu interesse é que a tarefa seja realizada
com qualidade e dentro do prazo estipulado.

51
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Nos termos do artigo 3º, da Lei nº 6.019/1974, a prestação de serviço


realizada pelo trabalhador temporário é executada por intermédio da empresa de
trabalho temporário. Logo, o enquadramento sindical a que se refere o artigo 577,
da CLT, será realizado com base na atividade principal da prestadora de serviço.

Segue a transcrição do artigo 3º da Lei no 6.019/1974 e do artigo 577, da


CLT, respectivamente:

Art. 3º É reconhecida a atividade da empresa de trabalho


temporário que passa a integrar o plano básico do
enquadramento sindical a que se refere o art. 577, da
Consolidação da Leis do Trabalho.
Art. 577 O Quadro de Atividades e Profissões em vigor fixará o
plano básico do enquadramento sindical.

Segundo o artigo 4º da Lei no 6.019/74, já com as alterações trazidas pela Lei


n 13.429/2017, empresa de trabalho temporário é:
o

Art. 4o Empresa de trabalho temporário é a pessoa jurídica,


devidamente registrada no Ministério do Trabalho,
responsável pela colocação de trabalhadores à disposição
de outras empresas temporariamente. (grifo nosso)

A alteração trazida pela Lei no 13.429/2017 permitiu a realização do trabalho


temporário no âmbito rural.

Na sequência, o artigo 5º da Lei no 6.019/74, também com a redação alterada


pela Lei no 13.429/2017, define empresa tomadora de serviço como sendo:

Art. 5o Empresa tomadora de serviços é a pessoa jurídica ou


entidade a ela equiparada que celebra contrato de prestação
de trabalho temporário com a empresa definida no art. 4o desta
Lei. (grifo nosso)

Pessoa física não Portanto, da análise da redação do artigo 5º, é possível concluir
pode ser tomadora que pessoa física não pode ser tomadora de serviços no trabalho
de serviços no temporário, bem como faz com que seja necessária a reflexão sobre o
trabalho temporário. que é entidade equiparada à pessoa jurídica.

Por entidade equiparada a pessoa jurídica, podemos entender que são as


consideradas empresas individuais e os entes despersonalizados, como os
condomínios, por exemplo, já que estes recebem tratamento jurídico equivalente
ao da pessoa jurídica.

Importante ressaltar que para o funcionamento de uma empresa de trabalho


temporário é necessário preencher os requisitos previstos no artigo 6º, da Lei no
6.019/74, também alterado pela Lei nº 13.429/2017, a seguir transcrito:

52
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

Art. 6o São requisitos para funcionamento e registro da empresa


de trabalho temporário no Ministério do Trabalho?
a) (revogada);                   
b) (revogada);                 
c) (revogada);                
d) (revogada);                
e) (revogada);                
f) (revogada);                
I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
(CNPJ), do Ministério da Fazenda; 
II - prova do competente registro na Junta Comercial da
localidade em que tenha sede; 
III - prova de possuir capital social de, no mínimo, R$ 100.000,00
(cem mil reais).              
Parágrafo único. (Revogado).       

Para ser o contrato celebrado entre a empresa de trabalho temporário e o


tomador de serviços, é necessário o cumprimento das formalidades previstas no
artigo 9º, da Lei nº 6.019/74, também alterado pela Lei nº 13.429/2017, vejamos:

Art. 9o O contrato celebrado pela empresa de trabalho temporário


e a tomadora de serviços será por escrito, ficará à disposição
da autoridade fiscalizadora no estabelecimento da tomadora
de serviços e conterá: (grifo nosso)          
I - qualificação das partes;  
II - motivo justificador da demanda de trabalho temporário;  
III - prazo da prestação de serviços;   
IV - valor da prestação de serviços;    
V - disposições sobre a segurança e a saúde do trabalhador,
independentemente do local de realização do trabalho. 
§ 1o É responsabilidade da empresa contratante garantir
as condições de segurança, higiene e salubridade dos
trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas
dependências ou em local por ela designado.    
§ 2o A contratante estenderá ao trabalhador da empresa de
trabalho temporário o mesmo atendimento médico, ambulatorial
e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas
dependências da contratante, ou local por ela designado. 
§ 3o O contrato de trabalho temporário pode versar sobre o
desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem
executadas na empresa tomadora de serviços (grifo nosso).

A partir da análise do § 1º do artigo transcrito, é possível observar que a


tomadora de serviço é a responsável pelo ambiente de trabalho onde será
prestado serviço, ou seja, ela tem de “garantir as condições de segurança, higiene
e salubridade”, além de estender, ao trabalhador temporário, os mesmos
benefícios que seus funcionários possuem, conforme disposição do parágrafo
segundo do citado artigo de lei.

Saliente-se que, diferentemente do que é garantido aos trabalhadores


temporários, em primeira análise da legislação vigente, não é obrigação do

53
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Não é obrigação tomador de serviço estender para os funcionários terceirizados, os


do tomador de mesmos benefícios que são concedidos aos seus empregados.
serviço estender
para os funcionários Por fim, verifica-se que o trabalho temporário, por ser uma
terceirizados, os modalidade excepcional, pode ocorrer, tanto da atividade-meio como
mesmos benefícios
da atividade-fim da empresa tomadora de serviços, o que anteriormente
que são concedidos
aos seus somente era possível esse tipo de contrato de prestação de serviço
empregados. quando se tratava da atividade-meio.

Após a entrada em vigor das Leis nº 13.427 e no 13.467, ambas do ano


de 2017, estes conceitos não são mais relevantes, já que possibilitaram a
terceirização de toda e qualquer atividade da empresa tomadora de serviços.

Vejamos o artigo 4º-A, da Lei nº 13.467/2017, também denominada de


Reforma Trabalhista:

Art. 4o-A. Considera-se prestação de serviços a terceiros


a transferência feita pela contratante da execução de
quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade
principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviços que possua capacidade econômica compatível com a
sua execução (grifo nosso).

Em que pese já estar superada a discussão da doutrina e jurisprudência


acerca do tema, importante salientar que atividade-meio e atividade-fim, na
lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia, (2018, p. 401, grifo nosso), é: “Atividade
meio é a de mero suporte, acessória ou periférica, que não integra o núcleo, ou
seja, a essência das atividades empresariais do tomador, enquanto a atividade-
fim é a que compõe a atividade principal da empresa”.

Assim, da análise dos conceitos transcritos, verifica-se que a atividade-


meio é aquela que não é a preponderante da empresa, por exemplo, limpeza e
vigilância de uma agência bancária. Já a atividade-fim é a principal da tomadora
de serviços, por exemplo, empresa de transporte de carga, o motorista que faz o
deslocamento da carga atua em sua atividade-fim.

Interessante que, ao aprofundar o estudo acerca do artigo 4º-A, da Lei no


6.019/1974, conclui-se que a empresa prestadora de serviço poderá ser tão
somente pessoa jurídica de direito privado, não podendo mais ser pessoa
física e, tampouco, empresário individual, como possibilitava a antiga redação do
artigo 4º, da Lei ora em comento.

A título de curiosidade, segue transcrição do artigo revogado pela Reforma


Trabalhista:

54
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

Art. 4º - Compreende-se como empresa de trabalho


temporário a pessoa física ou jurídica urbana, cuja atividade
consiste em colocar à disposição de outras empresas,
temporariamente, trabalhadores, devidamente qualificados,
por elas remunerados e assistidos (grifo nosso).

Conforme bem salientado por Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018, p. 401),
a jurisprudência, até a entrada em vigor da Reforma Trabalhista, era no sentido de
que “em regra, admitia a terceirização apenas de serviço de vigilância, limpeza,
e de atividades-meio da empresa tomadora”. Neste sentido, era o inciso III, da
Súmula 331, do TST:

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação


de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de
conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados
ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a
pessoalidade e a subordinação direta.

Em continuidade ao estudo do artigo 4º-A, da Lei no 6.019/1974 temos os


parágrafos 1º e 2º, ambos inseridos pela Lei nº 13.429/2017, in verbis:

§ 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera


e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou
subcontrata outras empresas para realização desses
serviços.
§ 2o Não se configura vínculo empregatício entre os
trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços,
qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante (grifo
nosso).

O trabalho humano não pode ser tratado como mercadoria, uma vez que
é constitucionalmente protegido, sendo certo que em sendo tratado como
objeto, acarretará afronta a um direito fundamental, qual seja, dignidade da
pessoa humana.

Ainda assim, a Lei nº 13.429/2017 permitiu a terceirização em cadeia, ou


seja, a empresa prestadora de serviço subcontrata outras empresas para realizar
o serviço contratado pela tomadora, o que se depreende da simples análise da
parte final do parágrafo 1º, do artigo 4º-A, da Lei no 6.019/74, “ou subcontrata
outras empresas para realização desses serviços”.

Em primeiro momento, é possível concluir que a Reforma Trabalhista trará


cada vez mais a precarização da mão de obra, pois as empresas subcontratadas
para a prestação de serviço para o tomador a fim de conseguir mercado terão
que ter preços competitivos, e muitas vezes, muito abaixo do mercado, o que
depreciará o empregado como pessoa, gerando baixos salários e mínimas
garantias de condições de trabalho.

55
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

A terceirização em cadeia não pode ser confundida com quarteirização,


conforme nos ensina Gustavo Filipe Barbosa Garcia, (2018, p.402):

[...] a rigor, essa hipótese pode se distinguir da quarteirização,


na qual certa empresa é contratada para administrar e gerir
os diversos contratos de prestação de serviços mantidos pela
empresa contratante.

Diferentemente do esposado no inciso III, da Súmula 331, do TST, transcrito,


o §1º do artigo 4º- A, da Lei nº 6.019/1974, ampliou as possibilidades de não
caracterização de vínculo de emprego com o tomador de serviço, pressupondo,
por óbvio, que a terceirização tenha respeitado os requisitos do artigo 4º-B, da Lei
nº 6.019/1974, inserido pela Lei nº 13.429/2017:

Art. 4o-B. São requisitos para o funcionamento da empresa de


prestação de serviços a terceiros:
I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
(CNPJ);                    
II - registro na Junta Comercial;                 
III - capital social compatível com o número de empregados,
observando-se os seguintes parâmetros:   
a) empresas com até dez empregados - capital mínimo de R$
10.000,00 (dez mil reais);            
b) empresas com mais de dez e até vinte empregados - capital
mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais
c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados
- capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais);   
d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados -
capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais);
e) empresas com mais de cem empregados - capital mínimo de
R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).

Diante da flexibilização acima apontada, principalmente no que tange ao


não reconhecimento de vínculo de emprego entre o prestador de serviço e o
tomador o legislador instituiu uma “quarentena” de 18 (dezoito) meses para que o
seu funcionário, dispensado imotivadamente ou por acordo, seja recontratado na
modalidade de pessoa jurídica, garantindo assim que não ocorra fraude através
da chamada “pejotização”.

Vejamos o artigo 5º - C, da Lei nº 6.019/1974, inserido pela Reforma


Trabalhista de 2017:

Não pode figurar como contratada, nos termos do art.


4o-A desta Lei, a pessoa jurídica cujos titulares ou sócios
tenham, nos últimos dezoito meses, prestado serviços à
contratante na qualidade de empregado ou trabalhador
sem vínculo empregatício, exceto se os referidos titulares ou
sócios forem aposentados (grifo nosso).

56
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

Mas, o legislador permitiu uma exceção, em caso de aposentadoria do


funcionário, não há necessidade de aguardar o período de 18 (dezoito) meses
para a sua contratação como pessoa jurídica.

Ainda, em respeito a hipossuficiência do trabalhador, o legislador quando


da edição da Lei nº 13.467/2018, incluiu o artigo 5º - D, na Lei nº 6.019/1974,
aplicando a mesma “quarentena” de 18 (dezoito) meses para que o funcionário
da tomadora posso prestar serviço nas suas dependências por meio da empresa
prestadora de serviços. Vejamos:

Art. 5o-D O empregado que for demitido não poderá prestar


serviços para esta mesma empresa na qualidade de
empregado de empresa prestadora de serviços antes do
decurso de prazo de dezoito meses, contados a partir da
demissão do empregado (grifo nosso).

Não é demais rememorar que, caso reste caracterizada a contratação por


empresa interposta, ou seja, a mascaração do vínculo de emprego por fraude,
deverá ser aplicado o princípio da primazia da realidade, ou seja, a verdade dos
fatos, combinado com a nulidade do contrato de prestação de serviço nos termos
do artigo 9º da CLT e, consequente reconhecimento de vínculo de emprego com
o tomador de serviço.

Ademais, a empresa que intermediou a mão de obra de forma fraudulenta


responde de forma solidária pelos créditos trabalhistas, nos termos dos artigos
942 do Código Civil e 8º, parágrafo 1º da CLT, respectivamente:

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do


direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado;
e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão
solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os
autores os coautores e as pessoas designadas no art. 932.
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho,
na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme
o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros
princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do
trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de
classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.
§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.  

Retomando a questão da terceirização da atividade-fim, temos, segundo


Sergio Pinto Martins (2017, p. 128), o artigo 170 da Constituição Federal, o qual
prevê que “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os

57
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

ditames da justiça social, observados os seguintes princípios”, que permite e


justifica a possibilidade da terceirização da atividade-fim.

Ainda, verifica-se que, diante da natureza da contratação do trabalhador


temporário, existe a subordinação jurídica dele em relação ao tomador de
serviços, sendo que com a reforma trabalhista, não há mais a possibilidade
de vínculo de emprego entre ela e o trabalhador temporário. Vale transcrever
o artigo 10, da Lei no 6.019/74, já alterado:

Art. 10.  Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora


de serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os
Uma vez trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho
demonstrado que o temporário.
trabalho temporário
foi realizado de No entanto, em que pese a disposição legal acima apontada, uma
forma irregular,
vez demonstrado que o trabalho temporário foi realizado de forma
com violação ao
artigo 9º da Lei no irregular, com violação ao artigo 9º da Lei no 6.019/74, o vínculo de
6.019/74, o vínculo emprego com o tomador de serviços será reconhecido, respondendo
de emprego com o a empresa de trabalho temporário de forma solidária com a empresa
tomador de serviços tomadora de serviços, nos termos do artigo 942, do CC, transcrito.
será reconhecido.
O reconhecimento de vínculo empregatício com o tomador de
serviços será possível em razão do reconhecimento da nulidade decorrente de
atos fraudulentos praticados no momento da contratação da empresa interposta,
fato este que será possível a partir da aplicação do artigo 9º, da CLT, vejamos:

Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com


o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos
preceitos contidos na presente Consolidação.

O contrato de trabalho temporário não pode exceder o prazo de 180 (cento


e oitenta) dias, conforme disposto no artigo 10, §1º da Lei no 6.019/74, prazo este
que foi alterado pela reforma trabalhista, Lei nº 13.429/17, podendo ser prorrogado
por mais 90 (noventa) dias, desde que comprovada a manutenção das condições
transitórias que o ensejaram (artigo 10, §2º, da Lei no 6.019/74). Vejamos:

Art. 10
[...]
§ 1o O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo
empregador, não poderá exceder ao prazo de cento e
oitenta dias, consecutivos ou não.                
§ 2o O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias,
consecutivos ou não, além do prazo estabelecido no § 1o deste
artigo, quando comprovada a manutenção das condições que
o ensejaram (grifo nosso).

58
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

No entanto, o contrato de trabalho temporário não se confunde com o


contrato por prazo determinado previsto na CLT, uma vez que este é realizado
diretamente entre empregador e empregado e aquele é firmado entre empresas,
cuja natureza é civil, quais sejam, empresa tomadora de serviços e empresa de
trabalho temporário.

Ainda, nos termos do §4º, do artigo 10, da Lei no 6.019/74, também incluído
pela Reforma Trabalhista, prevê, de forma expressa, que não é possível o contrato
de experiência previsto no parágrafo único do artigo 445, da CLT, para o caso de
trabalho temporário, in verbis:

Art. 10
[...]
§ 4o Não se aplica ao trabalhador temporário, contratado pela
tomadora de serviços, o contrato de experiência previsto no
parágrafo único do art. 445 da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1o de
maio de 1943. 
Art. 445 CLT O contrato de trabalho por prazo determinado não
poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a
regra do art. 451.
Parágrafo único. O contrato de experiência não poderá exceder
de 90 (noventa) dias.

O contrato de experiência, nos termos do artigo 443, §2º, alínea c, da CLT,


é uma modalidade de contrato por prazo determinado, firmado diretamente entre
empregador e empregado, não se confundindo, portanto, com o trabalhador
terceirizado. Vejamos:

Art. 443 O contrato individual de trabalho poderá ser acordado


tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo
determinado ou indeterminado, ou para prestação de trabalho
intermitente.
[...]
§ 2º - O contrato por prazo determinado só será válido em se
tratando:
a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a
predeterminação do prazo; 
b) de atividades empresariais de caráter transitório;
c) de contrato de experiência (grifo nosso). 

O trabalhador temporário que cumprir o período estipulado nos §§ 1o e 2o do


artigo 10 da Lei no 6.019/74, incluído pela Reforma Trabalhista, somente poderá
ser colocado à disposição da mesma tomadora de serviços em novo contrato
temporário, após noventa dias do término do contrato anterior, sendo certo que o
desrespeito a esta regra expressa da lei acarretará o reconhecimento de vínculo
direto com o tomador (§6º, do artigo 10, Lei no 6.019/74).

59
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Art. 10
[...]
§ 6o A contratação anterior ao prazo previsto no § 5o deste
artigo caracteriza vínculo empregatício com a tomadora. 

O parágrafo 7º, do artigo 10, da Lei no 6.019/74, prevê que “a contratante


é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao
período em que ocorrer o trabalho temporário” (grifo nosso), ou seja, as verbas
trabalhistas eventualmente devidas e cobradas pelo empregado em sede de
Reclamação Trabalhista, devem ser pagas primeiramente pela empresa de
trabalho temporário e somente após esgotados todos os meios de cobrança em
relação a ela, é que a empresa tomadora será responsabilizada.

Ainda, neste sentido, temos o artigo 14 da Lei no 6.019/74, o qual dispõe que
“as empresas de trabalho temporário são obrigadas a fornecer às empresas
tomadoras ou clientes, a seu pedido, comprovante da regularidade de sua
situação com o Instituto Nacional de Previdência Social”. (grifo nosso)

No tocante à contribuição previdenciária, importante ressaltar o disposto no


artigo 31, da Lei no 8.212/91, já que a tomadora de serviços deverá reter 11% do
valor bruto da nota fiscal emitida, vejamos:

Art. 31 A empresa contratante de serviços executados


mediante cessão de mão de obra, inclusive em regime de
trabalho temporário, deverá reter 11% (onze por cento) do
valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços
e recolher, em nome da empresa cedente da mão de obra,
a importância retida até o dia 20 (vinte) do mês subsequente
ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura, ou até o dia
útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário
naquele dia, observado o disposto no § 5o do art. 33 desta Lei.  

A empresa tomadora Ressalte-se que o §5º, do artigo 33, da Lei no 8.212/91 é expresso
é diretamente
no sentido de que a empresa tomadora é diretamente responsável pela
responsável pela
contribuição contribuição previdenciária. Vejamos:
previdenciária.
Art. 33
[...]
§ 5º O desconto de contribuição e de consignação legalmente
autorizadas sempre se presume feito oportuna e
regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo
lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando
diretamente responsável pela importância que deixou de
receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta
Lei (grifo nosso).

60
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

O artigo 16 da Lei no 6.019/74 reconhece a responsabilidade


O artigo 16 da
solidária do tomador de serviço pelo pagamento de contribuição Lei no 6.019/74
previdenciária, pela remuneração e indenização do período da reconhece a
prestação e serviços, no caso de falência da empresa do trabalhador responsabilidade
temporário. Vejamos: solidária do
tomador de serviço
Art. 16 No caso de falência da empresa de trabalho
pelo pagamento
temporário, a empresa tomadora ou cliente é de contribuição
solidariamente responsável pelo recolhimento das previdenciária.
contribuições previdenciárias, no tocante ao tempo
em que o trabalhador esteve sob suas ordens, assim como em
referência ao mesmo período, pela remuneração e indenização
previstas nesta Lei.

O contrato de trabalho celebrado entre empresa de trabalho temporário e


cada um dos assalariados colocados à disposição de uma empresa tomadora ou
cliente será, obrigatoriamente, escrito e dele deverão constar, expressamente, os
direitos conferidos aos trabalhadores pela Lei no 6.019/74 (artigo 11).

Ainda, será nula de pleno direito qualquer cláusula de reserva, proibindo a


contratação do trabalhador pela empresa tomadora ou cliente ao fim do prazo em
que tenha sido colocado à sua disposição pela empresa de trabalho temporário.

Em consonância com o artigo 12, da Lei no 6.019/74, ficam assegurados aos


trabalhadores temporários os direitos a seguir descritos:

Art. 12 Ficam assegurados ao trabalhador temporário os


seguintes direitos:
a) remuneração equivalente à percebida pelos empregados de
mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados
à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a percepção
do salário mínimo regional;
b) jornada de oito horas, remuneradas as horas extraordinárias
não excedentes de duas, com acréscimo de 20% (vinte por
cento);
c) férias proporcionais, nos termos do artigo 25 da Lei nº 5.107,
de 13 de setembro de 1966;
d) repouso semanal remunerado;
e) adicional por trabalho noturno;
f) indenização por dispensa sem justa causa ou término
normal do contrato, correspondente a 1/12 (um doze avos) do
pagamento recebido;
g) seguro contra acidente do trabalho;
h) proteção previdenciária nos termos do disposto na Lei
Orgânica da Previdência Social, com as alterações introduzidas
pela Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973 (art. 5º, item III, letra
"c" do Decreto nº 72.771, de 6 de setembro de 1973).

61
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Além desses direitos, devem ser assegurados ao trabalhador


Além desses temporário os direitos sociais previstos no artigo 7º, da Constituição
direitos, devem Federal de 1988, o qual em seu “caput” e incisos prevê que: “são
ser assegurados
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
ao trabalhador
temporário os melhoria de sua condição social”.
direitos sociais
previstos no artigo A empresa tomadora de serviço é obrigada a comunicar a empresa
7º, da Constituição de trabalhador temporário a ocorrência de todo tipo de acidente,
Federal de 1988. considerando-se como local de trabalho tanto aquele onde se efetua a
prestação de serviço quanto a sede da empresa de trabalho temporário.

Nos termos do artigo 13, da Lei no 6.019/74, “constituem justa causa


para rescisão do contrato do trabalhador temporário os atos e circunstâncias
mencionados nos artigos 482 e 483, da Consolidação das Leis do Trabalho,
ocorrentes entre o trabalhador e a empresa de trabalho temporário ou entre
aquele e a empresa cliente onde estiver prestando serviço”.

A fim de explicitar as hipóteses de justa causa, seja aquela aplicada pelo


empregador, seja aquela aplicada pelo empregado, é importante transcrever os
artigos 482 e 483 da CLT:

Art. 482 Constituem justa causa para rescisão do contrato


de trabalho pelo empregador: (grifo nosso)
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem
permissão do empregador, e quando constituir ato de
concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou
for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado,
caso não tenha havido suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra
qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições,
salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas
praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos,
salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em
lei para o exercício da profissão, em decorrência de conduta
dolosa do empregado. 
Parágrafo único - Constitui igualmente justa causa para
dispensa de empregado a prática, devidamente comprovada

62
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

em inquérito administrativo, de atos atentatórios à segurança


nacional.    
Art. 483 O empregado poderá considerar rescindido o
contrato e pleitear a devida indenização quando: (grifo
nosso)
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos
por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores
hierárquicos com rigor excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou
pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente,
salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça
ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos
salários.
§ 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos
serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar
obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço.
§ 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa
individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de
trabalho.
§ 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado
pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento
das respectivas indenizações, permanecendo ou não no
serviço até final decisão do processo. 

É vedado à empresa do trabalho temporário cobrar do trabalhador Esta infração


importa no
qualquer importância, mesmo a título de mediação, podendo apenas
cancelamento
efetuar os descontos previstos na legislação vigente, conforme do registro para
disposição do artigo 18, da Lei no 6.019/74. Esta infração importa no funcionamento
cancelamento do registro para funcionamento da empresa de trabalho da empresa de
temporário, sem prejuízo das sanções administrativas e penais cabíveis. trabalho temporário,
sem prejuízo
das sanções
Foi acrescentado, pela Reforma Trabalhista, o artigo 19-A, na Lei
administrativas e
n 6.019/74, o qual prevê que o descumprimento da Lei do Trabalhador
o
penais cabíveis.
Temporário acarretará à empresa infratora, o pagamento de multa,
sendo que a fiscalização, a autuação e o processo de imposição das multas
reger-se-ão pelo Título VII da Consolidação das Leis do Trabalho (artigos 626 a
642 da CLT).

As disposições da Lei no 6.019/74, após a Reforma Trabalhista, não se


aplicam às empresas de vigilância e transporte, vejamos:

Art. 19-B. O disposto nesta Lei não se aplica às empresas


de vigilância e transporte de valores, permanecendo as
respectivas relações de trabalho reguladas por legislação

63
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

especial, e subsidiariamente pela Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de
maio de 1943.   

Ainda, nos termos do artigo 19-C, da Lei no 6.019/74, também incluído


pela Lei no 13.429/17, os contratos em vigência, se as partes assim acordarem,
poderão ser adequados aos termos desta Lei.

Atividade de Estudos:

1) É possível a terceirização para os aeronautas? Justifique.


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Algumas Considerações
Diante do atual cenário, ou seja, após a Reforma Trabalhista, verificam-se
significativas alterações para a terceirização, já que desde novembro de 2017,
a Lei do Trabalhador Temporário, no 6.019/74, é que regulamenta a relação do
terceirizado.

Mas nem todas as regras existentes na Lei no 6.019/74 são aplicadas ao


trabalhador terceirizado, o que é possível verificar da ausência de obrigatoriedade
em conceder todos os benefícios do empregado da tomadora de serviços ao
terceirizado, mas tal benefício deve ser concedido ao trabalhador temporário.

Não mantendo esses mesmos direitos, poderia dizer que os trabalhadores


terceirizados, ao não poderem utilizar, por exemplo, o refeitório da tomadora de
serviços, estão sofrendo ato discriminatório no ambiente de trabalho ou que está
sendo violado o princípio da dignidade da pessoa humana, ou ainda, que há
violação as convenções interacionais da Organização Internacional do Trabalho.

64
Capítulo 4 Terceirização Através da Lei Nº 6.019/74

São questões para reflexão, pois estamos em uma época de incertezas,


de inexistência de decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho, ou mesmo do
Tribunal Superior do Trabalho, de como serão acolhidas as questões pertinentes
à Reforma Trabalhista.

Referências
BRASIL. Súmulas da Jurisprudência Uniforme do Tribunal Superior do Trabalho.
Resolução nº 220, de 18 de setembro de 2017. Disponível em: <http://www.tst.
jus.br/sumulas>. Acesso em: 15 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis


do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943,
e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e
8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações
de trabalho. Promulgada em 13 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm#art2>. Acesso em:
15 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 13.429 de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei n.


6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas
empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de
trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Promulgada em 31
de março de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13429.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, em


10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/
L7102.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da


Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Promulgada
em 24 de julho de 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
l8212cons.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito


de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Promulgada em 28 de junho
de 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7783.htm>.
Acesso em: 15 maio 2018.

65
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada


em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho


Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Promulgada em
3 de janeiro de 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L6019.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
Editora LTr, 2012.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 12. ed. rev.,
atul. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

MARTINS, Sergio Pinto. Terceirização no direito do trabalho. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

66
C APÍTULO 5
Terceirização e Responsabilidade

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Definir qual responsabilidade é aplicada em situações de terceirização.

� Identificar a limitação da responsabilidade dos tomadores de serviços.

Professora convidada:
Gabriela Gavioli
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

68
Capítulo 5 Terceirização e Responsabilidade

Contextualização
A responsabilidade do tomador de serviços já era tratada pela Lei no 6.019/74,
em seu artigo 16, dispondo de forma expressa que a solidariedade existiria
somente em caso de falência de empresa de trabalho temporário, vejamos:

[...] no caso de falência da empresa de trabalho temporário, a


empresa tomadora ou cliente é solidariamente responsável
pelo recolhimento das contribuições previdenciárias, no tocante
ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas ordens, assim
como em referência ao mesmo período, pela remuneração e
indenização previstas nesta Lei. (grifo nosso).

Conforme ensinamento de Delgado (2012, p. 466)

[...] não obstante solidária a responsabilidade criada pela Lei


n. 6.019/74, sua hipótese de incidência era sumariamente
restrita: incidiria apenas havendo falência da empresa
fornecedora de força de trabalho (rectius: insolvência). Além
disso, a responsabilidade não abrangeria todas as verbas do
contrato envolvido, mas somente aquelas poucas especificadas
pela Lei n. 6.019/74. (grifo nosso).

Esse pequeno leque de limitações apresentado pela Lei no 6.019/74 sempre


foi debatido e questionado “pelos operadores jurídicos, em busca de fórmula
responsabilizatória mais consentânea com a realidade socioeconômica e
normativa trabalhista” (DELGADO, 2012, p. 466).

A fim de regulamentar a questão da responsabilidade, o Tribunal Superior do


Trabalho, em dezembro de 1993, editou a Súmula 331, inciso IV, in verbis:

IV O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte


do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive
quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das
fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades
de economia mista, desde que hajam participado da relação
processual e constem também do título executivo judicial.
(grifo nosso).

Portanto, o entendimento jurisprudencial, convertido em Súmula do Tribunal


Superior do Trabalho, é no sentido de que o tomador de serviço deve ser
responsabilizado de forma subsidiária pelas verbas trabalhistas reconhecidas
em Reclamação Trabalhista. No entanto, faz uma exigência, que a tomadora
de serviço tenha participado da lide processada e julgada em referida justiça
especializada.

69
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Assim, diante da ausência de claros e diretos textos legais que


regulamentassem a questão da responsabilização nos casos de terceirização, em
2017, foi editada a Lei no 13.429, a qual “dispõe sobre as relações de trabalho
na empresa de prestação de serviços a terceiros”, inclusive regulamentando a
responsabilidade das tomadoras de serviços e das terceirizantes de mão de obra.
Conforme lição de Garcia (2018, p.399),

os temas relativos ao trabalho temporário e à terceirização


passaram a ser disciplinados no mesmo diploma legal,
sabendo-se que, até então, a Lei 6.019/74 dispunha apenas
sobre trabalho temporário, enquanto a terceirização era objeto
de orientação firmada pela jurisprudência, notadamente por
meio da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho.

Diante desse novo cenário jurídico, será analisada a responsabilidade do


tomador de serviços, à luz da Lei no 13.429/17 e no 13.467/17.

Da Responsabilidade do Tomador de
Serviços
Conforme já estudado anteriormente, o artigo 4º - A, da Lei no 6.019/74,
conceitua prestação de serviços a terceiros como sendo:

Artigo 4º A. Considera-se prestação de serviços a terceiros a


transferência feita pela contratante da execução de quaisquer
de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa
jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua
capacidade econômica compatível com a sua execução.

Com isso, no ensinamento de Garcia (2018, p. 400):

A terceirização, entendida como prestação de serviços a


terceiros, passa a ser entendida como transferência feita pela
contratante da execução de quaisquer de suas atividades,
inclusive a sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço.

Ainda, em análise ao artigo 4º - A, da Lei no 6.019/74, na lição de Garcia


(2018, p. 401), temos que “a empresa prestadora de serviços a terceiros,
assim, não pode ser pessoa física, nem empresário individual, devendo ser
necessariamente jurídica”.

A intermediação de mão de obra, mesmo após a edição das Leis no 13.429/17


e no 13.467/17, continua não sendo permitida, uma vez que caracteriza fraude ao
vínculo de emprego com o seu empregador (artigo 9º da CLT) e em violação ao

70
Capítulo 5 Terceirização e Responsabilidade

valor social do trabalho, o qual é constitucionalmente protegido (artigo 1º, inciso


IV), ora transcritos, respectivamente:

CLT:
Artigo 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com
o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos
preceitos contidos na presente Consolidação.
Constituição Federal de 1988
Artigo 1º
[...]
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

A proteção constitucional do valor social do trabalho nada mais é que a


proibição da intermediação de mão de obra, pois o trabalho não é, e tampouco
pode ser considerado mercadoria.

Em termos de responsabilidade da prestadora de serviços, importante


esclarecer que o legislador, ao editar a Lei no 13.429/17, apontou de forma
expressa quais são elas, nos termos do §1º, do artigo 4º - A, da Lei no 6.019/74:

§1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera


e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou
subcontrata outras empresas para realização desses serviços.
(grifo nosso).

Portanto, em primeiro momento, uma vez não havendo o pagamento


das verbas trabalhistas do funcionário da prestadora de serviço, é dela a
responsabilidade pelo pagamento dos valores reconhecidos como devido em
eventual Reclamação Trabalhista, sendo certo, no entanto, que em um segundo
momento a tomadora poderá responder de forma subsidiária, conforme será
estudo.

Ainda, quando estamos diante da terceirização lícita, na lição de Garcia


(2018, p. 403):

A fiscalização, o controle e a organização das atividades


do empregado (do serviço terceirizado) não devem ser feitos
pelo tomador, mas sim pelo empregador, que é a empresa
prestadora. Na hipótese em análise, a relação jurídica do
tomador é com a referida empresa, e não com os empregados
desta.
Da mesma forma, quem deve exercer o poder disciplinar,
perante o trabalhador terceirizado, é o seu empregador.
Na terceirização, o empregado não deve ser subordinado de
forma direta ao tomador dos serviços, mas sim à empresa
prestadora, uma vez que esta exerce o poder de direção. (grifo
nosso).

71
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Na terceirização, nos termos do artigo 5º- A, da Lei nº 6.079/1974, com a


redação dada pela Lei nº 13.467/2017, a “contratante é a pessoa física ou
jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços relacionados
a quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal”.

Portanto, a partir da análise do artigo 5º - A, acima apontado, a


Tomadora de contratante, ou seja, a tomadora de serviços, pode terceirizar quaisquer
serviços, pode
de suas atividades, seja a atividade-meio ou a atividade-fim, perdendo a
terceirizar quaisquer
de suas atividades, relevância da distinção entre elas, que antes da “Reforma Trabalhista”,
seja a atividade- era crucial no momento de apurar a responsabilidade das partes
meio ou a atividade- envolvidas, como se observa da simples análise do inciso III, da Súmula
fim. 331, do TST, aplicável aos casos de terceirização até a edição da Lei no
13.467/17:

Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação


de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983)
e de conservação e limpeza, bem como a de serviços
especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde
que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. (grifo
nosso)

Importante relembrar que o contrato de prestação e serviços deve conter,


nos termos do artigo 5º - B, da Lei nº 6.019/1974, os seguintes requisitos incluídos
pela Lei no 13.429/17:

Art. 5o-B. O contrato de prestação de serviços conterá: 


I - qualificação das partes;
II - especificação do serviço a ser prestado;
III - prazo para realização do serviço, quando for o caso;
IV – valor. (grifo nosso).

Portanto, da leitura do inciso II, do artigo 5º - B, acima citado, verifica-se que o


serviço contratado pela tomadora pode ser de sua atividade-fim, mas é obrigatório
ser específico, não podendo haver empresas terceirizantes de cunho genérico, já
que estas não poderão celebrar contrato de prestação de serviço sem que seja
considerado fraudulento. Vale trazer à baila a lição de Garcia (2018, p. 401):

Portanto, a terceirização só é admitida quanto a serviços


especificados.
Em outras palavras, a empresa prestadora de serviços
não pode prestar serviços genéricos, pois não se admite
a terceirização, pela empresa contratante (tomadora), de
atividade sem especificação.

A contratante, diferentemente da empresa prestadora de serviços, pode


ser pessoa física ou jurídica, sendo certo que somente poderão ser contratados
serviços específicos da tomadora.

72
Capítulo 5 Terceirização e Responsabilidade

Ainda, o parágrafo primeiro do artigo 5º - A, da Lei no 6.019/1974, proíbe a


utilização, pelo tomador, do trabalhador em atividade distinta daquela do objeto
do contrato firmado com a empresa fornecedora de mão de obra, sob pena de ser
caracterizado desvio de função, e a partir da aplicação do princípio da primazia da
realidade, a nulidade do contrato de trabalho firmado entre trabalhador e empresa
prestadora de serviços. Vejamos:

Artigo 5º-A
[...]
§1º É vedada à contratante a utilização dos trabalhadores em
atividades distintas daquelas que foram objeto do contrato com
a empresa prestadora de serviços. 

A prestação de
Em continuidade, na análise do artigo 5º-A, da Lei nº 6.019/1974 serviços pode
verifica-se em seu parágrafo segundo que a prestação de serviços ocorrer nas
pode ocorrer nas dependências da empresa tomadora de serviços ou a dependências da
distância, como é o caso do teletrabalho, uma vez que não há distinção empresa tomadora
legal em relação ao empregado que presta serviços na empresa ou de serviços ou a
distância, como é o
a distância, o que se depreende da análise do artigo 6º da CLT, cuja
caso do teletrabalho,
redação foi dada pela Lei nº 12.551/2011.

Vale transcrever o parágrafo segundo do artigo 5º-A da Lei no 6.019/74, bem


como o artigo 6º da CLT, respectivamente:

Artigo 5º-A
[...]
§ 2o Os serviços contratados poderão ser executados nas
instalações físicas da empresa contratante ou em outro
local, de comum acordo entre as partes. (grifo nosso).
[...]
Artigo 6º Não se distingue entre o trabalho realizado no
estabelecimento do empregador, o executado no domicílio
do empregado e o realizado a distância, desde que estejam
caracterizados os pressupostos da relação de emprego. (grifo
nosso).

Ainda, importante ressaltar que é responsabilidade da contratante (tomador


de serviço) garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos
trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local
previamente convencionado em contrato (artigo 5º-A, parágrafo 3º, da Lei nº
6.019/74).

Portanto, o tomador é o responsável por fornecer um ambiente de trabalho


seguro, salubre e sadio para seus funcionários e para os trabalhadores
terceirizados, independentemente do local da prestação de serviços, já que este
pode ocorrer nas dependências da empresa tomadora de serviços ou a distância.

73
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Logo, as indenizações decorrentes desses infortúnios são de


responsabilidade solidária tanto da empresa prestadora de serviços (real
empregadora do funcionário) como da tomadora, já que esta tem o dever de
cuidar do meio ambiente de trabalho. Corroborando nosso estudo, temos a lição
de Garcia (2018, p. 410):

Logo, se o empregado terceirizado prestar serviço no


estabelecimento da empresa tomadora ou em outro local
pactuado entre as partes, esta responde pela higidez do meio
ambiente de trabalho, inclusive em casos de acidentes de
trabalho e doenças ocupacionais.
Sendo assim, as indenizações decorrentes desses
infortúnios são de responsabilidade solidária tanto da
empresa prestadora de serviço, por ser empregadora, como
da empresa contratante, por ter o dever de cuidar do meio
ambiente de trabalho. (grifo nosso).

A contratante pode estender ao trabalhador da empresa de prestação de


serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos
seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela
designado (artigo 5º-A, § 4º, da Lei no 6.019/74).

Nota-se que se trata de uma faculdade do tomador de serviços em


relação ao trabalhador terceirizado, o que difere da previsão legal em relação ao
trabalhador temporário, não podendo deixar de mencionar a previsão do artigo 9º,
§2º, da Lei no 6.019/74, acrescido pela Reforma Trabalhista, in verbis:

Artigo 9º
[...]
§ 2o A contratante estenderá ao trabalhador da empresa
de trabalho temporário o mesmo atendimento médico,
ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados,
existente nas dependências da contratante, ou local por ela
designado. (grifo nosso).

No entanto, o legislador não poderia deixar de garantir direitos ao prestador


de serviços que trabalha nas dependências da tomadora. Assim, dispõe o artigo
4º-C, da Lei no 6.019/74, com redação dada pela Lei no 13.467/17:

Art. 4o C. São asseguradas aos empregados da empresa


prestadora de serviços a que se refere o art. 4o- A desta Lei,
quando e enquanto os serviços, que podem ser de qualquer
uma das atividades da contratante, forem executados nas
dependências da tomadora, as mesmas condições:   
I - relativas a:  
a) alimentação garantida aos empregados da contratante,
quando oferecida em refeitórios; 
b) direito de utilizar os serviços de transporte;  

74
Capítulo 5 Terceirização e Responsabilidade

c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas


dependências da contratante ou local por ela designado;  
d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando
a atividade o exigir.  
II - sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança
no trabalho e de instalações adequadas à prestação do
serviço. (grifos nosso).

Caso seja de interesse das partes contratantes, estas podem estabelecer


que os empregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos
empregados da contratante, além de outros direitos não previstos no artigo 4º-C,
da Lei no 6.019/74.

Saliente-se que, diferentemente do que ocorre com o trabalhador temporário,


trata-se de mera faculdade o pagamento de igual salário nos casos de
terceirização, sendo certo que para o temporário, tal garantia é um dever,
conforme se depreende da leitura do artigo 12, a, da Lei no 6.019/74, vejamos:

Art. 12 - Ficam assegurados ao trabalhador temporário os


seguintes direitos:
a) remuneração equivalente à percebida pelos empregados
de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente
calculados à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a
percepção do salário mínimo regional. (grifo nosso).

Segundo o artigo 4º-C, §2º, da Lei no 6.019/74, cuja redação foi dada pela
Lei no 3.467/2017, nos contratos que impliquem mobilização de empregados
da contratada em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos
empregados da contratante, esta poderá disponibilizar aos empregados da
contratada os serviços de alimentação e atendimento ambulatorial em outros
locais apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a manter o
pleno funcionamento dos serviços existentes. Logo, resta evidente que se trata,
mais uma vez, de faculdade do tomador de serviços.

Nos termos do artigo 5º-A, §5º, a empresa contratante é subsidiariamente


responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que
ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias
observará o disposto no art. 31, da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. Este
entendimento já era sedimentado pela Súmula 331, inciso IV do TST, vejamos:

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte


do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que
haja participado da relação processual e conste também do
título executivo judicial.

75
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Portanto, no momento de terceirizar suas atividades, a empresa tomadora tem


o dever de contratar empresas idôneas, bem como de fiscalizar, acompanhando o
correto cumprimento dos preceitos trabalhistas, sob pena de responder de forma
subsidiária pelas verbas trabalhistas devidas ao prestador de serviços.

A devedora Esclareça-se, por oportuno, que a devedora principal sempre será


principal sempre a empresa fornecedora da mão de obra, sendo que tal fato não exclui a
será a empresa responsabilidade do tomador, como descrito alhures.
fornecedora da mão
de obra.
Como a responsabilidade é subsidiária, e não solidária, há
necessidade de esgotar todo o patrimônio da devedora principal, que também é
a real empregadora do funcionário, para tão somente, após, a empresa tomadora
de serviços ser responsabilizada pelo débito trabalhista, o que pode dificultar a
celeridade e a efetividade na satisfação do crédito trabalhista.

Sobre o benefício de ordem que deve ser seguido nos casos de


responsabilidade subsidiaria do tomador de serviço, é interessante
a leitura do artigo abaixo apontado. Disponível em: <https://goo.gl/
Memhq2>.

Em havendo cláusula no contrato de prestação de serviços que exclua a


responsabilidade da tomadora de serviços, esta será considerada nula, pois se
trata de norma de ordem pública, cogente, e, portanto, irrevogável pela vontade
das partes.

Entretanto, a tomadora de serviços é responsável de forma subsidiária, tão


somente, pelo período em que o trabalhador da empresa contratada prestou
serviços, de forma efetiva, em suas dependências, nos termos da Súmula 331,
inciso VI, do TST, vejamos:

VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços


abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes
ao período da prestação laboral.

No caso de o tomador de serviço ser ente da administração pública, deve


ser respeitada a Lei nº 8.666/93, a qual dispõe sobre licitações, em especial a
regra contida em seu artigo 71, §1º, vejamos:

76
Capítulo 5 Terceirização e Responsabilidade

Art. 71.  O contratado é responsável pelos encargos


trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes
da execução do contrato. (grifo nosso).
§ 1o  A inadimplência do contratado, com referência
aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não
transfere à Administração Pública a responsabilidade por
seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou
restringir a regularização e o uso das obras e edificações,
inclusive perante o Registro de Imóveis. (grifo nosso).

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Declaratória de


Constitucionalidade 16-9/DF, que tem como objeto o artigo de lei acima transcrito,
confirmou o entendimento de ser vedada a responsabilização automática da
Administração Pública, sendo possível sua condenação, no entanto, quando
houver prova inequívoca de sua conduta omissiva ou comissiva na
fiscalização dos contratos.

Atividade de Estudos:

1) A faculdade concedida ao tomador de serviços quanto a permissão


do trabalhador terceirizado utilizar, por exemplo, o refeitório ou o
tratamento ambulatorial fornecido aos seus empregados diretos e
aos temporários pode ser considerado discriminatório? Justifique.

Algumas Considerações
Evidente, portanto, que são responsáveis, tomadora de serviços e
fornecedora de mão de obra, pelas verbas trabalhistas do funcionário prestador
de serviços, sendo certo que esta responsabilidade poderá ser subsidiária ou
solidária, dependendo do débito, já que a primeira é pelas verbas trabalhistas e a
segunda pelos débitos previdenciários.

77
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Referências
BRASIL. Súmulas da Jurisprudência Uniforme do Tribunal Superior do
Trabalho. Resolução n. 220, de 18 de setembro de 2017. Disponível em: <http://
www.tst.jus.br/sumulas>. Acesso em: 17 jul. 2018.

_______. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis


do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1o de maio de 1943, e
as Leis n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, n. 8.036, de 11 de maio de 1990, e n.
8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações
de trabalho. Promulgada em 13 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm#art2>. Acesso em:
17 jul. 2018.

_______. Lei n. 13.429, de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei


n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas
empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de
trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Promulgada em 31 de
março de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13429.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso


XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da
Administração Pública e dá outras providências. Promulgada em 21 de junho de
1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8666cons.htm>.
Acesso em: 17 jul. 2018.

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______. Lei n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho


Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Promulgada em
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DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
Editora LTr, 2012.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 12. ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

78
C APÍTULO 6
Pontos Relevantes da Terceirização
Trabalhista

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar a aplicação das situações diferenciadas que podem ocorrer na


terceirização trabalhista.

� Compreender a aplicação das situações diferenciadas que podem ocorrer na


terceirização trabalhista.
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

80
Capítulo 6 Pontos Relevantes da Terceirização Trabalhista

Contextualização
Há situações da terceirização trabalhista que devem ser tratadas de forma
desiguais, a fim de garantir a igualdade entre todos.

São situações peculiares, que geram dúvidas nos aplicadores do direito, por
exemplo, o caso do enquadramento sindical na terceirização, das empresas de
vigilância, do dono da obra e empreitada, além do contrato de facção.

Assim, passaremos a tratar desses casos.

Do Enquadramento Sindical na
Terceirização
As alterações trazidas pela Lei nº 13.429/17 na Lei nº 6.019/17 foram
omissas em relação a qual sindicato pertence o trabalhador terceirizado, qual
a Convenção Coletiva e/ou Acordo Coletivo de Trabalho deve ser seguido por
estes prestadores de serviços.

Nos termos do artigo 581, §§ 1º e 2º da CLT, em regra, o enquadramento


sindical decorre da atividade econômica preponderante do real empregador, ou
seja, da empresa prestadora de serviço. Vejamos:

Art. 581. Para os fins do item III do artigo anterior, as empresas


atribuirão parte do respectivo capital às suas sucursais, filiais
ou agências, desde que localizadas fora da base territorial da
entidade sindical representativa da atividade econômica do
estabelecimento principal, na proporção das correspondentes
operações econômicas, fazendo a devida comunicação às
Delegacias Regionais do Trabalho, conforme localidade da
sede da empresa, sucursais, filiais ou agências.
§ 1º Quando a empresa realizar diversas atividades
econômicas, sem que nenhuma delas seja preponderante,
cada uma dessas atividades será incorporada à respectiva
categoria econômica, sendo a contribuição sindical devida
à entidade sindical representativa da mesma categoria,
procedendo-se, em relação às correspondentes sucursais,
agências ou filiais, na forma do presente artigo.   
§ 2º Entende-se por atividade preponderante a que
caracterizar a unidade de produto, operação ou objetivo
final, para cuja obtenção todas as demais atividades
convirjam, exclusivamente em regime de conexão
funcional. (grifo nosso).

81
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Saliente-se que, nos casos de terceirização lícita, o empregador do


funcionário terceirizado é a empresa prestadora de serviços, sendo esta sua
atividade econômica. Assim, conclui Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018, p. 417)
sobre o tema:

[...] que o empregado da empresa prestadora de serviço


não integra a categoria profissional da empresa contratante
(tomadora), mas sim a categoria dos empregados de empresa
de prestação de serviços.
Com isso, em tese, não se aplicam os direitos decorrentes das
normas coletivas dos empregados da empresa tomadora aos
empregados das prestadoras dos serviços, gerando possível
tratamento não isonômico entre trabalhadores terceirizados e
contratados diretamente pela tomadora, ainda que inseridos no
mesmo setor e contexto de atividade.

Não é demais rememorar a questão da precarização da mão de obra e,


principalmente, da relação de trabalho, já mencionadas em capítulo anterior,
diante da possibilidade de não haver garantia dos mesmos direitos e benefícios
para os funcionários contratados diretamente pelo tomador de serviço e daquele
que presta serviço no mesmo ambiente de trabalho que ele, exercendo, muitas
vezes igual função, para o terceirizado.

A precarização da relação de trabalho ocorrerá diante da ausência de


garantias de direito ao terceirizado, já que a empresa prestadora de serviço
poderá pagar, por exemplo, salário inferior ao recebido pelo empregado contratado
diretamente pelo tomador de serviço.

Mas, ainda que estejamos diante desse cenário, há que ser aplicado o
Princípio Constitucional da Igualdade, a fim de garantir, mesmo que judicialmente,
o mesmo nível remuneratório do trabalhador registrado diretamente pelo tomador
que realiza a mesma função do empregado terceirizado.

Portanto, caberá a todas as partes integrantes do Judiciário Trabalhista


(advogados, juízes, membros do ministério público do trabalho) e dos sindicatos
(trabalhador e empregador), diante à Reforma Trabalhista ocorrida no ano de 2017,
a construção de novos entendimentos, e a busca pela verdade real e garantia
dos direitos dos empregados terceirizados, a fim de se evitar a precarização da
relação de trabalho.

82
Capítulo 6 Pontos Relevantes da Terceirização Trabalhista

Das Empresas de Vigilância


Em relação as empresas de vigilância e de transporte de valores, há
previsão expressa na Lei nº 6.019/74, com a inclusão do artigo 19-B, pela Lei nº
13.429/2017 que, por ter legislação própria, não se aplica a estes casos a lei do
trabalho temporário. Vale transcrever o artigo 19-B, da Lei 6.019/74:

Art. 19-B. O disposto nesta Lei não se aplica às empresas


de vigilância e transporte de valores, permanecendo as
respectivas relações de trabalho reguladas por legislação
especial, e subsidiariamente pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de
maio de 1943. (grifo nosso).

A Lei nº 7.102/1983 dispõe sobre “segurança para estabelecimentos


financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas
particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dá
outras providências”.

No entanto, a doutrina ainda assim defende a responsabilidade subsidiária do


tomador de serviços, conforme entendimento de Gustavo Filipe Barbosa Garcia
(2018, p. 418):

[...]defende-se o entendimento de que a contratante (tomadora)


de serviços prestados por empresas de vigilância e transporte
de valores é subsidiariamente responsável pelas obrigações
trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação
laboral, com fundamento na analogia (arts. 8º e 455 da CLT) e
na Súmula 331, itens IV e VI do TST.

A fim de maior entendimento do posicionamento doutrinário acima transcrito,


vale trazer à baila os artigos da CLT e os incisos da Súmula, nos termos que segue:

Art. 8º da CLT As autoridades administrativas e a Justiça


do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais,
decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por
analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais
de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de
acordo com os usos e costumes, o direito comparado,
mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou
particular prevaleça sobre o interesse público. (grifo nosso)
§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 2o Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados
pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais
do Trabalho não poderão restringir direitos legalmente
previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em
lei. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

83
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

§ 3o No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de


trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a
conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico,
respeitado o disposto no art. 104 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo
princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade
coletiva. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
Art. 455 da CLT - Nos contratos de subempreitada responderá
o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de
trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o
direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo
inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro.
(grifo nosso)
Parágrafo único - Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos
termos da lei civil, ação regressiva contra o subempreiteiro e a
retenção de importâncias a este devidas, para a garantia das
obrigações previstas neste artigo.
Súmula nº 331 do TST
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação)
- Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011.
[...]
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas,
por parte do empregador, implica a responsabilidade
subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas
obrigações, desde que haja participado da relação
processual e conste também do título executivo judicial.
[...] 
VI - A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços
abrange todas as verbas decorrentes da condenação
referentes ao período da prestação laboral. (grifo nosso).

Portanto, a partir da aplicação analógica da legislação conclui-se que se


aplica às empresas de vigilância e transportes de valores, de forma analógica,
a responsabilidade subsidiária da tomadora de serviços, já que esta também
tem o dever de garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos
trabalhadores terceirizados que laboram nas suas dependências ou outro local
previamente convencionado.

Do Dono da Obra e Empreitada


Outra forma de contratar prestação de serviço por meio da terceirização é
pelo contrato de empreitada. Logo, há que ser analisada a posição do dono da
obra nestes casos concretos, especialmente no tocante a sua responsabilidade
pelas verbas trabalhistas não pagas pelo empreiteiro.

O artigo 455, caput, da CLT, é expresso no sentido de responsabilizar o


subempreiteiro pelas verbas trabalhistas devidas em decorrência do contrato de
trabalho que celebrar.

84
Capítulo 6 Pontos Relevantes da Terceirização Trabalhista

Em continuidade à análise do dispositivo legal, verifica-se que a


responsabilidade pelas verbas trabalhistas não pagas é ampliada ao empreiteiro
principal. Logo, mesmo o empreiteiro não sendo o empregador, ele é responsável
pelo inadimplemento de verbas trabalhistas. Vejamos:

Art. 455 - Nos contratos de subempreitada responderá o


subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de
trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados,
o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo
inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro.
(grifo nosso).

Apesar de possuir a responsabilidade do caput, do artigo 455 da CLT, o


parágrafo único de referido artigo, lhe garante o direito de ação regressiva contra
o subempreiteiro e a retenção dos valores que são devidas a ele. Vejamos:

Parágrafo único - Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos


termos da lei civil, ação regressiva contra o subempreiteiro e a
retenção de importâncias a este devidas, para a garantia das
obrigações previstas neste artigo.

A partir da lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018, p. 419) é possível


concluir que a responsabilidade do empreiteiro é subsidiária, in verbis:

Logo, apesar da responsabilidade do empreiteiro, a lei indica


que o responsável principal, na realidade, é o empregador
(subempreiteiro). Desse modo, entende-se que o empreiteiro
responde de forma subsidiária pelos créditos trabalhistas
devidos aos empregados empreiteiro.

Ainda, importante lembrar que nesta seara, além do empreiteiro e


subempreiteiro, tem o dono da obra, restando necessária a análise de sua
responsabilidade, já que a legislação vigente não previu a sua responsabilidade
de forma automática, nos termos da lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018,
p. 419):

O dispositivo em questão, ao tratar da relação do empreiteiro


com subempreiteiro, não prevê a responsabilidade
automática do dono da obra, ou seja, daquele que
contratou o empreiteiro, quanto às obrigações trabalhistas
pertinentes aos empregados deste último. (grifo nosso).

Diante dessa questão controvertida, foi criada a Orientação Jurisprudencial


191 da SBDI-I, do TST:

85
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

191. CONTRATO DE EMPREITADA. DONO DA OBRA DE


CONSTRUÇÃO CIVIL.  RESPONSABILIDADE. (Nova redação)
- Res. 175/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011.
Diante da inexistência de previsão legal específica, o contrato
de empreitada de construção civil entre o dono da obra
e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária
ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas
pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa
construtora ou incorporadora. (grifo nosso).

Logo, não sendo a empresa uma construtora ou incorporadora, tão somente


contrata o empreiteiro, ou seja, é mera dono da obra, e não tomador de serviço
terceirizado, não responde de forma automática pela obrigação trabalhista
decorrente da relação empregado e empreiteiro.

A contrario sensu, conforme disposição final da Orientação Jurisprudencial


acima transcrita é possível concluir que o dono da obra, em sendo empresa
construtora ou incorporadora, responde “de forma solidária ou subsidiária, pelas
obrigações trabalhistas originadas de contratos de emprego mantidos pelo
empreiteiro” (GARCIA, 2018, p. 419).

Assim, aplica-se a estes casos o artigo 5º-A, §5º da Lei nº 6.019/74,


acrescentado pela Lei nº 13.429/2017 e Súmula 331, inciso IV, do TST, uma
vez que se trata de terceirização de serviço pela empresa incorporadora ou
construtora.

No entanto, uma vez havendo terceirização ilícita, ou seja, intermediação


de mão de obra de forma irregular, por meio de empresa interposta, forma-se o
vínculo de emprego diretamente com a empresa tomadora, conforme disposto na
Súmula 331, inciso I, do TST, desde que não seja integrante da Administração
Pública. Vejamos:

Súmula 331, do TST:


I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é
ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos
serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019,
de 03.01.1974).

Na lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018, p. 420), o Tribunal Superior


do Trabalho, no julgamento de incidente de recurso de revista repetitivo, fixou as
seguintes teses jurídicas a respeito do dono da obra:

I) A exclusão de responsabilidade solidária ou subsidiária


por obrigação trabalhista a que se refere a Orientação
Jurisprudencial 191 da SDI-1 do TST não se restringe à pessoa
física ou micro e pequenas empresas, compreende igualmente
empresas de médio e grande porte e entes públicos (decidido
por unanimidade);

86
Capítulo 6 Pontos Relevantes da Terceirização Trabalhista

II) A excepcional responsabilidade por obrigações trabalhistas


prevista na parte final da Orientação Jurisprudencial 191, por
aplicação analógica do artigo 455 da CLT, alcança os casos
em que o dono da obra de construção civil é construtor ou
incorporador e, portanto, desenvolve a mesma atividade
econômica do empreiteiro (decidido por unanimidade);
III) Não é compatível com a diretriz sufragada na Orientação
Jurisprudencial 191 da SDI-1 do TST jurisprudência de Tribunal
Regional do Trabalho que amplia a responsabilidade trabalhista
do dono da obra, excepcionando apenas "a pessoa física ou
micro e pequenas empresas, na forma da lei, que não exerçam
atividade econômica vinculada ao objeto contratado" (decidido
por unanimidade);
IV) Exceto ente público da Administração Direta e Indireta,
se houver inadimplemento das obrigações trabalhistas
contraídas por empreiteiro que contratar, sem idoneidade
econômico-financeira, o dono da obra responderá
subsidiariamente por tais obrigações, em face de aplicação
analógica do artigo 455 da CLT e culpa in eligendo
(decidido por maioria, vencido o ministro Márcio Eurico
Vitral Amaro). (Ricardo Reis e Carmem Feijó/GAB). Matéria
publicada originalmente em 17/5/2017 e republicada em
18/5/2017 com correção do conteúdo. Processo: IRR-190-
53.2015.5.03.0090.

A partir de uma simples análise ao item IV, acima transcrito, verifica-se


que a responsabilidade do dono da obra é subsidiária pelo inadimplemento dos
créditos trabalhistas devido pelo empreiteiro, quando comprovada a contratação
de empreiteiro sem idoneidade econômico-financeira, decorrentes da aplicação
dos artigos 8º e 455 da CLT.

Portanto, o subempreiteiro, o empreiteiro e o dono da obra (empresa


construtora ou incorporadora) respondem pelas verbas trabalhistas devidas em
decorrência do contrato de trabalho firmado entre trabalhador e empreiteiro, cada
qual no limite de suas responsabilidades.

Atividades de Estudos:

1) Há desrespeito de legislação vigente à responsabilização do


dono da obra, sem haver previsão legal? Fundamente.
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87
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

2) Associação Civil com finalidade específica pode ser equiparada a


empresa prestadora de serviços? Justifique. Exemplifique.
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Algumas Considerações
Com o estudo deste capítulo foi possível compreender que há diversas formas
de utilizar a terceirização, sendo que para alguns casos há legislação específica,
bem como entendimentos diversificados, mas que se aplicam, também, a elas
as disposições da Lei no 6.019/74, com as alterações da Lei no 13.429/2017 e no
13.467/2017.

Ainda em que pese a particularidade de cada caso concreto, há que ser


aplicada a subsidiariedade ou solidariedade dos tomadores de serviços, sendo
que a responsabilização dependerá das circunstâncias da infração legislativa.

Por fim, qualquer que seja a forma de terceirização, restou evidente que
esta deve ser realizada de forma lícita, não podendo ser utilizada de empresa
interposta ou mesmo fraudar a legislação vigente, sob pena de ser considerado
nulo o contrato de prestação de serviço e reconhecimento de vínculo empregatício
com o tomador de serviços.

Referências
BRASIL. Súmulas da Jurisprudência Uniforme do Tribunal Superior do
Trabalho. Resolução n. 220, de 18 de setembro de 2017. Disponível em: <http://
www.tst.jus.br/sumulas>. Acesso em: 17 jul. 2018.

88
Capítulo 6 Pontos Relevantes da Terceirização Trabalhista

______. Lei n. 13.429, de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei n.


6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas
empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de
trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Promulgada em 31 de
março de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13429.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983. Dispõe sobre segurança


para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e
funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e
de transporte de valores, e dá outras providências. Promulgada em 20 de junho
de 1983. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7102.htm>.
Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Lei n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho


Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Promulgada em
3 de janeiro de 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L6019.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação


das Leis do Trabalho. Aprovada em 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Orientação Jurisprudencial SBDI-I. Disponível em: <http://www3.tst.


jus.br/jurisprudencia/OJ_SDI_1/n_s1_181.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Tribunal Superior do Trabalho. Disponível em: <http://www.tst.jus.


br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/tst-define-responsabilizacao-do-
dono-da-obra-por-obrigacoes-trabalhistas-de- empreiteiro/pop_up?_101_
INSTANCE_89Dk_viewMode=print&_101_INSTANCE_89Dk_languageId=pt_
BR>. Acesso em: 17 jul. 2018.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 12. ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

89
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

90
C APÍTULO 7
Aspectos Processuais

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

Identificar o órgão competente para analisar as questões oriundas das relações



de terceirização.

� Identificar a necessidade do litisconsórcio passivo.

� Compreender a aplicação da lei de terceirização nos termos da regra de direito


intertemporal.
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

92
Capítulo 7 Aspectos Processuais

Contextualização
As relações advindas da terceirização devem ser analisadas pela Justiça
quando não cumpridas as determinações legais que regem a contratação, seja
em relação ao trabalhador, seja na relação entre tomador de serviços e empresa
prestadora de serviços.

Assim, serão abordados, neste tópico, os aspectos processuais que regem,


regulamentam a relação processual para solução de conflitos dos casos que
envolvem as terceirizações, bem como a regra de direito intertemporal aplicável
ao processo e ao caso concreto quando da análise da justiça especializada em
questão.

Da Competência
A Constituição Federal, em seu artigo 114, caput, dispõe sobre a competência
da Justiça do Trabalho.

Referido artigo da nossa Carta Magna, em 2004, com o advento da Emenda


Constitucional nº 45, sofreu alteração, ampliando a competência da Justiça do
Trabalho, já que permitiu que esta processasse e julgasse todas as ações que
sejam oriundas da relação de trabalho, sendo que anteriormente esta justiça
especializada podia processar e julgar, tão somente, as lides decorrentes da
relação de emprego, ou seja, aquelas decorrentes do contrato de trabalho.
Assim dispõe o artigo 114, incisos I e IX da Constituição Federal:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:  


I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os
entes de direito público externo e da administração pública
direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios;     
[...]
IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho,
na forma da lei. (grifos nosso)

A Lei nº 6.019/74, em seu artigo 19, prevê que: “Competirá à Justiça do


Trabalho dirimir os litígios entre as empresas de serviço temporário e seus
trabalhadores”.

Pois bem evidente que a legislação que rege, hoje, a terceirização trabalhista
é expressa em reconhecer que a competência para processar e julgar os conflitos
existentes nas relações de terceirização é da Justiça do Trabalho, apenas
sedimentando o que já era reconhecido pela nossa jurisprudência. Segundo
Maurício Godinho Delgado (2012, p. 471),
93
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

A situação do trabalho temporário jamais ensejou dúvidas


significativas na jurisprudência: enquadrando-se como
emprego a relação entre o trabalhador temporário e a respectiva
empresa terceirizante, a competência para conhecer e julgar
suas lides situava-se na Justiça do Trabalho. Nesse aspecto,
o texto da Lei n. 6.019/1974, enfatizando tal competência
(art.19), era, em substância, redundante.

Continua Maurício Godinho Delgado (2012, p. 471), que surgiu


“questionamento sobre a natureza empregatícia (ou não) do vínculo entre os
sujeitos do contrato temporário. A par disso, despontava também neste quadro
a relação responsabilizatória com o tomador dos serviços (art. 16, da Lei no
6.019/74)”.

O artigo 16 da Lei no 6.019/74 dispõe que há responsabilidade solidária entre


as empresas quanto ao recolhimento da contribuição previdenciária, evitando-se,
assim, qualquer controvérsia quanto à competência judicial. Vejamos:

Art. 16 - No caso de falência da empresa de trabalho temporário,


a empresa tomadora ou cliente é solidariamente responsável
pelo recolhimento das contribuições previdenciárias, no
tocante ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas
ordens, assim como em referência ao mesmo período, pela
remuneração e indenização previstas nesta Lei. (grifo nosso).

Portanto, não pairam dúvidas que a competência para dirimir as questões


atinentes a terceirização é da Justiça Trabalhista.

Do Litisconsórcio Passivo
Foi reconhecida pela jurisprudência majoritária que a responsabilidade
subsidiária somente será reconhecida se o tomador de serviço fizer parte do
processo judicial trabalhista, constando em seu polo passivo, pois somente assim
restarão garantidos seus direitos constitucionais do contraditório e da ampla
defesa, disposto no artigo 5º, inciso LV, in verbis:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (grifo nosso).

Corroborando o entendimento jurisprudencial, foi editada a Súmula 331,


inciso IV do TST, vejamos:

94
Capítulo 7 Aspectos Processuais

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte


do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que
haja participado da relação processual e conste também
do título executivo judicial. (grifo nosso).

Portanto, a partir de uma análise constitucional e infralegal, para que o


tomador de serviços seja responsabilizado, ele deve estar no polo passivo da
demanda trabalhista.

Do Direito Intertemporal
Neste tópico estudaremos como será realizada a aplicação da lei nova
nos casos concretos cujos processos já estão em curso, aqueles que serão
distribuídos, e aqueles que começaram e acabaram, com sentença transitada em
julgada antes da vigência da Reforma Trabalhista.

Ainda, será abordada a mesma linha de raciocínio para aplicação da lei


material no direito intertemporal, já que há casos concretos iniciados e terminados
antes da vigência da Lei no 13.467/17, aqueles que iniciaram após a entrada
em vigor da referida lei e casos que se iniciaram antes da Lei no 13.467/17 e se
perduram após a vigência.

A Lei no 13.467/17, em seu artigo 6º, dispôs que “esta Lei entra em vigor após
decorridos cento e vinte dias de sua publicação oficial” (grifo nosso), ou seja,
ela não teve eficácia imediata, apresentando, assim, um período de vacatio legis
de 120 (cento e vinte) dias, passando a viger em 11/11/2017, sendo que no direito
processual, iniciou-se em 13/11/2017, já que foi a segunda-feira posterior a data
de início da vigência.

Apenas a título de recordação, vacatio legis é o período que decorre entre


a publicação da lei no Diário Oficial e a data em que esta norma, efetivamente,
passa a ter vigência e ser aplicada para todos os cidadãos brasileiros.

Ainda, a fim de regulamentar a regra de direito intertemporal, temos o §1º, do


artigo 8º, da LC 95/98, in verbis:

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de


modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha
amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na
data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis
que estabeleçam período de vacância far-se-á com a
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação
integral. (grifo nosso).

95
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Toda a legislação deve ser analisada sob três aspectos, quais sejam:
vigência, eficácia e validade.

Portanto, faremos a abordagem separada do direito intertemporal, uma para


o direito material e outra para o direito processual.

a) Do direito material

Para a aplicação das normas de Direito Material, temos que ter em mente
dois artigos, quais sejam, o artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal, o qual
consagra o princípio da segurança jurídica, ao dispor que “a lei não prejudicará
o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, bem como o artigo 6º
da Lei de Introdução as Normas de Direito Brasileiro, abaixo transcrito:

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados


o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada. (grifo nosso) (Redação dada pela Lei nº 3.238, de
1957)
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a
lei vigente ao tempo em que se efetuou.  (Incluído pela Lei nº
3.238, de 1957)
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquêles cujo
comêço do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela Lei
nº 3.238, de 1957)
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial
de que já não caiba recurso.

Portanto a incidência da lei nova é imediata, mas é irretroativa, ou seja,


atos ocorridos antes de 11/11/2017 são regidos pela lei anterior, já os fatos que
acontecerem após 11/11/2017 são regidos pela lei nova.

No entanto, há grande discussão, hoje, quanto à possibilidade de aplicação


imediata da Reforma Trabalhista quando esta for benéfica ao trabalhador,
por exemplo, o parcelamento das férias em 3 (três) períodos, esta poderia ter
aplicação imediata, independentemente da data de inicio do contrato de trabalho
vigente, com fundamento no princípio da condição mais benéficas.

Em contrapartida, há quem defenda que as normas que são maléficas não


podem ser aplicadas de imediato no contrato de trabalho vigente.

A jurisprudência, no entanto, firmou entendimento de que o princípio da


condição mais benéfica é aplicado nos casos de cláusulas pactuadas, ou seja,

96
Capítulo 7 Aspectos Processuais

em caso de Convenção Coletiva de Trabalho ou Acordo Coletivo de Trabalho,


bem como as alterações dos Contratos de Trabalho que tragam prejuízo ao
empregado.

A Súmula 51, do TST, é expressa no sentido de que o empregado fará opção


por um regulamento da empresa, quando coexistir dois regulamentos, vejamos:

Súmula nº 51 do TST
NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO
NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT (incorporada a
Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) - Res. 129/2005,
DJ 20, 22 e 25.04.2005
I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem
vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os
trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do
regulamento. (ex-Súmula nº 51 - RA 41/1973, DJ 14.06.1973)
II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da
empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito
jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (ex-OJ
nº 163 da SBDI-1 - inserida em 26.03.1999) (grifo nosso).

Ainda, neste sentido, temos o artigo 468, da CLT, o qual consagra o princípio
da inalterabilidade contratual lesiva, in verbis:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a


alteração das respectivas condições por mútuo consentimento,
e ainda assim desde que não resultem, direta ou
indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de
nulidade da cláusula infringente desta garantia. (grifo nosso).
 
Portanto, normas jurídicas e cláusulas contratuais, seja cláusula de Acordo
ou Convenção Coletiva de Trabalho ou de Contrato de Trabalho, são tratadas de
forma diversa, não podendo ser aplicado o princípio da aplicação da condição
mais benéfica quando se tratar de lei.

Mas, quando estamos diante da Reforma Trabalhista, que trata de reforma


de um direito social, esta nova legislação, deve ser aplicada com ponderação,
analisando caso a caso, bem como qual o direito violado. A fim de exemplificar,
temos em nosso ordenamento o princípio da irredutibilidade salarial, nesse caso
não pode aplicar aos contratos em curso a redução salarial, mesmo agora sendo
permitido, para os “hipersuficientes” (trabalhadores que tem salário superior a
dois tetos da previdência e curso superior completo) negociar as suas cláusulas
contratuais.

Superadas estas questões, conclui-se que:

97
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

• Para os contratos iniciados e terminados antes da vigência da Reforma


Trabalhista, aplica-se a Lei da época.
• Para os contratos iniciados após a Reforma Trabalhista, aplica-se a lei
nova.
• Para os contratos iniciados antes da Reforma e que se perduram após a
reforma, vai depender do caso concreto.

b) Do direito processual

Neste tópico trataremos da eficácia da norma processual e seus reflexos em


atos processuais anteriores e posteriores à Lei no 13.467/17.

Conforme visto no tópico anterior, o artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição


Federal assegura que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada, o que é corroborado pelo artigo 6º, da LINBD.

Os artigos 14 e 1.046 do Código de Processo Civil, que são aplicáveis


supletivamente e subsidiariamente à Justiça do Trabalho (art. 15, CPC), dispõem
que a norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos
processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações
jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada, conforme transcritos
abaixo, respectivamente:

Art. 14.  A norma processual não retroagirá e será aplicável


imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas
sob a vigência da norma revogada. (grifo nosso).
Art. 1.046.  Ao entrar em vigor este Código, suas disposições
se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando
revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. (grifo nosso)
§ 1o As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973,
relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos
especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações
propostas e não sentenciadas até o início da vigência deste
Código.
§ 2o Permanecem em vigor as disposições especiais dos
procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará
supletivamente este Código.
§ 3o Os processos mencionados no art. 1.218 da Lei nº 5.869,
de 11 de janeiro de 1973, cujo procedimento ainda não tenha
sido incorporado por lei submetem-se ao procedimento comum
previsto neste Código
Art. 15.  Na ausência de normas que regulem processos
eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições
deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
(grifo nosso).
§ 4o As remissões a disposições do Código de Processo Civil
revogado, existentes em outras leis, passam a referir-se às que
lhes são correspondentes neste Código.

98
Capítulo 7 Aspectos Processuais

§ 5o A primeira lista de processos para julgamento em ordem


cronológica observará a antiguidade da distribuição entre os já
conclusos na data da entrada em vigor deste Código.

Conclui-se, portanto, que não há como afastar a vigência e aplicabilidade


da nova regra processual aos processos iniciados antes do dia 11 de novembro
de 2017, pois a sua incidência é imediata, respeitando, contudo, o ato jurídico
perfeito, direito adquirido e coisa julgada.

Assim, nos processos em andamento, os atos processuais já ultrapassados


e os em curso quando da vigência da reforma trabalhista não serão afetos por
esta, mas aqueles que não tenham ocorrido ou iniciado ficarão sujeitos às novas
regras processuais, pois nenhum litigante tem direito adquirido a que o processo
iniciado na vigência da lei antiga continue sendo por ela regulado, em detrimento
da lei nova.

A Instrução Normativa no 41/2018, do TST, a qual “dispõe dobre a aplicação


das normas processuais da Consolidação das Leis do Trabalho alteradas pela
Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017”, em seu artigo 1º, reconheceu a aplicação
imediata das normas processuais aos processos em andamento, vejamos:

Artigo 1º A aplicação das normas processuais previstas na


Consolidação das Leis do Trabalho alteradas pela Lei nº
13.467, de 13 de julho de 2017, com eficácia a partir de 11
de novembro de 2017, é imediata, sem atingir, no entanto,
situações pretéritas iniciadas ou consolidadas sob a égide da
lei revogada.

Logo, evidente que a aplicação imediata da norma processual que foi alterada
pela Lei nº 13.467/2017 é pacífica pelo nosso ordenamento jurídico.

Atividade de Estudos:

1) Qual é a diferença entre relação de emprego e relação de trabalho?


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99
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Algumas Considerações
Os aspectos processuais são importantes para garantir que o tomador de
serviço seja responsabilizado, ainda que de forma subsidiária, pelas verbas
trabalhistas devidas pela empresa prestadora de serviço em razão da não
observância do seu dever fiscalizatório.

Referências
BRASIL. Instrução Normativa n. 41, de 2018. Dispõe dobre a aplicação das
normas processuais da Consolidação das Leis do Trabalho alteradas pela Lei n.
13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/documents
/10157/2374827/RESOLUCAO+221+-+21-06-2018.pdf/4750fdfb-8c09-e017-9890
-96181164c950>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Súmulas da Jurisprudência Uniforme do Tribunal Superior do


Trabalho. Resolução n. 220, de 18 de setembro de 2017. Disponível em: <http://
www.tst.jus.br/sumulas>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis


do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1o de maio de 1943, e
as Leis n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, n. 8.036, de 11 de maio de 1990, e n.
8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações
de trabalho. Promulgada em 13 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm#art2>. Acesso em:
17 jul. 2018.

______. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a


elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina
o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a
consolidação dos atos normativos que menciona. Promulgada em 26 de fevereiro
de 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp95.htm>.
Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada


em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

100
Capítulo 7 Aspectos Processuais

______. Lei n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho


Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Promulgada em
3 de janeiro de 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L6019.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

______. Decreto Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às


normas do Direito Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
LTr. 2012.

101
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

102
C APÍTULO 8
Do Controle da Terceirização

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar o limite da utilização terceirização.

Analisar da legislação vigente a fim de garantir remuneração justa, as respons-



abilidades trabalhistas e a atuação sindical.
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

104
Capítulo 8 Do Controle da Terceirização

Contextualização
O controle da terceirização é realizado através da fiscalização.

Segundo Sérgio Pinto Martins (2017, p. 223), fiscalizar, em sentido amplo


é “inspecionar, sindicar, censurar”. Já seu conceito para o Direito do Trabalho, o
qual deve ser interpretado em seu sentido estrito, é “verificar a observância da
norma legal e orientação em sua aplicação”.

A fiscalização é realizada pelo Fiscal do Trabalho, o qual tem por atribuições,


assegurar em todo o território nacional, nos termos do artigo 11, da Lei no
10.593/2002:

I - o cumprimento de disposições legais e regulamentares,


inclusive as relacionadas à segurança e à medicina do
trabalho, no âmbito das relações de trabalho e de emprego;
(grifo nosso)
II - a verificação dos registros em Carteira de Trabalho e
Previdência Social - CTPS, visando a redução dos índices de
informalidade;
III - a verificação do recolhimento e a constituição e o
lançamento dos créditos referentes ao Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) e à contribuição social de que trata
o art. 1o da Lei Complementar no 110, de 29 de junho de 2001,
objetivando maximizar os índices de arrecadação;  
IV - o cumprimento de acordos, convenções e contratos coletivos
de trabalho celebrados entre empregados e empregadores;
V - o respeito aos acordos, tratados e convenções internacionais
dos quais o Brasil seja signatário;
VI - a lavratura de auto de apreensão e guarda de documentos,
materiais, livros e assemelhados, para verificação da
existência de fraude e irregularidades, bem como o exame da
contabilidade das empresas, não se lhes aplicando o disposto
nos arts. 17 e 18 do Código Comercial.
VII - a verificação do recolhimento e a constituição e o
lançamento dos créditos decorrentes da cota-parte da
contribuição sindical urbana e rural.

Verifica-se que, normalmente, o Fiscal do Trabalho tem por objetivo fazer a


fiscalização do meio ambiente de trabalho, orientando as empresas para que estas
cumpram a legislação vigente e, em sendo o caso, aplicar multa aos infratores.

Também fiscalizam as empresas terceirizantes, já que, conforme inciso I, do


artigo 22, da Lei no 10.593/2002, a fiscalização é da relação de emprego, e não
apenas da relação de trabalho.

A Lei nº 6.019/74, com a Reforma Trabalhista, dispõe que o descumprimento


do disposto nesta lei sujeita a empresa infratora ao pagamento de multa, sendo

105
A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

que a fiscalização, a autuação e o processo de imposição das multas reger-se-ão


pelo Título VII da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O disposto na Lei nº 6.019/74 não se aplica às empresas de vigilância


e transporte de valores, permanecendo as respectivas relações de trabalho
reguladas por legislação especial, e subsidiariamente pela Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), conforme artigo 19-B da lei em comento.

Ainda permite o artigo19-C, da Lei nº 6.019/74, que os contratos em vigência,


se as partes assim acordarem, poderão ser adequados aos termos desta lei.

Dos Direitos do Trabalhador


Terceirizado
A Lei no 6.019/74, regulamentadora da terceirização trabalhista, após a edição
da Reforma Trabalhista, não exige isonomia de tratamento entre os trabalhadores
terceirizados e os temporários, ou mesmo em relação aos que possuem vínculo
direto com o tomador de serviços, salvo a remuneração do trabalhador temporário.

Conforme já estudado anteriormente, o trabalhador será contratado,


remunerado e fiscalizado pela empresa prestadora de serviços, nos termos do
§1º, do artigo 4º-A, da Lei nº 6.019/74, in verbis:

§ 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera


e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou
subcontrata outras empresas para realização desses serviços.
(grifo nosso).

Portanto, em que pese o princípio da isonomia salarial, da igualdade, da


dignidade da pessoa humana, da não discriminação remuneratória, a interpretação
literal do artigo de lei acima transcrito deixa claro que não é dever da tomadora
de serviço garantir ao trabalhador terceirizado os mesmos benefícios que são
oferecidos para seus funcionários e para os temporários.

Em consequência, a categoria sindical à qual pertencerá o trabalhador


terceirizado será determinada a partir da atividade preponderante desenvolvida
pela empresa prestadora de serviços, já que é empregado dela e não da tomadora
de serviços. Neste sentido, observa-se o disposto no artigo 581, §§ 1 º e 2º, da
CLT, vejamos:

106
Capítulo 8 Do Controle da Terceirização

Artigo 581
[...]
§ 1º Quando a empresa realizar diversas atividades econômicas,
sem que nenhuma delas seja preponderante, cada uma
dessas atividades será incorporada à respectiva categoria
econômica, sendo a contribuição sindical devida à entidade
sindical representativa da mesma categoria, procedendo-se,
em relação às correspondentes sucursais, agências ou filiais,
na forma do presente artigo. 
§ 2º Entende-se por atividade preponderante a que
caracterizar a unidade de produto, operação ou objetivo final,
para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam,
exclusivamente em regime de conexão funcional. (grifo nosso).

Logo, conforme bem salientado por Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2018,
p. 417), “o empregado da empresa prestadora de serviço não integra a categoria
profissional da empresa contratante (tomadora), mas sim a categoria dos
empregados de empresas de prestação de serviço”.

Com isso, é possível gerar tratamento desigual, não isonômico, entre os


trabalhadores terceirizados e os contratados diretamente pela tomadora, ainda
que laborarem no mesmo setor e contexto.

Este cenário, após Reforma Trabalhista, pode gerar a precarização da mão


de obra, das relações de trabalho, com redução do nível salarial dos obreiros
terceirizados, devendo ser aplicada a nova legislação com cautela e ponderação.

Atividade de Estudos:

1) Pode haver reconhecimento da isonomia salarial entre o


trabalhador terceirizado e o funcionário diretamente contratado
pela tomadora de serviços? Justifique.
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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E A RESPONSABILIDADE POR VERBAS
TRABALHISTAS

Algumas Considerações
Todas as empresas são fiscalizadas pelos fiscais do trabalho, sendo certo
que tanto o tomador de serviços como a empresa fornecedora de mão de obra
são responsáveis pelo trabalhador, cada qual no limite da sua responsabilidade,
mas são.

A tomadora é responsável, principalmente, pelo meio ambiente de trabalho,


mas não pode em razão disso cometer atos discriminatórios em relação ao
trabalhador terceirizado, por exemplo, não permitir que ele utilize seu refeitório.

Portanto, a terceirização após a Reforma Trabalhista deve ser aplicada


com ponderação, a fim de que as empresas não sofram futuras reclamações
trabalhistas aumentando seu passivo e, às vezes, tendo que encerrar suas
atividades.

Referências
BRASIL. Lei n. 10.593, de 6 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a reestruturação
da Carreira Auditoria do Tesouro Nacional, que passa a denominar-se Carreira
Auditoria da Receita Federal - ARF, e sobre a organização da Carreira Auditoria-
Fiscal da Previdência Social e da Carreira Auditoria-Fiscal do Trabalho, e dá outras
providências. Promulgada em 6 de dezembro de 2002. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10593.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

BRASIL. Lei n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho


Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Promulgada em
3 de janeiro de 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L6019.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação


das Leis do Trabalho. Aprovada em 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 12. ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

MARTINS, Sergio Pinto. Terceirização no direito do trabalho. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

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