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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Segunda Câmara Cível

ACÓRDÃO
Classe : Apelação nº 0148815-19.2003.8.05.0001
Foro de Origem : Comarca de Salvador
Órgão : Segunda Câmara Cível
Relatora : Juíza de Direito Substituta de 2º Grau Juíza Maria do Rosario Passos
da Silva Calixto
Apelante : Muncípio do Salvador
Proc. Munícipio : Eugênio Leite Sombra
Apelado : Itaoca Emp Imobiliario Ltda
Assunto : Prescrição

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU E


TAXA DE LIXO AJUIZAMENTO EM 05/11/2003, ANTES
DA LEI COMPLEMENTAR 118/2005. AUSÊNCIA DE
CITAÇÃO VÁLIDA APTA A INTERROMPER O CURSO DO
LAPSO PRESCRICIONAL. INAPLICABILIDADE DO
ENUNCIADO DA SÚMULA 106 DO STJ. INEXISTÊNCIA
DE FALHA EXCLUSIVA DOS MECANISMOS DA JUSTIÇA.
CONDUTA DO FISCO QUE CONCORREU PARA A
PARALIZAÇÃO DO FEITO. PRESCRIÇÃO PLENA E
DIRETA. POSSIBILIDADE DO MAGISTRADO DECRETAR
DE OFÍCIO. EXEGESE DO RESP Nº 999.901/RS, PELO
STJ. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA
MANTIDA.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0148815-19.2003.8.05.0001, originários da Comarca de Salvador/BA, em que é
Apelante o MUNICÍPIO DE SALVADOR e Apelado ITAOCA EMP IMOBILIARIO LTDA,
ACORDAM os Desembargadores componentes da Segunda Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado da Bahia em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, e o fazem nos
termos do Voto Condutor da Relatora.

Sala das Sessões, Salvador, , 2020.

PRESIDENTE

MARIA DO ROSÁRIO PASSOS DA SILVA CALIXTO


JUÍZA DE DIREITO SUBSTITUTA DE 2º GRAU – RELATORA

PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA

JM
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Segunda Câmara Cível

RELATÓRIO
Classe : Apelação nº 0148815-19.2003.8.05.0001
Foro de Origem : Comarca de Salvador
Órgão : Segunda Câmara Cível
Relatora : Juíza de Direito Substituta de 2º Grau Juíza Maria do Rosario Passos
da Silva Calixto
Apelante : Municipio do Salvador
Proc. Munícipio : Eugênio Leite Sombra
Apelado : Itaoca Emp Imobiliario Ltda
Assunto : Prescrição

Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Município de Salvador, contra


sentença (fls. 35/39), proferida pelo MM. Juízo de Direito da 9ª ª Vara da Fazenda
Pública da Comarca de Salvador, que extinguiu a lide, com resolução de mérito,
declarando a prescrição direta dos créditos tributários, nos termos dos arts. 487, II, 924 e
925, ambos do CPC/2015.

Em suas razões (fls. 42/45), a municipalidade Apelante sustenta em síntese,


que a prescrição, para ser decretada, deve levar em conta não só decurso do tempo, mas
também a inércia do credor acionante.

Defende ainda, a aplicação da súmula 106 do STJ, aduzindo a impossibilidade


do reconhecimento da prescrição, visto que não pode a Fazenda Pública ser prejudicada
pela demora do Judiciário.

Requer o provimento do recurso, com a reforma da Sentença, e o


prosseguimento da Execução Fiscal.

Diante da ausência ineficácia da citação da Executada no endereço declinado


no mandado citatório, de acordo com a certidão de fl. 21v, o feito não foi angularizado,
ficando prejudicado o oferecimento das contrarrazões ao recurso.

Em decisão monocrática (fls. 50), foi determinado o sobrestamento do


presente feito até o julgamento definitivo, pela Egrégia Corte Cidadã, dos referidos
Recursos Especiais representativos de controvérsia, afetados aos temas n.º 566 a 571, e
980, devendo o mesmo permanecer na Secretaria da Segunda Câmara Cível até superior
determinação.

De início, o feito foi distribuído para a Relatoria do Desembargador Gesivaldo


Britto, ocorre que o referido Magistrado foi afastado de suas funções, pelo que fui
convocada para o substituir, conforme Decreto Judiciário nº 15, de 08 de janeiro de 2020,
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publicado no DJe nº 2.536, disponibilizado no dia 09 de janeiro de 2020.

É o que importa relatar. Solicito à Secretária da Segunda Câmara Cível que


inclua o presente feito em pauta de julgamento.

Salvador – BA, de 2020.

Maria do Rosário Passos da Silva Calixto


Juíza de Direito Substituta de 2º Grau - Relatora

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VOTO
Classe : Apelação nº 0148815-19.2003.8.05.0001
Foro de Origem : Comarca de Salvador
Órgão : Segunda Câmara Cível
Relatora : Juíza de Direito Substituta de 2º Grau Juíza Maria do Rosario Passos
da Silva Calixto
Apelante : Municipio do Salvador
Proc. Munícipio : Eugênio Leite Sombra
Apelado : Itaoca Emp Imobiliario Ltda
Assunto : Prescrição

Ab initio, verifica-se que ao caso dos autos não se trata de prescrição


intercorrente, não lhe sendo aplicável portanto, a regra de que trata o art. 40 da LEF.

Isto porque, in casu, o ente Municipal ajuizou a Execução Fiscal na origem


em 05/11/2003, para cobranças de créditos de IPTU relativos aos exercícios de 1999
e 2000, no valor total de R$ 1.657,76 (um mil, seiscentos e cinquenta e sete reais e
setenta e seis centavos). Isto é, tratando-se de demanda ajuizada antes da Lei
Complementar nº. 118/2005, considera-se interrompido o prazo prescricional apenas
com a efetiva citação do devedor, e não com o mero despacho que a ordena, ex vi do
art. 174, parágrafo único, I, do CTN, em sua redação original:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário


prescreve em cinco anos, contados da data da sua
constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pela citação pessoal feita ao devedor; (redação anterior à
LC nº. 118/2005).

Assim, não tendo havido a citação válida do Executado no caso em exame,


não se faz presente qualquer causa interruptiva na contagem do prazo prescricional,
tratando-se portanto, de prescrição direta.

No caso presente, observa-se que após o despacho citatório proferido pelo


Juízo a quo em 08/11/2005 à fl. 20, restou impossibilitada a citação do Executado em
razão da sua não localização no endereço constante na inicial, conforme certificado pelo
Oficial de Justiça em 27/03/2006, à fl. 21/verso.

Ato contínuo, tem-se que, apesar da Fazenda Pública ter tomado ciência da
não localização do devedor em 19/04/2006, conforme consta à fl. 22, somente
diligenciou o feito em 19/05/2011, informando novo endereço e requerendo nova

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citação pessoal do Réu.

Desse modo, não há que se falar em culpa exclusiva aos mecanismos do


judiciário, uma vez que o Município Apelante se manteve inerte no feito por mais de 05
(cinco) anos, afastando, portanto, a aplicação da súmula 106 do Superior Tribunal de
Justiça ao caso.

Ademais, intimado para se manifestar, o Apelante informa à fl. 35, a


inexistência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva do prescricional, declaração
esta que corrobora o entendimento aqui adotado.

Neste sentido, importante atentar para a jurisprudência desta Corte de


Justiça:

DIREITO TRIBUTÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL.


AJUIZAMENTO ANTES DA LC Nº 118/2005. AUSÊNCIA DE
INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL
QUINQUENAL. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
CITAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. SENTENÇA DE
PRESCRIÇÃO. POSSIBILIDADE RECONHECIMENTO DE
OFÍCIO. INTIMAÇÃO PRÉVIA DA FAZENDA. VÍCIO
SUPERÁVEL. INEXISTÊNCIA DA DEMONSTRAÇÃO DA CAUSAS
SUSPENSIVAS E/OU INTERRUPTIVAS DO LUSTRO
PRESCRICIONAL. AFASTAMENTO DA SUMULA Nº 106 DO STJ.
INÉRCIA DO EXEQUENTE. PRECEDENTES DESTA CORTE.
DECLARAÇÃO DE PRESCRIÇÃO MANTIDA. (TJ/BA: Apelação
nº 00003103920038050146, Relatora: REGINA HELENA
RAMOS REIS, SEGUNDA CAMARA CÍVEL, Data de Publicação:
11/03/2020).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL. ISS.


PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. AÇÃO AJUIZADA ANTES DA
LEI COMPLEMENTAR 118/2005. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO
VÁLIDA APTA A INTERROMPER O CURSO DO LAPSO
PRESCRICIONAL. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 106
DO STJ. INEXISTÊNCIA DE FALHA EXCLUSIVA DOS
MECANISMOS DA JUSTIÇA. CONDUTA DO FISCO QUE
CONCORREU PARA A PARALIZAÇÃO DO FEITO.
POSSIBILIDADE DO MAGISTRADO DECRETAR DE
OFÍCIO A PRESCRIÇÃO. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJ/BA: Apelação nº
0001463-23.2004.8.05.0001, Relator: Antônio Carlos da
Silveira Símaro, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação:
17/04/2018).

Por fim, com base no art. 332,§1º do CPC/15, esclarece-se, por oportuno, que
não há nulidade por ausência de prévia intimação do Município para informar acerca de

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causa suspensiva ou interruptiva da prescrição, haja vista que tal providência somente se
justifica no caso de prescrição intercorrente, que não se configura como a hipótese dos
autos.

Tal compreensão é perfilhada pelo STJ, no bojo do qual restou consignado que
nos processos, a Lei Complementar nº 118/2005 "é aplicada imediatamente aos
processos em curso, o que tem como consectário lógico que a data da propositura da
ação pode ser anterior à sua vigência. Todavia, a data do despacho que ordenar a citação
deve ser posterior à sua entrada em vigor, sob pena de retroação da novel legislação.
(STJ: Resp nº 999.901/RS 2007/0251650-1, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de
Julgamento: 13/05/2009, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 10/06/2009).

Nesse sentido, trago à baila a jurisprudência deste Tribunal de Justiça em caso


análogo:

APELAÇÃO. EXECUÇÃO FISCAL. RECONHECIMENTO DA


PRESCRIÇÃO DIRETA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INTIMAÇÃO
PRÉVIA DA FAZENDA PÚBLICA. DESNECESSIDADE.
APLICAÇÃO DO PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. PRESCRIÇÃO
CARACTERIZADA IN CASU. RECURSO IMPROVIDO. 1. Sendo a
hipótese de feito ajuizado anteriormente à Lei Complementar
nº. 118/2005, que modificou o art. 174, parágrafo único,
inciso I do CTN para determinar que o mero despacho do juiz
interrompe a prescrição, havia a necessidade de que o
executado fosse devidamente citado no prazo de 05 (cinco)
anos contados da constituição do crédito tributário para que a
prescrição fosse interrompida. 2. No caso dos autos, a
execução fiscal foi proposta em 28/08/2001 sem que a
citação tenha se efetivado até a prolação da sentença,
registrando-se, assim, a prescrição direta do crédito
tributário. 3. Demonstrada a desídia da Fazenda Pública na
persecução do crédito, está correta a sentença que decretou
a sua prescrição, não sendo caso de aplicação do enunciado
da Súmula nº. 106 do STJ. 4. Contraria a lógica processual e
os princípios da economia, da celeridade e da duração
razoável do processo (art. 1º do CPC c/c art. 5º, inciso
LXXVIII da Constituição Federal) anular a sentença que não
aplicou uma regra meramente procedimental (qual seja, a
intimação da Fazenda Pública como condição para o
reconhecimento da prescrição) quando a sua inobservância
pode ser suprida no ato da interposição do recurso, momento
em que poderia ser informado ao Poder Judiciário a
ocorrência, ou não, de causas suspensivas/interruptivas do
fluxo do prazo prescricional. 5. Impera, no caso, a máxima do
pas de nullité sans grief e a aplicação do princípio da
instrumentalidade das formas, incorporado no artigo 277 do
CPC, devendo-se preservar o ato processual já praticado
(incluindose, aí, a decisão judicial) quando o vício que o
acomete for vencível e puder ser sanado de alguma maneira
que não implique em prejuízo às partes. 6. Ademais, apesar
de existir notícia de parcelamento nos autos, há de se
pontuar que a prescrição já tinha ocorrido desde o primeiro
pedido. 7. Recurso improvido. (TJ/BA: Apelação nº:

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0076298-84.2001.8.05.0001, Relator(a): Maurício Kertzman


Szporer, Segunda Câmara Cível, Publicado em: 17/04/2018).

Ante o exposto, VOTO NO SENTIDO DE NEGAR PROVIMENTO AO


RECURSO, mantendo-se inalterada a sentença, pelos fatos e fundamentos acima
delineados.

Sala das Sessões, , 2020.

Maria do Rosário Passos da Silva Calixto


Juíza de Direito Substituta de 2º Grau – Relatora

JM

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