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Muitas vezes chamado conceitualmente de organismo em função da relação histórica com a
Biologia e o modelo evolucionista.
suporte emocional por parte de sua comunidade verbal solicita validação para o
terapeuta através da pergunta: “faz sentido o que estou sentindo?” (resposta
comportamental); o terapeuta pode influenciar a frequência futura deste tipo de pergunta
fornecendo suporte emocional através de validação (consequência). Por exemplo, o
terapeuta pode responder: “sim, faz todo sentido que você se sinta assim”. O pedido de
suporte emocional só é viável quando há um contexto específico que possibilita sua
ocorrência e quando há uma consequência que influencia sua ocorrência no futuro;
assim, não existe comportamento sem contexto (figura 1).
Modelagem
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Técnicas de terapias de outras orientações teóricas podem ser usadas com função evocativa,
como por exemplo a técnica da Cadeira Vazia da Gestalt-terapia. No entanto, elas devem ser adaptadas ao
modelo analítico-comportamental
modelagem através de reforçamento social3 (Kanter et al., 2017). Para isso, é muito
importante que o terapeuta esteja atento às pequenas mudanças do comportamento do
cliente enquanto elas ocorrem no tratamento (Tsai et al., 2012).
O terapeuta FAP deve ter em mente que ele tem função de estímulo para o
cliente. Ao promover uma relação terapêutica real através de uma audiência não-
punitiva, o terapeuta estará propiciando um contexto em que o cliente reagirá
naturalmente, como reage fora de sessão com outras pessoas, abrindo espaço para que
CCRs possam ocorrer durante a sessão. Ressalta-se que comportamentos, características
físicas, gênero, dentre outros aspectos do terapeuta podem evocar ou inibir CCRs, de
forma que este deve estar atento ao seu efeito no cliente, não pressupondo que uma
intervenção é reforçadora a priori (Ramnerö & Törneke, 2008). A análise funcional de
uma intervenção ocorre a posteriori, de forma que só é possível saber que uma fala do
terapeuta reforçou o cliente após o cliente responder a isso.
Por fim, uma postura não-julgadora por parte do terapeuta serve como contexto
de exposição respondente, na qual a execução repetida de uma ação associada a
emoções dolorosas faz com que a reatividade emocional seja reduzida com o passar do
tempo, por exposição. Esse fenômeno é outra faceta da psicoterapia apontada por
Skinner (1953), juntamente ao desenvolvimento de repertório. No entanto, a
dessensibilização respondente pode apresentar curso mais lento que a construção de
repertórios de operantes, o que pode produzir uma resposta verbal do cliente como
“mesmo me comportando diferente, eu me sinto da mesma forma”. Processos de
aceitação da ACT podem ser utilizados neste contexto com o objetivo de lidar com estes
outros processos intrapessoais.
Os CCRs do terapeuta
A FAP, por ser uma terapia analítico-comportamental, tem como uma de suas
ênfases um olhar diferenciado para o contexto em que um comportamento ocorre. No
caso da psicoterapia, o contexto do cliente é o próprio terapeuta, outro indivíduo com
uma história própria de aprendizagem na qual pode ter ocorrido o contato com algum
nível de coerção. Desta forma, os comportamentos do terapeuta e do cliente estão sob
controle da história de vida de cada um, o que pode interferir em como as relações serão
estabelecidas no tratamento. Em outras palavras, o terapeuta também pode apresentar
dificuldades interpessoais, as quais podem aparecer no curso da terapia (Kohlenberg &
Tsai, 1991). Essas dificuldades que interferem nas metas da terapia, tal qual os CCR1s
do cliente, são chamados de T1s. Por outro lado, os comportamentos do terapeuta que
promovem aproximações dos CCR2s dos clientes são chamados de T2. É esperado que
no curso da terapia ambos venham a acontecer. Fatores situacionais e déficits de
repertórios do terapeuta podem ser algumas condições relacionadas com T1s, assim
como características do cliente e seus CCR1s.
As regras da FAP
Kohlenberg & Tsai (1991) propõem cinco regras para orientar o trabalho
terapêutico em FAP. Isso não significa que o terapeuta deva seguir uma pauta de
intervenção rígida ou diretiva e nem, tampouco, uma sequência pré-estabelecida de
passos de um protocolo. A função primária das regras é a de guiar ou influenciar o
comportamento do terapeuta durante o processo terapêutico, fornecendo apoio à sua
prática e permitindo a adesão ao modelo de tratamento da FAP. Para a FAP, as cinco
regras são sugestões de alguns possíveis caminhos a seguir que podem facilitar o
desenvolvimento de repertórios do cliente, e não ordens tácitas do que fazer. As regras
não são “técnicas”, no sentido estrito da palavra, pois não indicam topografias
específicas de comportamento, mas sim funções do comportamento do terapeuta (Tsai
et al., 2012). Desta forma, as cinco regras podem ser consideradas um T2 por serem
intervenções realizadas pelo terapeuta voltadas à melhora do cliente.
Uma relação aberta e franca entre terapeuta e cliente evoca o CCR1 e facilita o
desenvolvimento do CCR2. É por imergir em um relacionamento autêntico que o cliente
aprende. Para fornecer um contexto evocador de CCR1, o terapeuta espontaneamente se
apresenta com alguém que ama, luta e que está totalmente envolvido com seu paciente.
De modo geral, terapia tem como pano de fundo a construção de relacionamentos
afetivos. A expressão de comportamentos arriscados e dos medos e a redução de
bloqueios com o terapeuta é a base para que o cliente possa transpor estes ganhos com
outras pessoas (generalização).
O terapeuta pode ser ele mesmo, a fonte de CCR2. Para isso, com todo o
cuidado, pode fazer uso de autorrevelação, falando sobre suas experiências de vida
dentro e fora da sessão, suas reações emocionais autênticas, ou das suas próprias
vulnerabilidades. Ser verdadeiro e autêntico é uma condição fundamental, pois a perda
da credibilidade do terapeuta pode ser um problema, quando o terapeuta se utiliza do
reforço arbitrário apenas para criar condições evocadoras de CCRs. É importante, no
entanto, deixar claro que a autorrevelação do terapeuta deve ter a função de promover
mudança no cliente. Outrossim, é importante que o terapeuta possa observar em si
possíveis barreiras suas para evocar CCR2s. Ele deve estar atento aos temas que evita
abordar com seus clientes e como isso o trabalho que faz com esses clientes, assim
como com o que tende a evitar lidar em sua vida (e.g., tarefas, pessoas, memórias,
necessidades, sentimentos, anseios, pesar, raiva, tristeza, medos, ser específico). Esta
esquiva pode configurar um T1, dependendo da formulação de caso e das necessidades
de algum dado cliente. Um terapeuta que evita falar de sexualidade pode inibir CCR2s
em um cliente que tenha dificuldades em sua vida sexual, por exemplo.
Ao falar sobre reforço o terapeuta deve estar atento à frequência com a qual o
cliente realiza determinado CCR (ou ações dentro da classe funcional do CCR). Uma
consequência só pode ser considerada reforçadora se aumenta a frequência do
comportamento (a posteriori), portanto mesmo que o terapeuta acredite estar sendo
reforçador (a priori) com alguma intervenção, se a frequência de um comportamento
não se altera ou é suprimida não houve reforço. Uma consequência natural do
comportamento do cliente (e.g., se o cliente faz um pedido e o terapeuta o atende) tem
mais poder de ser reforçadora, enquanto consequências arbitrárias (e.g., apenas
parabenizar quando o cliente faz algo):
A regra 4 também pode ajudar ao cliente a ficar mais consciente de seu próprio
processo terapêutico, gerando autoconhecimento (regra 1), assim como pode promover
um espaço para o cliente falar sobre questões difíceis (regra 2). Pode também fazer com
que o cliente consiga fazer tato com as intervenções do terapeuta, ficando assim mais
sensível às sutilezas do reforço natural do terapeuta (regra 3). Como visto neste
parágrafo, a regra 4 indica constante retorno às regras anteriores. Enquanto as regras
anteriores promovem a modelagem de um novo repertório, a regra 4 promove ao
terapeuta uma linha de base 4 das frequências dos comportamentos do cliente. Desta
forma, é importante que o terapeuta esteja atento aos seus efeitos não apenas no
momento presente de suas intervenções, mas também longitudinalmente, verificando se
a modelagem de fato está ocorrendo (i.e., se com o passar do tempo e intervenções os
CCR2s estão aumentando e os CCR1s diminuindo) (Kohlenberg & Tsai, 1991).
Tabela 1
Questões para reflexão acerca das 5 regras, baseadas em Holman et al. (2017, p. 85–92)
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Em inglês pode-se utilizar o termo “a good goodbye” nos finais de terapia e workshops, no
qual os envolvidos se despedem de forma carinhosa e discutem os processos que lhes foram mais
significativos
Regra 2. evocar CCRs
Que contextos da terapia ou comportamentos do terapeuta evocam CCRs do cliente?
Que coisas o terapeuta evita fazer quando um CCR do cliente é aversivo para ele?
Que tópicos o terapeuta evita em relação à relação terapêutica? Que efeito tem na terapia?
Como a história do terapeuta afeta a evocação de CCRs?
Regra 3. reforçar CCR2s
O terapeuta nota os CCR2s do cliente? O terapeuta se sente envolvido no processo de mudança do cliente?
O cliente consegue notar as reações do terapeuta diante de suas melhorias, vulnerabilidades e crescimento?
O terapeuta responde ao cliente de maneira sincera e genuína?
O terapeuta esconde ou oculta as respostas emocionais autênticas utilizando-se de informações, psicoeducação ou
dados da formulação de caso?
O que o terapeuta valoriza e estima no cliente? Como o cliente o afeta? O cliente sabe destas coisas?
Regra 4. notar seu efeito
O cliente está mudando dentro da relação terapêutica com o tempo? O terapeuta nota mais CCR2s e menos CCR1s?
Terapeuta e cliente estão repetindo sempre os mesmos ciclos e padrões?
O terapeuta e cliente conversam sobre o andamento e a evolução no relacionamento terapêutico?
O terapeuta está atento e trabalhando problemas ou limitações que possamr impedir o progresso do cliente?
Regra 5. promover generalização
O cliente concorda com a conceitualização dos CCRs e com a relação funcional entre seus comportamentos em
sessão e suas ações na vida cotidiana?
Na existência de discordância, terapeuta e cliente discutiram sobre isto?
O terapeuta discutiu as maneiras pelas quais o cliente está levando suas experiências em sessão para sua vida
cotidiana?
Como está sendo a generalização dos CCR2s? O que poderia ser feito para otimizar o processo?
Sensibilidade cultural
Conclusão
Referências