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Revista Brasileira de

ISSN 1517-5545 Terapia Comportamental


2003, Vol. V, nº 2, 167-184 e Cognitiva

Uma explicação analítico - comportamental da depressão e o relato de um


caso utilizando procedimentos baseados na aceitação1.
A behavior - analytic account of depression and a case report using
acceptance-based procedures.

Michael J. Dougher
Lucianne Hackbert
Universidade do NovoMéxico

Resumo

Embora cerca de 6% da população seja afetado pela depressão em algum momento da vida, o
transtorno tem sido relativamente negligenciado por analistas do comportamento. As pesquisas
sobre a etiologia e o tratamento da depressão têm sido conduzidas preponderantemente por
teóricos cognitivo-comportamentais, psiquiatras de abordagem biológica e psicofarmacologistas
interessados no substrato biológico da depressão. Essas abordagens, certamente, têm sido úteis,
mas sua confiança em processos cognitivos e biológicos e sua pouca atenção a relações ambiente-
comportamento as tornam insatisfatórias sob uma perspectiva analítico-comportamental. O
objetivo deste artigo é fornecer uma explicação analítico-comportamental da depressão e derivar,
dessa explicação, diversos tratamentos possíveis para a depressão. Além disso, um relato de caso é
apresentado para ilustrar um tratamento baseado na aceitação com uma cliente depressiva.

Abstract

Although roughly 6% of the general population is affected by depression at some time during their
lifetime, the disorder has been relatively neglected by behavior analysts. The preponderance of
research on the etiology and treatment of depression has been conducted by cognitive behavior
theorists, biological psychiatrists and psychopharmacologists interested in the biological
substrates of depression. These approaches have certainly been useful, but their reliance on
cognitive and biological processes and their lack of attention to environment-behavior relations
render them unsatisfactory from a behavior-analytic perspective. The purpose of this paper is to
provide a behavior-analytic account of depression and to derive, from this account, several
possible treatment interventions. In addition, case material is presented to illustrate an acceptance-
based approach with a depressed client.

1
De: Dougher, M. J e Hackbert, L. (1994). A behavior analytic account of depression and a case report using acceptance-based
procedures. The Behavior Analyst, 17, 2, 321-334.
Tradução de Ariane Serpeloni, Daniele Pedrosa Fioravante, Danieli de Cássia Barreto, Talita Soares Lopes e Verônica Bender Haydu.
Revisão de Regina Christina Wielenska. Direitos autorais de 1994, de Association for Behavior Analysis. Reproduzido com permissão.
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Apesar de aproximadamente 6% da sobre teoria e tratamento da depressão foi


população, em geral ser afetada pela conduzida por terapeutas cognitivo-
depressão em algum momento da sua vida, comportamentais ( por ex.: Beck, Rush, Shaw
esse transtorno foi relativamente negligen- & Emory, 1979 ; Dobson , 1989; A. Ellis, 1987;
ciado por analistas do comportamento. A Zuroff, 1992) e psiquiatras e psicofar-
maior parte das pesquisas sobre a etiologia e macologista s interessados nos substratos
tratamento de depressão tem sido conduzido biológicos da depressão ( por ex.: Krishman,
por teóricos cognitivo-comportamentais, 1992) e os efeitos das variadas formas de
psiquiatras, e psicofarmacologistas terapia farmacológica (por ex.: Evans et al,,
interessados nos substratos biológicos da 1992) Embora haja alguns dados
depressão. Estas abordagens foram contraditórios, as conclusões geralmente
certamente úteis, mas sua ênfase em processos aceitas são as de que a combinação de uma
cognitivos e biológicos, e sua falta de atenção terapia cognitiva e medicação com
às relações ambientecomportamento antidepressivos parece ser melhor do que as
tornaram-nas insatisfatórias sob uma mesmas, que são comparáveis e melhores do
perspectiva analítico-comportamental. O que o placebo ou do que controles com
objetivo deste artigo é apresentar uma análise tratamento mínimo (Elkin, 1994).
comportamental da depressão e derivar, Apesar de os dados apontarem para
dessa análise, diversas intervenções tratamentos efetivos para a depressão, sob
terapêuticas possíveis. Além disso, relatos de uma visão analítico-comportamental a
caso são apresentados para ilustrar uma bibliografia relevante não fornece uma
abordagem baseada na aceitação com um explicação adequada sobre a etiologia da
cliente depressivo. depressão ou de seu tratamento. Explicações
Algumas vezes chamada de “a gripe da cognitivas - da depressão baseiam-se em
doença mental”, a depressão é um dos estruturas cognitivas ( por ex.: esquemas ,
transtornos mais prevalecentes entre os expectativas, crenças e pressupostos como
indivíduos que procuram os serviços de saúde variáveis causais, e o principal componente
mental. Um estudo de Regier e col. (1988) das intervenções cognitivo-comportamentais
revelou que aproximadamente 2,2% dos é a modificação das estruturas cognitivas
homens, nos Estados Unidos, foram defeituosas. O problema com essas
acometidos dos sintomas da depressão em explicações não é tanto sua ênfase na
algum momento. Um pouco mais de 6% da cognição; isto pode ser facilmente compre-
População apresentou depressão clínica endido como exemplo de comportamento
durante sua vida. (Robins e col.,1984). Além verbal. Mas, o problema é que os determi-
disso, há evidências de que a incidência da nantes destas cognições e suas relações com
depressão está aumentando mundialmente outros comportamentos não são adequada-
(Goleman, 1992). Dada esta prevalência, está mente tratados. O objetivo deste artigo, como
claro por que a etiologia e o tratamento da se afirmou acima, é oferecer uma análise
depressão vêm sendo o foco de uma analítico-comportamental da depressão e
quantidade muito grande de pesquisas e derivar desta explicação diversas inter-
discussões. No entanto, ela foi relativamente venções de terapêuticas possíveis. Além
negligenciada por analistas do comporta- disso, um relato de caso a ser incluído tem a
mento. Uma exceção notável é o trabalho finalidade de ilustrar uma abordagem
recente de Ferster(1973), mas este trabalho foi baseada na aceitação (Hayes 1987; Hayes &
consideravelmente modesto, tanto em Wilson, 1993) com um cliente depressivo.
extensão quanto em detalhes. Mais Para ser útil, uma explicação analítico-
recentemente, a maior parte das pesquisas comportamental da depressão deve ser capaz

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de explicar seus principais sintomas em envolvimento de processos verbais ou


termos de princípios comportamentais problemas no controle de estímulos. A
estabelecidos empiricamente. A quarta edição explicação tomada aqui será usada para
do Diagnostic and Statiscal Manual ( DSM IV, discutir os vários sintomas da depressão em
American Psychiatric Association, 1994) lista relação com os princípios e conceitos
os principais sintomas da depressão e o comportamentais. Os princípios específicos
número e duração dos sintomas que devem enfatizados incluem funções de conse-
estar presentes para garantir o diagnóstico qüências, funções respondentes, funções
específico, incluídos sob o título geral de estabelecedoras e processos verbais. Deve ser
Transtornos Depressivos. Estes incluem mencionado que a explicação possibilita
feições deprimidas ou tristes, redução do apenas uma discussão geral sobre a
interesse ou prazer em realizar atividades depressão. Qualquer tentativa de explicação
(anedonia), alterações de apetite (tanto ganho do comportamento depressivo de um
como perda de peso), alterações de sono (tanto indivíduo em particular, obviamente, requer
insônia como excesso de sono), redução geral uma análise funcional do comportamento
do nível de atividade (retardo psicomotor), desse indivíduo em relação com os contextos
agitação ou ansiedade, fadiga ou perda de específicos nos quais ele ocorre.
energia, sentimentos de inferioridade e/ou
culpa contínua acompanhados por autocrítica Uma explicação analítico-comportamental
recordação seletiva ou atenção para eventos da depressão
negativos, distorção cognitiva, e ideação
suicida. Embora não mencionados Funções Consequenciais
especificamente no DSM, há outros sintomas Baixa Densidade de reforço. Como Ferster (1973)
da depressão comumente observados: apontou, a característica mais óbvia de
ruminação, expressões de desamparo, pessoas com depressão é a redução ou perda
desesperança insatisfação crônica, raiva, de certos tipos de atividade junto com uma
abuso de substâncias, problemas de incidência relativamente alta reclamações,
relacionamento social e pessoal, e dificul- choro e irritabilidade. Ele atribuiu a taxa baixa
dades no trabalho. de comportamento a uma relativa escassez de
É comum na bibliografia, a categorização dos reforço. Lewinsohn e seus colaboradores (por
sintomas da depressão como déficit ex.: Lewinsohn, 1974, Lewinsohn, Biglan &
comportamental, afetivo ou cognitivo, Zeiss, 1976) argumentaram que não é
dependendo se eles estão relacionados densidade do reforço per si que é crítica, mas
primariamente a atividades públicas, mais propriamente a taxa de reforço positivo
sentimentos ou pensamentos, respec- contingente à resposta. Deste modo, a
tivamente. Apesar desta classificação ser depressão pode surgir quando o reforço para
baseada na topografia, na medida em que se o não responder for maior do que para o
apontam importantes relações controladoras, responder.
ela pode ser útil. Por exemplo, a redução na Muitos teóricos (por ex., Hersen, Eisler,
freqüência de atividades públicas sugere que Alford, & Agras, 1973) argumentaram que
a extinção operante ou punição podem estar uma falta de reforço social é particularmente
atuando, visto que a ocorrência de certas importante para o surgimento e a manutenção
reações afetivas sugere o envolvimento de da depressão. Uma causa óbvia para o nível
processos respondentes. Além disso, certos baixo de reforço social é um repertório social
déficits cognitivos como autocrítica inadequado. Em um estudo Lewinsohn e seus
persistente ou atenção seletiva para colaboradores (Lewinsohn, 1974; Libet &
experiências negativas apontam para o Lewinsohn 1973) revelou que pessoas

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depressivas geralmente não dispõem de uma crônicos quando o reforço perdido mantinha,
série de habilidades sociais. Não apenas elas relativamente, uma grande proporção do
não se comportam de maneira provável a repertório comportamental do indivíduo e
aversivos como também são ativamente existem poucas alternativas de reforço. A
evitadas pelos outros. síndrome do “ninho vazio”, por exemplo, é
mais grave para aqueles que desenvolveram
Extinção. Uma redução na freqüência do poucas fontes de reforço além do cuidado dos
comportamento ou uma redução crônica no filhos. Similarmente, a aposentadoria pode
nível de emissão de comportamentos podem ser devastadora para aqueles que não
também ser resultado da extinção. Animais de conseguem desenvolver uma série de
laboratório mostram sintomas de depressão atividades reforçadoras fora do trabalho. O
(abulia), quando a extinção generalizada é cultivo de uma variedade de fontes de reforço
imposta depois de uma história de reforço e atividades reforçadoras é uma boa
(Skinner, 1953). Quando há um processo de inoculação contra a depressão grave.
extinção lento e gradual, pode ser difícil
identificar a origem da depressão. Punição. Também comum entre os clientes
Freqüentemente, clientes depressivos relatam com depressão crônica, são as histórias de
histórias passadas, caracterizadas por um punição prolongada e sem possibilidade de
ambiente social geralmente não-responsivo. fuga, tais como aquelas associadas com abuso
Um cliente, por exemplo, relatou que quando infantil (físico ou sexual) ou com pais
criança, seus pais freqüentemente viajavam altamente exigentes e críticos. Torna-se
por longos períodos, deixando-o com uma particularmente devastador quando o
babá eficiente, mas tímida. Apesar de ela não comportamento defensivo ou retaliatório
ser deliberadamente negligente, ela era produzido pela punição é também punido.
genericamente não-responsiva a qualquer Um exemplo é uma cliente que sofreu
coisa, exceto a perguntas diretas e pedidos de repetidos abusos sexuais por parte de seu pai,
ajuda. É fácil perceber como repertórios sócio- durante muitos anos. Quando ela contou à sua
verbais podem fazer falta para o desenvol- mãe sobre o abuso, esta a chamou de
vimento em certos contextos e como este mentirosa e suja, e a espancou. O trabalho
repertório empobrecido pode resultar em anterior Maier, Seligman e Solomon (1969),
taxas baixas de reforço social em geral. sobre desamparo aprendido, mostra quase
Mas comumente, no entanto, clientes vêm claramente que a repetida estimulação
para o tratamento depois de uma perda muito aversiva sem possibilidade de fuga resulta em
significativa e óbvia, tal como a morte de uma uma redução comportamental generalizada e
pessoa amada. O mesmo acontece no fim de interfere com os efeitos subseqüentes do
um relacionamento, na não obtenção de um reforço contingente. No caso relatado acima, a
resultado desejado, como o ingresso em uma cliente veio para tratamento porque era
universidade, na perda de um emprego, na incapaz de sentir prazer ao fazer sexo com o
aposentadoria ou diante a partida dos filhos marido, apesar de descrevê-lo como amável,
crescidos de casa. Os efeitos da perda súbita gentil e sensível. A sensibilidade dele e seu
de reforço são tipicamente graves. No entanto, compromisso com ela pareciam apenas
a maioria dos indivíduos com repertórios exacerbar sua depressão porque, como ela
adequados encontram outras fontes de relatou, isto justamente provava que o
reforço para repor a perda. A questão aqui, problema era sua culpa. O esforço de
porém, é a disponibilidade de um repertório intimidade sexual freqüente induzia longos
adequado para obter fontes alternativas de discursos de autocrítica e desprezo por si
reforço. Parece que ocorrem mais problemas mesma.

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Reforço de Comportamento de Angústia. Apesar permanece sob o controle de estímulos


de a extinção, a punição e a falta de repertório discriminativos relevantes, mesmo quando as
efetivo poderem explicar a taxa baixa de contingências mudam. Como resultado, os
comportamento emitida por pessoas clientes podem vir a perder fontes potenciais
depressivas, elas também são caracterizadas de reforço, e a taxa de reforço positivo
por uma taxa alta de comportamento de permanece baixa.Um exemplo disso foi
ansiedade, incluindo lamentação, choro e relatado por um cliente que aceitou um
irritabilidade. Ferster (1973) afirma que estas convite para sair após o trabalho, para beber.
são evidências empíricas que apóiam este Mais tarde, durante o dia, ele descobriu que
argumento. Biglan (1991) relatou diversos teriam como companhia um certo número de
estudos que mostram que o comportamento pessoas. Após o trabalho, aproximou-se do
de angústia típico dos depressivos (por ex.: bar em que tinham combinado se encontrar,
expressões faciais e postura corporal de mas quando viu os outros, rapidamente
tristeza, degradação própria, lamentação) retirou-se. Embora estivesse disposto a
funciona para reduzir a probabilidade de interagir apenas com um colega, a presença do
estimulação aversiva produzida por outros. É grupo evocou uma resposta de esquiva. Ele
fácil ver como este repertório pode ser relatou que certamente pareceria um tolo
estabelecido em ambientes altamente frente aos outros e a despeito da oportunidade
punitivos e como pode ser estendido para de interação social, ele queria evitar a
outras situações, mesmo quando o reforço possibilidade de embaraço.
imediato para o comportamento de angústia
não está prestes a ocorrer. Além da redução da Funções Respondentes
estimulação aversiva, o comportamento de Apesar de os analistas do comportamento
angústia é, algumas vezes, reforçado parecerem preocupados, em primeiro lugar,
positivamente pelo aumento de atenção e com as taxas baixas de comportamento
apoio social. Interessantemente, no momento, emitidas por depressivos e com os eventos
mesmo aumentando o apoio, o compor- ambientais que as produzem, o estado afetivo
tamento de angústia é percebido pelos outros associado à depressão é seu primeiro sintoma
como sendo aversivo (ver também Coyne, diagnóstico e também a principal razão pela
1976) e eles procuram fugir e esquivar-se dele. qual os clientes procuram tratamento (Zettle
Porém, esta esquiva serve apenas para & Hayes, 1986). Se não houver outro motivo, é
remover uma fonte de reforço para a pessoa importante explicar estes sentimentos e
depressiva. Este padrão de reforço para o reações emocionais.
comportamento de depressão, seguido pela Além dos efeitos sobre a taxa de resposta,
extinção, estabelece um círculo vicioso que reforço insuficiente, extinção e punição
pode ser difícil de quebrar. apresentam também outras funções. A parte
superior (A) da Figura 1 as descreve. Entre
Estímulo Discriminativo elas está a eliciação respondente. Isto é
Até este ponto, enfatizamos funções de facilmente observado na frustração e cólera
conseqüências, mas é óbvio que existem que caracterizam os jorros de respostas
funções de controle de estímulos envolvidas produzidas pela quebra de uma contingência
na manutenção do comportamento de reforço. Os subprodutos da punição são
depressivo. Eventos correlacionados com a bem conhecidos e uma importante fonte de
extinção ou punição evocam comportamento interesse (Skinner, 1971). Quando a escassez
de esquiva, mantido por reforço negativo. de reforço é generalizada ou persistente,
Como acontece com maioria dos paradigmas freqüentemente resulta em reações
de esquiva, no entanto, o comportamento emocionais que classificamos como tristeza

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ou desespero. Em termos comportamentais, Realmente, uma das características marcantes


reforço insuficiente, extinção ou punição da depressão á uma falta de motivação e uma
funcionam como estímulo incondicionado habilidade diminuída de derivar prazer da
que elicia uma série de respondentes vida. De acordo com a visão analítico-
classificados como tristeza, frustração e comportamental, a perda da efetividade
cólera. O argumento de que essa função reforçadora e as mudanças na motivação
respondente não é aprendida é sustentado sugerem que operações estabelecedoras (ou
pelas reações emocionais observadas em supressoras) estão envolvidas (Michael, 1982,
animais de laboratório sob esquema de 1993). Como Michael descreve, operações
extinção ou expostos à punição. Isto é também estabelecedoras (a) acentuam o efeito
confirmado pelo desespero e angústia de reforçador de certas conseqüências, (b)
crianças pequenas criadas em ambientes não aumentam a probabilidade de respostas que
responsivos (por ex.: Bolwlby, 1973). tenham produzido reforços estabelecidos no
Como iremos discutir com maiores detalhes passado e (c) elevam a efetividade evocativa
posteriormente, as reações emocionais de estímulos discriminativos associados a
eliciadas por reforço insuficiente são fontes reforços estabelecidos. Operações supres-
freqüentes de sofrimento posterior. Isto é, as soras funcionam exatamente de maneira
reações emocionais associadas à depressão oposta. O argumento aqui é que os eventos ou
podem engendrar angústia subseqüente, num condições que produzem taxas baixas de
ciclo progressivo. Esta progressão de reações resposta e os estados afetivos característicos
emocionais pode esclarecer muitos sintomas da depressão podem funcionar como
depressivos, incluindo perturbações do sono, operações estabelecedoras ou supressoras.
irritabilidade, dificuldade na concentração, Em particular, estes eventos potencializam
dores de cabeça e estresse prolongado. algumas contingências e despotencializam
Em virtude de suas associações com a outras. Estas funções estão descritas na parte
estimulação aversiva produzida por reforço inferior (B) da Figura 1.
insuficiente, estímulos discriminativos A título de conveniência, dividiremos o
relevantes (ou qualquer estímulo associado à mundo, um tanto simplisticamente, entre dois
punição ou à indisponibilidade do reforço) tipos de contingências: depressivas e não-
podem também funcionar como eliciadores depressivas. Contingências não-depressivas
respondentes condicionados (ver Figura 1). são aquelas que operam quando o indivíduo
Por exemplo, uma cliente atendida por um não está deprimido. Em geral, elas incluem as
dos autores tornou-se consideravelmente contingências sociais, ocupacionais,
melancólica após ir a uma escola secundária recreacionais e interpessoais que governam a
que freqüentara havia quase vinte anos. Ela vida diária. Quando há um repertório
disse que o colegial foi um tempo muito difícil adequado e estas contingências estão
para ela, por ter sido várias vezes estabelecidas para um indivíduo, ele ou ela
ridicularizada e socialmente rejeitada. trabalha, brinca, interage, cria e encontra
Simplesmente ver o local onde esta prazer nestas atividades.
estimulação aversiva ocorreu anos antes, foi Contingências depressivas são aquelas
suficiente para eliciar algumas reações associadas a comportamento depressivo.
emocionais muito fortes. Pode ocorrer um aumento na freqüência de
comportamentos como chorar, reclamar,
Funções Estabelecedoras autocensurar, autocritica, abuso de drogas ou
Uma queixa comum entre depressivos é o fato álcool, sono excessivo e outros. Reforços
de terem perdido o interesse por atividades estabelecidos podem incluir expressões de
antes consideradas recompensadoras. simpatia, oferta de ajuda, assistência, apoio

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social e esquiva de atividades e conseqüências aqueles colocados em estado de elação,


geralmente associadas a contingências não- relembraram fatos e palavras alegres.
depressivas. Apesar de depressivos procu- Psicólogos cognitivistas postularam uma
rarem por simpatia e apoio de outros, são variedade de processos mentais para explicar
propensos a evitar situações sociais que estes eventos, mas parece que os
requeiram um repertório ativo ou interativo. procedimentos de indução de humor
Dependendo do indivíduo, mesmo atividades funcionam como operações estabelecedoras e
fisiológicas tão básicas como alimentação ou afetam as propriedades evocativas de
sexo perdem suas funções reforçadoras. Pode estímulos relevantes.
ser, no entanto, que os aspectos sociais destas A relevância desta discussão é que a principal
atividades e não as atividades em si, é que característica da depressão é a atenção seletiva
tenham se tornado pouco ou nada a memórias e eventos negativos. De fato, o
reforçadoras (Ferster, 1973). Na verdade, aspecto essencial da maioria das teorias
dada a privação de reforços disponíveis para cognitivas da depressão (por ex.: Beck, 1967,
muitos depressivos, a alimentação pode 1976) é que os depressivos apresentam
tornar-se particularmente reforçadora. Isto esquemas cognitivos negativos que os levam a
pode explicar porque alguns deles comem atentar aspectos negativos de si mesmos e de
excessivamente, especialmente quando seus ambientes. Um estudo interessante,
sozinhos. relatado por Frankel e Prentice-Dunn (1990)
Uma função que define as operações ilustra este fenômeno. Eles investigaram a
estabelecedoras e que tem sido relativamente memória relativa a feedback previamente
negligenciada é seu efeito sobre estímulos especificado e liberado aleatoriamente a
discriminativos relevantes. Essa relativa falta sujeitos altamente solitários [high-lonely] e
de atenção oferece uma explicação razoável sujeitos pouco solitários [low-lonely] após uma
para dados interessantes relatados na breve interação com um assistente
bibliografia sobre a relação entre emoção e experimental. Os resultados indicaram que os
cognição. Por exemplo, Bower (1981) e Ellis e sujeitos muito solitários têm clara lembrança
Ashbrook (1989) resumiram diversos estudos do feedback negativo e pouco se recordam do
que demonstraram que os estados emocionais feedback positivo. Resultados opostos foram
e o humor dos sujeitos determinam obtidos com sujeitos pouco solitários.
extensamente os estímulos a que respondem Obviamente, esta atenção seletiva e o relato
ou de que se lembram. Para estudar esse são facilmente influenciados por conse-
efeito, os sujeitos foram primeiramente qüências diretas e processos verbais (a serem
expostos a uma série de procedimentos discutidos abaixo), mas os efeitos potenciais
destinados a induzir determinados estados de das operações estabelecedoras aqui parecem
humor. Estes procedimentos incluem claros. Em geral, no entanto, o papel das
hipnose, sugestão verbal ou ouvir uma operações estabelecedoras na determinação
música capaz de induzir estados de ânimo. diferencial de controle de estímulos necessita
Uma tarefa experimental é então dada aos exploração posterior.
sujeitos. Eles podiam, por exemplo, ser
requisitados a estudar e, posteriormente, Comportamento verbal. Uma classe de respostas
recordar uma lista de palavras , que variavam evocada pelas funções estabelecedoras de
quanto ao caráter afetivo (por ex.: triste, feliz) punição e reforço insuficiente é o
ou então a recordar fatos anteriormente comportamento verbal. O tipo de
vividos. Sujeitos que foram induzidos a comportamento verbal evocado e suas
apresentar humor depressivo, tenderam a funções são descritas na parte B da figura 1.
recordar palavras e fatos tristes, ao passo que Mandos e mandos estendidos na forma de

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reclamações, autocríticas, insultos auto- suicídio é a única fuga disponível.


dirigidos e autodemandas são muito comuns
SD: R è 1. Queda na taxa de respostas
entre depressivos. Por serem freqüentemente
A. SD: R è Sr+ 2. Eliciação Respondente
evocadas por estimulação aversiva, algumas
SD: R è Sp+ 3. Operações Estabelecedoras
destas declarações autodirigidas são
(Abolidoras)
agressivas e visam infligir dano ou dor.
1. Estímulo controlador de esquiva
Geralmente, elas são muito efetivas. O 2. Eliciador condicionado
problema, é claro, é que elas são dirigidas para 3. Operação estabelecedora condicionada
si, o que somente aumenta a estimulação
aversiva e exacerba a depressão. + -
Outro tipo de comportamento verbal evocado
por estas operações estabelecedoras são tatos, + + - -
ou mais precisamente, tatos distorcidos. É
comum que depressivos se esforcem em Contingências Depressoras Contingências Não-Depressoras

identificar as razões para suas condições Sd: R è C Sd: R è C


Comportamentos Depressivos
aversivas, freqüentemente com a esperança B. Comportamentos Verbais

de serem capazes de especificar causas e 1. Mandos


2. 2. Tatos (regras)
descobrir soluções. Entretanto, dada sua 3. Operações Estabelecedoras
Condicionadas
atenção seletiva característica e a propensão à
auto-injúria, eles tendem a atribuir sua
condição a alguma falha pessoal fundamental, Figura 1. Um modelo analítico-comportamental da depressão.
O quadro A descreve as múltiplas funções de um repertório
que os leva a concluir que continuarão comportamental ineficiente, que leva respectivamente a reforço
perpetuamente infelizes. É muito comum insuficiente, extinção e punição. O quadro B representa as
ouvir depressivos proclamando sua funções dessas variáveis nas contingências depressoras e não-
depressoras. Incluídos como contingências depressoras estão
incompetência inerente, sua inferioridade, o os tipos e as funções de comportamento verbal característicos
fato de não serem amados, sua inadequação e de pessoas depressivas.
a própria patologia como razões pelas quais
experienciam tamanha dor. Na medida em Uma vez emitidos, é fácil observar como estes
que acreditem nesses tatos distorcidos (ou tatos distorcidos e auto-regras podem ser
seja, estes exercem uma influência diretamente mantidos, tanto por reforço
controladora sobre o comportamento), seus positivo, quanto por reforço negativo. O que
efeitos podem ser graves. No mínimo, eles precisa ser esclarecido é quais são as fontes de
podem ocasionar mais comportamento controle antecedente sobre o conteúdo e quais
depressivo e eliciar mais sentimento são os efeitos controladores destas verba-
depressivo. Neste sentido, eles também lizações. Por que, por exemplo, os depres-
podem funcionar como operações estabe- sivos, ou a maior parte dos indivíduos
lecedoras condicionadas que se somam à normais vêem certas reações emocionais
potencialização relativa das contingências como indicativos de psicopatologia? Por que
depressivas (ver Figura 1). Na pior das eles atribuem a causa de seu sofrimento a
hipóteses, estes tatos distorcidos podem fatores internos? Que processos estão
engendrar o tipo de desesperança que envolvidos nas inferências que são feitas em
freqüentemente antecede o suicídio. Se a relação às causas e soluções de seus
depressão é de longa data e a pessoa acredita problemas? Como as auto-instruções ou
que ela é devida a alguma falha básica de quaisquer estímulos verbais adquirem suas
personalidade que provavelmente não pode funções? Para situar estas questões, dois
ser remediada, não é difícil de entender como conjuntos de variáveis - influências culturais e
alguém pode chegar à conclusão de que o processos verbais - precisam ser discutidos.

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Influências Culturais Contudo, muitos clientes vêm à terapia


Há, com certeza, muitas influências culturais, angustiados com a comparação desfavorável
que podem contribuir para a depressão. Por entre suas vidas e o ideal cultural.
exemplo, o aumento global da prevalência de O problema é agravado pela perspectiva
depressão é atribuído a fatores associados à cultural de problemas psicológicos. Em
cultura moderna, incluindo o aumento da grande parte, eles são definidos pela presença
alienação e características estressantes das de sintomas psicológicos, que freqüentemente
sociedades industriais. Embora haja um se transformam em certos pensamentos e
grande número de influências culturais que sentimentos (Dougher, 1993, no prelo;
podem ser examinadas sob este ponto de Follette, Bach e Follette, 1993; Follette e Hayes,
vista, pressupostos culturais sobre compor- 1992; Hayes, 1987; Hayes & Follette, 1992;
tamento humano serão enfatizados aqui. Hayes e Wilson, 1993). A lista de sintomas do
Toda cultura, explícita ou implicitamente, DSM que definem depressão é um ponto
comunica a seus membros seus pressupostos importante. Em geral, a presença real de certos
sobre comportamento humano. Dois desses pensamentos e sentimentos em algum grau
pressupostos são relevantes para a presente são indicativos do transtorno. Como
discussão. O primeiro tem a ver com as causas resultado, quando estes pensamentos e
do comportamento. O segundo refere-se às sentimentos ocorrem, a presença deles pode
características de saúde psicológica ou, ser muito angustiante.
inversamente, transtornos psicológicos. A ocorrência do sentimento de depressão, por
Levando em consideração a primeira, é muito exemplo, pode ser alarmante precisamente
difícil crescer na cultura ocidental e não adotar porque indica a existência de um transtorno
a suposição de que eventos internos psicológico. Uma reação típica é tentar
(especificamente o inconsciente e muitas suprimir ou controlar a experiência privada
vezes processos psicológicos misteriosos) são indesejável, mas como Hayes (1987; ver
causas do comportamento. Esta suposição é também Wegner, 1989) ressaltou, isto pode
reforçada pela psicologia profissional, produzir um ciclo ascendente de reações
incluindo abordagens orientadas cienti- emocionais. O processo é similar a tentar não
ficamente como a terapia comportamental pensar em ursos brancos quando se é pedido
cognitiva, com sua ênfase em estruturas para fazer assim. Hayes ofereceu uma
cognitivas como entidades causais. Não é de explicação convincente, com base na natureza
se admirar que os depressivos atribuam seus de estímulos verbais, do por quê isto pode ser
problemas a alguns processos psicológicos impossível de ser feito. Quando este resultado
internos, subjacentes. é obtido, os clientes muitas vezes procuram
Com respeito à saúde psicológica, ou bem- ajuda profissional num esforço para
estar, esta é definida em nossa cultura pelos identificar os processos psicológicos
meios de comunicação de massa. Uma vida subjacentes que eles assumem serem causas
boa é caracterizada pela disponibilidade de de suas angústias. É claro que a maior parte
recursos econômicos suficientes, relações das abordagens terapêuticas (excluindo, no
humanas agradáveis e descomplicadas, entanto, Gestalt e abordagens existenciais)
ausência de pensamentos e de sentimentos reforçam as suposições do cliente ao tentar
perturbadores. Naturalmente, esta existência mudar os mecanismos psicológicos
no vácuo é uma criação de anunciantes e pode subjacentes que são responsáveis pelos seus
ser atingida somente por aqueles que se sintomas .
aproximam dos critérios diagnósticos de
transtorno de personalidade anti-social.

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Michael J. Dougher - Lucianne Hackbert

Processos verbais estímulos verbais adquirem sua função


Uma questão importante para a explicação psicológica devido à sua participação na
comportamental de depressão refere-se aos relação de equivalência com eventos que eles
determinantes do comportamento verbal que representam. Por exemplo, imediatamente
caracterizam os deprimidos e como estes após ser dito que limón é a palavra em
determinantes vêm a influenciar outro espanhol para limão, limón adquire funções
comportamento. Embora esteja claro que de estímulo como a palavra limão (e muitas
processos condicionados estão envolvidos, é das mesmas funções que os limões reais) para
também claro que esta explicação não pode o ouvinte. Assim, não somente se pode agora
esclarecer inteiramente a emissão de responder apropriadamente ao pedido por
comportamento verbal novo ou a aquisição de um limón, mas também a descrição de se
funções psicológicas por estímulos verbais. morder um limón provavelmente eliciará
Por exemplo, como é que quando se conta a salivação como a careta facial que ocorre
um indivíduo que a experiência de tristeza é quando suco de limão é esguichado dentro da
um sinal de depressão e que depressão é uma boca (uma demonstração experimental da
doença, ele conclui que sua experiência de transferência da função respondente por meio
tristeza significa que ele ou ela está doente? A de classes de equivalência de estímulos é
lógica da inferência é clara, mas quais são os relatada por Dougher, Augustson, Markham,
princípios comportamentais que determinam Greenway e Wulfert, 1994). Na mesma
a lógica da inferência? Indo mais longe, como direção, auto-relatos como "eu não estou
é que a declaração "eu estou doente" pode bom”, "eu estou doente", "eu sou um fracasso",
evocar um repertório inteiro de compor- "eu estou deprimido" e "as coisas nunca irão
tamento e eliciar certos respondentes? Não é melhorar" exercem uma influência no
provável que o comportamento doente tenha controle do comportamento. Uma demons-
sido diferencialmente reforçado na presença tração extraordinária deste controle verbal é o
da palavra doente, ou que a palavra doente efeito que ocorre quando relatos verbais são
tenha sido emparelhada com estímulos usados no laboratório para indução de
incondicionados que eliciam certos respon- estados de humor (por ex.: Velten, 1968). O
dentes. Respostas a estes tipos de questões são procedimento implica em nada mais do que
sugeridas por pesquisa recente em equiva- ler uma série de declarações depressivas como
lência de estímulo (por ex.: Hayes, 1991; "não importa o quanto eu tente, nada parece
Sidman, 1986; Sidman e Tailby, 1982; Spradlin funcionar" ou "eu me sinto triste". Para uma
& Saunders, 1984) e, em particular, a proporção considerável de sujeitos, este
transferência da função por meio de classes de simples procedimento induz a estados reais e
estímulos equivalentes (por ex.: Dougher e transitórios de tristeza, que não parecem ser
Markham, 1994). Já que Hayes e Wilson (1993) devidos a simples características de demanda
descrevem muito eficientemente o papel que a (Ellis e Ashbrook, 1989).
equivalência de estímulos pode ter no Quando "eu" e "fracasso" ou "doente" ou
desenvolvimento de transtornos psicológicos, "depressivo" entram em uma classe de
uma discussão detalhada não é necessária equivalência, muitas das funções associadas
aqui. Contudo, uma discussão do envolvi- com estas descrições negativas aplicam-se a
mento destes processos na depressão pode ser “eu". Isto pode explicar o desenvolvimento do
útil. auto-esquema e da autofala negativos que
Aqueles que vêem a equivalência de caracterizam os depressivos. No entanto,
estímulos como um processo comportamental classes de equivalência, por si só, podem ser
fundamental subjacente à linguagem e outros colocadas sob controle contextual (Lynch e
comportamentos simbólicos, alegam que os Green, 1991; Wulfert e Hayes, 1988). De

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Uma explicação analítico - comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação.

acordo com isto, em alguns contextos, “eu" e habilidades sociais, um treino de habilidades
uma variedade de termos negativos podem sociais seria indicado. Se há um repertório
estar em uma classe de equivalência, ao passo social adequado, mas uma taxa baixa de
que em outros contextos, "eu" está em uma comportamento devida à extinção, punição
classe com outros descritores, talvez mais ou controle verbal, um certo número de
positivos. É possível que as variáveis que intervenções poderia ser efetivo. Ferster
evocam comportamento depressivo possam (1973) oferece uma explicação para os efeitos
servir como estímulos contextuais que de melhora de quase toda forma de terapia
controlam a composição da classe de verbal com depressivos. Ele argumenta que o
equivalência. Esta é uma questão interessante simples aumento da taxa de interação verbal é
de pesquisa com relevância básica e aplicada. provavelmente reforçadora por si só, mas
Isso pode, por exemplo, explicar a pode também revelar as relações funcionais
variabilidade do autoconceito, que é entre a forma característica do cliente
comumente vista tanto em indivíduos responder e as conseqüências aversivas que
normais quanto em depressivos. daí resultam. Além disso, pode provocar
formas mais eficazes de interação e obtenção
Implicações do Tratamento de reforço positivo. Kohlenberg, Tsai e
Dougher (1993) esboçaram, especificamente,
A presente explicação da depressão sugere como os terapeutas podem usar a relação
diversas estratégias de tratamento. terapêutica para identificar o comportamento
Medicamentos antidepressivos, por exemplo, problemático e reforçar mais formas eficazes
podem funcionar como operações de interação. Nesta edição, Kohlenberg e Tsai
estabelecedoras que neutralizam funções (1991) descrevem as aplicações efetivas desta
estabelecedoras de eventos que produzem abordagem como suplemento para a terapia
depressão. O efeito comportamental dessas comportamental-cognitiva com um cliente
drogas é atenuar ou abolir contingências depressivo. Estes efeitos poderiam ser
depressivas e potencializar contingências facilitados em terapia de grupo nas quais a
não-depressivas. Dessa forma, o compor- problemática do comportamento social é mais
tamento não-depressivo é diminuído, provavelmente evocada e há uma maior
conseqüências relevantes são salientadas oportunidade para feedback instrutivo sobre
como reforços, os efeitos evocativos dos este comportamento.
estímulos discriminativos associados são Para clientes com histórias de abuso e
aumentados e o comportamento verbal negligência, simplesmente conversar sobre
característico da depressão é substituído por suas experiências pode ter efeitos terapêu-
verbalizações não-depressivas. As drogas ticos, além daqueles descritos por Ferster. Na
antidepressivas podem produzir efeitos a medida em que estímulos verbais
longo prazo se o comportamento do cliente compartilham funções psicológicas com os
estiver sob o controle de contingências não- eventos que representam, conversar sobre
depressivas. Mais comumente, entretanto, a eventos traumáticos pode servir para a
psicoterapia é necessária para manter os extinção de respostas emocionais a eles
efeitos do tratamento após a retirada da associadas. Além disso, conversar sobre
droga. eventos traumáticos pode ter a vantagem de
A respeito das terapias psicológicas, uma levar a uma compreensão diferente de suas
variedade de intervenções é sugerida, causas e dos efeitos subseqüentes sobre a vida
dependendo das variações específicas que do cliente. Por exemplo, vítimas de abuso
operam em cada caso particular. Por exemplo, sexual e psicológico muitas vezes culpam a si
se o problema é primariamente de déficit de mesmas por essas ocorrências. Quando elas

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Michael J. Dougher - Lucianne Hackbert

chegam a ver que as ocorrências não eram dos eventos privados perturbadores apenas
contingentes aos seus comportamentos, os produzem seu aumento, conduzindo a mais
comportamentos verbais de “autopunição” se auto-criticas e o círculo vicioso se perpetua.
tornam menos freqüentes. Este é o motivo pelo qual muitos depressivos
Foi demonstrado que intervenções cognitivas vêm à terapia. Este processo é ilustrado no
que tentam modificar expectativas e crenças relato de caso que se segue.
irracionais são eficazes para aliviar o
sofrimento emocional que tipicamente Relato de Caso
conduz os clientes para o tratamento. Porém,
estas intervenções fortalecem a concepção de A cliente era uma mulher de 23 anos de idade
que pensamentos são causas do compor- que veio até a clínica universitária buscando
tamento e que pensamentos e sentimentos tratamento para a depressão. Ela foi atendida
negativos são indicativos de problemas pelo primeiro autor (Dougher). Nas sessões
psicológicos. Isto é certamente discrepante iniciais, a cliente relatou os problemas que
com a visão analítico-comportamental, que acreditava serem os maiores. Ela relatou estar
considera que pensamentos e sentimentos não deprimida havia muitos anos. Mais
são causas, mas sim comportamentos. Como recentemente, entretanto, sua depressão
comporta-mentos, eventos privados podem tornou-se mais severa. Ela relatou freqüentes
ser entendidos como naturais e como reações ataques de choro e profunda tristeza. Embora
previsíveis ao meio ambiente, dada a história ela tivesse um grupo de amigos (homens e
particular de um indivíduo. Eventos privados mulheres), ela achava que estava se tomando
não ocupam posição especial e não têm que cada vez mais crítica e menos interessada na
ser modificados ou controlados para se ser companhia deles. Ela tinha um relaciona-
feliz ou para levar uma vida rica e produtiva. mento romântico não-exclusivo com um
De fato, como foi afirmado anteriormente, homem da sua idade, mas tinha certeza de
tentativas reais de controlá-los apenas tornam que este relacionamento iria na mesma
sua ocorrência mais provável. Se clientes direção dos relacionamentos anteriores: ela
podem ser auxiliados a encarar seus eventos terminaria sendo abandonada por ele.
privados dessa forma, eles podem simples-
Embora estivesse frustrada com a falta de
mente observá-los sem tentar controlá-los.
compromisso no relacionamento, ela estava
Eles podem então fazer progresso, indo ao
com medo que isto fosse um reflexo de sua
encalço daquelas atividades e experiências
insegurança. Afirmou que queria ser capaz de
que são úteis e que dão sentido a suas vidas.
superar essa insegurança e que, desse modo,
Essa perspectiva da análise do compor-
não seria tão carente e exigente. Ela sentia
tamento sobre eventos privados é o ponto
ciúmes quando via amigos em relaciona-
central da Teoria da Aceitação e Compro-
mentos sérios ou até mesmo quando ela via
misso da terapia de Hayes (Hayes, 1987;
Hayes e Wilson, 1993). seu "namorado" conversando com outra
Com respeito à depressão, a ocorrência de mulher. Ela estava no último ano de faculdade
pensamentos ou sentimentos depressivos é e era uma estudante de sucesso. Recente-
muitas vezes alarmante. Eles são mente, entretanto, ela estava sentindo dificul-
interpretados como sinais de um transtorno dades em concentrar-se no seu trabalho e
psicológico subjacente que é, então, sentia medo de que suas notas pudessem ser
responsabilizado pelos sentimentos prejudicadas por isso. Ela tinha que fazer seu
depressivos, pensamentos de autocrítica, a trabalho de conclusão de curso até o fim do
perda de interesse em atividades e outros ano escolar, mas encontrava-se incapaz de
sintomas da depressão. Tentativas de livrar-se progredir nisto. Ela sentia uma grande ansie-

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Uma explicação analítico - comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação.

dade em relação a isto, o que somente pareceu T: O que significa para você dizer que
deixá-la ainda mais depressiva. O tratamento estava triste neste fim de semana?
requereu uma combinação da psicoterapia C: Isto significa que algo está errado
analítica funcional (FAP - functional analytic comigo. Não é, humm, normal, pessoas não
psichoterapy ) de Kohlenberg e Tsaí (1991) e a choram por chorar o fim de semana todo. Eu
terapia de aceitação e compromisso (ACT - não acho que é normal precisar do meu
acceptance and commitment therapy ) de namorado por perto para não ficar triste.
Hayes (1987). Os objetivos gerais do T: Você disse que estes pensamentos
tratamento estão de acordo com aqueles significam que há algo de errado com você.
descritos em ACT. Isto é, a finalidade seria Mas se não tivesse algo de errado, o que
ajudar a cliente a conseguir a aceitação de seus significariam? E se não fosse isto, o que eles
eventos privados, enquanto se dedicasse significam? E se eles, humm, realmente não
àquelas atividades e objetivos que significassem nada? No mínimo nada sobre
identificasse como sendo importantes na sua você ou, humm, o que você possa fazer. Talvez
vida. Os procedimentos da FAP foram usados você esteja dando a eles muito crédito.
como um processo para facilitar o alcance Humm. Isto provavelmente esteja
destes objetivos. Em particular, as interações confundindo você ou se tornando difícil de
que ocorriam no relacionamento terapêutico entender, porque em toda a sua vida foi dito a
eram usadas para identificar e modelar você que seus pensamentos e sentimentos são,
comportamentos clinicamente relevantes. humm, importantes. Que eles são as razões de
Uma descrição geral do curso da terapia é você fazer coisas, as razões pelas quais faz as
apresentada abaixo. O material transcrito está coisas que faz. Mas, eu quero desafiar esta
incluído para ilustrar as interações verbais crença. Talvez os pensamentos que você tem
específicas que ocorreram no tratamento. sejam justamente os pensamentos que você
De início, um objetivo do tratamento era tem e nada mais.
ajudar a cliente a desistir da luta contra seus C: Eu não estou certa do que você está
eventos privados e aceitá-los simplesmente dizendo.
como reações determinadas por sua história T. Certo. Vamos pegar os sentimentos de
particular. A primeira tentativa para isso tristeza que você teve este fim de semana.
aconteceu na quarta sessão após a cliente Você estava triste porque você estava sozinha,
descrever um ataque de autocrítica e tristeza certo? O que há de errado com isto? Você
extrema . queria estar com seu namorado, mas ele não
C (cliente) : Eu estava tão triste este fim de estava lá. Você queria algum afeto e, humm,
semana. Eu não fiz nada o tempo todo, só alguém pra conversar, mas você não pode ter.
fiquei... só fiquei sentada por aí e chorei. Eu Então, você teve uma reação emocional a isto.
fiquei muito pra baixo. Você ficou triste. O que há de errado com isto?
T (terapeuta): Qual o motivo de tanta C: Eu não gosto de estar triste e eu, humm,
tristeza? realmente não gosto de ser tão carente.
C: Eu queria ficar com ele (namorado), mas T: Então, quando você está triste significa
ele tinha saído com alguns amigos. Eu me que você está carente? E se isso não fosse
sentia tão só. Mas, humm, então eu, humm, verdade? E se isto fosse exatamente, humm,
comecei a ficar zangada comigo mesma por algo que você disse, algo que você aprendeu a
ser tão, humm, carente, tão, humm, dizer para você mesma. Isso não precisa ser
dependente. Eu vou, humm, e eu sei eu vou verdade. Simplesmente porque você disse
fazê-lo ir embora se eu não parar com isto. Eu isto, não significa que seja verdade, você sabe?
sempre faço isto. O que eu estou querendo insinuar é que seus

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Michael J. Dougher - Lucianne Hackbert

pensamentos e sentimentos são apenas coisas tenho.


que você faz. Você aprendeu a dizer que você C: E isso funciona? Os sentimentos vão
é carente, mas isto não significa que você seja, embora?
que você verdadeiramente seja. Você poderia T: Não, mas pelo menos você não está
apenas olhar o que você mesma diz, e não fazendo nada que os faça piorar.
acreditar nisto. Você diz muitas coisas ruins C: Bem, como você se livra dos
sobre você mesma que você não é, ou talvez sentimentos?
você não seja. Você acredita em todas as coisas T: Você não se livra. Não dá para se livrar
ruins que você diz sobre você mesma? deles.
C: Às vezes. Humm. Às vezes elas parecem C: O que você faz com eles?
que são verdadeiras. T: Eu os tenho. Você quer fazer algo que
T: Sim, às vezes elas parecem verdadeiras. você não pode. Você não quer ter
Mas é possível que elas não sejam, certo? pensamentos e sentimentos, mas isso não
C: Sim, eu acho. pode acontecer, você sabe. Você está viva e
T: Bem, isto é um bom começo. eles são parte de você.
C: Eu não gosto destas minhas partes.
As quatro sessões seguintes prosseguiram T: De quais partes você gosta?
tendo como foco a aceitação de pensamentos e C: Eu não sei bem.
sentimentos. Na oitava sessão, a cliente entrou
falando que queria embriagar-se para lidar De acordo com a FAP, as interações que
com suas reações em um confronto que ela ocorreram nas sessões de terapia eram
teve com seu namorado. freqüentemente o foco da terapia. O próximo
trecho da 12ª sessão ilustra como os
C: Nós tivemos uma briga e ele me deixou. sentimentos da cliente na sessão eram usados
Eu me senti tão zangada, tão mal. Eu para facilitar a aceitação emocional. A cliente
simplesmente não poderia, não queria fazer tinha acabado de relatar uma experiência
isso. Eu comecei a ficar realmente deprimida. sexual que tivera alguns anos antes. A
Eu só queria me embriagar experiência foi humilhante para ela e ela
T: Porque você estava muito triste. sentiu-se muito culpada por isto.
C: Sim, outra vez. Eu nunca vou embora. E,
você sabe, os pensamentos estavam T: Como você se sente ao contar isto,
começando outra vez. humm... contar-me coisas muito particulares?
T: E você achou que tinha que parar com C: Inacreditavelmente embaraçada. Eu
eles? sabia que nós falaríamos, que eu teria que falar
C: Sim sobre isto aqui. Isto incomodou-me por um
T: Você parou ? longo tempo e, é isto que se espera que seja
C: Não, eu comecei a beber, mas eu não sou feito na terapia, certo? Falar sobre coisas ruins
de beber muito e pareceu que bebendo, eu que aconteceram. Mas, eu realmente tenho
pensei ainda mais sobre isto. ficado com medo disto, de falar sobre isto. Eu
T: Como que tentando não pensar em quero dizer...
elefantes rosas faz você pensar nos elefantes T: Eu posso compreender como isto foi
rosas ainda mais. Isto é verdade com difícil para você. Eu sei que você está
referência a tudo o que você faz para parar de embaraçada, Eu. humm.... quero que você
pensar sobre algo ou tentar não ter um retorne para a experiência sexual e fale sobre
sentimento. Isso somente piora. seus sentimentos a respeito dela, mas,
C: Então, o que você faz? humm... , eu acho que.. eu quero que você...
T: Não tento não ter sentimentos. Eu os eu espero que você possa compreender que

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Uma explicação analítico - comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação.

você foi capaz de fazer algo que pensava que sentimentos e esses tipos de coisas, mas,
era valioso para você, ainda que tivesse humm, pode útil passar algum tempo falando
sentimentos fortes sobre isto. Eu quero dizer, sobre o que você quer fazer com sua vida, que
mesmo que você fique embaraçada, você fez o tipo de pessoa você quer ser.
que precisava fazer. É isso que eu quero dizer T. Bem; o que você valoriza? O que você
por aceitação. E é assim que você a faz. quer para sua vida?
C: Um relacionamento melhor é uma coisa
O trabalho de aceitação continuou ao longo de que eu quero. Este (o relacionamento com o
algumas sessões e a cliente foi capaz de namorado dela) não está indo a lugar
compreender a perspectiva. Nas sessões, ela nenhum, mas eu tenho medo de rompê-lo.
freqüentemente relatava alguns exemplos nos T: Por quê?
quais foi capaz de observar que teve C: Eu poderia ficar sozinha por um longo
sentimentos tanto de depressão quanto de tempo. Realmente longo. Eu prefiro estar com
ansiedade sem tentar controlá-los. Um ele a estar sozinha,
exemplo ocorreu quando ela estava se T: Mesmo? Mas antes você disse que este
preparando para um encontro com alguém relacionamento faz você sentir-se estúpida e
que conheceu em uma de suas aulas. Ela mal. Você também disse que queria um
relatou o seguinte na 17ª sessão: relacionamento com alguém que poderia
comprometer-se com você. Humm... É
C: Bem, eu estava realmente, humm, melhor, humm, sentir-se estúpida e mal,
começando a ficar nervosa e, humm, humm... não ter um tipo de relacionamento
pensando que, humm... que tinha sido um que você quer, do que estar sozinha por um
erro aceitar sair com ele. Eu não sabia porque período de tempo? Há sempre um risco
eu estava; você sabe, tão nervosa. Eu não tinha quando você vai atrás de algo que você quer.
nenhum segredo. De qualquer forma, eu Nos relacionamentos, você sabe, o risco é que
comecei a pensar sobre aceitar os sentimentos você pode ser, humm, rejeitada ou, humm,
e as coisas que nós conversamos a respeito, machucada. Mas não estando em um
você sabe, e acabei me preparando, relacionamento significa que você poderia
T: Parece-me que estar nervosa naquela estar solitária, humm, ou não ter o tipo de
situação era bastante normal. Eu quero dizer, intimidade que você quer. A aceitação está de
quem não estaria nervoso? mãos dadas com o compromisso. Você tem
C: Eu sei; mas eu comecei com, humm, você que estar disposta a aceitar os sentimentos que
sabe, se eu fosse mais confiante, eu não estaria aparecem quando você vai atrás daquilo que
nervosa, e então, eu apenas disse, bem isto é quer. O que você quer?
somente um pensamento que eu estou tendo. C: Um relacionamento com compromisso e
T: Então você foi? sem nenhum risco (risos).
C: Sim, eu estava muito bem. Mas o tempo T: Desculpe.
todo, eu estava como que dizendo para mim
mesma que ele me odiava, por que eu faço Na sessão seguinte, a cliente relatou que ela
isto? Qual é o motivo? Você sabe. Mas foi bom. tinha terminado o relacionamento com seu
namorado. Nas sessões subseqüentes, ela
As sessões subseqüentes foram centradas em discutiu a possibilidade de mudar-se do Novo
seus objetivos, valores e o que ela queria para México e arrumar um emprego trabalhando
sua vida. para um membro do Congresso em
Washington, D.C. A sua faculdade tinha lhe
T: Ultimamente, nós estivemos falando proporcionado um treinamento para este tipo
muito sobre a aceitação de pensamentos e de trabalho e numa de suas discussões sobre

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Michael J. Dougher - Lucianne Hackbert

suas notas e valores, ela descobriu que queria significado e enriquecessem a sua vida. Estes
se envolver politicamente e trabalhar em incluíram a finalização de seu trabalho de
causas em que ela sentia serem importantes. conclusão de curso, seu relacionamento com
Ela estava muito ansiosa com relação a deixar os amigos, trabalhar algumas dificuldades
sua casa, mas tinha chegado à conclusão de com seus pais, tomar uma decisão sobre seu
que sua ansiedade teria que ser aceita se ela relacionamento, buscar um novo namorado,
quisesse concluir com êxito seus objetivos se necessário, e encontrar um trabalho que
profissionais. Com o progresso da terapia, a fosse do tipo que ela gostaria de fazer. Com
depressão da cliente claramente se dissipou, estes critérios, o método empregado com esta
embora o seu estado afetivo raramente tivesse cliente foi um sucesso. É claro que não há
sido discutido após as primeiras poucas como atribuir o resultado deste caso somente
semanas de tratamento, e isto nunca foi um aos procedimentos utilizados. Mas este não
objetivo explícito da terapia. De fato, além da foi o propósito do relato. Ao invés disso, o que
aceitação emocional, os objetivos específicos queríamos era demonstrar a aplicação dos
do tratamento foram os de obter algum procedimentos clínicos analítico-compor-
esclarecimento de suas metas e valores, e tamentais para o tratamento da depressão.
buscar aquelas atividades que dessem

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Recebido para publicação em: 13/10/2003


Aceito em: 14/11/2003

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