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Alvaro Ferreira
Programa de Pós-Graduação em Geografia do Departamento de Geografia da PUC-Rio e Departamento de Geografia da
UERJ-FEBF
alvaro_ferreira@puc-rio.br / alvaro.ferreira.geo@gmail.com
Favelas no Rio de Janeiro: nascimento, expansão, remoção e, agora, exclusão através de muros (Resumo)
Apresentamos brevemente o cenário de nascimento, expansão, políticas de remoção e terminamos enfocando a recente
proposta de criação de muros para contenção do crescimento de favelas na cidade do Rio de Janeiro. Afirmamos também que o
crescimento das favelas está relacionado ao aumento do trabalho informal, à contenção de gastos públicos e à especulação
imobiliária.
Favelas in Rio de Janeiro: birth, growth, removal and now, exclusion through walls (Abstract)
We present briefly the scenario of birth, expansion, and removal policies of slums in Rio de Janeiro. Finally, we focus the
recent proposal of building walls to contain the growth of slums in Rio de Janeiro. The growth of slums is related to increased
unemployment, the containment of public spending and property speculation.
Se a imagem da metrópole no século XX era a dos moradores pobres das cidade para as periferias e para as
arranha-céus e das oportunidades de emprego, ao redor do favelas, sujeitando-os a inundações, deslizamentos e a todo
mundo é possível, atualmente, observarmos cenários de tipo de risco que acabam sujeitos, levando a graves
pobreza onde vive grande parte dos habitantes das grandes doenças, inclusive ligadas a falta de saneamento básico.
cidades do século XXI. Temos presenciado o crescimento Além disso, doenças praticamente banidas dos países
cada vez maior do número de favelas em diversas partes centrais crescem vertiginosamente nessas áreas. Dados
do mundo; em todos os continentes. Os números comprovam o crescimento exponencial de tuberculose
impressionam e quando expostos, como feito por Mike dentre os habitantes das favelas. Em 2008, matéria
Davis (2006), deixam atônitos até os menos envolvidos publicada no Jornal do Brasil afirmava que a favela da
com a temática: tratam-se de aproximadamente 200 mil Rocinha, localizada na zona sul da cidade do Rio de
favelas existentes no planeta. Janeiro, registrava a impressionante média de 55 casos
mensais de tuberculose, ou seja, são 600 casos para cada
Esse crescimento está ligado a vários fatores, mas 100 mil habitantes. A ausência de debates públicos quando
mencionaremos apenas alguns que, obviamente, estão se trata de crescimento tão elevado – a Organização
interligados. A impiedosa especulação imobiliária é um Mundial da Saúde (OMS) considera aceitável apenas cinco
dos fatores responsáveis pela expulsão de milhões de casos de incidência do Bacilo de Koch, causador da
doença, para cada 100 mil habitantes – somente se explica fatores enunciados anteriormente. Alto índice de
por tratar de assolar a população mais pobre da cidade. desemprego, crescimento da informalidade, especulação
imobiliária, falta de política habitacional para população
Outro ponto importante, inclusive explorado por Davis de baixa renda e sistema de transportes coletivos precário
(2006), referir-se-ia ao papel do Estado, que tem se são apenas alguns exemplos dos motivos para o
preocupado apenas com obras de embelezamento urbano e crescimento das favelas no Brasil e especificamente no
medidas remediadoras – que não resolvem os problemas – município do Rio de Janeiro.
ao invés de desenvolver políticas de inclusão social, seja
no que se refere a políticas de geração de empregos, seja Com toda certeza, para falarmos sobre as origens,
em forma de políticas habitacionais ou no expansão, remoção e, atualmente, exclusão concretamente
desenvolvimento de sistema de transportes coletivos proposta através da construção de muros de contenção
eficientes. Maricato, no posfácio do livro de Davis (2006, contra o crescimento das favelas, teríamos de iniciar nossa
p. 217), afirma que “o Brasil, por exemplo, cresceu 7 por argumentação com o próprio processo de formação e
cento ao ano de 1940 a 1970. Na década de 1980, cresceu expansão da cidade do Rio de Janeiro, contudo nossa
1,3 por cento, e na década de 1990, 2,1 por cento, segundo proposta – até por ter um caráter de sucinto comentário –
o IBGE. Ou seja, o crescimento econômico do país, nas objetivará fazer uma breve, e por isso insuficiente,
duas últimas décadas do século XX, não conseguiu contextualização para posteriormente abordarmos a
incorporar nem mesmo os ingressantes da População proposta do governo do estado com o apoio da prefeitura
Economicamente Ativa (PEA) no mercado de trabalho, o da cidade, de construir muros para conter a expansão das
que acarretou conseqüências dramáticas para a favelas. Para tanto, subdividimos este artigo em três
precarização do trabalho e, conseqüentemente, também partes: inicialmente retornaremos ao final do século XIX e
para a crise urbana”. início do século XX para apontarmos o que seria
considerado o surgimento das favelas na cidade do Rio de
Foi com a introdução das políticas neoliberais, a partir de Janeiro, além de, também, abordarmos as transformações
1980, que esse processo ganhou força, já que houve uma realizadas durante a Reforma Passos, que promoveu
política de privatização, uma acumulação de bens e grande mudança na organização espacial da cidade; na
serviços em poucas mãos, o que acabou desestabilizando segunda parte trataremos da expansão das favelas – que
socialmente os países periféricos e lançando milhões de certamente seguem a expansão da própria cidade e dos
pessoas na informalidade. Para o sistema, segundo Davis empregos gerados por ela – , além de apontarmos também
(2006), eles são "óleo queimado", "zeros econômicos", as políticas de remoção; e, finalmente, chegaremos ao fim
"massa supérflua" que sequer merece entrar no exército de do artigo apresentando as atuais absurdas propostas de
reserva do capital. Essa exclusão pode ser percebida pela contenção do crescimento das favelas a partir da
crescente favelização que ocorre no planeta. Segundo construção de muros em seu entorno.
Davis (2006, p. 34), 78,2 por cento das populações dos
países pobres é de favelados e dados da CIA, de 2002, Sobre as origens das favelas
apresentavam o espantoso número de 1 bilhão de pessoas
desempregadas ou subempregadas favelizadas. A presença de casebres em morros da cidade data de 1865,
o que leva a argumentação de que já se tratariam de formas
No Rio de Janeiro a realidade não é diferente. Há um embrionárias de favelas. Isso porque a definição oficial
grande crescimento de favelas na cidade e dados oficiais inclui a conotação de adensamento, ilegalidade, pobreza,
(Instituto Pereira Passos - IPP) trazem a informação de que insalubridade e desordem. Segundo o Instituto Brasileiro
cerca de 20 por cento dos habitantes da cidade moram em de Geografia e Estatística (IBGE), esse tipo de habitação
favelas. Esse crescimento mais vertiginoso faz-se ainda encontra-se assim definido: “aglomerado subnormal
mais visível a partir da década de 1980 – conhecida no (favelas e similares) é um conjunto constituído de, no
Brasil como a década perdida, já que o crescimento foi mínimo, 51 unidades habitacionais, ocupando ou tendo
irrisório frente aos anteriores – e está associado a todos os ocupado até período recente, terreno de propriedade alheia
(pública ou não), dispostas de forma desordenada e densa, elemento-chave das relações de produção (...) é retomar
carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais”. um dos temas dominantes da ideologia burguesa segundo a
Sem entrarmos no mérito da definição, por si só qual só é ‘produtiva’ a atividade de produção da mais-
problemática, já na última década do século XIX, em valia”.
1897, surgiram as favelas nos morros da Providência e de
Santo Antônio, na área central da cidade. No último quartel do século XIX, as companhias de
bondes da cidade também tiveram importante papel na
A cidade do Rio de Janeiro tinha problemas seríssimos de produção do espaço carioca. Longe de representarem
falta de moradia e ainda assim não parava de crescer. Entre apenas companhias de transporte, estas participaram da
1903 e 1906, o Prefeito Pereira Passos promoveu uma conformação da espacialidade da cidade do Rio de Janeiro,
intensa reforma urbana, na qual foram demolidos vários pois a partir das alianças entre o capital externo, o capital
imóveis (grande parte deles de habitação popular) para imobiliário, o capital fundiário e o Estado, o espaço urbano
ampliação de vias e construção de “prédios modernos”, começa a ser (con)formado. Maria Lais Pereira da Silva
muitos deles de inspiração parisiense. Além disso, como (1992, p. 43) elucida tal colocação ao afirmar que, quando
voltaremos a falar posteriormente, o prefeito impôs novas da concessão para abertura das linhas para Copacabana e
e rigorosas normas urbanísticas que acabaram por Vila Isabel, ocorreram barganhas com o poder público que
inviabilizar inclusive os subúrbios para as classes mais implicaram em obras que modificaram o espaço urbano:
pobres que foram desalojadas da área central da cidade.
Nesse sentido, o novo já traz em si a sua própria negação. “a Cia. Do Jardim Botânico, por exemplo, executa o
Para complicar ainda mais, os meios de transporte eram desmonte de parte da ladeira de Santo Antônio para
precários, obrigando a força de trabalho a residir próximo alargamento da rua da Guarda Velha, sem falar nos túneis
com que a divisão de classes por entre os diversos bairros enaltece o que denominou “associação bonde-loteamento”.
da cidade fosse ligeiramente borrada. Assim é que Exemplificando essa forma de associação, afirma que o
observamos um grande número de favelas localizadas em bairro de Vila Isabel foi criado em 1873 pela Companhia
bairros nobres da cidade. Contudo, importa reconhecer que Arquitetônica, cujo proprietário era o mesmo da
a própria concepção “de morador do morro” e “morador Companhia Ferro-Carril de Vila Isabel, o Barão de
do asfalto” por si só já denota a divisão. Drummond. Visto isso, acreditamos que a apropriação e a
produção do espaço se dá segundo os interesses do Estado,
Houve, durante a constituição da organização espacial do capital comercial (nesse caso, mais especificamente os
carioca no decorrer do século XX, um comportamento já concessionários do setor de transportes), o capital
conhecido desde o século XIX, em que o Estado associou- imobiliário e o capital fundiário.
se ao capital privado em benefício das classes mais
abastadas da sociedade – sobre tal tema Jacobi (1989, p. Evidentemente, todas essas obras de extensão das linhas de
06-09) debruça-se com bastante clareza. É nesse sentido bondes, que contribuíram para a expansão da cidade,
que podemos afirmar, juntamente com Lojkine (1981), que demandavam grande quantidade de mão de obra. Esses
as formas de urbanização são, antes de tudo, formas da trabalhadores acomodavam-se nos canteiros de obra
divisão social e territorial do trabalho. Jean Lojkine (1981, durante a construção, porém quando esta chegava ao fim,
p. 122) acredita que “não considerar a urbanização como se não encontravam emprego em novas obras, tinham de
construir suas casas junto aos locais em que pudessem A partir da década de 1910, as favelas crescem mais
conseguir trabalho. intensamente e penetram a zona sul e o seu crescimento é
acompanhado, nessa mesma década, pela sua repressão.
Em se tratando das companhias de bondes, poderíamos Foi assim que presenciamos uma longa história de
afirmar que enquanto a Companhia Jardim Botânico remoções, desconsiderando um fato fundamental: durante
contribuiu para a ocupação da freguesia da Lagoa pelas toda a história o trabalhador buscou estar próximo ao local
classes abastadas, as demais companhias exerciam a de trabalho. E nesse sentido não é de espantar que a maior
função de integração da área central da cidade aos bairros parte das remoções não obteve sucesso, pois os moradores
proletários de Santo Cristo, Gamboa, Saúde e Catumbi. eram alocados em locais muito distantes e sem infra-
estrutura de transportes.
Roberto Lobato Corrêa (1995, p. 32) dá-nos exemplo da
associação desses agentes quando da abertura do Túnel Desde meados do século XX, a ocupação da cidade
Velho (que liga Botafogo a Copacabana) pela própria continuou seguindo o caminho traçado já no início desse
Companhia de Bondes do Jardim Botânico. Para esse mesmo século: o declínio da população residente na área
empreendimento foi criada a Empresa de Construções central era cada vez maior e enquanto os subúrbios
Civis, que acabou sendo a maior responsável pela absorviam as classes mais baixas da população, a zona sul
valorização do arrabalde de Copacabana. manteve-se como área preferida da classe mais abastada da
cidade. Durante a primeira metade do século XX a cidade
Nesse sentido, elucida-nos Elizabeth Cardoso (1986, p. 66)
se expandiu e em seu interior as favelas foram sendo
a propósito do que vinha a ser a Empresa de Construções
criadas. Era possível observar um crescimento vertical no
Civis. Constituiu-se de uma aliança de interesses comuns
centro e na zona sul, enquanto que nos bairros da zona
centrados nas valorizações fundiária e imobiliária.
norte e dos subúrbios a expansão deu-se através da
construção horizontal, principalmente de casas
“Eram seus acionistas vários proprietários de terras em
unifamiliares. Lílian Vaz (1998) enaltece o fato de que
Copacabana, vários bancos – Banco Luso-Brasileiro,
“nas décadas de 1940-1950 e seguintes assistiu-se à
Banco Brasil e Norte América, Banco Construtor do Brasil
expansão metropolitana e à formação das periferias”.
e Banco de Crédito Rural e Internacional –, pelo menos
Nesse período já havia forte pressão para a remoção das
uma empresa do setor industrial, a Companhia Nacional de
favelas e a população de baixa renda que optava por não
Forjas e Estaleiros, empresas comerciais, entre elas uma de
sofrer esse tipo de risco, tinha como alternativa as
exportação de café, outras empresas imobiliárias, como a
periferias cada vez mais distantes, onde se multiplicaram
Empresa de Obras Públicas no Brasil, que foi a maior
os loteamentos populares. Assim, segundo Vaz (1996),
acionista e a própria Botanical Garden”.
“nos lotes pequenos, sem infra-estruturas urbanísticas, de
Mas isso não é tudo, participaram também da Empresa de difícil acesso, e por isso mesmo, baratos, praticava-se a
Construções Civis um ex-Ministro da Agricultura, auto-construção. Assim, na produção dos novos espaços,
Comércio e Obras Públicas e dois prefeitos da cidade, destacava-se o binômio loteamentos populares e auto-
dentre eles Carlos Sampaio (também proprietário fundiário construção, e em menor grau, a produção de conjuntos
A expansão das favelas por toda a cidade e as políticas comércio e nem com sistema de transportes coletivos que
presente, onde o passado existe para ratificá-lo. curso culminou com a expansão da parte rica da cidade em
direção a São Conrado e Barra da Tijuca. Para tanto, o
Após essa explanação, podemos perceber de maneira mais Estado que se associou ao capital imobiliário teve
apropriada a forma pela qual a cidade do Rio de Janeiro se importante papel, pois incorreu em um enorme
expandiu. As primeiras três décadas do século XX investimento para a construção da Auto-Estrada Lagoa-
demonstraram notável expansão da tessitura urbana da Barra. Essa obra foi extremamente custosa, pois incluiu,
cidade. Nesse período, caracterizou-se o crescimento da para sua realização, a perfuração de vários túneis e a
cidade a partir de dois vieses: as classes alta e média construção de pistas sobrepostas encravadas na rocha.
ocuparam as zonas sul e norte, tendo no Estado e nas Nesse período, essas novas áreas da cidade, apesar de
companhias concessionárias de serviços públicos seus esparsamente habitadas, tiveram no Estado importante
maiores aliados; e por outro lado, os subúrbios cariocas agente para a produção do espaço. A partir da associação
caracterizaram-se como locais de residência do com o capital privado, seja na abertura de estradas e ruas,
proletariado, que, a partir do deslocamento das indústrias, seja na pavimentação e instalação de infra-estrutura, o
se dirigiu, também, para lá. Se as zonas sul e norte tiveram Estado investiu grandes somas de dinheiro na preparação
apoio do Estado, em se tratando dos bairros suburbanos a desse novo eixo de expansão da cidade. Em um período de
ocupação se deu sem qualquer apoio estatal ou das aproximadamente 40 anos – 1955 a 1999 – a Barra da
concessionárias. Dessa maneira, logo se percebia a Tijuca apresentou um crescimento surpreendente,
desigualdade sócio-econômica que se refletia na principalmente nos últimos 15 anos (Figuras 01, 02, 03, 04
espacialidade da cidade. e 05).
Pelo que vimos, o Rio de janeiro apresentou uma história A rede viária do Rio de Janeiro, juntamente com a
de crescimento urbano marcado por extensas periferias, construção imobiliária, tem se constituído como marco
em que residia a população de classe mais baixa, e por concreto do processo de produção e transformação do
forte desigualdade da oferta de infra-estrutura e de espaço urbano. A construção da rede viária contribuiu,
serviços, em benefício das áreas habitadas pelas classes segundo Mauro Kleiman (2001, p. 1597), para a
mais abastadas. Vetter e Massena (1982, p. 50), analisando configuração de seu padrão de segregação socioespacial.
a cidade, identificaram em sua dinâmica uma matriz Tal afirmação baseia-se na forma com que se deu
perversa de distribuição dos recursos urbanos, que
direcionava os investimentos públicos direta ou “a reestruturação do centro da cidade, suas ligações com
indiretamente para as camadas já mais bem servidas e de os bairros da zona sul, as ligações destas sem ter que
mais alta renda. Denominaram esse modelo de “causação passar obrigatoriamente pelo centro, com os demais
circular”, que, segundo Cardoso e Ribeiro (1996, p. 22), bairros do Rio, com vias de padrão de grande porte e
“passou a ser considerado pela literatura como técnicas sofisticadas, sendo constantemente melhoradas,
característico do nosso padrão de urbanização”. Harvey ampliadas, superpostas, onde se pode verificar seu nexo
(1980, p. 135; 1982, p. 11), já percebendo tal distribuição com os interesses do capital imobiliário e das camadas de
maior renda (situadas na zona sul, Tijuca e arredores e E se a cidade vêm crescendo em direção da Barra da
mais recentemente na Barra), opõem-se ao não provimento Tijuca (zona oeste litorânea), não é à toa que das 513
(...) das vias de utilização por camadas pobres, na Baixada, favelas registradas pelo IBGE na Região Metropolitana,
zona Oeste, Anchieta e Irajá”. mais de 100 estão concentradas na zona oeste. Não nos
surpreende que os números oficiais cheguem a afirmar que
Os investimentos em direção à Barra da Tijuca aproximadamente 20% da população da cidade vive em
continuaram com a abertura de novas vias de acesso: favelas.
Avenida das Américas (que se prolonga em direção ao
Recreio dos Bandeirantes) e a Avenida Alvorada (atual Paulo Bastos Cezar (Jornal do Brasil, 20 de dezembro de
Avenida Ayrton Senna). Tais avenidas favoreceram, 2002), pesquisador do Instituto Pereira Passos (IPP),
respectivamente, a expansão imobiliária em direção ao concluiu seu trabalho sobre o crescimento das favelas
Recreio e a acessibilidade maior a partir do bairro de afirmando que se a ocupação do Rio de Janeiro continuar
Jacarepaguá. Contudo, juntamente com os condomínios no ritmo em que está, em 2024 os condomínios e prédios
fechados construídos, houve também o surgimento e o de Jacarepaguá estarão todos cercados por favelas.
crescimento das favelas. Algumas, como no caso da Segundo o pesquisador, atualmente o bairro tem 113.227
Favela do Terreirão, bem próximas à praia e nesse caso favelados, ou seja, 22 por cento de um total de 506.760
tratando-se de favelas planas. moradores. Enquanto “a população favelada cresceu 12,53
por cento ao ano, a população normal [sic] cresceu em
No caso do Rio de Janeiro, como vimos anteriormente, a média 2 por cento nos últimos quatro anos”. Importante
articulação entre os agentes ocorreu desde há muito tempo frisar que grande parte da população favelada presta
atrás e continua a ocorrer. Apesar de o governo federal ter serviços no bairro vizinho: Barra da Tijuca. Fato é que o
anunciado sua intenção de concentrar seus investimentos crescimento populacional da Barra da Tijuca continua alto
em moradia para a população de baixa renda, as principais e, como no passado, tal crescimento gera uma demanda
construtoras que atuam na cidade têm-se dedicado à por serviços pouco qualificados, que atrai cada vez mais
construção para a classe mais abastada. Segundo população de baixa renda em busca de postos de trabalho.
levantamento da própria Associação de Dirigentes de
Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi/RJ), publicado Sinais concretos da exclusão: muros para conter o
pelo jornal O Globo (2003), 50,5 por cento dos novos crescimento das favelas
projetos – imóveis na planta, em construção ou que
acabaram de ficar prontos – custam hoje mais de R$ 251 Voltando os olhos para o período pós-1984, percebemos o
mil. Além disso, 23,7 por cento referem-se a unidades com que Lago (2001, p. 1534) denominou “elitização do
preços acima de R$ 400 mil. Curiosamente, o próprio mercado imobiliário carioca”, pois com a crise do Sistema
presidente da Ademi/RJ (Associação dos Empresários do Financeiro de Habitação (SFH) e praticamente o fim do
Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro) na época, Márcio financiamento para construção de habitações populares, a
Fortes, ao analisar o resultado do levantamento, afirma produção das grandes empresas passou a se concentrar
estar diante de uma grande distorção no sistema, já que em mais especificamente na Barra da Tijuca. Contudo, não
condições normais os imóveis avaliados acima de R$ 251 devemos esquecer que, na década de 1990, bairros como
mil não deveriam representar mais de 10 por cento da Botafogo, Lagoa, Jardim Botânico e Leblon começaram a
cinco anos – o que exclui a possibilidade de aquisição pela crescimento econômico no Brasil foi praticamente nulo,
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[Edición electrónica del texto realizada por Miriam-Hermi Zaar] FERREIRA, Alvaro. Favelas no Rio de Janeiro: nascimento, expansão,
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Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de
© Copyright Alvaro Ferreira, 2009
Barcelona, Vol. XIV, nº 828, 25 de junio de 2009.
© Copyright Biblio3W, 2009 <http://www.ub.es/geocrit/b3w-828.htm>. [ISSN 1138-9796].
Ficha bibliográfica