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Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA ANTONIO AUGUSTO BRANDAO DE ARAS, em 21/06/2021 15:59.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.855/DF


RELATOR: MINISTRO ROBERTO BARROSO
REQUERENTE: PRESIDENTE DA REPÚBLICA
INTERESSADA: GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE
INTERESSADO: GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO
INTERESSADO: GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ
PARECER AJCONST/PGR Nº 222771/2021

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
DECRETOS ESTADUAIS QUE ESTABELECEM
LOCKDOWN E TOQUE DE RECOLHER. AÇÕES DE
COMBATE À EPIDEMIA DE COVID-19.
PRELIMINAR DE PREJUDICIALIDADE.
TRANSCURSO DE VIGÊNCIA DAS NORMAS. NÃO
CONHECIMENTO. IMPROCEDÊNCIA.
1. O transcurso do período de vigência do ato
impugnado é causa para o reconhecimento da perda
superveniente do objeto da ação.
— Parecer pelo não conhecimento da ação direta de
inconstitucionalidade, por perda superveniente do
objeto.

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PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Excelentíssimo Senhor Ministro Roberto Barroso,

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de

medida cautelar, proposta pelo Presidente da República em face dos Decretos

30.596, de 21.5.2021, do Estado do Rio Grande do Norte; 50.752, de 24.5.2021,

do Estado de Pernambuco; e 7.719, de 25.5.2021, do Estado do Paraná, que

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estabeleceram medidas restritivas – lockdown e toque de recolher – no

combate à epidemia de Covid-19.

Eis o teor dos dispositivos impugnados:

Decreto nº 30.596, de 21 de maio de 2021, da Governadora do Rio


Grande do Norte:

Art. 1º Este Decreto estabelece medidas restritivas, de caráter


excepcional e temporário, destinadas ao enfrentamento da pandemia
de COVID-19 no âmbito da VI Unidade Regional de Saúde Pública
do Estado do Rio Grande do Norte (VI URSAP), no período
compreendido entre 21 de maio de 2021 a 6 de junho de 2021. (...)
Art. 3º No período de vigência deste Decreto, no âmbito dos
municípios elencados no parágrafo único do art. 1º, somente poderão
permanecer abertos, para atendimento presencial, os estabelecimentos
comerciais e de prestação de serviços que tenham por finalidade a
oferta de produtos e serviços a seguir relacionados:
(...).
Art. 4º Fica estabelecido "toque de recolher", com a proibição de
circulação de pessoas em todos os municípios relacionados no
parágrafo único do art. 1º deste Decreto, como medida de diminuição

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do fluxo populacional em ruas e espaços públicos e consequente


mitigação de aglomerações, nos seguintes termos:
I - aos domingos e feriados, em horário integral;
II - nos demais dias da semana, das 22h às 05h da manhã do dia
seguinte. (...).

Decreto nº 50.752, de 24 de maio de 2021, do Governador de


Pernambuco
Art. 1º Este Decreto estabelece regras complementares e mais
restritivas do que aquelas previstas no Decreto nº 50.561, de 23 de
abril de 2021, para os Municípios que indica.

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Art. 2º No período compreendido entre 26 de maio e 6 de junho de
2021, nos Municípios indicados no Anexo I, fica vedado, em
qualquer dia e horário, o funcionamento de estabelecimentos e a
prática de atividades econômicas e sociais de forma presencial, com
exceção daquelas listadas no Anexo II.

Decreto nº 7.719, de 25 de maio de 2021, do Estado do Paraná:


Art. 1º. O caput do art. 2º do Decreto nº 7.020, de 05 de março de
2021, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2º. Institui, no período das 20 horas às 5 horas, diariamente,
restrição provisória de circulação em espaços e vias públicas.”
Art. 2º O § 1º do art. 2º do Decreto nº 7.020, de 2021, passa a
vigorar com a seguinte redação:
“§ 1º A medida prevista no caput deste artigo terá vigência a partir
das 20 horas do dia 10 de março de 2021 até as 5 horas do dia 11 de
junho de 2021.”
Art. 3º. O caput do art. 3º do Decreto nº 7.020, de 2021, passa a
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3º Proíbe a comercialização e o consumo de bebidas alcoólicas
em espaços de uso público ou coletivo no período das 20 horas às 5
horas, estendendo-se a vedação para quaisquer estabelecimentos
comerciais.”

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O requerente argumentou que o lockdown e o toque de recolher

ultrapassam a amplitude das medidas sanitárias autorizadas pela Lei

13.979/2020, além de limitarem direitos fundamentais relacionados à

subsistência da população, como as liberdades de trabalho, de iniciativa

econômica e de locomoção, de forma unilateral e à míngua de anuência dos

parlamentos locais.

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Aduziu que a limitação do direito de ir e vir das pessoas, por

comando de autoridades do Poder Executivo, viola o princípio da legalidade,

sendo medida legitimada somente mediante a decretação de estado de defesa

ou de sítio, com pressupostos e características próprias, por iniciativa do

Presidente da República e com respaldo do Congresso Nacional.

Asseverou que “a implementação de qualquer medida restritiva, no

contexto do combate à atual pandemia, depende de lastro técnico idôneo, devendo ser

espacial e temporalmente limitada. E nesse sentido, aliás, os decretos aqui impugnados

não demonstram haver direta correlação técnica com os fins perseguidos, o que torna o

ato administrativo inválido pela ausência de indicação do elemento motivo, ou seja, não

há efetiva demonstração dos pressupostos fáticos e jurídicos que, supostamente,

embasariam a adoção das medidas”.

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Afirmou que as medidas seriam desproporcionais, considerado o seu

impacto sobre a ordem econômica, o emprego, a educação e a autonomia dos

cidadãos, com prejuízo à saúde física e emocional dos indivíduos.

Acrescentou que a desproporcionalidade da imposição das referidas

medidas restritivas ficaria ainda mais evidente quando considerado o

andamento do processo de imunização contra a Covid-19 no país. A respeito,

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defende que “o avanço da vacinação no país é fato superveniente juridicamente

relevante. À medida em que os grupos prioritários e a população em geral vai sendo

imunizada, mais excessiva (e desproporcional) se torna a imposição de medidas extremas,

que sacrificam direitos e liberdades fundamentais da população.”

Apontou, assim, afronta aos princípios da democracia, do Estado de

Direito, da legalidade e da proporcionalidade, bem como ofensa às liberdades

fundamentais de trabalho, de iniciativa econômica e de locomoção no território

federal (arts. 1º, IV; 5º, II; XIII, XV; LIV; e 170, todos da Constituição Federal).

Requereu a concessão de medida cautelar para a “suspensão

monocrática das medidas de lockdown e de toque de recolher administradas pelo Decreto

nº 30.596, de 21 de maio de 2021, da Governadora do Estado do Rio Grande do Norte;

pelo Decreto nº 50.752, de 24 de maio de 2021, do Governador do Estado de

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Pernambuco; e pelo Decreto nº 7.719, de 25 de maio de 2021, do Governador do Estado

do Paraná”.

No mérito, o requerente pediu a confirmação da cautelar.

Adotou-se o rito do art. 10 da Lei 9.868/1999 (peça 28).

Rede Sustentabilidade, Abrabar - Associação Brasileira de Bares e

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Casas Noturnas, Fábio de Oliveira Ribeiro, Confederação Nacional do

Turismo – CNTUR, Partido Trabalhista Brasileiro – PTB e José Renan

Vasconcelos Calheiros requereram a admissão no feito na qualidade de amici

curiae (peças 19, 23, 29, 37, 55 e 61)

Eis, em síntese, o relatório.

Preliminarmente, verifica-se que a ação está prejudicada.

Os decretos impugnados foram editados com tempo certo de

vigência, até 4.6.2021 (Estado do Rio Grande do Norte), 6.6.2021 (Estado de

Pernambuco) e 11.6.2021 (Estado do Paraná) e, embora atos posteriores hajam

prorrogado os efeitos dos dois primeiros, também por tempo exíguo (Decreto

30.631, do Rio Grande do Norte Decreto, e Decreto 50.778, de Pernambuco),

não houve aditamento da inicial para impugnação específica dessas normas,

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o que é causa para o reconhecimento da falta superveniente de interesse de

agir e perda de objeto da ação.

Em face do exposto, opina o PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

pelo não conhecimento da ação direta de inconstitucionalidade, por perda

superveniente de objeto.

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Brasília, data da assinatura digital.

Augusto Aras
Procurador-Geral da República
Assinado digitalmente

ARB/STA

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