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1. Introdução
Além das idéias acima referidas, o documento apontava que o aprendizado musical
deve ser entendido como um processo que se inicia no convívio familiar e se desenvolve
durante toda a vida em diferentes espaços e contextos, por meio de vivências e contatos
cotidianos com a música. Embora reconheçamos a importância destes processos não-formais
de musicalização, entendemos que os mesmos não são equivalentes para todos os sujeitos,
pois de acordo com Penna (1991), eles dependem de condições socioculturais individuais.
Assim, apontamos, em concordância com diferentes autores (LOUREIRO, 2004; PENNA,
1991; QUEIROZ, MARINHO, 2007), que a educação musical é fundamental para a formação
integral do indivíduo e desta forma, deve estar presente na escola pública, que por sua
abrangência é o espaço ideal para promover o acesso ao ensino musical a todas as classes e
indivíduos.
3. Eixos de atuação
A partir dos princípios acima referidos foram construídas as linhas de atuação para a
equipe de educação musical, estruturadas em três eixos: 1) Formação continuada dos
educadores; 2) Coordenação e desenvolvimento de projetos em educação musical; 3)
Implementação curricular do ensino de música nas escolas municipais (VITÓRIA, 2006)
As ações desenvolvidas neste eixo têm dois focos. O primeiro busca contribuir com a
ampliação dos conhecimentos musicais dos professores sem formação em música, uma vez
que vários destes profissionais, principalmente os que atuam na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental contemplam a música em suas práticas pedagógicas. Para
atender a este objetivo foram elaboradas três propostas de formação, a citar:
- Formação em Educação Musical nas Unidades de Ensino - busca aprofundar a
compreensão sobre a música, bem como o seu processo de ensino. Estes momentos
originaram-se de convites feitos pelas escolas, uma vez que as mesmas podiam definir os
temas que seriam abordados nas formações realizadas na unidade de ensino.
- Curso de Vivências em Educação Musical – CVEM - curso de formação fora do
horário de trabalho, oferecido a todos os profissionais das unidades de ensino. Objetiva lançar
luzes sobre os elementos intrínsecos da musica (ritmo, a melodia, a harmonia, andamento,
intensidade, timbre, etc.) por meio de vivencias musicais de criação (composição e arranjo) e
interpretação.
- Oficina de Educação Musical: Instrumentos, Corpo, Voz e Movimento – CVOM
-oficina proposta a partir das avaliações e sugestões de professores cursistas do CVEM,
interessados no aprofundamento em tópicos específicos: corpo e movimento, voz e canto-
coral, e a utilização de instrumentos (violão, flauta-doce e percussão).
Os cursos oferecidos para os educadores (sem formação inicial/específica em
música), são uma ação complementar, não substitutiva da necessária presença de professores
habilitados em Licenciatura em Música atuando na educação básica. Existe a clareza de que
os saberes específicos do professor de música devem ser valorizados e reconhecidos dentro de
um sistema de ensino.
O segundo foco do eixo de formação visa a realização de formações para os
profissionais que atuam diretamente nas aulas de música. Para tal, foram desenvolvidos os
seguintes cursos:
- Formações continuadas para Educadores Musicais - momentos disponibilizados
dentro da carga horária de trabalho dos educadores de música. Estes encontros possibilitam
espaços de estudos, reflexões e diálogos, que contribuem para a compreensão e
aprofundamento das concepções de educação musical que vêm sendo adotadas.
- Curso de Percussão para Educadores musicais - este curso buscou contribuir para
a ressignificação das práticas que envolviam a percussão, no âmbito de aulas de música
oferecidas nas unidades de ensino.
– I Seminário Municipal de Educação Musical - evento realizado em 2008, visava
discutir e avaliar a implementação do ensino de música em Vitória. Contou com a
participação dos professores Sérgio Figueiredo e Cristina Grossi, respectivamente, presidente
e vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), representantes de
Secretarias Municipais de Educação das cidades que compõem a Grande Vitória (Serra, Vila
Velha, Cariacica) e coordenadores e alunos dos cursos de licenciatura em música da
Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES) e da Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES), além dos educadores musicais que atuam nas unidades de ensino municipais.
- Formação de oficineiros de música do Programa Escola Aberta – esta iniciativa
visa integrar as práticas musicais promovidas pelo Programa Escola Aberta - que são
desenvolvidas nas escolas municipais nos finais de semana - com a proposta de educacção
musical que vem sendo implementada no horário regular. A formação busca aprofundar/
ampliar os conhecimentos musicais dos oficineiros por meio de vivências musicais que
possibilitam a troca de experiências e de materiais pedagógicos musicais. Os encontros são
desenvolvidos mensalmente e acontecem aos finais de semana nas unidades de ensino
atendidas pelo programa.
Cabe ressaltar, que atualmente (maio de 2010) a rede municipal de ensino de Vitória
apresenta 4.390 professores, dos quais aproximadamente 2.200 educadores já passaram por
alguma formação em música. A tabela abaixo detalha estes números.
Todas as ações formativas têm como foco proporcionar condições para ampliação e
aprofundamento do trabalho pedagógico que envolve a música (já existente e carente de
condições de formação), contribuindo para que as práticas de educação musical possam se
tornar mais consistentes, auto-reflexivas e conscientes de suas implicações para o
desenvolvimento cultural/global do indivíduo.
4. Considerações Finais
Dentre os vários desafios que estão postos para a continuidade do projeto apontamos a
construção/sistematização das diretrizes municipais para o ensino de música no município de
Vitória. Porém, garantir a continuidade e a ampliação da oferta das aulas de música frente à
falta de profissionais formados na área para atuar nas escolas municipais tem sido nosso
maior entrave. Temos clareza que esta dificuldade é compartilhada nacionalmente, pois a
demanda que emerge com a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas públicas
brasileiras é enorme, como nos aponta Fernandes ao afirmar que “a dúvida agora é saber
como isso ira acontecer nas 356.439 escolas de educação básica existentes no Brasil.”
(FERNANDES, 2005, p.1).
Contudo, temos consciência dos avanços, o que em muito se deve à presença de uma
equipe de profissionais licenciados em música na Secretaria Municipal de Educação, atuando
continuamente na construção e implementação da proposta.
Embora ainda não tenhamos realizado uma pesquisa sobre os desdobramentos das
ações, principalmente as de caráter formativo, no cotidiano das escolas, acreditamos que as
discussões realizadas têm sido essenciais para a ressignificação das concepções sobre música
e educação musical. Isto contribui para que as práticas de educação musical tornem-se mais
consistentes, auto-reflexivas e conscientes de suas implicações para o desenvolvimento
cultural/global do indivíduo, na perspectiva da música como linguagem e área de
conhecimento.
5. Referências
QUEIROZ, Luis Ricardo. S.; MARINHO, Vanildo M. Educação musical nas escolas de
educação básica: caminhos possíveis para a atuação de professores não especialistas.
Revista da ABEM, n. 17, set. 2007, p. 69-76.