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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

PODER JUDICIÁRIO
QUARTA TURMA RECURSAL

Padre Casimiro Quiroga, SN, Imbuí, Salvador - BA Fone: 71 3372-7460


ssa-turmasrecursais@tjba.jus.br

4ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS


DA BAHIA.

 
PROCESSO Nº 0003775-44.2019.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COOPERATIVA MISTA JOCKEY CLUB DE SAO PAULO
RECORRIDO: ADMILTON VASCONCELOS BATISTA
JUÍZO DE ORIGEM: 6ª VSJE DO CONSUMIDOR DE SALVADOR
JUIZ PROLATOR: ANGELO JERONIMO E SILVA VITA
JUÍZA RELATORA: MARIA VIRGÍNIA ANDRADE DE FREITAS CRUZ

VOTO EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE CONSÓRCIO. PEDIDO DE


DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS PELO CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA
DO CONSORCIADO. SENTENÇA QUE ORDENOU O CANCELAMENTO DO
CONTRATO, BEM COMO DETERMINOU A RESTITUIÇÃO IMEDIATA DOS
VALORES PAGOS. INSURGÊNCIA DA PARTE REQUERIDA. DEVOLUÇÃO
EM CONFORMIDADE COM O ENTENDIMENTO DO STJ. DEVOLUÇÃO
DEVIDA A PARTIR DO 31º DIA DO ENCERRAMENTO DO GRUPO.
SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

RELATÓRIO

 
1. Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos
demais membros desta Egrégia Turma.

2. A Recorrente, COOPERATIVA MISTA JOCKEY CLUB DE SAO


PAULO, pretende a reforma da sentença lançada nos autos, a qual condenou-
a para que efetue a devolução das parcelas pagas ao longo da permanência no
consórcio, de forma imediata, bem como ordenou o cancelamento do contrato
firmado.

3.  De imediato, cumpre asseverar que, o requerimento de restituição dos


valores pagos ao consórcio, mostra-se pertinente em razão do CDC, contudo,
cabe analisar se há procedibilidade dos pedidos constantes da exordial.

4. No que concerne à restituição dos valores pagos ao consorciado desistente,


a novel legislação que dispõe sobre o Sistema de Consórcio - Lei 11.795/08,
somente aborda, no seu art. 22, a possibilidade de tal restituição dá-se através
da contemplação em sorteio. Restando, portanto, silente quanto à possível
devolução imediata dos valores pagos. Saliente-se que os artigos da referida
lei que disciplinavam a restituição das parcelas pagas pelo consorciado
excluído do grupo (art. 29, §§ 1º, 2º e 3º do art. 30 e incisos II e III do art.31)
sofreram veto presidencial, configurando uma lacuna jurídica.

5. Cumpre destacar, no entanto, o entendimento do Superior Tribunal de


Justiça, REsp 1.119.300/RS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, nos moldes do art.
543-C do Código de Processo Civil: É válida a cláusula que prevê a restituição
dos valores pagos pelo consorciado desistente em até trinta dias após o
encerramento do plano.

6. Ratificando tal entendimento, o STJ reformou decisão prolatada pela 5º


Turma Recursal da Bahia, como se vê:

 
RECLAMAÇÃO. PROCESSAMENTO. RESOLUÇÃO 12/2009-
STJ. DISTRIBUIÇÃO ANTERIOR À RESOLUÇÃO 3/2016-STJ.
CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA OU EXCLUSÃO. RESTITUIÇÃO
DE PARCELAS. ENCERRAMENTO DO GRUPO. RECURSO
REPETITIVO. CONTRATOS CELEBRADOS APÓS 6.2.2009,
NA VIGÊNCIA DA LEI 11.795/2008. GRUPO DE CONSÓRCIO
INICIADO NA VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO ANTERIOR. 1. A
reclamação distribuída e pendente de apreciação antes da
publicação da Resolução-STJ 3/2016, que delegou
competência aos Tribunais de Justiça para processar e julgar
as reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão
proferido por Turma Recursal estadual ou do Distrito Federal e
a jurisprudência do STJ, deve ser processada e julgada por
este Tribunal, na forma disciplina da pela Resolução-STJ
12/2009. 2. Os fundamentos que basearam a orientação
consolidada pela Segunda Seção no julgamento do RESP.
1.119.300/RS, submetido ao rito dos recursos repetitivos
(CPC/1973, art. 543-C), no sentido de que "é devida a
restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao
grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta
dias a contar do prazo previsto contratualmente para o
encerramento do plano", aplicam-se aos contratos celebrados
na vigência da Lei 11.795/2008. 3. Hipótese, ademais, em que
o interessado aderiu, em dezembro 2009, a grupo de consórcio
iniciado antes da entrada em vigor da Lei 11.795/2008. 4.
Reclamação procedente. (STJ - Rcl: 16390 BA 2014/0026213-
9, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de
Julgamento: 28/06/2017, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJe 13/09/2017).

7. Ante todo o exposto, voto no sentido de CONHECER E DAR PROVIMENTO


AO RECURSO para condenar a ré na devolução dos valores pagos pela parte
autora ao final do grupo do consórcio, ou seja, após o 31 dia após o
encerramento.

Salvador (BA), Sala das Sessões, 12 de setembro de 2019.

MARIA VIRGÍNIA ANDRADE DE FREITAS CRUZ

Juíza Relatora
 

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima


epigrafado, a QUARTA TURMA, composta das Juízas de Direito MARY
ANGÉLICA SANTOS COELHO, MARIA VIRGINIA ANDRADE DE FREITAS
CRUZ e MARTHA CAVALCANTE SILVA DE OLIVEIRA, decidiu, à
unanimidade de votos, CONHECER e DAR PROVIMENTO ao recurso
interposto pela recorrente, COOPERATIVA MISTA JOCKEY CLUB DE SAO
PAULO, para condenar a ré na devolução dos valores pagos pela parte autora
ao final do grupo do consórcio, qual seja, após o 31º dia do
encerramento, correção monetária a partir de cada desembolso e juros de
mora de 1% a partir da citação. Sem condenação em custas e honorários em
face do resultado do julgamento.

Salvador (BA), Sala das Sessões, 12 de setembro de 2019.


 
MARY ANGÉLICA SANTOS COELHO
Juíza Presidente
 
MARIA VIRGINIA ANDRADE DE FREITAS CRUZ

Juíza Relatora

 
 

 
 

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