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Revista

Arqueologia Pública

Publicação Anual

no 1

2006

UNICAMP
NEE / ARQUEOLOGIA PÚBLICA

São Paulo, Brasil


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Editores
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)

Comissão Editorial
Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador, Havana, Cuba)
Andrés Zarankin (UFMG)
Gilson Rambelli (NEE/UNICAMP)
Nanci Vieira Oliveira (UERJ)
Ana Pinon (Universidad Complutense de Madrid, Espanha)
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)
Charles Orser (Illinois State University, EUA)

Conselho Editorial
Gilson Martins (UFMS)
José Luiz de Morais (MAE/USP)
Peter Ucko (Institute of Archaeology, UCL)
Laurent Olivier (Université de Paris)
Sian Jones (University of Manchester)
Martin Hall (Cape Town University, South Africa)
Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México)

Projeto gráfico
José Luiz de Magalhães Castro Neto

2
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

EDITORIAL

Arqueologia Pública é um conceito de recente desenvolvimento, resultado das transforma-


ções no âmbito das sociedades e das ciências, nas últimas décadas. Desde o fim da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), as diversas sociedades passaram por transformações profundas,
em particular com a emergência social de grupos como as minorias étnicas e as mulheres. Os
movimentos pelos direitos civis e pela emancipação feminina intensificaram essas tendências e
foram seguidos por múltiplos outros, tais como a luta contra o belicismo, pela liberdade de
opção sexual, pela liberdade política e social, em diferentes países. A década de 1980 viria a
consolidar essas novas realidades, com o questionamento da homogeneidade social e com a
luta pelo respeito e valorização da diversidade ambiental e cultural.
As ciências não deixaram de ser afetadas. A neutralidade da ciência foi questionada, assim
como a objetividade, herdada do positivismo, da pesquisa científica. Os modelos normativos de
interpretação da sociedade foram postos em cheque e a distância da ciência em relação à
sociedade foi criticada. Como resultado, as ciências passaram a interagir, de forma programática
e consciente, com os grupos sociais, visando a políticas públicas. No campo da Arqueologia,
estas mudanças levaram à constituição do Congresso Mundial de Arqueologia, em 1986, e à
interação entre arqueólogos e indígenas e membros das comunidades em geral.
No Brasil, a expressão Arqueologia Pública, surgida em âmbito anglo-saxão, ainda é nova e
pode levar a confusão. De fato, público, em sua origem inglesa, significa “voltada para o público,
para o povo” e nada tem a ver, stricto sensu, com o sentido vernáculo de público como sinônimo
de “estatal”. Ao contrário, o aspecto público da Arqueologia refere-se à atuação com as pessoas,
sejam membros de comunidades indígenas, quilombolas ou locais, sejam estudantes ou profes-
sores do ensino fundamental ou médio. A ação do Estado dá-se, de maneira necessária, por
meio da legislação de proteção ambiental e cultural que leva empreendedores – empresas priva-
das ou públicas – a custearem estudos de impacto ambiental e cultural. Nem sempre tais estudos
visam à ação pública, no sentido mencionado acima, de interação com as pessoas. Do nosso
ponto de vista – e esta revista serve a este propósito – a ciência não deve alhear-se da sociedade,
sob o manto diáfano do empirismo. A Arqueologia Pública, entendida como ação com o povo,
para usarmos uma expressão de Paulo Freire, permite que tenhamos uma ciência aplicada em
benefício das comunidades e segmentos sociais. A nova publicação está aberta a todos.

Pedro Paulo A. Funari


Erika M. Robrahn-González

A publicação deste volume foi possível


graças ao apoio da Companhia de Cimento
Ribeirão Grande (CCRG) que vem realizando
um programa de pesquisa em arqueologia
publica do Programa de Ampliação da Mina
Limeira, município de Ribeirão Grande / SP.
Ficam aqui nossos agradecimentos especiais
ao engenheiro Luiz Carlos Busato, que pron-
tamente acatou a idéia de tornar público os
resultados alcançados pelo trabalho.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

4
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Sumário

Artigos

7 A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha):


o desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño

19 Arqueologia, publico e comodificação da herança cultural: o caso


da cultura Marajoara
Denise Pahl Schaan

31 Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...


Marília Xavier Cury

49 O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem?
Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima
Gilberto da Silva Francisco

63 Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de


São Paulo: ações em arqueologia pública ligadas ao Projeto de
Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

Resenhas
123 Envisioning the past. Archaeology and the image.
Ana Maria Mansilla Castaño

125 Appropiated pasts. Indigenous peoples and the colonial culture of


Archaeology.
Ana Maria Mansilla Castaño

5
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

6
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 7-18.

A DIVULGAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM CASTILLA


Y LEÓN (ESPANHA):O DESAFIO DOS ESPAÇOS DIVULGATIVOS

Ana Maria Mansilla Castaño*

Resumo: O interesse pelo patrimônio e particularmente pela sua divulga-


ção é um fenômeno global. Na Espanha isto acontece nas últimas déca-
das. Neste artigo se analisa o caso de uma Comunidade Autônoma, Castilla
y Leon, caracterizada pela riqueza e diversidade do seu patrimônio. O
principal objetivo deste texto é a dimensão discursiva dos diferentes es-
paços divulgativos, museus, sítios arqueológicos e centros de interpreta-
ção, visando a avaliação de suas características e inter-relações. Enfatiza
os pontos fracos e as alternativas teóricas e práticas.

Palavras chave: patrimônio arqueológico – divulgação – Espanha –


Castilla y León

Justificativa e contextualização da tido como um campo marcado pela ação mais


pesquisa do que pela reflexão crítica.
Esta proposta centra-se numa Comuni-
Sob o ponto de vista disciplinar e social dade Autónoma, Castilla y León, especial-
é cada vez mais evidente o crescente mente atrativa por diversas razões: em pri-
protagonismo da divulgação arqueológica meiro lugar, por o significativo número de
(Ballart 1997, Ballart e Juan 2001), o que se sítios arqueológicos visitáveis, de caráter
vem concretizando no maior número de arti- marcante, alguns deles Patrimônio da Huma-
gos dedicados ao tema nas revistas nidade como Atapuerca (Burgos) ou Las
especializadas, na presença em congressos Médulas (León); em segundo lugar, pela ati-
e cursos de todo tipo, e claro, no significati- va política de divulgação arqueológica que
vo número de projetos de pesquisa arqueo- se vem realizando nela e, em terceiro lugar,
lógica que incluem, de uma forma ou outra, por não ser nenhuma das comunidades his-
um apartado específico sobre este tema, tóricas, como são Cataluña ou Galicia, cuja
embora não tenha atingido ainda esse dinâmica neste âmbito tem sido bastante di-
protagonismo na formação universitária. Mas ferente, com uma maior projeção e tradi-
este contexto não tem vindo acompanhado ção, em alguns casos.
de uma pesquisa no mesmo nível. Isto é, na A Comunidade de Castilla y León pode
Espanha em geral a divulgação se tem man- ser considerada paradigmática do papel que
tem o patrimônio na sociedade atual, pois
são coincidentes nela muitos dos problemas
(*) Escola Oficina de Restauro de Salvador e potencialidades que afetam o patrimônio
anamansillac@oi.com.br em sua relação como o turismo, a econo-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

mia, as políticas, o mercado de trabalho, a turismo cultural, tem um papel protagonista


pesquisa e os pesquisadores. Apenas recen- desde meados da década dos 90. A incorpo-
temente o patrimônio arqueológico começa ração de Espanha à Comunidade Européia
a mergulhar nesta densa rede de relações e tem tido uma grande influência na economia
conflitos de interesses. Em resumo, é agora castellano-leonesa, especialmente no âmbi-
que começa a adquirir uma maior visibilidade. to do patrimônio, através de programas de
A Comunidade Autónoma de Castilla y León financiamento europeu, entre cujos objeti-
está formada por nove províncias, Ávila, Burgos, vos encontra-se o desenvolvimento de zo-
León, Palencia, Salamanca, Segovia, Soria, nas rurais oferecendo ajudas a iniciativas que
Valladolid e Zamora, desde a aprovação do contribuam ao aprimoramento social e eco-
Estatuto de Autonomia, em 1981 (Figura 1). nômico de zonas desfavorecidas, criando
emprego e promovendo a fixação da popu-
lação nas ditas áreas.
Levando em consideração a riqueza e
variedade de sítios de Castilla y León, era
possível ter realizado um estudo mais deta-
lhado de algum exemplo significativo. No
entanto, o objetivo era poder oferecer tanto
uma visão de conjunto, quanto a posibilidade
de comparação com outros casos, mais que
incidir na singularidade, no caráter de unicum
de algum destes sítios. Neste sentido, a pro-
posta de análise dos discuros não é um aná-
lise de conteúdo stricto sensu, entendido
como o estudo detalhado quantitativo e qua-
litativo das mensagens a partir do discurso
Fig. 1 - Mapa de Castilla y León e seu referente divulgativo concreto de todos e cada um dos
Europeu. espaços divulgativos que integram a amos-
tra, ou de algum deles, também não é uma
Uma das principais características de “receita pronta” de projeto de divulgação do
Castilla y León é sua grande extensão geo- patrimônio arqueológico.
gráfica, quase 95.000 Km2 sendo uma das O objetivo não era esse, não se preten-
regiões mais grandes não somente da dia conhecer como se divulga um determi-
Espanha, mas da Europa. Isto em claro con- nado tema, às vezes recorrente, mas
traste com sua escasa população, apenas aprofundar o conhecimento sobre as
2.500.000 habitantes (Valdeón 1996: 36-38). práticas divulgativas aqui e agora, aten-
A isto se acrescenta um forte envelhecimen- dendo ao que se diz, o que se faz e o
to da população. Embora, haja uma tendên- que deveria ser feito. Toma-se para isso
cia ao equilíbrio frente a décadas anterio- os discursos como objeto de estudo, trata-
res, pois a população não tem descendido dos no seu sentido mais amplo, como con-
de forma marcante, por causa dos baixos cepção sobre um campo concreto, neste caso
índices de mortalidade e a menor incidência a divulgação, que articula tanto textos quan-
da emigração. A isto se acrescentam os efei- to espaços e ações. Dado que a disciplina
tos da imigração que acontecem nesta co- arqueológica amplia suas áreas de atuação
munidade, como também no resto do país. e neste sentido a divulgação é uma parte
Sob o ponto de vista econômico, a rele- fundamental, também precisa ser objeto de
vância da agricultura tradicional está dimi- pesquisa como os outros temas até agora
nuindo frente às pequenas empresas e ao prioritários, o que justifica uma pesquisa
setor serviços. O turismo, principalmente o deste tipo.

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño

Ante a falta de um quadro de referência da carga teórica, nem atacar os alicerces da


único se recorreu a elementos procedentes prática arqueológica processual. Embora, é
de diferentes disciplinas. Com efeito, é pro- claro, que o tipo de temas dos quais se tra-
blemático definir como museológica, arque- ta, os discursos e a ênfase em determinados
ológica, turística, sociológica ou antropoló- aspectos, como a dimensão social da disci-
gica esta pesquisa, mesmo que pela temática, plina enquadram-se nesta linha de pensa-
pelos aspetos que são tratados, pelas experi- mento das ciências sociais, não apenas ar-
ências prévias inspiradoras e pela metodologia, queológica. Nela a subjetividade, a relevân-
responda, de alguma maneira, a todas elas, cia da eleição pessoal e o pluralismo têm um
embora não seja de forma pura. Optou-se claro protagonismo. Neste sentido, as expe-
pela permeabilidade disciplinar que se con- riências tanto do âmbito anglo-saxão (Colley
siderou mais operativa que o bloqueio ante 2000, McManamom e Hatton 2000) quanto
a falta de uma etiquete adequada. Mesmo da América do Sul (Funari, Neves e Podgorny
arriscando não reunir stricto sensu as carac- 1999) têm sido influências marcantes. Um
terísticas mais ortodoxas dos estudos-tipo de tema como este e tratado sob este olhar so-
tais disciplinas. Era esta a alternativa para mente era possível neste quadro teórico de
poder realizar uma pesquisa que desse res- referência.
posta às perguntas feitas: Como se divul- No que diz respeito à metodologia, a
ga na prática? Houve uma transforma- opção pela etnografia tem sido uma decisão
ção nos discursos, ou são apenas mu- de caráter operativo. Embora possa se con-
danças formais conforme a uma políti- siderar uma aplicação heterodoxa, assumiu-
ca favorável à divulgação? se o olhar antropológico (Jociles 1999a: 8) e
Esta pesquisa procurava contribuir ao as técnicas de pesquisa próprias da etnografia.
avanço do conhecimento na disciplina arque- No entanto a aplicação destas técnicas, a
ológica tomando como objeto de reflexão um análise do discurso (Jociles 2000), as entre-
âmbito, o da divulgação, o qual no momento vistas (Sanmartín 2000) e a observação par-
atual não tem atingido o patamar de debate ticipante (Jociles 1999b) são uma versão mais
e o grau de amadurecimento alcançado já leve a respeito ao ideal proposto. No caso
em outros âmbitos. Finalmente, colocar os concreto dos espaços divulgativos, a coleta
discursos como centro de atenção deslocan- de informação in situ foi completada com a
do ao patrimônio arqueológico propriamen- aplicação das outras técnicas de pesquisa na
te, supunha a introdução de um novo olhar, abordagem de alguns aspectos da pesquisa
no qual a comunicação tem uma grande re- que não são o objeto deste artigo. Como são
levância. Entra aqui em jogo a dimensão os discursos dos agentes da divulgação, en-
pessoal, subjetiva e qualitativa. tre eles os diretores de museus, empresas
de arqueologia, servidores públicos da área
de arqueologia e pesquisadores, assim como
Algumas considerações teórico- a analise dos discursos de diferentes tipos
metodológicas prévias de materiais divulgativos, guias arqueológi-
cos, folders e outros (Mansilla 2005) e dos
Sob o ponto de vista teórico, embora discursos do público que visita esses espa-
seja difícil uma adscripção definitiva, esta ços divulgativos. É, pois, uma metodologia
pesquisa não pode se desligar das teorias imperfeita, suscetível de aprimoramento que
pos-processuais, inclusive do que autores poderá ser concretizada em próximas pes-
como Hodder (1999: 5) chamam de pos-pos- quisas. Embora não seja a metodologia óti-
processuais. Não se pretendia um seguimen- ma, tem sido operativa, partindo de experi-
to estrito de suas idéias. Também não se ências diversas, de clara orientação antro-
pretendia realizar uma pesquisa de profun- pológica, que permitiram realizar a análise

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

dos conjuntos discursivos e atingir conclu- possíveis incluir na análise. No momento atu-
sões válidas. al há mais de trinta aulas abertas (Val e
Escribano 2004). São estes os espaços
divulgativos mais novos, ubicadas perto dos
ANALISE sítios arqueológicos, em prédios de arquite-
tura rural ou prédios da comunidade atual-
Segue-se a análise dos discursos dos es- mente fora de uso, sendo seus principais ob-
paços divulgativos, museus, sítios arqueoló- jetivos: 1) complementar, embora não subs-
gicos e aulas arqueológicas. É este o tipo de tituir, os museus, 2) servir de explicação, pre-
discurso que têm uma maior incidência no parar e provocar a visita aos sítios e 3) obter
público ou uma maior visibilidade. O que se rentabilidade social e cultural nos lugares onde
denominou discurso dos lugares é um con- a Administração já tinha investido previamen-
junto amplo e complexo, formado por uma te. As aulas arqueológicas se caracterizam por
amostra que se considerou suficientemente seu pequeno tamanho, o protagonismo dos
representativa. Tanto sob o ponto de vista elementos visuais, auditivos e tácteis e a au-
quantitativo (10 museus, entre os quais estão sência de um acervo próprio, de serviços as-
inclusos aqueles que têm seções de arqueo- sociados de conservação, documentação e
logia e os estritamente arqueológicos, 36 síti- pesquisa de materiais originais.
os arqueológicos e 23 aulas arqueológicas), Optou-se pela limitação do número das
quanto qualtitativo, ao incluir na amostra os variáveis, mesmo que o potencial de análise
exemplos mais significativos das diferentes fosse muito maior, de forma que fosse pos-
províncias. No entanto, levando em conside- sível a comparação entre os diferentes es-
ração o caráter dinâmico da divulgação, no paços. Assim mesmo, isto obrigava a inclu-
momento de fechar a pesquisa abriram-se e, são de algumas variáveis quantitativas. Cada
com efeito, continuam a ser abertos ao públi- espaço introduz algumas nuances, mas as
co novos espaços divulgativos que não foram variáveis analisadas foram oito. (Figura 2).

Fig. 2 -Variáveis analisadas nos discursos dos lugares.

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño

A relação de alguma destas variáveis com um maior protagonismo do discurso vi-


com o discurso divulgativo pode resultar pou- sual, mas sem que tenha acontecido uma
co evidente, como é no caso da acessibilida- verdadeira transformação do discurso clás-
de (Espinosa 2002a, 2002b) ou das infra-es- sico. Este se articula basicamente no entor-
truturas, que podem nos fazer pensar mais no de cartazes, vitrines e objetos individuali-
numa simples descrição de que elementos zados. (Figura 3).
apresentam os diferentes espaços e quais 2. Sob o ponto de vista das atividades
faltam. No entanto, entendendo o término divulgativas, os museus são mais dinâmi-
discurso no sensu lato, não estritamente cos do que erroneamente se pensa. Com
linguístico, tais variáveis são significativas efeito, é no Museu de Ávila onde se têm re-
pois estão mostrando uma forma de enten- alizado algumas das mais interessantes ex-
der a divulgação, da qual desprende-se uma periências. Ao mesmo tempo, têm um gran-
determinada valorização da experiência e da de potencial neste sentido pelas suas infra-
relação com o público, neste contexto con- estruturas e acessibilidade, apesar das limi-
creto, ambas pouco valorizadas. tações de pessoal.
Da análise dos discursos dos museus, 3. A falta de estudos de público é
desprendem-se quatro conclusões: uma das grandes carências ainda hoje, tan-
1. As instalações museográficamente to nas exposições temporais quanto nas per-
recentes, como as dos Museus de Zamora e manentes, indo além dos comentários
Palencia, supuseram uma mudança formal emotivos e das referências numéricas que

Fig. 3 - Tipos de discursos expositivos.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

são tomados como marcadores do sucesso uma melhor aproximação ao patrimônio


das exposições (Asensio 1996, Asensio y Pol arqueologico, são quatro os elementos
2002a, 2002b, 2003, Asensio, Pol, Calderia y chave que necessitariam ser repensadas
Alteria 1999). Neste sentido, o público tem e melhor articuladas visando o acondicio-
um papel secundário. namento dos sítios:
4. Faltam, assim mesmo, estudos so-
1) A paisagem
bre as relações entre as exposições tem-
2) Os restos arqueológicos
porais e a exposição permanente, e seu
3) A própria experiência da visita
efeito no público (Kelly 2000), que incidam
4) Os materiais complementares
nas influências que podem ter sobre elas os
fatores externos. Principalmente naquelas de As aulas arqueológicas, o espaço
maior sucesso como foi o caso de Celtas y divulgativo mais novo, embora sua diferente
Vettones em Ávila (VV.AA. 2001) ou Atapuerca denominação responde de fato à mesma pro-
un millón de años em Burgos (Bermúdez de blemática comum aos centros de interpreta-
Castro, Arsuaga, Carbonell e Rodríguez ção. Seu crescimento como instrumento de
1999). geração de renda e emprego, bem como de
Em relação ao discurso dos sítios ar- dinamização turística, são objetivos nem
queológicos, até agora se tem atuado no sempre atingidos (Mansilla 2004 e e.p.,
nível macro, atendendo ao acondiciona- Mateos 2003).
mento dos sítios, sua conservação e sinali- 1. Observa-se uma certa uniformidade no
zação, no entanto, falta ainda o desenvol- que diz respeito ao tipo de discurso tex-
vimento do nível micro, isto é, dos deta- tual, embora com algumas diferenças na
lhes e da articulação entre os diferentes extensão das unidades textuais, no estilo, no
elementos para atingir uma divulgaçao efe- tom e no léxico. Nos diferentes elementos
tiva, integrando a sinalização, a informa- divulgativos das aulas, acontecem as mes-
ção in situ e os materiais complementares. mas fraquezas, inclusive na aula soriana de
Tem-se incidido principalmente nos carta- Antiqua Osma, a única que oferece uma visi-
zes. No entanto, isto não é suficiente, daí ta audio-guiada. De maneira que algumas
que uma boa divulgação nestes espaços das características que se observam nos dis-
passe por: cursos textuais dos cartezes e painéis, en-
1. Uma boa informação em todos os contram-se também nos vídeos. Há unani-
âmbitos, frente a situações como a vila ro- midade quanto à importância de reduzir a
mana de Navatejera em León, desconhecida extensão dos textos e evitar o excesso de
para a maioria dos turistas, apesar de sua termos muito específicos. No entanto, não
proximidade à cidade. se pode falar propriamente de um estilo típi-
2. Uma oferta adequada aos tipos de co da interpretação do patrimônio, mais di-
público reais, cientes e explicitando que nem reto, que chegue aos diferentes tipos de pú-
todo o público pode ter acesso a determina- blico, que apele aos conhecimentos ou ex-
dos sítios. Isto acontece com Ulaca em Ávila, periências prévios dos visitantes, que provo-
onde as própias condições físicas do sítio que o interesse, que suscite câmbios de ati-
numa altura elevada e de difícil acesso res- tude principalmente nas questões relativas à
tringem as visitas. valorização e proteção do patrimônio arque-
3. Uma boa comunicação com o públi- ológico. Não há mensagens diretas deste tipo.
co, através de recursos acessíveis física e 2. No que diz respeito aos conteúdos,
inteletualmente. as aulas parecem procurar um equilíbrio en-
Levando em consideração que a visita tre a introdução de novidades formais própri-
in situ em geral atende a diferentes as- as de um discurso expositivo contemporâneo
pectos como o conhecimento, as experi- (Figura 4) e a autoproclamada objetividade
ências e as atitudes, bem como favorece baseada nos dados, na pesquisa etc. Não são

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño

Fig. 4 - Recreação de ambiente romano. Aula Arqueológica Aguilafuente (Segovia)

apresentadas narrativas que resultem signifi- 3. A Imagem das aulas nao é homogê-
cativas para os diferentes públicos. Isto im- nea, nem sequer nas que formam parte das
plica um discurso que é muito historicista em rotas arqueológicas como a dos Valles de
alguns casos, no seu sentido mais tradicional Zamora, e sua articulação com outros espa-
e distante, muitas datas e dados, governantes ços divulgativos do patrimônio arqueológico
e um mundo masculino de batalhas, detalhe não está muito definida.
arquitetónico, tático e técnico, que se conecta 4. Falta uma adequada avaliação dos
pouco com a experiência quotidiana do visi- elementos expositivos, fundamentalmente
tante, como se aprecia principalmente nas das aportações reais dos elementos mais
aulas da rota das fortificações de fronteira em novedosos frente aos mais tradidionais. Aqui
Salamanca, as quais se afastam das atuais entraria o tão discutido tema da
linhas de pesquisa da arqueologia histórica interatividade.(Ramos 2003).
de autores como Lydon (1999) ou Funari Levando em consideração as caracterís-
(1998, 1999) nos seus diferentes contextos. ticas gerais dos discursos nos diferentes es-
No que diz respeito às expectativas, na paços, aprecia-se que são mais os elemen-
maioria dos casos nos quais o visitante não tos partilhados do que as divergências: (Fi-
tem uma idéia muito precisa do que vai ver, o gura 5).
grau de satisfação é elevado. Pelo contrário, 1. Observa-se uma semelhança estrutu-
se aprecia uma certa decepção quando as ral entre os diferentes espaços.
expectativas são maiores, como acontecia na 2. Existe uma desconexão entre o dis-
aula dedicada a Atapuerca. curso sobre o patrimônio e o papel do pró-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Fig. 5 - Discurso dos lugares.

prio patrimônio, o significado do passado na CONCLUSÕES E PERSPETIVAS


sociedade contemporânea.
3. Não tem havido uma transformação Chegados a este ponto, são mais as
do discurso divulgativo, que continua sendo questões que tem ficado pouco definidas, e
demorado no seu estilo e no seu ritmo, ca- também as linhas de pesquisa que ficam
rente de hierarquização, com um léxico pou- abertas com este trabalho, do que as res-
co adequado aos contextos e suportes. postas definitivas. Assim, em primeiro lugar,
Tem-se produzido mudanças formais, com não se estabeleceu uma tipologia clara de
a diversificação dos espaços divulgativos e discursos divulgativos, o que tem sido mais
a introdução de elementos expositivos con- uma reflexão voltada para os aspectos práti-
temporâneos. cos. Em segundo lugar, não se estabelece-
4. Nao se incide no significado nem no ram as representações sociais (Ibáñez 1988)
sentido dos discursos para os diferentes ti- nem relativas ao patrimônio arqueológico,
pos de público. nem à sua divulgação. De fato, não se defi-
5. Transmite-se uma imagem da arque- niram quais são as imagens do patrimônio
ologia como provedora de restos materiais, que estão sendo transmitidas ao público.
no entanto, seus praticantes estão ausen- Talvez por serem estas duas questões dife-
tes. Nao há uma mensagem patrimonial ex- rentes, uma o que é o patrimônio e como é
plícita. trasmitido, e uma outra, como é visto e en-
6. O passado se identifica com os restos tendido pelo público. No entanto, uma pri-
materiais, colocando num segundo plano as meira aproximação a este aspecto foi feita
sociedades. através do estudo piloto sobre o público.
7. A falta de avaliação e o desconheci- As linhas de pesquisa abertas são
mento do público são as duas carências mais multiplas, tanto aprofundando na dimen-
destacadas. são horizontal que permita a comparação

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño

entre diferentes âmbitos geográficos, 3. A aproximação ao olhar de outros


como na vertical, aprofundando em diver- coletivos, principalmente profissionais da
sos aspectos quase não tratados. Funda- educação, da mídia e do turismo.
mentalmente na ênfase dos aspectos que 4. A análise das imagens patrimoniais
mais incidem no fortalecimento das ima- populares, para poder estabelecer uma
gens populares sobre o patrimônio arque- melhor comunicação com o público visando
ológico, as atividades e materiais comple- a modificação de idéias erradas e a introdu-
mentares, os produtos à venda etc. e os ção de outras novas.
mecanismos que intervêm no dito proces-
so. Em definitivo, trata-se de colocar o Entre as propostas práticas podem ser des-
público em primeiro lugar, assumindo que tacadas:
o processo divulgativo não finaliza na
transmissão de determinados conheci- 1. A reorientação da formação, tan-
mentos. Pelo contrário, estes são re-ela- to no âmbito formal, universitário, onde com
borados ou rejeitados pelo imaginário po- efeito se estão incorporando cursos princi-
pular que, ao mesmo tempo, está incidindo palmente de pós-graduação, quanto no cam-
na valorização social do patrimônio num po não formal, através de uma formação
sentido ou noutro. continuada com oficinas de tipo prático des-
Com respeito à pergunta chave feita ini- tinadas às pessoas que estão em contato di-
cialmente, até que ponto se tem produzido reto com o público. Isto como uma forma,
uma transformação dos discursos divulgativos, ao mesmo tempo, de compartilhar experi-
ou apenas uma maquialhem formal dos mes- ências e melhorar a qualidade do serviço que
mos, as respostas são múltiplas: oferecem aos visitantes.1
1) As mudanças além dos aspetos for- 2. A potenciação da dimensão pes-
mais não são tão radicais. soal. Sucesso ou fracaso nas experiências
2) Ainda não houve o passo para um dis- dependem muito mais das pessoas do que
curso propriamente divulgativo. da dotação de infra-estruturas, como se pode
3) A divulgação do patrimônio arqueoló- apreciar no caso dos sítios arqueológicos de
gico ainda é um âmbito da arqueologia um Numancia (Soria) (Jimeno, Sanz, Benito e
pouco difuso. Torre 2004) ou Pintia (Valladolid) (Sanz et
4) Não se conhecem os diferentes tipos alii 2003) nos quais, graças ao entusiasmo e
de público. perseverância das equipes, conseguem-se
No entanto, são também numerosas as resultados muito bons. Neste sentido, é pre-
vias de atuação que se abrem para aprimo- ciso, de uma parte, considerar a divulgação
rar a divulgação, tanto sob o ponto de vista num âmbito no qual os estudantes precisam
teórico quanto prático. Entre o que se pode se formar, e de outro lado, é preciso ampliar
considerarcomo propostas teóricas, destaca- o contexto local na incorporação de novos
se: profissionais da divulgação, pois nem sem-
1. A análise dos discursos divulgativos pre é fácil poder contar com esses perfis nas
em outros soportes, Internet, CDs, o que populações pequenas.
permitiria contrastar até que ponto, em al- 3. A imagem que tenho apresentado da
guns casos, se mantêm algumas das situação atual da divulgação do patrimônio
caraterísticas que se encontram em supor- arqueológico em Castilla y León, partindo da
tes mais tradicionais como são os cartazes,
os folders ou as guias.
2. A autocrítica entre os especialis-
(1) É importante destacar o papel da Asociación para
tas em divulgação: a responsabilidade la Interpretación del Patrimonio no sentido de apri-
neste âmbito não corresponde apenas a morar a qualidade, a formação e a prática da inter-
quem fica fora da disciplina. pretação do Patrimônio.

15
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

analise dos discursos divulgativos, não é uma zas quanto as alternativas propostas não
imagem definitiva. Com certeza nos diferen- surgem da singularidade das próprias carac-
tes aspectos críticos aos que se fez referên- terísticas e da história particular de cada um
cia, se atenuarão e irão se corrigindo como dos espaços divulgativos. Trata-se mais do
resultado da própria prática divulgativa. Al- resultado da aplicação de uma metodologia
guns dos casos analisados se renovarão ou de análise que poderia ser extrapolada a
serão completamente substituídos com a in- outros contextos, com rumos bastante dife-
trodução de novidades que não foram rentes. Isto permitiria, assim mesmo, me-
indicadas. lhorar a definição e o ajuste da mesma para
Também não é a imagem de uma situa- superar as carências que se têm apresenta-
ção única, se considera que tanto as fraque- do neste caso concreto.

Abstract: The interest in archaeological heritage and particularly in its


popularisation is a global phenomenon. In Spain it is in the last decades
when this occurs. This paper analyses the case of one Autonomous
Community, Castilla y León, which is characterized by the richness and
diversity of its heritage. The main focus of this paper is the discursive
dimension of the different popularisation places, museums, archaeological
sites and interpretation centres, in order to evaluate their characteristics
and their inter-relations. Emphasizing the week points and theoretical and
practical alternatives.

Key words: archaeological heritage –popularization – Spain – Castilla y León

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18
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 31-48.

ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA


CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA

Denise Pahl Schaan*

Resumo: Este artigo centra-se na análise da apropriação pública da


herança cultural arqueológica marajoara, cuja reavivação, em um con-
texto capitalista, assume novos significados. O texto chama a atenção
para as expectativas do público sobre o passado e os entendimentos
incorretos causados pela difusão do jargão arqueológico. Propõe-se
que é necessário refletir sobre o papel do arqueólogo, historiador e
educador na criação de tradições culturais, assim como de nossas pró-
prias construções epistemológicas sobre o “outro” (o passado), enten-
dendo os contextos sociais, políticos e econômicos nos quais essa ati-
vidade acontece.

Palavras-chave: Arqueologia pública – cultura Marajoara – tradições


culturais – divulgação científica

“O termo ‘herança’ [cultural] é peri- mica, e na arquitetura paraense; 3) a cul-


goso: é um daqueles que a maioria das tura do caboclo e vaqueiro habitantes da
pessoas pensam que entendem, mas Ilha de Marajó. Em um sentido mais am-
raramente se dão ao trabalho de defi- plo, “marajoara” refere-se simplesmente
nir” (Carman 2005: 96). àquilo que vem da Ilha de Marajó e a seus
moradores.
Os três níveis de entendimento sobre o
INTRODUÇÃO que vem a ser a cultura marajoara sobre-
põem-se e confundem-se de diversas ma-
neiras. O discurso científico produzido so-
“Cultura Marajoara” é um termo que
bre a cultura arqueológica evoluiu e trans-
vêm sendo utilizado para denominar indis-
formou-se no decorrer de mais de cem anos
tintamente três tipos de fenômenos: 1) uma
de pesquisas, atingindo o público de manei-
cultura pré-colonial descoberta e estudada
ras diversas conforme a época e o tipo de
por arqueólogos; 2) um estilo estético de
informação veiculada. Ao mesmo tempo, a
inspiração arqueológica, representado em
audiência filtrou e selecionou informações
produtos artesanais, principalmente cerâ-
que julgou serem verdadeiras e/ou apropri-
adas; muitas destas informações eram sim-
plesmente hipóteses que foram mais tarde
(*) Museu Paraense Emílio Goeldi descartadas e desprovadas pelos cientistas,
denise@marajoara.com sem terem, no entanto, tido igual repercus-

19
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

são popular. As “histórias” resultantes, en- AS PESQUISAS CIENTÍFICAS E SUA RE-


tão, sobre a ocupação pré-colonial são re- PERCUSSÃO JUNTO AO PÚBLICO
criações realizadas com base na tradução
popular de argumentos científicos, na trans- A história da pesquisa científica na Ilha
figuração de hipóteses em fatos objetivos e de Marajó surge com as primeiras expedi-
na imaginação popular. ções de cientistas na região amazônica du-
Os entendimentos populares sobre o rante o século XIX e confunde-se com a pró-
que vem a ser a cultura marajoara são vei- pria história do desenvolvimento da arqueo-
culados oralmente, principalmente nos con- logia, da antropologia e da museologia no
textos de produção, venda e circulação de Brasil (Barreto & Machado 2001, Barreto
mercadorias artesanais cujos estilos esté- 1992). Ao final do século XIX, cientistas iden-
ticos, bastante diversos entre si, são reco- tificados com as teorias antropológicas
nhecidos como “marajoara”. Nos últimos evolucionistas e difusionistas (Derby 1879,
anos, a produção, venda e circulação cres- Ferreira Penna 1877, 1885, Marajó 1895,
cente desses produtos, impulsionada por Netto 1885) identificaram e escavaram al-
órgãos governamentais, não-governamen- guns sítios arqueológicos na Ilha de Marajó
tais, associações de classe e a mídia tem – os chamados “tesos” ou aterros (mounds,
estado associada a uma valorização do exó- em inglês), preocupados em recolher evidên-
tico, do antigo e do regional, o que se po- cias da existência de uma antiga civilização
deria chamar de uma busca das “raízes” avançada nas terras baixas tropicais.
ou da “origem” da cultura. Essa identida- Vem desta época a denominação de “cul-
de remota conferida ao produto contem- tura marajoara” para um conjunto de traços
porâneo vem dessa maneira “agregar va- culturais considerados “avançados” por seu
lor” ao objeto comercial, dentro da lógica contraste com as sociedades indígenas ama-
capitalista. zônicas então conhecidas e descritas
Dado o lapso de tempo decorrido des- etnograficamente. Estes traços culturais fo-
de o desaparecimento da cultura arqueo- ram descritos como: a) a construção de enor-
lógica relacionada a uma sociedade pré- mes colinas de terra (1 a 3 hectares em área
estatal baseada em relações sociais de e 10 a 12 metros de altura) sobre a área de
parentesco e sua apropriação por uma so- campos alagáveis da ilha; b) a produção e
ciedade capitalista que a reinvindica como uso de objetos de cerâmica de formas e de-
“passado”, pode-se dizer que se trata da coração complexas, tais como urnas funerá-
“invenção de uma tradição”, nos termos do rias, estatuetas, tangas, bancos, cachimbos,
que vem sendo proposto por Hobsbawm e diversos tipos de pratos, vasos e tigelas;
(1983) e outros. c) o enterro secundário diferenciado em ur-
Esse artigo pretende discutir essa tra- nas, indicando culto aos antepassados e su-
dição inventada, procurando dissecá-la em gerindo estratificação social; d) a presença
suas motivações, manifestações práticas, de objetos líticos que indicavam contato e
construções simbólicas e nas relações soci- trocas com regiões distantes; e) o uso de
ais que a partir dela são estabelecidas. Dada símbolos gráficos na cerâmica que pareciam
a participação do poder público e da comu- indicar, segundo alguns autores, o uso de uma
nidade de intelectuais na recriação da cul- escrita rudimentar (Netto 1885); f) a abun-
tura marajoara, pretende-se também ques- dância de representações femininas na ce-
tionar as motivações políticas e econômi- râmica, que foi por vezes interpretada como
cas que possam estar em sua base, assim prova de descendência matrilinear ou da exis-
como discutir o papel do arqueólogo, an- tência de um matriarcado. A maior parte da
tropólogo e educador na produção e literatura científica deste período foi
veiculação do conhecimento produzido pela publicada em periódicos no Brasil em portu-
pesquisa arqueológica. guês, disponíveis em bibliotecas durante o

20
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan

século XX, sendo, portanto, material acessí- dos em vários Estados brasileiros (Meggers
vel para pesquisa e divulgação. 1985, Simões 1977).
Durante a primeira metade do século XX, A pesquisa de Meggers e Evans baseava-
a arqueologia da Ilha de Marajó atraiu a aten- se no pressuposto teórico de que havia uma
ção de estrangeiros: antropólogos, jornalis- estreita relação de dependência entre desen-
tas e museólogos americanos e europeus volvimento cultural e ecologia. De acordo com
vieram conferir de perto as notícias sobre a a tipologia construída por Steward com base
civilização marajoara e obter objetos exóti- na etnografia e dados históricos do continen-
cos para seus museus. A literatura produzi- te, o grau máximo de evolução cultural possí-
da neste período (Farabee 1921, Lage 1944, vel no ambiente tropical era o de “tribo”
Lange 1914, Mordini 1936, 1947, Nordenskiöld (Steward 1948b). As tribos da floresta tropi-
1930, Palmatary 1950, Torres 1940) – quase cal, descritas por Lowie na introdução do vo-
toda ela em língua estrangeira - limitou-se a lume 3, bulletin 143 do Handobook of South
confirmar o que já havia sido escrito a res- American Indians foram consideradas como
peito da cultura marajoara e consistiu prin- o protótipo da sociedade tropical. Uma vez
cipalmente na descrição das escavações e que o ambiente tropical limitava o desenvolvi-
da cerâmica. Aumentou o número de sítios mento cultural, restava à arqueologia a tare-
conhecidos e a gama de objetos encontra- fa de mapear e identificar as culturas e pro-
dos nos mesmos. por hipóteses sobre movimentos populacionais
Este afluxo de estrangeiros despertou o destas sociedades semi-sedentárias.
interesse local sobre a riqueza arqueológi- Diversas destas culturas de floresta tro-
ca. Até então, os fazendeiros criadores de pical foram identificadas na Amazônia por
gado ainda não tinham dado importância às Meggers, Evans e seus sucessores. Essas
descobertas e permitiam a entrada em suas culturas eram descritas principalmente em
propriedades assim como as escavações por termos de sua produção cerâmica. A cada
parte de curiosos e estudiosos, fossem elas conjunto de traços cerâmicos distintos foi
feitas por arqueólogos ou não. A partir da dado o nome de “fase arqueológica”. As fa-
metade do século XX, então, estabeleceu-se ses que apresentavam traços semelhantes
de forma informal e esporádica um comér- foram agrupadas dentro de categorias mai-
cio de peças arqueológicas que acabou le- ores chamadas de “tradições arqueológicas”.
vando, ironicamente, tanto à destruição de Uma destas fases, no entanto, chamada
vários dos sítios assim como à projeção in- de “fase Marajoara” (a mesma cultura
ternacional da cerâmica e cultura marajoaras. marajoara que vinha sendo pesquisada des-
Ao final da década de 1940, dois antro- de o século XIX) não se encaixava dentro da
pólogos americanos, Betty Meggers e Clifford descrição de “tribo da floresta tropical”. De-
Evans, identificados com o nascente neo- vido às suas características complexas, as-
evolucionismo de James Steward realizaram semelhava-se mais àquelas chefaturas
uma extensa pesquisa no arquipélago de Circum-Caribenhas também descritas no
Marajó (Ilhas de Marajó, Caviana e Mexiana), Handbook (Steward 1948a). Uma vez que
assim como no então território do Amapá, não havia espaço no modelo para o desen-
identificando diversas “culturas cerâmicas” e volvimento autóctone de complexidade nos
estabelecendo uma cronologia do desenvol- trópicos, sugeriu-se que esta sociedade te-
vimento cultural na foz do rio Amazonas ria vindo das terras altas da América do Sul.
(Meggers & Evans 1957). A escola históri- Ao estabelecer-se no pobre ambiente tropi-
co-cultural ou da ecologia-cultural como fi- cal teria degenerado até o nível de tribo. Essa
cou conhecida, trouxe consigo toda uma “degeneração” era supostamente sustenta-
metologia destinada a mapear o passado da pela evidência empírica da existência de
arqueológico brasileiro, formando ao longo cerâmicas menos complexas nos níveis su-
de 20 anos profissionais com ela identifica- periores dos aterros, assim como por mu-

21
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

danças nas práticas funerárias, que teriam A escola histórico-cultural e seu


passado de enterro secundário à cremação, determinismo geográfico passaram a ser
com o uso de urnas menores. questionados quase que imediatamente nos
A reconstrução da ocupação pré-coloni- Estados Unidos por Robert Carneiro, Donald
al da Ilha de Marajó oferecida por Meggers Lathrap e posteriormente por seus alunos
e Evans teve boa aceitação dentro da comu- (Carneiro 1961, Lathrap 1970). No entanto,
nidade acadêmica e junto ao público, o que o domínio teórico-metodológico exercido por
se pode perceber pela popularização de al- Meggers, Evans e seus colegas brasileiros
guns termos e classificações tipológicas que impediu a produção de dados empíricos por
se tornaram correntes, sendo utilizados na meio de pesquisas de campo que os pudes-
descrição de objetos arqueológicos em mu- sem contestar (Roosevelt 1995). Além dis-
seus, catálogos e literatura menos especi- so, as monografias e artigos que questiona-
alizada em geral. A enorme monografia de vam o modelo ecológico eram herméticas e
doutorado produzida por Meggers e publicada publicadas em inglês, passando desapercebi-
pelo Instituto Smithsonian em inglês teve al- das pelo público brasileiro não-especializado.
gumas partes digeridas em português em A situação principiou a mudar somente no
uma publicação do então Instituto de Antro- final da década de 1980, com as pesquisas de
pologia e Etnologia do Pará (Meggers & Evans Anna Roosevelt - aluna de Lathrap - no rio
1954) além de ser constantemente citada em Orinoco, no baixo Amazonas e na Ilha de Marajó
publicações de outros arqueólogos brasilei- (Roosevelt 1980, 1987, 1991; Roosevelt, et al.
ros e em catálogos, maneira pela qual al- 1991). A partir daí a escola processual ameri-
cançou o público. O jargão arqueológico – cana e a ecologia histórica adentram o cená-
fases Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Aruã, rio. Esta última, principalmente através do tra-
Tradição Policrômica, tipos cerâmicos, Joanes balho de geógrafos, etnógrafos e etnoecólogos
Pintado, Pacoval Inciso, etc – foi absorvido veio a oferecer um novo paradigma para a in-
sem critério e com novos significados. O uso terpretação do desenvolvimento cultural na
do termo “fase” para identificar um conjunto Amazônia, que levaria em conta o papel ativo
de traços cerâmicos passou a ser usado como dos seres humanos na interação com o ambi-
sinônimo para “etnia” ou “tribo”. Os tipos ente tropical, modificando a paisagem e crian-
construídos para a classificação de fragmen- do uma ecologia antropogênica (Balée 1993,
tos cerâmicos, com vistas à construção de Posey 1985, Smith 1980).
cronologias relativas, adquiriram vida própria, Pode-se dizer que o trabalho de
passando a serem usados também para de- Roosevelt teve uma maior repercussão no
nominar as peças completas em acervos e, meio acadêmico e na mídia nacional e inter-
o que é pior, em exposições museológicas. nacional especializada, mas teve pouca pe-
Neste processo, a prática de utilizar arbitra- netração junto ao público leigo. Isso porque
riamente um topônimo para designar um tipo a maior parte de sua produção bibliográfica
cerâmico foi entendida de maneira equivo- está em inglês. Além disso, houve pouca
cada pelo público, que passou a entender a interação entre sua equipe de pesquisa e as
denominação do tipo cerâmico como indican- comunidades nas quais as investigações ar-
do a origem da peça. Por exemplo, os tipos queológicas se realizaram. Roosevelt pro-
“Joanes Pintado” e “Pacoval Inciso”, usados pôs que a cultura marajoara esteve relacio-
para designar respectivamente a cerâmica nada a uma sociedade complexa cuja ori-
policrômica e a cerâmica decorada com inci- gem poderia ser buscada no próprio baixo
sões sobre engobo branco foram tomados Amazonas. Estabeleceu a duração da cultu-
como indicando a procedência da peça – ra marajoara em 900 anos – de 400 a 1300
Joanes pintado seria a peça achada na vila depois de Cristo – e afirmou que o “cacicado”
de Joanes e Pacoval inciso a peça achada no marajoara estaria entre as mais importan-
aterro do Pacoval, junto ao lago Arari. tes civilizações pré-históricas das Américas.

22
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan

As pesquisas realizadas por nós desde mação científica de acordo com suas neces-
1994, inicialmente investigando a iconografia sidades e expectativas. Na medida em que
da cerâmica (Schaan 1996, 1997, 1999) e a cultura descrita pelos cientistas é conside-
depois aspectos da organização social atra- rada como o passado regional, o público apo-
vés de pesquisas de campo em diversos síti- dera-se da reconstituição deste passado
os da Ilha (Schaan 2004, 2005) têm tido uma agregando sua própria interpretação. No
repercussão e aceitação pública maior do que decorrer deste artigo, vamos ver como isso
as anteriores. Isso se deve tanto pela dispo- se dá em situações concretas.
nibilidade de textos em português (em revis-
tas especializadas, livros e na internet, no
site www.marajoara.com), como pelo con- A REINVENÇÃO DA TRADIÇÃO
tato com o público através de palestras, cur-
sos, curadoria de exposições museológicas Na década de 1970, o distrito de
e entrevistas dadas aos meios de comunica- Icoaraci, localizado a 20 km de Belém, ca-
ção. Nossa abordagem (que poderia ser clas- pital do Estado do Pará, abrigava diversas
sificada processual-cognitiva e em certa olarias, que retiravam sua matéria-prima
medida pós-estruturalista) diferiu das pes- junto ao rio Guamá e seus afluentes. A pro-
quisas anteriores em vários aspectos: a) Pro- dução era predominantemente de tijolos e
pôs uma leitura iconográfica estruturalista dos telhas, mas produziam-se também panelas
grafismos na cerâmica, identificando-a como e gamelas de barro. Morador de Icoaraci,
uma linguagem iconográfica com objetivos Raimundo Saraiva Cardoso, então com cer-
mnemônicos; b) Propôs um modelo diferen- ca de 40 anos, esteve nesta época visitan-
te do de Roosevelt para explicar a emergên- do uma exposição de arqueologia no Museu
cia de complexidade social. Enquanto Paraense Emílio Goeldi, em Belém – mal
Roosevelt preconizava o desenvolvimento de sabia ele que aquela visita iria mudar sua
uma agricultura intensiva, oferecemos um vida e de toda uma comunidade - e conta
modelo baseado na intensificação da produ- que ficou fascinado com os vasos, urnas
ção de recursos aquáticos, com modificações funerárias, estatuetas, enfim, a cerâmica
da paisagem como meio para incrementar a arqueológica da Amazônia, que não conhe-
produção de alimentos e possibilitar cresci- cia.1 De imediato associou aquela com a
mento demográfico e especialização; c) Iden- cerâmica que sua mãe fazia de maneira
tificou a existência de várias chefaturas ou artesanal, à moda indígena, quando ele ain-
sociedades regionais ao invés de apenas uma da era criança. Um pensamento cruzou sua
como sugerido por Roosevelt; d) Apresen- mente: se os índios puderam produzir algo
tou uma periodização do desenvolvimento tão exuberante apenas com o barro e as
cultural dentro da fase marajoara; e) Pro- matérias-primas existentes na mata, ele
pôs hipótese sobre a continuidade da cultura também poderia! Começou aí sua história
marajoara durante o período histórico com de mais de 30 anos de pesquisas sobre a
base em pesquisa realizada em sítios con- cerâmica arqueológica marajoara e tapajônica,
temporâneos ao contato. tempo durante o qual leu todos os livros,
Todas estas idéias foram veiculadas em artigos e matérias de revistas que pudesse
artigos científicos e de divulgação de alcan- obter. Mesmo sem o curso primário com-
ce público. Temos percebido, no entanto, pleto, garimpou bibliotecas e entrevistou ar-
que, ao mesmo tempo em que o público re- queólogos, buscando aprender sobre os pro-
conhece a legitimidade da pesquisa e a au-
toridade científica dos pesquisadores, os con-
teúdos são decodificados dentro de uma ló- (1) As informações constantes deste texto foram
gica particular. Ou seja, inconscientemente obtidas em entrevista com Mestre Cardoso em sua
ou não, o público absorve e veicula a infor- casa em Icoaraci em dezembro de 2005.

23
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

cessos indígenas de produção da cerâmica, dernizadas tendo em vista o caráter quase


entender seus contextos de uso e, de modo industrial da produção: os ceramistas usam
geral, conhecer a história dos povos que a tornos e tintas industrializadas, vernizes e
produziram. Valendo-se de um parente que instrumentos que eram desconhecidos aos
trabalhava no Museu Goeldi, conseguiu uma índígenas.
entrevista com o arqueólogo Mário Simões Poucos são os que têm consciência, no
e lhe falou sobre sua idéia de reproduzir entanto – produtores e consumidores – so-
réplicas da cerâmica arqueológica. Com a bre as diferenças entre a cerâmica arqueo-
oportunidade que se abriu de examinar as lógica e a contemporânea, especialmente
peças originais e produzir as réplicas den- porque ambas se chamam “marajoara”.
tro do próprio museu, Raimundo Cardoso Tenho ouvido as pessoas se referirem à ce-
conseguiu as condições necessárias para râmica tapajônica (a arqueológica é encon-
desenvolver sua arte e depois disseminá-la trada na cidade de Santarém), por exemplo,
em sua comunidade. como “Tapajoara”, e ainda não é claro para
De lá para cá, Mestre Cardoso, como é mim se se trata de um estilo híbrido ou se é
chamado, tornou-se um ícone da produção somente um nome novo que estão dando
cerâmica no Estado do Pará, com trabalhos para a cerâmica inspirada nos objetos da fase
seus vendidos inclusive para museus no ex- Santarém.
terior. Juntamente com sua mulher e filho, A maior parte dos ceramistas não teve
produzem ainda réplicas perfeitas de peças a oportunidade - diferentemente de Mes-
arqueológicas e é capaz de falar sobre a ar- tre Cardoso e outros - de produzir réplicas
queologia da Ilha de Marajó com a proprie- dentro do Museu Goeldi a partir de peças
dade de um pesquisador. Discute os dados originais; por esse motivo buscam inspira-
arqueológicos e hipóteses com o cuidado de ção em fotos e desenhos encontrados em
um estudioso e tornou-se uma referência livros e catálogos. Se, por um lado, a pro-
para o artesanato regional. dução artesanal veio a divulgar e chamar
A partir da produção de Mestre Cardoso a atenção para a cultura arqueológica, por
e dezenas de ceramistas que o seguiram, outro o faz de maneira equivocada. A ce-
estabeleceu-se um pólo de produção cerâ- râmica produzida em Icoaraci possui hoje
mica no Distrito de Icoaraci, que hoje expor- diversos estilos, incorporando inclusive
ta todo o tipo de peças cerâmicas para o Bra- grafismos da arte rupestre, especialmente
sil e o exterior. Surgiram outros pólos de após a publicação do livro “Arte da Terra”,
produção também em Santarém, no Amapá pelo SEBRAE em 1999, que contém textos
e na Ilha de Marajó. A produção e venda de direcionados ao público leigo, produzidos
cerâmica “arqueológica” torna possível hoje por três arqueólogas e uma antropóloga.
o sustento de centenas de pessoas, sendo Ao produzir artesanato de inspiração ar-
essa economia estimulada por órgãos públi- queológica, o produtor/vendedor se vale da
cos, privados, associações de classe e a relação com o bem cultural resgatado do
mídia. Isso permitiu a divulgação da “cultu- passado para agregar um valor cultural,
ra marajoara” principalmente (objetos de simbólico ao seu objeto, o que vem a ele-
outras culturas arqueológicas são também var seu valor como mercadoria. Dentro da
reproduzidos, mas em menor escala), ainda dinâmica do mercado, é visível que a pro-
que a maior parte das peças produzidas – dução vem tendendo a se moldar às exi-
mais de 90% - não sejam réplicas das peças gências e demandas do consumidor. Nes-
arqueológicas, mas obras de livre inspiração se sentido, as inovações passam pelo cri-
nos grafismos, formas e decoração arqueo- vo do mercado e passam a ser incorpora-
lógicos. Mesmo as técnicas de fabricação, das ou não ao estilo dependendo da possi-
que Mestre Cardoso teve o cuidado de re- bilidade de aumento de vendas. Quanto ao
produzir da maneira indigena, são hoje mo- valor simbólico, ao ser indagado pelo com-

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ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan

prador sobre os significados dos grafismos pessoas ficam bastante decepcionadas quan-
e a relação com a cultura arqueológica, do informo que as evidências apontam para
grande parte dos artesãos, com raras ex- um desenvolvimento local da cultura
ceções, não se dá ao trabalho de ir às fon- marajoara, o que é plenamente aceito hoje
tes, como fez Mestre Cardoso. Eles sim- pela maioria dos especialistas trabalhando
plesmente inventam. Ao fazer reviver a na Amazônia. No entanto, as hipóteses
cerâmica arqueológica, Mestre Cardoso lançadas pelos evolucionistas do século XIX
acabou inventando uma tradição. e aqueles profissionais ligados à ecologia
cultural da metade do século XX, de que a
sociedade marajoara havia se originado em
AS REPRESENTAÇÕES POPULARES algum local fora da floresta tropical são mais
bem aceitas e continuam sendo reproduzidas
Através de minha convivência com o pú- tanto na mídia quanto em trabalhos univer-
blico e artesãos através de cursos, entrevis- sitários.
tas, conversas, internet e observação da re- 3) O significado das representações na
lação vendedor - cliente em lojas de venda cerâmica. As pessoas têm necessidade de
de artesanato, entre outros, tenho observa- receberam respostas completas e imedia-
do que existe uma grande curiosidade sobre tas sobre o significado das representações
a cultura marajoara, que se manifesta parti- na cerâmica e não questionam a fonte da
cularmente com relação aos seguintes te- informação. É comum que vendedores de
mas: cerâmica contem estórias fantasiosas e cla-
1) A antigüidade da cultura marajoara. ramente produzidas no calor do momento a
O público demonstra um interesse muito clientes ávidos por significados para aque-
grande pelo antigo, particularmente pelo les objetos exóticos. Por exemplo, um tu-
“mais” antigo. Quando são informados que rista americano esteve recentemente em
a maior parte dos artefatos de cerâmica pro- uma loja de artesanato em Soure, na Ilha
duzidos pelas sociedades marajoara tem do Marajó, e comprou uma caneca de cerâ-
apenas mil anos de idade, ficam claramente mica onde havia a representação de um
decepcionados. Recentemente, em um sapo. O turista havia comentado com o ven-
fórum de debates, mencionei em minha pa- dedor que seu irmão iria-se casar. O ven-
lestra que, enquanto a ocupação da ilha de dedor então contou uma lenda sobre a ori-
Marajó remontava há 3.500 anos, a socie- gem daquela vasilha, que teria sido utiliza-
dade marajoara emergiu enquanto tal há da em cerimônias de casamento. Os noivos
1.500 anos atrás. Os dois profissionais que deveriam beber juntos ritualmente da mes-
me seguiram nas apresentações fizeram ma vasilha para demonstrar seu amor e fi-
menção à cultura marajoara afirmando res- delidade. O turista se encantou pela estória
pectivamente que “urnas marajoara tem mi- e levou a vasilha. Depois resolveu procurar
lhões de anos” e “aprendemos hoje que a saber mais sobre aquele ritual amazônico
cultura marajoara tem 3.500 anos”. Esse antigo, pesquisando na internet. Foi quan-
exemplo, vindo de profissionais de nível su- do entrou em contato comigo, relatando o
perior, que têm dificuldade de reproduzir cor- acontecido. Informei então que a tal vasilha
retamente o que acabaram de ouvir e de não era uma réplica de um objeto arqueo-
aceitar a pouca antigüidade da cultura lógico e que a lenda como tal também não
marajoara, é bastante ilustrativo do compor- era conhecida. Apesar de decepcionado, o
tamento do público leigo em geral. turista achou a estória engraçada. No en-
2) A origem da sociedade marajoara. tanto, não sabia agora se contaria a verda-
Uma pergunta que sempre me fazem em de aos noivos ou se manteria a estória do
entrevistas e conversas informais diz respei- vendedor que, segundo ele, era mais inte-
to à origem das populações marajoaras. As ressante.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

TRADIÇÕES INVENTADAS também fenômenos mais sutis podem ser


considerados. Segundo a mesma perspecti-
Recentemente, antropólogos e historia- va, como por exemplo, o uso de tradições
dores têm-se tornado cientes de que diver- antigas para novos propósitos ou também o
sas práticas que são consideradas tradicio- re-uso de elementos antigos em novos con-
nais são na verdade invenções recentes, textos. Especialmente tradições “extintas
freqüentemente utilizadas para servir a fins podem tornar-se tradições reinventadas” (op.
ideológicos específicos. Estas construções cit. :5-8) quando aparecem.
se dão na forma de tradições simbólicas ou Neste sentido, Hobsbawm (op. cit.: 9)
cerimônias de grande alcance popular, cujas distingue entre três tipos de tradições inven-
origens são tidas como distantes no tempo, tadas, cada uma com uma função distinta:
apesar de poderem ter sido inventadas em a) aquelas estabelecendo ou simbolizando
um curto espaço de tempo ou mesmo em coesão social e identidades coletivas; b)
um só evento. Antropólogos e arqueólogos aquelas estabelecendo ou legitimando insti-
têm alertado para o fato de que as preocu- tuições e hierarquias sociais; e c) aquelas
pações com o antigo, a busca do passado, é socializando pessoas em contextos sociais
sempre feita dentro das expectativas e com particulares. O primeiro tipo freqüentemente
propósitos políticos desenhados no presente se refere ou implica as duas seguintes tam-
(Carman 1995; Moore 1995). Desta forma, bém.
a recuperação de uma memória pretérita As tradições inventadas, ainda segundo
pode vir a servir a fins ideológicos, políticos Hobsbawm (op. cit. 12), usam as referênci-
ou econômicos. as ao passado não apenas para trabalhar
Eric Hobsbawm define as “tradições in- coesão social, mas também para legitimar
ventadas” como um conjunto de práticas, suas ações. Logo, historiadores e antropó-
normalmente governadas por regras aceitas logos devem estar cientes do uso político que
aberta ou tacitamente, de natureza simbóli- suas reconstruções do passado podem ter
ca ou ritual, que buscam inculcar certos va- na esfera pública. Depreende-se daí que
lores e normas de comportamento pela re- especialmente o trabalho de arqueólogos,
petição, que automaticamente implica conti- que se dedicam ao estudo do passado dis-
nuidade com o passado. De fato, onde é tante, tornar-se crucial em contextos políti-
possível, normalmente tenta-se estabelecer cos modernos em que se pretende negociar
uma continuidade com um passado histórico identidades nacionais e étnicas.
adequado... Entretanto, ainda que exista tal “Inventar” tradições com objetivos polí-
referência ao passado histórico, a peculiari- ticos não é tema novo na história e pode ser
dade das tradições ‘inventadas’ é que a con- demonstrado em sociedades arqueológicas da
tinuidade com ele é largamente fictícia. Em pré-história recente. O uso de enterramento
resumo, existem respostas a novas situações secundário e construção de estruturas
que tomam a forma de referência a velhas megalíticas é interpretado por arqueólogos
situações ou que estabelecem seu próprio como maneiras de reverenciar os antepas-
passado por uma repetição quase obrigató- sados ou o próprio passado heróico de um
ria” (Hobsbawm 1983: 1). povo, sendo usado para legitimar o poder e
Hobsbawm (op.cit.: 4) considera que sistemas de valor, assim como reforçar es-
existem tradições inventadas em diversas truturas hierárquicas na sociedade, perpe-
partes do mundo e que conjunturas de rápi- tuando uma determinada ordem social
da transformação social são mais propícias (Holtorf 1998).
para a criação de novas tradições, uma vez A representação do “outro” no passado
quie as velhas podem estar desaparecendo. (Carman 1995) é prática cotidiana dos ar-
Mas não somente novas práticas podem ser queólogos, que nem sempre se questionam
entendidas como tradições inventadas, mas sobre a legitimidade de sua construção, ao

26
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan

não se preocupar com os contextos sociais e A produção de conhecimento científico


políticos nos quais seu texto é produzido. A não se esgota com a pesquisa e a publica-
representação do “outro” no passado deve- ção de um trabalho, pois o pesquisador não
ria então ser um ponto de reflexão dentro de pode se furtar à responsabilidade pelas con-
projetos que colocam frente a frente cientis- seqüências e desdobramentos – na maioria
tas sociais e comunidade. das vezes inevitáveis, é claro –da difusão do
conhecimento, que dizem respeito à relação
que se estabelece entre cientistas sociais e
CONCLUSÕES público. No exemplo que mostramos sobre
o uso popular do jargão científico da escola
A cultura marajoara vem sendo traba- histórico-cultural fica claro que, se o pesqui-
lhada na mídia e nas representações popu- sador se furta em traduzir para o público a
lares como um estilo estético antigo que re- história do passado de uma maneira inteligí-
monta às origens das populações que habi- vel, esse mesmo público irá buscá-la dentro
tam o Estado do Pará. Nesse processo de dos museus e bibliotecas. Seguidamente me
recuperação de uma estética antiga, novos perguntam sobre os Ananatuba (fase
significados lhe são atribuídos, mediados Ananatuba, a mais antiga do Marajó segun-
pelo discurso arqueológico, pela história oral do Meggers & Evans 1957), sobre como eles
e pela imaginação popular. Esse processo, viviam e como desapareceram. Como expli-
sempre em construção, parece seguir uma car que Ananatuba é simplesmente uma fase
lógica capitalista onde a produção e venda cerâmica sem um necessário corresponden-
de objetos decorativos se potencializa gra- te étnico? Que aqueles povos somente desa-
ças ao acoplamento de um valor cultural. Na pareceram no imaginário dos arqueólogos
medida em que os significados são negocia- que os criaram? Em uma outra ocasião, um
dos com base em interesses econômicos, repórter que estava fazendo uma matéria
entretanto, a lógica do lucro impõe os limi- sobre uma cópia de dois metros de altura de
tes e possibilidades da reconstrução históri- uma urna feita por um ceramista em Icoaraci
ca, chegando-se a um resultado bastante me procurou para que eu falasse sobre a
diferente daquele mediado pelo conhecimen- importância da urna que, segundo ele, havia
to científico. sido encontrada em Joanes, na Ilha de
A cultura marajoara enquanto “tradi- Marajó. Ora, eu sabia que dificilmente a urna
ção inventada” possui muito pouco da re- teria sido encontrada em Joanes e suspeitei
ferência original ao passado e há uma ten- que a urna que estava sendo reproduzida era
dência crescente de diferenciação das duas uma urna do tipo “Joanes Pintado”, que de
coisas (passado e presente) sem que essa Joanes só tinha o nome infeliz, dado por ar-
diferenciação seja explícita. Isso se dá de queólogos na década de 1950 e reproduzido
duas maneiras: a) através da modificação à exaustão em catálogos e exposições
crescente de estilos e formas dentro do museológicas.
processo de produção de objetos cerâmicos A cultura marajoara que é reivindicada
contemporâneos atendendo às expectati- no Estado do Pará como parte da história
vas do mercado; e, b) através da trans- local não é, parafraseando Hobsbawm (2002:
missão oral do conhecimento produzido por 13), aquela que “foi preservada na memória
arqueólogos. A representação do passa- popular, mas a que foi selecionada, escrita,
do, mediada pela arqueologia, possui uma retratada, popularizada e institucionalizada
dinâmica própria que foge do controle dos por aqueles que tem a função de fazê-lo”. O
cientistas e cuja lógica pode ser encontra- interesse do público pelo passado é o que
da nas expectativas dos indivíduos sobre a nos mantém trabalhando, que justifica nos-
construção de um “outro” que está no pas- sos salários, bolsas de pesquisa e financia-
sado distante. mentos, portanto não é de se estranhar que

27
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

queiram acesso à história que produzimos. râmica inspirada em artefatos arqueológicos,


Mas assim como os arqueólogos desejam direcionando a participação das comunidades
alguma segurança em suas reconstruções o nesse sentido, em um processo não comple-
público leigo busca a história completa, o tamente consciente por parte dos educado-
quadro acabado. Isso porque existe um apelo res. O uso do passado para promover coe-
em prover esta história com um fio de conti- são grupal e identidade social não é uma es-
nuidade (fictício) que a liga ao presente, le- tratégia nova dos programas de educação
gitimando as produções contemporâneas. patrimonial, mas foi usada por toda a história
Talvez, como Hobsbawm (2002: 2) coloca, da humanidade com os objetivos mais diver-
sejam as incertezas e as constantes mudan- sos, dos mais nobres aos mais espúrios. Por
ças de nossa era que fazem com que os se- isso a necessidade de que a re-significação
res humanos tentem “estruturar pelo menos de objetos e práticas antigas dentro de con-
algumas partes da vida social como imutá- textos novos venha acompanhada pela cons-
veis e invariantes”. ciência dos processos históricos nos quais se
Não pretendemos com este trabalho es- insere e aos quais contribui, maneira pela qual
gotar uma discussão, mas chamar a atenção esta práxis pode vir a somar verdadeiramen-
para a existência de contextos sociais, políti- te para a construção de cidadania e identida-
cos e econômicos nos quais se dá a utilização de. O passado é sempre construído a partir
do conhecimento produzido sobre o passado, do presente e em função do presente. Como
uma vez que estes tendem a passarem des- disse Moore (1995: 51): “nossas representa-
percebidos. Os programas de educação ções criativas do passado são moldadas não
patrimonial muitas vezes colaboram na inven- pelo que sabemos ser verdadeiro sobre o
ção de tradições, especialmente na Amazô- passado, mas o que acreditamos ser verda-
nia, onde têm estimulado a produção de ce- deiro sobre o presente”.

Abstract: This article analyses the public appropriation of Marajoara


cultural heritage, which revival, in a capitalist context, produces new
meanings. The text call attention to the expectations of the audience onto
the past, as well as the mistaken understandings caused by the diffusion
of archaeological jargon. It is proposed that it is necessary to reflect on
the role played by the archaeologist, historian, and educator in the creation
of cultural traditions, as well as to question our own epistemological
reconstructions of the “other” (the past), being aware of the social,
economic, and political contexts in which this activity takes place.

Key words: Public archaeology –Marajoara culture – cultural traditions –


scientific diffusion

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30
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006. pgs. 31-48.

PARA SABER O QUE O PÚBLICO PENSA SOBRE ARQUEOLOGIA...

Marília Xavier Cury*

Resumo: O presente estudo se desenvolveu entre 2003 e 2005 no Museu


Água Vermelha de arqueologia regional, em Ouroeste, estado de São Pau-
lo, Brasil. Consistiu na tese de doutorado intitulada Comunicação Museológica
– Uma Perspectiva Teórica e Metodológica de Recepção, defendida na Es-
cola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.1
Neste texto, apresentamos para discussão alguns aportes da pesquisa de
maneira sintética e parcial.
A pesquisa se sustentou teórica e metodológicamente nas áreas de
museologia, comunicação e recepção. Quanto à museologia, foram focadas
essencialmente a expologia, expografia e educação patrimonial.

Palavras-chave: Comunicação da arqueologia – Comunicação


museológica – Exposição arqueológica. Educação patrimonial – Avaliação
museológica.

Introdução – A descoberta arqueológica senvolvida por uma equipe interdisciplinar


– antropólogos físicos, zooarqueólogos,
No ano de 1997, às margens do rio geoarqueólogos, arqueólogos especialistas
Grande e junto à Usina Hidrelétrica Água em grupos ceramistas e caçadores-coleto-
Vermelha – município de Ouroeste, Estado res4 – revelou uma situação arqueológica
de São Paulo – foram achados vários se- complexa e inédita, o que deveria ser de-
pultamentos humanos, posteriormente vidamente explorado.
identificados como pré-coloniais 2 A desco- Em 2002, sob a mediação do Ministério
berta gerou duas campanhas arqueológi- Público Federal, foi firmado o TAC-Termo de
cas entre 1997 e 19983 e a pesquisa de- Ajustamento de Conduta pelo prefeito muni-
cipal de Ouroeste e por representantes do
IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
(*) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universida-
de de São Paulo - maxavier@usp.br
(1) Sob a orientação da Profa. Dra. Maria Immacolata
Vassallo de Lopes. (4) São eles: Profs. Drs.: Erika Marion Robrahn-
(2) A identificação foi feita pela arqueóloga Maria González, coordenadora e especialista em grupos
Lucia Pardi. ceramistas; Marisa Coutinho Afonso, geoarqueóloga;
(3)O início dos trabalhos deu-se a partir do contrato Paulo Antonio Dantas De Blasis, especialista em
firmado entre a CESP e o MAE/USP (Contrato MMA/ grupos caçadores-coletores; Levy Figuti,
CESP – MAE/USP – 001/97) e da autorização do IPHAN zooarqueólogo; Eduardo Goes Neves, especialis-
concedida na Portaria 43, publicada no Diário Oficial ta em grupos ceramistas; e Sabine Eggers, antro-
da União em 24/9/1997. póloga física.

31
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

tístico Nacional, Ministério da Cultura,5 e da ficos. Esses anos de trabalho, sem dúvida,
A. E. S. Tietê S. A.6 resultaram em uma base científica consis-
De acordo com o TAC, várias ações de- tente para a aplicação museológica e, em
veriam ser tomadas quanto à preservação e decorrência disto, a criação de um museu
comunicação do acervo arqueológico. Em sín- comprometido com a população regional.
tese, promover o salvamento e monitoramento Como conseqüência – e porque não poderia
arqueológico, criar um museu de arqueolo- ser de outra forma – buscamos apoio às bases
gia regional, criar projeto de lei para uma concernentes ao nível de profissionalização
Política Municipal de Preservação do que uma instituição museológica contempo-
Patrimônio Arqueológico. rânea exige.
O Museu de Arqueologia e Etnologia da Independentemente do porte físico do
USP foi, então, convidado para o desen- Museu Água Vermelha – 250 m2 – a equipe
volvimento do salvamento arqueológico7 e de museologia9 buscou o aporte museológico
para a concepção e implantação daquele condizente com a relevância arqueológica e
que passou a ser chamado de Museu Água com a responsabilidade social que o museu
Vermelha. 8 passaria a ter na região.
Após a assinatura do TAC foi realizada As ações museológicas foram estruturadas
mais uma etapa de escavação e a análise a partir da operação do processo curatorial
arqueológica em laboratório. Em paralelo, – (a) aquisição do acervo; (b) pesquisa, con-
deu-se início aos trabalhos museológicos servação, documentação museológica; (c)
para a plena instalação do museu. comunicação (exposição e educação)10 – e
No dia 2 de setembro de 2003 foi inau- compreenderam diversos aspectos e um
gurado o Museu Água Vermelha e a exposi- cronograma: (1) elaboração da estimativa
ção de longa duração Ouroeste: 9 Mil Anos orçamentária – novembro de 2000; (2) rea-
de História. lização e discussão do programa
arquitetônico11 – março de 2001; (3) conclu-
são do projeto museológico-institucional12 –
Apresentação – Da arqueologia à abril de 2001; (4) elaboração dos sub-proje-
museologia tos para reserva técnica e para documenta-
ção museológica e da história institucional –
A pesquisa arqueológica nos sítios Água maio de 2002 a março de 2003; (5) avalia-
Vermelha transcorreu em alguns anos – en- ção técnica do edifício em construção – se-
tre as etapas de escavação, a análise tembro de 2002; (6) instalação da reserva
laboratorial e a redação de relatórios cientí- técnica e implantação do sistema de docu-
mentação – março de 2003; (7) treinamento

(5) A arqueóloga Maria Lucia Pardi.


(6) The AES Corporation adquiriu o controle acionário (9) Formamos a Equipe de Gestão Museológica com-
da CESP em 27/10/1999 em função do Programa Es- posta por Ana Carla Alonso, Aureli Alves de Alcântara
tadual de Desestatização. A Usina Hidrelétrica Água e Joana Montero Ortiz.
Vermelha é uma das 10 que compõem a AES Tietê S. (10) A aquisição/coleta do acervo e a pesquisa fica-
A., uma das empresas geradoras do grupo AES ram a cargo da equipe de arqueologia, ao passo que
Corporation. as ações de conservação preventiva, documenta-
(7) Os arqueólogos responsáveis foram os Profs. Drs.: ção, exposição e educação ficaram sob a responsa-
Paulo Antônio Dantas De Blasis e Erika Marion bilidade da equipe de museologia.
Robrahn-González. O primeiro é pesquisador do MAE/ (11) A autora do projeto arquitetônico é Cássia
USP e a segunda é colaboradora da empresa Docu- Magaldi.
mento Antropologia e Arqueologia. (12) As responsabilidades pelo projeto museológico
(8) O projeto museológico foi coordenado pela Profa. e programa arquitetônico foram divididas com a Profa.
Dra. Marilia Xavier Cury, museóloga do MAE/USP. Dra. Erika Robrahn-González, arqueóloga.

32
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

de conservação preventiva e documentação13 mensão sinérgica, quando cada uma de suas


– março de 2003; (8) elaboração dos sub- ações age simultaneamente sobre as outras.
projetos expositivo e educativo – maio a se- O processo curatorial é a cadeia operatória
tembro de 2003; (9) avaliação conceitual ou cíclica que compreende a formação do acer-
pré-avaliação – março de 2003; (10) monta- vo, pesquisa, salvaguarda (conservação e
gem da exposição e implantação do projeto documentação) e comunicação (exposição e
educativo – maio a setembro de 2003; (11) educação). O ciclo se fecha, sem nunca se
treinamento sobre expografia e educação – completar, com a comunicação, sendo que
junho e setembro de 2003;14 (12)inaugura- esta não é a última etapa do processo, ou
ção da exposição Ouroeste – 9 Mil Anos de seja, na sinergia a comunicação atua igual-
História – 2 de setembro de 2003; (13) início mente e simultaneamente e não como etapa
do atendimento escolar – 3 de setembro de posterior que se desdobra das outras.
2003; (14) avaliação da exposição – setem- Comunicação museológica – na contra-
bro a novembro de 2003; (15) conclusão da mão dos ideais que a hegemonia faz ques-
pesquisa de recepção da exposição15 – maio tão de manter – não consiste na absorção
de 2005. pelo público de um conhecimento transmiti-
do a ele pelo museu, como um indivíduo sub-
misso ao impacto da mensagem museológica,
A comunicação museológica no Museu ora passivo, ora reativo. Entretanto, a co-
Água Vermelha municação museológica não se encerra no
museu – o meio – e sim no cotidiano das
A exposição para um museu é a sua parte pessoas. A moderna teoria da comunicação
mais visível. É, também, o que torna uma fez deslocar as discussões dos “meios para
instituição preservacionista um museu, isto as mediações” culturais que ocorrem no co-
porque um museu preserva e comunica. Não tidiano das pessoas (Martín-Barbero 1997).
é possível, para um museu, prescindir de um Com isto, entende-se que o cotidiano do pú-
acervo, mas o acervo não o torna museu, o blico é o mediador da sua participação
que somente é possível com a comunicação interpretativa, ou seja, o público em museus
e, especialmente, com a exposição. Não é interpreta a partir da sua experiência
possível, para uma exposição, prescindir do vivencial. Indo além, entende-se que o pú-
acervo, pois corre o risco de perder o seu blico é participante do processo museológico
status privilegiado de linguagem museológica. porque ele traz para o museu a sua inter-
Nenhuma outra linguagem alcança ser aqui- pretação. Interpretar, para os esclarecimen-
lo que a exposição museológica é. tos devidos, é uma ação associada de forma
A dinâmica de um museu opera a partir indissociável à “leitura” e a “(re)significação”:
do processo museológico e este não é linear. não há leitura sem interpretação, do contrá-
Ao contrário, é cíclico e, além disto, uma ação rio não houve leitura de fato, pois ninguém
intervém na outra. Sendo um sistema, vale- lê exatamente igual ao outro. Ler não é sim-
ria a pena pensar este processo em sua di- ples decodificação de “palavras”. Por outro
lado, não há interpretação sem leitura (que
é o que permite a interpretação) e a inter-
(13) A partir de 2003 a Prefeitura de Ouroeste indi- pretação é, em si, recriação de significados,
cou três funcionários para cuidar do museu. Eles fo- ou ressignificação. Neste sentido, a comuni-
ram treinados pela equipe de museologia do MAE. cação museológica é comunicação dos sen-
(14) Todas as ações foram desenvolvidas pela Equi- tidos patrimoniais e as mensagens implícitas
pe Gestão Museológica. e explicitas em uma exposição são proposições
(15) A pesquisa de recepção faz parte de CURY, Marília
X. Comunicação museológica – Uma perspectiva teó-
de significados que serão (des)construídos,
rica e metodológica de recepção, tese defendida em reelaborados, negociados, trocados, pelo vi-
maio de 2005. sitante em atitude dialógica com o museu.

33
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

O projeto de comunicação do Museu questões: a postura evolucionista de alguns,


Água Vermelha – que engloba a exposição e periodização européia como referência em
a ação educação vinculada a ela – partiu outros, e – quando há um enfoque brasileiro –
destes pressupostos. o texto é de autoria de historiador desvinculado
Inicialmente, e entendendo que a recep- da produção em arqueologia. Os autores con-
ção é um processo que antecede e sucede a cluíram o estudo com a triste constatação de
visita a um museu e a uma exposição, foi que é do professor a incumbência de
realizado um estudo com um dos públicos desconstruir e reconstruir com seus alunos o
prioritários do museu: estudantes dos ensi- conhecimento sobre esse passado, recorren-
nos fundamental e médio.16 do, para tanto, ao museu de arqueologia como
Para a museologia, esta é uma das for- espaço de produção e comunicação arqueoló-
mas de avaliação museológica,17 que se en- gica (Vasconcellos et al. 2000: 237).
quadra nos chamados estudos de público, o Voltamos ao ponto de partida: são pou-
que denominaremos de pesquisa de recep- cos os museus; o professor recorre ao livro
ção. Assim, dentro da perspectiva da pes- didático, cuja mensagem precisa ser
quisa de recepção, foi desenvolvida uma ava- (des)construída por ele com base nas infor-
liação conceitual, preliminarmente à elabo- mações comunicadas pelos museus de ar-
ração da exposição, com estudantes. queologia!
Partimos da constatação que a comuni- Em síntese, não sabemos o que os bra-
cação institucionalizada da arqueologia está sileiros pensam sobre arqueologia. O que
na mão da escola e do museu. Sabemos, no sabemos (ou temos como hipóteses) é que
entanto, que há um descompasso entre a os brasileiros recebem informações superfi-
(pouca) quantidade de museus arqueológi- ciais e desconexas ou descontextualizadas;
cos e a amplitude e complexidade dos co- às vezes preconceituosas, importadas e, ou-
nhecimentos sobre arqueologia brasileira. tras vezes, fantasiosas.
Sabemos, também, que, na escola o profes- Em Ouroeste, os estudantes que partici-
sor, sem suportes outros, apóia-se no livro param da pesquisa conviveram nas ruas com
didático como instrumento para ministrar os arqueólogos, receberam alguma informação
conteúdos arqueológicos. Recente estudo sobre o que estava acontecendo e estavam
analisou “A abordagem do período pré-colo- bastante curiosos com o “cemitério de índio”
nial brasileiro nos livros didáticos do ensino em um dos sítios arqueológicos junto à Usi-
fundamental” (Vasconcellos et al. 2000) e nos na Água Vermelha.
apontou algumas vertentes a partir de um
conjunto de 12 livros de 10 autores, selecio-
nados ou por critérios mercadológicos (os Pesquisa de recepção: a
mais vendidos) ou pelo oficial (aqueles indi- avaliação conceitual
cados para a escolha pelos professores da
Rede Pública de Ensino para posterior distri- A pesquisa foi realizada em março de
buição gratuita aos alunos). Os autores, na 2003, e antes de iniciar a concepção da ex-
análise que fizeram, apresentaram diversas posição Ouroeste: 9 Mil Anos de História,
por meio da aplicação de um questionário
em estudantes da 7a e 8ª séries do ensino
fundamental e de 1º, 2º e 3º anos do ensino
(16) A pesquisa de recepção desenvolvida no Museu médio da E. E. Sansara Singh Filho. O obje-
Água Vermelha compreendeu duas etapas: a prelimi- tivo foi aferir o conhecimento que esses
nar à exposição e a pós montagem. Este texto apre- estudantes tinham sobre arqueologia e so-
senta a etapa preliminar e como esta se vinculou à
concepção da exposição.
bre o passado pré-colonial brasileiro. 298
(17) Quanto às formas de comunicação museológica, estudantes participaram dessa etapa da
vide Cury 2006. pesquisa de recepção.

34
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

Considerando que esta etapa da pes- tem apenas 52 anos de existência e 818 de
quisa tem interesse central na relação dos emancipação de Guarani D‘Oeste, da qual era
estudantes com a questão indígena, e nos distrito. De acordo com o censo de 2002, o
conhecimentos que eles possuem sobre município possui 6290 habitantes – sendo
arqueologia, organizamos as perguntas do 3159 homens e 3131 mulheres – e 5387 elei-
questionário para averiguação dessas tores (87% da população). Em 2004 ocorre-
questões. No entanto, não fizemos distin- ram 1073 matrículas no ensino fundamental
ção entre etnologia e arqueologia e índio e 419 no ensino médio. O município possui
dos períodos pré-colonial e contemporâ- três escolas de ensino fundamental, duas de
neo, até porque não há a presença indí- ensino médio e duas de educação infantil.
gena na região atualmente ou num pas- Destas apenas uma é particular.
sado próximo. A presença indígena existe Os dados coletados com os estudantes
nos nomes de algumas cidades, na refe- revelaram que apenas 13 (4,4%) nasceram
rência do rio Grande e no imaginário so- em Ouroeste e nenhum em cidades limítrofes
bre a cachoeira dos Índios (destruída para (Fernandópolis, Indiaporã, Guarani D’Oeste
a construção da usina). Essa “mistura” de e Paranapuã). 10,1% deles nasceram na re-
entendimento por parte do público e os gião (aproximadamente 150 km ao redor de
discursos que ela gera são construções, Ouroeste), ou seja, apenas estes dois
enunciações elaboradas e assimiladas. percentuais (na soma, 14,5%) têm vínculos
Não pretendemos levantar e analisar es- com a história regional e com a memória do
ses discursos - adentrar em suas cama- território, e os demais (81,1%) precisam
das e buscar suas raízes e estrutura de construir vínculos territoriais. 24,8% dos es-
funcionamento -, o que seria muito frutí- tudantes vivem há até 5 anos na cidade,
fero para a comunicação da arqueologia, 14,4% vivem entre 6 e 10 e 49,3% vivem 11
mas seria um estudo de profundidade – e anos ou mais.
de extrema necessidade – que a pesquisa Desses 298 estudantes, 144 (48,3%) são
em questão não comportou. do ensino fundamental e 154 (51,7%) do
Por outro lado, não consideramos, na ensino médio.
pesquisa, que a arqueologia seja um campo A idade desses estudantes varia entre 12
vasto que envolve a construção de conheci- e 18 anos. No ensino fundamental temos um
mento por meio de vestígios da cultura ma- grande número de adolescentes entre 13
terial, do passado pré-colonial ou colonial, e (47,9%) e 14 anos (25,7%). No ensino médio
mesmo do presente. Consideramos, sem temos uma concentração maior entre 15
entrar no mérito com os estudantes, a ar- (40,9%) e 16 anos (37%). Os dados de idade
queologia pré-histórica. não surpreendem, principalmente porque são
O questionário contou com questões com estudantes dos períodos da manhã e da tarde.
múltiplas escolhas, com espaços para justi-
ficativas ou esclarecimentos por meio de res-
postas abertas. A relação dos estudantes com
Os dados sofreram uma análise quanti- a arqueologia
tativa e tornaram-se fundamentais para a
concepção da exposição. Diversas questões foram feitas para le-
vantar o nível de conhecimento dos estudan-
tes sobre arqueologia. Uma delas foi se eles
A primeira fala dos receptores já estudaram, e quando, a pré-história bra-

Esta etapa do estudo revelou aspectos


importantes sobre a população jovem da ci- (18) Dados referentes ao ano de 2005, quando a
dade. Ouroeste é uma cidade jovem, pois pesquisa, quando a pesquisa foi concluída.

35
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

sileira. Dos que responderam sim (32,9%), E “Você acha arqueologia importante?”
a maioria aprendeu na escola em várias sé- 64,8% acham que sim, 25,2% não sabem,
ries entre a 4a. do ensino fundamental e o 7,7% acham que tem uma importância rela-
3o. ano do ensino médio, e alguns (1,3%) tiva e 2% não acham a arqueologia impor-
aprenderam pela TV ou com o pai. 6,4% tante. Dos comentários que fizeram, para
deles não se lembram em que séries apren- 27,8 % da amostra de 298 que responderam
deram. 18,1% dos estudantes responderam sim, da justificativa é que: a arqueologia é
que não estudaram, 47,3% não se lembram importante para que possamos descobrir/
e 1,7% não respondeu à questão. Nesta saber como viviam os antepassados (24,8%),
questão usamos o termo pré-história por ser ou para desvendar a nossa evolução e as
o mais familiar nos livros didáticos. origens da humanidade (3%). 7,4% acham
Procuramos, então, levantar o que eles a arqueologia importante porque ela desco-
sabem sobre pré-história por meio de uma bre coisas antigas. Para 13,1% da amostra,
questão direta. Pedimos a eles respostas di- a arqueologia é uma forma de aprender fa-
retas também, deixando-os à vontade para tos novos e diferentes, e para 4,7%, toda
ser sinceros, pois não estavam sendo testa- profissão é importante. Apenas 2% dos
dos. As respostas foram diretas: 52,3% dos respondentes acham a arqueologia impor-
298 estudantes responderam “não sei nada” tante para se saber mais sobre a história da
ou “não me lembro de nada”, sendo que região e do País. Apesar de considerarem a
63,9% dos 144 alunos do ensino médio tive- arqueologia importante, 9,7% dos estudan-
ram esta resposta, bem como 41,6% dos 154 tes não se justificaram. Aqueles que
dos alunos do ensino fundamental. Apenas relativizaram a importância da arqueologia
19,1% relacionaram a pré-história à existên- ou não a consideram importante, não mani-
cia de índios no passado (13,8%), a homens festaram interesse especial, acham-na cha-
que viviam em cavernas (1,3%), ou com um ta ou desconhecem o suficiente para mani-
modo de vida diferente do nosso, precisando festar opinião.
fazer fogo (1%), e que a pré-história foi an- Com relação ao interesse dos estudan-
tes da nossa colonização ou na Grécia (3%). tes com a disciplina arqueologia, 61,4% se
Alguns consideram que sabem pouco consideram interessados, 31,5% não se con-
(13,4%), e outros (2,3%) afirmaram que sa- sideram, 5,7% não sabem e 1,4%, mais ou
bem muito ou tudo. Nos dois casos os menos ou não respondeu.
respondentes não discriminam o “pouco” ou Indagados sobre os motivos do interes-
o “muito” que conhecem. 9,1% deles não res- se pela arqueologia, um terço aproximada-
ponderam. As respostas relacionando pré-his- mente da amostra manifestou ser uma pes-
tória a dinossauros não foram muitas, como soa curiosa por descobertas arqueológicas
se poderia supor: apenas 6,4% da amostra. (5,4%), gostar de ampliar seus conhecimen-
Quanto à questão: “O que é arqueologia tos (16,8%), sobretudo com estudos interes-
para você?”, uma parcela grande da amos- santes e importantes (12,8%). Muitos vêem
tra (34,6%) não sabe e 6% dela não respon- na arqueologia uma possibilidade para sa-
deu. Para os demais, (1) a arqueologia estu- ber sobre povos antigos (17,1%) e sobre os
da civilizações, ou povos antigos, ou seres antepassados (5,7%). 2,7% da amostragem
pré-históricos, ou os índios brasileiros acha a arqueologia legal e quer ser
(23,1%); (2) a arqueologia estuda coisas, arqueólogo(a). 3,7% acham a arqueologia
objetos antigos/do passado, estuda ossos interessante, mas não justificaram por quê.
(19,4%); (3) a arqueologia estuda ossos de Os motivos pelo desinteresse ou pouco
animais, como os dinossauros ou fósseis interesse pela arqueologia, diríamos, está
(9,1%); (4) a arqueologia faz descobrimen- relacionado à desinformação. Podemos su-
tos em vários países e é um trabalho bonito, por que eles (31,5% da amostra) não têm
uma coisa incrível (7,8%). interesse porque não conhecem ou não sa-

36
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

bem do que se trata (12,4%), não têm von- Quanto aos comentários daqueles que
tade (6,4%), não gostam de procurar ossos acham que é relativamente avançada, 8,7%
ou coisas antigas (1%), não gostam de terra da amostra não comentou, 4,7% relacionou-
(0,3%), não sabem o porquê do desinteres- a com a situação econômica do Brasil, e/ou
se (3%), ou não responderam (8,1%). Aque- à falta de recursos ou apoio governamental,
les que têm um interesse relativo (0,6%) 3,7% acha que há desinteresse interno e que
relacionam o não-interesse à falta de opor- as maiores descobertas são em outros paí-
tunidade ou à forma sem atratividade como ses, 1,7% acha que a arqueologia no Brasil
a arqueologia é apresentada. está avançando da mesma forma que em
Como já mencionamos, em 1997 houve outros países.
a descoberta do sítio-cemitério, e entre 1997 Daqueles que responderam que a arque-
e 1998, e depois em 2002 foram realizadas ologia brasileira não é tão avançada quanto
escavações arqueológicas. Isso teve alguma outras, 5,4% da amostra não justificou a sua
repercussão na cidade, pois a presença das opinião. Vários estudantes procuraram jus-
equipes de arqueologia foi notada e comen- tificativas externas ao Brasil: a tecnologia
tada. Além disso, a descoberta do cemitério externa é mais avançada (5,4%), a maioria
indígena foi amplamente noticiada e os ar- das descobertas é de fora (1,7%), os outros
queólogos fizeram um trabalho de extensão têm mais condições financeiras (0,7%), os
universitária com a escola estadual entre arqueólogos internacionais são mais compe-
1997 e 1998.19 Com base nisso, procuramos tentes (0,7%). 5,4% procuraram justificati-
averiguar se os estudantes correlacionavam vas internas: a arqueologia no Brasil está se
esses fatos a uma descoberta arqueológica. iniciando agora (1,7%), mal se houve falar
A pergunta feita foi: “Recentemente você nela e poucos a conhecem (1,7%), falta in-
soube de alguma descoberta arqueológica?” teresse em geral (1,3%), e incentivo do go-
74,5% da amostra respondeu não, 22,8% verno (0,7%).
respondeu sim, e 2,7% não respondeu. Dos Dos que responderam sim, 3,4% não
que responderam sim, apenas 12,4%, con- justificaram, 2,3% acham que aqui já ocor-
siderando a amostra total, relacionaram os reram descobertas e ainda há muito materi-
ossos dos índios e a machadinha achados na al a ser encontrado, 1,7% equipara o desen-
represa (Usina Água Vermelha) com uma volvimento da arqueologia no Brasil a outras
descoberta arqueológica. 4,7% se lembra- profissões, 1,4% entende que a arqueologia
ram de descobertas em caverna no Ceará é uma coisa só no mundo e que o Brasil tem
ou de outras no Oriente Médio, e 2,7% se capacidade de descobrir.
lembraram de descobertas paleontológicas 56% da amostra não teria interesse em
de dinossauros. 1% não se lembra e 2,7% fazer algum tipo de pergunta a um arqueó-
não responderam. logo, 19,5% gostaria de fazer alguma per-
Dando continuidade ao levantamento do gunta, mas não soube elabora-la no momen-
que sabiam sobre a disciplina, perguntamos to do preenchimento do questionário. As per-
se para eles a arqueologia brasileira era tão guntas que gostariam de fazer foram
avançada quanto em outros lugares. 54,3% categorizadas. A primeira categoria versa
da amostra não soube responder, 18,8% sobre a arqueologia e tivemos 8,6% de dúvi-
acha que é relativamente avançada com re- das. As perguntas eram sobre: O que a ar-
lação a outras localidades, 18,1% acha que queologia estuda? Como e quando surgiu a
não, e 8,7% acha que sim. arqueologia? Há quanto tempo há arqueolo-
gia no Brasil? Como se descobre alguma coi-
sa? Como se sabe a idade de alguma coisa?
(19) Tendo ocorrido há 5 ou 6 anos, os estudantes da
Como se descobre como eram os seres a
pesquisa não foram, muito provavelmente, especta- partir dos restos mortais? Na segunda cate-
dores desse trabalho de extensão arqueológica. goria temos perguntas mais relacionadas à

37
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

profissão ou ao desempenho do arqueó- objetos deixados por eles e que foram so-
logo (4,6%) como: Por que você se inte- terrados”, 90,6% consideraram a afirmativa
ressa por arqueologia? Como eu poderia verdadeira, 4,7% a consideraram falsa, e
me tornar um arqueólogo? Posso partici- 4,7% não responderaram;
par de uma escavação com você? O que - para a afirmação de que “os arqueólo-
você mais gosta de pesquisar? É difícil gos são grandes aventureiros”, 77,9% acha-
exercer essa profissão? Numa terceira ram que sim, 15,4% acharam que não, e
categoria temos curiosidades (4,1%) 6,7% não responderam.
como: Qual a sua descoberta mais inte- - para 44% da amostra, “um dos arque-
ressante? Qual foi o objeto mais antigo ólogos mais conhecidos é Indiana Jones”,
que você descobriu? Você já achou algum para 42,3% ele não é um dos mais conheci-
osso estranho de alguma coisa desconhe- dos, e 13,8% não responderam.
cida? Perguntaria sobre o peixe na caver- Por outro lado, muitas pessoas levadas
na, se existiu múmia no Brasil e quando e pela falta de conhecimento sobre o passado
quantas ossadas já descobriu, qual foi a pré-colonial do Brasil compararam o nosso
surpresa quando soube do cemitério [junto passado ao de outros locais depreciando o
à Usina Água Vermelha]. Na quarta cate- índio brasileiro. Assim, declararam que:
goria as questões são sobre as culturas - “No Brasil não viveram civilizações im-
descobertas pela arqueologia (2,3%): Há portantes como maia, asteca e inca”, para
quantos anos os índios vivem no Brasil? 56,4% essas idéias eram falsas; para 36,6%,
Gostaria de saber mais sobre os povos de eram verdadeiras, e 7% não responderam.
antigamente? Quais foram os primeiros Todas essas questões de “verdade ou
povos que habitaram a região? Como era mentira”, “acredito ou não acredito”, “con-
a vida dos índios? A quinta categoria agru- cordo ou não concordo”, nos dão uma pri-
pa questões sobre dinossauros e sobre meira informação que mereceria ser
fósseis (3,4%): Já foram encontrados ou- aprofundada. Ao indagar sobre esses pon-
tras espécies sem ser de dinossauros? Já tos, apenas tiramos uma primeira camada
achou algum dinossauro? Você assiste ao de muitas outras que constituem o modelo
“Mundo do dinossauro”? Na região teve algu- que o brasileiro tem sobre o passado pré-
ma espécie de dinossauro? Como descobri- colonial, e em certa medida, sobre o próprio
ram os ossos de dinossauros? Qual foi o pri- brasileiro.
meiro fóssil descoberto? Uma pessoa queria
saber qual seria o nome do museu.
De outras experiências de atendimento A relação dos estudantes com o
a público escolar, sabemos que é (ou era) índio brasileiro
comum os estudantes relacionarem o pro-
fissional arqueólogo ao personagem fictício do Essa abordagem - o índio brasileiro - é
cinema Indiana Jones. Também correlacionam muito ampla e complexa e não tivemos a in-
a arqueologia à busca de tesouros, contri- tenção nesta pesquisa de conhecê-la a fun-
buição negativa do cinema à ciência e à le- do, ou de esgotá-la. Interessou-nos, no en-
gislação e preservação patrimoniais. Assim, tanto, sentir um pouco do que os estudantes
elaboramos algumas perguntas para constatação pensam e sabem para levantar pontos de
disso. Indagados se eram verdadeiras ou aproximação e/ou de distanciamento, consi-
falsas as afirmações de que: derando que a história da região cruza com
- “Os arqueólogos procuram tesouros de as ocupações indígenas pré-coloniais.
outros povos” 59,7% a consideraram falsa, Como já afirmado anteriormente, não
33,9% verdadeira, e 6,4% não responderam; levamos em consideração a distinção entre
- “Os arqueólogos procuram conhecer o arqueologia e etnologia porque o público tam-
modo de vida de povos antigos por meio de bém não a faz.

38
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

Para começar, foi feita a afirmação: “An- Quando indagados sobre: “O que você
tes da chegada de Pedro Álvares Cabral em sabe sobre os índios que moraram na região
1500, o Brasil já era todo ocupado por índi- de Ouroeste?” 80,9% responderam que não
os”, e pedimos aos adolescentes que disses- sabem ou não se lembram de nada. Quanto
sem se para eles era verdadeira ou falsa. aos demais da amostra, 8,4% disseram que
Para 51,7% a afirmação é verdadeira, para a região foi habitada por índios há muitos
32,2% é relativa, e para 12,4% é falsa. anos; para 2,3% eles moravam na cachoei-
Solicitei que comentassem a resposta. ra dos Índios; na opinião de 1,7%, eram ín-
Dos que consideram a afirmativa verdadei- dios comuns que caçavam e pescavam, eram
ra, 31,9% não comentaram e os outros trabalhadores; e no entender de 0,3%, os
(19,8%) consideram que os índios eram os índios moravam em cabanas ou em (0,3%)
primeiros habitantes e donos do Brasil, que casas simples de pau-a-pique e palha, em
havia muitos deles, que travavam guerras grandes aldeias; para 0,3%, dominavam o
entre si e foram assassinados ou foram su- fogo; para 0,3%, faziam sepultamentos. Eram
mindo após o descobrimento. Os estudantes os tupi-guaranis (0,7%). Alguns estudantes
têm provas disso: o cemitério junto à usina conhecem evidências de índios na região,
é uma evidência; a história e os professores como os ossos achados recentemente
comprovam também. (3,4%), o avô que falava que eles escreviam
Dos que acham que é uma verdade rela- em pedras (0,3), e porque algumas cidades
tiva, 17,8% não comentaram e 14,4% acham têm nomes indígenas (1,3%). Um aluno acha
que só uma parte do Brasil era ocupada ou que eles foram embora quando explodiram
quase todo e não tudo, só no litoral, as ma- a cachoeira dos Índios, um outro viu um ín-
tas e florestas. dio e ele parecia ser bom e um terceiro acha
Dos que acharam a afirmativa falsa, 6% que o fato da região ter sido habitada por
não comentaram e 6,4% acham que é falsa índios é bom, para a história da cidade.
porque só uma parte era ocupada e não ha- Perguntamos, então, o que eles gostari-
via só índios aqui. am de saber sobre os índios que moraram
Outra afirmativa, agora para eles dize- na região. 4,3% não sabiam o que pergun-
rem se acreditam ou não: “Viviam no Brasil tar ou não responderam; 9,1% não gostari-
mais de 5 milhões de índios na época do am de saber nada; 1,3% quer saber só o
descobrimento.” Da amostra, 37,9 % acredi- necessário; 39,6% querem saber tudo, o
tam, 44% dizem que acreditam mais ou máximo possível; 34,9% dos estudantes que-
menos, 13,1% não acreditam e 5% não res- rem saber sobre o modo de vida, hábitos e
ponderam. Vejamos o que eles comentaram. sobre a cultura em geral; 6,4% sobre comi-
Para aqueles de respostas afirmativas, da e obtenção de alimentos; 3,4% querem
21% não comentaram a sua concordância, e saber sobre a origem dos índios, como e por
para os outros 16,9%, havia muitos índios onde vieram para a região; 3%, a época em
em todo o extenso território, eles se repro- que chegaram; 1%, como era a região na
duziam e as gerações aumentavam, os li- época; 2,3%, onde viviam; 2%, qual era o
vros falam sobre isso. nome da tribo; 2%, como era a convivência
Para aqueles que concordam com ressal- entre eles; 1,7%, qual era a religião deles e
vas, 32,9% não comentaram. Os comentári- se acreditavam em vários deuses ou em um
os que temos (11,1%) são que não sabem o só; 1,3%, como se vestiam e se se vestiam;
número exato e pode ser isso, mas deve ser 1%, como eram as casas; 1%, quantos índi-
um pouco menos, pois o território é grande. os eram; 0,7%, porque enterravam os mor-
Daqueles que não concordam, 10,4% não tos naquele lugar; 0,3%, se eram alegres;
comentaram e os demais 2,7% acham o nú- 0,3%, se viviam bem; 0,3%, como faziam
mero muito grande e nunca ouviram falar na remédios; 0,3%, como se pintavam; 0,3%,
quantidade. como eram as armas de guerra; 0,7%, por

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

que eles foram embora; 0,7% gostaria de verdade nisto, pois são os usos que o público
vê-los, e 0,3% gostaria de saber se há a faz dos museus que lhes dão forma social.
possibilidade de os índios se juntarem a eles; Neste sentido, e a partir da pesquisa
0,3% gostaria de ver peças dos índios no conceitual realizada com os estudantes, uma
museu. equipe interdisciplinar20 conceituou a expo-
Apoiados em um comentário corriqueiro sição de longa duração do Museu Água Ver-
de que “o índio brasileiro é preguiçoso”, soli- melha, Ouroeste: 9 Mil Anos de História.
citamos aos estudantes que dissessem se Coube a essa equipe a construção do méto-
essa idéia era falsa ou verdadeira, mesmo do e estratégias de trabalho e, sobretudo, a
nos arriscando a reforçar uma idéia negati- estruturação da linguagem expositiva.
va sobre o índio. Bem, 83,9% acharam que Quanto à linguagem, inicialmente busca-
a afirmação é falsa; 12,1%, verdadeira, e mos a interação entre “saberes” – arqueoló-
4% não responderam. gico, museológico e do público. A preocupa-
Gostaríamos também de verificar o co- ção foi criar uma exposição inteligível, com
nhecimento dos estudantes quanto à diver- fundamentação arqueológica e sustentação
sidade cultural entre os índios brasileiros. museológico-comunicacional. Sendo assim, os
Pedimos para comentarem se falsa ou ver- conteúdos inerentes a estes saberes, dialo-
dadeira a afirmativa de que “os índios eram gando entre si de forma interdiscursiva, pro-
todos iguais”. Para 71,1% da amostra, era piciaram a construção de um mapa cognitivo,
falsa; para 25,2%, era verdadeira, e 3,7% conforme tabela 1. Para que fique clara a nossa
deles não responderam. opção, a lógica da exposição respeitou os cam-
A última questão que queremos comen- pos envolvidos, tendo como referencial o pú-
tar é: “O que você sabe sobre o cemitério blico interprete, o que não significa que a ar-
encontrado perto da represa?” Quase dois queologia – a área a ser comunicada – não
terços dos alunos (63,8%) responderam que tenha sido respeitada e valorizada, da mes-
não sabem nada ou não se lembram. As res- ma forma que os arqueólogos21
postas não elucidam muita coisa. 20,8% dis-
seram que era um cemitério de índios; 7%
sabem onde fica e já foram lá; 3% sabem
(20) Ficha técnica da exposição Ouroeste - 9 Mil Anos de
que junto aos ossos foram achados objetos
História: Projeto Museológico e Coordenação: Marília
e uma machadinha, 2,7% sabem quem são Xavier Cury. Projeto Expográfico: Marília Xavier Cury,
os pescadores que encontraram o cemité- Mauro de Vasconcelos Coelho, Ana Carla Alonso, Aureli
rio; 1,7% sabe que eles acharam muitos os- Alves de Alcântara, Joana Montero Ortiz. Coordenação
sos e fósseis de índios; para 0,7%, o fato Científica: Erika Robrahn-González, Paulo A. D. De Blasis.
ocorreu após a “caída” de uma árvore; para Consultoria Científica: Levy S. Figuti , Sabine Eggers.
Apoio Administrativo: Emília Paula Vieira. Programação
1%, o local está fechado para estudo; para Visual: Cristiane Y. Sato, Raquel M. Yoshizawa, Mariana
0,7%, encontra-se com um portão com ca- A. Iwanaga. Adereçagem: Gil Verx. Cerâmica: Shoichi
deado; para 1,7% o local é sagrado, Yamada. Fotografia: Erika Robrahn-González, José
patrimônio da humanidade e, assim, resol- Roberto Pellini, Wagner Souza e Silva. Ilustração: Chico
veram fazer um museu para guardar o que Bela. Maquetes: Kenji Maquetes. Apoio Técnico: Cintia
Bendazolli Simões, Daria Elânia Fernandes Barreto, José
foi achado. Paulo Jacob, Fernando Victor Aguiar Ribeiro, Juliana de
Souza Batista. Agradecimento: Adelino Francisco do Nas-
cimento, Osterno Machado, Danilo Chagas Assunção,
A exposição e a ação educativa Daniela Magri Amaral, Gerson Levy da Silva Mendes,
Ouroeste: 9 Mil Anos de História Manoel Mateus Bueno Gonzalez, Paulo Zanettini, Silvana
Viana Cruz de Macedo. Projeto Executivo, Produção e
Montagem: Cinestand Serralheria e Cia.
A exposição e a ação educativa são ma- (21) Quanto à metodologia adotada e à participação
nifestações da política de um museu e, para dos arqueólogos e demais membros da equipe, vide
o público, é o que define a instituição. Há uma Cury 2005.

40
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

Tabela 1
Mapa Cognitivo da exposição e ação educativa
Discurso Discurso Discurso
Arqueológico Expositivo Educativo

Conhecimento metodológico, Quadras, trincheiras, Raciocínio lógico e abstrato.


científico e técnico. estratigrafia, vestígios, Inferência.Presente
Conhecimento das especiali- registro, técnicas, equipa-
dades dentro da arqueologia. mentos e materiais.
Conhecer as áreas auxiliares Organização do laboratório.
à arqueologia Registro de dados.
Análise e interpretação

Origem e expansão dos Ocupação Antiguidade


grupos que se assentaram Origem Antepassado
na região. Datação Dieta alimentar como cultura
Períodos de ocupação. Densidade demográfica Gosto alimentar
Formas de ocupação. Diversidade Memória territorial
Reconhecimento das tradi- Obtenção de alimento História territorial
ções arqueológicas. Território Vida
Tecnologia. Aldeia Estilo de vida
Intercâmbio entre grupos. Organização Instrumentos
Sistema arqueológico social Utensílios
regional. Sepultamento Casa e lar
Modelos de expansão. Cemitério Família
Ritual Morte e perda
Tecnologia Ente querido
Passado Cerimônia
Religião
”Medicina tropical”
Igualitarismo
Solidariedade
Cooperação
Tolerância
Êxito cultural
Tradição
Continuidade
Presente

Assumindo este compromisso conosco e fetichizar os objetos museológicos e distan-


com o público, fugimos dos modelos ciar o público deles.
“estetizantes” de exposição, aqueles que não Entendemos que o enfrentamento da lingua-
querendo recair num didatismo à semelhan- gem expositiva seria o caminho para transpor o
ça do livro escolar, limitam-se a apresentar falso dilema didatismo X valorização do objeto.
objetos com poucas informações – basica- Assim, a partir do mapa cognitivo definimos os
mente em etiquetas e textos – em situações objetivos da experiência do público (tabela 2),
técnicas (iluminação, vitrinas, etc.) favorá- considerando que esta se daria com a
veis ao objeto. Esta é uma forma de sobreposição entre exposição e ação educativa.

41
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Tabela 2
Objetivos
Exposição Ação educativa

Fazer conhecer a pesquisa arqueológica e as Refletir sobre o espaço.


áreas científicas parceiras. Ler estratigrafia.
Apresentar a lógica do espaço. Pensar arqueologicamente.
Conhecer o método. Imaginar.Criar hipóteses.
Estabelecer relação entre espaço horizontal
e vertical, espaço de ocupação e antiguidade.
Conhecer a lógica de um laboratório.
Entender as formas de análise de vestígios.
Distinguir entre material lítico, cerâmico,
faunístico e humano.
Conhecer a lógica da análise e interpretação.
Conhecer o método de datação Carbono 14.
Conhecer os grupos que ocuparam a região. Exercitar a tolerância.
Refletir sobre a diversidade cultural no pas- Trabalhar para uma consciência de alteridade.
sado pré-colonial da região. Discutir (re)tradicionalização.
Apresentar as formas de interação entre o Discutir (des)(re)territorialização.
grupo e o território. Estabelecer vínculos entre culturas.
Conhecer as soluções sociais e culturais. Refletir sobre a história do território.
Desenvolver uma memória territorial.
Desenvolver “gourmets” culturais - cidadãos
habilitados para criar pontos de compreensão
entre culturas diferentes.

Partimos, então, para a construção do - Eixo 2- As descobertas – As quatro


“jogo de equilíbrio” entre temática, objetos, ocupações no tempo
espaço e tempo – os elementos estruturadores - Os primeiros povoadores de 9 mil
de uma exposição – e recursos de apoio. anos atrás
Construímos, então, uma ambiência - Os caçadores especializados de 5 mil
expositiva (espaço significado) para anos atrás
oportunizar que o público pudesse interagir - A era das grandes aldeias de 1500
com a arqueologia e com o patrimônio ar- anos atrás
queológico. - As sociedades complexas de 500
Em um espaço de 90 m2, com pé-direito anos atrás.
duplo, estruturamos uma retórica narrativa - Encerramento: Arqueologia de Ouroeste
em dois eixos principais: A narrativa foi organizada no espaço em
- Histórico das descobertas arqueológicas forma de U, pois a sala possui duas entra-
- Eixo 1- A construção do conhecimento das. Apesar da estrutura narrativa, o públi-
na arqueologia co foi estimulado a explorar a exposição
- A etapa de escavação episodicamente, ou seja, ele mesmo fazer
- A análise e interpretação em laboratório o seu circuito e, assim, a suas reelaborações.
- A exploração e prospecção regional Para tanto, há uma ligação entre as pernas
- O método Carbono 14 e a antigüidade do U e a altura dupla da sala foi apropriada
do homem na região para a construção de possibilidades de apre-

42
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

ciação por uma vista superior (por meio de pais e irmãos) pouco sabem sobre arqueolo-
um mezanino). De fato, são, ao menos, gia. Para não apresentar os resultados arque-
duas exposições com múltiplas possibilida- ológicos sem que os mesmos fossem funda-
des de recortes. mentados, apresentamos as armações de
A definição dos dois eixos ocorreu para a referência – a pesquisa em arqueologia –
argumentação e persuasão de que o conhe- como armações interpretativas. A própria
cimento arqueológico construído em Ouroeste exposição é um conjunto de armações
teve bases científicas, isto porque, como vi- interpretativas, fruto das intenções dos seus
mos, os estudantes (e provavelmente seus idealizadores, com as quais o público interage.

Foto 1 – Montagem da cenografia para A Etapa da Escavação

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Seguindo este princípio, e recorrendo ções arqueológicas destacaram-se aquelas


sempre aos dados coletados com a avalia- que poderiam estabelecer formas de reco-
ção conceitual, o Eixo 2 –”As descobertas”, nhecimento e de vínculos entre passado e
foi detalhado de forma padrão nos quatro presente, como: constituição da família e
submódulo: “Primeiros Povoadores”, “Caça- do grupo, alimentação, relação com o terri-
dores-Coletores Especializados”, “A Era das tório, a casa na aldeia, a morte e os rituais
Grandes Aldeias” e “Sociedades Complexas”. de sepultamento, cooperação social – o que
A padronização foi: origem, datação, den- posteriormente demonstrou eficácia devido
sidade demográfica, obtenção de alimento à forma como estes aspectos foram apro-
por caça, pesca, coleta e/ou agricultura; a priados pelo público.
preparação dos alimentos; o território de A ação educativa, o subtexto invisível
ocupação e de circulação; aldeia; organi- porque atua essencialmente no plano
zação do espaço; organização social, as subliminar, não foi pensada como reforço
formas de sepultamento, a tecnologia, uso ou apoio à exposição (minimizando os pro-
dos artefatos. blemas de linguagem da mesma). Ela vai
Neste eixo, a narrativa foi estruturada a além dela sem contradizê-la. Com a ação
partir de questões do cotidiano dos grupos educativa conceitos como êxito cultural,
pré-coloniais em paralelo ao cotidiano do alteridade e identidade, diferença e diver-
público-visitante. Assim, dentre as informa- sidade cultural, cooperação e organização

Foto 2 – Os Primeiros Povoadores

44
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

Foto 3 – A Era das Grandes Aldeias

social, (des)(re)territorialização podem ser teúdo linearmente e as coleções


discutido com o público, ao mesmo tempo contextualizadamente, utilizando-se de vi-
em que se exercita a tolerância e a trinas e linguagem de apoio convencionais.
dialógica. Com esse arsenal conceitual o Há uma relação hierárquica entre artefa-
educador pode trabalhar-se e trabalhar com tos arqueológicos e recursos expográficos.
o público na perspectiva de tornarem-se Modernizada porque usa materiais moder-
“gourmets” culturais (García Canclini 1999: nos e contrastantes entre si (metal das
2), pessoas habilitadas a transitar entre vitrinas com a mangueira das divisórias)
culturas distintas, viajando pelos repertó- e porque recorre à cenografia como solu-
rios simbólicos alheios, saboreando as di- ção expográfica para a escavação (até nas
ferenças e criando pontos de compreen- quadras delimitadas pela escavação há vi-
são entre culturas. E por quê não? trinas) e elementos de cenografia para
O partido expográfico 22 escolhido para c o n t e x t u a l i z a r, c o m o r e c o n s t i t u i ç õ e s
a exposição foi um “tradicional-moderni- tridimensionais de cerâmicas, em argila e
zado”. Tradicional porque apresenta o con- em escala real, e alimentos como milho,
mandioca, angus, beiju, coquinhos; ou ou-
tros elementos como pele de animal, pe-
ças de madeira, algodão, etc.
(22) Quanto à descrição da expografia, vide Cury O partido também orientou para uma
2005 e Cury 2005b. exposição ao mesmo tempo sintética e cheia

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Foto 4 – Maquete da Grande Aldeia Circular de 1500 anos atrás

de detalhes. À primeira vista ela é sintética, reformulá-las. Mas o essencial é que esses
com poucos tópicos conceituais, sem acúmulo resultados nos fazem entender que nos fa-
de objetos, textos, etiquetas. Em um segun- zemos sujeitos com outros sujeitos.
do momento os detalhes aparecem, e o que
era sintético torna-se detalhado.
Após a inauguração do museu, os mes- Considerações finais
mos estudantes que participaram da avalia-
ção conceitual foram convidados para visitar A pesquisa conceitual desenvolvida no con-
a exposição e, em seguida, para avaliá-la. texto do Museu Água Vermelha foi aqui apre-
Nesta etapa de pesquisa de recepção os da- sentada visando à ampliação da consciência
dos foram coletados por observação, técni- dos profissionais do campo museológico quanto
cas de discussão em grupo e por meio de à importância das pesquisas empíricas com o
registros escritos. Os resultados são signifi- público. O estudo em questão trouxe à luz as-
cativos para nós profissionais de museus, pectos que precisariam ser aprofundados por
seja para os museólogos, seja para os ar- meio de pesquisas mais amplas e com plane-
queólogos, pois nos permitem rever todo o jamento interdisciplinar para que os interes-
processo a partir de um ângulo diferente: o ses – arqueológicos e museológicos – sejam
público. Certamente que este ponto privile- contemplados a contento para a definição de
giado elucida algo mais sobre a nossa práxis, políticas de ação. Apesar disto, os resultados
pois nos faz avaliar as nossas posições e obtidos foram relevantes para a concepção da

46
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury

Foto 5 – As Sociedades Complexas

Foto 6 – Maquete das Sociedades Complexas de 500 anos atrás

47
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

exposição Ouroeste: 9 Mil Anos de História e eficácia comunicacional. Ainda, revelam o


para o exercício de linguagem, o que é funda- público como sujeito dos processos
mental para os museus. museológicos.
Cabe salientar que a avaliação conceitual Antes de tudo, a pesquisa conceitual nos
é uma face de uma realidade empírica e revelou que há um universo fora dos mu-
que associada à avaliação posterior nos per- seus e de nós mesmos que precisa ser ex-
mitem conhecer a experiência integral do plorado, e que este universo é constitutivo
visitante e a ter uma visão sinérgica dos da responsabilidade social reservada aos
elementos que compõem a exposição e sua museus e a seus profissionais.

Abstract: The study presented herein was carried out in 2003 and 2005
at the Água Vermelha Museum of Regional Archeology in Ouroeste, a
municipality located in the State of São Paulo, Brazil. The study was the
foundation for a doctoral dissertatin entitled Museological Communication
– A Theoretic and Methodological View of Reception defended at the School
of Communication and Arts of the University of São Paulo.23
In this paper we will present certain research findings for discussion. These
are partial findings presented in a succinct manner.
The research was theoretically and methodologically based on the areas
of museology, communication, and reception. Museology focused mainly
expology, expography, and education.

Keywords: Archaeological communication. Museological communication.


Archaeological exhibition. Heritage education. Museological evaluation.

Bibliografia

CURY, M. X. GARCÍA CANCLINI, NESTOR.


2006 Exposição – Concepção, montagem e ava- 1999 Gourmets multiculturales. La Jornada Se-
liação. São Paulo: Annablume. manal, México, 5 dec. 1999. Disponível
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2005 Comunicação museológica – Uma perspec- 1999/dic99>. Acesso: em: 23 nov. 2002.
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Tese (Doutorado em Ciências da Comuni- 1997 Dos meios às mediações: comunicação,
cação) – Escola de Comunicações e Artes cultura e hegemonia. Tradução de Ronald
da Universidade de São Paulo, São Paulo. Polito e Sergio Alcides. Rio de Janeiro:
CURY, M. X. Editora UFRJ.
2005b O Museu Água Vermelha. In: Anais. XIII Con- VASCONCELLOS, C. DE M.; ALONSO, A. C. &
gresso da SAB: arqueologia, patrimônio e tu- LUSTOSA, P. R.
rismo. Campo Grande, MS: Ed. Oeste, 2005. 2000 A abordagem do período pré-colonial bra-
GARCÍA CANCLINI, N. sileiro nos livros didáticos do ensino fun-
2003 A globalização imaginada. Tradução Sér- damental. In: Revista do MAE, São Paulo:
gio Molina. São Paulo: Iluminuras. USP, 10: 231-238.

(23) Supervised by Counselor Dr. Maria Immacolata


Vassallo de Lopes

48
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 49-62.

O QUE É ISSO? PARA QUE SERVE?


QUEM SÃO VOCÊS? O QUE FAZEM?
UMA EXPERIÊNCIA DE ARQUEOLOGIA PÚBLICA EM PARANÃ – TO*

Leilane P. Lima**
Gilberto da Silva Francisco***

Resumo: O objetivo deste artigo é comentar a noção de parceria no


debate sobre a Arqueologia Pública, especificamente na dinâmica escolar.
A compreensão do papel da Arqueologia nesse contexto terá como ponto
de partida a experiência dos autores como professores-arqueólogos na
Semana de Arqueologia, realizada no município de Paranã – estado do
Tocantins, evento relacionado a atividade de pesquisas arqueológicas numa
região de impacto ambiental, dada a construção de um empreendimento
hidrelétrico no médio vale do rio Tocantins.

Palavras-chave: Identidade, Arqueologia Pública, Educação Patrimonial,


Patrimônio, Parceria.

“(...) Fiquei pensando, e comecei a descrever Por conta do recenseamento de 1940,


Tudo, tudo de valor que o Brasil me deu conta Carmem Miranda (a intérprete da mú-
O céu azul, um Pão-de-açúcar sem farelo sica de Assis Valente), que um censor bas-
Um pano verde e amarelo, tudo isso é meu! tante autoritário bate à porta de um lar hu-
Tem feriado que pra mim vale fortuna, milde e começa a esmiuçar a vida de uma
A Retirada de Laguna, vale um cabedal brasileira, que, em desconforto, prefere lem-
Tem Pernambuco, tem São Paulo, tem Bahia brar das coisas “de valor que o [seu] Brasil
Um conjunto de harmonia que não tem rival.” [lhe] deu”. Assim, frente à pergunta: - quem
é você? (bastante peculiar dos objetivos de
(Trecho da música Recenseamento , de um censo), além de falar de si mesma, como
Assis Valente) indivíduo, também responde a partir de sua
inserção num grupo, numa generalidade, na
sua nação. O cadinho de referências é varia-

(*) Este trabalho foi desenvolvido como parte inte-


grante do “Programa de Pesquisa e Resgate do de Estudos Estratégicos/ UNICAMP e da Fundação
Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do AHE Cultural de Jacarey. A obra é de responsabilidade da
Peixe-Angical, estado do Tocantins”, desenvolvido empresa ENERPEIXE S/A.
desde 1998 pela empresa DOCUMENTO Antropolo- (**) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universida-
gia e Arqueologia. A coordenação do Programa é dos de de São Paulo Leilaneplima2004@yahoo.com.br
Profs. Drs. Erika M. Robrahn-González e Paulo De (***) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universi-
Blasis, contando com o apoio institucional do Núcleo dade de São Paulo gisifran@yahoo.com.br

49
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

do: riquezas naturais, símbolos nacionais, são idealizada do arqueólogo (Indiana Jones,
feriados (a memória de alguns eventos his- Tomb Raider etc.), bem como do objeto ar-
tóricos selecionados), e a própria idéia de queológico (algo como uma relíquia, valioso
harmonia interestadual (clara idealização: é só materialmente e por suas características his-
lembrarmos que pouco antes de 1940, a pre- tóricas). Tratar de Arqueologia fora de alguns
sença do pernambucano João Alberto como centros especializados geralmente parte de
interventor de São Paulo (1930-1931), nome- uma situação de amplo desconhecimento do
ado por Getúlio Vargas, causou imenso des- público leigo, entretanto, há um certo inte-
conforto na elite paulista, havendo inclusive resse. Por ocasião da comemoração dos 500
um surto preconceituoso contra nordestinos). anos do Brasil, a grande exposição no
Apesar de ser uma música datada (por Ibirapuera (Mostra do Redescobrimento. Bra-
exemplo, o IBGE [Instituto Brasileiro de Geo- sil+500) apresentava, no conjunto das inúme-
grafia e Estatística] procura não empreen- ras peças, a famosa carta de Pero Vaz de
der um censo tão autoritário), algumas das Caminha, e a procura por tal documento era
referências peculiares desse “samba especialmente grande. O acesso ao seu con-
exaltação” poderiam vir à mente de qualquer teúdo é simples (qualquer busca na Internet,
um, quando perguntado “- o que o define por exemplo, satisfaria tal necessidade);1 mas
como brasileiro?”. Assim, quais são as coi- era imperativo para muitos ver com os pró-
sas que consideramos realmente importan- prios olhos, mesmo que a grafia de tal carta
tes, aquelas que caracterizam parte do que não fosse legível para a maioria (ver figura
somos, e nossa inserção em certo grupo? É 1), sendo necessário competência para leitu-
certo que essas referências são inúmeras, e ra paleográfica, o que a maioria dos visitan-
que a constituição desse grupo de coisas “que tes não possuía. O que mais interessava era
consideramos nossas” não tem uma consti- ver a carta em si, a carta-objeto; e, para sa-
tuição natural; ou seja, existem processos nar o problema de conteúdo, a organização
(por vezes de longa duração, retomando ter- da exposição criou uma cabine com recitação
mos braudelianos (Braudel, 1986), ou então da carta feita pelo ator Paulo Autran. Esse
de recentíssima criação, “tradições inventa- pequeno exemplo indica a importância do feti-
das”, conforme Eric Hobsbawn, 1997) cons- che que pode incidir sobre o objeto material.
tituídos a partir de interesses múltiplos (de- Os materiais arqueológicos apresentam
terminados anseios de grupos sociais, uma certa eloqüência, que contribui grande-
autoconsciência grupal, extensão do projeto mente para um interesse inicial. Ou seja,
de um grupo a outro, através de práticas de parece, ao olho leigo, que o objeto material
dominação etc.). Ainda, essa sensibilidade é auto-explicativo; assim, se os problemas
quase “natural” das pessoas frente a um sím- de interpretação no seio da Arqueologia são
bolo, ação etc. com que se identifica, forja- complexos e variados, a dimensão física do
se, geralmente, num processo longo de edu- objeto convida o leigo, e esse interesse pode
cação, que está também ligado à ação esco- tornar-se uma posterior reflexão mais
lar (ensino público ou privado), mas não so- aprofundada (as múltiplas ações relaciona-
mente a ele: a educação é um processo bas-
tante amplo, sendo agregado em situações
familiares, acesso às informações através de (1) Em uma rápida busca na Internet, no site
mídias diversas, dentre outros. Nesse qua- www.google.com.br (em fevereiro de 2006), a en-
dro, qual o papel da Arqueologia? trada “Carta” e “Caminha” proporcionou a indicação
É importante saber, de início, que a idéia de 342.000 páginas disponíveis na Web, 321.000 em
que se tem sobre a Arqueologia, no senso português e 198.000 páginas brasileiras. Levando-
se em conta que nem todas apresentam o texto par-
comum, caminha entre um desconhecimento cial ou integralmente, o número, mesmo com isso, é
quase absoluto da disciplina (do que trata a bastante expressivo. Quanto à busca de imagens
Arqueologia? Nunca ouvi falar!...) e uma vi- visuais, no mesmo site, disponibilizavam-se 175 páginas

50
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

1. Arqueologia Pública e patrimônio: al-


guns pressupostos teóricos

Entre as inúmeras transformações que


ocorreram relacionadas à Arqueologia prati-
cada no Brasil, especialmente nas últimas
décadas, podemos citar um maior engajamento
político por parte dos arqueólogos. Nas pa-
lavras de Funari (2005: 5)
(...) os aspectos públicos, de interação
e ação conjunta com as comunidades,
tanto locais, como regionais, nacionais e
transnacionais, passaram a representar
parcela crescente e cada vez mais signi-
ficativa da prática e teoria arqueológica.
Somado a esse engajamento político, a
aprovação das leis brasileiras de proteção do
patrimônio arqueológico,2 no âmbito federal,
estadual e municipal,3 contribuiu para a mul-
tiplicação dos trabalhos de campo ligados a
licenciamentos ambientais (Funari, 2005: 6);
sendo seguidas essas atividades, em alguns
casos, por ações de cunho público. A Arqueo-

Fig. 1. Detalhe da Carta de Pero Vaz de Cami- (2) As publicações sobre o tema Arqueologia Pública e
relacionadas utilizam o termo patrimônio com conotações
nha, 1500. Torre do Tombo, Portugal.
variadas, o que deve ser brevemente esclarecido. Há,
então, a utilização de termos como “patrimônio público”,
“patrimônio cultural” e “patrimônio arqueológico”, ou mes-
das à Arqueologia Pública são essenciais nes- mo o termo patrimônio isolado. Os complementos público
se sentido, pois podem contribuir para um e cultural, por vezes guardam certa equivalência, mas o
abandono da fetichização...). primeiro é mais abrangente; ou seja, o patrimônio públi-
Como visto, contra um desconhecimen- co não se restringe ao patrimônio cultural, é mais amplo.
to grande sobre a Arqueologia (a disciplina O mais específico deles é o termo “patrimônio arqueológi-
co”, que se insere nos outros. Assim, o patrimônio arque-
e a prática), há uma atenção preliminar do ológico é também patrimônio cultural e público.
público leigo, interesse de que o arqueólo- (3) Destacam-se, nesse sentido: 1) A Lei nº 3.924, de
go voltado às práticas públicas deve lançar 26/07/1961, que proíbe a destruição ou mutilação para
mão. Porém, esse é apenas um primeiro qualquer fim, da totalidade ou parte das jazidas arqueo-
passo, e não se deve converter esse inte- lógicas, o que é considerado crime contra o patrimônio
nacional; 2) A Constituição Federal de 1988 (artigo 225,
resse em toda idéia de Arqueologia Públi-
parágrafo IV), que considera os sítios arqueológicos como
ca; já que muitas vezes esse cenário estru- patrimônio cultural brasileiro, garantindo sua guarda e
tura-se em torno de uma Arqueologia fan- proteção, de acordo com o que estabelce o artigo 216;
tástica, o que destoa freqüentemente das 3) A Portaria SPHAN/MinC 07, de 01/12/1988,que
propostas e materiais apresentados: quan- normatiza e legaliza as ações de intervenção junto ao
do as expectativas residem em materiais de patrimônio arqueológico nacional; 4) Portaria IPHAN/MinC
nº 230, de 17/12/2002, que define o escopo dos estu-
metais preciosos, monumentais, e se apre- dos arqueológicos a serem desenvolvidos nas diferentes
sentam apenas poucos fragmentos de ce- fases de licenceamento ambiental (Fonte: Material ofe-
râmica, ou líticos pouco trabalhados. recido por Documento Antropologia e Arqueologia).

51
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

logia Pública, segundo Ascherson (1999, Apud Essa correspondência entre a idéia de
Funari, Oliveira & Tamanini, 2005: 106), patrimônio (seleção) e conservação (perma-
nência) é presente inclusive na acepção de
é compreendida (...) como todos os
dicionário: segundo o Dicionário Houaiss da
aspectos públicos da Arqueologia, inclu-
língua portuguesa, patrimônio define-se, tam-
indo tópicos como políticas arqueológicas,
bém, como
educação, política, religião, etnicidade,
envolvimento público em Arqueologia. bem ou conjunto de bens naturais
ou culturais de importância reconheci-
A Arqueologia Pública tende, geralmen-
da num determinado lugar, região, país
te, a estabelecer diálogos com áreas pa-
ou mesmo para a humanidade, que
ralelas como a Museologia, de onde sur-
passa(m) por um processo de tomba-
gem questões estritamente ligadas ao
mento para que seja(m) protegido(s) e
patrimônio e conscientização do leigo. Po-
preservado(s).
demos definir patrimônio como o conjunto
dos bens identificados pelo homem, a par- O ato de identificar e selecionar o que é
tir de suas relações com outros homens e relevante para a memória de uma comuni-
com o meio ambiente e a própria interpre- dade local, de um estado ou de um país gera
tação que ele faz dessas relações (Bruno, problemas. Por exemplo, a instituição mu-
2002: 89, Apud Bessegato, 2004: 33). Além seu, enquanto lugar de preservação e ges-
disso, conforme Oosterbeek (2005: 97), o tão de vários desses bens culturais, muitas
conceito de patrimônio cultural nos reme- vezes está exposto ao jogo de interesses
te ao de propriedade, algo a que atribuí- políticos. Assim,
mos um valor e estabelecemos uma rela-
Devemos considerar a existência de
ção de apropriação.
uma intenção inicial que se traduz em
Os bens culturais, num sentido amplo,
“razão para preservar”, a qual muitas
são os testemunhos da cultura humana e do
vezes se configura na criação de um es-
meio no qual construímos nossa identidade
paço-museu. (...) Quando o Museu é ide-
individual e (ou) coletiva através da memó-
alizado de acordo com interesses ideo-
ria. Caldeira (2006: s. p.) revela que desde
lógicos pela classe que ocupa o poder e
os tempos mais remotos existe a preocupa-
nele procura manter-se, a instituição fa-
ção em preservar os bens culturais. Especi-
talmente funcionará como símbolo de for-
almente no período pós 2ª Guerra Mundial,
ça. (Almeida, 2005: 91)
vários setores das sociedades ocidentais pas-
saram a enfatizar a importância dos bens E é nesse contexto que a Arqueologia
culturais e a sua proteção tornou-se um di- Pública pode exercer um papel importante
reito e um dever de todos (Idem). Assim, nos processos de resgate da memória, re-
várias associações foram criadas visando dis- conhecimento e valorização do patrimônio,
cutir políticas de defesa e conservação pre- pois a cultura material, ou seja, o que pode-
ventiva de bens culturais. Elas promoveram rá tornar-se patrimônio arqueológico de uma
a criação regulamentar de diversas estraté- determinada comunidade, pode ser tomada
gias de restauro, conservação e proteção do como elemento de memória que permite a
patrimônio cultural.4 contribuição na construção de uma identida-
de local/regional. Nas palavras de Bruno
(1996, Apud Almeida 2005: 67), “os indica-
dores/vestígios das sociedades que
(4) Destacam-se, dessa forma, esforços como a Carta correspondem ao interesse de estudo da Cul-
de Atenas (1931), Carta de Veneza (1964) e Carta
Italiana (1987), que visavam um debate e organização
tura Material são, também, elementos da
internacional de um corpus regulamentar para a área herança patrimonial, tratados e comunica-
de conservação e restauro (ver Caldeira, op. cit.). dos pela Museologia”.

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O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

A Arqueologia busca compreender as de forma ilustrativa e sem reflexões propos-


sociedades humanas através da cultura tas a partir deles).5
material, e é a partir do resgate desses Nesse contexto, torna-se bastante impor-
objetos pretéritos para o presente que o tante a interação entre Arqueologia, educa-
Museu recebe a atribuição de preservá-los ção patrimonial e musealização. Segundo
dando-lhes um novo significado (Almeida, Bessegato e Milder (2005: 85), “a temática
2005: 95). Em outras palavras, cabe à Ar- do patrimônio é hoje uma das mais prolíferas
queologia e à Museologia a transmissão do e profícuas da nossa contemporaneidade, e
valor público do patrimônio arqueológico. por isso mesmo, essencial para levarmos o
Entretanto, vale dizer, uma Arqueologia e patrimônio para as salas de aula”. Na mes-
Museologia como vocações públicas; ou ma medida, a Museologia ganha força, sen-
seja, buscando intensos diálogos (numa do o museu deixado de ser tratado apenas
acepção ampla do termo) com as comuni- como guardião móvel, para ser visto como
dades envolvidas nos processos liderados meio de transmissão do patrimônio. Nas pa-
por essas áreas. Neste ponto, reforça-se a lavras de Almeida (2005: 40)
importância da educação patrimonial, por
Se a comunidade que vive num es-
exemplo, no seio escolar. Isso, dado o pa-
paço/território tem oportunidade de re-
pel agregador, socialmente falando, que as
conhecer seu passado enquanto heran-
escolas têm: são espaços de ampla e vari-
ça e vislumbrar sua vivência social e his-
ada circulação (alunos, professores e ou-
tórica nas transformações infringidas ao
tros funcionários, pais, palestrantes etc.),
meio ambiente, seja ele rural ou urba-
havendo também a organização e experi-
no, a questão da eleição sobre o que seria
ência de alguns grupos como grêmios es-
significativo ou não, em termos de pre-
tudantis, associação de pais e mestres,
servação da memória e patrimônio, ou
entre outros.
seja, a escolha daquilo que se pretende
As atividades relacionadas à ação de
deixar para as novas gerações, penetra
Arqueologia Pública no espaço escolar são
automaticamente no campo das ciênci-
geralmente resultado de projetos de im-
as dos museus. Não se pode falar de
plantação de grandes construções, e, dado
identidade sem tratar dos processos de
o grande impacto ambiental, é, nessas re-
musealização.
giões que ocorrem eventos educativos li-
gados à conscientização quanto ao Essas ações educativas não devem ape-
patrimônio arqueológico. Segundo Bessegato nas oferecer um discurso pronto aos alu-
(2004: 34)
(...) cabe à Educação Patrimonial ser
uma atividade paralela, mas, ao mesmo (5) As escolas brasileiras têm como obrigação criar
tempo autônoma e interligada aos Pro- planos pedagógicos que seguem orientações gerais,
mas também respondem às realidades locais do pú-
jetos de Salvamento Arqueológico,
blico aprendizando, conforme algumas tendências
efetuados na região atingida pelo em- mais ou menos recentes sobre pedagogia. A questão
preendimento destas Empresas ou Com- é que as matérias clássicas como História, Matemáti-
panhia de energia hidrelétrica. ca, Geografia, Português, entre outras, são discuti-
das nos vários níveis (municipal, estadual e federal),
Mas, especialmente quando tratamos da e existe já uma experiência grande (teórica e práti-
relação entre Arqueologia e educação, ca) na execução das ações curriculares com relação
deparamo-nos com algumas questões pecu- a elas. No caso da Arqueologia na escola, a situação
liares: por ser um tema que não é tratado é bastante diferente. Como visto, a ampliação de um
interesse de comunicação entre especialistas e públi-
diretamente em sala de aula (quando muito, co leigo é relativamente recente, e as práticas peda-
um livro didático apresenta a pré-história do gógicas com relação ao ensino sobre Arqueologia ain-
Brasil, ou monumentos gregos e romanos, da estão sendo discutidas, em estágio inicial.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

nos, faz-se necessário que os professores- de reservatório hidráulico, em parte do


arqueólogos, na senda de uma “pedagogia curso do Rio Tocantins e do Rio Paranã (ver
arqueológica”, 6 tenham em vista também fig. 2). Além de Paranã, os municípios de
a experiência do aprendizando. Assim, o Peixe, São Salvador e Palmeirópolis estão
papel do professor-arqueólogo é o de inseridos na zona de intervenção (e, por-
facilitador. Nas palavras de Bessegatto tanto, de pesquisas arqueológicas prece-
(2004: 30), “o professor tem a função de dentes). Nestes municípios haviam sido
ajudar o aluno a se organizar, sensibilizan- igualmente ministradas “Semanas de Ar-
do-o de forma que seus sentimentos pos- queologia”, sendo em Paraná, tratada no
sam ser e x p r e s s o s ”. Assim, a presente artigo, a última delas.
conscientização sobre o patrimônio arque- Essa Semana de Arqueologia ocorreu
ológico é, muitas vezes, tarefa de grande de 07 a 12 de novembro de 2005, e a mai-
dificuldade; mas não apenas por causa or parte dos eventos (palestras e ativida-
desse conhecimento frágil e fragmentário, 7 des relacionadas) circunscreveu-se às
mas também, em vário casos, por um quatro escolas públicas existentes na ci-
descompasso de linguagem entre o profes- dade: E. M. Floracy Bonfim Pereira de Ara-
sor-arqueólogo e o público leigo. Para sa- újo; E. E. Euclides Bezerra Gerais; C. E.
nar tal problema não é necessário tornar- Des. Virgílio de Melo Franco; E. M.
se simplista nas explicações e propostas, Soldadinho de Jesus. As atividades envol-
mas trazer o outro, inseri-lo nas questões veram mais de 5.000 alunos inscritos nas
arqueológicas, às vezes abrindo mão de ter- escolas.
mos complicados: a saída pode ser lidar O público era bastante variado, com-
com conteúdos com os quais eles já têm posto por alunos desde o ensino funda-
alguma experiência. mental até adultos em situação de alfa-
betização; e de diferentes grupos sociais.
Dessa forma, não poderia haver, por par-
2. Uma Semana de Arqueologia em te do palestrante, uma entonação única,
Paranã – Tocantins mecânica, dada a variedade dos
interlocutores.
As pesquisas arqueológicas na região O conteúdo das aulas era bastante am-
de Paranã 8 inserem-se num quadro regio- plo: uma introdução à Arqueologia, suas
nal mais amplo (AHE [Aproveitamento Hi- divisões (Arqueologia histórica e pré-his-
drelétrico] Peixe Angical), relacionadas às tórica), suas fontes etc.; temas apresen-
atividades de salvamento arqueológico, pre- tados tanto de forma generalista, como es-
cedente à obra de construção de um gran- pecífica (retomando as pesquisas arque-

(6) O termo “pedagogia arqueológica” pode pare-


cer estranho e mesmo equivocado. Entretanto, ferentes (ensino básico e pós-graduação) que estu-
existem esforços, ainda bastante iniciais, que indi- da Arqueologia, foi questionado da seguinte forma:
cam para uma proposta com fins educativos, base- “- você estuda para cavar chão?”, e também, “-vocÊ
ando-se, inclusive, em literatura peculiar da dis- ganha para fazer isso?”.
cussão pedagógica. Não se trata, assim, de um (8) Alguns dados sobre a população de Paraná, se-
corpus sistemático ou organizado de procedimen- gundo o IBGE, a partir do site www.ibge.gov.br e
tos, mas de algo que é perceptível, projeta-se em também a seção IBGE – Cidade@: A população esti-
discussões recentes (Ver Bessegato, 2004 e mada é de 10.071 pessoas (número de 01.07.2005).
Bessegato & Milder, 2005). As matrículas executadas no ano de 2004 foram as
(7) Um dos autores deste artigo, por exemplo, ao seguintes: Ensino fundamental, 2.595 pessoas e En-
comentar com pessoas de níveis de escolaridade di- sino médio, 224 pessoas.

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O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

São Valério
da Natividade
Peixe

AHE
Peixe Angical

Retiro
Paranã

São Salvador
do Tocantins

Fig. 2. Mapa o reservatório do AHE Peixe Angical.

ológicas da própria região). A estrutura - Primeiro dia – Introdução: O que


básica do conteúdo ministrado era o se- é Arqueologia?; Arqueologia pré-histó-
guinte: rica; A arte rupestre; ZooArqueologia;

55
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Arqueologia da morte; Arqueologia his- trando a imagem da Igreja da Matriz (ver


tórica. fig. 3), tal situação era amplamente obser-
vada. Ainda, não era difícil encontrar quem
- Segundo dia – O trabalho do ar- reconhecesse a própria casa, de parentes ou
queólogo: As escavações; Estudos de la- vizinhos dentre as imagens apresentadas.
boratório; Quando foi? (as datações); Nesse sentido, havia intensas trocas de in-
Arqueologia Pública. formações, por exemplo, muitos dos
aprendizandos conheciam bem algumas das
- Terceiro dia – O patrimônio arque-
técnicas construtivas tratadas, como as ca-
ológico do AHE Peixe Angical. Objetivos
sas de palha de Buriti, de adobe etc. Numa
do projeto e dados gerais: Como se dá a
dessas aulas, um aluno chegou a explicar com
pesquisa arqueológica na região; Um
detalhes, a todos, como se construía uma
pouco da pré-história do Tocantins; A Era
casa de pau a pique.
da diversificação: grupos caçadores-co-
Entretanto, essa identificação não se
letores mais recentes (9000 a 3000
restringiu apenas às referências de Arqueo-
anos); Sociedades cultivadoras (3000 a
logia histórica. Por exemplo, comentar algu-
1500 anos); Agricultores de grandes al-
mas técnicas da produção ceramista de po-
deias (1300 anos até a época atual).
pulações indígenas antigas também ensejava
- Quarto dia – História: Patrimônio lapsos de comunicação entre tempos bas-
histórico e cultural. Como se dá a pes- tante remotos (técnicas bastante antigas e
quisa; A história do Tocantins... Nossa ainda utilizadas recentemente).
História (séc. XVIII-XX). Tal conteúdo, previamente estipulado,
não era extremamente fixo, e o retorno do
- Quinto dia – Patrimônio histórico
público aprendizando poderia propor diferen-
edificado: Técnicas construtivas; Cons-
tes encaminhamentos. Por exemplo, a algu-
truções rurais; Construções urbanas;
mas questões muito específicas da Arqueo-
Conjuntos arquitetônicos.
logia, como a estratigrafia, abriu-se um diá-
Freqüentemente, o reconhecimento ime- logo sobre o passar do tempo, as intempéri-
diato acontecia quando tratadas as referên- es, a ação do homem e sua interferência
cias de Arqueologia histórica, sobretudo no sobre o solo. Ainda, contra um juízo simplista
tocante à arquitetura da cidade. Ao comen- sobre a indústria lítica, a própria variedade
tarmos aspectos da arquitetura local, mos- de formas e usos do talhes que qualquer um

Fig. 3. Vista panorâmica da Igreja da Matriz, Paranã.

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O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

tinha em casa, serviu como parâmetro com-


parativo.
A duração das aulas introdutórias era
de aproximadamente quarenta e cinco mi-
nutos, dependendo da interação entre os
professores-arqueólogos e público escolar
(incluindo professores e outros funcionári-
os da escola, que também participavam);
e, após isso, eram empreendidas outras
atividades que visavam compreender qual
o impacto do que foi discutido antes. Clara-
mente, dadas as variações etárias, as ativi-
dades eram pensadas levando em conta
esses recortes: os mais jovens poderiam Fig. 4. Alunos da 1ª a 3ª série do Ensino Fun-
criar desenhos baseados na sua experiên- damental da escola Floracy Bonfim Pereira de
cia (ver fig. 4), e, aos maiores, era propos- Araújo; em pintura mural, uma das atividades
ta a criação de redações, poesias, repentes posteriores às aulas de arqueologia.
etc. Nesse caso específico, interessante foi
o fato do distanciamento na questão da contrário das nossas expectativas, de adul-
temporalidade, pois, numa dessas ativida- tos: era uma simulação de escavação (pre-
des, quando deveriam preencher a frase viamente montada pela equipe de profes-
“para mim, a Arqueologia é...”, as lacunas sores arqueólogos) – ver fig. 5.
foram completadas repetitivamente com A Semana de Arqueologia não se res-
termos como passado, velho, antigo/anti- tringiu ao espaço das escolas, havendo, nos
guidade, antepassado, pré-história/história últimos dias, algumas apresentações de gru-
(numa acepção passadista), ruínas, mortos/ pos de seresta, mostra de trabalho dos alu-
morte. Entretanto, a interação passado-pre- nos, a outras apresentações da comunidade
sente (que está no cerne da questão como as danças tradicionais da Pastorinha,
patrimonial) e que buscávamos em vários Suscia, oração do Imperador e Folia. Tais
momentos resgatar, também foi notada; é eventos paralelos no seio da Semana de Ar-
certo, por uma parte menos expressiva dos queologia, se parecem destoar do conteúdo
aprendizandos. Uma das atividades recebeu arqueologicamente orientado, no que tange
atenção especial das crianças, jovens e, ao à idéia de conscientização patrimonial, fo-

Fig. 5. “Tivemos nosso dia de arqueólogos!” (Lamyara Macedo – 6ª A, Escola Virgílio de Melo
Franco). A experiência da escavação: uma das atividades mais apreciadas pelos alunos.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

ram bastante positivo. Destaca-se, nesse seja, em contornos pedagógicos, é bastante


sentido, o grande evento que findava a Se- viável, e é neste ponto que a experiência em
mana de Arqueologia na cidade, sediado num Paranã, como professores-arqueólogos,
local de grande agregação social: trata-se deve ser retomada.
da Feira Coberta de Paranã, local onde ocor- É importante lembrar que os dois atores
rem vários eventos da cidade, e há, ao seu encontraram novidades: um, pois lhe será
lado, um pequeno comércio bastante fre- apresentado algo novo, que conhece pouco
qüentado. Ali, foram expostas as atividades ou desconhece completamente; e ao outro,
produzidas durante a semana pelos alunos, pois a escola elementar é um espaço dife-
num evento que conclamava toda a cidade. rente, com dinâmicas novas, a que o pesqui-
Foi nesse local, de reconhecimento fácil e sador tem que se adaptar em parte. O públi-
grande circulação, entre as manifestações co é diverso daquele com que ele está acos-
culturais que todos bem conheciam, insta- tumado a dialogar, e os objetivos de tal co-
lou-se a reflexão produzida sobre a cidade municação também são diversos. O dito pro-
no tocante à arqueologia e ao patrimônio. fessor-arqueólogo não é aquele que se rela-
Foi, no seio de manifestações tradicionais ciona cotidianamente com essa dinâmica
mescladas àquele conhecimento recente- e s c o l a r, e l e a p a r e c e e m s i t u a ç õ e s
mente adquirido, que se encerrou a Semana freqüentemente de exceção, ao contrário dos
de Arqueologia de Paranã. professores de História, Português, Matemá-
tica etc., matérias cujos docentes não são
necessariamente pesquisadores, e mesmo
3. A idéia de parceria na Arqueologia que sejam, eles devem seguir, pelo menos
Pública em parte, um projeto, um plano de ensino
(pedagógico), discutido no seio da escola,
Há dois atores que devemos caracteri- conselho tutelar, comunidade etc. O profes-
zar nessa idéia de parceria, atores bem di- sor-arqueólogo chega no contexto escolar
ferentes, cabe dizer, mas cuja união pode com algo definido por ele e (ou) por uma
ser bastante fecunda, se efetivamente equipe que integra, o conteúdo não é discu-
dialética, quando inseridos no quadro da Ar- tido no seio escolar e comunitário.
queologia Pública, sobretudo na dinâmica de Em Paranã, o caráter de exceção carac-
uma pedagogia arqueológica. Os atores são terístico dessa inserção do arqueólogo no
os seguintes: de um lado o profissional (o seio escolar foi amplamente observado. Em
arqueólogo) e do outro o que se denomina primeiro lugar, a chegada de um grupo de
geralmente como “leigo”. Há que se saber estranhos provocou certa ansiedade na ci-
que, diferente de qualquer acepção pejora- dade, e questões como as do título deste
tiva do termo, o leigo pode estar no plano do artigo surgiam. Iniciadas as atividades, as
interlocutor altamente intelectualizado, inclu- aulas apresentadas contavam com aparelha-
sive na tradição acadêmica, ou aquele com- gem de reprojeção digital e microfones - ver
pletamente distante dela: o leigo é apenas fig. 6; o que era bastante diferente dos re-
aquele que não conhece bem a Arqueologia, cursos que as escolas possuíam. Ainda, houve
seus processos científicos, jargões específi- certa reestruturação das salas, e em alguns
cos etc. casos até a remoção para outro espaço (a
A aparente apresentação opositiva não Feira Coberta de Paranã), que acolhia me-
é casual. Acreditamos que haja mesmo um lhor a aparelhagem e as grandes turmas de
distanciamento que deve ser sanado, atra- alunos.
vés de uma aproximação que não seja base- Toda essa reorganização promovia a in-
ada em práticas unidirecionais (o que só con- serção de um pessoal (os professores-arque-
firmaria tal oposição). Nesse sentido, a Ar- ólogos) e conteúdos novos nas escolas. Mas,
queologia, apresentada no seio escolar, ou dadas as condições climáticas (a cidade é

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O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

O estatuto do objeto no museu é diverso


daquele no contexto que foi criado e utiliza-
do de forma primária, e mesmo do “abando-
no”, sanado pela ação arqueológica. Distan-
te da dinâmica do museu universitário, a pró-
pria discussão artística do século XX indica-
va para um debate do papel de determina-
dos objetos num museu, e da variação de
seu estatuto em contextos diferentes. Lem-
bremos aqui da pilha de caixas de suco de
tomate Campbell, criada por Andy Warhol
(1969), e do miquitório (intitulado La
Fig. 6. Paulinho e Leilane ensinando arqueologia. Fontaine) assinado por Mutt (1917), heterônimo
de Marcel Duchamp (ver figs. 7 e 8). Ora,
bastante quente em novembro), episodicamente seriam os mesmos se estivessem no seu lo-
a aparelhagem falhou, e uma comunicação cal de origem (a prateleira de um supermer-
mais próxima da dinâmica cotidiana da es- cado ou num banheiro público qualquer?). A
cola restabeleceu-se (na falta de aparelhos, resposta passa, efetivamente, pela compre-
restavam as lousas e gizes). ensão do estatuto, da constituição de uma
Tal esforço servia, claramente, a uma “aura” do que está encerrado nas dependên-
conscientização (em alguns casos até pri- cias de qualquer museu.
mária) sobre o patrimônio arqueológico. En- Escolher esses objetos “auráticos”,
tretanto, como romper as barreiras da passa, em parte, pela ação arqueológica
conscientização primária (essa passo fun- desde seus primórdios, ou seja, já na sua
damental, mas inicial) e alcançar a partici- entonação antiquarista, que se caracteriza-
pação no processo seletivo, muitas vezes va, em muitos casos, por uma forte aproxi-
restrito aos profissionais relacionados à Ar-
queologia e ao museu?
As decisões do arqueólogo, a partir de
pressupostos científicos, freqüentemente pro-
põem seleções de artefatos, construções
arquiteturais etc., cuja conservação será fei-
ta.9 Há, dessa forma, uma intervenção gran-
de no quadro das referências das coisas a
serem guardadas, conservadas e lembradas.
São comuns as permanências de objetos
arqueológicos dentro de instituições acadê-
micas como museus universitários, ou mes-
mo em outros casos, em museus históricos
e de arte.

(9) A noção de preservação, numa discussão sobre a


Arqueologia Pública que se pretenda realmente ampla,
é variada. Vai desde a preservação material, até tudo o
que ela implica ideologicamente. Preservar, nesse sen-
tido, significa dar destaque a alguns elementos, visan-
do sua continuidade (talvez perenidade); uma sobrevi-
vência física, mas também no campo da memória. Fig. 7. A Fonte, Marcel Duchamp, 1917.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

unidirecional de conhecimento; mas ela pode


ser bastante importante quando se pensa em
integrar o público leigo nas escolhas finais
do processo de preservação patrimonial.
Nesse sentido, as práticas de Arqueologia
Pública, sobretudo as de entonação pedagó-
gica, têm papel essencial na formação (e não
condicionamento) do público leigo. O reco-
nhecimento dos materiais, da função do ar-
queólogo, e do estatuto que esses devem
ocupar no seio de sua comunidade devem
ser escolhidos, discutidos e construídos no
seio de um diálogo. Diálogo, no sentido mais
amplo da palavra, ou seja, uma relação
Fig. 8. Suco de tomate Campbell, Andy Warhol, dialética, onde há certas interdependências.
1969. Os papéis são claramente diferentes, mas
relativos.
mação com o Estado, quando, desde a épo- A prática arqueológica propõe diálo-
ca moderna, este toma a empresa de pre- gos com populações locais, antes mesmo de
servação patrimonial para si. Tal situação qualquer proposta de Arqueologia Pública.
deu-se freqüentemente contígua a um uso Destaca-se, nesse quadro, uma linha que vê
no campo da propaganda institucional esta- no outro, no leigo, um parceiro relativamen-
tal, como no caso da Escandinávia, Suécia, te importante na pesquisa arqueológica. Al-
Dinamarca, desde o século XVI. Clark (1985: guns manuais de Arqueologia indicam a im-
57) conta algo sobre a criação de um Museu portância do diálogo com populações locais,
Nacional dinamarquês, que que geralmente guardam na memória histó-
rias, e mesmo objetos materiais encontra-
Incorporando coleções provenientes dos ao longo de sua existência. Conversar
da Kunstkammer real, e a nomeação de com eles, então, mostra-se em alguns casos
uma comissão régia para salvaguardar indispensável.10 Entretanto, essa prática está
monumentos nacionais estabeleceram longe de uma ação arqueológica pública,
um firme vínculo entre o sentimento de dado que o relato do outro é usado de forma
identidade nacional e as relíquias do pas- quase puramente instrumental, e não é pre-
sado dinamarquês. visto algum retorno posterior.
Assim, foi no seio da ação acadêmi- Por fim, é devido dizer que uma Arqueo-
ca, freqüentemente endossada pela estatal, logia que proponha um verdadeiro diálogo
que se escolheram e preservaram as coisas com o outro lado dos muros da academia,
que devem ser rememoradas. A idéia de quando inserida nos processos educativos,
parceria, numa acepção mais ampla; ou mesmo em caráter de exceção, deve estar
seja, desobjetivando o outro (no caso, o pú- atenta às questões feitas pelo outro, se visa
blico leigo) parece propor uma mudança nes-
sa situação. Uma pedagogia arqueológica
serviria para algo muito além de ensinar o (10) “A informação oral torna-se muito útil, em geral,
que é importante arqueologicamente falando nos casos em que o arqueólogo está estudando um
(o passo inicial), mas de munir o leigo para sítio que foi ocupado em tempos ainda presentes na
memória de testemunhas, ou nos casos em que o
uma participação efetiva nessas escolhas. arqueólogo deseja conhecer a história do sítio após
A ação conscientizadora não se deve seu uso pelo povo que originalmente o construiu”.
pautar numa situação iluminista de fluxo (Orser Jr, 1992: 45)

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O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

tê-lo como parceiro. As perguntas do título AGRADECIMENTOS


aparentemente apresentam respostas sim-
ples, as quais o arqueólogo tem bastante Agradecemos ao professor doutor Pedro
desenvoltura para responder. Porém, visan- P. A. Funari, pelo interesse, gentil convite para
do reconhecer o outro como parceiro, essas publicação e sugestões bastante apropria-
questões devem sempre ser pensadas de das; bem como à professora doutora Erika
forma relativa, e não com uma objetividade M. Robrahn-González, pela disposição e in-
peculiar do discurso cientificamente basea- teresse sobre nossas atividades, desde a
do. O arqueólogo, suas interpretações, os Semana de Arqueologia em Paranã, até a
materiais com que trabalha, tudo isso está disponibilização de informações importantes
inserido num universo amplo de significados, para a confecção deste artigo. Agradecemos
por mais que durante muito tempo tenha-se também as empresas e instituições envolvi-
optado por ações restritivas. das na organização e execução da Semana
A Arqueologia é uma área que lida de Arqueologia em Paranã (Documento An-
freqüentemente com questões sobre o pas- tropologia e Arqueologia Ltda., Enerpeixe,
sado, e o debate patrimonial insere ações Núcleo de Estudos Estratégicos – Arqueolo-
sobre o presente.11 É necessário deixar claro gia Pública/Unicamp e Fundação Cultural de
que não é apenas a discussão patrimonial Jacarehy); e todos os integrantes da equipe
que aproxima a Arqueologia das questões do de professores-arqueólogos (Wagner,
nosso presente. A reflexão teórica sobre a Paulinho, Vinícius, Kelly, Silvana e Patrícia).
disciplina e sobre sua própria história indica Por fim, cabem agradecimentos ao CNPq, cujo
que a reflexão arqueológica sobre a cultura incentivo financeiro é responsável pela per-
material produzida no passado são interpre- manência das atividades acadêmicas de um
tadas a partir de abordagens teóricas e pro- dos autores deste artigo. As idéias aqui ex-
blemas freqüentemente relacionados ao postas são de inteira responsabilidade dos
universo do pesquisador. autores.

(11) É necessário deixar claro que não é apenas a


discussão patrimonial que aproxima a Arqueologia das
questões do nosso presente. A reflexão teórica so-
bre a disciplina e sobre sua própria história indica que
a reflexão arqueológica sobre a cultura material pro-
duzida no passado são interpretadas a partir de abor-
dagens teóricas e problemas freqüentemente relaci-
onados ao universo do pesquisador.

61
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Abstract: The aim of this article is to comment about the partnership


notion into the Public Archaeology debate, specifically in the classroom
dynamic. The comprehension about the archaeology role in this context
will be based on the authors’ experience as archaeology teachers during
the Semana de Arqueologia de Paranã - TO (Paranã Archaeology Week -
TO), a hands-on related to archaeological research activities in an
environmental impact zone, where a dam is about to be built.

Keywords: Identity, Public Archaeology, Heritage Education, Heritage,


Partnership

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62
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 63-120.

ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE NO MUNICÍPIO DE


RIBEIRÃO GRANDE, SUL DE SÃO PAULO: AÇÕES EM
ARQUEOLOGIA PÚBLICA LIGADAS AO PROJETO DE
AMPLIAÇÃO DA MINA CALCÁRIA LIMEIRA.

Erika Marion Robrahn-González*

Resumo: O presente artigo visa analisar o desenvolvimento da Arqueolo-


gia Pública enquanto prática e conceituação científica, e apresentar uma
iniciativa de aplicação que vem sendo desenvolvida junto à comunidade
do município de Ribeirão Grande, localizado na região sul do Estado de
São Paulo, com apoio da Companhia de Cimento Ribeirão Grande.

Palavras-chave: Arqueologia Pública, Ribeirão Grande, Arqueologia de São Paulo

Introdução ral. Nos dias de hoje, não mais nos limita-


mos a deixar registros em nosso próprio pla-
Todo ser humano é, em algum ponto de neta, mas lançamos artefatos ao espaço
sua essência, um arqueólogo. Isto significa (como a placa metálica enviada pelos EUA
dizer que a Arqueologia existe, em primeiro contendo a figura humana desenhada por
lugar, da necessidade do ser humano em Leonardo da Vinci e fórmulas matemáticas).
registrar sua própria história, seja através Estamos preparando, portanto, vestígios ar-
dos documentos escritos, das narrativas orais queológicos para que nossa história possa
ou dos diferentes marcos deixados no mun- ser lida por cientistas de muito mais além.
do que o rodeia, como a construção de tem- Por outro lado, todo ser humano tem
plos, o registro de cenas pintadas em pare- necessidade de conhecer sua história,
des rochosas, a implantação de sinais que construindo, a partir dela, suas referênci-
delimitem os territórios ocupados, e assim as de vida. A experiência acumulada pelo
por diante. Esses marcos, em especial, são homem fornece a sustentação necessária
produzidos pelas sociedades humanas para para olhar o futuro: seja perpetuando an-
que sejam reconhecidos tanto pelos própri- tigas formas de vida, seja negando estas
os membros de sua sociedade, como tam- formas e construindo novas alternativas de
bém por outras sociedades, definindo seu desenvolvimento.
universo político, econômico, social e cultu- O ser humano necessita, por fim, com-
preender formas de vida muito diferentes das
suas, como foram, por exemplo, as socieda-
des da América para os colonizadores euro-
(*) Núcleo de Estudos Estratégicos / UNICAMP peus quando alcançaram nosso continente,
arqueo@terra.com.br no século XV.

63
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

A Arqueologia é, em essência, a busca sado, à medida em que apontava novas e


desta história de experiências humanas. Mi- mais abrangentes perspectivas de abordar o
lênios antes da Arqueologia se firmar como desenvolvimento das sociedades ao longo do
disciplina no ocidente membros de diferen- tempo.
tes sociedades procuravam explicar o pas- Como conseqüência e continuidade des-
sado das mais variadas formas, onde se in- ta dinâmica, mais uma vez a Arqueologia se
cluem desde os mitos de criação do universo encontra no divã. Todavia, enquanto ao lon-
apresentados por grupos indígenas, até es- go de sua história os agentes motivadores
critos gregos datados em 800 anos a.C. que de mudança foram, principalmente, mem-
fazem referência à primeira divisão do pas- bros de dentro de sua própria comunidade
sado humano em eras culturais (Idade do científica, desta vez eles vêm de fora e po-
Ouro, Idade da Prata, Idade do Bronze, Ida- dem ser sintetizados em uma única palavra:
de Heróica e Idade do Ferro). sociedade.
Estes foram, sem dúvida, os arqueó- Este movimento vem sendo internacio-
logos de seu tempo. De fato, a História da nalmente denominado “Arqueologia Pública”,
Arqueologia é, antes de mais nada, uma voltada ao relacionamento entre a pesquisa
história de idéias e de descobertas, de for- e o manejo de bens culturais com os grupos
mas de olhar o passado. E cada olhar cons- sociais interessados, de forma a promover a
titui um reflexo ou produto de seu próprio participação da sociedade na gestão de seu
tempo. Se no início podemos chamar, com patrimônio arqueológico e histórico.
certa liberdade poética, de “arqueólogo” Essa abordagem prescinde, todavia, de
aquele que registrava cenas de sua cultu- uma profunda mudança de postura com res-
ra em paredes de pedra, hoje chamamos peito ao nosso “objeto de estudo” e procedi-
de arqueólogo aquele que se vale de mo- mentos de trabalho. Hoje entendemos não
dernos conceitos teóricos, técnicas sofis- ser mais possível que a Arqueologia conti-
ticadas e grandes organizações de traba- nue voltada ao desenvolvimento de um ser
lho para explicar, segundo os atuais pre- abstrato chamado “Ciência”, colecionador
ceitos da Ciência, o mesmo velho tema: a insaciável de novas teorias, novas descober-
história humana. tas, novas abordagens, novas discussões.
Enquanto arqueólogos deste início do Valendo-me de uma imagem da nossa velha
século XXI, trazemos no currículo pelo me- conhecida Teoria de Sistemas, o turning point
nos cinco séculos de experiência, contados da Arqueologia pode ser sintetizado em uma
desde os primórdios da disciplina no conti- única palavra: sociedade.
nente europeu, ainda durante o século XV. Temos, assim, uma mudança essencial
Se fôssemos capazes de contabilizar o in- de foco, onde a Arqueologia deixa de ser uma
vestimento intelectual e o volume de estu- ciência com olhar voltado ao passado para
dos realizados, certamente nos surpreende- assumir sua responsabilidade na compreen-
ríamos com o resultado: milhares (ou mi- são do presente e na promoção do futuro.
lhões) de trabalhos de campo, de acervos O presente trabalho visa apresentar uma
pesquisados, de datações adquiridas, de pu- reflexão sobre o tema, apoiado em uma dis-
blicações, apresentações em reuniões e con- cussão teórica e conceitual e apresentando
gressos, debates científicos, exposições e uma síntese dos resultados até o momento
muitos itens mais. abtidos pela pesquisa que vem sendo desen-
Dos colecionadores de peças exóticas da volvida em parceria com a empresa Compa-
Antiguidade aos dias atuais, a Arqueologia nhia de Cimento Ribeirão Grande (CCRG) por
não foi apenas capaz de acumular um co- conta do licenciamento ambiental do Projeto
nhecimento respeitável sobre o passado hu- de Ampliação da Mina Limeira, localizada na
mano; discutiu incansavelmente, também, região sul de São Paulo, município de Ribei-
sua responsabilidade ética sobre este pas- rão Grande.

64
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

Conceituação e responsabilidades referentes ao conteúdo


das mensagens transmitidas sobre o passa-
A busca em compreender o passado hu- do, considerando as dimensões sociais e
mano se deu, inicialmente, através de mani- políticas envolvidas. Isto se aplicava tanto à
festações oriundas da própria sociedade, divulgação científica quanto à divulgação vol-
como nos exemplificam os mitos de criação tada ao público em geral (para uma revisão
do mundo, ou mesmo a atividade quase ins- do tema vide Moser 2001).
tintiva de colecionar objetos que remetes- Observou-se assim uma crescente pre-
sem e materializassem a própria existência ocupação, no cenário internacional, com os
deste passado. À medida que a Arqueologia aspectos públicos da Arqueologia, entendi-
foi se firmando enquanto disciplina (especi- dos como as questões de planejamento eco-
almente a partir do século XIX), o estudo e nômico, ações sociais e políticas envolvidas
interpretação da história humana constitui na prática da disciplina. Com a fundação da
domínio e atribuição de profissionais cientis- WAC (World Archaeological Congress) em
tas, em busca de um “passado objetivo real”. 1986, a Arqueologia tem tratado de forma
A própria terminologia cada vez mais técni- mais sistemática o relacionamento entre a
ca da Arqueologia, em boa parte adquirida pesquisa e manejo de bens culturais e os
através da New Archaeology, já no século grupos sociais interessados. O surgimento da
XX, perpetua a mistificação da disciplina, e primeira publicação periódica sobre o tema,
sua prática pressupõe uma crescente alie- Public Archaeology (Londres, James &
nação junto ao público, fazendo crer que James), em 2000, assinala o amadurecimen-
pouco há para ser aprendido com a partici- to das discussões estratégicas sobre o cará-
pação da sociedade nas pesquisas. ter público da disciplina e sua importância
Esse distanciamento do arqueólogo jun- social.
to ao público pode ser bem ilustrado por uma Em vários outros países do mundo, in-
situação apresentada em artigo de Shackel cluindo o Brasil, a Arqueologia deixou por
(2002:13), em que relata escavações reali- muito tempo para uma equipe de não-arque-
zadas no Parque Nacional Harpers Ferry/EUA, ólogos (incluindo caçadores de tesouros,
na década de 1970. Na chegada ao local de amadores, saqueadores e romancistas) a
trabalho possíveis visitantes eram recepcionados missão de propagar suas descobertas e in-
por uma placa contendo os seguintes dizeres: terpretações, não raro de modo distorcido.
Nos últimos anos, todavia, os arqueólogos
começaram a introduzir em sua rotina de tra-
Yes – we are archaeologists. balho diferentes ações referentes à agenda
em Arqueologia Pública, como educação,
Yes – we are doing archaeology. integração com a comunidade e proteção/
preservação de sítios arqueológicos.
Please do not disturb us. Inicialmente as ações em Arqueologia
Pública estiveram mais voltadas à proteção
e preservação do patrimônio arqueológico,
Os primeiros arqueólogos a atravessar haja visto que os profissionais se depararam
a fronteira entre a audiência científica e a com um ritmo cada vez mais acelerado de
audiência pública foram duramente critica- degradação e destruição deste patrimônio.
dos, incluindo um certo questionamento so- A perda de patrimônio cultural é comparável
bre a própria sustentação científica de seus à extinção de espécies vegetais ou animais:
trabalhos. é para sempre. A manutenção dos vestígios
Essa iniciativa se deveu à Arqueologia do passado (sejam eles artefatos, sítios ar-
Pós-processualista que, a partir do início da queológicos, paisagens ou qualquer tipo de
década de 1980, alertava sobre os cuidados estrutura) constitui elemento fundamental

65
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

para continuar havendo uma ligação tangí- gia não só utiliza uma série de tecnologias
vel com o passado, elemento crítico de toda nas pesquisas, onde se incluem as datações
vida social. Assim sendo, independente de radiocarbônicas, sensoriamento remoto, aná-
como o passado é estruturado, compreendê- lises químicas, entre outros (McManamon
lo e proteger seus símbolos constitui parte 2000:13), assuntos que despertam grande
integrante da experiência coletiva humana – interesse do público em geral, e do estudan-
e da classe arqueológica em particular (Smith til em particular – como por intermédio de
& Ehrenhard 2002:121). seus estudos é possível conhecer o desen-
Mas rapidamente os arqueólogos perce- volvimento tecnológico desde a pré-história
beram que necessitavam reconhecer não até os dias atuais e outros aspectos do de-
somente sua responsabilidade sobre os ves- senvolvimento humano, como a agricultura
tígios arqueológicos, mas igualmente sobre e a metalurgia.
as pessoas cuja herança histórica e cultural Fatores como os acima mencionados le-
se relacionava a estes vestígios (Little vam muitas pessoas a considerar a Arqueo-
2002:10). Um dos benefícios públicos da Ar- logia importante, estando, na maior parte das
queologia está justamente em contribuir para vezes, interessadas em aprender sobre ela.
o fortalecimento dos vínculos existentes en- Acreditam que seu estudo traz ferramentas
tre a comunidade e seu passado, ampliando importantes também para entender o mun-
o interesse da sociedade sobre o patrimônio do moderno, ressaltando seu valor educativo,
e criando, assim, a sustentação necessária artístico, estético e até espiritual. A Arqueo-
às medidas de preservação. logia pode, assim, desenvolver elos entre
Nessa empreitada devemos explorar o presente e passado, fortalecendo-os mutua-
grande interesse e fascínio que a Arqueolo- mente e trazendo ensinamentos sobre a ex-
gia desperta nas pessoas, por conta de seu periência humana como um todo (Little
perfil de descobertas e da busca pelo passa- 2002:16).
do. De fato, a Arqueologia parece constituir Se expandirmos nossa visão para reco-
a segunda profissão de mais da metade da nhecer os sucessos e insucessos das socie-
população. Freqüentemente nos deparamos dades ao longo dos tempos, nossa tolerân-
com frases como “se eu não fosse engenhei- cia social deverá ser expandida. Hoje os
ro (ou médico, ou professor, ou qualquer estudantes necessitam compreender a his-
outra profissão), seria arqueólogo”. tória do mundo e de pessoas de diferentes
A relação que a Arqueologia estabelece culturas e contextos que desenvolveram idéi-
com as diferentes áreas de conhecimento - as, instituições e formas de vida diferentes
uma vez que é uma ciência verdadeiramen- da sua. Nesse sentido, o conhecimento de
te interdisciplinar, fruto da somatória de cada diferentes formas de vida, experiências e
disciplina científica e humanista – é mais um perspectivas da humanidade no passado po-
dos fatores que faz com que muitas pessoas dem contribuir em criar cidadãos mais paci-
se sintam próximas a ela. Isto se aplica, por entes e respeitosos, especialmente com gru-
exemplo, ao caso da estabilidade e mudan- pos excluídos ou minorias étnicas, em nossa
ça ambiental: através do conhecimento da sociedade crescentemente pluralista (Shiva
sucessão de experiências humanas ocorri- 2003; National Center for History in the
das sobre um ecossistema, é possível refle- Schools 1996:1, citado por Little 2002:12).
tir sobre alternativas de gestão e manejo, Hoje temos necessidade de sermos com-
trazendo uma visão mais global e tangível petentes num mundo multicultural, e a Ar-
ao tema (Little 2002: 9; De Vries 2003). queologia pode proporcionar ferramentas
Podemos citar ainda como fator de apro- que auxiliem a viver nesta sociedade
ximação entre a Arqueologia e o público em crescentemente complexa, ensinando as pes-
geral o crescente interesse e uso de soas sobre outras culturas e tempos, forne-
tecnologia no mundo moderno. A Arqueolo- cendo-lhes ferramentas para melhor com-

66
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

preender a diversidade humana, ao expan- É preciso, assim, reconhecer a pluralidade


dir suas visões de mundo (Little 2002:13). de interesses e graus de percepção do pas-
Essa compreensão da diversidade leva à sado, bem como as necessidades políticas
tolerância, que permite a inserção de diver- do presente. Para tanto, os programas de
sos segmentos da sociedade, tornando to- pesquisa devem envolver aspectos culturais
dos os indivíduos sujeitos plenos de direitos e identitários da comunidade envolvida, ele-
e deveres: cidadãos. Assim, um dos benefí- mentos que exigem novas posturas e abor-
cios públicos da Arqueologia é o mesmo que dagens, trazendo alterações essenciais aos
oferece a história e a ciência: a educação da estudos arqueológicos (Gosden 2001; Fagan
cidadania. Do mesmo modo que o 2002).
multiculturalismo pode ser representado tan- A Arqueologia pode construir elos entre
to pela existência de uma multiplicidade de a comunidade no presente, assim como no
culturas do mundo, como pela co-existência passado, no momento em que sua herança
de culturas diversas no espaço de um mes- cultural é valorizada, preservando histórias
mo Estado-nação e as interinfluências que e tradições. Por essa razão o conteúdo da
ocorrem tanto dentro como além do Estado- mensagem a ser transmitida ao público deve
nação (Santos 2003), o conceito de cidada- estar, antes de mais nada, atrelado à histó-
nia não presume limites estritos: pode-se, ria local, de forma a construir um elo de per-
ao mesmo tempo, ser cidadão de um muni- cepção junto ao público, partindo daí para
cípio, de um país, ou cidadão do mundo (Ri- contextos mais gerais. Isso pode incluir ob-
beiro 2000), e a Arqueologia transita entre jetos identificados no local, sítios ou vestígi-
estes diferentes níveis o tempo todo. os mais conhecidos, dados sobre como os
Assim, como bem coloca McManamon grupos humanos do passado viveram naquele
(1991, 1994, citado por Smith & Ehrenhard mesmo espaço geográfico, entre tantos ou-
123), não temos apenas um público a consi- tros (McManamon 2000:13; Lerner 1991, ci-
derar, mas vários. Devemos refletir sobre a tado por McManamon 2000:14). Por outro
maneirar como nossa sociedade se posiciona lado a mensagem deve também conter da-
com relação ao seu passado: Qual o passa- dos sobre a importância deste patrimônio, o
do que merece ser resgatado? Quais os me- fato dele ser único e não renovável, e tam-
canismos que a sociedade utiliza para regis- bém o esforço e detalhamento da pesquisa
trar e perpetuar sua própria história? científica necessária para construir o conhe-
Em oposição às ciências naturais, a ci- cimento, visando sensibilizar o público sobre
ência social necessita ser, particularmente sua valorização e necessidade de preservação.
nestes tempos pós-modernos, pluralista em No caso brasileiro, onde a sociedade
essência. A admissão de diferenças não põe nacional foi formada através de uma ruptura
em cheque a autoridade da disciplina. Ao entre as ocupações indígenas que aqui se
contrário: o reconhecimento de que as idéi- encontravam e o elemento europeu, mais
as e interpretações são produto de condi- tarde acrescido pela cultura africana, é fre-
ções históricas específicas amplia o debate qüente a comunidade atual não reconhecer
e sua contribuição. Segundo define Molyneaux vínculos com o contexto arqueológico, em-
(1994:6), se desejamos obter uma compre- bora tenha interesse pelo seu sentido exóti-
ensão do passado que abranja a complexi- co. Isso se agrava pelo fato de que até mes-
dade e diversidade de suas mensagens pos- mo a construção da História do Brasil tenha
síveis, então precisamos reconhecer a exis- sido tradicionalmente feita a partir de sua
tência de um público igualmente diverso, e classe intelectual dominante, resultando em
aprender a lidar com ele. Para assim proce- um baixo ou nulo reconhecimento da popu-
der mostra-se necessário reconhecer e res- lação em geral como sendo esta a “sua his-
peitar todos os valores atribuídos à herança tória”. O próprio currículo escolar não inclui
arqueológica, incluindo a científica. uma efetiva história das minorias, apesar de

67
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

sua participação fundamental na formação e De modo análogo os arqueólogos ne-


desenvolvimento da sociedade nacional. cessitam considerar as diferenças funda-
Contexto muito próximo ocorre em pes- mentais entre os grupos humanos no que
quisas no sul da África, onde os vestígios se refere à própria compreensão da dimen-
arqueológicos e a herança patrimonial foram, são do tempo. A noção ocidental sobre a
durante todo o longo período colonial, trata- passagem do tempo é geralmente adotada
dos a partir dos interesses da aristocracia e como real e natural, mas existem vários
não a partir das aspirações das comunida- exemplos antropológicos e etnográficos con-
des locais. Assim, como parte do processo trários. Os grupos Inuit do noroeste do Ca-
político e da própria perspectiva da pesquisa nadá concebem sua realidade vivendo ape-
arqueológica realizada, parte do legado co- nas no presente, sem reconhecer
lonial foi justamente causar a alienação das sequenciamentos cronológicos onde orga-
comunidades locais com sua herança cultu- nizem seus eventos: o passado é compre-
ral (Ndoro & Pwiti 2001:21). endido como parte do presente (Smith &
Nesse sentido os vestígios arqueológicos, Ehrenhard 2002:122-3; Crist 2002).
enquanto elementos materiais tangíveis, pro- Considerando esse conjunto de aspec-
porcionam uma experiência que auxilia no tos, mostra-se essencial que a pesquisa ar-
reconhecimento de que existe um passado, queológica seja realizada em conjunto com
constituindo uma ponte concreta entre o an- os descendentes vivos da sociedade que criou
tes e o agora e proporcionando, como defi- ou herdou os vestígios estudados. Assim será
ne Lowenthal (1985:XXIII, citado por possível conduzir os trabalhos a partir de
McManamon 2002:32), uma metáfora que uma perspectiva de “arqueologia democráti-
ilumina o processo da história e da memória. ca”, como define Faulkner (2000), que com-
No caminho ressurge uma das questões preende a realização de trabalhos com base
fundamentais da Arqueologia: quem controla na comunidade, de forma não excludente e
e a quem pertence o passado (ou, nos ter- não hierárquica, e dedicados a um desenho
mos acadêmicos, a quem concerne sua pro- de pesquisa que pressuponha interação en-
priedade intelectual?). Certamente os arque- tre os vestígios materiais, a metodologia de
ólogos não são os únicos a poder contar trabalho e a interpretação. Dentre outros
histórias, nem tampouco exercem o poder exemplos frutíferos de pesquisas arqueoló-
absoluto sobre o passado das comunidades gicas realizadas contando com a participa-
vivas, como ocorre com aquelas que não ção de membros da comunidade podemos
têm mais voz. Não podemos impor nossa citar o realizado por Field (Field et al 2000)
versão do passado ao mundo, ignorando entre os aborígines Australianos e o de
histórias tradicionais e outras perspectivas Faulkner (2000) com a sociedade inglesa
que a comunidade nos traz. A ciência não é contemporânea.
onipotente ou exclusiva: todos nós contro- Contudo, segundo Fabian (1983), o re-
lamos e a todos nós pertence o passado, conhecimento da mudança não nega aspec-
incluindo povos dos quatro cantos da terra. tos de continuidade mas aponta a necessi-
Temos apenas perspectivas diferentes so- dade de tratar tanto a mudança como a con-
bre ele, valores culturais específicos e ex- tinuidade como questões empíricas. As cul-
pectativas diversas sobre as lições que pode turas não correspondem a entidades estáti-
nos ensinar. Assim, um dos instrumentos cas que existem à margem da História (Wolf
mais valiosos da Arqueologia Pública é tra- 1984) e a Arqueologia deve analisar as soci-
zer tolerância e compreensão das diversi- edades contemporâneas a partir desta pers-
dades culturais e das diversidades sobre o pectiva. Nesse contexto a Arqueologia é ca-
passado (para uma discussão sobre o tema, paz de trazer o poder do passado para a
vide Thomas 2000, citado por Little 2002:6; legitimação das comunidades e seu fortale-
Kuwanwisiwma 2002). cimento no presente.

68
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

Nas últimas décadas muitos estudos têm queologia abrem-se preciosas oportunidades
se dedicado, por exemplo, a definir de forma de ocupar espaços ainda vazios, voltados a
mais clara e precisa a natureza e resultado uma abordagem mais abrangente e pluralista
das mudanças geradas pelo processo de co- de nossa herança cultural.
lonização, especialmente em sociedades da E é dentro desta abordagem e conceituação
América e da África (Atkinson 1989; Campbell que o texto que se segue visa demonstrar
1988; Lamphear 1988; Handler 1968; Huffman uma experiência de trabalho desenvolvido em
1982, 1986; Schmidt 1990; Stahl 1994; Arqueologia Pública em uma area da região
Upham 1987; Whitehead 1990, entre outros). sul do estado de São Paulo, abrangendo os
Os benefícios públicos que a Arqueolo- campos da educação, divulgação, valoriza-
gia poderá trazer, junto a comunidades indí- ção cultural e preservação, com o objetivo
genas ou a comunidades de qualquer natu- de expandir as reflexões aqui apresentadas.
reza, porém, dependem fortemente da soli-
dez e credibilidade científica das pesquisas.
Sem isso, o interesse da comunidade será O Programa Arqueológico Mina Limeira
diminuído e sua atenção deverá recair, fatal-
mente, ao aspecto exótico e fantasioso da O Projeto de Ampliação da Mina Limei-
disciplina (Lipe 2000:20 in Little). ra, de responsabilidade da empresa Compa-
O desafio do arqueólogo está, entre ou- nhia de Cimento Ribeirão Grande (CCRG),
tros, em estabelecer um significado científi- vem sendo desenvolvido desde 2002 englo-
co e histórico às “coisas do passado”, ou seja, bando as diferentes fases de licenciamento
aos objetos retirados das escavações, que ambiental da obra. Abrange terras dos mu-
devem ser utilizados como ponte entre a ex- nicípios de Capão Bonito e Ribeirão Grande,
periência do público e um mundo passado localizados na região sudeste do estado de
reconstruído a partir de inúmeras outras evi- São Paulo.
dências (onde se incluem a história oral, os A área integra o que se define como “re-
mitos e os conhecimentos tradicionais). Nes- gião do alto Paranapanema”, mais precisa-
sa tarefa o arqueólogo necessita, mais do mente em seu limite meridional, próximo à
que nunca, de uma equipe interdisciplinar que crista dos divisores de águas com a bacia do
possa transitar em todos os campos de co- rio Ribeira de Iguape. A área-foco da pes-
nhecimento e esferas sociais de atuação. quisa é banhada por pequenos córregos que
Cabe a ele não apenas fornecer os dados de deságuam no rio das Almas que, por sua
pesquisa que possui, necessários à evolução vez, é um dos formadores do rio Paranapanema,
do trabalho, mas principalmente fornecer seu em seu alto curso (Figura 1).
olhar sobre o passado, para que profissio- O vale do alto Paranapanema oferece
nais nas áreas de antropologia, sociologia, interessantes questões científicas à Arqueo-
história, educação, publicidade, marketing, logia. Em primeiro lugar, corresponde a uma
turismo e tantas outras, possam trabalhar zona de transição ambiental entre a região
de forma séria e criativa. florestada da serra da Paranapiacaba (fisi-
A tudo isto podemos denominar “Ciência camente integrada à porção do médio/alto
Aplicada”, correspondendo ao amplo leque vale da bacia do Ribeira de Iguape), e o pla-
de contribuições que a Arqueologia pode ofe- nalto paulista. Esta condição geográfica te-
recer no fortalecimento e valorização das ria, ao menos em parte, influenciado no as-
comunidades atuais. sentamento dos grupos indígenas pré-colo-
No Brasil este momento apresenta uma niais que ali se desenvolveram, fazendo com
cor especial. Isto se dá especialmente por que aparentem características específicas, e
conta da conjuntura social e política que atra- distintas de suas áreas de origem, o planalto
vessa, na qualidade de país em desenvolvi- central brasileiro (De Blasis 1996, Robrahn-
mento rumo à era da globalização. À Ar- González & De Blasis 1998).

69
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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CANANÉIA
I. de Cananéia

-49º -48º

Figura 1 – Região sudeste do Estado de São Paulo, com a Serra do Paranapiacaba definindo os
limites entre o vale do Paranapanema (a noroeste) e o vale do rio Ribeira de Iguape (ao sul).
Localização regional da área do empreendimento, no vale do rio Almas, um dos formadores do
Paranapanema.

Em segundo lugar, o vale do Paranapanema pliação, considerando que a Mina Limeira


é recorrentemente apontado pela bibliogra- teve sua exploração iniciada há décadas, sem
fia arqueológica como possível área de fron- contudo ter sido, efetivamente, posta em
teira cultural, delimitando o território de ocu- operação. O objeto do atual licenciamento
pação de grupos indígenas tradicionalmente implica tanto na área projetada para ampli-
ligados à região sul brasileira (cujos sítios ar e iniciar a exploração calcária da Mina,
são genericamente relacionados às denomi- como também as obras de apoio que lhe
nadas tradições Umbu e Itararé) e grupos serão relacionadas, a saber:
indígenas ligados à região sudeste (com síti-
• o depósito de estéril Leiteria (D.E. Leite-
os relacionados às tradições Tupi-guarani e
ria, também já há décadas em operação);
Humaitá, embora esta última esteja sendo
hoje re-avaliada) (De Blasis 1988, 1996; • o depósito de estéril Barro Branco (D.E.
Mello Araújo 2001; Robrahn 1989; Barros Barro Branco)
Barreto 1988; Hoeltz 1997; Dias 1994;
• via de acesso a ser aberta entre o D.E.
Schimtz 1981, 1987; Kern 1982; Robrahn-
Barro Branco e a fábrica da CCRG.
González & De Blasis 1998).
No que se refere à delimitação da área Estas correspondem às áreas direta-
de pesquisa, trata-se de um projeto de am- mente afetadas pelo empreendimento

70
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

(ADA), e que foram objeto de estudos sis- te ( Figura 2 ). Dos 50 sítios, 34 são do
temáticos intensivos. Todavia, visando ob- tipo lítico (ou 68%), 4 cerâmicos (ou 8%),
ter um contexto científico de referência aos 9 sítios ligados ao período histórico (ou
vestígios identificados no interior da ADA, 18%) e 2 sítios multicomponenciais (ou
os trabalhos de campo e os levantamentos seja, sítios que apresentam vestígios re-
documentais se estenderam pelo que se lacionados a mais de uma ocupação hu-
definiu como área de influência indireta do mana – 4%) (vide Tabela 1 ).
empreendimento (AII), aqui considerado O presente artigo não objetiva detalhar
como abrangendo todo o vale do rio das aspectos referentes a estes sítios arqueoló-
Almas e os municípios afetados. Por outro gicos, às suas indústrias e às filiações ar-
lado, muitas das discussões científicas apre- queológicas regionais, uma vez que estes
sentadas pelo texto exigiram a abrangência assuntos estão sendo tratados e serão apre-
de um espaço geográfico maior, podendo sentados na dissertação de Mestrado de Ger-
alcançar todo o planalto meridional brasi- son Levi da Silva Mendes (MAE-USP). A utili-
leiro no que se refere a questões como mi- zação dos dados da pesquisa para trabalhos
grações, territórios de ocupação, contatos acadêmicos constitui, aliás, outra iniciativa
extra-culturais, entre outros. incentivada pelo Programa, proporcionando
Os trabalhos de campo tiveram início o detalhamento de análises científicas sobre
através de prospecções na ADA, buscando os temas tratados e resultando em contri-
reconhecer o patrimônio arqueológico en- buições científicas adicionais e de maior de-
volvido. De início foram realizados levanta- talhe em focos específicos.
mentos extensivos, consistindo em uma pri- Desta forma apresenta-se, abaixo, uma
meira abordagem de reconhecimento da síntese dos principais horizontes de ocupa-
área e de seus vestígios (procedimento es- ção humana identificados pelas pesquisas.
pecialmente empregado durante os estudos Estes horizontes partem do contexto mais
de diagnóstico da área). Em seguida deu- antigo (paleo-índio), até alcançar a ocupa-
se início às prospecções sistemáticas (tipo ção atual de Ribeirão Grande, buscando in-
varredura), implicando na observação dos corporar seus diversos passados, por assim
terrenos tanto em superfície como em pro- dizer: o passado pré-colonial, formado por
fundidade. diferentes grupos indígenas que se desen-
Durante estas prospecções sistemáticas volveram na região há pelo menos 5.500 anos
as equipes percorreram cada uma das áreas atrás, e o passado histórico, que embora na
que compõem a ADA caminhando em alinha- memória da atual comunidade que ali vive
mentos paralelos distantes entre si de 20 em recue apenas até a época da mineração (a
20 metros, com realização de poços-teste a partir do século XVII), incorpora traços
cada 20 m percorridos. Os poços-teste apre- marcantes de tradição indígena em diversas
sentaram dimensões de 0,4m de diâmetro e práticas do cotidiano.
1,0m de profundidade (podendo variar a pro- Neste contexto, o objetivo maior do pre-
fundidade de acordo com a espessura de solo sente artigo é incorporar a comunidade atu-
presente, podendo alcançar até 2,5m). al na história regional, através das diferen-
Este tática de cobertura por alinha- tes nuances materiais e materiais que cons-
mentos paralelos com distribuição de po- tituem a continuidade e herança deste pas-
ços-testes de forma regular permitiu ob- sado milenar. Assim, na apresentação dos
ter dados necessários ao estudo dos pa- chamados “horizontes de ocupação huma-
drões de distribuição dos sítios arqueo- na”, será dada maior ênfase e detalhamento
lógicos na paisagem. A pesquisa foi res- em seus aspectos uma vez que, conforme já
ponsável pela identificação de 50 sítios mencionado acima, os contextos de ocupa-
arqueológicos, dos quais 17 foram, pos- ção pré-colonial estarão sendo apresentados
teriormente, escavados sistematicamen- em trabalho acadêmico.

71
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Sítios cerâmicos
Sítios históricos
Sítios líticos
Sítios multicomponenciais

Figura 2 - Localização dos sítios arqueológicosura

Tabela 1
Sítios arqueológicos identificados pelo programa
Nome do sítio Tipo Área Coordenada UTM

Sitio Leiteria 1 Lítico D.E. Leiteria 22 J 765568/7326832


Sitio Leiteria 2 Lítico D.E. Leiteria 22 J 765281/7326621
Sitio Leiteria 4 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 764889/7326690
Sitio Leiteria 5 Multicomponencial Área de Influência Indireta 22 J 765529/7327192
Sitio Leiteria 6 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 765892/7328244
Sitio Leiteria 7 Cerâmico Área de Influência Indireta 22 J 764702/7326440

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

Tabela 1 (cont.)
Sítios arqueológicos identificados pelo programa
Nome do sítio Tipo Área Coordenada UTM

Sitio Leiteria 8 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 764969/7326112


Sitio Leiteria 9 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 764676/7326260
Sitio Leiteria 10 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 764882/7326032
Sitio Leiteria 11 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 765287/7326459
Sitio Anacleto 2 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 765041/7325898
Sitio Anacleto 3 Cerâmico Área de Influência Indireta 22 J 765251/7325885
Sitio Cristal 1 Lítico D.E. Leiteria 22 J 765786/7327045
Sitio Cristal 2 Lítico D.E. Leiteria 22 J 765909/732695
Sitio Cristal 3 Cerâmico Área de Influência Indireta 22 J 765931/7326680
Sitio Cristal 4 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 766085/7326777
Sitio Cristal 5 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 765940/7326541
Sítio Velho 1 Multicomponencial Área de Influência Indireta 22 J 764666/7324030
Sítio Velho 2 Cerâmico Área de Influência Indireta 22 J 765254/7324635
Sítio Velho 3 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 764730/7324045
Sitio Limeira 1 Lítico Mina Limeira 22 J 772711/7324330
Sítio Limeira 2 Lítico Mina Limeira 22 J 772504/7324412
Sítio Limeira 3 Histórico Mina Limeira 22 J 771445/7324530
Sitio Barro Branco 1 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768420/7322684
Sitio Barro Branco 2 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768281/7322814
Sítio Barro Branco 3 Lítico a D.E. Barro Branco 22 J 768421/7322479
Sitio Barro Branco 4 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768628/7322818
Sítio Barro Branco 5 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 767659/7323182
Sítio Barro Branco 6 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 767549/7323294
Sítio Barro Branco 7 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 769211/ 7321987
Sitio Barro Branco 8 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768731/7323195
Sitio Barro Branco 9 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768587/7323278
Sitio Barro Branco 10 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768406/7322369
Sitio Barro Branco 11 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 768129/7322675
Sitio Barro Branco 12 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 768476/732323
Sítio Barro Branco 13 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 767696/7322292
Sitio Barro Branco 14 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768299/7322661
Sítio Barro Branco 15 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768526/7322502
Sítio Barro Branco 16 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768558/7322723
Sítio Barro Branco 17 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 768562/7322784
Sítio Barro Branco 18 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 768562/7323033
Sítio Barro Branco 19 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768590/7322370
Sítio Barro Branco 20 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768600/7322256
Sítio Barro Branco 21 Lítico D.E. Barro Branco 22 J 768551/7322197
Sítio Barro Branco 22 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 768368/7322982
Sítio Barro Branco 23 Lítico Área de Influência Indireta 22 J 768108/7322235
Sítio Cachoeira 1 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 769247/7324679
Sítio Cachoeira 3 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 768461/7324017
Sítio Cachoeira 4 Histórico Área de Influência Indireta 22 J 768549/7323965
Sítio Ribeirão Velho Histórico Área de Influência Indireta 22 J 767636/7323221

73
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

• Horizonte paleoíndio, com poucos arte- e em Guapiara, conforme informações de


fatos e lascas encontrados de transienct arqueólogos e colecionistas. Foi denomi-
settlers, com presença de pontas projé- nado “horizonte 1”.
teis rabo de peixe planas lascadas por
• Horizonte caçador-coletor antigo, ca-
pressão, e pontas de lança com até 20cm
racterizado pela presença de pontas-pro-
de comprimento, encontradas em profun-
didade superior a 150cm, sempre associ- jéteis e lascas de acabamento, predo-
ados ao entorno de antigas lagunas, hoje minantemente de sílex de boa qualida-
banhados de fundos de vale altos. Esses de, além da presença de artefatos de
sítios têm uma área potencial entre os quartzo hialino, em profundidades supe-
bairros dos Caetanos, Caetanos Velhos e riores a 50cm chegando aos 80cm, situ-
dos Cândidos, onde uma ponta de lança ados sempre em topos de colinas e ali-
foi encontrada a 2,5m de profundidade nhados com outros sítios em situações
por habitante local. Estes sítios devem ser de implantação muito similares, apontan-
mais raros e profundos e estudos ulterio- do para uma provável integração em um
res de reconstrução ambiental para as mesmo período (Foto). Foi denominado
paleolagoas da área apontarão para zo- “horizonte 2”. As indústrias destes hori-
nas potenciais de ocorrência. Em outros zontes (2 e 3) não apresentam mudan-
municípios pontas de lança também fo- ças significativas se estudadas tecno-
ram encontradas, sobretudo em Iporanga tipologicamente ou mesmo em sua va-

Horizonte 2: vestígios líticos do sítio Barro Branco 21, (Foto: Gérson Levi Méndes).

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

riabilidade isocréstica (como apontado por vale para vale, cada qual, atualmente, com
Schmidt Dias 2003 para as indústrias microclimas e ocorrências de espécies
Umbu do extremo nordeste do Rio Grande endêmicas próprias, apontando para um
do Sul, que indica uma continuidade da mosaico vegetacional complexo e alterna-
organização social tecnológica irreal entre do, como indicam as manchas de cerrado
os conjuntos artefatuais). Contudo, as em áreas próximas, a presença de
mudanças são percebidas quando estuda- araucárias em fundo de vale onde o lençol
das num contexto regional amplo de siste- freático está mais alto e a recente forma-
ma de povoamento e percebidas articu- ção da floresta tropical úmida, a Mata Atlân-
ladamente em vales e microbacias tica. Para este horizonte tem-se a data de
hidrográficas (Moraes 2000), pois apon- 5.030 +- 50 BP (calibradas em 5.920 a
tam para as diversas respostas que um 5.660 BP, Laboratório Beta Analytic Inc,
mesmo sistema de eventos e povoamento amostra 207853).
utilizou-se para responder às necessida-
des econômicas e sociais locais, criando- • Horizonte caçador-coletor recente, ca-
se um diálogo permanente com seu terri- racterizado pela presença de pontas pro-
tório móvel (Politis & Cárdenas 2000). De- jéteis e lascas de acabamento, predo-
lineiam-se, assim, as escolhas de implan- minantemente de quartzo e calcário
tação dos assentamentos para paisagens silicificado (Foto). A maior parte dos sí-
com fisionomias geomorfoclimáticas diver- tios arqueológicos desse projeto está
sas e que tendem a se particularizar de associada a esse horizonte. Em todos os

Horizonte 3: Vestígios do Barro Branco 14, camada 1, (Foto: Gérson Levi Méndes).

75
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

seus sítios as pontas projéteis apresen- 20cm de solo que sugere a existência de
tam sinais de reavivamento intenso de um período de abandono da região, seja
matérias-primas como o sílex, apontando porque os grupos caçadores-coletores
para a provável escassez ou esgotamento entraram em contato com populações
dessa matéria-prima. Os sítios estão dis- agricultoras e, assim, mantiveram rela-
tribuídos por toda a área entre o bairro ções com os mesmos de tal forma que se
rural do Assentamento, quase nos divisores sedentarizaram no planalto ou no vale do
de água entre as bacias do Paranapanema Ribeira de Iguape, seja porque deveriam
e do Ribeira de Iguape, e se estende até estar em confronto com esses grupos agri-
as proximidades dos bairros Lagoa de cultores que já habitavam o vale do Ri-
Cima, Cristal, Pêssego e Capoeira Alta, bem beira de Iguape e o planalto paulista nas
como nas imediações de Ribeirão Grande, cercanias de Capão Bonito e Alto dos
podendo constar no planalto de Capão Rodrigues em Ribeirão Grande, e que se
Bonito. Formam um território nucleiforme restringiam cada vez mais para um recuo
caçador-coletor diferente daquele encon- de seu território nuclear. Os sítios mais
trado no vale do Ribeira de Iguape. Estão recentes dos grupos caçadores-coletores
situados entre 15 a 40cm de profundida- devem corresponder àqueles mais próxi-
de, de acordo com as diversas condições mos aos divisores d’água da Serra dos
geomorfológicas locais. Foi denominado Agudos e entre os Parques Carlos Botelho
“horizonte 3”. Para este horizonte tem-se e Intervales. De qualquer forma, entre es-
a data de 1.010 +- 50 BP (calibradas em ses dois períodos estamos tratando do fi-
950 a 750 BP, Laboratório Beta Analytic Inc, nal da presença de caçadores-coletores
amostra 207852). nesta região em data posterior àquela
detectada pelo projeto Gasbol (De Blasis
• Horizonte de grupos ceramistas
2000), ou seja, uma possibilidade muito
cultivadores, caracterizado pela presen-
grande da presença de sítios mais recen-
ça de sítios arqueológicos implantados nas
tes de 800 anos AP. De fato, para este
porções mais abertas dos vales, concen-
horizonte tem-se a data de 150 +- 40 BP
trando-se, sobretudo, entre os bairros
(calibradas em 280 a 0 BP, ou ainda, de
rurais Barreiro Cabral e Pereira em dire-
1670 a 1950 A.D., Laboratório Beta
ção aos terrenos suaves próximos à atual
Analytic Inc, amostra 207850).
cidade de Ribeirão Grande e nos bairros
Alto Rodrigues e Mata-a-Dentro, Nunes e • Horizonte histórico, correspondente ao
Ferreiras, em direção ao limite com o ciclo da mineração do ouro de aluvião
município de Capão Bonito, a oeste. A que deslocou habitantes dos arraiais dos
presença destes grupos nos vales do Bar- médio e alto curso dos afluentes do Ri-
ro Branco e Ouro Fino é mais tardia e beira de Iguape em direção às nascen-
ocorre após o abandono dos sítios pelos tes e à bacia do alto Paranapanema.
antigos habitantes caçadores-coletores, Ocorreu a partir da segunda metade do
como indicam os estudos de todos os per- século XVII e se prolongou até o terceiro
fis estratigráficos de sítios escavados. Foi quartel do século XIX. Foi denominado
denominado “horizonte 4”. Os vestígios “horizonte 5”. No que se refere aos re-
cerâmicos encontrados no vale do Barro gistros arqueológicos, os sítios Cristal 3,
Branco, de longe o mais conservado e com 5 e Anacletos 3 e 4 apontam para uma
condições ideais para escavação, apre- provável relação entre a antiga popula-
sentam um intervalo de 10 a 20cm com o ção ceramista indígena e estes primei-
horizonte caçador-coletor. Assim, antes de ros colonos que aí se estabeleceram por
haver uma continuidade entre esses ho- volta do século XVII (uma pederneira de
rizontes 3 e 4, há um silencio de 15 a produção local foi encontrada associada

76
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

a fragmentos de cerâmica arqueológica). de Ribeirão Grande, nas pesquisas de le-


Trata-se, nesse caso, de colonos associ- vantamento arqueológico criou um vínculo
ados aos prováveis arraiais dos Campos que, inicialmente tímido frente à reclusão das
de Guapiara ou de Apiaí-mirim, frutos de famílias em suas casas e atividades agríco-
uma situação colonial de mescla entre las e pastoris, foram dando lugar, devido ao
portugueses e índios Kaingang do vale longo período de campo, assim como estra-
do Ribeira de Iguape, pressupondo a re- tégias selecionadas para acessar essa ‘cul-
lação etnográfica com estes grupos tura reclusa’, a uma relação de curiosidade
(Robrahn 1989). Contudo, com a origem e descobertas tanto da parte dos pesquisa-
da Freguesia-Velha pouco dessa ocupa- dores quanto dos moradores: o que estáva-
ção mais esparsa foi aglutinada nos pe- mos fazendo atrás de ‘lugares dos antigos’
quenos povoados intermontanos e uma (da parte deles) e como podiam manter uma
reconstrução documental que os relaci- série de tradições frente à expansão da cul-
one ao período de construção das estru- tura introduzida recentemente pela mídia nas
turas minerarárias conhecidas como casas de pau-a-pique do Barro Branco? (de
“’encanados” e às diversas cavas de nossa parte).
prospecção mineral presentes na area, As lendas, as histórias das famílias, os
ainda depende de estudo histórico mais segredos do sertão, das árvores e plantas,
detalhado e é discutido mais adiante. dos diversos animais, os ‘causos’ e o regis-
tro material da presença dos antigos, índios
• Horizonte contemporâneo, correspon-
dente à ocupação rural dos vales do Barro e jesuítas e os “encanados”2 foram passan-
Branco, Cristal e Limeira. No primeiro vale do de geração em geração.
a ocupação cabocla é relativamente recen- O estudo da paisagem e das relações que
te, resultante da migração de tradicionais os antigos habitantes mantinham com seu
habitantes da Freguesia-Velha ainda na espaço podem ser acessadas de uma ma-
década de 1970, provenientes, em boa neira extraordinariamente rica através do
parte, do bairro rural dos Caetanos Velhos estudo dos diversos níveis de relações que
e outros bairros mais interiorizados. O as comunidades tradicionais locais mantêm
povoado da Freguesia Velha é o berço do com o espaço atual. Herdeiras de um espa-
povoamento das áreas entre Ribeirão Gran- ço, com o qual interagem constantemente, a
de e Capão Bonito, e seus antepassados população do Barro Branco mantém as rela-
eram provenientes do vale do Ribeira de ções que seus antepassados mantinham com
Iguape, sobretudo dos arraiais encontra- a Freguesia-Velha (uma das mais antigas
dos no terceiro campo de Guapiara, do comunidades do Alto Paranapanema) e com
Apiaí-mirim e dos arraiais nas proximida- os vales intermontanos entre a Serra dos
des da Serra da Samambaia, Guapiara. Maciéis e a Serra do Ouro Fino.
Foi denominado “horizonte 6”. Para perceber quais são as diversas in-
tensidades das continuidades indígenas ou
coloniais nas relações atuais com o meio e
Hoje e antes: a herança cultural da com o simbólico em que vivem os tradicio-
comunidade de Barro Branco 1 nais moradores do Barro Branco, pesquisas
de etnobotânica, cultura imaterial, do univer-
A participação da comunidade do Barro so feminino, infantil e das técnicas construti-
Branco, bairro rural localizado no município vas foram postas em prática, tendo, como

(1) Capítulo de relatório originalmente redigido por (2) Estrutura histórica relacionada à exploração
Cintia Bendazzoli. aurífera em cursos fluviais.

77
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

objetivo último, o resgate cultural, a valori- mais antigos (as “vestígios de bugre”), com-
zação das identidades e a preservação de pletam o ciclo de experiências humanas de-
seus marcos ancestrais. senvolvidas em um mesmo espaço geográfico
As pesquisas revelam elementos de con- compartilhado, resultando na atual paisagem
tinuidade da cultura indígena (técnicas de cultural do Barro Branco. Buscando fornecer
trançado na produção de cestos, áreas de uma visão da abordagem do presente Progra-
captação de argila e espécies vegetais, téc- ma, selecionou-se um item de pesquisa para
nicas construtivas, técnica de preparo do cada tipo de patrimônio: técnicas contrutivas
campo para o roçado) que encontram ana- para o patrimônio material, e histórias do bair-
logias em modelos indígenas antigos e atu- ro Barro Branco, contadas pela própria comu-
ais de apropriação do espaço, assim como nidade, no que se refere ao patrimônio
elementos de ruptura e de conformidade com imaterial, conforme texto que se segue.
os costumes coloniais (festas religiosas, brin-
cadeiras entre as crianças, etc.). Técnicas construtivas
Este conjunto de fatores acabou por defi-
nir a própria missão do Programa Arqueoló- Fazem parte do patrimônio histórico cul-
gico Mina Limeira: reconstituir o passado atra- tural da comunidade do Barro Branco as uni-
vés de sua articulação com o presente, per- dades típicas de moradia e os padrões de
mitindo contribuir para a educação, coesão construção das mesmas. Não são poucas as
da comunidade, lazer e desenvolvimento eco- edificações existentes que ainda seguem os
nômico regional, de acordo com o moderno modos e padrões utilizados há muitos anos.
conceito de sustentabilidade social. As casas de barro, ou de pau-a-pique, ainda
E isto ocorreu de diferentes maneiras: são maioria no bairro. Entretanto, já é pos-
no reconhecimento e inclusão de suas for- sível encontrar alguns outros tipos de cons-
mas de viver no que se define como truções em alvenaria ou madeira.
“patrimônio arquitetônico” da região; na in- As residências são simples, com poucos e
clusão de seus depoimentos e opiniões so- pequenos cômodos, a rede elétrica não é pre-
bre o que considerar patrimônio, o que pre- sente em boa parte das residências. Sem exce-
servar, o que é significativo; e na busca de ção pode-se afirmar que quando há a constru-
vestígios do elemento africano em uma ati- ção de banheiros, estes são feitos fora da casa,
vidade tradicionalmente relacionada ao co- e não foi encontrado em nenhuma delas a pre-
lonizador branco europeu: a mineração. sença de chuveiros, pois os banhos são feitos
Assim, não se buscou registrar apenas nos rios, córregos ou açudes. Algumas ainda
os vestígios físicos da história regional co- apresentam uma separação entre os cômodos
memorados e consagrados pela história ofi- de estar e a cozinha com forno à lenha. Nas
cial, mas trazer a representação dos cida- maiores e mais tradicionais propriedades são
dãos comuns na formação e transformação erguidos paióis para o armazenamento da pro-
desta história. Desta maneira, buscou-se dução e/ou de bens e utensílios para a prática
mapear os bens tangíveis e intangíveis, ma- agrícola. É praticamente comum em todas as
teriais e imateriais, que constituíssem elos moradias a construção de galinheiros, que em
de ligação da comunidade com o passado, geral se assemelham a poleiros erguidos a apro-
reconhecidos enquanto partes de sua heran- ximadamente 1 metro do solo onde grandes
ça histórica e cultural. cestos são colocados de forma tombada, com a
O texto que se segue traz alguns exem- abertura voltada para frente, de modo que as
plos deste trabalho, onde a comunidade de- aves possam entrar e sair.
senvolveu papel central no “resgate” de seus Em algumas propriedades, mas em me-
elementos identitários, de seus registros his- nor número, é presente também a constru-
tóricos e tradicionais que, somados àqueles tão ção de currais para porcos, denominados

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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localmente de “mangueiras”. Nos últimos 15 Consideram-se aqui como propriedades


anos as propriedades começaram a abrir um tradicionais aquelas formadas pelas famílias
maior número de açudes, objetivando a cri- mais antigas nos bairros que, como pode-se
ação de peixes para consumo próprio. Esta constatar nos diferentes resultados e relatóri-
prática se deu principalmente com o auxílio os obtidos nos trabalhos de campo, ainda as-
de tratores da Prefeitura de Ribeirão Gran- seguram alguns elementos culturais ainda não
de. São quatro os monjolos existentes, sen- eliminados ou reinterpretados. Essas unidades
do um deles de uso comum, localizado na mais tradicionais são as formadas pelos pio-
propriedade do senhor Braz Batista Mendes. neiros na formação do bairro ou seus descen-
Dos outros três, um está sem uso, perten- dentes diretos. O conceito de maiores proprie-
cente ao senhor Caetano Mendes de Olivei- dades foi adotado a partir das áreas em hec-
ra, e os outros dois pertencem a proprietári- tares das propriedades, e não por acaso, as
os que não residem na comunidade e fazem unidades mais tradicionais também constitu-
pouquíssimo ou quase nenhum uso deles. em algumas das maiores propriedades.
Nas propriedades onde a atividade agríco- No que se refere aos tipos de constru-
la de subsistência ainda é preponderante, jun- ção, o Barro Branco é um bairro que ainda
to às casas existem os terreiros, áreas aber- hoje preserva alguns traços culturais anti-
tas onde o feijão colhido passa pelo período gos, entretanto, a comunidade adquiriu in-
de secagem e é batido. A localização das ca- formações e elementos externos que lhe pro-
sas é sempre próxima às bicas ou a algum dos piciaram uma reinterpretação cultural em
córregos ou riachos que cortam o bairro. Geo- diversos elementos, dentre eles os métodos
graficamente, o bairro do Barro Branco mere- construtivos e os tipos de edificações pre-
ce destaque por ser um grande manancial de sentes. Em linhas gerais, temos três tipos de
água, e há uma grande facilidade de obtenção construções no bairro. São eles:
da mesma por parte dos moradores. Junto às
• Casas de barro: é o modelo mais anti-
casas é comum ver-se pequenos canteiros onde
go de construção. Praticamente todos os
desenvolvem plantios de ervas medicinais.
moradores já habitaram neste tipo de
Nas maiores e mais tradicionais proprie-
residência. Ainda hoje estas casas são
dades, precisamente na da senhora Maria
maioria no bairro. Comparadas com ca-
Francisca do Nascimento e do senhor Caeta-
sas de barro de outros bairros, são as
no Mendes de Oliveira, a disposição das ca-
únicas que apresentam reboco feito com
sas segue modelos antigos, formando ver-
barro branco (o mesmo barro que deu
dadeiros “arraiais de famílias” dentro do bair-
nome ao bairro, Barro Branco).
ro. Nos dois casos, os mais velhos têm as
casas como centros gravitacionais, onde pe- • Casas de madeira: em geral o uso ex-
rifericamente os filhos ergueram suas mo- clusivo de madeira é para paióis, currais e
radias. Em ambos os casos, o da matriarca abrigos para monjolo, sendo que algumas
Maria Francisca do Nascimento e do patriar- poucas casas são feitas deste material.
ca Caetano Mendes de Oliveira, os filhos se
• Casas de alvenaria: são casas recen-
estabeleceram no entorno, sendo que algu-
tes que se diferenciam apenas pelo ma-
mas edificações de uso comum ficam juntas
terial construtivo, pois quanto à forma
à casa destes centros gravitacionais. O mai-
seguem ainda os padrões de edificação
or terreiro, o maior paiol e plantações de
das casas de barro.
ervas medicinais ficam juntos à casa dos mais
velhos. Este exemplo está presente na famí- • Outros tipos de construções: há algumas
lia da senhora Maria Francisca e do senhor pouquíssimas casas feitas com os mais di-
Caetano Mendes, sendo que este ainda pos- ferentes materiais que não se encaixam a
sui o monjolo usado por todos os membros um padrão único de edificação. São cons-
da família. truções precárias que empregam o uso de

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

“Arraial familiar” da senhora


Maria Francisca do Nascimento “Arraial familiar” do senhor
Caetano Mendes de Oliveira

Casas das famílias


Casa do patriarca ou matriarca (centros “gravitacionais”)
Edificações de uso comum
Áreas de uso comum intenso (terreiros, jardins e outros)
Áreas de ocupação e/ou “influências” dos arraias
Sentido e grau de integração no “arraial”
Sentido e grau de repulsão no “arraial”

Esquema de círculos representativos dos “arraiais familiares”. As posições das casas estão de acordo com
a localização geográfica encontrada durante as pesquisas em campo. Entretanto, se fosse criado uma
figura representando a posição das mesmas unidades familiares considerando a dependência destas
unidades em relação aos centros gravitacionais, teríamos outras dimensões e localizações. As áreas de
“influências” referem-se as áreas de usos comum e individuais que formam os “arraiais familiares”

lonas, tapetes, restos de madeira e cons- vendo pouquíssimos celeiros e banheiros com
truções. Pertencem exclusivamente a pro- paredes de barro. As casas podem ser divi-
prietários que não moram no bairro. Os didas em dois modelos: as de um ou dois
banheiros entram neste grupo por se apre- cômodos e as de três ou mais cômodos. Esta
sentarem em vários tipos diferentes de pro- divisão se dá porque as de um ou dois cô-
priedade em propriedade. modos são ocupadas por pessoas que mo-
ram sozinhas, sejam elas viúvas, solteiras
O texto que se segue traz detalhes refe-
ou separadas. No caso das moradias de um
rentes às edificações de barro e de madeira,
único cômodo, quarto e cozinha estão no
constituindo as mais tradicionais da região. mesmo espaço; nas de dois cômodos há a
As costruções de barro são quase total- divisão entre o espaço de cozinha e o de
mente restritas apenas às residências, ha- dormir. Nas famílias constituídas há pelo

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menos três cômodos, o quarto dos pais, o que, quando seco, esse material de
quarto dos filhos e uma sala/cozinha, vari- granulometria grosseira fica como poros, an-
ando de caso para caso. tes ocupados pela água, maiores que os de
Em geral os cômodos são pequenos, com barro marrom, dando espaços para as dila-
um espaço para deslocamento restrito e pou- tações e contrações resultantes de variações
cos móveis. As paredes de divisão chegam a termais com maior facilidade, não ocorren-
uma altura média 1,90m , no máximo 2m e do, assim, fissuras nas paredes.
nunca alcançam o forro ou telhado. Não há O barro marrom, por ter uma granulometria
portas internas e cortinas são utilizadas como mais fina, principalmente de argilas, não apre-
forma de separação dos cômodos. As portas senta estes espaços porosos internos, sendo
de entrada não possuem trincos e são fecha- mais compactos e desta forma não permitindo
das por fora com o uso de correntes e cade- os movimentos de dilatação e contração, e que
ados e, por dentro, com tramelas. São casas quando exposto aos fatores climáticos criam
pouco iluminadas em virtude das pequenas rachaduras com maior facilidade.
janelas que recebem, sempre de formato Foi diagnosticado que anteriormente
quadrado com no máximo 50 centímetros de eram feitas vasilhas cerâmicas com o barro
lado, sendo que, em alguns casos, os quartos branco, entretanto não se pode afirmar o
não têm janelas. Os telhados podem ser de motivo da escolha desse material para a con-
telhas de amianto, zinco ou de cerâmica. Foi fecção das mesmas, o que se sabe é que
encontrada apenas uma casa com cobertura esta já foi uma prática comum e que há tem-
de palha. Há indícios de que esta técnica ti- pos está em desuso.
nha maior freqüência antigamente. De forma geral, a construção de uma
O piso é de terra batida, sem nenhuma casa de barro branco típica se dá da seguin-
cobertura. A cozinha pode ou não ser junto te forma: escolhido o local a ser construída
à casa. Algumas casas têm cozinhas com a casa, aplaina-se o terreno de acordo com
fogões à lenha no interior, outras com fo- as dimensões desejadas. Nas fundações,
gões a gás. As cozinhas externas são sem- onde são erguidas as paredes, troncos de
pre as de fogões à lenha. Ali, sobre os fo- madeira, chamados de cernes, são cortados
gões à lenha são colocadas carnes para de- em forma retangular cúbica e colocados na
fumarem, conservando assim o alimento. base, praticamente enterrados entre 20 a 25
Nestes casos também, podemos atribuir a centímetros no solo com apenas a face su-
baixa luminosidade ou o escurecimento das perior exposta. Estes são os esteios, que
casas devido à ação da fumaça dos fogões, podem ser feitos com trocos de nataleiros,
que pretejam telhados e paredes. canelas, guatambus ou, se forem encontra-
As casas de barro são também feitas em das, outras madeiras grossas e que resis-
dois tipos, as de barro branco para reboco e tam ao tempo tanto quanto as citadas. São
as sem barro branco para reboco. O uso do os “cernes direitos”, assim chamados por
barro branco, na verdade uma composição possuírem um tronco comprido, reto, grosso
de solo de granulometria grosseira mais pró- e resistente ao tempo.
xima do silte e de cor esbranquiçada pre- Junto aos esteios, nas quinas e extremida-
sente na área, serve apenas para o reboco des de paredes, são fixadas no solo de forma
das casas, interna e externamente (Fotos). perpendicular às colunas ou travas de cerne di-
Pode-se atribuir que estas são casas típicas reito. As travas ou colunas também são gros-
da comunidade, não encontradas até o mo- sas, podendo ser cortados de forma retangular
mento em outros lugares. O tal barro bran- ou colocados como troncos brutos, sem trata-
co, por sua granulometria mais grosseira, não mento. O diâmetro destas peças varia de 30 a
se desfaz com facilidade ao longo do tempo 50 centímetros e podem ser de árvores como a
através das intempéries climáticas como chu- cajarana, o sassafrás, o guatambu, nataleiro
va, sol ou vento. Atribui-se a isso o fato de ou canela. A altura das colunas ou travas varia

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Técnicas construtivas:
A casa de barro branco: este famoso barro, que dá nome ao bairro, é uma argila fina
captada localmente nas barrancas, próxima de grotas e córregos. O barro é aplicado na
estrutura quadriculada de madeiras e preenchem-nas dando formas às casas, assim como
aos fornos tradicionais do alto Paranapanema.

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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de acordo com a posição em que se encon- amianto (brasilite), cerâmica ou palha.


tram, as que estão nas quinas das casas me- Os moradores atribuem às casas de barro
dem menos de 2 metros, e as que chegam ao uma característica de vantagem na superação
meio da casa, medem a altura máxima do te- do frio. Segundo eles, as paredes e o piso de
lhado, no máximo, 2,50 metros. terra batida contribuem para uma manuten-
Com as colunas já prontas são feitos os ção do calor gerado pelos fogões à lenha, pro-
madeiramentos das paredes sobre os esteios. piciando uma melhor sensação termal.
São as travessas e barrotes, uma verdadeira Das casas de barro branco, com 3 cô-
malha vazada construída predominantemente modos ou mais, podemos destacar as pro-
com madeiras taquara e guapeva, amarrados priedades da senhora Maria Francisca do
entre si com o uso de cipó d’alho. A área vaza- Nascimento, e dos senhores Braz Batista
da, que pode ser retangular ou quadrada, varia Mendes e Antônio Mendes de Oliveira.
de dimensão, mas é nela que se aplica a cama- As casas que não recebem o tratamento
da estrutural de barro marrom, retirado de al- com o barro branco precisam ser “retocadas”
gum barranco próximo ou do próprio local em por barro em tempos mais curtos, pois as pa-
que se ergue a casa. O barro umedecido e redes ressacam e o barro se quebra, deixan-
pisoteado é colocado entre os buracos vazados do exposto o madeiramento e os buracos an-
e recobre toda o madeiramento da parede. Após tes ocupados pelo barro. São casas típicas de
esta etapa, com a parede já seca, é aplicada a barro sem revestimento de barro branco, de
camada de reboco feito com o barro branco, um ou dois cômodos a da senhora Tereza
também umedecido e pisoteado. Clarinda Vaz, e dos senhores Antônio Jacinto
Ainda com relação às travessas, que nas Vaz e Waldomiro José dos Santos, sendo que
paredes são dispostas em linha horizontal, pelo a deste último é a única encontrada que ain-
menos três delas são mais grossas e firmes que da possui telhado feito com palha.
as demais, em geral de guatambu e guapeva. Apesar de ser mais comum a construção de
Duas delas na parte coberta por barro na pare- casas de barro, o senhor Braz Batista Mendes
de, e uma acima, no limite superior da mesma. ergueu um paiol com paredes de barro. Os ba-
Sobre esta travessa superior da parede é que nheiros feitos de barro também são feitos da
são passados os caibros para a colocação do mesma forma, com acréscimo de piso de ma-
telhado. A estrutura do telhado é toda feita com deira, uma vez que estão sobre buraco de fossa.
caibros e travessas de guatambu ou guapeva, e O tempo médio para construção da casa
sobre elas é que são colocadas as telhas de de barro, descartado o tempo de corte da

Cozinha
Cozinha com Quarto
com fogão Quarto fogão
à lenha à lenha Cozinha
Sala

Sala
Quarto Quarto Quarto Quarto Quarto Quarto

1 2 3
Croquis sem escala, apenas para referência de casas de barro branco habitadas por unidades
familiares. Respectivamente das famílias do senhor Braz Batista Mendes (1), da senhora Maria
Francisca do Nascimento (2) e do senhor Antônio Mendes de Oliveira (3).

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Quarto e cozinha

Bar
Balcão
Quarto
Cobertura
Quarto conjugada ao bar
Cozinha
e para uso dos
com
cozinha frequentadores fogão
à lenha
1 2 3
Croquis sem escala, apenas para referência de moradias de bar-
ro habitadas por um único morador e que não têm reboco de
barro branco. Respectivamente da senhora Tereza Clarinda Vaz
(1), Antônio Jacinto Vaz (2) e Waldomiro José dos Santos (3).

madeira, é entre quinze a vinte dias, desde Poucas são as casas feitas exclusivamente de
que não ocorra nenhum imprevisto climático madeira. Os paióis de madeira são feitos da
ou humano que atrapalhe a obra. Ainda hoje mesma forma que as casas de barro e com o
as casas de barro são levantadas com auxí- mesmo material, distinguindo-se pelo fato de
lio do “puxirão”, termo utilizado para desig- que os paióis não têm janelas, divisões inter-
nar as atividades realizadas em mutirões de nas ou paredes barro. No caso dos paióis as
moradores. Durante o “puxirão” para a cons- paredes são todas vazadas, faltando exata-
trução das casas, homens e mulheres reali- mente o barro para revestir as mesmas.
zam os mesmo trabalhos, sendo que as cri- Os abrigos de monjolos geralmente se
anças ficam apenas nas etapas de transpor- assemelham aos paióis ( Figuras 3 e 4, fo-
te e de amassar o barro com os pés. tos ). Considerando todas as construções,
Em média, uma casa de barro é habita- trata-se de obras mais modestas que não
da por aproximadamente 20 anos, mesmo visam a moradia, e sim para o uso conjuga-
com todos os reparos e manutenções feitas do à atividade na lavoura.
durante esse período. Passado esse tempo, O senhor Jaime Olívio de Macedo, propri-
as casas já apresentam diversos problemas etário que vai esporadicamente ao bairro do
e costumam serem abandonadas para a cons- Barro Branco, possui dois exemplos de casa. A
trução de novas. As casas de barro mais an- residência oficial é feita com diferentes mate-
tigas são as da senhora Maria Francisca do riais, e uma segunda moradia, não habitada,
Nascimento, com aproximadamente vinte construída somente com tábuas e pedaços de
anos e a do senhor Braz Batista Mendes, com troncos de nataleiros, guatambus e canela.
dezoito anos, sendo que as colunas e estei- O senhor Maximiliano Wilson Godói, que
os são de datas mais antigas pois eram per- veio para o bairro nos últimos dez anos, pos-
tencentes à casa de seu pai. sui a única casa de madeira habitada e que
Já as edificações feitas unicamente de junto à mesma possui um bar. No caso do
madeira são em maior parte paióis, currais, senhor Maximiliano sua propriedade possui um
abrigos para monjolos e alguns banheiros. açude e também uma construção de madeira

84
Figura 3 - Implantação do sítio Barro Branco 1 (croqui esquemático sem escala).
1 - Estrada vicinal que conduz ao córrego Embramado, abandonada; 2 - Camada húmica com vestígios líticos e
cerâmicos; 3 - Camada argilo-arenosa bruno-escura, arqueológica; 4 - Embasamento c/ cascalhos de quartzo e filito
associados; 5 -Vale com concentração de camada húmica mais extensa e fértil; 6 - Afloramentos de quartzo
leitoso, utilizados no “site catchment”; 7 - Covas de bananeira expandem a camada húmica; 8 - Segunda elevação
com presença de vestígios; 9 - Córrego do Embramado; 10 - Casa do Sr. Firmino; 11 - Estrada em direção à
Freguesia Velha; 12 - Fogueira arqueológica; 13 - Plantação de feijão; 14 - Plantação de abóbora; 15 - Bananeiras;
16 - Pinheiros; 17 - Localização da ocorrência de cerâmica Kaingang no sítio em superfície; v - Algumas das
unidades escavadas no sítio; C1 - Corte 1, sítio cortado p/ construção de casa; F1 - Área de maior freqüência de
vestígios líticos lascados de quartzo leitoso; F2 - Área de maior freqüência de vestígios líticos lascados de sílex.

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Figura 4 - Croqui do Monjolo Coletivo da Comunidade Barro Branco. 1 - Esteios de sustenção,


ripas e varetas da parede da estrutura coberta do monjolo; 2 - Entrada/ porta do interior da
estrutura coberta do monjolo; 3 - Telhas, tijolos, fragmentos de blocos rochosos, terra e outros
materiais utilizados na sustenção da parede da estrutura coberta; 4 - Resto de suporte danificado
de monjolo; 5 - Prato de ágata sobre o suporte danificado de monjolo; 6 - Forno/assador de
farinha de milho; 7 - Assador de ferro encostado na parede da estrutura coberta do monjolo; 8 -
Madeira usada para manter aberta a porta da estrutura coberta do monjolo; 9 - Pilão tampado
com um assador de ferro, uma tábua e um socador de monjolo, com a concavidade do pilão e o
suporte do monjolo representado pelos tracejados; 10 - Suporte do monjolo; 11 - Chão de terra
batida; 12 - Bica d´água que movimenta o monjolo; 13 - Galão branco de plástico; 14 - Trilhas
(caminhos) em torno do monjolo; 15 - Limites da poça e canal de drenagem artificial cujas águas
movimentam o monjolo; 16 - Barrancos nos limites da área escavada e terraplanada na encosta
em que construiu-se o monjolo; 17 - Vegetação de pequeno porte (gramíneas, samambaias, etc)
em torno do monjolo; 18 - Cerca de arame farpado.

para seus filhos, muito semelhante a uma rem a construção de fogões à lenha no inte-
palafita, sem paredes, próximo ao açude. rior da casa, devido ao riso de incêndio.
Estas casas de madeira possuem facha- As Tabelas 2 e 3, abaixo, mostram as
das uniformes, com portas e janelas do mes- edificação cadastrados no bairro do Barro
mo material. Suas divisões internas seguem Branco (unidades, tipos, sub-tipos e carac-
os mesmos padrões existentes em outros ti- terísticas marcantes), trazendo o conheci-
pos de construções habitacionais do bairro. mento construtivo e os padrões de ocupação
O emprego delas é restrito por não permiti- das comunidades atuais ali residentes.

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Tabela 2
Unidades construtivas no bairro do Barro Branco
UNIDADE TIPO SUBTIPO CARACTERÍSTICA MARCANTE
Marrom Casas com maior incidência de rachaduras nas paredes internas e externas.
Casas exclusivamente presentes no Bairro do Barro Branco. O uso desse tipo de barro
Branco
no reboco impede as rachaduras nas paredes por influências climáticas
Barro
Em geral habitam estas casas indivíduos que vivem sozinhos, sejam solteiros, sepa-
1 ou 2 cômodos
rados ou viúvos.
3 ou mais cômodos Habitados por unidades familiares constituídas por pais e filhos ainda jovens.
Casa Seguem os padrões de divisões internas e semelhantes aos das casas de barro, diferen-
Alvenaria
ciam por não possuírem cozinhas com fogões à lenha no seu interior.
São poucas as casas de madeira no bairro em virtude dos riscos de incêndios que
Madeira
podem ocorrer com o uso de fogões à lenha.
Em geral são de novos proprietários de terra que não habitam a comunidade. São
Materiais diversos construídas com os mais diversos materiais (lonas, tapetes, madeiras, restos de
construção e outros).
Madeira O tipo mais comum, seu método de construção é semelhante ao das casas de barro.
Paiol Foi identificado apenas um paiol com revestimento de barro nas paredes. Seu uso
Barro
não é comum no bairro.
Curral Madeira São denominados de “mangueiras”. Nem todas as propriedades possuem currais.
Barro São os tipos mais comuns construídos no bairro.
Madeira Construídos próximos às casas de madeira e em algumas casas de barro.
Banheiro
Possuem revestimento das paredes de lona, papelões, tapetes ou esteiras de
Materiais diversos
taquara, ou então de qualquer outra material que não seja barro, madeira ou tijolo.
Madeira Abrigo para alimentação de animais ou de monjolo.
Outros Alvenaria Igreja de Santo Antônio, ainda inacabada.
Outros Açudes

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OBS: Com relação às casas de barro, sua classificação se dá em dois subtipos, envolvendo o tipo de barro utilizado e o número de cômodos existentes.
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Tabela 3
Proprietários e construções no bairro do Barro Branco
Ano de contrução Características
Proprietário [estimado] e/ou
(confirmado) observações

Adão Clarindo Vaz [posterior a 1995] Casa de alvenaria, tida como a primeira a
obter rede elétrica e antena parabólica.
Alsendino Louzada Melo [ sem data certa pois o Casa feita com restos de materiais cons-
proprietário não reside trutivos, que não objetivava residência fixa.
no local, provavelmente
erguida após 1992]

Ana Maria de Oliveira Ferreira [1998] Casa de alvenaria.


Antônio Favaro [sem data certa, Casa de barro marrom.
provavelmente erguida
após 1992]

Antônio Jacinto Vaz (1998) Dois cômodos, um deles quarto e cozi-


nha e outro como bar.
Antônio Mendes de Oliveira (1999) É a única de barro branco dos mem-
bros da família do senhor Caetano Men-
des de Oliveira.

Antônio Souto de Assunção [sem data certa pois o Casa de alvenaria.


proprietário não reside
no local, provavelmente
erguida após 1992]

Braz Batista Mendes (1986) (2003) São duas residências, a casa de barro
branco, mais antiga, e a casa de alve-
naria, mais recente.

Braz Franco da Silva [sem data certa pois o Casa de barro marrom, supõe-se que
proprietário não reside tida como abandonada.
no local]

Caetano Mendes de Oliveira (1997) Foi a primeira casa de alvenaria feita por
alguém da família de Caetano Mendes de
Oliveira, está situada onde hoje se sabe
da existência de um sítio arqueológico.
Celina Mendes de Oliveira Cruz (1998) Casa de alvenaria
Eduardo Clarindo Vaz —— Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada.
Eliseu Ursulino de Moura sem data certa pois o Casa de barro marrom
proprietário não reside
no local]

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Tabela 3 (cont.)
Proprietários e construções no bairro do Barro Branco
Ano de contrução Características
Proprietário [estimado] e/ou
(confirmado) observações

Gilmar Favaro —— Segundo o relatório sócio-econômico


há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada.

Gumercindo Gonçalves Ribeiro (2003) Obra de alvenaria inacabada, com mui-


to a se fazer, porém, abandonada.
Jaci Raimundo da Silva (2003) Casa de barro marrom, com algumas
partes cobertas por lonas.
Jacinto Martiniano da Costa [sem data certa pois o Casa de barro marrom.
proprietário não reside
no local]

Jaime Olívio de Macedo [sem data certa pois o Casas de madeira ou de restos de ma-
proprietário não reside térias construtivos.
no local, provavelmente
erguida após 1992]

João Francisco Mendes —— Segundo o relatório sócio-econômico


há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada. Sabe-se
que ele possui algumas poucas tarefas
no bairro e uma propriedade maior, com
casa, no bairro de Ouro Fino.
João Rodrigues do Nascimento [sem data certa] Casa de barro com banheiro revestido
com material de cestarias.
Luiz Mendes de Oliveira (1999) Casa de alvenaria
Maria Aparecida Vaz de Oliveira (1999) Casa de alvenaria
Maria Assunção —— Não foi possível obter nenhuma infor-
mação a respeito.

Maria dos Santos Ferreira —— Não foi possível obter nenhuma infor-
mação a respeito.
Maria Francisca do Nascimento [1990] É uma das casas de barro mais anti-
gas do bairro, porém as datas diver-
gem sobre a construção, e as infor-
mações são mais próximas do ano de
1990.
Maximiliano Wilson de Godói [sem data certa, Casa de madeira que também funcio-
provavelmente erguida na como estabelecimento comercial.
após 1995]

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Tabela 3 (cont.)
Proprietários e construções no bairro do Barro Branco
Ano de contrução Características
Proprietário [estimado] e/ou
(confirmado) observações

Miguel Vaz de Andrade [1992] Casa de barro marrom, uma das primei-
ras a ser erguida pelos novos morado-
res do bairro.

Milton César Vaz —— Segundo o relatório sócio-econômico


há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada.

Milton Souto da Silva —— Segundo o relatório sócio-econômico


há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada.

Moisés Messias da Silva [1992] Casa de barro marrom

Octacílio dos Santos Segundo o relatório sócio-econômico


há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada.

Orlando Fávero —— Segundo o relatório sócio-econômico


há a existência de tal residência, po-
rém ela não foi encontrada.

Tereza Clarinda Vaz (2003) Casa de barro marrom, a última a ser


erguida no bairro, no primeiro bimestre
de 2003.

Vírgilio Marcos da Cruz [sem data certa pois o Casa de barro marrom.
proprietário não reside
no local]

Waldomiro José dos Santos (2000) É a única de barro marrom que ainda
utiliza cobertura de palhas sobre a casa,
uma das paredes caiu durante as for-
tes chuvas que ocorreram no início de
janeiro de 2004

OBS: A tabela acima foi elaborada com dados obtidos nas pesquisas de campo, na consulta
do relatório sócio-econômico e dos mapas elaborados e fornecidos pela Companhia de Cimen-
to Ribeirão Grande. Das 44 famílias registradas pelos relatórios sócio-econômicos, 9 deles não
possuem casas, das 35 restantes, 24 delas foram identificadas de forma preliminar durante as
etapas de campo, sendo que destas, 18 tiveram uma abordagem mais aprofundada. Há um
total de 11 unidades familiares que pelos relatórios sócio-econômicos possuem residências,
entretanto, as informações obtidas em campo, confrontadas com os dados dos relatórios,
são insuficientes para afirmar a existência ou não das residências, exceto por dois únicos
casos identificados através dos mapas.

90
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

É latente a percepção de que os indiví- casal, eles ganharam a terra como doação
duos que possuem propriedades no bairro dos proprietários da fazenda e passaram a
e não o habitam tendem a construir resi- viver de subsistência. Plantavam para co-
dências que fogem aos padrões culturais mer e o que sobrava era vendido nas co-
locais. As casas feitas com restos de obras munidades vizinhas. Possuíam também cri-
e materiais diversos sinalizam mais para ação de galinhas, porcos e algum gado para
uma ocupação descompromissada com o abastecer a casa de leite e eventualmente
local e seus hábitos culturais do que unica- de carne. Os filhos desse casal nasceram
mente um fator de pobreza. São casas que em parte no Sumidouro e em parte no Bar-
não representam o patrimônio local e que ro Branco, sendo ao todo cinco: Celestino,
descaracterizam o bairro. Maria, Lourdes, Ana e Ervelina, e é parte
deles e de seus descendentes que hoje nos
História de Barro Branco contam a sua história.
Dos cinco filhos de Antonio e Pedra
A comunidade do Barro Branco é com- Paulina duas filhas estão vivas e cada uma
posta por cinco núcleos de uma mesma raiz é a matriz de um núcleo de organização fa-
familiar, havendo, no entanto, dois núcleos miliar, ou seja, em torno delas criou-se uma
principais, cujos membros tem uma rela- relação estreita de laços de parentesco, for-
ção de parentesco muito próxima e convi- mando dois núcleos principais dentro do Bar-
vem numa mesma área, com pouca dis- ro Branco. Aquela comunidade se organi-
tância entre uma residência e outra. Mas zou em família, porém não há um núcleo
como teve inicio esse arraial? Soubemos só, como talvez tenha havido quando o pa-
que os primeiros a se instalarem naquela triarca ou a matriarca da família estavam
região foram os pais das duas senhoras vivos. Hoje em dia a comunidade se divide
mais velhas da comunidade. Não foi preci- tênuamente entre dois núcleos familiares,
sada a data, mas provavelmente por volta um deles centralizado na figura de Dona
da década de 1930 havia uma fazenda exa- Maria e outro na de Dona Lourdes. Para fa-
tamente naquelas terras que empregava cilitar a compreensão da teia de relações
mão de obra para trabalhar nas lavouras. que abrange esta comunidade, trataremos
Os moradores mais antigos costumam se de um núcleo de cada vez, mas deve ser
referir à fazenda de “um japonês” que era ressaltado que essa separação é exclusiva-
o proprietário. Foi então que vieram Anto- mente metodológica e não um reflexo da
nio Rodrigo do Nascimento, nascido em realidade dessas pessoas.
Bairro Maciel, e Pedra Paulina do Nascimen-
to, nascida em Ouro Fino. 3 Núcleo Dona Lourdes
Eles se casaram e os filhos começaram
a nascer. Moravam em Sumidouro e ape- A Dona Lourdes é uma senhora de 63
nas trabalhavam na fazenda nessa época, anos de idade casada com Seu Caetano e
segundo informação de uma das filhas ain- mãe de sete filhos Antonio, Senhorinha, Ro-
da viva. Com o tempo, a fazenda foi que, Luis, Ana, Celina e Dirceu. Como alguns
desativada e o casal foi convidado a tomar dos filhos e seus descendentes não moram
conta das terras tendo permissão para plan- mais em Barro Branco, concentramos o tra-
tar e morar na propriedade. Segundo infor- balho no perfil feminino e infantil dos mora-
mação de Dna Lourdes, uma das filhas do dores que ainda residem lá.
Dos filhos de Dona Lourdes, Senhori-
nha, Roque e Luis se mudaram e hoje vi-
(3) Informação oral obtida através de entrevista com vem com as famílias em outros bairros
Dna Lourdes e Dona Maria. próximos. Dirceu morreu com um ano de

91
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

idade de tosse comprida. Portanto, o tra- soube dizer ao certo que doença tem, mas
balho se concentrou nas famílias de Anto- “sofre dos pulmões” e já foi desenganada
nio, Ana e Celina. Mas primeiramente tra- pelos médicos, que receitam apenas re-
taremos da figura ao redor da qual todas médio para dor. Frente à perspectiva de
as demais pessoas vivem, que é a Dona morte dona Lourdes se mostra conforma-
Lourdes. da e justifica que é a vontade de Deus.
Dona Lourdes acha que nasceu no Su- Mesmo assim não larga o cigarro de pa-
midouro, não sabe ao certo ( Foto ). Des- lha que fuma desde menina, pois apren-
de pequena, por volta dos 10 anos de ida- deu com o pai fumando um pouquinho com
de, começou a ajudar o pai na lavoura, ele todos os dias.
assim como todos os outros irmãos, e Dona Lourdes é o centro deste núcleo
quando tinha 13 anos mudou-se com a familiar e é chamada de Madrinha por to-
família para o Barro Branco. Aos 15 anos dos os netos, noras e genros. Todos se diri-
se casou e teve seis filhos, hoje tem 24 gem pela manhã à casa dela e, unindo as
netos e 4 bisnetos. Mesmo depois de ca- palmas das mãos em frente ao peito, pe-
sada Dona Lourdes continuou a trabalhar dem a benção. Ela mora em uma casa de
na roça, e possuía criação de animais. Hoje alvenaria construída recentemente como
em dia ela não trabalha mais, se diz do- substituta da antiga casa de pau a pique,
ente e sem condições, por isso o neto da qual só restou a antiga cozinha e o fo-
Roque mora com ela e cuida de criação gão à lenha. Ela se diz religiosa e as pare-
de galinhas e suínos, além de ajudar o avô, des da sua sala são cobertas de imagem de
Seu Caetano, na lavoura. A nora de Dona santos com São Jorge, Cosme e Damião e
Lourdes, Zilda, é quem lava a roupa e faz Nossa Senhora do Bom Parto, que dividem
o serviço de casa mais pesado. Ela não o espaço em meio a brinquedos ganhos nas

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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Erika Marion Robrahn-González

festas e quermesses da região.4 Diz que reza proibido. Ao ser indagado o porque da proi-
todos os dias em um pequenino altar no bição, Dona Lourdes afirma que começaram
canto da sala e que quando tem missa ela a dizer que não podia ser feito sem licença,
vai, em média uma vez por mês. e que ela não tinha formação para realizar
Dona Lourdes foi durante muitos anos a aquilo. Então ela deixou de ser parteira,
parteira da comunidade e responsável pela mesmo tendo realizado vários partos, todos
maior parte dos nascimentos dos parentes. bem suscedidos. Hoje em dia, todas as mães
Dizem que ela e a irmã Ervelina aprenderam do Barro Branco vão para a cidade e têm os
sozinhas o ofício, e que Dona Lourdes fez seus filhos no hospital de Ribeirão Grande.
seus próprios partos, sozinha e sem ajuda. Dona Lourdes mostra os trabalhos ma-
A irmã Ervelina já faleceu e Dona Lourdes nuais que aprendeu a fazer com a mãe e
encerrou as suas atividades há treze anos que representam uma das poucas ativida-
atrás, quando fez o último parto do nasci- des que ela ainda realiza. São bordados,
mento de sua neta Jimerilda. Ela afirma que colchas de retalhos e forros de estofados que
só o fez porque não deu tempo da mãe che- ela coloca nas poltronas e cadeiras da sala
gar ao hospital, porque naquela época já era (Foto). Os bordados são simples e ela os
faz com o aviamento que tiver em casa, fa-
zendo bordas e desenhos em retalhos de
panos que se transformam em toalhinhas de
(4) Os brinquedos ganhos nas quermesses podem sala e cozinha. As colchas de retalhos são
ser encontrados em várias casas do Barro Branco,
pendurados nas paredes como se fora um enfeite ou
feitas com partes de roupas que se estraga-
um objeto de ostentação. Mesmo as crianças man- ram ou que não se usam mais, costurados
têm os brinquedos dentro das caixas, porque, se- os retalhos um a um na mão até formarem
gundo Josieli “a gente tem dó de usar”. uma colcha. Já os estofados são feitos com

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

muitos pequenos retalhinhos de panos colo- Os cestos são usados para transportar
ridos que são costurados um a um numa as frutas e legumes da lavoura, para arma-
base de pano maior, ou entrelaçados na base zenar alimentos em casa, para guardar coi-
formando um trançado no avesso de modo a sas pessoais, para abrigo das galinhas no
ficarem presos à base sem que se precise galinheiro. Vai produzir muitos mais quando
usar linha para costurá-lo. Aparentemente se mudar para a nova casa que está em fase
esse é o único tipo de atividade artesanal de construção.
que ela produz, enquanto que o marido, Seu Dona Lourdes é uma das maiores conhe-
Caetano, faz pilões entalhados na madeira e cedoras das plantas da região e das ervas,
cestaria em taquara. Ele e um sobrinho, Adão, raízes e outras plantas que podem ser utili-
são os únicos homens que produzem cestaria zadas como medicamento. Ela foi responsá-
no Barro Branco. Essa atividade local é mas- vel pelo ditado de parte da lista de plantas
culina e, ao que parece, eles foram os úni- medicinais, suas funções e modo de preparo
cos que aprenderam com Seu Jacinto, fale- que consta em anexo. Ela diz que aprendeu
cido esposo de Dona Maria e cunhado de Seu sobre as ervas com a mãe e passou os
Caetano. Nenhum outro homem ou jovem da ensinamentos para as filhas e netas, mas
comunidade sabe como fazer os balaios. ressalta que alguns homens também são
Tendo a taquara em mãos, seu Caetano conhecedores das plantas. Ao que parece
manufatura um cesto em 25 minutos e per- esse conhecimento é mais difundido dentro
mitiu filmar e fotografar todas as etapas de de um universo feminino, no entanto este
seu trabalho (Foto). saber é de certa forma mais geral, depen-
dendo da inclinação e interesse de cada um
no conhecimento desta prática medicinal.
Em entrevista, Dona Lourdes conta que
antigamente não havia médico na região, en-
tão eles costumavam levar os doentes na
curandeira, e usavam os remédios caseiros.
Ela própria diz que já foi muito na curandeira
quando era nova, mas não se lembra quais
os procedimentos médicos e nem que tipo de
problema a levou a procurar essa ajuda. Ela
conta que antigamente, quando alguém da
comunidade morria, era levado na rede pelo
antigo peabirú (trilha) para um cemitério. Dona
Lourdes conta que hoje em dia os mortos são
enterrados no cemitério da cidade.
Antigamente os velórios aconteciam nas
casas e muita gente ia e passava a noite
inteira velando o morto até que amanhe-
cesse. Os parentes ofereciam almoço e janta
para todos. Quando ia se comprar o tecido
para fazer a roupa para vestir o defunto, já
se comprava pano para vestir o resto da
família que estaria em luto. Caso a morte
fosse de pai ou mãe, o luto deveria durar
um ano, caso fosse marido ou esposa, seis
meses, e se não fosse um membro da fa-
mília a falecer não era obrigado vestir pre-
to. Dona Lourdes conta que se lembra que

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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Erika Marion Robrahn-González

os pais sempre visitavam os mortos, leva- Dona Maria nasceu em Ouro Fino, mo-
vam flor e cantavam orações. Hoje em dia rou no Sumidouro e viveu quase a vida toda
no Dia das Almas,5 todos levam flor para os no Barro Branco. Nunca foi para a escola
mortos, mas estes estão enterrados em porque não tinha nenhuma no bairro, “a úni-
Ribeirão Grande. ca escola que tinha era a roça” afirma ela,
que ajudava diariamente o pai na lavoura.
Núcleo Dona Maria Não lembra quantos anos tinha quando co-
meçou a trabalhar, mas sabe que o pai leva-
O núcleo de Dona Maria é composto por va todos os filhos bem pequenos, pois ele
ela, seus filhos e netos. Ela tem 65 anos, é era muito pobre e trabalhava com os filhos
irmã de Dona Lourdes e mora no arraial em carpindo o terreno dos outros. A mãe ficava
casa de pau a pique com a filha solteira cha- em casa cuidando das coisas e dos irmãos
mada Pedra. Dona Maria é cega dos dois menores. Dona Maria ajudava o pai a plan-
olhos e não sabe o que resultou nesta ce- tar milho, feijão, arroz, tudo para comer em
gueira ( Foto). Ela explica dizendo que a casa e o que sobrava era vendido na cidade,
menininha dos olhos está tampada. Quando e diz que foi do mesmo modo que os filhos
indagada a respeito dessa menininha ela diz dela se criaram. No entanto, os filhos mais
que um dia sentiu muita dor num olho e de- novos de Dona Maria puderam estudar um
pois no outro, e que depois da dor a menini- pouquinho no Mobral.
nha dos olhos dela ficou tampada e que ago- Dona Maria não se lembra com que
ra ela está com problema. idade casou, mas sabe que era nova. O
marido, Seu Jacinto, era de Ouro Fino e
eles se conheceram quando ela ainda mo-
(5) Dia de Finados rava com a família no Sumidouro. Os fi-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

lhos todos nasceram e se criaram no Bar- havia batizado e casamento na igreja da


ro Branco, ajudando Seu Jacinto no roça- comunidade com dança e música de tocador
do. Dona Maria, depois de casada, ia me- de viola e cantor. Dona Maria diz que hoje
nos à roça, mas o marido continuava tra- em dia não vai mais em festas, e que nin-
balhando na plantação, além de lidar com guém mais vai.
couro e fazer cestaria. Pelo que foi infor- Aprendeu a cozinhar com a mãe tudo
mado, Seu Jacinto foi o pioneiro naquele o que sabe, aprendeu também com a mãe
lugar a trabalhar com cestaria e foi res- a costurar e fazia colchas de retalho quan-
ponsável por passar seus conhecimentos do ainda tinha visão. Não sabe fazer tricô
ao cunhado Seu Caetano e ao filho Adão, nem crochê. Ela também ajudou a barrear
os únicos que preservaram essa atividade. a casa com a ajuda de toda a família, con-
Seu Jacinto faleceu há seis anos, ninguém ta ela. A casa foi feita há 16 anos, antes
soube explicar a causa. era outra casa de pau a pique no mesmo
Os filhos de Dona Maria nasceram to- lugar, estragava uma, colocava outra. Por
dos em casa e foi a irmã Dona Lourdes quem fora ela é revestida de barro branco para
fez os partos. Mas os netos foram e vão dar um melhor acabamento. O fogão foi a
quase todos para o hospital na hora do nas- Candinha que fez, mas Dona Maria tam-
cimento. Segundo Dona Maria, o parto em bém sabe fazer e sempre fazia, foi a mãe
casa era sem remédio nem curativo nessa que ensinou.
hora “só Deus que iluminava e os Santos”. Na cozinha de Dona Maria há sobre o
O único remédio que se usava era salmou- fogão um tacho de cobre que era muito uti-
ra para evitar infecção e bebia-se pinga com lizado para torrar a farinha de milho do
arruda para recaída. monjolo e para fazer biju. Ela conta que
Dona Maria se diz religiosa e conta que até há pouco tempo atrás a filha Pedra ain-
sempre foi com os pais para a igreja no Bar- da fazia porque ela prefere a farinha do
ro Branco, Ouro Fino e Ribeirão. Foi batiza- monjolo que a comprada. Tem também um
da e crismada “graças a Deus”. Ela fez um tacho de melado de cana que utilizaram
altarzinho para Nossa Senhora dentro de muito para fazer rapadura. Dona Maria con-
casa, com São José e outros santinhos pe- ta que foi ela quem ensinou as filhas a co-
quenos e fala que quando ela mudar o zinharem de tudo. Diz que quando o mari-
santinho vai junto. do era vivo e tinha muita criação, eles sal-
Conta que quando era nova era comum gavam a carne de porco e penduravam
a igreja fazer festas em Ribeirão Grande e para secar num gancho sobre o fogão a
em Ouro Fino, como festas de Nossa Se- lenha. Até hoje é possível ver o gancho
nhora, do Bom Jesus, e um monte de ou- pendurado lá.
tros santos, e que ela e sua família iam a Dona Maria tem também em casa um
todas. Diz que nestas festas tinha uma pro- antigo plantador de grãos que o marido e
cissão para o santo, vinha um padre rezar os filhos utilizavam na roça para semear
a missa. Depois era feito um leilão para ar- principalmente o feijão. Na parede presa
recadar dinheiro para a igreja e que nor- ao lado do semeador há ferragens e estri-
malmente a comida servida era café com bos de cavalos confeccionados pelo faleci-
pão, mas que isso já não existe há muitos do marido, e atrás da porta sua filha Tere-
anos porque os mais velhos se foram e tudo za mostra antigas esteiras de palha nas
ficou abandonado. Contou também que a quais, até não muito tempo atrás, todos
festa de Santo Antonio e de São João era dormiam, porque não se usava cama em
muito bonita em Barro Branco, com procis- Barro Branco.
são e missa, e que faziam bolo para vender Hoje em dia dona Maria passa a maior
e assavam carne, mas que tudo isso tam- parte de seu tempo dentro da cozinha na
bém foi largado. Segundo ela, antigamente companhia das filhas. Apesar de ser uma

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pessoa idosa e cega, recebeu muito bem a truções de balos de mineração que arrima-
equipe e, lúcida, assim como a irmã dona vam as barrancas de rios e córregos com
Lourdes, rememorou muitos fatos e aconte- muros de pedras sotopostas sem argamas-
cimentos de seu passado e da história de sa, assim como no leito dos mesmos,
Barro Branco. agilizavam a vazão da água, aumentando a
velocidade de captação de ouro nas bateias.
Estas estruturas de pedra, semelhantes a
Arqueologia Pública e turismo: muros edificados que canalizam considerá-
os encanados de Ribeirão Grande veis extensões dos rios e córregos da região,
correspondem aos “encanados”.
Os sítios arqueológicos / históricos co- O ouro do Ribeira e do alto Paranapanema
nhecidos localmente como “encanados” foi sendo substituído pelo ouro das Minas
correspondem a estruturas construtivas as- Gerais, Goiás e Mato Grosso, fazendo com a
sociadas ao ciclo da mineração que se de- atividade mineradora na área ficasse por
senvolveu, na região do alto Paranapanema conta de alguns sertanistas, como Francisco
e vale do Ribeira de Iguape, entre os séculos Xavier da Rocha que, transferindo-se com
XVI e XVIII. Atribuídos em parte aos jesuítas todos seus escravos das Minas Gerais para o
espanhóis que chegaram ao vale do Paranapanema, fundou em 1728 a Fregue-
Paranapanema utilizando-se de itinerários in- sia de Santo Antonio das Minas e, mais tar-
dígenas, em parte aos bandeirantes em cons- de, o arraial da Rocinha, hoje cidade de Apiaí.
tante incursão nas áreas de aldeamento já Com a decadência do ciclo do ouro no
estabelecidas, os “encanados” serviam na vale do Ribeira e do alto Paranapanema, o
lavra do ouro de aluvião, livre das taxações tropeirismo tornou-se predominante e cons-
metropolitanas até 1702, quando o Regimento tituiu-se como novo ciclo econômico e social
das Minas estabelecia lei que obrigava a co- nesta área, que se passagem das rotas dos
municação da descoberta e da exploração tropeiros para as Minas Gerais e para ra-
da lavra às autoridades portuguesas. mais para o interior paulista. Neste período
Partindo de vários pontos do litoral os encanados já não são mais construídos e
paulista, exploradores portugueses busca- a mineração se torna menos sistemática.
vam ouro subindo o curso do Ribeira. Data Permanece então apenas a exploração das
de 1576 expedição de Garcia Rodrigues Paes barrancas dos rios de maior porte, como o
que fundou o Garimpo Santo Antônio nas Almas, que apresenta poços globulares de
proximidades da atual Iporanga, estabele- onde se retirou ouro acumulado em seus
cendo um dos núcleos que serviriam de base sedimentos aluviais. Testemunho desta ati-
para a partida de explorações do alto curso vidade são os sítios encanados Barro Branco
do Ribeira e, posteriormente, do alto V e Barro Branco VI, identificados e cadas-
Paranapanema. Acredita-se, no entanto, que trados pela presente pesquisa,.
embora inexistam documentos escritos so- No município de Ribeirão Grande, situado
bre a exploração do ouro de aluvião do alto junto ao divisor de águas das bacias do Ribei-
Ribeira e do Paranapanema antes da primei- ra de Iguape e do Paranapanema, tais cons-
ra metade do século XVI, ela já tivesse ocor- truções são encontradas em bom estado de
rido antes em pequenas incursões e que te- conservação e indicam um rico legado histó-
nham se consolidado na segunda metade do rico nacional. Prospecções realizadas dentro
século XVI, quando as populações autócto- do escopo do presente Programa Arqueológi-
nes já haviam se integrado aos aldeamentos co Mina Limeira resultaram no cadastro de 5
ou eram transformados em mão-de-obra novos sítios “encanados”, contando-se ainda
escrava dos bandeirantes. com outros 2 anteriormente conhecidos. A
Neste cenário em processo de conquista Tabela 4, abaixo, traz o nome, coordenadas
e de expansão territorial colonial, as cons- e fonte de pesquisa destes sítios:

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Tabela 4
Sítios encanados de Ribeirão Grande
Nome do Sítio Coordenadas Fonte

Encanado I Rio das Almas Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos / IPHAN


Encanado II Rio das Conchas Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos / IPHAN
Barro Branco VII 22J 769211/7321987 Programa Arqueológico Mina Limeira
Barro Branco XIII Rio das Almas Programa Arqueológico Mina Limeira
Cachoeira III 22J 768461/7324017 Programa Arqueológico Mina Limeira
Ribeirão Velho 22J 767636/7323221 Programa Arqueológico Mina Limeira
Limeira III Mina Limeira Programa Arqueológico Mina Limeira

Destes “encanados”, 3 se encontram Fazem parte desta avaliação os 5


na área de implantação direta do Projeto “encanados” identificados através da presen-
Mina Limeira (sítios Limeira III, Barro Bran- te pesquisa, para os quais contou-se com os
co VII e XIII). Neles foram realizadas ações dados necessários de análise.
de registro e resgate, e estão sendo foco, A partir desta avaliação preliminar é pos-
ainda, de análises alternativas de trata- sível destacar que, dos 3 sítios localizados
mento e valoração, considerando seu po- na área de intervenção direta do Projeto
tencial de visibilidade em ações Mina Limeira, 2 correspondem a estruturas
museológicas e de turismo patrimonial. simples ou de baixa preservação/visibilidade
Por outro lado, certamente existem ainda (Mina Limeira III e Barro Branco VII). O ou-
vários outros “encanados” na região, con- tro sítio (Barro Branco XIII) apresenta gran-
siderando a abrangência das atividades de des dimensões e bom estado de conserva-
mineração desenvolvidas ao longo dos ção, devendo receber medidas de aprovei-
séculos. tamento museológico.
A partir dos dados acima coletados, e
considerando o atrativo destes sítios integra-
rem programas turísticos municipais (alguns Considerações finais
inclusive já em curso, mas compreendendo
iniciativas isoladas e sem enfoque de pre- O Brasil é um país formado não ape-
servação), foi realizada uma primeira análi- nas por uma enorme diversidade de histó-
se sobre o potencial turístico dos sítios rias locais e contextos culturais, mas tam-
“encanados”, com base nos seguintes crité- bém por uma estrutura social estratificada
rios de avaliação: onde grande parte da população não tem
acesso a recursos críticos, incluindo edu-
• Significado histórico-cultural
cação. Por conta disso, a recente prática
• Visibilidade para o público da Arqueologia Pública no país constitui
desafio estimulante, uma vez que oferece
• Estado de conservação
oportunidade de criar uma outra visão do
• Condições de acesso e segurança ao passado humano, mais diversificada e to-
visitante lerante, menos rígida e, principalmente,
mais próxima dos legítimos herdeiros des-
• Alternativas regionais de lazer no en-
ta história. Aproximamo-nos cada vez
torno do sítio
mais, afinal, à essência de uma ciência
• Propriedade do bem (pública / particular) social.

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

Tabela 5
Avaliação turistia preliminar – Sítios “Encanados”
Sítio Pontos fortes Pontos de atenção
Barro Branco VII Estrutura de baixa visibilidade, fácil Atualmente assoreadoPequenas
acesso, seguro. Poderia ser integra- dimensõesPropriedade particular
do à visita da Capela do Ouro Fino e
da Caverna do Cherol.
Significado histórico-cultural: médio

Barro Branco XIII Estrutura composta de grandes di- Difícil acessoTurismo pode prejudi-
mensões no rio das Almas, boa vi- car mata ciliar e qualidade da água,
sibilidade, em excelente estado de além das próprias estruturas de
preservação. mineraçãoBem público
Conjunto paisagístico preservado
com presença de queda d’água for-
mando tanque e mata ciliar. Pode-
ria ser integrado em trilhas que se-
guem o rio das Almas curso aci-
ma, com pontos bons em miran-
tes próximos e/ou roteiros mistos
no Ouro Fino.
Significado histórico-cultural: alto

Cachoeira III Estrutura simples em ilha fluvial ge- Propriedade Particular


rada pela atividade de mineração no
rio das Almas; bem preservada, ex-
celente visibilidade e fácil acesso.
Poderia ser integrado aos roteiros
de turismo ao Ouro fino
Significado histórico-cultural: médio

Ribeirão Velho Estrutura complexa de grande di- Difícil acessoPróximo à EE Xitué.


mensão (150 metros) no Ribeirão Turismo pode prejudicar mata atlân-
Velho; excelente estado de preser- tica desenvolvida.
vação.
Significado histórico-cultural: alto

Limeira III Estrutura simples de pequena dimen- Baixa visibilidade


são fronteiriça à Mina Limeira; esta- Difícil acesso
do de preservação comprometido. Baixa integração aos roteiros turís-
ticos potenciais da região
Significado histórico-cultural: médio

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

O desenvolvimento econômico que o Bra- blema: a viabilidade de serem mantidas re-


sil atravessa, nesta virada de século, traz lações socialmente definidas entre a nature-
grande impacto ao seu patrimônio arqueoló- za e a comunidade durante longos períodos
gico, considerando os usos e desusos que de tempo. Desta forma, o discurso sobre
são feitos de seu território. Pela primeira vez sustentabilidade é basicamente público e
na história da disciplina, creio eu, nos depa- estreitamente vinculado a problemas como
ramos com uma ameaça que há poucos anos justiça social e regulamentação política.
atrás não nos afligia: a de que nosso Sustentabilidade ou não sustentabilidade
database é finito. corresponde a uma qualidade de condições
Assim hoje a Arqueologia necessita in- e processos dentro de um continuum de con-
corporar um outro perfil, lado a lado com a dições e processos possíveis. Neste sentido,
comunidade que cria, destrói e preserva seus não se pode considerar a sustentabilidade
recursos. Não lhe basta ser multidisciplinar: ambiental e a sustentabilidade social de for-
necessita ser também multicultural, na me- ma isolada. Ao contrário, o foco deve recair
dida em que incorpora os muitos passados na interação entre elas, buscando a viabili-
possíveis. dade de suas relações durante longos perío-
Quais as mudanças necessárias à Arque- dos de tempo. Por outro lado, considerando
ologia tradicional, acadêmica e enquanto pro- a rápida transformação por que as socieda-
fissão emergente, para este século XXI? des passam atualmente, a sustentabilidade
Quem estará à frente desta mudança, de- necessita ser concebida dentro de uma pers-
senvolvendo novos programas de treinamen- pectiva dinâmica, e não baseada em estru-
to e currículos acadêmicos necessários para turas estáticas.
o futuro? Nós, arqueólogos, precisamos nos per-
O desenvolvimento sistemático de ações guntar: Qual a conexão entre nosso campo
em Arqueologia Pública está em grande par- de conhecimento e sustentabilidade social?
te ligado a pesquisas junto a processos de Como podemos contribuir dentro desta pers-
licenciamento ambiental, onde cada vez mais pectiva? Quais novos tópicos devemos incor-
os estudos têm como objetivo definir proce- porar à nossa área de atuação?
dimentos e estratégias de sustentabilidade Dentre as respostas possíveis, destaca-
sócio-ambiental em um contexto capitalista. se o estímulo à coesão social através do es-
Apesar da questão “O que deve ser sus- tabelecimento de pontes entre o presente e
tentado?” nunca terá um paradigma unifica- o passado, preservando histórias e tradições
do, há consenso sobre a efetiva participação e valorizando a herança cultural. Observa-
da comunidade na pesquisa arqueológica, se assim, portanto, uma grande mudança de
com base em uma estrutura não hierárquica perspectiva na prática da profissão: hoje a
em que métodos de trabalho e interpretação Arqueologia parte de um profundo conheci-
necessitam interagir. mento do presente para dar significado ao
Desde a Conferência das Nações Unidas passado e perspectivas de futuro, especial-
sobre Ambiente e Desenvolvimento ocorrido mente em países em desenvolvimento como
no Rio de Janeiro, em 1992, “desenvolvimen- o Brasil. O processo pós-colonial e as infor-
to sustentável” se tornou palavra-chave de mações tecnológicas disponíveis criaram um
um discurso político internacional voltado à novo contexto no qual a Arqueologia deve
qualidade de vida, conservação dos recur- atuar.
sos naturais e responsabilidade para gera- Como conseqüência deste conjunto de
ções futuras. Apesar das discussões terem ações, esperamos, virá a tolerância e a pos-
sido inicialmente voltadas às ciências natu- sibilidade de cooperação voltada à constru-
rais e análises de crescimento populacional, ção de uma sociedade mais democrática.
relaciona-se a uma discussão baseada na Nossa perspectiva é que o trabalho desen-
definição social, histórica e cultural do pro- volvido (e ainda em andamento) na pequena

100
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González

comunidade de Barro Branco possa ter a empresa desenvolve; devo a eles, em gran-
contribuido neste caminho. de parte, a oportunidade de desenvolver os
O trabalho de cadastramento de sítios estudos e contribuições que o presente arti-
históricos do tipo “encanados” na área se go busca trazer. Agradeço às instituições que
insere, portanto, dentro de uma iniciativa de apoiaram as pesquisas, a saber, o Núcleo de
valorização e preservação patrimonial, cons- Estudos Estratégicos/ Arqueologia Pública da
tituindo uma segunda alternativa de aplica- UNICAMP e a Fundação Cultural de Jacarey,
ção da Arqueologia Pública no Programa Ar- no centro das quais ocorreu grande parte das
queológico que vem sendo desenvolvido. discussões conceituais trazidas por este ar-
tigo. Agradeço igualmente aos inúmeros ar-
queólogos, historiadores, geógrafos e cien-
Agradecimentos tistas sociais que, comigo, partilharam des-
tas pesquisas, onde destaco os amigos Dr.
Venho inicialmente agradecer a comuni- Paulo De Blasis, Dr. Andrés Zarankin e Ms.
dade de Barro Branco pela sua paciência, Wagner Gomes Bornal. Agradeço especial-
generosidade e compromisso com a presen- mente o enorme empenho e compromisso
te pesquisa. Sem eles nosso esforço seria de Gerson Levi da Silva Mendes em todas as
em vão. Agradeço ainda à Companhia de etapas da pesquisa, bem como de Cintia
Cimento Ribeirão Grande (CCRG) e, em es- Bendazolli pelo belíssimo trabalho junto ao
pecial, a Luiz Carlos Busato, Antonio Mauro universo feminino e infantil da comunidade
Mendonça Barbosa e Paulo Ricardo Silva de Barro Branco. A todos eles e aqueles que,
Gobbo, incansáveis estimuladores e defen- por falta de espaço, não pude citar, meus
sores dos programas socio-ambientais que sinceros agradecimentos.

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120
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Resenhas

121
Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

122
Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Sam Smiles y Stephanie Moser (eds.): Envisioning the past. Archaeology and the image.
Blackwell Publishing. Malden. Oxford y Carthon. 246 páginas.
ISBN. 1-4051-1150-X

Ana Maria Mansilla Castaño*

Este livro, co-editado por uma das pio- tidades, as diferentes fontes do repertório
neiras dos estudos das imagens na arqueo- iconográfico arqueológico, o destaque das
logia, oferece uma interessante coletânea de imagens na arqueologia contemporânea tan-
trabalhos sobre a análise do discurso visual to no trabalho de campo quanto na divulga-
em arqueologia. Envisioning the Past foi tam- ção popular ou formal, sem esquecer as
bém a primeira Conferência Internacional nuances que a introdução das novas
sobre o tema na Southampton University tecnologias implica. No entanto, visando uma
(2000). Não foram publicadas as atas daque- melhor aproximação a este tipo de estudos,
la conferência, o que atualiza e valoriza ain- a ordenação temática dos diferentes capítu-
da mais a temática com esta nova publica- los teria sido uma opção adequada. Assim
ção. A articulação do livro em doze breves mesmo, a própria brevidade dificulta o pas-
capítulos permite ter uma boa panorâmica so entre a proposta teórica e a amostra ana-
dos principais objetos de estudo neste novo lisada. Mesmo sendo as imagens o fio con-
campo de pesquisa arqueológica. Analisa-se dutor do livro, os diferentes capítulos suge-
o papel das imagens na construção do co- rem outras interessantes linhas de pesquisa
nhecimento arqueológico: as imagens sobre no âmbito da antropologia do patrimônio, da
as origens da humanidade, o papel do ima- divulgação arqueológica e da construção da
ginário pré-histórico na construção das iden- comunidade e a cultura arqueológica.

(*) Escola Oficina de Restauro de Salvador


anamansillac@oi.com.br

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Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

124
Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Ian J. Mcniven e Lynette Russell (2005): Appropiated pasts. Indigenous peoples and the
colonial culture of Archaeology. Walnut Creek. Altamira Press. 317 Páginas. 8 Ilustrações.
ISBN 0-7591-0906-9

Ana Maria Mansilla Castaño*

Os títulos dos capítulos identificam já anterior à história resulta ofensivo para


as differentes teorias que, sob o ponto de as populações indígenas que entendem
vista teórico, têm apoiado o colonialismo que nenhum povo é povo sem história.
no discurso arqueológico. Sincronicamente Perante os termos de “community archaeology”
são analisados os discursos desde as pri- e “shared history”, que enfatizam as rela-
meiras teorias que configuraram a própria ções entre os arqueólogos e as comuni-
disciplina até hoje. O segundo objetivo do dades locais, os autores sugerem sua
livro, depois da análise de como o discur- sustituição pelo termo de “partnership
so arqueológico, juntamente com outros, research”. Aborda-se o caso australiano,
tem contribuido e contribui ao colonialismo, mas nas frequentes referências a outras
que é oferecer alternativas para uma prá- colonias de povoamento sente-se a falta
tica arqueológica descolonizada, se resol- de algumas experiências no contexto da
ve rapido demais, uma vez que têm sido America Latina e não apenas o olhar
apresentadas questões terminológicas e anglo-saxâo. O que não retira valor à su-
conceituais de grande interesse, como a gestiva e exaustiva análise crítica das
proposta de desconstrução do termo “Pré- conflitivas relações entre a arqueologia e
História”. Isto porque, o sentido de tempo a sociedade contemporânea.

(*) Escola Oficina de Restauro de Salvador


anamansillac@oi.com.br

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

126
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

REVISTA “ARQUEOLOGIA PÚBLICA”

A revista “Arqueologia Pública” é uma iniciativa do Núcleo de Estudos


Estratégicos em Arqueologia Pública/UNICAMP. Com periodicidade anual,
objetiva constituir um fórum de debate sobre o caráter público da dis-
ciplina e sua importância social na atuação e manejo do patrimônio
cultural. Tem como prioridade a publicação de trabalhos inéditos e
originais, embora poderão ser aceitos, excepcionalmente, trabalhos
para republicação em português. Os autores da revista têm o prazer
de convidá-lo(a) a participar desta empreitada, encaminhando traba-
lhos e fornecendo comentários/ sugestões que permitam aprimorar a
publicação.

Instruções aos colaboradores mes dos pareceristas serão mantidos em


sigilo, assim como dos autores dos traba-
1. Forma de apresentação lhos que estiverem sendo avaliados.

Os autores devem encaminhar à reda- 2. Idioma


ção uma cópia impressa do trabalho com-
pleto, acompanhada por disquete ou CD. O Os trabalhos devem ser escritos em por-
disquete ou CD deve estar identificado com tuguês, espanhol ou inglês. No caso de con-
o nome do autor principal e com o nome tribuições em português ou espanhol, a se-
do programa processador de texto, que gunda língua utilizada no título, palavras-cha-
deve ser compatível com softwares tipo MS- ve e resumo deverá ser o inglês. No caso de
Word, sistema IBM PC. Deverá trazer indi- contribuições em inglês, a segunda língua
cação do tipo de contribuição a que se re- utilizada no título, palavras-chave e resumo
fere (artigo, nota, resumo de tese etc.).
deverá ser o português.
Depois de recebido o aceite do Conselho
Editorial e do(s) parecerista(s), o autor será
solicitado a enviar à redação os originais 3. Tipos de contribuição
das ilustrações, em meio digital. Os auto-
res devem manter em seu poder cópias dos Artigos: Resultados de Programas em
trabalhos e ilustrações, pois o material não Arqueologia Pública, reflexões teórico-
será devolvido. Todos os trabalhos serão metodológicas, análises científicas, revisões
apreciados por pelo menos um membro do críticas (máximo total 30 páginas com ilus-
Conselho Editorial. Antes de serem aceitos trações, bibliografia, notas de rodapé e ou-
para publicação passarão ainda pela aná- tros). Deverá conter 5 palavras-chave e re-
lise de pelo menos um parecerista. Os no- sumo de no máximo 100 palavras.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Notas: Resultados parciais ou prelimi- te indicadas as linhas gerais e conclusões


nares de pesquisas em andamento (máximo do trabalho. O resumo deverá estar em
total 10 páginas com ilustrações, bibliogra- duas línguas, de acordo com as normas
fia, notas de rodapé e outros). Deverá con- especificadas no item 2 (Idioma).
ter 5 palavras-chave e resumo de no máxi-
mo 100 palavras. Tabelas e gráficos: devem ser apre-
sentados em folha separada no final do tra-
Resumos de teses: Resumos de teses balho, com identificação e nome do autor
e dissertações com abordagem em Arqueo- principal.
logia Pública, defendidas nos últimos dois
anos (máximo total 5 páginas com ilustra- Notas de rodapé: devem ser numera-
ções, bibliografia, notas de rodapé e outros). das automaticamente em algarismos arábi-
Deverá conter 5 palavras-chave e resumo de cos e aparecer ao final do texto.
no máximo 100 palavras.
Ilustrações: devem ser apresentadas
Resenhas: Resumo crítico de livros que em folha separada no final do trabalho e
permitam atualização na área de Arqueolo- identificadas como Fig. 1, Fig. 2 etc.,
gia Pública (máximo total 1 página). seqüencialmente de acordo com a ordem em
que aparecem no texto, e devem estar pron-
4. Preparação dos originais tas para reprodução. Se precisar, deve-se dei-
xar clara a orientação da ilustração. Certifi-
Configuração: que-se de que as ilustrações ainda serão le-
Os trabalhos deverão ter o número má- gíveis após uma redução de 50%. Se tive-
ximo de páginas especificado para cada tipo rem sido feitas em computador, deve-se tam-
de contribuição, de tamanho A4, fonte Arial, bém enviá-las em disquete ou CD, devida-
corpo 12, espaço duplo. A margem inferior e mente identificados com o nome do autor
a superior devem ser de 2,5 cm, esquerda e principal e o programa utilizado. As fotogra-
direita de 3,0 cm, não justificada. fias devem ser em preto e branco.

Paginação: as páginas devem ser nu-


Referências bibliográficas:
meradas consecutivamente e não deve ha-
ver anexo.
a) no texto: (Baldus 1944), (Prous 2003:
Primeira página: deve conter o título 44), (Baldus 1944, Prous 2003), (Kneip et al.
do trabalho, o(s) nome(s) do(s) autor(es) 1995) e (Neves & Blum 1998).
sem qualificações ou títulos, mas com b) na lista de referências: só deve ser
afiliação e, se houver interesse, endereço listada a bibliografia citada. Ela deve estar
eletrônico, sendo necessário escrever clara- em ordem alfabética pelo sobrenome do au-
mente se deseja que seu endereço eletrôni- tor citado em primeiro lugar.
co seja publicado. Deve ainda ser incluído
ROOSEVELT, A.C.
um endereço postal completo, número de 1991 Moundbuilders of the amazon. Geophysical
telefone (e/ou fax) e endereço eletrônico do archaeology on Marajo Island, Brazil. New
autor para quem a correspondência deva ser York: Academic Press Inc. Binford, L.
enviada. 1962 Archaeology as Anthropology. In:
American Antiquity, 28 (2): 217-225.
Segunda página: deve conter 5 pa- FUNARI, P.P.A.
1991 Archaeology in Brazil: Politics and
lavras-chave e um resumo de no máximo Scholarship at a Crossroads. In: World
100 palavras, onde devem estar claramen- Archaeological Bulletin, 5: 123-132.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

5. Exemplares do autor tores, não refletindo obrigatoriamente a opi-


nião da Comissão Editorial.
Será enviado ao autor principal 5 exem-
plares do número em que sua contribuição 7. Endereço
estiver publicada.
Os trabalhos devem ser enviados para:
6. Direitos de propriedade nee@unicamp.br

A simples remessa de originais à revista 8. Cronograma


implica a autorização para sua publicação.
Não serão pagos direitos autorais. É de in- A publicação do primeiro número da Re-
teira responsabilidade do(s) autor(es) de vista Arqueologia Pública está prevista para
cada trabalho coletar as permissões e agra- julho/06. Para tanto, os trabalhos devem ser
decimentos necessários para sua publicação. encaminhados até no máximo 31.01.06.
Os conceitos emitidos nos textos publicados Aqueles que chegarem depois disto deverão
serão de responsabilidade exclusiva dos au- ser reservados para o próximo número.

129
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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