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Mulheres bordadeiras: práticas e memórias na construção do patrimônio cultural

imaterial em Alagoinha-PE.

Janeclay Alexandre da Silva1


Maria Cecília Feitosa da Silva²

RESUMO

Este artigo se propõe analisar historicamente a constituição da história das mulheres no oficio
do bordado na cidade de Alagoinha-PE. Para isso, será imprescindível uma análise histórico-
cultural do município. O objetivo é compreender e ressaltar a construção do artesanato, que
faz parte da cultura e da história de Alagoinha-PE. Um envolvimento de construção e
reconstrução da memória e o aprimoramento da técnica manualmente, parte do sentido de
expor um trabalho que se envolve com a narrativa da história local e o saber-fazer, que
aprimora a compreensão de patrimônio cultural imaterial, que é herdado por um ensinamento.
Contribuindo para a preservação da identidade cultural das mulheres, que desenvolvem o
bordado. A mulher quando passa a conhecer, o bordado adquiri uma oportunidade de aprender
um saber-fazer ao qual pode ser passado entre as gerações, permitindo assim uma preservação
de um patrimônio imaterial e material ao mesmo tempo. Ou seja, o patrimônio imaterial está
envolvido com o saber-fazer da prática do bordado e a memória como precursora dessa
produção artístico-cultural. O patrimônio material exposto pela peça já executada com o
bordado, que ficará preservado por meio de um saber-fazer particular de cada bordadeira com
o passar dos anos.

Palavras chave: bordado, patrimônio imaterial e memória.

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Autor (a): Janeclay Alexandre da Silva. Graduanda do Curso de Licenciatura em História – Universidade de
Pernambuco – UPE, Campus Garanhuns, 8º período. Bolsistas do Pibid/CAPES/ UPE - Campus Garanhuns E-
mail: janeclay.alexandre@hotmail.com.
² Coautor (a) Maria Cecília Feitosa da Silva. Graduanda do Curso de Licenciatura em História – Universidade de
Pernambuco – UPE, Campus Garanhuns, 6º período. E-mail: cecyfeitosa@hotmail.com.

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INTRODUÇÃO

Em Alagoinha-PE, o bordado é produzido por meio do trabalho realizado pelas


mulheres como um complemento da renda familiar. Resulta-se também dessa atividade
sociocultural a produção de sentidos e significados artístico-culturais, que contribuem na
construção de um patrimônio cultural imaterial. É uma interação entre o saber do
conhecimento e o fazer na constituição de cada ponto do bordado, com o passar dos anos, esse
saber-fazer torna-se uma reconstrução sendo ensinado de geração por geração, seja por
membros da mesma família ou amizades em comum; a memória permanece reconstruindo
esse saber-fazer entre as mulheres bordadeiras do município. No momento em que, o homem
busca unir partes de uma história é possivel enumerar uma série de vestígios, que representam
à atitude do homem na construção histórica e cultural de uma sociedade. Para compreender
um pouco da História de Alagoinha-PE, trago apoio do escritor Erasmo e Lúcia Inojosa e de
apoios teoricos no campo de patrimônio como Érica Guedes, Maria do Carmo Campos,
Regina Helena de Freitas Lourenço, Maria Helena Pires Martins, Carlos Lemos e Maria Laura
Viveiros de Castro; no campo do artesanato Clorival do Prado e Raul Lody e no campo da
História oral Marieta de Morais Ferreira e Renato Russo.

ALAGOINHA-PE: UMA BREVE ANÁLISE HISTÓRICA

Como todo município do interior de Pernambuco à história de Alagoinha passa por


momentos marcantes, tornando-se atualmente objeto de estudo tanto pela sua história como
pela sua cultura para profissionais da área de educação. Diante disso, é preciso que se
compreendam os principais pontos importantes da construção de sua história. Sua área
territorial pertencia à sesmaria do estado de Pernambuco, que tinha como responsável o
governador da capitania Fernão de Souza Coutinho. É possível entender, que o sistema de
sesmaria foi utilizado pelos portugueses no momento de posse das terras da América do sul,
esse sistema teve inicio em 1530, ao qual passou por adaptações devido o clima das novas
terras, sesmaria foi um sistema de cultivo do solo em um determinado prazo, conhecido como
plantation um processo agrícola que tinha como propósito ao final de cada plantação um
retorno de lucro ao português, teve a obrigatoriedade de pagamento de um dizimo a coroa real
só que conhecido como dizimo a ordem de Cristo. A carta patente dada a Martim Afonso de
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Sousa é unanimemente considerada como o primeiro documento sobre sesmarias do Brasil.
Com o passar das plantações e de um novo proposito de adquirir uma estabilidade de posse,
percebe-se que o sistema da sesmaria torna-se um método de antigo, optando para a compra
como uma maneira de aprimorar as posses da terra.

Em 1761 João Antunes Bezerra adquiriu a propriedade de Alagoinhas que era parte da
sesmaria doada pelo governo português em meados do século XVII, transversalmente pelo
governador da capitania de Pernambuco Fernão de Souza Coutinho. Em 1804 o seu irmão
Gonçalo Antunes Bezerra volta para o interior comprando essa propriedade e adquirindo uma
autonomia de mudança para o crescimento estrutural do povoado. De posse da vasta
propriedade realiza a construção da primeira casa na localidade (existente até hoje), dando
início assim à fundação do povoado e com o passar dos anos torna-se uma vila. Em 1826,
Gonçalo Antunes Bezerra toma a iniciativa de construir um altar numa das dependências de
sua residência, destinando às orações dos seus familiares e vizinhos. Em virtude do
falecimento em 1833, seus filhos fizeram a doação do terreno que comportava a povoação, a
Nossa Senhora da Conceição, ficando tal terreno sob a administração da Igreja Católica. Em
1850 com um aumentando da população, os habitantes da vila empenharam-se na construção
da sua primeira capela, sendo construída nesse mesmo ano, conhecida como a capela-mor.
Em 1859, Jacinto da Silva e seu filho organizaram uma peregrinação com a imagem de Nossa
Senhora ao alto sertão, com o propósito de obterem apoio financeiro necessário com os
fazendeiros da região para poderem terminar as obras da igreja. Regressando dessa visita,
trouxeram cabras, ovelhas e dinheiro, permitindo em 1863 que fosse concluída a primeira
igreja da cidade.

O nome Alagoinha é proveniente da grande quantidade de pequenas lagoas existentes


nas terras do município. Por volta de 1879, e pela lei provincial nº 1408, de 12 de Maio de
1879 e por lei municipal nº 1, de 25 de Novembro de 1892, foi criado o distrito de
Alagoinhas, subordinado ao município Cimbres (atualmente o município de Pesqueira).
Alagoinha foi fundada em 31 de Dezembro de 1948, tornando-se município pela lei estadual
n.º 420, que se emancipou do município de Pesqueira. É um município brasileiro do estado de
Pernambuco que se localiza 225,5 km de distância da capital Recife, o município é formado
pelo distrito Perpétuo Socorro, e pelos povoados: Alverne, Laje Grande, Campo do Magé,
Salambaia, Genipapinho, Laje do Carrapicho, entre outros.

Em meados da década de 60, Frei Jeronimo veio da Alemanha para Alagoinha, e traz
recursos para abrir uma cooperativa que gerasse renda para os moradores do povoado naquela
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época. Frei Jerônimo junto com dona Edizia Galindo abre uma fábrica de costura
possibilitando que os moradores adquirem um meio de renda, Frei Jerônimo seria o
responsável para adquirir verbas que ajudasse na estrutura da fábrica, um espaço ao qual tinha
máquinas e todos os materiais necessários para a realização dos trabalhos feitos pelas
mulheres da região; dona Edizia era responsável pela administração, analisava os trabalhos
feitos e deixava uma mulher para ensinar as mulheres seja para fazer a renascença, para
costurar as peças ou para bordar. Diante disso é possível entender, que através dessa fábrica
de costura as mulheres em Alagoinha têm o primeiro contato com os tipos de artesanatos
existentes até os dias atuais, tornando-se um ponto de referência para a produção do bordado,
e uma análise do saber-fazer preservando um patrimônio em cada peça confeccionada pela
mulher bordadeira.

Em 1981, chega ao município um projeto do SESI que era a casa da Indústria de


Pesqueira em parceria com a SUDENE, que tinha como proposta de propiciar uma
oportunidade de trabalho para os moradores do município de Alagoinha, trabalhos manuais já
que tinha conhecimento das habilidades e das práticas das mulheres como produtoras da
renascença e do bordado entre os municípios vizinhos. A SUDENE liberava a verba para a
produção dos artesanatos pelas mulheres do município, enquanto Artene encarregava de
procurar campos para a venda das peças feitas pelas mulheres. A SUDENE foi criada pela Lei
nº 3692 de 15/12/1959 com um procedimento de desenvolvimento intitulado no documento
de “uma política de desenvolvimento econômico para o nordeste”, com o comando de Celso
Furtado a frente do grupo de Trabalho para o desenvolvimento do nordeste. Entre as décadas
de 1960/1980 um crescimento econômico muito significativo para o Brasil e principalmente
para o nordeste em consequência do êxito extraordinário dos trabalhos realizados pela
SUDENE a partir de 1960, no contexto da Região.

É preciso uma compreensão dos três tipos de artesanato presentes no municipio de


Alagoinha e em seus povoados ao qual se trata da renascença, do bordado e o artesanato com
palha de milho. A mulher consegue tanto exercutar o bordado como a renascença e até mesmo
o artesanato com palha de milho. Por meio de análieses ficou evidente, que no municipio a
cultura está fortemente conectada com o saber e fazer do artesanato. A partir de um
entendimento sobre o contexto histórico de Alagoinha é possível compreender, que o
artesanato é um oficio de trabalho pelas mulheres. Primeiramente é necessário trazer a
informação de dois povoados: o Jenipapinho e a Pindoba englobam esse saber-fazer por parte

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das moradoras preservando e reconstruindo o oficio do artesanato entre as gerações. Existem
mulheres, que aprendem além de fazer o artesanato da renda, apreendem a bordar, é uma
aprendizagem que permiti uma consciência de trabalho manual entre cada conhecimento
adquirido com a prática diária de cada tipo de artesanato. Pode-se entender que para construir
o bordado a mulher precisa ter uma delicadeza e atenção em cada ponto, na verdade para
ambos os artesanatos à memória é o meio de agilidade, uma mobilização da ação da mulher
em construção de uma história e cultura de cada comunidade.

Segundo Lody (2013):

O artesanato compõe um grupo de conhecimentos tradicionais,


étnicos ou técnicos que são utilizados por meio de um trabalho manual, com
ferramentas adquiridas de maneira simples na natureza permitindo uma
habilidade com as mãos para a criação de algo, podendo ser um objeto ou
peça utilizável por alguém em meio à sociedade. O artesanato é um meio de
capacidade do homem em criar na construção ou reconstrução de um saber
na execução do seu trabalho, com a prática diária torna-se uma habilidade do
artesão ao qual estimasse pela qualificação do seu trabalho, deixando em
evidencia que o fazer cada detalhe representa a dedicação por um trabalho
executado uma estabilidade de aprimoramento através da memória, reflexo
de construção e reconstrução da história em uma sociedade.

A produção do bordado pode ser entendida como um tipo de artesanato, existindo uma
divisão nesse campo, se enquadrando no grupo de Artesanato de Referência Cultural, como
salienta o Programa de Artesanato Brasileiro, (Brasília, 2012, p.29) claramente:

Sua principal característica é o resgate ou releitura de elementos


culturais tradicionais da região onde é produzido. Os produtos, em
geral, são resultantes de uma intervenção planejada como objetivo de
diversificar os produtos, dinamizar a produção, agregar valor e
otimizar custos, preservando os traços culturais como objetivo de
adaptá-lo às exigências do mercado e necessidades do comprador.
Evidentemente é possível compreender que o artesanato está vinculado com habilidade
manual, à execução do bordado pode ser analisada como uma característica da cultura do
município, no momento de que o saber-fazer do bordado aprimora à memória da mulher
bordadeira, dinamiza a sua produção na oportunidade de criar os pontos sobre a imagem
riscada no tecido. É uma atividade de trabalho que está presente uma técnica pela sua
execução, diversifica nos pontos que juntos permitia imagem do bordado, tem um valor pelo
seu fazer e preserva um traço particular de identidade para cada mulher bordadeira.

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O SURGIMENTO HISTÓRICO-CULTURAL DO BORDADO

A presença do bordado surgiu em meio às civilizações antigas, que se desenvolveram


nas margens do Eufrates, a arte do bordado ao qual foi muito bem cultivada. Existem
vestígios em alguns dos monumentos da Grécia antiga, que percebem imagens pintadas mais
que trazem uma realidade semelhante da época podendo assimilar que suas túnicas eram
bordadas. É possível encontrar em várias passagens da Bíblia contos que traz referência à arte
de bordar. Em meados do século VII, o interesse pelo bordado se tornou sistemático no
Ocidente, e nos séculos seguintes a sua prática intensificou-se, a tal ponto que abadias e
mosteiros se transformarem em verdadeiras oficinas de artesanato. Nesse momento pode-se
ter uma concepção de como o bordado passar a ser aceito e adquirido por uma sociedade, que
ao longo dos tempos é exposto como uma ferramenta artesanal na sua construção e ao qual
estará presente nos mais indicieis de luxo e conforto de uma comunidade, se tratando em uma
análise nos dias atuais e principalmente em cidades pequenas a artesã, que constrói o bordado
não é valorizada como um agente atuante na história e na cultura de uma sociedade.

Segundo Lody (2013):

O bordado é um trabalho feito com as mãos em auto relevo nos


tecidos de algodão, seda, lã, com ouro e prata dentre outros matérias,
com ferramenta principal a agulha e o tecido sobre um bastidor. Traz a
informação de que a arte do bordado é um método antigo com o
desejo de uma simbologia corporal em criação pelo homem. É
possível expor os principais países que são berços para a constituição
do bordado pela civilização, o Antigo Egito, na Pérsia (atual Irã), na
Síria, na Grécia e na Itália onde se tem um acervo de bordados em
linhos como em metálicos. Na Europa da Idade Media é possível ter
uma constituição do bordado em conventos, igrejas e nos principais
locais de circulação da religiosidade da época.

Diante dessa afirmação é necessário compreender que esses países são marcados pelo
bordado como um artefato de luxo, não podendo ser visto naquela época como um trabalho
artesanal e que sua construção permiti uma identidade para a mulher bordadeira, no caso o
bordado era analisado apenas sua estética. Mas, é necessário à compreensão do seu fazer, este
trabalho de analise possibilita, que o pesquisador se aproxime de uma realidade de construção
e aprendizagem do oficio de bordar. Que perceba o trabalho de cada ponto do bordado, o
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ensino-aprendizagem entre as gerações, é um artesanato manual que a memória serve como
uma ponte para o conhecimento, o saber-fazer representa um patrimônio herdado entre as
gerações, ao qual preserva um saber e aprimorando para uma técnica de trabalho e uma
identidade na história e cultura entre a sociedade.

O bordado é um meio de artesanato, que vincula para a compreensão de uma atividade


de aprendizagem constante e um registro de memória de um fazer, que se faz com a
simplicidade de gestos ao qual remete para um conhecimento de construção e de reconstrução
com o passar dos dias. É uma ferramenta no campo do saber, que expõe uma concepção da
realização de um trabalho, um registro de identidade no momento de construção de cada
ponto que forma a imagem do bordado, ao qual remonta para o sentido de patrimônio
imaterial encontrando-se com a simplicidade e compreensão do fazer e saber de uma
aprendizagem repassada de geração por geração. A mulher bordadeira consegue diferenciar
cada ponto que formara a imagem concebida pela constituição do bordado, permitindo uma
assimilação de conceitos para o saber da aprendizagem, uma diversificação no sentido de
como fazer essa técnica artesanal e preservando esse método com o passar dos anos, é a
memória que registra e diferencia cada ponto e a mulher bordadeira precisa ter uma atenção
no momento de executar a constituição do bordado.

PRÁTICAS DE BORDADO NA CONSTRUÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

O bordado é uma atividade de construção manual, sua característica principal se dá no


pedaço de tecido com uma imagem riscada em cima, depois o manuseio de agulha com linha
que dará a constituição de cada ponto formando a imagem do bordado. Faz parte da
compreensão da mulher bordadeira os tipos de tecidos apropriados como os principais pontos
que constitui o bordado, é uma aprendizagem que a memória é a preservação de um
conhecimento e ao passar dos anos torna-se uma característica da cultura em Alagoinha-PE. A
mulher bordadeira necessariamente precisa compreender cada tipo de material para a
construção do bordado, o entendimento que os tecidos finos e delicados a agulha apropriada é
a fina no qual com execução de cada ponto no pano evita a perfuração e desventura da
imagem do bordado, do mesmo modo para a execução do ponto do rococó que a agulha
precisa ter o buraco fino e pequeno vindo facilitar sua constituição no tecido normal ou no
tecido fino.

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O conceito de patrimônio envolve-se por uma conservação de algo para alguém ou por
um grupo, podendo ser um objeto material ou pelo imaterial em busca de um saber, ambos
herdados por alguém e transmitidos pela memória entre as gerações. Tem uma vinculação a
fatos memoráveis da história do lugar e de seu povo, quer por seu excepcional valor
arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico. Ao qual diversifica com o passar dos
anos e da importância para a sociedade, diante disso o patrimônio pode ser material algo
concreto do homem, como por exemplo, vestimentas, objetos de uso pessoal, um artefato ao
qual esta há muito tempo presente em uma família, tem às fotografias, que promovem
informação sobre a vida de uma pessoa ou de uma família na sociedade; o patrimônio
imaterial pode ser percebido por uma representação de festa popular, pelo um saber, por algo
intangível do homem sobre a sociedade.

É uma assimilação da diversidade do sentido de um fazer como característica do


patrimônio imaterial é possível perceber por uma análise no seguinte trecho: “[...] As práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos,
artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em
alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
(CASTRO, 2008, p.11) Evidentemente fica claro que o artesanato é um fazer manual por uma
pessoa, permitindo uma ferramenta de trabalho para quem executa e um artefato utilizável
para quem irá adquirir essa matéria construída pelo artesão, com a simplicidade de suas
próprias mãos.

A produção do bordado é uma ferramenta no campo do saber que expõe uma


concepção da realização de um trabalho, um registro de identidade no momento de construção
de cada ponto que forma a imagem do bordado. Ao qual remonta para o sentido de
patrimônio imaterial, encontrando-se com a simplicidade e compreensão do fazer e saber de
uma aprendizagem repassada de geração por geração, com uma leitura esclarecedora do
sentido de patrimônio por livros, que expõe claramente o surgimento desse campo.

A conceituação de Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil acompanha de perto essa


formulação com o Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, que institui o registro e cria o
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, compreende o Patrimônio Cultural Imaterial
brasileiro como os saberes, os ofícios, as festas, os rituais, as expressões artísticas e lúdicas,
que, integrados à vida dos diferentes grupos sociais, configuram-se como referências
identitárias na visão dos próprios grupos que as praticam. (Viveiros, 2008, p.12).
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É nítida uma compreensão de que, o patrimônio imaterial abrange a ação do homem
em uma sociedade, é nessa concepção que a mulher bordadeira precisa ser analisada como
reprodutora de um saber-fazer com preservação pela memória e ensinada pra futuras gerações
com a técnica de sua construção, esse fazer expõe claramente uma identidade de cada mulher
bordadeira no momento, que constrói cada ponto do bordado, não existe a cópia desse fazer,
ou seja, ao se fazer cada ponto do bordado a mulher caracteriza uma personalidade em seu
fazer e ao qual mesmo sendo ensinado não tem como se replicar a marca de personalidade
remetendo para uma identidade ao passar dos anos. Esse ensinamento ocorre principalmente
pela comunicação oral entre as mulheres que estão envolvidas no processo de ensino-
aprendizagem de cada ponto que forma o bordado, é um método manual, ou seja, o bordado é
constituído pelas mãos da mulher bordadeira com o auxilio de agulha e linha para a formação
dos pontos do bordado. Como salienta Carlos A. C. Lemos, Maria Helena Pires Martins:

O segundo grupo de elementos refere-se ao conhecimento, às


técnicas, ao saber e ao saber fazer. São os elementos não tangíveis do
Patrimônio Cultural. Compreende toda a capacidade de sobrevivência
do homem no seu meio ambiente. (Lemos, 1981, p.09)

O Patrimônio Histórico esta vinculado a uma divisão e organização ao qual permite a


assimilação do que é patrimônio perante a atividade do homem em meio à sociedade, o
trabalho da mulher bordadeira enquadra-se no segundo grupo, no momento que expõe um
fazer na construção de seu trabalho com as mãos e com a sua memória ao se lembra dos mais
variados pontos de bordado a ser constituído. O Patrimônio está vinculado nas ações do
homem perante a sociedade e sobre a natureza, é todo e qualquer pensamento que é exposto
como atividade e realização no dia-a-dia. Foi no governo de Vargas que se tiveram as
primeiras leis de proteção ao meio ambiente, e necessariamente em 1937 foi criado o SPHAN
– o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ao qual permite uma valorização da
história do povo brasileiro e de suas atividades perante uma memória e constituição de uma
história.

É possível entender que a história fortemente é representada pela memória do homem


na sociedade, é através da memória que as lembranças permanecem vivas e em reconstrução
de um saber, ao qual enraíza no concreto das atividades do homem seja no espaço ou em
determinado tempo de sua vida. O tempo é uma das artimanhas pouco percebidas da natureza,
é algo que ensina por todos os caminhos, tendo a possibilidade de despertar o sentido novo,
particular e essencial para a sociedade. A produção do bordado é um meio de trabalho ao qual

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a arte pode ser vista nitidamente e claramente na finalização de cada ponto constituído, é um
procedimento de registro e de preservação de uma forma de trabalho artesanal pela mulher, ao
qual com o passar dos anos consegue interagir em meio a uma comunidade realizando um
trabalho de memória e de constituição de uma identidade em seu método de trabalho.

ASPECTOS FÍSICOS E ESTRUTURAIS DO BORDADO

O bordado é um trabalho feito com as mãos e precisa de uma atenção para cada
detalhe do ponto, já que no final de sua execução constitui o bordado como um todo. é um
trabalho no qual a mulher bordadeira consegue aprimorar e preservar um fazer em cada ponto
constituído, executando um saber na diferenciação de cada imagem construída pelo bordado.
É importante ter uma à compreensão dos principais pontos do bordado feito pelas mulheres
bordadeiras em Alagoinha-PE, então abaixo tem uma tabela com nove tipos de ponto do
bordado e seu método de fazer pelas mulheres bordadeiras:

Ponto de Folhinhas – conhecido também Esse tipo de ponto vem riscado como
como Ponto de Folhas Pequenas uma folha pequena, é um ponto executado
da esquerda para direita sobre o risco que
primeiramente precisa de uma armação
em forma de um pé de galinha, são três
traços feitos com a utilização da linha e da
agulha, o primeiro traço fica no meio da
imagem sendo maior, em seguida mais um
traço na esquerda um pouco menor se
comparando com o do meio e finalizando
com o traço da direita de preferencia com
o mesmo tamanho do da esquerda, então
começa a fazer uma cobertura em cima
desses traços ao qual vai dando a forma de
uma folha pequena. É um tipo de ponto
muito comum nos riscos do bordado,
podendo ser feito em tecido fino quanto
em tecido de linho, e nos demais tecidos.
Ponto de Folha – conhecido também como Esse tipo de ponto vem riscado como uma

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Ponto de Folha Matiz folha grande é um ponto que pode ser
feito da direita para a esquerda ou da
esquerda para a direita. Os pontos são
alternadamente longos e curtos e bem
unidos para seguir o contorno do desenho,
são arrumados visando instituir uma
superfície uniforme e macia. É um tipo de
ponto muito comum nos riscos do
bordado, podendo ser feito em tecido fino
quanto em tecido de linho, e nos demais
tecidos.
Ponto Cadeia – conhecido também como Esse tipo de ponto é riscado em forma de
Ponto de Corrente corrente, é executado da esquerda para a
direita no qual começa saindo com a
agulha de um ponto do tecido e introduz
novamente no ponto de onde saiu, é
preciso puxar a linha formando uma
pequena alça se segura com o polegar
esquerdo, ao qual sai novamente com a
agulha um pouco mais adiante dentro da
alça, soltando-a e puxando a linha, vai
dando sequencia e formando aos poucos a
imagem de uma corrente, muito usado
para contornar outros bordados.

Ponto de Haste Simples – conhecido Esse tipo de ponto encontra-se riscado na


também como Pauzinho forma de traço, conhecido como pauzinho,
é um ponto executado da esquerda para
direita no qual é necessário que seja feito
pegando com a agulha duas ou três linhas
do tecido, saindo com a agulha no fim do
ponto anterior, e a bordadeira precisa

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deixar a linha sempre virada para baixo; é
um tipo de ponto que pode ser feito tanto
em tecido fino e com o tipo de agulha
apropriada, como também em decido de
comum para o uso adequado do bordado.
Ponto de Bolinha Esse tipo de ponto encontra-se riscado na
forma de bolinha, é um ponto da esquerda
para direita no qual é necessário que seja
feito pegando com a agulha duas ou três
linhas do tecido, pouco espaço de tecido e
englobando com a linha, não podendo
deixar fina ou achatada nem tão grande,
precisa de uma atenção de aprimoramento
da exposição da bolinha. Necessariamente
vem em cima dos pauzinhos em alguns
tipos de riscos, pode vim formando o
formato de um ovo o risco com bolinhas
pequenas acarretando para essa imagem, e
por fim na forma de uma florzinha
conhecida como liosote – que se trata de
cinco bolinhas e uma no centro
pequenininho, em sua constituição forma-
se a imagem de uma flor simples, tanto
pode ser bordada em tecido fino como em
outros tipos de tecidos.
Ponto Atrás Duplo – conhecido também Esse tipo de ponto encontra-se riscado na
como Ponto de Sombra forma de sombra variando os tipos de
desenhos, pode ser feito tanto do lado
direito quanto do lado avesso, com
pequenos pontos atrás, alternadamente,
executando sempre o ponto cruzado em
seu avesso, tem de cada ponto está na
mesma regularidade e tendo a mesma

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distância entre ambos; já que do lado
direito ao qual a imagem será exposta
devem aparecer duas carreiras de
pontinhos regularizados e bem juntos,
formando o sentido do ponto de sombra.
A bordadeira precisa de uma segurança na
realização do ponto, deixando o tecido
esticado para pode executar cada pontinho
da sombra sem engrumar a imagem em si.
Pode ser feito em tecido fino com a agulha
apropriada e a quantidade certa de linha,
como nos tecidos de toalhas de mesa,
dentre outros tecidos.

A mulher bordadeira consegue diferenciar cada ponto do bordado, normalmente o


primeiro contato com o bordado para sua execução de trabalho ocorre com os pontos mais
simples e de fácil compreensão, com o passar de cada ponto aprendido vai crescendo o
interesse de aprender outros pontos, nessa aprendizagem à memória é crucial para a
preservação do saber-fazer com cada bordado construído sobre as peças de roupas ou de
utilidades do lar. O bordado precisa de uma atenção em sua constituição, à mulher bordadeira
tem uma concepção de diferenciação com os principais pontos de constituição formando a
imagem do bordado, já que determinado ponto permiti a execução de outros pontos pelo
fazer, e tem a união de pontos que formam uma imagem riscada com a utilização do carbono
qualificando o saber da mulher bordadeira na construção do bordado. A aprendizagem da
mulher bordadeira sobre os pontos que forma o bordado diversifica sua compreensão do
saber-fazer, no momento de analisar bordados realizados manualmente com as mãos em
contraposição aos feitos com a máquina de costura, a imagem concebida pelo trabalho manual
permiti uma preservação de identidade para a mulher bordadeira, já que o seu fazer está sendo
preservado por cada ponto do bordado e expondo um saber de constituição com o passar de
sua prática em cada peça riscado para a realização do bordado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendemos que a produção do bordado é um tipo de artesanato por ser executada


manualmente, uma habilidade que permiti uma troca de conhecimento e de criatividade pela
mulher bordadeira no momento de produção de cada ponto que forma o bordado. Pode ser
visto e compreendido como um patrimônio herdado desde a década de 60 pelas mulheres do
município, e nos dias atuais preserva um saber-fazer com a prática diária e a memória, que
registra e reconstrói a cada manuseio feito pelas mulheres, à produção do bordado permiti
uma troca de conhecimento e aprimoramento de uma técnica de trabalho adquirida com a
prática diária e um pagamento pelo seu trabalho com a peça confeccionada.

Por tanto, é importante conhecer a história local de Alagoinha e como a mulher torna-
se percursora da história e da produção do artesanato, o artesanato em sua prática é um meio
de trabalho e preservação de uma identidade cultural entre as produções artesanais da cidade.

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REFERÊNCIAS

Oliveira, Erasmo Lumba de. Lúcia de Fátima Inojosa Freitas. Alagoinha: nossa terra, nossa
história. Recife: Libertas, 2014.

Lourenço, Érica. Guedes, Maria do Carmo. Campos, Regina Helena de Freitas. Patrimônio
cultural, museus, psicologia e educação: diálogos. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2009.

Martins, Maria Helena Pires. Preservando o Patrimônio e Construindo a Identidade. São


Paulo: Moderna, 2001.

Lemos, Carlos A. C. O Que é Patrimônio Histórico. Editora Brasiliense, São Paulo, 1981.

Castro, Maria Laura Viveiros de. Patrimônio Imaterial no Brasil, Maria Cecilia Londres
Fonseca, Brasília: UNESCO, Educarte, 2008.
Lody, Raul. Barro & balaio: dicionário do artesanato popular brasileiro. 1. Ed. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2013.

Valares, Clarival do Prado. Artesanato brasileiro. Edição: FUNARTE, Rio de Janeiro, 1978.

Ferreira, Marieta de morais. Renato Franco. Aprendendo história: reflexão e ensino. 2. Ed.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

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Acessado em 24 de setembro de 2016, no horário de 09h48min da manhã.
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no horário de 09h44min da manhã.

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Produção do bordado

Já esta, em simples produção,


A constituição do patrimônio
O fazer do bordado pela mulher
Na execução de preencher
O desenho exposto em amônio
No papel em acolher.

Pelas mãos das bordadeiras


A constituição artesanal
Em meio às brincadeiras
Com a história local
O registro do saber-fazer
Pela história cultural.

Estrutura do bordado
O conhecimento é a base
Em cada ponto abordado
Aspectos dos afazeres
O patrimônio na ênfase
Diálogo entre saberes.

Autora: Janeclay Alexandre

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