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O Casaco de Marx

STALLYBRASS, Peter. O Casaco de Marx: roupa, memória, dor /


Peter Stallybrass; organização e tradução : Tomaz Tadeu. - 5. ed. rev.
- Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2016.

02//04/2022 - teve uma chuva louca em Nova Iguaçu. Inundou nossa


casa de Santa Eugênia. Tivemos que sair às pressas para limpeza e
tal. Perdemos praticamente tudo lá. E a lama não sai! 

 O casaco de Marx: 15 anos depois : Tomaz Tadeu

03/04/2022

 A vida social das coisas: roupa, memória, dor

 O autor começa contando como começou a escrever sobre moda. Ele


tinha um amigo, Allon, muito próximo com quem compartilhou uma
casa por dois anos, roupas e acessórios. Esse amigo morreu de
leucemia e ele e a esposa do amigo, Jen, tinham longas conversas
sobre o que fazer com seus pertences e fala sobre seus significados
(por exemplo o chapéu que chegou antes da enfermidade para
esconder uma careca precoce). Allon morre em 1986. Certa vez, o
autor estava falando, uma aula talvez, sobre o indivíduo e perceber
que a jaqueta que vestia pertencia a Allon, e que o vestia era como o
próprio amigo ali com ele, vestindo ele. 

“[...] Se eu vestia a jaqueta, Allon me vestia. Ele estava no vinco dos


cotovelos - vincos que no jargão técnico da costura são chamados de
‘memórias’; estava até nas manchas da barra da jaqueta; estava no
cheiro das axilas. Acima de tudo, ele estava no cheiro.” (p. 13).

O livro, provavelmente, refletirá sobre os objetos e sua capacidade de


confundir-se com seus possuídores, no caso o objeto aqui é a roupa.
A roupa aqui como um objeto íntimo por meio do qual o indivíduo,
dono, se estende. E a extensão do indivíduo nesses objetos
permanece, mesmo que o indivíduo já não exista mais fisicamente,
enquanto perdurar o objeto dotado daquele significado. Como os
objetos de museus. Os objetos musealizados possuem uma alma, um
valor que transcende sua função utilitária. Esse valor “ a mais” que é
um valor, e do que se dotam as roupas que compõem um guarda
roupas de alguém. Talvez mais uns objetos do que outros. Mas
pensaremos no objeto em si.

“[...] Comecei a acreditar que a mágica a roupa está no fato de que


ela nos recebe: recebe nossos cheiros, nosso suor, até mesmo nossa
forma. E quando nossos pais, nossos amigos, nossos amantes
morrem, as roupas ficam ali, em seus armários, retendo seus gestos,
ao mesmo tempo confortantes e aterradores - os vivos sendo tocados
pelos mortos. [...]” (p. 14).

“[...] Vestia a jaqueta de Allon. Por mais gasta que estivesse, ela
sobreviveu àqueles que a vestiram e, espero, sobreviverá a mim. Ao
pensarmos nas roupas como modas passageiras, repetimos menos que
uma meia-verdade. Os corpos vão e vêm: as roupas que receberam
esses corpos sobrevivem. Elas circulam pelos brechós, pelas feiras de
ruas e pelos bazares de caridade; ou são passadas de pai ou mãe para
filho, de irmã para irmão, de irmão para irmão, de amante para
amante, de amigo para amigo.” (p. 14).

A trajetória do objeto se relaciona com suas marcas. As marcas


impressas no objeto fazem desse objeto, mesmo com infinitos
semelhantes e iguais, únicos. A trajetória do objeto talvez seja aqui
um ponto interessante para definir algumas peças para compor o
guarda roupas popular. Por que tal peça faz parte desse guarda
roupas? Por que ela tem tal história. A história da peça, sua trajetória
pode desvelar o valor de uma roupa, um acessório no guarda roupa
popular brasileiro. O autor escreve que “as roupas receberam esses
corpos”, ele coloca a roupa na voz ativa. A roupa aqui é como se
fosse mais importante, elas recebem os corpos, os corpos passam,
simplesmente passam.
A ROUPA COMO O SUJEITO TO TEXTO.

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