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Unidade III

Unidade III
3 ESTUDO GRAMATICAL: RECICLAGEM DE
CASOS PRODUTIVOS DA NORMA CULTA PARA
A EXPRESSÃO ESCRITA DO TEXTO

Escrever não é um exercício escolar apenas, mas é,


sobretudo, uma atividade de linguagem, e linguagem
é vida, e a vida ultrapassa os limites da escola.
Lydia Bechara

Introdução

5 O texto escrito

A luta que enfrentamos com relação à produção de


textos escritos é muito especial. Em geral, não apresentamos
dificuldades em nos expressarmos por meio da fala coloquial.
Os problemas começam a surgir quando temos necessidade
10 de nos expressarmos formalmente e se agravam no momento
de produzir um texto escrito. Nessa última situação, devemos
ter consciência de que há diferenças marcantes entre falar e
escrever.

Na linguagem oral, o falante tem claro com quem fala e em


15 que contexto. O conhecimento da situação facilita a produção
oral. Nela, o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo
possibilidade de intervir, de pedir esclarecimentos, ou até de
mudar o curso da conversação. O falante pode ainda recorrer
a recursos que não são propriamente linguísticos, como gestos
20 ou expressões faciais. Na linguagem escrita, a falta desses
elementos extratextuais precisa ser suprida pelo texto, que se
deve organizar de forma a garantir a sua inteligibilidade.

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GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O


fato de um texto escrito não ser satisfatório não significa que
seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo da linguagem
cotidiana e sim que ele não domina os recursos específicos da
5 modalidade escrita.

Assim, não basta saber que escrever é diferente de falar.


Além de ser necessário preocupar-se com a constituição de
um discurso, entendido aqui como um ato de linguagem que
representa uma interação entre o produtor do texto e seu
10 interlocutor, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e
a finalidade para a qual o texto foi produzido. Para formalizar
esse discurso em língua escrita, é preciso ainda considerar que
a escrita tem normas próprias, tais como regras de ortografia -
que, evidentemente, não são marcadas na fala - de pontuação,
15 de concordância, de uso de tempos verbais etc.

Entre os inúmeros casos de desvios da norma culta que mais


comumente aparecem nos textos escritos, selecionamos alguns
que consideramos influenciar negativamente as características
tidas como qualidades de um “bom” texto: correção, clareza,
20 concisão e objetividade.

3.1 Emprego dos pronomes de tratamento,


demonstrativos e possessivos

3.1.1 Pronomes de tratamento

Os pronomes de tratamento apresentam certas


peculiaridades quanto à concordância verbal, nominal e
pronominal. Embora se refiram a segunda pessoa gramatical (à
pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a comunicação),
25 levam a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo
concorda com o substantivo que integra a locução como seu
núcleo sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”;
“Vossa Excelência conhece o assunto”. Da mesma forma, os
pronomes possessivos referidos a pronomes de tratamento

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são sempre os da terceira pessoa: “Vossa Senhoria nomeará


seu substituto” (e não “Vossa ... vosso...”).

Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o gênero


gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que se refere,
5 e não com o substantivo que compõe a locução. Assim, se nosso
interlocutor for homem, o correto é “Vossa Excelência está
atarefado”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher,
“Vossa Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar
satisfeita”.

10 O uso de Sua e Vossa

Usa-se Vossa quando estamos falando diretamente com a


pessoa e Sua quando falamos da pessoa.

Ex.:

Lembrem-se dos pedidos que Sua Excelência fez antes de


15 partir.

Vossa Excelência, conte-nos as novidades.

Quadro de pronomes de tratamento

Pronome Abreviatura Usado para


Você V. Tratamento familiar.
No tratamento respeitoso às pessoas da
Senhor(a) Sr./Sra. qual se mantém um certo distanciamento.
Pessoas de cerimônia, principalmente em
Vossa Senhoria V.S.ª correspondências comerciais.
Altas autoridades: presidentes da
Vossa Excelência V.Ex.ª república, senadores, deputados.
Vossa Eminência V.Em.ª Cardeais
Vossa Alteza V.A. Príncipes e duques
Vossa Santidade V.S O Papa
Vossa Majestade V.M. Reis e rainhas

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3.1.2 Pronomes demonstrativos

Os pronomes demonstrativos são usados sempre em textos


produzidos por usuários da língua pertencentes a todos os
níveis socioeconômicos, são também bastante usados em
nossas conversas cotidianas. Entretanto, em sua utilização, tais
5 usuários não o fazem de conformidade com as recomendações
da gramática normativa.

Para entender os critérios de uso do pronome demonstrativo,


atente para o que se segue:

Pronomes Espaço (lugar) Tempo No texto


Apresentam um
Este, esta, isto Aqui Presente elemento
Esse, essa, Passado recente Retomam um

isso ou futuro elemento
Aquele, Ali, lá, acolá Passado remoto -o-
aquela, aquilo

O pronome demonstrativo tem duas funções ou dois


10 empregos distintos:

1. A primeira função é chamada pragmática ou situacional,


porque o pronome se refere à situação, ao contexto em que a fala
ocorre, e seu emprego é paralelo e equivalente ao dos advérbios
pronominais aqui (para a 1ª pessoa) , aí (para a 2ª pessoa) e ali
15 (para a 3ª pessoa):

• emprego de este equivale, situacionalmente, ao de aqui;


• o emprego de esse, ao de aí;
• e o emprego de aquele, ao de ali.

Observe na tirinha abaixo o emprego do pronome “aquele”


20 equivalendo-se ao distanciamento entre o objeto referido e os
interlocutores:

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Copyright � 2000 Maurício de Sousa Produções Ltda. Todos os direitos reservados. 7723
Fonte: <http://www.monica.com.br/comics/tirinhas/welcome.htm>.

Em relação a essa primeira função, os demonstrativos também


indicam proximidade ou distanciamento temporal. Assim, usamos
este, esta, isto para representar o tempo presente; esse, essa,
isso para o passado recente ou para o futuro; aquele, aquela,
5 aquilo para o passado remoto. O grande problema é distinguir
o passado recente do remoto, pois duas pessoas podem ter
interpretações diferentes para a mesma frase.

Dica: quando o verbo estiver conjugado no pretérito


imperfeito do indicativo (dançava, comia, dormia), usa-se
10 aquele, aquela, aquilo; com o pretérito perfeito do indicativo
(dancei, comi, dormi), é uma questão de estilo: o que julgar que
é passado recente usará esse, essa, isso, e para o que julgar
passado distante usará aquele, aquela, aquilo.

Exemplos:

15 Essa noite dormi mal.

Essa noite vou sair.

Naquele tempo, os filhos das classes abastadas iam estudar


em Portugal.

2. A segunda função do demonstrativo é chamada textual


20 ou sintática. O pronome demonstrativo, na função sintática,
refere-se ao que já foi dito ou ao que ainda vai ser dito num
texto.

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• Este quando empregado sozinho, sem oposição, se refere


ao que ainda vai ser dito no texto:

O lema da Revolução Francesa é este: Liberdade, Igualdade


e Fraternidade.

5 • Esse é sempre empregado sozinho, sem oposição, e refere-


se sempre ao que já foi dito no texto:

Liberdade, Igualdade e Fraternidade – esse é o lema da


Revolução Francesa.

• Aquele é empregado unicamente em oposição a este e


10 sempre em referência ao que já foi dito no texto.

Pedro estuda e Maria se diverte. Aquele passará no vestibular,


mas esta ficará reprovada.

1º termo 2º termo este aquele

Fonte: <http://www.pucrs.br/manualred/pronomes.php>. Acesso em 13/02/2010.

Repare que nunca se deve dizer esse em oposição a


aquele.

Essas regras têm exceções: delas se excluem as formas


cristalizadas na língua e, portanto, inalteráveis, como: isto é
15 (nunca “isso é”), por isso (nunca “por isto”), posto isso (nunca
“posto isto” e, menos ainda, “isto posto”,) etc.

São considerados demonstrativos: o, a, os, as e tal. As


formas o, a, os, as são demonstrativos quando precedem
as formas que e de. A forma tal é considerada como
demonstrativo quando estiver substituindo as formas
esse(a), isso, aquele(a), aquilo.

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3.1.3 Pronomes possessivos

São aqueles que se referem às pessoas gramaticais e dão a


ideia de posse.

Pessoa do discurso Pronome possessivo


1ª pessoa singular Meu, minha, meus, minhas.
2ª pessoa singular Teu, tua, teus, tuas.
3ª pessoa singular Seu, sua, seus, suas.
1ª pessoa plural Nosso, nossa, nossos, nossas.
2ª pessoa plural Vosso, vossa, vossos, vossas.
3ª pessoa plural Seu, sua, suas, suas.

Existem casos em que os pronomes possessivos causam


ambiguidade. Veja o exemplo abaixo:

5 Ingrid encontrou Roberto e seu irmão na praça.

Dessa forma, não fica claro se o irmão é o de Ingrid ou de


Roberto. Para evitar essa situação, é recomendável usar dele (+
variações).

Ingrid encontrou Roberto e o irmão dela na praça.

10 Me, te, nos, vos, lhe, lhes podem representar, em certas


ocasiões, ideia de posse.

Exemplos:

Roubaram-me o carro. (Roubaram o meu carro)


Cortaram-te as roupas. (Cortaram as tuas roupas)

15 Os pronomes possessivos podem aparecer indicando:

• ideia de aproximação;

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Exemplo

O gerente deve ter seus cem ou duzentos mil reais


guardados.

• ideia de afeto, cortesia.

Meu senhor, sente-se aqui, por favor!

Cuidado, meu amor!

3.2 Uso dos tempos verbais do pretérito:


imperfeito, perfeito e mais que perfeito

O pretérito imperfeito é empregado:

a. para expressar um fato passado não concluído;

A testemunha reconhecia o réu, mas não pode denunciá-lo.

b. para indicar um fato habitual;

Ele estudava de duas a quatro horas por dia.

Nós escrevíamos apenas o necessário.

5 c. com valor de outros tempos:

• presente do indicativo (atenuação de pedidos).

Eu queria um livro de receitas.

Eu desejava saber se esse carro está à venda.

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O pretérito perfeito é empregado:

a. para indicar um fato passado concluído.

Ele jogou uma ótima partida.

Acordei cedo e fui ao mercado.

Renata comeu todo o bolo de chocolate.

O pretérito mais que perfeito é empregado:

a. para expressar um fato passado anterior a outro


acontecimento passado;

Ele finalmente comprou o carro, o mesmo que desejara


durante tempos.

5 b. em orações optativas (que expressem desejo).

Pudera eu conseguir atingir minhas metas.

3.3 Concordância nominal

Cometer erros de concordância ao conversar com os outros


está se tornando cada vez mais comum.

Fonte: <http://www.cbpf.br/~eduhq/html/tirinhas/tirinhas_assunto/
portugues/portugues.php?pageNum_Recordset1Portugues=10&totalRows_
Recordset1Portugues=49>. Acesso em 13/02/2010.

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Entretanto, é preciso ter muito cuidado ao redigir textos


formais, pois esse tipo de erro gera má impressão no leitor mais
exigente.

Selecionamos, a seguir, alguns casos para estudar neste tópico.

5 As expressões “é bom”, “é necessário”, “é proibido”

As expressões formadas com o verbo ser mais um adjetivo


não variam. Entretanto, se o sujeito vier antecedido de artigo
(ou palavra equivalente), a concordância será obrigatória.

Veja:

A sopa é boa. Sopa é bom.


A cerveja é boa. Cerveja é bom.

10 Quando se generaliza, quando não se determina, não se faz


a concordância, usa-se o masculino com valor genérico, com
valor neutro. Portanto:

Sopa é bom. / É bom sopa.


Cerveja é bom. / É bom cerveja.
Entrada é proibido. / É proibido entrada.
Entrada não é permitido. / Não é permitido entrada.

Se não existe um artigo ou uma preposição antes de


“entrada”, se não há nenhum determinante, o particípio passado
15 dos verbos “proibir” e “permitir” deve ficar no masculino. Mas,
se houver algum determinante, o verbo deve, então, concordar
com a palavra “entrada”. Veja as formas corretas:

É proibido entrada

Fonte: <http://www.seton.com.br/aanew/produtos/imgm/C1857.jpg>.

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Não é permitido entrada. Não é permitida a entrada.

Anexo – Incluso – Obrigado(a) – Próprio(a) – Mesmo(a)

São palavras adjetivas; devem, portanto, concordar com o


nome ao qual se referem.

Na tirinha abaixo, o pronome “mesmas” concorda com o


5 termo “pessoas”. Esse é o nome a que se refere aquele. Portanto,
se “pessoas” é palavra feminina e está no plural, o pronome
também deverá estar no feminino e pluralizado.

Fonte: <http://www.turmadoedi.com.br/tirinhas/index.php>. Acesso em


13/02/2010.

Observe outros exemplos:

Seguem anexos os acórdãos.

10 A procuração está apensa aos autos.

Os documentos estão inclusos no processo.

Obrigado, disse o rapaz.

Obrigada, respondeu a menina.

Elas próprias resolveram os exercícios.

15 Eles próprios resolveram a questão.

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Observação:

A expressão em anexo é invariável.

Exemplo:

Em anexo segue a procuração

Em anexo segue o despacho.

Meio

Essa palavra pode ser numeral ou advérbio.

5 • Quando for numeral, é variável e concorda com a palavra


a qual se refere.

Tomou meia garrafa de champanhe. (numeral)

Isso pesa meio quilo. (numeral)

• Se for advérbio, é invariável.

A porta estava meio aberta.

Ele anda meio cabisbaixo.

• Quando tem o significado de sozinho(s) ou sozinha(s) essa


10 palavra vai para o plural.

Joana ficou só em casa. (sozinha)

Lúcia e Lívia ficaram sós. (sozinhas)

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• Ela é invariável quando significa apenas/somente.

Depois da guerra só restaram cinzas. (apenas)

Eles queriam ficar só na sala. (apenas)

Observação:

A locução adverbial a sós é invariável.

3.4 Concordância verbal

Observe este trecho da letra de “Música Urbana”, do grupo


5 Capital Inicial. Nela há um verbo que nem sempre é flexionado
corretamente:

Tudo errado, mas tudo bem.


Tudo quase sempre como
eu sempre quis.
Sai da minha frente, que
agora eu quero ver.

Não me importam
os seus atos
eu não sou mais
um desesperado.
Se eu ando por
ruas quase escuras
as ruas passam

Trata-se do verbo importar. O compositor fez a concordância


corretamente: “não me importam os seus atos”. Os atos não têm
importância, portanto eles não importam. Basta fazer concordar
10 verbo e sujeito: atos está no plural, então o verbo também
deve ficar no plural.

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3.4.1 Verbo com sujeito simples

O verbo concorda em número e pessoa, não interessando a


posição.

Ex.: Ele chegou tarde.


Nós voltaremos logo.
5 Chegaram os alunos.

3.4.2 Sujeito composto antes do verbo

a. O verbo vai para o plural.

Exemplo:

Recife e Jaboatão dos Guararapes são as principais cidades


do litoral pernambucano.

b. O verbo poderá ficar no singular:

• se os núcleos do sujeito forem sinônimos;

A decência e honestidade é coisa rara nos dias atuais.

• quando os núcleos formam uma gradação;

A angústia, a solidão, a falta de companhia levou-o ao


vício da bebida.

10 • quando os núcleos aparecem resumidos por tudo, nada,


ninguém.

Diretores, gerentes, supervisores, ninguém faltou.

A ameaça, o terrorismo, a agressão, nada o assustava.

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3.4.3 Sujeito composto depois do verbo

a. O verbo vai para o plural.

Chegaram ao estádio os jogadores e o técnico.

Cambaleavam na rua Do Carmo e Dirceu.

b. O verbo concorda com o núcleo mais próximo.

Chegou ao estádio o técnico e os jogadores.

3.4.4 Sujeito composto de pessoas diferentes

a. Quando aparece a 1ª pessoa do singular, o verbo vai para


o plural.

Jorge e eu jogaremos amanhã.

O professor e eu fotografamos vários tipos de pássaros.

5 b. Se o sujeito for formado de segunda e terceira pessoas do


singular, o verbo pode ir para a 2ª ou 3ª pessoa do plural.

Tu e ele ficareis atentos.

Tu e tua esposa viajarão cedo.

3.4.5 Núcleos do sujeito ligados por ‘ou’

a. Se houver ideia de exclusão ou retificação, o verbo fica


no singular ou concordará com o núcleo do sujeito mais
próximo.

Paulo ou George será o novo gerente.

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O marginal ou os marginais não deixaram nenhuma pista


para os policiais.

b. Se não houver ideia de exclusão, o verbo vai para o


plural.

A bebida ou o fumo são prejudiciais à saúde.

3.4.6 Núcleos do sujeito ligados por ‘com’

5 O verbo irá para o plural, mas admite-se o singular quando


se quer destacar o primeiro núcleo do sujeito.

Exemplos:

O marceneiro com o pintor terminaram o serviço


combinado.
10 O marceneiro com o pintor terminou o serviço combinado.

3.4.7 Sujeito coletivo

Quando o sujeito é um coletivo, o verbo concorda com ele.

Exemplos:

A multidão aplaudiu o discurso do diretor.


As boiadas seguiam seu caminho pelo pantanal.

15 Observação: se o coletivo vier especificado, o verbo pode


ficar no singular ou no plural.

Exemplos:

A equipe de cinegrafistas acompanhou o protesto dos


professores pelas ruas do Recife.

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A equipe de cinegrafistas acompanharam o protesto dos


professores pelas ruas do Recife.

3.4.8 Sujeito é substantivo usado somente no plural

Quando o sujeito é um substantivo usado somente no plural,


há duas possibilidades:

5 a. se o substantivo não vier precedido de artigo, fica no


singular;

Estados Unidos é a maior potência econômica do mundo.

b. se o substantivo for precedido de artigo, o verbo vai para


o plural.

As Minas Gerais possuem grandes paisagens naturais.

3.4.9 Sujeito é um pronome de tratamento

Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o verbo vai


10 para a 3ª pessoa.

Ex.: Vossa Excelência agiu corretamente.


Vossas Excelências votaram a nova lei.

3.4.10 Sujeitos são os pronomes relativos ‘que’ e ‘quem’

a. Se o sujeito for o pronome relativo que, o verbo concordará


em número e pessoa com o antecedente do pronome.

15 Ex.: Fui eu que liguei o rádio.


Fomos nós que consertamos a TV.

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b. Se o sujeito for o pronome quem, o verbo fica na 3ª


pessoa do singular.

Ex.: Não sou eu quem faz o jantar.


Fui eu quem pagou o jantar.

5 Observação: Popularmente, é comum o verbo concordar


com o antecedente do pronome quem.

Ex.: Não sou eu quem faço o jantar.

3.4.11 O sujeito é uma oração

Quando o sujeito for representado por uma oração, o verbo


fica na 3ª pessoa do singular.

10 Ex.: Ainda falta comprar vários livros.


Não adianta vocês ficarem parados na fila.

3.4.12 Os núcleos do sujeito são infinitivos

O verbo vai para o plural se os infinitivos forem determinados


por artigos. Caso os infinitivos não aparecerem determinados, o
verbo poderá ficar no singular.

15 Ex: Correr e caminhar é um ótimo exercício.


O cantar e o dançar divertem qualquer pessoa.

3.4.13 Verbo com a partícula apassivadora ‘se’

O verbo normalmente concorda com o sujeito.

Ex: Vende-se uma geladeira.


Vendem-se carros.

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3.4.14 Verbo com índice de indeterminação do sujeito

O verbo fica na 3ª pessoa do singular e a partícula se está


ligada a um verbo transitivo indireto ou intransitivo.

Ex.: Precisa-se de pedreiros.


Trabalha-se muito em Brasília.

3.4.15 Sujeito formado por expressões

5 Um ou outro

O verbo concorda no singular com o sujeito.

Ex.: Um ou outro jogador merecia críticas.


Um ou outro levava a irmã ao colégio.

Um e outro, nem um nem outro, nem (...) nem (...)

10 O verbo concorda preferencialmente no plural.

Ex.: Um e outro permaneciam aguardando a chamada.


Nem um nem outro quiseram tomar banho.

Um dos que, uma das que

O verbo vai, de preferência, para o plural.

15 Ex.: Antônio é um dos que mais estudam matemática.

Mais de, menos de

O verbo concorda com o numeral a que se refere.

Ex.: Mais de um aluno apresentou a pesquisa de campo.


Mais de cem menores fugiram do presídio.

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GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

A maior parte de, grande número de

Com essas expressões seguidas de substantivos ou pronomes


no plural, o verbo pode ir para o singular ou para o plural.

Ex.: Grande número de empresários se revoltou contra o


5 governo.
A maioria das pessoas protestaram contra o aumento da
energia elétrica.

Quais de vós, quantos de nós, alguns de nós

O verbo concordará com os pronomes nós ou vós ou


10 concordará na 3ª pessoa do plural.

Ex.: Alguns de nós chegaram hoje.


Muitos de nós não conhecemos as leis.

Observação: Se o pronome indefinido ou interrogativo estiver


no singular, o verbo ficará na 3ª pessoa do singular.

15 Ex.: Nenhuma de nós ouviu a notícia.

3.4.16 Haja vista

Podem ocorrer as seguintes concordâncias:

• a expressão fica invariável;

Ex.: Haja vista aos livros da escola. (atente-se)


Haja vista os livros da escola. (por exemplo)

• a expressão vai para o plural.

Ex.: Hajam vistas as melhorias da escola. (vejam-se)

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3.4.17 Concordância dos verbos: dar, soar, bater

Esses verbos concordam regularmente com o sujeito, a não


ser que sejam usadas outras palavras como sujeito.

Ex.: Batiam cinco horas quando o alarme tocou.


Deu quatro horas e ninguém foi visto.
5 O relógio bateu cinco horas.

3.4.18 Concordância dos verbos impessoais

Ficam na 3ª pessoa do singular, pois não possuem sujeito.

Ex.: Havia cinco anos que moravam em Portugal.


Chovia muito naquela noite.
Faz dois meses que recebemos a carta.

10 Observação

• Quando acompanhado de verbo auxiliar, esse fica


invariável na 3ª pessoa do singular.

Ex.: Devia haver cinco anos que não falávamos com Rita.

• Verbos que exprimem fenômenos da natureza usados em


15 sentido figurado deixam de ser impessoais.

Ex.: Choviam lágrimas de seus olhos.

• Popularmente, é comum usar o verbo ter como impessoal


no lugar de haver ou existir.

Tem cinco anos que moravam em Portugal.

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GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

3.4.19 Concordância do verbo ser

O verbo ser ora concorda com o sujeito ora concorda com o


predicativo.

• Quando o sujeito for um dos pronomes que ou quem, o


verbo ser concordará obrigatoriamente com o predicativo.

5 Ex.: Que são homônimos?


Quem foram os vencedores do campeonato?

• O verbo ser concordará com o numeral na indicação de


tempo, dias, distância.

Ex.: É uma hora da madrugada.


10 São dezenove horas em ponto.

• Quando o sujeito for os pronomes tudo, o, isso, aquilo,


isto, o verbo ser concorda, preferencialmente, com o
predicativo, mas poderá concordar com o sujeito.

Ex.: Tudo são flores no início da relação.


15 Isto são fenômenos da natureza.

• Quando aparece nas expressões “é muito, é pouco, é


bastante”, o verbo ser fica no singular quando indicar
quantidade, distância, medida.

Ex.: Quatro reais é pouco para irmos ao cinema.


20 Seis quilos de feijão é mais do que pedi.

3.4.20 Concordância do verbo parecer

O verbo parecer antes de infinitivos admite duas


concordâncias:

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• o verbo parecer se flexiona e o infinitivo não varia;

Ex.: As paredes do prédio pareciam estremecer.

• não varia o verbo parecer e o infinitivo é flexionado;

Ex.: Os alunos parecia concordarem com o diretor da escola.

• o verbo parecer concordará no singular, usando-se oração


5 desenvolvida.

Ex.: As paredes parece que estão estremecidas.

3.5 Constituintes da frase

Você já deve ter estudado a estrutura da frase em suas


aulas de gramática. A análise sintática é a parte da gramática
que se ocupa da estrutura da frase, procurando demonstrar
10 como as palavras se organizam a fim de formarem enunciados
portadores de sentido. Nossa intenção, aqui, não é a de retomar
o estudo da análise sintática com a terminologia específica
(sujeito, predicado, objeto direto etc), embora entendamos que
esse estudo seja fundamental para o conhecimento da estrutura
15 da frase.

Neste item, procuraremos mostrar como a estruturação de


uma frase pode contribuir (ou não) para a clareza e precisão do
texto.

3.5.1 Colocação ou ordem dos termos na oração

Uma das maiores dificuldades do aluno é estruturar


20 adequadamente seu texto. As ideias até surgem, às vezes,
com facilidade, porém a “montagem” das frases é complicada.
Muitos têm completa aversão à produção escrita exatamente
por isso. Entretanto, o problema não está na “redação”, e sim na

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GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

estruturação das orações. De acordo com muitos professores de


língua portuguesa, no texto escrito,

os defeitos mais graves decorrem menos dos deslizes


gramaticais que das falhas de estruturação da frase, da
incoerência das ideias, da falta de unidade, da ausência
de realce. Quando alguém aprende a concatenar ideias,
a estabelecer suas relações de dependência, expondo seu
pensamento de modo claro, coerente e objetivo, o texto
flui.

Vamos recordar os conceitos de frase, oração e período:

Frase - todo enunciado de sentido completo, capaz de


estabelecer comunicação. Podem ser nominais ou verbais.

Oração - enunciado que se estrutura em torno de um


verbo ou locução verbal.

Período - constitui-se de uma ou mais orações. Podem


ser simples ou compostos.

Observe que, embora possam existir frases sem verbo (frase


5 nominal), a frase sintaticamente estruturada é aquela que
apresenta verbo, em torno do qual se agrupam outros termos:
o sujeito que com ele estará concordando, os complementos
do verbo, termos que acrescentam informações acessórias
etc.

10 Há frases simples (aquelas formadas por uma única oração)


e frases complexas (aquelas formadas por várias orações). Nas
frases simples, costumamos dispor os termos na seguinte ordem:
sujeito – verbo – complemento do verbo – adjuntos adverbiais. É
a chamada ordem direta.

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Unidade III

Veja um exemplo no primeiro balão da tirinha abaixo:

Fonte: <http://fotolog.terra.com.br/tirinhasdogio:273>. Acesso em 13/02/2010.

Embora a ordem direta seja natural, nada impede que se


altere a disposição dos elementos na frase. Quando isso ocorre,
temos a ordem inversa.

5 Observe como a disposição dos elementos da frase do


exemplo anterior pode ser alterada:

O único bicho inteligente do mundo é o ser humano.

Mas, se a ordem natural dos elementos da frase é a ordem


direta, por que razão empregaríamos a ordem inversa?

A resposta é bem simples: por uma questão de estilo.

10 Essa inversão na disposição dos elementos constituintes da


frase marca a ênfase que se quer dar a um determinado elemento,
pois tal ênfase costuma recair no termo que aparece no início da
frase. A tal inversão dá-se o nome de “topicalização”.

Usa-se o termo topicalização para indicar o


deslocamento de um sintagma de sua posição normal
na frase para o início dela – o que geralmente se dá por
razões de natureza discursivo-textuais. O fato é comum na
língua oral, como quando, por exemplo, um falante diz:
“Seu filho mais velho eu vi hoje na praia. Estava muito bem
acompanhado. De bobo ele não tem nada”.

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GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Observe como funciona:

• O governo Lula e o presidente em pessoa tiveram na


quinta–feira o seu melhor momento desde a reeleição.
(O Estado de São Paulo, 17 de mar. 2007. A3)

• Tiveram, na quinta-feira, o seu melhor momento desde a


5 reeleição o governo Lula e o presidente em pessoa.
• O seu melhor momento desde a reeleição o governo Lula
e o presidente em pessoa tiveram na quinta-feira.

Essas três frases trazem a mesma informação. No entanto,


dependendo da ordem em que se dispõem os termos, damos
10 maior relevância a um em relação a outro.

No primeiro exemplo, a utilização da ordem direta confere


maior relevância ao sujeito “o governo Lula e o presidente em
pessoa”. No segundo, a ênfase recai na ação expressa pelo verbo.
No terceiro, a antecipação do objeto direto para o início da frase
15 confere destaque a esse elemento.

A opção por uma construção na voz passiva ou na ativa


está também relacionada ao destaque que se quer dar a algum
elemento da frase: o agente, o paciente ou a própria ação verbal.
Veja:

20 a. Provinha já é adotada por 4 Estados. (O Estado de São


Paulo, 17 de mar. 2007. A24)
b. Quatro Estados já adotam Provinha.

No primeiro exemplo, a construção na voz passiva dá maior


relevância ao objeto da adoção (a Provinha que foi adotada),
25 que na frase funciona como sujeito.

Já no segundo exemplo, a construção na voz ativa dá maior


relevância aos agentes da adoção (os quatro Estados, aqueles
que adotaram), que na frase funciona como sujeito.

77
Unidade III

Quando se opta pela voz passiva sintética (verbo transitivo


mais o pronome apassivador se), a ênfase recai sobre a própria
ação verbal. Observe:

Consertam-se sapatos.
5 Aluga-se casa na praia.
Vendem-se apartamentos.

3.6 Estudo crítico da metodologia de ensino-


aprendizagem da gramática normativa em
sala de aula

Fonte: <http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_01_01_archive.html>.

É possível ensinar gramática?


É desejável ensinar gramática?
Por que ensinar gramática?
10 Que gramática ensinar?

Mais do que responder a essas questões - e, certamente,


a tantas outras que insistem em “povoar” o pensamento de
alunos e professores de língua materna -, este item destina-se a
provocar reflexões acerca do ensino-aprendizagem da gramática
15 em nossas escolas.

Inicialmente, precisamos apresentar alguns aspectos centrais


que darão base às reflexões propostas neste item.

Desenvolver a competência comunicativa – oral e escrita -


do aluno a fim de que ele seja capaz de usar cada vez com mais
20 habilidade os recursos da língua para comunicar-se, produzir

78
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

efeitos de sentido numa determinada situação de interação


comunicativa é o grande objetivo a ser atingido nas aulas de
língua portuguesa.

Tradicionalmente, no entanto, o ensino de língua portuguesa


5 tomava a oração e o período como unidades fundamentais para
seu estudo e pretendia ensinar o aluno a ler e a escrever por
meio do ensino sistemático da gramática e das estruturas da
língua escrita.

Atualmente, como resposta a estudos desenvolvidos


10 especialmente a partir da década de 1980, sabe-se que o texto
é a unidade básica do ensino da língua portuguesa. Assim, no
que diz respeito à gramática, é a língua em funcionamento
que deve ser objeto de análise nas aulas de língua materna,
isto é, o estudo gramatical não pode estar desligado e distante
15 de sua aplicação prática, hábito que, durante muito tempo,
artificializou sobremaneira o ensino da gramática em todos os
níveis de escolaridade.
Os Parâmetros Curriculares
Veja o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais de Nacionais (PCNs) são documentos
lançados pelo MEC no final dos anos
Língua Portuguesa a respeito dessa prática pedagógica. 90, elaborados por educadores de
todas as áreas do conhecimento, com a
intenção de apoiar e ampliar discussões
Reflexão gramatical na prática pedagógica de caráter pedagógico, visando a uma
transformação positiva no sistema
Na perspectiva de uma didática voltada para a produção educativo brasileiro. Consulte o site
http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/
e interpretação de textos, a atividade metalinguística deve
pdf/portugues.pdf.
ser instrumento de apoio para a discussão dos aspectos
da língua que o professor seleciona e ordena no curso do
ensino-aprendizagem.

Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical


desarticulado das práticas de linguagem. É o caso, por
exemplo, do tipo que só serve para ir bem na prova e passar
de ano – uma prática pedagógica que vai da metalíngua
para a língua por meio de exemplificação, exercícios de

79
Unidade III

reconhecimento e memorização de terminologia. Em


função disso, discute-se de há ou não necessidade de
ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão
verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.

Deve-se ter claro na seleção dos conteúdos de análise


linguística que a referência não pode ser a gramática
tradicional. A preocupação não é reconstruir com os alunos
o quadro descritivo constante dos manuais de gramática
escolar (por exemplo, o estudo ordenado das classes de
palavras com suas múltiplas subdivisões, a construção de
paradigmas morfológicos, como as conjugações verbais
estudadas de um fôlego em todas as suas formas temporais
e modais, ou de pontos de gramática, como todas as regras
de concordância, com suas exceções reconhecidas).

O que deve ser ensinado não responde às imposições


de organização clássica de conteúdos na gramática escolar,
mas aos aspectos que precisam ser tematizados em função
das necessidades apresentadas pelos alunos nas atividades
de produção, leitura e escuta de textos.

O modo de ensinar, por sua vez, não reproduz a clássica


metodologia de definição, classificação e exercitação, mas
corresponde a uma prática que parte da reflexão produzida
pelos alunos mediante a utilização de uma terminologia
simples e se aproxima, progressivamente, pela mediação
do professor, do conhecimento gramatical produzido.
Isso implica, muitas vezes, chegar a resultados diferentes
daqueles obtidos pela gramática tradicional, cuja descrição,
em muitos aspectos, não corresponde aos usos atuais da
linguagem, o que coloca a necessidade de busca de apoio
em outros materiais e fontes.

Luft (1995) reconhece: “Pode-se conhecer muita regra,


saber a língua mais culta, formalizada, e não ser um artista

80
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

da língua, não conseguir surpreender, iluminar, divertir,


comover...”.

Esse comentário nos lembra que é apenas na situação de


trabalho com o texto, seja em seu processo de produção ou
5 leitura, que o aluno utiliza o conhecimento gramatical adquirido
para garantir um texto claro, coeso, que cumpre sua finalidade
na medida em que assegura sua adequação e correção.

Desse modo, há de se concordar que decorar regras e


definição de conceitos gramaticais - por exemplo, saber repetir
10 que “verbos são palavras que indicam ação, estado ou fenômeno
da natureza” –, definitivamente, não assegura que o sujeito seja
capaz de escrever um bom texto.

Pois então... aprender gramática não se resume a decorar


regras arbitrárias e submeter-se a elas. Aprender gramática é
15 agir sobre a língua para, gradativamente, construir sua teia de
relações.

Veja o que diz Possenti (1997) a respeito de se ensinar ou


não a língua padrão na escola:

Talvez deva repetir que adoto sem qualquer dúvida o


princípio (quase evidente) de que o objetivo da escola é
ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatamente, o de
criar condições para que ele seja aprendido. Qualquer outra
hipótese é um equívoco político e pedagógico. A tese de que
não se deve ensinar ou exigir o domínio do dialeto padrão dos
alunos que conhecem e usam dialetos não padrões baseia-se

81
Unidade III

em parte no preconceito segundo o qual seria difícil


aprender o padrão. Isto é falso, tanto do ponto de vista da
capacidade dos falantes quanto do grau de complexidade
de um dialeto padrão.

[...] o problema do ensino padrão se põe de forma grave


quando se trata do ensino do padrão a quem não o fala
usualmente, isto é, a questão é particularmente grave em
especial para alunos das classes populares, por mais que
também haja alguns problemas decorrentes das diferenças
entre fala e escrita, qualquer que seja o dialeto (mas, insisto
sobre a hipótese de que, provavelmente, tais problemas
sejam mais de tipo textual do que de tipo gramatical).

Luft (1995) acrescenta: “Aula de língua deve partir do texto


para ensinar linguagem e não para ensinar gramática. Não sou
melhor conhecedor da língua porque sei gramática e sim porque
sei usar a gramática que já conheço”.

5 O ensino da gramática, assim, deve privilegiar a análise e a


reflexão sobre a língua. Deve, do mesmo modo, ser um espaço
em que essa prática se revele como um elemento que contribui,
sobremaneira, para formar alunos usuários competentes de sua
língua, verdadeiros “senhores” de sua atividade linguística.

10 Certamente, o aluno que fala, lê e escreve com competência


será bem mais que um sujeito bem informado; será um cidadão
crítico, consciente, capaz de expressar o que sabe, o que pensa e
o que sente. E a todos deve ser reservado esse direito.

Para encerrar – ao menos por ora - nossas reflexões, deixamos


15 aqui as palavras do mestre Paulo Freire:

Sou professor a favor da boniteza de minha prática,


boniteza que dela some se não cuido do saber que
devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto

82
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA

pelas condições materiais necessárias sem as quais


meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar
e de já não ser testemunho que deve ser do lutador
pertinaz, que cansa, mas não desiste.

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83
Unidade III

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e redação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006.

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84

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