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Unidade II

LITERATURA BRASILEIRA:
POESIA

Profa. Lígia R. M. C. Menna


Literatura dessacralizadora

Consonâncias e dissonâncias:
o ritmo do Modernismo:
 Oswald de Andrade (1890-1954).
 Mário de Andrade (1893-1945).
 Manuel Bandeira (1886
(1886-1968).
1968)
 Raul Bopp (1898-1984):
 “Cobra Norato”.
Oswald de Andrade

 Retrato de Oswald de Andrade, pintado


por Tarsila do Amaral (1923)
Oswald de Andrade

 José Oswald de Sousa de Andrade


Nogueira (1890/1954) era de
família abastada.
 Ingressou na Faculdade de Direito
do Largo São Francisco (São Paulo)
em 1909.
 Ao lado de Anita Malfatti, de Mário de
Andrade e de outros intelectuais,
organizou a Semana de Arte
Moderna de 22.
Oswald de Andrade

 Oswald escreveu o “Manifesto


Antropofágico”, em que propôs que
o Brasil devorasse a cultura estrangeira
e criasse uma cultura revolucionária
própria. Mais tarde, participou
também do “Manifesto
Manifesto Pau Brasil”.
Brasil”
 Assim fariam Mário de Andrade em
“Macunaíma” (1928) e Raul Bopp
em “Cobra Norato” (1931).
“Manifesto Antropófago”
“Manifesto Antropófago”

“Só a Antropofagia nos une. Socialmente.


Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada
de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De
todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe
dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu
meu. Lei do
homem. Lei do antropófago.”
“Canto de regresso à pátria”

“Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Mi h terra
Minha t tem
t mais
i ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Nã permita
Não it D Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.”

(Oswald de Andrade)
“Pronominais”

“Dê
“Dê-me um cigarro
i
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados”
(Oswald de Andrade)
Mário de Andrade

 Mário de Andrade, por Renato de


Carvalho (1939)
Mário de Andrade

 Mário Raul de Morais Andrade (1893-


1945), além de participar da Semana de
Arte Moderna, foi poeta, romancista,
músico e crítico literário.
 Grande pesquisador e folclorista.
Produziu estudos literários, culturais e
coletâneas.
Mário de Andrade

 Foi diretor do Departamento de Cultura


de São Paulo, professor de Filosofia e
História da Arte, trabalhando também no
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
 “Macunaíma, o herói sem nenhum
caráter” (1928).
 “Lira Paulistana” (1945).
“Ode ao burguês”

“Eu insulto o burguês! O burguês-níquel


o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro,
italiano,
italiano
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!


Os barões lampiões! Os condes Joões! Os
duques zurros!
u os
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam
o francês e tocam os ‘Printemps’ com as
unhas!”
“A Serra do Rola-Moça”

“A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...

Eles eram do outro lado,


Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
serra
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo. [...]”
“A Serra do Rola-Moça”

“Ali, Fortuna inviolável!


O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
morte
Na altura tudo era paz ...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.

E a Serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.”
Interatividade

No “Manifesto Antropofágico” ou
“Antropófago”, Oswald de Andrade
propôs que:
a) Os artistas renegassem a cultura europeia
e criassem uma arte nacional nos
moldes portugueses.
portugueses
b) Os artistas retomassem a tradição
parnasiana então perdida.
c) Os artistas brasileiros devorassem a
cultura estrangeira e criassem
uma cultura revolucionária própria.
d) Os novos poetas estudassem mais a cultura
nacional e não lessem obras estrangeiras.
e) A cultura nacional não precisava
de qualquer inovação.
Manuel Bandeira

(www.vidaslusofonas.pt)
Manuel Bandeira

 Manuel Carneiro de Sousa Bandeira


Filho (1886/1968) foi poeta, crítico
literário e de arte, professor de literatura
e tradutor brasileiro.
 O poema “Os Sapos”, de Bandeira, é o
abre-alas da Semana de Arte Moderna de
1922. Juntamente com escritores
como João Cabral de Melo Neto, Paulo
Freire, Gilberto Freyre, Nélson
Rodrigues, Carlos Pena Filho e Osman
Lins entre outros
Lins, outros, representa a produção
literária do estado de Pernambuco.
Manuel Bandeira

 Estilo simples e direto.


 É considerado o mais lírico dos poetas.
Aborda temáticas cotidianas e
universais, às vezes com uma
abordagem de “poema-piada”, lidando
com formas e inspiração que a tradição
acadêmica considera vulgares.
Manuel Bandeira

 Apresenta também temas cotidianos, de


formas colhidas nas tradições clássicas
e medievais.
 Temáticas: reminiscências da infância,
solidão, ironia na autoapresentação,
doença e morte.
“Os sapos”

“Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,


aterra
Berra o sapo-boi:
— ‘Meu pai foi à guerra!’
— ‘Não foi!’ — ‘Foi!’ — ‘Não foi!’.

O sapo-tanoeiro,
sapo ta oe o,
Parnasiano aguado,
Diz: — ‘Meu cancioneiro
É bem martelado.
“Os sapos”

Vede como primo


Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom


Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . .’
Urra o sapo-boi:
— ‘Meu pai foi rei’ — ‘Foi!’
— ‘Não foi!’ — ‘Foi!’ — ‘Não foi!’ ”
Revolução literária

 Novas ideias e novas temáticas.


 Fuga das fórmulas e dos preconceitos
estabelecidos.
 Ruptura do tradicional.
 Destruição do espírito conservador
conservador.
 Atualização de uma consciência criadora.
“Vou-me embora pra Pasárgada”

“Vou-me embora pra Pasárgada


Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada


Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive [...]”
“Poética”

“Estou farto do lirismo comedido


Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro
de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço
ao Sr.
Sr diretor
diretor.
Estou farto do lirismo que pára e
vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas
odas as pa
palavras
a as sobretudo
sob etudo os
barbarismos universais
Todas as construções sobretudo
as sintaxes de exceção.”
“Poética”

“Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis


Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer
que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
[...]
— Não quero mais saber do lirismo que não
é libertação.”
“Pneumotórax”

“Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.


A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
três
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar
um tango argentino.”
Raul Bopp

 Raul Bopp (1898-1984) foi poeta,


jornalista e diplomata. Participou da
Semana de Arte Moderna.
 Fez parte do movimento antropofágico e
do movimento Pau Brasil.
 Circulou pelos meios culturais. Também
foi amigo de Carlos Drummond de
Andrade.
Lenda: Cobra Grande-Boitatá

http://www.brasilescola.com/folclore/boitata.htm
“Cobra Norato”

I
“Um dia
eu hei de morar nas terras do Sem-fim
Vou andando caminhando caminhando
Me misturo no ventre do mato mordendo
raízes
Depois
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
e mando chamar a Cobra Norato
[...]”
“Cobra Norato”

“Brinco então de amarrar uma fita no pescoço


e estrangulo a Cobra.

Agora sim
me enfio nessa pele de seda elástica
e saio a correr mundo

Vou visitar a rainha Luzia


Quero me casar com sua filha
— Então você tem que apagar os olhos
primeiro
O sono escorregou nas pálpebras pesadas.”
Interatividade

Manuel Bandeira ficou conhecido por sua


revolução literária. Assinale a alternativa
que não pode ser encontrada na obra desse
grande poeta:
a) Rompeu com a tradição e o espírito
conservador.
b) Apresentou temas cotidianos, de formas
colhidas nas tradições clássicas e
medievais.
c)) Propôs
p novas ideias e temáticas.
d) Sua linguagem hermética não permitiu
que atualizasse sua consciência criadora.
e) Fugiu de fórmulas e preconceitos
estabelecidos.
Poesia novecentista e sua relação
com o sagrado

 Augusto dos Anjos: um místico com


Deus.
 Jorge de Lima: terra sagrada, religião na
poesia.
 Adélia Prado: p
poesia materno-teologal.
g
Augusto dos Anjos

 Augusto de Carvalho Rodrigues dos


Anjos (1884-1914). Poeta e professor
paraibano, formou-se em Direito no
Recife, onde também lecionou. Morou no
Rio de Janeiro e faleceu em Minas
Gerais.
Gerais
 “Eu”, único livro publicado em 1912.
 Foi um poeta humanitário, influenciado
pelas ciências de sua época, de forma
relativa.
 Aproximou-se do decadentismo-
simbolista e da modernidade.
“Amor e crença”

“Sabes que é Deus? Esse infinito e santo


Ser que preside e rege os outros seres,
Que os encantos e a força dos poderes
Reúne tudo em si, num só encanto?

Esse mistério eterno e sacrossanto,,


Essa sublime adoração do crente,
Esse manto de amor doce e clemente
Que lava as dores e que enxuga o pranto?

Ah! Se queres saber a sua grandeza


Estende o teu olhar à Natureza,
Natureza
Fita a cúpula do Céu santa e infinita!

Deus é o Templo do Bem. Na altura Imensa,


O amor é a hóstia que bendiz a Crença,
Ama, pois, crê em Deus e... sê bendita!”
“Psicologia de um vencido”

“Eu, filho do carbono e do amoníaco,


Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
p ,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —


Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,


E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!”
“Versos íntimos”

“Vês! Ninguém assistiu ao formidável


Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama q que te espera!


p
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo,
beijo amigo,
amigo é a véspera do escarro,
escarro
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,


Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
Jorge de Lima

 Jorge Mateus de Lima (1893/1953), poeta


alagoano:foi médico, romancista,
biógrafo, ensaísta, tradutor,
político e pintor.
 Seus textos possibilitam muitas leituras
(a convivência entre a tradição
e o novo, o vulgar e o sublime,
o regional e o universal).
Jorge de Lima

 Artista em constante mutação.


Experimentou estilos diversos como
o parnasiano, o regional, o barroco e
o religioso.
 Versos alexandrinos x formas mais
livres e modernistas.
 Em seus poemas religiosos, revela
o estado decaído deste mundo
e a urgência de sua regeneração
por intervenção divina.
“Louvado seja N. S. Jesus Cristo”

“Louvado seja N. S. Jesus Cristo


E a mãe dele – Nossa Senhora, minha
madrinha.
Louvado seja o que é d’Ele e d’Ele vem:
ritos, amitos, benditos, são beneditos!

Louvadas sejam suas palavras tão bonitas:


Gloria Patri, Aleluia, Salve Rainha
e também suas palavras misteriosas:
per omnia secula, vita eterna, amen.

Louvado seja este louvado em nome d d’Ele


Ele
E mais louvado que este ‘louvado’ – Jesus
Cristo
mais a mãe d’Ele – Nossa Senhora,
minha madrinha.”
“O filho pródigo”

“Nas engrenagens das fábricas


bolem como vermes – dedos decepados de
operários.
Há vaivéns do correame das oficinas.
A cor e a alegria das moças empregadas
dissolvem-se na algazarra
g monótona dos
teares.
O avião comeu a saudade das mães
que a distância separou dos filhos
vagabundos.
Há máquinas que cegam os adolescentes
ansiosos de ver o progresso do mundo.
mundo
Um homem teve medo de enlouquecer
perseguido pela força e pelo orgulho
das máquinas assassinas. [...]”
Clima de ruptura

 Sentimento de vertigem: e não mais


de proteção.
 Angústia ante o futuro: e não mais
de fruição do presente.
 Existência dramática abandonada a si
mesma: e não mais o abrigo de uma
vida simbólica, em sintonia com
fontes perenes.
“Mulher proletária”

“Mulher proletária — única fábrica


que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção
produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.”
“Essa negra fulô”

“Ora, se deu que chegou


(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!”
Interatividade

Quanto à poética de Augusto dos Anjos, é


correto afirmar que:
a) Como poeta simbolista, assemelha-se,
em temática e conteúdo, a Cruz e Souza.
b) Aproximou-se do decadentismo-
simbolista e da modernidade, em um
momento de transição.
c) Seguiu a tendência cientificista do século
XIX, o que lhe imprime um traço
naturalista.
d) É considerado o primeiro poeta
modernista pela ruptura sintática e o uso
de novas formas poéticas.
e) A religiosidade é tratada em
sua obra com ironia.
Adélia Prado

 Adélia Luzia Prado Freitas (1935),


professora e poetisa mineira.
 Sua obra retrata o cotidiano com
perplexidade e encanto.
 Sua p
poética é norteada pela
p fé cristã e
permeada pelo aspecto lúdico.
Adélia Prado

Segundo Carlos Drummond de Andrade:


“Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz
poesia como faz bom tempo: esta é a lei,
não dos homens, mas de Deus. Adélia é
fogo, fogo de Deus em Divinópolis.”
Adélia Prado

 Em termos de literatura brasileira, o


surgimento da escritora representou a
revalorização do feminino nas letras e da
mulher como ser pensante.
 Incorpora os papéis de intelectual e de
mãe, esposa e dona de casa.
Adélia Prado

 Considerada como a que encontrou um


equilíbrio entre o feminino e o feminismo,
movimento cujos conflitos não aparecem
nos textos.
 Aspectos transcendentes podem ser
encontrados em pequenos fatos
cotidianos.
“Antes do nome”

“Não me importa a palavra, esta corriqueira.


Quero é o esplêndido caos de onde emerge a
sintaxe, os sítios escuros onde nasce o ‘de’, o
‘aliás’, o ‘o’, o ‘porém’ e o ‘que’, esta
incompreensível muleta que me apoia.
g g
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é o Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave,
surda-muda, foi inventada para ser calada.

Em momentos de graça, infrequentíssimos,


se poderá apanhá-la:
apanhá la: um peixe vivo com a mão
mão.
Puro susto e terror.”
“Impressionista”

“Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo
amanhecendo.””
“Ensinamento”

“Minha mãe achava estudo


a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
‘Coitado, até essa hora no serviço pesado’.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo
com água quente.
Não me falou em amor.
Essa
ssa palavra
pa a a de luxo.”
u o
“Com licença poética”

“Quando nasci um anjo esbelto,


desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar
i mentir.
ti
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor
d nãoã é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.”
Intertextualidade

“Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”
(Drummond)
“Quando nasci veio um anjo
j safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim.”
(Chico Buarque de Holanda)
Interatividade

Leia as afirmações a seguir e assinale a


alternativa correta:
I. Nos poemas de Adélia Prado, encontramos
o transcendente na vida cotidiana.
II. A poesia de Jorge de Lima revela o estado
decaído deste mundo e a urgência de sua
regeneração por intervenção divina.
III. Os textos de Jorge de Lima possibilitam
múltiplas leituras.
a) Apenas a alternativa I está correta.
b) Apenas I e II estão corretas.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II está correta.
e) Todas estão corretas.
ATÉ A PRÓXIMA!

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