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Casa de Canoas

Contexto: Construída em 1953, A Casa das Canoas, localizada em São Conrado, no Rio de Janeiro, o edifício se desenvolve em torno de uma grande rocha de
granito encontrada no terreno que ainda permite uma bela vista das montanhas do Rio de Janeiro. Oscar Niemeyer se encantou pelo local ao passar certa vez
pela Estrada das Canoas. Foi aí que ele decidiu comprar o terreno e projetar uma casa que valorizasse o entorno e se destaca-se pela simplicidade e conforto.
Oscar Niemeyer residiu na Casa das Canoas com sua família até 1959, quando se mudou para Brasília.
Identidade
Em Canoas, Niemeyer reformula um a um o receituário proposto
por Corbusier, atuando com liberdade sobre as peculiaridades do
programa, do sistema construtivo, bem como aquelas oferecidas pelo
terreno.

Minha preocupação foi projetar essa residência com inteira liberdade,


adaptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em
curvas, de forma a permitir que a vegetação nelas penetrasse, sem a
separação ostensiva da linha reta. E criei para as salas de estar uma
zona em sombra, para que a parte envidraçada evitasse cortinas e a
casa ficasse transparente como preferia – Oscar Niemeyer
Iconologia
Canoas oferece a riqueza da continuidade espacial entre interior e exterior. Oscar assegura esta continuidade pela diluição do
volume que se assenta no nível do terreno. Este efeito é obtido pelo somatório de algumas soluções arquitetônicas:
1. A localização dos espaços mais íntimos sob o nível de acesso, possibilitando não apenas maior liberdade plástica e
transparência dos espaços do andar superior;
2. A adoção de formas mais livres a abstratas em seus contornos, não apenas para a cobertura, mas também para os planos
situados sob ela, evitando a geração de um volume compacto e bem definido. A geração de vazios e espaços de intervalo
concorre, ainda, para tornar menos precisos os limites da edificação;
3. A manutenção do bloco de pedra encontrado no terreno, que passa a organizar os espaços interno e externo, tornando-se o
centro da composição e elemento de integração entre eles.
Iconologia
Possibilitado pela técnica do concreto
armado, assim como o pilotis, o terraço
jardim permitia a multiplicação da área
utilizável do terreno e “destacava claramente
o edifício do céu por uma linha horizontal
pura, sem cornijas nem saliências”. Em
Canoas a cobertura comparece como uma
laje plana de formas livres e sinuosas,
geradora de uma área sombreada a proteger
os panos de vidro e definir áreas de uso
externas. Se, por um lado, esta solução não
multiplica o terreno em área, por outro atua
ampliando as possibilidades de uso da
edificação e de seu espaço exterior. No
entanto, a laje dos quartos converte-se ela
própria no teto-jardim que se mistura ao
plano de acesso à casa. A articulação
horizontal do terraço colocado no mesmo
nível do pavimento de acesso inegavelmente
amplia sua possibilidade uso e fruição em
relação ao espaço articulado verticalmente.
Plástica
Nesta casa, Oscar se valeu plasticamente da estrutura independente onde melhor convinha – ou seja, no andar
principal – não hesitando em recusá-la onde não se fazia mais necessária – no andar inferior. A conquista técnica da
estrutura independente permitiu que o invólucro exterior do edifício fosse trabalhado de maneira autônoma na
composição de suas massas e aberturas. No entanto, na Residência de Canoas, não temos uma fachada no sentido
mais tradicional – um plano vertical ou oblíquo composto de vedações e aberturas – mas uma alternância entre
planos opacos e translúcidos. A sinuosidade e a continuidade dos fechamentos do pavimento superior
impossibilitam o reconhecimento de fachadas, no sentido tradicional do termo. Já no pavimento inferior, as
aberturas comparecem para proporcionar a iluminação e ventilação adequada aos ambientes, bem como a visão da
paisagem. Ou seja, não se percebe nenhuma intenção de composição plástica destas aberturas, unicamente
coincidentes com os vãos entre fechamentos verticais.
Referências:
CAVALCANTI, Lauro (organizador). Quando o Brasil era moderno:
guia de arquitetura 1928-1960.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.

NIEMEYER, Oscar. As curvas do tempo. Rio de Janeiro: Revan, 1998.

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