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Com a experiência obtida na elaboração de projetos residenciais pude constatar algumas

tendências e desejos comuns, na maioria de meus clientes, na forma de como sonhavam em


construir suas casas. Primeiramente pude perceber, felizmente, que a arquitetura moderna,
antes vista de forma pejorativa, conquistou o mercado, e o que era práxis está caindo em
desuso, como as casas que imitam estilos de outrora: clássico, rococó, eclético etc. Parece-me
que várias qualidades proporcionadas por soluções de projeto que a arquitetura moderna
consegue oferecer foram apreendidas pelos clientes, entre elas: a funcionalidade da planta, os
planos de vidro enquadrando a paisagem e trazendo o exterior para o interior, a continuidade
espacial, a conjugação de vários ambientes em um único, a liberdade da estrutura, etc.

A arquitetura moderna começou a ser utilizada não mais como um modismo ou um 'estilo' a
ser escolhido entre muitos, mas como uma solução formal e estética para nosso cotidiano e
modos de vida atuais. E isso aconteceu porque somente ela consegue corresponder e
solucionar de forma espacial à várias questões e problemáticas de nosso dia a dia. E esse
processo de assimilação pela população se deu de forma interessante porque os ditames da
arquitetura moderna já surgiram a um bom tempo, década de 60, e não foram incorporados à
época. Não falo das grandes obras governamentais e nem das executadas por uma pequena
parcela da população que tinha acesso aos conceitos intelectuais que norteiam a arquitetura
moderna. Falo do cidadão comum que não pertence ao universo das artes e da construção
civil. Essa parcela da população é que recentemente, nos últimos 10 anos, se apropriou do
modernismo como solução formal e estética para construir suas casas. Ela foi convencida por
diversos fatores que foram a convivência com obras de grandes arquitetos que durante
décadas construiu o imaginário da arquitetura moderna, mas principalmente por outros que
vou elencar abaixo que são mais do que tendências a serem consideradas, são, de forma
resumida, algumas soluções providas pela arquitetura que nos permite construirmos nossas
casas modernistas.

Conjugação dos espaços

Tem sido usada com muita frequência a união entre a sala de estar, jantar e cozinha no mesmo
espaço, contudo mantendo uma certa característica para cada um deles, como a sala de estar
com pé-direito duplo e grandes planos de vidro com visuais para o paisagismo e a área de
lazer, a sala de jantar com pé-direito menor e uma iluminação que destaque a mesa de forma
mais intimista, e a cozinha delimitando sua fronteira com a sala de jantar por meio de um
espaço gourmet que pode ser uma ilha com cooktop, coifa e bancada para ser usada como
copa ou local de reunião para os convivas. Essa união de vários ambientes só foi possível
graças à tecnologia do concreto armado que permitiu que se vencesse grandes vãos sem
necessidades de paredes para sustentar os pisos superiores. A arquitetura moderna nasceu
dessa invenção porque separou a estrutura das vedações permitindo uma liberdade inovadora
na delimitação e integração dos ambientes como também na racionalização da planta
conjugando função e estética em um único objeto. E além da união de ambientes internos
classificados como área social, recentemente, vários clientes começaram também a optar por
integrar a área gourmet externa que tem a churrasqueira como ponto focal para dentro da
área social perfazendo um único ambiente que em alguns casos acaba possuindo um sofá e
poltronas típicos de uma área de sala de estar ao lado de uma mesa de bilhar. A sensação
desse novo ambiente enorme onde tudo acontece é de se estar em um resort de férias. Nada
poderia ser mais agradável.
Planos de vidro

Têm sido bastante usados também ganhando até a denominação de pele de vidro, pois é
muito agradável ter grandes vistas para a paisagem e a área de lazer fomentando uma
integração visual entre essas áreas. O concreto armado foi a tecnologia que permitiu a criação
desses planos que ganharam grandes dimensões. Algumas vezes, dependendo da solução do
projeto, se consegue esconder as esquadrias quando abertas de uma tal forma que parecem
nunca terem existido. Isso é o máximo que se pode desejar de integração entre interno e
externo porque parece não haver nenhuma divisão entre ambos, mas só é possível se for
previsto um grande nicho onde as esquadrias deslizam para dentro e ‘somem’ de vista.
Contudo pode parecer que se pode usar os planos de vidro a qualquer momento, mas preste
atenção à insolação para que a iluminação não seja demasiada e se torne inconveniente. Um
bom projeto vai saber lidar com a questão.

Redução de custos

Uma boa notícia para quem vai construir, pois as casas modernas, em sua maioria, têm preços
de execução mais baixos, principalmente em relação ao telhado, que por ficar escondido pela
platibanda (telhado caixão), pode ser executado com telhas muito mais baratas (fibrocimento
e metálicas) e mais leves, o que também demanda uma estrutura de suporte muito mais
barata para suportá-las. As casas modernistas também são mais rápidas de serem construídas,
pois tem projetos que primam pela simplicidade do traço e a racionalização da planta que
tornam as construções mais simples e sistematizadas na execução, como também não utilizam
ornamentos que demoram para serem executados na obra, além de custarem muito caro.

Estrutura e volumetria ousados

Como falado acima, e várias vezes, o uso do concreto armado mais uma vez também trouxe a
possibilidade de se construir balanços, marquises, e volumes desafiando a gravidade e o peso.
E a sociedade também entendeu isso e a construção de casas modernas começou a mostrar
elementos com essa ideia da ousadia do balanço de volumes que avançam no vazio sem
estrutura que pareça sustentá-los. Outra qualidade alcançada foi a leveza das coberturas que
viraram planos finos com espessuras que desafiam o ponderável devido ao uso apenas da laje
como teto por meio de sua impermeabilização com manta asfáltica. A única questão que ficou
é a de se encontrar uma forma e local para abrigar a caixa d´água que antes se escondia
debaixo do telhado. Mas no item sobre a volumetria da casa cabe uma ressalva porque se o
projeto não for bem pensado a casa pode se transformar em um volume hermético e tedioso,
um grande ‘caixote’ e, nesse caso, a arquitetura moderna terá sido usada de forma
equivocada. Para que isso não aconteça vale a ideia de se alternar os volumes destacando-os
no alinhamento em planta e em vista criando um percurso para o olhar e um jogo de pesos e
focos diferentes.

Enfim, obviamente que não posso neste texto me ater a uma explicação acadêmica sobre a
definição de arquitetura moderna, e sim apenas contextualizá-la no cotidiano das pessoas que
não são profissionais da área para utilizarem em seus projetos futuros de moradia ou pelo
menos incitar o gosto por essa expressão artística tão ousada que é a arquitetura modernista.

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