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Estudo VIII - Pontos Riscados

Os “Pontos Riscados” são sinais gráficos sagrados que produzem grandes debates
dentro das vertentes religiosas afro-brasileiras. Existem defensores acalorados de
diversas teorias, todavia, o “Ponto Riscado” é uma compreensão individual do conjunto
de desenhos que o forma e da descarga energética produzida que cada dirigente
espiritual absorverá.

Nosso Templo visa integrar diversos conhecimentos para o esclarecimento de um


“Ponto Riscado”, pois dessa forma, não limita ou restringe a amplitude energética do
mesmo. Os “Pontos de Exu ou Pomba Gira” são complexas “assinaturas” que tem por
objetivo criar uma intensa vibração que age no subconsciente dos adeptos e na própria
estrutura astral. Cada vez que um Ponto de Exu é riscado, abre-se um portal entre os
diversos planos que possibilita a vinda desse espírito com toda plenitude e, dentro do
conceito de incorporação, o Ponto abre determinadas “portas subconscientes” (também
conhecidas como portas “corta-fogo”) que facilitam a “simbiose espiritual” entre os
espíritos e os adeptos.

Os “Pontos Riscados” são definidos das seguintes formas:

1- Ponto Riscado Individual: Ocorre quando o espírito que faz parte dos Reinos da
Quimbanda “risca o ponto” através do adepto médium canalizador (que já está apto ao
ato). Essa grafia é uma “assinatura” individual que demonstra o poder do espírito, bem
como o Reino e Legião ao qual pertence.

2- Ponto Riscado da Tradição: Ocorre quando os adeptos ou dirigentes fazem uso de


“Pontos Riscados” que já são parte da tradição do culto da Quimbanda.

3- Ponto Riscado Inspirado: Ocorre quando o dirigente ou adepto recebe a grafia do


“Ponto Riscado” através uma inspiração emanada pelos planos espirituais.

4- Ponto Riscado Montado: Ocorre quando o dirigente ou adepto usa de seus


conhecimentos exotéricos e esotéricos para produzir um campo de manifestação de
forças.

As formas de ativação, bem como as interpretações esotéricas, variam de dirigente para


dirigente. Como a Quimbanda é uma estrutura espiritual que “engole e absorve” outras
formas de desenvolvimento gnóstico, os “Pontos de Exu” podem exercer as mesmas
funções dos Sigilos (do latim Sigillum – sinal), que são ícones gráficos usados nas
práticas de Magia Caótica e outras formas de magias cerimoniais repletos de simbologia
que expressam complexas gnoses cujas funções são infinitas.

Apresentaremos alguns “Pontos Riscados” de Exu e Pomba Gira e, dentro da nossa


gnose, desvendaremos os sinais e a interpretação deles conforme os ditames da
Quimbanda desenvolvida pelo Templo de Maioral Beelzebuth e Exu Pantera Negra.

Usaremos o “Ponto Riscado da Tradição” do Exu Caveira para exemplificarmos as


formas de interpretação dos sinais gráficos e como os mesmos podem demonstrar as
qualidades e poderes desse espírito.

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Ao observarmos esse Ponto Riscado, a primeira situação que analisamos é o eixo
central e o eixo lateral que formam simetricamente um sinal de equilíbrio.

Esse sinal significa:

1- Os quatro pontos cardeais;


2- Os quatro elementos;
3- Masculino e feminino;
4- O espiritual e o físico.

Portanto, temos como referência todos esses aspectos para determinarmos a amplitude
dos poderes desse Exu. Seguindo a linha de raciocínio, abordaremos as diferenças entre
os garfos (tridentes) e suas localizações. Antes, porém, faremos uma explanação sobre o
sincretismo que agregou o tridente aos poderes de Exu.

O tridente aparece como representação espiritual em várias culturas antigas. Na


mitologia hindu, o deus Shiva, considerado o “Grande Destruidor” ou “Transformador”,
ostenta em sua mão um tridente que representa a destruição da ignorância humana. As
três pontas representam a inércia, o movimento e o equilíbrio, ou seja, é a síntese de
toda formação. O Deus Grego Poseidon, Senhor das Águas, usava o tridente como cetro
de poder. Fulminante como o raio, o Deus das profundezas tem o poder fazer a Terra

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tremer e ser devastada através da ação de seu tridente, uma letal arma de guerra que,
quando em combate, ao acertar o coração do oponente subtraia o poder da alma do
mesmo. Além disso, o tridente desse colérico deus grego poderia secar ou inundar as
terras de acordo com a vontade de seu manipulador. Dentro do sincretismo entre os
povos gregos e romanos, Netuno (deus romano das águas) também possuía um tridente.
Esse filho de Saturno possui uma incrível força dinâmica que chega distorcer as noções
de realidade, todavia, é a força que, quando devidamente trabalhada, nos dá a
autoconsciência e a capacidade de transcender as limitações carnais.

A formação do cristão “diabo opositor” é uma massa que recebeu influência de muitas
fases históricas. Essa massa agregou desde os cultos campesinos, onde o deus cornudo
possuía sexualmente a deusa tríplice, passando pelas mitologias babilônica, egípcia,
africana, grega, celta, hindu, romana e de todas as culturas que não eram submissas ao
deus na cruz. Conforme esses povos eram vencidos em sangrentas guerras, os deuses
“derrotados” eram demonizados e enviados ao enxerto do “Grande Opositor”. O
tridente, por suas qualidades mortais, acabou sendo colocado nas mãos do “Ser Obscuro
e Sinistro” opositor do deus cristão e de suas hostes angelicais. Quando o culto africano
de Èsú foi descoberto pelos cristãos, não tardou para esse Deus ser agregado ao “Reino
das Trevas” e carregar o tridente em suas mãos.

Portanto, o tridente de Exu simboliza uma arma letal que pode ser usada em guerras
astrais, porém, possui grandiosos atributos esotéricos. Nas mãos de Exu é um cetro de
poder que pode gerar eletricidade e movimento, equilibrando ou desequilibrado a vida e
tudo aquilo que a cerca. A descarga de um tridente pode cegar e levar à loucura ou
iluminar o subconsciente e conduzir os adeptos ao supremo estado da “graça”. O
tridente é a arma que conduz à evolução dando impulsos aos projetos e sonhos. Num
contexto mais sinistro, a arma descarrega forças saturninas, obscuras e desconhecidas
que podem exterminar quando necessário. É uma arma instintiva e fundamental para
transcender.

Voltando ao “Ponto Riscado”, a linha vertical simboliza o mundo físico, coagulado e


repleto de formas materiais. O garfo que ascende é de formas retilíneas (garfo
quadrado).

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O tridente retilíneo quadrado pode ser entendido como um forte símbolo centralizador
que aponta maior solidez e estabilidade. As energias emitidas pelo mesmo são mais
difíceis de serem revertidas, afinal, a estabilidade da figura emite forças mais
permanentes. Os tridentes quadrados são figuras de poder dinâmico e direto, cuja
energia não possui interrupções. Nas mãos de um Exu representa que o mesmo possuí
um poder direcionador constante, solvendo todas as formas necessárias para a evolução.

A forma do tridente nada tem a ver com sexo (macho ou fêmea), apenas com a
polaridade. O tridente quadrado é emissor de polaridade positiva (+) e está intimamente
ligado aos elementos fogo e ar. Quando voltado para cima, está dissolvendo todas as
barreiras evolutivas, abrindo o campo da percepção, dando energias necessárias para a
realização de determinadas situações, retirando a inércia, conduzindo, esgotando,
destruindo ou reconstruindo. É o tridente da execução.

No “Ponto Riscado” apresentado, o tridente quadrado está apontado para cima na linha
horizontal. Como a mesma representa o mundo físico, esse tridente quadrado demonstra
que o Exu Caveira carrega o poder de evolução no campo material, porém, esgota e
destrói quando a mesma não tem como objetivo a evolução. A energia do Exu Caveira é
tão bruta que no símbolo encontramos elementos necessários para conter o intenso
fluxo.

Dois pequenos círculos unidos por uma linha são um símbolo equilibrador sugerindo
que a força deverá ser controlada sob pena de criar uma tensão incontrolável. É um
claro aviso que O Exu Caveira não hesitará em destruir um império material, relações
de grosso interesse e a cegueira consumista. O círculo é um símbolo delimitador, pois é

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uma figura de movimento harmonioso contínuo e como tem capacidade de centralizar
energias e definir espaços é perfeito.

O pequeno círculo que está aos pés da linha vertical é o dínamo que produz e centraliza
as energias. Sequencialmente, uma “chave” está mostrando que energias elementares
estão sob controle e domínio. Garfos que possuem essa “Chave” são portados por Exus
poderosos, pois também demonstram a alta sabedoria nas artes ocultas e
consequentemente, o domínio sob legiões.

A linha horizontal representa o plano espiritual. Nos estudos avançados sobre “Teoria
das Formas”, linhas horizontais não necessitam de tanta descarga energética para
existirem, além de representarem o descanso e a própria morte física. Garfos de forma
arredondados estão nas duas pontas, marcando um início e o fim. Os tridentes (garfos)
arredondados estão intimamente ligados aos mistérios uterinos. O útero é um local de
geração, todavia, é um local escuro e sombrio, receptivo, intuitivo e esotericamente
ligado às forças ctônicas (submundo). São armas de esgotamento, aprisionamento e de
polaridade negativa (-). Apesar de emitirem energias, sua principal função é a drenagem
como uma espécie de “buraco negro”. Por tal motivo, são amplamente usados pelos
Reinos da Kalunga, Cruzeiro e das Almas. Confunde-se o garfo arredondado com
“Tridente de Pomba Gira” pela forma uterina (taça) que o mesmo possui, mas essa
relação não é verídica. Exus e Pomba Giras usam garfos arredondados.

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No ponto do Exu Caveira, a linha horizontal com garfos arredondados em suas pontas
demonstra que a força desse Exu no plano espiritual está ligada ao processo de
esgotamento, drenagem e aprisionamento. Também retrata que seu ponto de força está
nos planos ctônicos, mortuários, na decomposição física e no direcionamento. Esse
mesmo direcionamento aparece nas duas linhas curvas que cortam a linha horizontal.
Linhas curvas são a expressão da união de duas energias, ou seja, as energias físicas e
materiais.

Síntese:

Exu Caveira demonstra no “Ponto Riscado da Tradição” que nos planos materiais
possui grande força dinâmica, mas seus domínios estão nos “Campos da Morte” e em
todos os processos que envolvem o desprendimento. Ensina-nos através desse ponto que
a escalada material exige de nós o equilíbrio e o uso correto de nossas faculdades sob
pena de sermos drenados e esgotados. Isso faz parte da lapidação do Ego altruísta.
Os “Pontos Riscados” são importantes meios de conhecermos os espíritos, seus
domínios e as respostas esotéricas que os envolvem.

DANILO COPPINI

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