Você está na página 1de 3

Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, Oca, Óscar Niemeyer

São Paulo, 1951-1954

Para melhor compreender o pavilhão Lucas Nogueira Garcez, penso ser


necessário a interpretação do Parque Ibirapuera (com uma área de 1.584.000 m2), local
onde se encontra o pavilhão em estudo.
Defendido pelo arquitecto como "O conjunto é integrado pelos Palácios das
Nações e Estados, da Indústria e das Artes, além de previsão de um auditório em calota
curva; a imensa marquise, que se espraia entre as edificações designa e denota a
liberdade assumida pela forma."
O Conjunto Arquitectónico do Parque do Ibirapuera foi idealizado em 1951 por
um grupo de arquitectos (Zenon Lotufo, Hélio Uchôa e Eduardo Kneese de Mello)
liderada por Óscar Niemeyer a partir do convite que o arquitecto recebeu de Cicillo
Matarazzo, o então presidente da Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo.
A proposta era centralizar todas as manifestações comemorativas dos 400 anos da
cidade num conjunto que representasse a grandiosidade e posição de vanguarda da
cidade perante à nação.
Este foi sem duvida um dos grandes projectos que consagrou o Brasil como
modernista, criador de formas arrojadas graças aos arquitectos desse período, como
Óscar Niemeyer, que ao contrário de Lúcio Costa, jamais foi um pensador e um teórico
da arquitectura. Até 1953, ele projectou e construiu sem tréguas, aproveitando as
inúmeras encomendas proporcionadas pela crescente reputação. A procura de um
vocabulário novo levou-o a lançar-se em diferentes direcções, sem tentar dar,
conscientemente, uma unidade à sua obra.
O projecto concebido por Óscar Niemeyer é composto de cinco edifícios, que
na época foram denominados de Palácios, tamanha era a imponência dos edifícios.
Cada um deles estava destinado a abrigar exposições específicas a uma determinada
actividade de destaque da cultura e economia da cidade de São Paulo. Assim, os cinco
edifícios eram: o Palácio das Indústrias, o Palácio das Exposições, o Palácio das
Nações, o Palácio dos Estados e Palácio da Agricultura. O projecto previa ainda um
Auditório que centralizaria congressos, seminários e exibições artísticas. Esta obra só
veio a ser implantada em 2003, após longo processo político de interesses e, ainda, sob
um novo desenho proposto por Niemeyer. Em 1951, surgiram as primeiras propostas.
Nesse momento o conjunto ocupava maior espaço no Parque, além da arquitectura dos
edifícios serem mais arrojadas, o que afectava a exequibilidade da construção e o
orçamento final da obra. Em 1954, o grupo apresenta uma nova disposição dos edifícios
marcado por uma arquitectura modernista de traços mais leves.
O Palácio das Indústrias, actual sede da Fundação Bienal de São Paulo, foi
concebido originalmente para abrigar as exposições permanentes da indústria de São

1
Paulo. Os arquitectos desenvolveram, a princípio, um grande edifício com uma casca de
cobertura arredondada, protegendo os três pavimentos do prédio. A rápida construção
do Palácio deve-se ao emprego de modernos métodos da engenharia brasileira da
época e ao programa aplicado pelos construtores. O edifício tem aproximadamente
36.000 m2 de área para exposições. Durante as comemorações de 1954 abrigou
diversos stands das mais variadas indústrias de São Paulo. Actualmente é a sede da
Fundação Bienal de São Paulo.
O Palácio das Nações, no projecto aprovado de 1954, o Palácio foi destinado
a abrigar as representações dos vários países na Exposição Internacional do IV
Centenário. O edifício também recebeu as mostras da II Bienal de São Paulo.
Actualmente conhecido como Pavilhão Manuel da Nóbrega, o edifício é resultado de um
inegável sucesso perante as diversas dificuldades encontradas na construção,
principalmente nas questões estruturais, onde foram exigidas soluções estruturais
ousadas e inovadoras, como os pilotis externos.
O Palácio dos Estados tem características técnicas iguais às do Palácio das
Nações. Em 1951, os arquitectos já haviam desenhado um mesmo projecto para ambos
os edifícios. Um elemento presente neste Palácio que não foi implantado no semelhante
Palácio dos Nações são os brise-soleil que ser de protecção para os raios solares que aí
incidem. Nas comemorações do IV Centenário, em 1954, este palácio serviu de sede
para a exposição dos vários Estados do Brasil.
O Palácio da Agricultura no seu desenho original (1951), o pavimento térreo
teria um salão de exposições e um restaurante sob o terraço de formas curvas. O
pavimento tipo apresenta um grande espaço para diversos departamentos e repartições,
previstos para o funcionamento da Secretaria. Na cobertura, estariam concentrados os
17 apartamentos destinados à hospedagem, salão, copa e terraços. Um dos pontos
marcantes na arquitectura deste edifício é os pilotis em forma de “V”. Segundo o
arquitecto Niemeyer, o desenho desses pilotis é uma solução para liberar mais espaço
no piso térreo.

Destes cinco palácios referidos o Palácio das Exposições é actualmente


denominado Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, também conhecido por OCA, ou a calote
do Ibirapuera. Foi projectado em 1951 para servir de abrigo a um Planetário. No entanto,
em 1954 o edifício foi destinado à exposição da História de São Paulo, entre outras
manifestações. O Palácio é constituído por três pavimentos que ocupam
aproximadamente uma área de 11.000 m2. A sua cobertura é um dos elementos mais
arrojados do Parque e demandou um cuidadoso estudo para sua construção. As
sapatas de fundação estruturam a casca de cobertura em forma de cúpula que, devido a
grande quantidade de ferro na sua armação, está livre de qualquer tipo de pilar ou apoio.
Este edifício tem base com 76m de diâmetro e alcança até 18m de altura.

2
Denota-se, como em outros dos projectos do Arquitecto Óscar Niemeyer, uma
preocupação com o dinamismo e flexibilidade, visível no jogo de rampas presente no
interior do edifício. Estas rampas criam efeitos espaciais internos, graças a esta
estrutura helicoidal inesperada e dinâmica.
Mas neste edifício não só as rampas são interessantes, todo o interior acaba
por se tornar inesperado, uma vez que, exteriormente vemos uma cúpula que emerge
do terreno, iluminada por 30 holofotes dispostos ao longo da periferia, ao entrarmos
deparamo-nos com duas plataformas de betão, uma rectangular e outra hexagonal,
ambas com lados côncavos, parecendo estar suspensas apenas pelos vértices. Os
espaços entre os lados das plataformas e a parede interna da cúpula combinam com as
aberturas do piso térreo, podendo assim, comunicar com o subsolo e as rampas em
forma de ferradura que ligam os quatro andares e proporcionam um jogo de
perspectivas, que contrasta com a forma exterior.
Este edifício é, sem duvida, um símbolo valido da era da máquina e do
“casamento feliz” das curvas sinuosas com as plataformas que formam galerias
superiores a fim de libertar o espaço necessário para apreciar o lado virtuoso do edifício
O edifício foi subaproveitado, durante muito tempo para um planetário e para
vários museus de costumes brasileiros, acabando por perder o contexto que o arquitecto
idealizava.
O Palácio já serviu de sede para um Museu de Folclore e para o Museu da
Aeronáutica.
Em 2000, o arquitecto Paulo Mendes da Rocha resgatou o espírito original do
espaço de exposições, eliminou os acréscimos e realizou pequenas modificações na
circulação vertical. Este substituiu elevadores pelas escadas rolantes e instalou um
sistema de controlo de humidade e temperatura do ar.
Surgiu assim, a OCA um dos melhores espaços modernistas para as artes
plásticas. Em 2004, nas comemorações dos 450 anos da cidade de São Paulo, a OCA
abrigou uma das maiores exposições do artista espanhol Pablo Picasso.

Você também pode gostar