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"Frente aos problemas estruturais apresentados, nos séculos XVII e XVIII várias
obras de contenção da escarpa foram sugeridas e realizadas à frente a igreja, na área do
adro: sucessivos aterros, construções, reconstruções e reforços de muralhas ocorreram,
com o objetivo de estabilizar os danos estruturais recorrentes no edifício da igreja.
Arqueologicamente estas alterações foram identificadas, sejam nos estratos com
materiais de diferentes contextos depositados, ou nas construções da Praça Dona Isabel,
que correspondia ao espaço dos últimos momentos da Praça Dona Isabel, no adro da
igreja." p. 86
"Nos 381 anos em que esteve de pé na cidade, isto é, de 1552 a 1933, a Igreja da
Sé foi cenário de uma série de acontecimentos demonstrativos da sua relevância ao
longo dos séculos. Entre eles: a chegada do primeiro bispo do Brasil, no século XVI; a
ocupação holandesa, as missas e os sermões realizados pelo padre Antônio Vieira, no
século XVII; os deslizamentos de terra, típicos das encostas de Salvador, que afetaram a
igreja e suscitaram a comoção popular, diante do que ela foi objeto, no decorrer dos
séculos XVII e XVIII, de uma série de alterações em sua estrutura; o esforço das
Irmandades, sobretudo a do Santíssimo Sacramento, para manter a integridade da Sé,
durante o século XIX e início do século seguinte; a revolta da sociedade baiana contra a
demolição da Sé, nas três primeiras décadas do século XX; dentre outros episódios, a
exemplo de batizados, casamentos e enterros, no interior da igreja, de personagens que
marcaram a história da cidade, o que acentuou ainda mais o papel da Sé como referência
na vida dos cidadãos." p. 87
"A atividade jesuítica na Capitania da Bahia, seja em área urbana como em área
rural, deixou elementos vestigiais singulares que, observados arqueologicamente,
permitem reconhecer estratégias de ocupação dos espaços acordes com os ideais
religiosos de propagação catequética, mas, ao mesmo tempo, com atitudes pragmáticas
que posicionaram a Ordem da Companhia de Jesus no plano do poder colonial. Os
exemplos ora apresentados são bastante eloquentes acerca do que foi exposto acima: o
Colégio dos Jesuítas de Salvador e o Colégio dos Jesuítas de Porto Seguro." p. 94
"Mas não se pode pensar no Colégio dos Jesuítas sendo abrangido pela cidade de
maneira passiva. Isto porque a ocupação inicial do colégio no setor norte serviu como
atrativo ao crescimento da cidade nesta direção, bem como agiu como condicionante ao
crescimento urbano. Sem impedimentos e com a área livre, os jesuítas escolheram o
terreno do colégio e passaram a induzir, a partir da ocupação solo, os primeiros eixos
das ruas, de forma que a malha urbana projetada obedeceria aos limites da construção
do complexo jesuíta, seguindo uma ordenação regular em xadrez, conforme parte das
cidades hispano-americanas fundadas nos séculos XVI e XVII. Assim, o prédio jesuíta
viria a ter uma relação estreita com a cidade, uma vez que todas as ruas daquele setor
citadino, inevitavelmente, convergiriam para o colégio, impondo a construção inaciana
como edifício principal da malha urbana. Ademais, além de a malha apresentar uma
composição regular, existe um elemento fundamental ao entendimento da relação
espacial entre cidade e colégio: a existência de uma praça, o Terreiro de Jesus, que
urbanisticamente é justificada pela supressão de duas quadras da malha regular, mais
uma vez, conforme ocorreria em boa parte das cidades hispano-americanas." p. 95 e 96
"O Colégio dos Jesuítas de Porto Seguro deve ser considerado como o edifício
principal da ordem na Capitania de Porto Seguro, onde se ministrava o ensino
fundamental aos filhos dos colonos e de onde partiam os padres para ação missionária,
leia-se civilizadora, junto aos índios dos territórios próximos. Ou seja, o colégio atuava
como uma espécie de base de operações na região." p. 100
"O colégio gozava de uma posição privilegiada na cidade. A partir de sua vista
panorâmica sobre o horizonte marino e do acesso direto ao caminho que unia a cidade
alta ao porto, na confluência do Rio Buranhém com o oceano, assim como de suas
proporções com relação aos edifícios que deviam existir na época colonial, pode ser
deduzido o domínio que esta ordem religiosa tinha no contexto sociopolítico da então
Capitania de Porto Seguro. De fato, um lugar especial estava-lhe reservado no âmbito
da cidade a quem cumpria funções variadas: educação de brancos e índios, celebração
de serviços religiosos ordinários e extraordinários, consagração de festividades
católicas, atenção e conforto espiritual à população em geral (com confissões,
comunhões, batizados, casamentos e extremas-unções) e, notoriamente, catequização
dos grupos indígenas com a consequente reunião deles em missões." p. 101
"A expulsão dos jesuítas, por ordem do Marques do Pombal, em 1759, marca o
início da decadência física do edifício da Casa de Porto Seguro e dos próprios
aldeamentos que eles tinham fundado, dali em diante transformados em vilas. A
capitania fica sob a autoridade de um ouvidor mor com responsabilidade sobre todos os
núcleos residenciais existentes, incluídas as antigas aldeias indígenas. Com este
panorama secularizante, a Casa dos Jesuítas passou a ser utilizada como residência do
um professor laico e como escola, que substituiria as atividades de ensino dos inacianos.
No século XIX entra em deterioro e chega ao século XX apenas com os alicerces e a
parte inferior das paredes, depois de terem sido retiradas para novas construções da
cidade." p. 101
"Na Bahia existe um grande número de locais com vestígios jesuíticos, alguns
incorporados a estruturas arquitetônicas posteriores, outros, em ruínas, ou ainda alguns
dos quais só se tem referência pela memória da população local, como é o caso da
Fazenda Santa Inês, em Camamu, cuja igreja foi descoberta em 2006, a partir de
trabalhos arqueológicos promovidos pelo Departamento de Infraestrutura de
Transportes da Bahia (Derba), em respeito à legislação patrimonial." p. 107
"A presença de colonos foi permitida nessas terras para a produção de farinha e
demais artigos de subsistência, mas ficavam proibidos de extrair madeiras. Esta relação
entre religiosos e seculares nunca primou pela tranquilidade, ocorrendo frequentemente
conflitos que tinham, por vezes, a intervenção do Estado. Exemplo disto é a retirada da
administração dos aldeamentos das mãos dos religiosos, imposta pelo governo
provincial. Em 1681, os índios aldeados voltam aos cuidados dos religiosos. Em 1760,
após a decisão do Marquês de Pombal de expulsar os jesuítas, estas propriedades foram
confiscadas, desmembradas e vendidas, encerrando-se, assim, os domínios inacianos
naquele trecho da costa." p. 107
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