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Fichamento do livro

HOBBES, Thomas.

Leviatã ou Matéria,
Palavra e Poder de
um Governo
Eclesiástico e Civil
São Paulo: Abril Cultural, 1974.
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de Ciência Política
Disciplina: Ciência Política (PLEA)
Docentes Responsáveis: Patricio Tierno e Cicero Romão Resende de Araujo
Monitores: Akira Pinto Medeiros e Hannah Lourdes Ramos
Aluno: Leonardo Anastácio Eduardo - Noturno - 11878790

Ficha de estrutura expositiva - Nível detalhado

Leviatã II - capítulos: XVII, XVIII e XIX (pp. 107 a 125)

Primeira parte: devir do Estado: sobre as leis naturais e a necessidade do poder soberano para se
manter todos em respeito. (§§ 1-5)

1. Introduz que o fim último dos homens é o cuidado com sua conservação e a busca por uma
maior satisfação em suas vidas. Para isso, é necessário que haja o Estado para que seja
possível sair da condição de guerra, a qual Hobbes diz ser tributária do que chama de
“paixões naturais dos homens” (Hobbes, [1651] 1974 p. 107) quando não há um poder
soberano capaz de impor medo e respeito. (§ 1)
2. Afirma que as leis de natureza dos homens não são capazes de se concretizar quando não há
um poder soberano que as faça serem respeitadas. Isso se dá por conta da natureza humana
que faz com que leis como “a justiça, a eqüidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo,
fazer aos outros o que queremos que nos façam” (Hobbes, [1651] 1974 p. 107) se convertam
em iniquidade, o orgulho, a vingança, entre outras. (§ 2)
a. Para corroborar com a sua tese da necessidade de um poder comum e soberano,
exemplifica que os pactos sem o poder não passam de palavras sem força capaz de
manter a segurança geral, pois os indivíduos poderão apenas contar com suas
capacidades para tal vivendo em constante insegurança. (§ 2)
b. Além disso, recorre ao exemplo das ‘sociedades selvagens’ em que, segundo ele,
“roubar-se e espoliar-se uns aos outros sempre foi uma ocupação legítima, e tão longe
de ser considerada contrária à lei de natureza que quanto maior era a espoliação
conseguida maior era a honra adquirida” (Hobbes, [1651] 1974 p. 107) para
evidenciar a necessidade do Estado. (§ 2)
3. Nesse trecho recorre a exemplos de guerras para enfatizar a necessidade de um poder que seja
capaz de fazer grandes multidões serem coesas quanto aos seus desejos e objetivos. (§§ 3-5)
a. Explica que em uma guerra, o contingente de homens tem uma função primordial na
defesa de um território argumentando que não se pode manter a segurança comum
com um pequeno número de pessoas, pois serão facilmente subjugadas por quem
dispuser de um maior número de soldados, ou seja, uma força superior. Além disso,
aprofunda essa noção dizendo que não há um número exato de pessoas que possa
garantir essa proteção, evidenciando que tal contingente deve ser relativo à força do
inimigo.(§ 3)
b. Complementa essa ideia dizendo que não basta um maior número de pessoas se estas
não possuem um poder comum e soberano para guiá-las, pois se a multidão não for
coesa e for composta de indivíduos que discordam entre si nas ações, estes podem ser
facilmente subjugados até mesmo por um exército menor em que haja mais união. E
mesmo que não haja inimigos irão brigar entre si por seus interesses particulares; (§
4)
i. Daí a importância de haver um poder comum, pois se o ser humano em sua
essência respeitasse as leis de natureza não haveria necessidade de um
governo civil nem do Estado, “pois haveria paz sem sujeição” (Hobbes,
[1651] 1974 p. 108). (§ 4)
4. Conclui que não basta um poder comum que seja momentâneo, como no caso de uma batalha
ou guerra, pois mesmo que haja uma vitória na batalha, os interesses divergentes dos
indivíduos ainda podem resultar em desunião e consequentemente em uma guerra de todos
contra todos. Portanto, fica evidente a necessidade de um poder soberano que seja fixo. (§ 5)

Segunda parte: Sobre as diferenças entre o reino dos homens e o reino animal. (§§ 6-12)
1. Hobbes inicia essa parte com um questionamento: por que, diferente dos animais, os seres
humanos não conseguem viver sem direção e guiando-se apenas por seus juízos e apetites
para chegar ao bem comum? (§ 6)
a. Isso se dá por diversos fatores, sendo eles:
i. Os homens vivem em constante combate por honra e dignidade que faz surgir
o ódio e a inveja; (§ 7)
ii. Entre os animais não há diferenciação entre bem comum e individual, por sua
natureza, conseguem obter o bem comum apenas perseguindo seu bem
individual. Já os homens só conseguem satisfazer-se em comparação com os
outros; (§ 8)
iii. Os animais não possuem razão, por isso não podem julgar erros
administrativos de sua vida comum. Já os homens sempre se julgam mais
dignos de exercer o poder público, o que gera uma luta de interesses que pode
ocasionar uma guerra civil; (§ 9)
iv. Os animais possuem comunicação, mas diferente dos homens, não podem
mentir, ou selecionar aspectos que lhe convenham visando diminuir ou
aumentar as características positivas e negativas de um acontecimento; (§ 10)
v. Os animais não distinguem injúria de dano, por isso basta que estejam
satisfeitos para que não ataquem seus semelhantes. Já os homens, quanto
mais satisfeitos, mais tendem a mostrar sua sabedoria e riqueza para interferir
nas ações de quem governa o Estado; (§ 11)
vi. Os acordos entre os animais surgem naturalmente, diferente dos homens que
para firmar laços de confiança necessitam criar acordos artificialmente, isto é,
por meio de pactos que, necessariamente, para sua manutenção, precisam de
um poder soberano que dirija as ações de todos ao bem comum. (§ 12)

Terceira parte: a gênese do Deus Mortal ou Leviatã. (§§ 13-15)


1. Hobbes conclui o que seria o Estado (civitas), ou o Leviatã. Para ele, é a somatória de todas as
concessões dos indivíduos de seus direitos de autogovernarem-se que são dirigidas para uma
assembleia ou líder cuja função é dirigir a pessoa do Estado para levar os homens ao bem
comum. Ou seja, uma unidade de todos os homens por meio de um pacto visando conceder
aos governantes o poder soberano que representa a pessoa de todos eles. Dessa maneira,
constituiria-se a única forma de instituir um poder comum capaz de garantir proteção e paz,
além de uma vida próspera; (§§ 13 e 14)
2. Além disso, finaliza se propondo a definir duas formas de aquisição do poder das quais tratará
com mais detalhes posteriormente, sendo elas: (§ 15)
a. Estado por aquisição: adquirido por força, por meio de guerra cuja a negação de
submeter-se ao poder pode ocasionar a destruição de quem se opõe ao soberano; (§
15)
b. Estado por instituição: homens concordam entre si a se submeterem ao poder de um
homem ou assembleia voluntariamente. (§ 15)

Quarta parte: introdução ao conceito de Estado por instituição (§§ 16-17)


1. Começa introduzindo que o Estado instituído é aquele cuja multidão de homens fez um pacto
para que o soberano a representasse, englobando tanto aqueles que votaram em favor de um
soberano como aqueles que votaram contra, fazendo com que todos atos do soberano
valessem como os atos de cada indivíduo que o colocou no poder. (§ 16)
2. Conclui evidenciando que é desta instituição do Estado que se derivam todos os direitos e
faculdades de quem concede o poder ao soberano. (§ 17)

Quinta parte: sobre os pactos e os direitos concedidos ao soberano (§§ 18-30)


1. Hobbes começa a aprofundar sua noção de Leviatã, sempre deixando claro como todas as
ações do soberano - seja uma assembléia ou um rei - são as ações de todos que o colocaram
no poder. Tal noção é de suma importância para o autor, ao ponto de considerar que qualquer
injúria direcionada ao soberano constitui uma injustiça, além também de um ataque tanto ao
próprio indivíduo quanto aos seus semelhantes. Com isso, até mesmo a punição sofrida pela
infração cometida ao soberano é tributária do próprio indivíduo que cedeu seu direito de
autogovernança. (§ 18)
2. Desse modo, também sistematiza sua conceituação dos pactos, nos introduzindo que nenhum
soberano pode ser destituído de seu poder mediante a um pacto anterior entre os homens, ou
um pacto que possa vir a surgir visando a renúncia do poder e a desobediência. Além disso, o
soberano não pode quebrar o pacto com seus súditos, estando estes impossibilitados de se
libertarem de sua sujeição. (§ 19)
3. E com isso, Hobbes lista os direitos que o soberano possui: (§§ 19-30)
a. Não ser morto por seus súditos, nenhum de seus atos poderem ser considerados
injustiça, uso qualquer meio para manter a ordem, controlar opiniões e doutrinas,
poder de escolha de quaisquer funcionários do Estado, implementação da noção de
propriedade, poder julgar quaisquer controvérsias que possam surgir envolvendo as
leis, travar guerras e acordos de paz com outras nações, recompensar e punir seus
súditos de acordo com as leis e conceder títulos de honra para seus súditos;
i. O autor busca sempre evidenciar que esses direitos constituem medidas
imprescindíveis para a manutenção da paz fazendo com que se evite que o
povo entre em estado de guerra.
4. Atribui aos direitos supracitados a essência da soberania, porém evidencia que alguns direitos
podem ser concedidos a outras entidades sem comprometer a manutenção da paz como o
poder de cunhar moedas e alguns poderes estatutários, e outros precisam necessariamente de
seu controle como, por exemplo: (§ 31)
a. Controle das milícias, pois caso haja alienação não conseguirá conservar o poder
judicial;
b. Controle da coleta de impostos, pois caso haja alienação não conseguirá controlar a
milícia;
c. E se renunciar o controle das doutrinas e das opiniões seu povo poderá se rebelar;
i. Nomeia tais poderes de essenciais e inseparáveis, não podendo nenhum deles
fugir do controle da soberania.(§ 32)
5. Utiliza de artifícios retóricos para discorrer sobre a validade do poder soberano, inicialmente
rebatendo argumentos de que o soberano, mesmo que possua maior poder que todos
indivíduos, todos indivíduos juntos possuem mais poder que ele. Para ele, tal noção constitui
um absurdo, pois a própria noção de um corpo coletivo necessita de um poder comum, do
contrário, são os indivíduos em estado de guerra, incapazes de serem considerados como um
só. Com isso invariavelmente o soberano se torna necessário. (§ 33)
6. Enfatiza que o poder e a honra do soberano deve ser maior que de todos os súditos, pois é na
soberania que está a fonte de toda honra. Além disso, busca legitimar o controle do soberano
aos súditos alegando que quem vive sob seu domínio possui melhor qualidade de vida, pois
do contrário viveriam em guerra. Também, explica que o soberano não busca recolher
vantagens atacando seus súditos, mas o faz pela necessidade de obter o máximo de recursos
para manter seu povo seguro. (§§ 34-35)
7. Conclui explicando que todos homens conseguem ver suas paixões e amor a si com maior
intensidade, fazendo com que qualquer pagamento seja visto como um enorme fardo.
Adicionalmente, os homens são destituídos da ciência e moral civil impedindo-os de verem
de longe as misérias que os ameaçam e cujo pagamento, ou seja, a submissão ao poder
soberano é parte essencial para mantê-las longe. (§ 35)

Sexta parte: Sobre as três espécies de governo e as diferenças entre as forma monárquica e a forma
de assembléias (democracia e aristocracia) (§§ 36-48)
1. Introduz as três formas de governo, que são: monarquia, democracia e aristocracia (sendo
suas ‘degenerações’, ou seja tirania, anarquia e oligarquia apenas nomenclaturas dessas
formas de governo por quem as detesta). (§§ 36 e 37)
2. Evidencia a importância de quando instituído o poder é necessário que este seja indivisível,
ou seja, pertença a apenas um soberano, pois do contrário ocasionaria a guerra civil. (§ 38)
3. Para o autor, em comparação com a monarquia, cujo interesse pessoal do rei representa o
bem-estar de seu povo, no governo de assembléia o bem-estar do povo não coincide de
maneira imediata aos interesses pessoais dos representantes. (§ 39)
4. Compara a forma de governo monárquica e a de assembléia em diferentes aspectos,
atribuindo à primeira uma forma mais eficiente e justa de gestão nos seguintes aspectos:
controle sobre o aconselhamento de ações, pouca inconstância das resoluções políticas, maior
coesão por conta do monarca não poder discordar de si mesmo e concessão de benefícios por
favoritismo levando em conta que o monarca possui menos aduladores que uma assembléia.
(§§ 40-43)
a. Conclui sua comparação exemplificando que, caso o poder monárquico caia na mão
de uma pessoa incapaz, como no caso de uma criança, é necessário que o poder seja
controlado por outro homem ou uma assembleia. Porém é preferível tal divisão do
poder soberano à falta de governo que leva a natureza da guerra de todos contra
todos. (§ 44)
5. Explica que mesmo que haja a impressão de existir mais formas de governo que as
supracitadas, deve-se levar em conta o que são na prática, exemplificando que mesmo que a
monarquia eletiva pareça uma monarquia, o poder soberano está nas mão de quem concede
poder ao rei, ou seja uma assembléia (nesse caso os ministros) e mesmo Roma sendo uma
assembléia do povo, a relação das nações subjugadas por ela é a de monarquia, pois estas não
possuem assembléia própria ficando a mercê da sede do império. (§§ 45 e 48)

Sétima Parte: Sobre o direito de sucessão das diferentes formas de governo (§§ 49-58)
1. Principia esclarecendo que por conta de ser mortal a matéria do poder soberano, isto é, quem
o compõe, é necessário que se mantenha uma vida artificial dessa pessoa que é o Estado por
meio do direito de sucessão, ou em outras palavras, a eternidade artificial (Hobbes, [1651]
1974 p. 123). Isso se dá, pois para Hobbes toda forma perfeita de governo há de ter o direito
de sucessão nas mãos do soberano porque caso não esteja, o Estado estará dissolvido e
qualquer um com poder suficiente pode se apoderar dela. Ademais. (§§ 49-50)
2. Nessa parte há uma explicação da relação de direito de sucessão entre as formas de governos
constituídas por assembléia: (§§ 51-52)
a. Na democracia não há direito de sucessão; (§ 51)
b. Na aristocracia é possível que haja concessão do direito de sucessão mediante à todos
membros da assembleia que a compõem. (§ 52)

3. Constata que há uma maior dificuldade na concessão do direito de sucessão na monarquia,


pois não é evidente quem o deve exercer, ficando sob juízo do atual possuidor. Cabe ao
monarca expressar por meio de testamento de maneira textual ou oral seu desígnio de quem o
irá substituir. Na ausência de um testamento é necessário que se passe o poder por meio do
costume, ou seja, a um parente mais próximo. Sem testamento ou costume, os filhos devem
assumir, sendo preferível os homens, pois para Hobbes “são naturalmente mais capazes do
que as mulheres para as ações que implicam esforço e perigo” (Hobbes, [1651] 1974 p. 124).
E nesse caso, não havendo filhos, é necessário que seja concedido o poder a um irmão mais
próximo. (§§ 53-57)
4. Conclui considerando que mesmo que um soberano passe seu poder a um estrangeiro, tal ato
não constitui uma injustiça. Para isso recorre ao exemplo romano, cuja concessão de direitos e
até mesmo o status de romano a nações estrangeiras conquistadas foram benéficos para se
evitar revoltas. Portanto, antes de conceder direito a um estrangeiro, o maior problema que
um governante pode ter é o desconhecimento sobre as regras da verdadeira política que
evidencia uma falta de habilidade. (§§ 58)

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