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[ou~ÃD lNAYAT KHAN

Formação do Caráter
A ARTE DA PERSONALIDADE
TRADUÇÃO DO JNGLllS
POR
ELVIRA L. JERMANN
2.• EDIÇÃO REVISTA
PELO
PROF. Joko CABRAL

RIO DE JANEIRO
1 9 4 o
1;: í

::

Formação do Caráler
A Arte da Personalidade

I•

...
liANUAIS DE CULTURA MORAL

Coleção INAYAT KHAN

Formação do Caráter
A ARTE DA PERSOHAUDADE
Tradução do Inglês por Elvim
L. Jarmann - 2.• ed. revista
pelo prof. João Cabral

·COEDITORA BRASJLICA
(Cooperativa)
~;-
PIRIDFA:CIO D\A EiDIÇÃO BRASILE,JRA

Esta edição brasileira das principais obras


do famoso escritor indú lnayat Khan compreen~
de uma série notavel de profundos estudos co-
brindo todo o campo dos interesses humanos.
lnaya.t Khan nasceu em Baroda, tndia, etn
Julho de 1882. Foi não s;omente um poeta e
soberbo musicista, como também um gmnde fi·
lósofo,· e assim foi justamente considerado o
mais brilhanfJe sucessor do seu mais velho co-
lega Rabindranath T·agore.
Pode ser com segurança afirmado que a
muitos respeitos as obms de lnayat Khan so-
brepassam as de seus !Coleg·as compatricios, es-
pecialmente, no $eu largo escopo filosófico, e
inspiração espiritual.
Um caráber saliente, m.esmo na sua :iuven-
txu.de, possuía ele muitas qualidades extraordi·
nárias, que se desenvolveram num ~·Jerdadeiro
gênio, durante a maturidade. Seu anseio pela
verdade era insaciavel, g, sob a orientação· dos
- Z:•
melhores preceptores e sábios da bulia, estudou ferencias nas cidades principais da Gran-Bre-
ele os mais profundos sistemas de FilosofW, e tanha, e conquistou muitos adeptos pan:t a osua
Misticismo Orientais. Seus poemas são gemas filosofia.
de original pensamento e suave beleza. Pro- Depois de visitar as principais metropoles
clamado o mais inspirado musicis•ta do seu tem- da Europa, residiu em Paris até 1926, quanclo
po, compositor, interprete do Vina (antigo e voltou á trl!dia. Foi nesses últimos anos que
original instrumento da índia) e eX!ímio can- ele pr.o.duziu suas maiores obras, e atingiu ?'e-
tor, muitos Prir/JCipes e Rajás da índia co~ nome como o sábio mais santo e o filósofo mais
feriram a /nayat Khan as suas mais altas con- mistic:o do seu séoolo. Seus li~·.ros foram publi-
d,e.corações. owdoos cxriginalmente na lng.laterra, e têm sido
Em 1910, ~·.iajou ele pela Europa e Norte- já .traduzidos em várias. línguas européas.
América, onde se exibiu em concertos e confe- A série das que nos ptopomos editar nesta
rencias sobre Música Oriental, Pensamento I~ coleção, em ~·.ernaculo, compreende:
diana e Religião, tendo sido então admitido a 1) Frormação do Caráter. A Arte da.
executar perante o Rei George V e o Csar da Personalidade.
Rússia. 2) O Objetivo da Vida.
Na Assembléia Internacional de Musicistas 3) A Saúde.
reunida em .Moscou, 1911, seu discurso a res- 4) A Edwcação.
peito dos mais profundos aspectos da Mú,sica 5) A Cultura Moral.
obteve o elogio de Debussy, que assim se mani- 6) O Mundo do Espírito.
festou a Sibelius: "Lá orl!de a nossa música oc-i- 7) A Vida Interior.
dental atinge o seu Zenite, aí começa a Música 8) As Artes.
Orietnal de /nayat". 9) A Linguagem Cósmica.
Mororu na Inglaterra durante muitos anús, 10) O Misticismo do Som.
e foi uma vez apontado pela imprensa we Lon- 11) A Filosofia.
dres como "a figura mais nobre que jamais 12) A Alma, de onde vem e para ond~
atravessara Bond Street". (Como se sabe, esta vae.
é a "Rua do Ouvidor" de Londres) . Deu con.- 13) O Caminho da Iluminação.
l

XIÍ

H) O Jardim das RosM.


15) A Unidade das Idéias Religiosas.
16) O Vadan, ou A Sinfonia Divina.
17) O Gayan, ou A Música do Silencio.
O nossoesforço, nesta parte da nossa vasta
obra de cultura, de certo será bem recebido e
compr.eendido pelo grande público da língua na·
PREJFAOIO DO .A!UTOR
cional.
SHABAZ
"Assim como a natwreza toda é creada por
Rio de Janeiro, Deus, assim tambem a natureza de cada indi-
viduo é creada por ele mesmo" ("Gayan"). Os
Julho, 194,0
Hindús chamaram á manifestação "o sonho ú.e
Brahma" . Que é sonho?
No sonho, entram em pleno jogo o pensa-
mento e o sentimento, os quais se tornam intei-
rarmente v1ívidos.
Deste modo, a. natureza do homem é a ma-
nifestação do seu proprio pensam.ento, como "a
sua fisionomia é a. imagem dos seus pensa-
llii mentos".
Nela se manifesfJam as imptressões que el!3
recolhe.
Desde o 10omeço, ·.e durante a ~·tida inteira,
I' cada indiv:íduo crea sua natureza p8las impres-
sões reco~hidas e que se tornam seus atributos
I! e qualidades. "A unica coisa que se crêa através
~ vida é a natureza, do indiv•íduo" (" Gayan") ,
li
'1.
1

XIV

O homem póde fazer sua natureza tão bela


quanto deseja.
"Uma personalidade encantadora é magní-
fica obra de arte, a que se adiciona vida'·'
(" Gayan") . "Uma personalidade encantadora
é grande riqueza". ("Nirtan"). Êsse é o te-
souro que o homem "acumula no céu", como FORMAÇÃO DO ÓARATER
disse Cristo. "Aqui começa o reino dos céu.~".
"A arte da personalidade torna o homem I
capaz, não sómente de se satisfazer a si mesmo,
como tambem de agradar a Deus". (Arte da A força de vontade representa um grande
persona:lidade). papel na formação d'o caráter. E fra:ca se toma
quamdo uma pes·SÔ·a cede a qualquer pequena
tendencia, inclinação ou capricho que tenha; e,
qua.ndo uma pessôa combate qualquer pequeno
capricho, tendencia ou inclinação, aprende 1a
lutar contra si mesmo, e dessa maneira dese~n­
volve a força de vontade. T'oda vez que as in-
clinações, os caprichos e as· tendencias de· uma
pessôa sobrepurjam a su'a força. de vontad.a, en-
tão experimenta ela, na vida, a sensação de exis-
tirem diversos inimigos. dentro de si mesma e
adhia dificil combatê-los.
Pois tenderucias·, i.n:clinaçõ·es· e caprichos,
qua,ndo poderosos-, impedem a força de vontade
de agir contra êles.
Si alguma coisa existe, que se possa chamar
abnegJaÇão, é a .prátic.a da força de vontade, e,
16 INAYAT KH,AN FORMAÇÃO DO CARATER 17

por essa prrática chegamos a adquirk, com o serem empreg1ados atraVIés a luta d:at vida ex-
t€mpo, uma forç.a, /que se póde chamar - do- terior e interior. Ter pen~ .de si mesmo é a
mílllio de si mesmo. -Em pequenas coisas da peior .pobreza. Quando uma pessoa diz: Tenihv
vida diária, des!prezamos ·esta .consideJração, .por pena. . . disto ou daquilo, diminue a metade
pensarmos assim: - "tais são minhas tenden- do 'seu valor antes• de pross·eguir, e o que ela.
cias, meus c.apriCihos, .minhas i·nclinações e, res- disser mlais esmorecê-la-á totalmente. No mun-
peitando...os, reSipeito a mim mesmo ; cornside- I do, lha tanta coisa, :de que nos podemos apiedar,
rnndo-os, coms·idero a mim .próprio". Esquece- e de que ;teriramos dirteito de ter pena; \POOOII4
!m.()-'1108 de que aquilo, a que chamamos meu, si estamos ,preocupados sempre oonosco, não
minha, não é da prop·r ia :pessôa ; é a:quilo que temos tem·po de vol>tar nosso pensamento para.
se quer que seja dela. Assim, na própria ora.. outrem 1110 mundo. A vida é tU'Illla l0111ga jor-
ção dos cristãos, está dito: " ·s eja feita a T:ua ~nooa~ e, quanlto mais pa;rn trás deixamos: o
Vontade", o que significa a Tua vontade obran- n:osso .egoísmo, funto .mais progredimos para
do através de mim; por outras palavras: a mi- a. perfeição.
nha vontade, que é a Tua Vontade, seja feita. Na verdade, quando perdemos o falso Eu,
Erssa ilusão, de confundir o qu·e possuímos, com desoobrimloo o Eü verdadeiro.
o nosso proprio eu, é que géra, toda a ilusão e
afasta o homem da compreensão de si mesmo·. A
vida é uma batalha contínua. O homem luta con-
tra coisas extranhas ao seu espi.rito., e assim I
dá Ciallllpo .aos inimigos, que existem dentro no
.seu :prqprio ser. Por co!lJS:equencia, a coisa mais
necessária na vidla é dar uma trég"Ua aos cui-
dados e.xileriores, arrim de .preparrar-se para a
guerra, que s•e tra'V3Jl"á interiormente, no pró-
prio espírito. Uma vez rea-lizada a paz int€-
rior, obter-se-.~ fw~a e .pod·e r suficientes para

I
-
1,. FORMAÇÃO DO CARATER 19
I•
E.ssa é a ,prova, pel:a qual se pode distin-
guill' a alma pueril da alma do ancião. A a.lma
pueril dará livre curso a qualquer sentimeillto,
aso passo qoo a alma do andão ferirá a nota
mais alta a despeito de qualquer dificuldade.
Ria momento em que o riso deve ser contido,
II e lha ocasiões em que as lágrima.s devem ser
arrastadas. E aqueles que tenham1 chegado a
Na formação do caráter, o que mais se ne- esse gráu de po,derem desempenhar eficazmen-
cessita. aprender é o modo de elliCarar o mnmdo; te a ;p31fte que lhes couber neste .drama dá
o mundo onde se encontram pezares e dificul- ·, vida, eSJSes têm poder mesmo sobre a expressão
dades, pvazeres e sofrimentos. E' muito difi- da própria fisionomia; podem até tornar suas
cil ocultá-los do mundo, tais sentimentos; ao lágrimas em risos, ou risos em M:grimas. P'efl-
mesmo tempo não se compreende que uma pes- g.untar-se-á : "Não é h~pocrisia deixrur de ser
sôa ipl"Udente esteja a mostrar a todos, nem a natUI'Ial ?" E respoa1deremoo :
cada mo:rnento, o que ela sente. Ao contrario, aquele que tem controle SOJ-
A pessôa vulgar, maquinalmente, resiste I
bre a propria mtureza, é mais natural; não
a inflmmcias ~xteriores e impulsos interiores; é somenrte natural, mas tambem senhor da na-
e, desse modo, mlllitas vezes não pode ti:rar .par- I
tUJreza; ~a:q~uele que não tem poder sobre a. na-
tido da música da vida. tureza, ape7iar de sua naturalidade, é fraco.
Para um sábio, a vida é uma sinfonia, na Alem disso, é precioo compreender que a
qual tem ele de executar certa p•arte. Si al- ver.dadeira civilização quer dizer arte da vida.
guem se sentisse tão desanimado que o coração Que arte é essa? Et o conhecimento da
Lhe repercutisse notas mais graves e a vida música da vida.
requeresse, nesse momento, sons mais agudos, Logo que uma alma tenha desrpertado para
ele reconheceria uma falha m sinfonia justa- a conttnua música da vida, essa alma, C()Qlside-
mente II1ial ocasião, em que tivesse de executar mrá como sua responsabilidade, como seu de-
a sua .p arte com segurança. ver, desempelll'har seu rpapel na vida exterior,

li!
I

20 INAYAT KHiAN FORMAÇÃO DO CA'RATER zi

ai111da que sej~ isso contrário á sua condição que deve executar ca.da músico• em toda a sin-
interior, no momento. fonia. ES!tia é a .ooimreza de nos·s as vidas . Quan-
E' prectso •saber, em cada momento da vida to mais progredimos na ,p arte que tomámos
diária que é que a vida exige de mim? Que nessa orquestra, talllto miais eficientes ros tor-
me ;péde ~La? COmo respooderei ás suas exi- naremos na, execução satisfatória de noss:a par-
gencias? f:sso .r equer q1ue se te.n ha despertado te na sinfonia da vida. Qu:e é necessario para
completamente pall"a, as condições da vida. E' nos .toomarmos capazes de ter esse controle so-
preóso que se coooeça inltros·pec'tivamlente a bre nós mesmos? Devemos ter co,ntrole sobre
Jl!atu:r:eza humana, e que .sejamos capazes de no,sso .proprio :íntimo, porque toda a ~ifesr­
co111hecer perfeitamente ~ mossa própria con- tação exterior 111ada ma,i.s é do que a rea?ao .d0
dição. Si alguem diz: "Eu sou como sou. Si estado interior. Por conseguinte, o pr1meno
sou triste, sou triste; :si sou a.legre-, sou alegre"; controle que se deve adquirir, é o controle SO'-
não está bem assim. A terra mesmo não su- bre si ~esmlo, S'Oibl'ie o proprio intimo, o qual
portará aquela pessôa que não corresponder ás se consegue fortifica;ndo a vontade, e tambem
exigencias da vida. O céu não tolerará essa compreendendo melhor a vida.
pessôa, e a escfera não acomodiará quem .não
estiver apto a dar o que a vida l!he pede. Si isso
. [1, rfôr verdade, então é melhor que seja feito de
'b om grado, espontaneamente. Na orquestra, ha
.um regente e vários exec.umntes; e cada um
dêstes, il10 seu imstrumento, ha de conltribuir
para uma execução perfeita. Si um músico fa-
lha.r nessa execução, a culipa será sua.
O reg~ente da orquestra não o atenderá, si
o ·e xecutante disser que l!lão tocou bem por es-
tar triste ou demasiad!aimente alegre. Não se
1: imporia o regente com es·s a tristeza ou ale-
~ria. ~s~ se im:portané{Q SQ<rn.'€.l1te COlll a :pa.rt~
T V

:F'ó:RMAÇÃO DO CArRATER 23

que ainda lllão acabou: de !f'a:I:ar; dá-se ~ res-


po;s:t.a antes de condu ida a frase . Similhante
resposta, dada a uma idiéa, incompleta, muita·s
v1ezes não é certa. O que acontece geralmente,
em tais caoo,s, é que, ~na vida, tomamos dema-
siado 1a :sério tudo aquilo que no-s che:g~ de fóra
III e permitimos que as cousas e :Lnfluencias ex-
terior·es, em noo.s10 íntinw, penetrem mais pro-
_ Na ;ida quotidiana, dura.nte a conversa- funda~Jllimte do que é devido. Em tal modo,
çao e os atos, o que é mais necessário é te.r con- nos tornamos sensíveis demais, surgitndo, en,..
trole sobre a ~eira de .fraJar ou de agi.r , por- tão, o rnervosismo.
q~e, auJbomB!tidamente, por um impulso inlte- I
Para se praticar o oontrole de si mesmo,
rwr, . u~ palavr~ ou: outra, que •noo escapa, em todas ws cousoo da vidla quotidiana, o me-
ao .depms achamc)s não deveria rter sido pro- l!hor é desenvollver, oo caráter, certa soma de
ferldia-, ou ta]vez pudessemos dizer de lou'too indifer.enç!a. Nem ·t oda pa1awa, que se diz a
n_:odo. O mesmo aoontece com a ação. A peg:.. alguem, deve ser tomada .numa importlMicia tal
soa sente: "eu lllão deveria ter feiro assim" que 1he transtorne rtodo o sêr, ·p erturbe o equi-
depois de fazer ~lguma cousa, ou pensa : "e~ líbrio merutal, e :prejudique a força de vOIIltade.
deveria ter feito isso diferentemenite"; mas, Ha cousas na vida quotidiana, que têm im'pOr-
u~a vez realizado isso, é demJasiado tarde para tamcia, mas ha muitas outra:s que são insignifi-
a:g1r de outro modo. Em nosso natural, existe cantes, e muitas vezes estam10s :prontos a atri-
cer.t a pressa interior em nos· exprimirmos·; essa buir-lhes uma força indev:Lda. A independen-
urgencia de assim falar nos leva a deixarmos cia completa-se com a indiferença. Isto não quer
escapar a palav:ra anltes que tenha:mos tempo de dizer que não se deva prestar atenção ao que
pensar IIlel~; e tud() isso mostra a carencia de alguem diga ou faça; quer dizer somente que
controle robre nós mesmos. E', tarubem isso devemos disti.nguir as coisas important€s das
li, um sinal de lllervosismo. Muitas vezes, umr:
pes<Sôa se ~força ;para responder a allg.uem,
imsignificantes tnJa vida diária; que todas as
coisas necessárias e desnecessárias não devem

:
T

FÓRMAÇÂO DO CARÀTER 25
24 INAYAT KHA:N
quer forma impede al:guem de ;p rogredir, si o
exigir de nós a mesma a-tenção, o mesmo pensa- leva 31 um a oondição peior.
menrtJo ou sentimen:to. A economia po.Jitica tor- EIJJtretanto, é muitíssimo necessário con,h e...
nou..,se um asSiulnto die edue~ação, mas a eco... oor a ciencia dia economia espi·r itual, saber de-
nom!ia espiritual, em ·religião, é a cousa prin...
ci:pal. Tudo ·que S'e diz e faz, tudo que se pensa fen der-se contra todas as influencias na vida
diária, que ~nos vêm ,p erturbar a tra-nqmTd I a
de
e sente, .atua de cevta. maneira sobre nooso es-
I e a paz da alma.
pírito. E' ;pl'udente evitar quiallquer oe!asião de
perdermos ;IlJOsso equilíbrio. Devemos manter-
oos em paz, porem firmes c01ntra 'todraS! as in-
I~ fluencias que rperturbam noosa vida. A oossa .
\
t~ inclimaçãol narouml é prura resrpiondermo:s', em
I•
defesa própriia·, a qualqwer ofeniSa, que n10s ve- I

nha de fóra, e perde..:se com isso o equilibrio


11
mental. Por cOilliSeguLnte, o controle sobre si
mesmo é a chave de tod'o êxito e de toda fe-
r: licidade.
AJ.em disso, ha m:uitos que têm ipressa e se
sentem na. obrigação de dizer ou fazer certas
\i co:LS'as, ~Oillliente J>OI"qUie al guem lhes pede, e,
1
li 1

a.ssim, se tornam cada vez mais fracoSJ; oubros


ha que reagem energicamente c001tra isso; e,
neste camirillio, ambos estão em erro. Aquele,
que é capaz de oons·e rvar seu >equilíbrio sem
se rn10lesta.r ou 'perturbwr. adquire ess a auto-
1

[I ridade, que é necess:á ria n!a evolução da vida.


Nenihum principio deve ser cegamente s~eguido.
A economia es,piritua;l nem sempre é uma
-3
virtude, si perturba !a harmonia, si de qual-

I
t
T

FORMAÇÃO DO CARATER ~

tr.e mui.tos dos nossos oonhecidoa e relaciV<-


li nados.
,., Excetuarndo os amJ.gos, mesmo erntre rela-
ções comuns, tal consideração é necessária;
devemos guard1a'l' cuidadosamente o ténue fio
J
que une duas a-lmas, qualquer que seja a sua
IV estima ou capacidade.
I "Dharmra", rn!a: língua dos tndús, s-igl!lifica
E' uma ooi&a de máxima importamcia, na rel:igião, mas a significação verbal dessa pa-
formação do caráter, a :pessôa, tornar-.se côn- I
laVim é dever. Isto nos SIUgere que a relação que
cia dos .próprios vírnculos, obrigações e deve- enrtretemos com qualquer pessôa no mundo, é
res para com as outras pessôas·, no mundlo, e uma reliigão e, quanto mais concienciosamente
li não confundir esse rélo e conexão estabelecidos
entre ela mesma e o outrem, com ·~ma terceil·a
a seguimos, mnto mais elevado nos mostramos
no seguir nossa própria religião (1). Guarda'!' o
pessôa. segredo d.e no.soo amigo, de pessôa de JliOS!Sas
Deve-se pensra r que tudo que é confiado a. relações, mesmo daquele com quem tivemos em
alguem, por quem quer que seja, é por con- tempo ·r.essentimento, é o dever mais sagrado.
fiança própria, e cor,responder com sincerida- Aquele que assim compreende sua religião,
de á cornrfiança de todos é um dever sagrado. jamais consider~rá 1direito contar a outrem
De&te Jru}OO, a relação harmoniosa se es- quallquer ofensa ou agravo que de seu amigo
tabelece oom qualquer pessô&; e a harmonia tenha recebido . E' rn,isso qrue aprendemos a ab-
i
estabelecida com todos é que faz afinar a a.Jma negação, sem jejuns e .r etiros no deserto. O
com o infinito. Requer um grande estudo oobre
a natureza humana, além die tino especiatl, co•n-
i
J
homem côncio de seu dever, das suas obriga-
servarmo-nos em termos hamiO!niosos com toda l
e qualquer pessôa. Si temos admiração ou nn-
1) Não sómen.te na lingua dos Hindús. A própria
li cor por aJ~uem, é melhor exprimi-lo direta- palavra - religião - das linguas ocidentais, provmda
mente a es!Se aJguem em vez de o propalar en- do Latim, significa etimologicamente - estar ligado com
outrem - religo, religare, donde religio!
28 INAYA'r ldtA:N FORMAÇAO .DO CAIRATER !9

ções para com seus a.migos, é mais p.iedoso do J !Illhecimento ape111as de si mesma e do que ela
que outro retira-do no isolamento. Aquele que : almeja, absorvida mos pró;prios prazeres e des-
está na solidão não serve a Deus, serve unica- gostos, obsedadru pela sua continua mudança
mente a si, go2:ando o .prazer da solidão; mas de humor. A alma, anciMl observa a relação
aquele que demonstra confiança em todos os entre ela e cada outra alma, s1atisfaz hahil-
seres que enconltra, e oonsidera- suas relações merute ,s uas obr1g;ações para com todos que co-
e conhecimentos, pequell\os ou gT1a1ndes, como nhece. Oculta as próprias feridas, si é que as
alguma cois·a sagrada, observa certamerute a tem, das vi,s tas alheias, e tudo suporta para
; I
lJei espiritua;l dessa treligião, que é a religião oumprir seu devtm', oom a máxima habilidade,
I~ de todas as religiões·. par.a 100m todo mumdo.
tt ~a1~s? Todos nós as temos. Nós mesmos, I

.nossots a:rnli·gos e nossos inimigos., todns estanw1s


sujeitos a elas. Aquele que deseja não s1e jam
[;
I descoberta1s as próprias faltas, deve pensa.r ne-
,, I cess.arira mente do mesmo modo iPara com o pró-
,I ximo. Si a.lguem sabe apell!aB o que é a relação
da amizade enltre uma e outra alma, a ternura
dessa união, sua delicadeza, formosura e sra nti- I
dade, póde gozar a. vida em sua plenitude, por-
lt
que esse está vivendo e, desse modo, algum dia l
I
ha de comunicar-se com Deus. Essa mesma
p:o!Ilte unindo duas almas é que, uma vez cons-
truída·, se ix>r:na o caminho para Deus. Neste
mundo, não ha. maioc virtude do que ser bom e
sincero para com o amigo e ser digno de sua
confiança. A diferença entre a alma ancian e
a alma juvenil tem de ser encontra;da neste
particular principio. A alma juvenil tem eo-

I
1. 1
FORMAÇÃO DO C~RATER J,l

I um livro. SutHeza de percepção e sutileza de


expressão insignias são do sábio. Sábio e to1o
distinguem-se .pela fineZ!a de um e rudeza do
ollltro. O homem car.e nte de sutileza precisa
que a verdade s·e tr.ai!liSforme em pedra, e o su-
til transformará a .pedra em verdade.
I Para adquirir conhecimento e:s piritual, re-
v ceber inspiração, preparar o coração ;para a
rev;elaçãiO interior, é .p reicso a pessôa.. esforçar-
Sutileza de ca.ráter é s.inal de inteligencia. se por crear a propria mentalidade antes ma-
Si uma pessôa proceder corretamente, prati- leavel como a ag"TUa do que impenetravel como
cará o bem com es:sa riqueza de inteligencia, a ll'ocha; I)O·ÍJS, qu.anto :ma-is prosseguir uma
IIll:aJS, si. toma.r uma di:reção er:rOII1ea, iPOder.á pessôa no caminho do mistério da vida, mais
abusar dessa grande foouldade. Uma pessôa sutil deverá tornar-se afim de perceber e ex-
sutil por natureza, !COmparada a lliina que não primir o nüSltério da vida. Deus é um mistério.
possue essa qualidade, é como o rio e a mon- Seu conhecimento é um mistério, a vida é um
tarnha. A pessôa .sutil é tão ductil como a agua mistério, a natUil'leza hu.Inalna é um mistério;
li corrente, tudo qu·e aparece deam.te dela nela se
reflete t~ cl·a ramente como a imagem na agua
J em resumo, no fundo de qU!aliquer conhecimento
está um mi&tério ; assim da ciencia como da
I .pura. arte. Tudo que é mais misterioso é mais pro-
A pessôa pa:recida. com a 'r ocha, isto é fundo. O que todos os p:rofetas e mestres têm
desprovida de sutileza, é similhante á monta~ feito, em ,t odos os tempos, é eJQprimir esse mis-
nha, .n ada ·oof1ete. Muitos admiram a lingua- tério em palavras, fatos, pens1a mentos e sen-
gem chan ; isso, porem, é falta de COffiJP'reensão timentos ; a maioria dos mistérios·, porém, é po~
da fina sutileZ!a. Podem ser todas as coiJsas cles expressa em silendo. Porque, então·, o
I e:lq)ressas• po,r P!a1avras? Nãp ba. nada mais mi,s tério está oo seu logar. Fazê-lo baixar á
Iii belo, mais sutil do que a ;paLavra falada? Aquele terra, seria o mesmo que tirar um rei do seu
que rpode ler na-s ·e ntrelinhas, faz de uma carta tvono e tra741ê-l<> de rastro pclo chão; mas, per-
32 INAYAT KHA:N FORMAÇÃO DO CARATER 33

mitindo que o mistério permaneça 1110 seu logar, Não é pr€ciso apregoar, "simpatiso com
isto é, ::ruas esferas silencio·sa.s, é oomo que pres- você, meu caro amigo! •• Nem · tão pouco .t ocar
'ta!r homenag;em ao Rei, a quem todas as honras o tambor: "E:u .perdoei al-guem !" Tais coisas
são devidas . Aparte os mistérios da vida, nas são belas, sutis, hão de ser sentidas ; nenhum
pequeThaB coisas da vida. diária, quanto menos barulho pode exprimi-las; o rui do concorre ape-
palavras forem 'US•adas, tanto mais proveitoso nas paTa eSJtragar-lhes a beLeza e tirar-lhes o
será. valor. Nas idéias e nos pensamento·s espirituais,
Jul•gaes que maior número de ,pal•avTas ex- a suti1eza, é mais necessária do que em qualquer
plica melhor? Nlão, absoLutamente não. De- outm tCIOisa. Si uma ,pessôa espiritual tiver âe
monstram somente nervos·ismo aqueles que di- levar suas :idéias ao mercado, e discutir com uns
zem 'Uilll cento de ,palavras pa·r a exprimirem e outros sobre !SUas crenças e descrenças, onde
uma ooisa que, em duas, pooe ser perfeita- iria ela acabar? Que é que faz o homem espi-
mente explicad~; ~. quanto ao ouvinte, é falta ritual harmonizar-se com toda gente no mUIDdo?
de 1nteligencia, si ele tambem necessita de mui- A chave, que ele possue, para a arte da conciila-
tas paLavras !pa:ra compreender o que pode çãlo, é a sutilez;a, tanto na, .percepção como na
igualmente ser e~plioado numa só. expressão. E' falta 1de: Í'ranlqueza, é hilpoorisia
Muitos pensam que mais pala;vroo. [podem ser sutil? Não, de forma alguma . Ha muitas
explicar melhor as coisas, mas ignoram que na pessôas que são desabridas, tão pronta<s a di-
maioria das vezes, quanto mais palavras• são zerem a verd!ade, quanto a martelarem a cabeça
ditas tanto mais velada e obscurecida !fica a de outra, as quais orgulhosamente sustentam
idéia. No fim, a gente vae .pela mesma porta sua franqueza, dizendo: "Não me importa que
por onde ~trou. isso ofenda ou irrite al~uem, estou apenas fa-
Respeito, IC<msiderlação, reverencia, bo,nda- lando a velidade". Si a verdade é tão dura quan-
de, compaixão e simpatia, •es.pirUo de perdão e to um martelo, ,nunca deve ser dita; ninguem
grati.tuide, todas ~ssa.s virtudes pódem ser me- no mundo poderia seguir tal verdade!
lhor adornadas pela sutileza de expressão. Não Ond1e eSitá, então, essa verdade, que é pa-
é neceSisa.rio exceder-s•e em agra.decimentoo. Uma cifÍ!Ca:dora, que acalma, que é confortante para
palavra de reconihecimento é o ·b astante. cada cor.ação e cada .alma i ess•a verdade, que
34 INAYAT ~HA;N
i]
eleva a alma; esrs.a. verdade, que é creado.ra da
harmonira e da beleza; onde está essa verdade?
E,g.sa verdade illasce na .sutileza de inteligencia
~o pensamento, .na. linguagem e na açoo da d~
hca~eza, que traz prazer, confôrto, helez·a, har.
moma e paz.
VI
Ha duas atitudes, que dividem o povo em
duas secções : a primeira atitude é a de uma
contínrua queixa, e :a outra a de um constacnte
sorriso.
A vida é a mesma, chamem-na bôa ou má,
certa ou errada; ela é o que é, não pode ser
de outro !lll!Odo.
Uma pessôa, para obter a simpatia de ou-
I tras, e mosrtra:r-lhes suas qualidades e, algumas
vezes, mostrar-se mais i1nteligente, justa e com
direito, lamenta-.se. Queixa-se de tudo; de seus
amigos, de seus inimigos, daqueres que ama e,
I muito mais, .daqueles que ela odeia. Lastima-se
desde ;pela manhã até á noite, e lllunca :t êm fim
suas lamentações. lr8Sio pode extender-se de tal
modo que, pa·r a ela, o ttemiPO nã.o é bom, o ar
não :é bom, a atmosfera illão é bôa; ela. é oon-
tra a terra e contra o céu, aclla er•r ado tudo que
os outros faZ€1m; finahnente, esse estado se de-
senvolve a tal ponto que a pessôa começa a des-
gostar'-se das suas próprias obira;s, acabando por
36 INAYAT KH;A:N FORMAÇÃO DO CARATER 37

se desgostar de si mesmo. Dessa forma, se re-- tia: "Como está?" de certo, alimenm el<a den-
volta ela conrtra os outros, contra as condições e, tilro de si mesma, oom a tendenda de se quei~
finalmente, oorutra si própria. Não pensem que xar, o ,g ermen da doença. . . . .
eUe é um caráter raro de encontrar....se no mun~ Neste mundo, a nossa vida cheia de hml-
i do. E' um ca.ráter que se enoontra frequente- tações, e a natureza dos· colllfortos e prazeres
mente e, por certo, aquele que tem essa atitude mundanos, too variaveis e indignos de con:-
é o .p eior inimigo de si mesmo. fiança; a falsidade que se encontra em. tudo, e
O indiv:íJdup com uma aJtitude correta de em toda pal'lte, si nos puséssemos em abtUJde ~e
espirito chega a te~ntar fazer do torto direito, queixa a respeito .dêles, toda a existencia sena
mas aquele que tem uma rutitude de espírito er- curta par& deles nos queixa!'IIDO.S: ;pl~nam~te;
rada converterá até o direito em torto. Afém de ~da momento da nossa vida decorrerria cheiO de
que, magmetismo é ,uma cúisa n€Cessária a toda iamentos. Mas o meio de sairmos disso é vol-
alma; sua ausenda torna a vida penosa. A ten- tarmos a vista ;para o 1ado a.gradavel, para o
den:cia para ver tudo to!l.'tlo r!Oub~nos uma gran- ·lado brilhante de .t udo. Especialmente aqueles
de parte .desse magnetismo, que é .muitissimo que procuram Deus e a Verdade, para :_sses, ~a
necessário :á vid;a,. P\>is a natureza da vida é tal alguma. coisa mats, em que tpensar; ... ele,s. n~
que, por natureza, a exisrtencia da multidão re- precisam Ide saber quanto uma pes~oa e m~ ·
jeita cada ,q ual e aceita unicamente aqueles que quando opensarem nAquele Que esta por tras
entram na multidão com a força do ma.gruetis- dessa pessôa, nAquele Que está no ooração dessa
m'O. Por outras .pal•av-ras, o mundo é um logar pessôa, entoo, olharão esperançosos para ~
onde não re poderia entrar sem um passaporte, vida. Quando virmos as co-isas mal: feitas, s1
e esse passaporte é o magnetismo; aquele que pensarmos somente nisto, que atrás ~ todas _a.<>,
não o ;posstuir será rejeitado em toda parte . obras está DeUiS, Que é justo e perfeito, en:tao,
Além disso, muita gente encontraremos sempre mos tol"'laremos com certeza mais confiantes .
a queixar-se da s.a ude. Pode haver uma razão, A atitude de vêr tudo com um sorriso é
e a~g;umas vezeS! uma razão bem pequena, de sinal de alma santa.
fá to demasiado pequena par.a que se mencio-ne. Um sorriso dispensado a um amigo, um
Qwanldo ,uma ~pes,s6a iSe ac10stuma a responder ·s orriso mesmo 1pa1ra um inimigo, vencerá final-
negativamente ao ·~r interrogada com simpa-

I'
____i
ÍN.A YA T ~H:AJN

mente, pois essa é a cthme do co~ação do


homem.
Como a luz solar, do exterior, ilumina todo
o munido, ,assim a luz do sol do interior, si êle
se 1evaJilfta, ilurmil!la toda a vida, apezar d.e to-
dos os erros aparentes, .a;peza.r de todas as li-
mitações. Deus é felicidade, a alma é felicidade, VII
o es·pidto é [eliddade. Não ha loga.r para tris-
tezas no reino de Deus. AqueLe que priva o ho- O mellhor meio de agir em todoo a;s dkeções
mem da felkidooe o priva de Deus e da Ver- da vida, no interior de nossa casa, ou fóra, é
dade. Póde-se começar a aJprender como sor- agir silencÍIOIS<amente; ooisa, em que tão pouco
rir, apreciando !Cada pequenina coisa bôa, qu~e pensa muita gente, e qwe é tão necessária para
se ponha em nosso caminho du<rante a vida, e crear a ordem, a. harmonia e a paz na vida.
não rpresta.ndo atenção ,a cada coisa má, que não Muitas vezes, uma pessôa faz pouco, e fala
gostamoo de vêr . muito a respeito do que fez . Ao executar cada
Não !!lOS deixemos perturbar demasiado J)Or ~1\lena coisa, fazemoo haru.l:ho, ~ dessa forma-,
coisas desnecessá·r ias na vida, as quais nada cdmumente, em vez de terminar a obra com êxi-
mais nos trazem dJO que desgosto. E, ;encaran- to, atrafmPs dificuldades. A prim<eira coisa, que
do a vida. com uma atitude de espirito cheia de deve ser I.einbrnda, na formação do ca.ráter, é
esperança, com uma perspectiva otimis.ta, o ho- oompreender o sregredo e a feição da natureza
mem terá forç.a para transformar o errado em ihumana. P·reci:samos sa~ber .que, no mundo,
certo, .e levar luz aonde tudo fôr treva. cada inldw~duo tem o seu objetivo, soo próprio
Bom humor é vida, máu humiOr é morte. itnteress•e e seu :pon<tro de vista, e que está sem-
A vida aJtrae, a morte repele. A luz do sol, que rpre ligado ~om o que é concemente a. êle. Sua
vem da alma, S!U< r ge através do coração, e mani- paz é per:tur.bada quando qru<er€1ID.os interessá-lo
festa-se no sorriso do homem, é realmente a em objetivo de interesse nosso. Por mais J)Tó-
luz do céu. Nessa luz, muitas flores crescem xima e querida que seja tal pes'SÔa, si qu[zer-
e muitos kutos amadurecem. mos forç:á-la '0 0 no•sso ponto de vista não lhe
4Ó íNAYAT :kít'A:N l<'.ORMAÇÂO DO .CARÀTER 41
sel'lá isso agradave1. Pouquissimos, tomam isto traba,1ho, que uma só pessôa .pCJdel"i·a acabar
em considereção; e desejam despejar os .p ró- com facilidade.
prios embaraços e dificuldades sobre algu€m, A turbulencia vem da inquietação, e a in-
que próximo se encontra, pensando assim: quietação é o sinal de tammas, o ritmo des-
"Todos têm o mesmo interesse que eu tenho no truidor. .Aiqueles que ttêm obtido algum êxito
meu objetivo, e o mesmo ponto de vista", e na vida, e:m quaLquer direção, não o têm feito
que "todos ficarão oonten.tes onvind,Q minha simão devido ao trabaàiho silencioso. Em :ne-
historia". gócio, indústria, &r•te, ci'encia, educação, poH-
Conta-\Sie que a.l!guem começou a falar de- ti:ca, em todas as direÇJões da vida, o trabalha-
ante de ;pessôa dele a pouco tempo conhecida dor sábio é o tlrraha,l,h ador qu;ieto. f:lie faJ.a a
a reSipeito de seus antepassados. E tanto falou, respeito de qu.aliquer cois·a a. seu tempo, nunca
que esgotou inteiramente a. paciencia do ouro antes. Aquele rque [a:l.a sobre uma coisa amtea
vinte. Este, af1nal, pôs termo á história, de- de terminá-la, é como uma cozirul'eira que .anun-
clarando á pessôa que lhe falava: "Si eu não .cia as iguariiaS a toda. a visinhamça, antes de
me interesso em saber a história dos: meUS! an- estarem promtas. Conta--se no Oriente uma
tepassados, que interesse posso ter em saber a históda de um serviçal entusias:marlo. O patrão
dos seus?" esta;v:a com dôr .de cabeça e disse ao creado que
Hia muita gente que sente grande entu- fosse á farmáJcia ·b uscar um remédio. O crea-
siasmo em oontarr a seus visin!hos qualquer res- do pensou qwe lllão seria bastanlte buscar um
friado ou tosse que tenha; cada .pequeno ga,nho medicamento á !farmácia; marcou tambem uma
ou ,perda, embora minimos, sentir-se-ia feliz em entrevista com ,o médico e, de volta á casa, v.i-
anum.ciar a toque de caix.a e de corneta. Isso sitou a emp.r eza funerária. O patrãio ,perg:un~
é !INlla qualidade infantil. Essa tendencia mos- tou: "Porque tanto demoraste; ;p or que vens
tra uma alma de criança. Algumas vezes, ess·a tão tar.de?" O crewdo respondle.u: "Mas eu ar-
tende:ncia amedronta os aJinigos e auxilia os ranjei logo tudo, meu se.nhor".
inimigos. Qll.liem trabalha com rumor realiza O entusiasmo é uma gramde coisa na vida.
pouco, pois atra,e, pelo baru.l!ho, ma-is dez pes- E' creadior e u.ma c'have para <J sUJCe"sso, mas,
sôas rpara vi'r·em, intervirem e estraga.rrem o em demasia, algumas vezes prej .1dica.

-~
I NAYAT KHAN F ORMAÇÃO DO ü.A.RATER
42
Quanto mais .sábia é uma pe'ssôa., tanto Ha esta grande tdi±lere'nça- ent re o indiví-
miais gentil, polida, calma, em tudo que faz. duo quiéto e o turbulento. Um é como o adulto
Gentilhomem, Caval!heiro, em Inglês - amadurecido, o outro, como a criança inquieta.
genUeman - é o homem calmo, polido, gentil:
U:m edifi'oo, o outro destróe. O trabaJ.ho ca[rn.o
deve :s,er prat:iicado ·em todas a-s coisas. ·Fazendo
Conta--se como ;fábula, que um burro se
~uito ~arul:ho 'pür ·n~da, gera-se a comoção, o
dirigiu a um crumeLo e dis·se-lhe: "Tio Ca-melo, d1sturb10 na atmo•s fera, a.t ividade · inutil, sem
sejamos amigos, vamos pastar juntos" .O ca.- r esultado algum. O barulho tambem s'e nota.
mel0 retorquiu: - "Menino, gosto de pa.sseia.r na tenden1cia á exa:geração, quando se quer f::.-
sozinho" . Acrescentou/ ainda o burro: - "Es- zer, de um monticulo de a.r eia, uma grande
t O'u ancioso por acompanhá-lo, meu tio". O pa- montanha .
cato ca.melo consentiu, e partimm juntos. Mui- Modéstia, humilda~de, gentileza, doÇJwra, to-
to antes do oamelo acabar de 'p astar, já o burro das ess·a s vh'tudes se manifestam ll3i ;pessôa
ti,nha acaba;do, e esrtruva andoso po.r manifes- qu!e trabalha através da vida silenciosamente.
t ar-s•e. Disse, então: "Tio ca>melo, eu gostaria
de "cantar", si isso ·n ão o incomoda". O camelo
l."lesponde~~ : - "Não faças tal coisa, po.is será
t errivel para nós ambos~ . Ainda não terminei
o meu janta r" . O burro ,n ão teve padencia, não
poude conter sua- •a legria e começou a " oantaT '\.
O lavrador, atraído 1pelo 1seu "canto", veio com
um hambú oomprido. O bur.r o deu o fora e
toda a sóva 1ca~u sohre as costas do camelo .
Quando, na manhã S'eguinte, foi outra- vez
o burro convidar o tio camelo, disse este: -
"Estou muito doente, e as tuas mame iras sãD
diferentes das minha s . De hoje em derunte, se-
.p arar-nüs-emos".
FORMAÇÃO DO CARATER 45
gularizar na vLda, que esse des1perdicio de tem
po se assimilha ao caso de um intoxicado que
abanàlonasse tod:a.s as suas res;ponsabilidades e
dev.eres, para OCUipar-se, empregar o espirito
e enche,r os ouvidos com indiscreções.
O livre arbítrio nos é dado para atender-
VIII mos os nossos proprios deveres, para reaJizE<,r-
mos os nossos ;próprios ohjetivos, cuidarmos
Ha uma ,coisa que pertence á nai.rureza hu- dos nossos próprios afazeres. Quando esse li-
mana, e sua origem está na curiosidade; curio~ vre arbítrio se em!pr.ega na indagaçãJo das fra-
sidad~ essa, que ·p roduz o desejo de saber. quezas, privações e faltas de outrem, certo é
Quatndo &e abusa dessa tenden;cia, ela se desen- que se abusa do livre arbítrio.
volve e ·se torna indiscreção. Alguma's y,ezes, a curiosidade provém do
E' curioso como a origem de todo•s os de- interesse que se tem ,n a vida de ourt;rem; mas,
feitos é uma tendencia bôa, e o abuso de.s.sa ten- geralmente, é um vido . A pessôa pode não ter
de~ncia bôa é o que a transforma em defe!to. interesse algum no assunto, ·e procurar apenas
Se oonsitderassemo.s quã;o pouco temlpo havemos a satisfaçoo de ouviT e inquirir o que diz res-
de viver neste mundo, veríamos· quanto é P're- peito a outrem.
cioso ea.dat momento da nossa existencia, e que O conhecimento de si mesmo é o ideial dos
deveria ser empregado iem coisas realmente filósofO'S; llOO O COillihecimento da vida alheia.
bem aproveitaveis. Quando esse tempo é em- Ha duas fáses no desenvoJvimento do ho-
pregado .n a indiscreçoo .d:e querermos saber da mem: um~ q:uando ele indaga o que se r.efere
vida aJiheia, gastamos !Um temp,o que tpoderilll ao próxinllO; a 01urtra quando ele trat81 de si
ter sido empregado para um fim superior. A mesmo. Quando a rprimeira fáse cessou e a
vida tem tamtas •r esponsabilidades e tantos de- segunda tev•e inicio, então começa a jornada
veres, e ha tanto que se cor·r i•g ir em nós mes- para o fim .desejado.
mos; tanto que desfazer no que já fizemos, tan- R·umi diz : - "Não .nos preocup.emos eom
to em que cuidar nas próprias ocupações, e re- os outros, po-is ha muito que .p ensar em nós
Cl1!68JnQS" •
46 INAYAT KHAIN

Além disso, não se deve mostrar a. me-r.or .


tendencia de &aber mais do que é devido, sendo
isto uma prov.a d!e respeito para com as pes-
sôas idosas., e tambem 1para com aquelas que
desejamos oom.,sid:era.r. Mesmo entre parentes
próximos, como pai e filhos, quando se res ·
peita o que é tPriva.tivo de uns e de outros, dã.o IX
rodos, cerbvmente, prova de grande. virtude.
Desejar sa;ber da vida aliheia é, gera.Lmen- Devemos nos lembrar que o gosto pelo me-
te, falta de co,Ilifia;nç.&. Quem confia não pre-· xerico denota falta de nobreza no caráter. E'
cisa desJCobrir 10 que está encoberto. Aquele qui?. muito natural, ·e entretanto é grande fa-lta de
deseja desvendar alguma coisa, deseja desco- caráter, acalentar a tendencia de falar dos ou-
bri-la. Si alguma coisa ha que deva ser des- tros. Para começar, diremo·s -que mostra gran-
coberta é, amtes de tudo, o próprio ser. O tem- de fra-queza a pessôa, que faz reparos relativos'
po, que se desperdiça. indagando da vida, daSr a alguem, na sua ausencia. Primeiramente, é
faltas e fraquezas de outrem, deveria ser jus:- contrário ao que se póde chwma·r franqueza, e
tamente empregado em desvendar a pr~rpria depois é julgar o ·p róximo, o que é incorreto,
se~undo a doutrina de Ohristo, que diz: "NJ.o
a.lma.
O desejo de saber tem origem na alma. O julgueis os outros, para que jul.ga-d.os não se-
homem deveria wpenas discernir o que se pre- jais".
cisa saber, o que é digno de ser conhecido. ·Quando alguem ,permite que essa tenden-
Existem mui.t a·s !Coisas·, que .não são dignas de cia rpermam.eça. em si mesmo, desenvolve-se o
gosto de failar dos outros. E' um defeito, que p,
interesse.
Quando a pessôa .dedica o seu tempo e o existe comumente; e basta que duas pessôas
seu :p ensamento ;procura-ndo saber aquilo que com a mesma tendencia. se encontrem, para que
não deve, perde a oportumid:ade, que a vida. ofe- s.e compJ.ete a intriga. Uma ajud,a a outra; ui:na :
rece, para descobrir a natureza e o segredo da dá co·r agem á outra. E, quando alguma coisa ,,
alim.a, onde assenta a realização do objéto da é sustentada. :por duas pes•sôas, torna-s~ for-
vida.

--
FORMAÇÃO DO CARÃTER 49
48 INAYAT KHA:N

çosamente u~ma virtude, ainda que o seja por mal de outrem, e qual a influencia que isso tem
aquele momento. sobre a sua própria alma! O eu interior do
Quantas vezes o homem se esquece de que, homem, não sómente ré comlO um zimbório, onde
dizendo mal de alguem na sua ausencia, o diz tudo que e}e diz tem um éco, mas ainda esse
entretanto na presenÇ-a~ de Deus. Deus ouve éco é creador e 'Prodiutor do que ficou dito. To-
tudo e tudo sabe. O Crea.dor conhec·e tudo das as coisas ·bôas e más na vida de uma pes-
a.cerca de suas· oreatuTas, de suas virtudes e sôa, esta as des~111Volve tOIJllando nelas interesse.
de suas faltas. EJe fica descontente ouvindo Os defeitos, que temJOs, enquanto pequenos, não
maLdizer de Sua Greaillllra, assim como não fi- se percebem e, assim, se desenvolvem até resul-
caria s•atisfeito um artista, ouvindo más obser- tar.em num vexame. A vida lé tão preciosa, e
vações, feitas por quem quer que seja., sobre tanto mais valor tem, quanto mais prudentes
sua arte. Elrnbora reconheça el·e o defeito de nos tornamos ; e cada momento da vida póde
sua obra, ainda ass1m, preferiria ele mesmo ser empr.egrudo rpara umi fim muito superior.
des.cobri-Jo, e não qualquer outro. Quando uma A vida lé uma oportunidade e, quanto mais
pessôa fala mal de outra, as palavras' da pri- nos compenetrarmos di,sso, mais tiraremos pro-
meira podem não atingir á segunda, seus sen- veito dessa oportunidade, que a vida nos ofe-
timentos, po~ém, chegam até lá. Si esta fôr rese.
sensível, sra.berá que al'guem a detratk>u; e, vt>n-
do a pessôa que a detratd.u, Lê em seu ro·sto
tudo quanto essra disse, desde que seja s•ensivel
e hmha olhm- penet~ante. Este mUindo é uma
casa de espeLhoo: o refJexo de um se Teproduz
no outro. Neste mundo, em que tantas coisas
parecem ocultas, na realidade, nada ;permanece
esoondido, tudo, mais cedo ou mais tarde, vem
á sU'perficie e s:e manifesta á vista. Quão pou-
cos neste mundo são os que sabem o efeito que
ca.Ju~a, na ,persop.Ç~.Hda<l~ .(}.e ·v.m illldlviduo, q~~ef
FORMAÇÃO DO CARATER 51

fórma, se pode mostrar esse generoso espí•r ito,


que é sinal de piedade. A Biblia. faJa de gene-
rosidade empregando a palavra caridade; mas
si eu tivesse die dar uma interpretação á ,pala-
X vra generosidade, chama..J.a-ia de nobreza.
Nenhuma linhagem, .posição social, o'u po-
O espírito d'e generosidade, em seu na- der, consegue ip·r avar que alguem é nobre; ver-
iJU'ral:, c-onstroe :um caminho em direção a Deus, dadeiramente nobre é aquel,e que é generoso
porque generosidade é expansão própria, é es- de coração .
pontaneidade; seu natural é dirigir-se para um Qu,e é generosidade? E' nobreza, é espan-
horisonte largo. são cordial. A' medida que se expande o cora-
A generosidade, <p ortanto, pode ser chama- ção, a.ss.im o lhoriz.onte se torna largo, e acha-
da. a caridade cordial. Não é necessá·r io que se mos cada vez maior esip·aço, para nêle cons-
mo&t~e s.einiPre o es:p írito de gene.rosida:de pelo truirmos o reino de Deus.
dispend'er ,dinheiro; êle se pode apresentar nas Depressão, desespero, e toda maneira de
pequenas coisas. Generosidade é uma atit'Uide aborrecimentos, Vtê m da faLta de generosida;de.
que se mostra em cada pequena ação que se Donde provém o ciumJe? Donde provém .a in-
pratique para com as .pessôas, em cujo contacto veja, o sofrimento do coração? Tudo isso pro-
estamo.s diariamente na vida. Pode-se mostrar Viém da ca.rencia dé generosidade.
generosidade por um sorriso, por um olihar O homem pode não ter um vintem siquer,
amavel, um caloros1o aperto de mão, batendo- no ~ntanto 1póde ser ·g;enero·so, pode ser nobre,
se nJo .h ombro do miais inexperiente, como sinal &i ti'\Cer unicamente um grande coração de sm-
de encora;jamento, mostra de apreço, expressão timento·s amistoslos•. A vida, neste mundo, nos
de aféto. oferece toda Olpol'ltunidade, seja qual fôr a nos-
Pod:e-8,e mostrar generosidade recon.cilian- sa posição, para mostrarmos que temos aLgum
do :camaradas, da.n<lli-lhes as bôas vindas, ou espí rito .dle generosida-de.
despedindo-se de um amigo. Em pensamento, A falsidwdle·, a inco.n.stancia da natureza
em ·palavras e ações, de qualquer maneira e humana, de lado ~ inlconsideração e a falta de
52 INAYAT KHAJN

atençãJo, da tpa.rte daqueJes com os quais nos


encontramos, e, ainda mais, o egoísmo e o es-
pírito de avareza e de usurpação, que nos per-
turba, e atormenta a nossta alma, tal situação
é por si mesma, uma prova, e uma experienda,
~ela qual tem de tpa:ssar cada alma, na vida
;terre&tre; e, quando, atraV1és dessa prova e e:x:-
periencia, al·g uem se .c onserva fiel ao princ:ípio
de carid8:de, e ,pass,a avante, rumo do seu desti- A AR!T.E DA PERSONALLDAíDE
no, não permitindo ás influencias, que vêm dos
quatro cantos do mundo, esbarrá-Lo na sua jor- I
n~da para a méta final, esse alguem acaba por
s·e tornar senhor da rvida, mesmo si, alO fim E' uma coisa ·s er homem, e outra coisa,
do seu destino, não fôr deixada um:a só moeda ser uma pessôa, um .homem, peLo aperfeiçoa-
terrestre, em seu nome. N!ão é a riqueZia ter- mento da indiv1dualidade, na qual está oculto
restre que torna o ihomem irÍCO. A riqueza vem o objetivo da !Vinda do homem á terra. Os an-
com o descobrimento da mina de ouro que está jos foram creadoo 'p ara C'a ntar loiu:v ores ao Se-
oculta no coração !humano, da qual provém o r111wr; são .gênios para imaginar, sonhar, me-
e~pírito de generosidllide. ditar; mrus o homtem é creado para mos·tr~r,
A1guem: perguntou ao Pro·feta qual a maior caraderiz:all' a hum.~anidade.
virtude, si a d:a alma tpi:ediosa., que reza conti- E' isso que faz dêle uma pessôa. Ha mui-
nuamente, si a do vi.amdante q ue viaja para
1
tas 100isa.s difíceis na vida; a mais difícil de
faz·e r a sa:grruda peregrinação, si a datquele que todll!s, porlém, é aJprender, conhecer e .p raticar
jejua dias e noites, ou, ainda, si a daquele que a arte da personalLdade. A natureza - dizem
aprende a Santa .E scritura, de cór. - "Nenhu- - é crea;da ,por Deus; e a arte, pelo homem;
mla delas - respondeu o Pll'ofeta - é tão gran- porém, verdadeiramente falando, na furmaçã.o
de qu•a nto a druquele que, através da vida, ttnO&· da tpersonalidade, é Deus, Que finaliza a sua
tr~ çariÇl~g~ nq ~ação" , divina arte.
INAYAT KHAN FORMAÇÃO DO CARATER

Não é o que Ohristo ensinou que faz com O artista aprende sua arte admi·r ando o
que os seus devotos o amem; eles, em vão, dis- belo.
cutem sobre tais coisas ; o qure o to·r na amad:o •Quando 'Uma pessôa consegue um profun-
é o que Ele próprio foi. E' por isso que é ama- do oonlh ecimento da beJ:eza:, então aprende a
do e admirado por seus devotos . ar~ das art~s, que é a arte da personaiidade.
·Quando J estms Ohristo disse aos pescado- 0 h~~em 'Po~e. ,PIOs•s uir mil tí.tulüs, posição
00
res : - "vinde .a mim, Eu vos ensinarei a i'ter c~ndiçoes sociais, toldos os bens da terra; mas,
pes·oodores de homens", que significa isso? SI lhe falta a .arte da personalidade, é .realmen-
Quer di~err : "Elu vos ensinarei a arte da ·per- te pobr-2.
sonalidade, a qual se tornará uma espécie de E'' 'Pür essa avte que o homem denota no-
rêde neste mwr da vida" ; IJOis que todo cora- breza, essa nobreza, que pertence ao reino de
ção, seja qual fôr o seu gráu de evoJução, atraí- Deus.
d!o será pcla beleza da .a rte da ·p ersonalidade. A arte da ~rsonalidade não é um títuLo
Que busca a humanidade noutra 1pessôa, que honorífico. E' o fi.m 'p ara o qual o !homem foi
espera o homem de seu amigo? Deseja-o rico, cr·~ado, ·e que o conduz a esse objetivo, no cum-
de posição eievaJda, mui.t o !poderoso, possuidor primento do qual está .sllla inteira sa'tis.façãk 1 •
de qu131lidades maravilhosas, de grande influen- ~or essa arte o homem, não só se satisfaz a
cia, mas, além disso e acima de tudo, ele espera SI mesmo, como agrada tambem a Deus. Essa
encontrar, em seu amigo, as qualidades huma- peç.a f.a.ntastic,a é representada ,n a terra. para
nas, que são a aáe da personalidade. Si, a seu g~so daquele Rei do Universo a Quem os Hin-
ami•go, faltar essa arte, todas as supraditas coi- dus chamaram Indra, pe·r ante o Qual Gandhar-
sas serão de 1pouca utilildade e de mínimo valor vas_-cantam e AJpsaras dansam (1) . A interpre-
pa.ra ê1e. taçao rdess~a história é que toda almla S€ d€stin:a
- Como podemos aprender tal coisa? - a dansar na côrte de Indra. Apr€nder a dansar
perguntar-nos-ão. , .1) Gandharvas, na mitologia hindú, são cantores ou
.A!prendé-mo-la Jpelio nosso amor á beleza, mtusicofs dos -deuses, morando geralmente no céu ou
ad mos era. , Apsaras ' em S anscnto,
· .
quer dizer '
moven-
em todos os seus vários aspectos. o-se .nas aguas. São, na mesma mi tolo ia ni f
dansannas da corte celestial de Indra. g ' n as ou
íN AY At K.HIAI'N
.3.- Indra é a- bem dizer,
perfeitamente nacorte~~ A
. , ,
a arte da personalid:ad!e. AQ)Uie1e, porem: qu~
. . - "Ma.s comP posso d.ansar? Eu n~ s~l
dlZ • d f p'Cl<lS
dasnsar " . Esse contraria o seu . es .3.100,looo e
,.., .E. creada para ficar ue ..
nenh.uma ...-"·1·m"· ~ A

,_ é creada para dansar na cor-


n .
olha'!'. Ca da ilUii:ll
;a tr II
te de Indra. Aquela que .se ~oousa mos . a ~er~
. . reliatwa a g\l'ande fma1ida
tasmente Ig;noTancm . , tad· no A gratidãb no caráter é como o perfume
de, lpara ,a qua1 a peça toda e represen a
na flôT. Qualquer pessôa, embora inteligente
palco da ter·r a. e habil no tmb81lho da vida, si lhe falta a gra-
tidão, baLda se acha da beleza de caráter, que
torna atraente a personalidade. Ao mínimo ato
de bondade pra-ticado ;pa.ra conosco, si corres-
pondermos com apre~o, dessa maneira, desen"
volveremos .esse espírito em nossa natureza; e,
aprendendo isso, nos elevamos ao ponto, em
que prindpiasmos a compreender a bondade de
Deus para conJosco, pela qual nunca poderemos
ser bastante gratos á sua divina compaix8.o.
O grande poeta entre os .Sufis, Sáadi, en-
sina ser a gratidão o meio de atrair sobre nós
os favores de Deus, o perdão e a graça, nos
quais está a salvação de nossas almas.
Ha mu·i ta coisa na vida, por que nos pode-
mos mostrar gratos, apezar de todas as suas
dificuldades e perturbações. Diz Sáadi: -"O
-5
FORMAÇÃO DO CARATER 59
INAYAT KH'AN
58
. Co~ta ...se que um escravo chamado Ayau
sol e a lua, a ohuva e as nuvens, tudo se ocupa fo1 t:r~az1do com outros nove á presença de um
em preparar .vosso alimento, portanto, é rea-l-
rei, afim de que este esco1hess·e um deles para
mente injusto que não a;predeis isso com agra- o seu serviÇK> pess/oal. O sábio rei pôs na mão
decimento". A bondade de Deus é coisa que
de cada um dos dez um copo de vinho e or.le-
se não pode a;prender de uma vez ; é ·preciso
nou-lhes que o la;nç:assem por terra.. Cada qual
tempo para compreendê-la. Mas pequenas gen- obedeceu á ord€m . Então, o rei :perguntou a
tilezas que re~bemos da.queles que nos cer-
' . . cada um deles: - ••porque fizeste simifuante
caro essas nós podemos conhecer e, Sl qUizer-
. N ove ·r esponderam: ~ "Porque Vossa
. a ?"
cms·
mos: ·podemos ser gratos por i~s~. Desse mo- Magestade assim. mo ordenou". Pura v·e rda-
do, 0 homem desenvolve a grak1dao no seu na- de, verdade niÚa e crúa. Chegando, .porém, a
tural, exprime-a nos se~1s pensamentos, nas suas vez do décimo, Ayaz, disse este: - "Perd~ai­
palav·r as e ações, como form~ ·perfe~tat ~a be- me, S~ruhor, simto-o muito". PoTquanto penso111
leza. Emquanto ,a;lguem 'poruder~ e d1z: . o..~ue que: diZ'Emdo ruo rei: "•P iorqrue Vossa Magestade
fiz ,por vock"' e "o que fez voce por mlm ' e, assim mo or1denou", nada de novo lhe diria
"como t enho sido bom para você", e "como ~m o rei bem o sabia, já que aquela fora. a sua or~
sido você bom para mim"' perde seu tempo diS-
den:. Essa resposta cativoo o sob eTano, que
cutindo sobre 0 que é inexprimível em pala- assim o escolheu ,para o seu serviço pessoal.
vras; além de qu.e, fech31 com isso a fo~te de Pouco tempo depois, Ayaz ganhou o cré-
beleza que brota do imo .do Jli()SSO coraçao. A
dito e a confiança do rei, que lhe corufiou seu
primeira lição, que podemos ,a;pren<1er no ca-
tesouro, o tesouro no qual preciOISias joias se
minho do reconhecimento, é esquecer absoluta-
acha varn incluídas.
mente o que fazemos ,por outrem; lembrar-nos
Pela súbita ascensão de Ayaz·, de escravo
somente do que outrem haja feito por ~ós. a teso:Utreiro do rei, houve muitos invejosos.
Em toda a extensão da jorna-da, no cammh~ Assim que o povo soube que ele tinha adqui-
espiritual, a coisa mais importante a ser reah- rido tal tp<>sição, começou a contar numerosas
za;da é 0 esquecimento do iflO·sso falso ego, e,
histórias a. seu res·peito, afim de o levar ao
desse modo, po.demos chegar algum dia á com... descrédito. Uma delas foi que Ayaz ia diaria-
preensão desse Ente a Qu1em cham,a;mos Deus.
60 1NAYAT KHAN
FORMAÇAO DQ CARATER
61
mente ao quarto onde se achavam as joias: tran•
cadas no cofre, e que a.s yinha roubando todos queças do teu primeiro dia, daquele em que
os dias, pouco a pouco. O soberano res·p ondeu: chegaste a esta cidade; e a lembrança desse
1

_ "Não, não lpü•sso ac)l'editaJr em simHhante dia é que te CQil1Servou na altura convenien-
coisa; quero provas". Logo que Ayaz en~rou tJe". Logo depo,is, tiroru as· roupas, co~ocou-as
110 quarto, troruxer.am o rei e fizeram-no f1car
no mesmo logar de ,seg;wra:nç.a, e saiu. Ao re-
de pé onde havia uma pequena abertura dando tirar-se, que viu Ayaz? Viu que o rei, ante o
para o interior. E· o rei viu o qllle 1á s~e pas- qual se inclinawa ele, o espera va ancios1amffiite
sava: Ayaz entrou no quarto, abriu a porta do para dar-lhe um abraço e dizer-lhe: "Que lição
cod're . E que tirou ele dali? ~ roopas velhas, me deste, Ayaz ! Esta é a lição que nós todos
esmulamhadas, que ele usára emquanto' €Scra- ~r:cisamos a;prender, seja qual fôr a nossa po..
vo. Beijou-as, apertou-as contra os o,lh.os,. e s1çao. Povque, deante daque1e Rei, em Cuja
colocou-as em cima da mesa. Queimou--lhes, m- Presença todos somos escravos nada nos póde
censo e aquilo que ele estava faozendo era como fazer esquecer o auxílio, pelo quaJ! ·fotllljos en-
cois·a sagrada, para ele. Em seguida, vestiu a~ grandecidos, !€1evados e trazidos 'á vida para
roupas e mirou-se 110 eSJ)elho, dizendo palra SI obrar, compreender e viver uma vida jovial.
mesmo como si fosse uma prece: - "Ouve, Disseram-me que tinhaJS ro:u,bado joia,.s da no.s-
Ayaz, ~ê 0 'que já foste um dia. Foi o rei quem sa tesouraria, mas, aqui vindo, achei que .rou-
baste meu coração".
te fez, quem te confiou o encaorgo desse t:-
sooro. Assim olha este dever COIIllO o teu d~~
sito mais sagradlo e essa !honra, como privi-
légio teu, de amor e de bondade, que te confere
0 rei. Reflete que não foi o tffill mérito que te
elevou a tal posição. Recoruhece que foi a gran-
dez,a, a bondade e a generosidade do ll'ei, que
fechlou os olhos ao tuas faltas e te concedeu este
logar e esta posição, ,pelos quais agora estás
sendo honTado. Por conseguinte, nmca te es-
FORMAÇÃO DO CARATER 63

na música. Um músico pode ter rupti.dão sufi-


dente ;para tocar com agilidade, e pode conhe-
cer roda a técnica; mas o que produz beleza é
a su.a delicada eXJecuçãio·.
Na delicadeza es'tá, íprinc~almente, fudo
o ·a.puro. Mas donde pro'V'ém isso.? Da po!llde..
ração, e esta é pmticada p elo domí.nio de si mes-
mo. Existe um proverbio em lingua hindosta-
.nica: "Quanto mais fr3!Ca a 1pessôa, tanto mais
III pronta a za.ngar-se". A razão é que ela não tem
domihnio algum sobre seus nervos. E', geral-
Todo impulso tem sua influencia na p~la­ mente, essa falta de controle sobre s.i mesmo
vra e na ação. Por isso, naturalmen~, ~a Im- que produz a falta de delicadeza. Não ha dú-
pulso exerc•e todo seu 1)0der atrav~ ~e pala- vida que se aprendem bôas ma;neiras polidas
~ ~ Ha
vras e açoes, a nao ser que .seJ· a rtllnri'ffildO.
~.t' • • [)e'1a 1ponderação. Devemos ruprender a pensar
dois tipos de ,pessôa,.s: aque,l as que a~mnram antes de falar ou agir. A par do que devemos
o :poder de conter suas palavras e açoes, quar:- dizer ou fazer, nãJo devemos €Squecer a idéia
dlo estas exer:-cem roda a sua força e se eXJpri- do belo. Devemos saber que ·n ão é bastante
. mesrn"' s abrutamen;te ; e aquelas falar ou agir, mas ln ecessário se torna que fa-
mem por sl · ... ' . _
. mlente permitem esse curso na lemos e .façamos cada coisa belamente. O pro-
que, me-canlca ' ' i rnes-
tural do impulcso ;p or demonstrar-se <a s gr~sso das raças e nações exprime-se rpeJa de-
mo em suas pa.Lavras e ações, sem l~e prestar licadeza. Nações, raças, bem cümo indivíduüs,
a menor atenção. O primeiro tilpo_ e, po~ c.on.- mostrarão atrazo em sua ev:o.l.ução, desde que
"eguinte delicado, e o último rude. A dehcl~- se mostrem fa,l!hos c1e gentileza. Nas condições
.,. ' . rte da ner·s ona 1-
d eza e, a tpri'llCipal coisa na a · d .t'., ~ ·como atuais do mundo, 'Parec-e q:we a arte da per-
dlade Pódle-se ver quanto a dehca eza "'õ~ ' sona.lidade t em sido muito descuidada. O• ho-
fatôr. principal em qualquer arte. Na. pmtura, mem, inroxicado com a vida de oupidez, e com
. has e c6res é a ·delicadeza o o es:p irito de CIQrmpetição ora exisrten.te, acor~
no desenho em 1m ' ·
. ~·rae nossa alcr,nia. Veremos o mesmo
que mais a~ .
INAYAT KH,A:N
64
..:~~ P"',~
rent aLW çw
comercialismo da •epoca, ,
fica. ata-
, ·
.refa.do na aqmsiÇ . . ao~ do .nue lhe e necessar 10
'1. .
. di"a a dia e deixa de enxel'lgar a
para viver, · ' 0 · t
beleza, que é o de que ,precisa a ~ma .d ~~~;
sse do homem em to.das as coisas a IV
r~ . a-+~ filosofia ficam inoompletas sem
ciencia, · Hlo:::, ' tad ' a
a arte da per·sonalidade. Quanto ac~: a. c d Ha uma tendenda OICUI1ta no impulso hu-
distinção feita na 1Ingua . I"nrn1esa
o '
·• - Ma:n an
mano, a quail lpÓde ser CJhamada - tendencia
gentleman" ( 1) ! persuasiva. EUa ,pôde se manifesta.r em fonna
rude, ou em :llorma polida. Nro primeiro as-
pooto, é um erro, e :IliO uJ.rtimo, um .defeito.
Quando se eX)pressa .rudemente, o individuo in-
siste com o outro :Para concordar com ele, es-
cutá-lo, Oiw ·f azer o que ele quiz.er, debatendo,
insistindo e tortna:ndio-<se desagrax:la.vel. As ve-
zes, tal pe.ssôa, pela força de vontade ou po'l'
sua ffie,lrhior posição na vida, consegue o que
deseja. Isso ·lhe dá oorag'ern! .p> a:l'la continuaT
com o mesmo ~proces·Sio, até que topa um resul-
tado negativo, do seu método, si é que algum
dia o encontra. O outro meio de .p ersuadir é
-um meio suave, fazendo pressão na bo•Ilid.ade,
beneVIOilencia e polidez de ~a;~guem, esgotando-
lhe assim a paciencia, e pondo eml prova sua
simpatia até o fim. Por -esse meio, as pessôas
· d · 1· s quis dizer que
1) O autor com 0 dita 0 mg e ' t'l e-d ucado. oonseg;uem, no momento, o que desejam alcan-
' d' • · homem gen 1 '
homem comum, or m~no, e nossa lingua poderemos ç.a.r, mas 7 ao fLna1 7 o que resui:ta é a. contrarie-
Bus·c ando a c~nsonanct~, o:moutros cavalh~iros . .
dizer _ uns sao grosse1r , •
I
66 INAYAT KH,AN I
I
dade .p ara todos aqueles que foTam experimen- '
tados pe1a tendencia persuasiva daquela-s pes-
S·ô as. Não mostra isso que reaJizar qualquer
ooisa não é tão difícil quanto respeitar os sen-
timentos dos outro.Si? E' tão raro encontTar
neste mundo uma pessôa que tenha considera-
ção .pelos sentimentos de outrem, mesmo sacri-
ficando a .realização de s~eus próprios desejos.
v
Cada um procUira liberdade, mas pa-ra si pró-
Toda manifestaçãb é a. expressão d,esse es-
prio. Si e~e :pensasoo o mesmo em relação a
pirito do Logos, que os Sufis chamam Kibria
outrem, torna.r-se-ia um verdadeiro franco-
(1). Êste espírito se manifesta através de cada
mação.
sêr, em forma de vaidade, orgulho ou .amor-
A tendencia ,p ersuasiva miOStra, sem dJuvi-
próprio. Si não fosse por êste espírito, que tra-
da., grande força de wnta.de, e eS\pecula com a
balha em cada sêr como o têma central da vida,
fraquez·a dos outros, que se rendem e c;edem a não existida, o bom nem o mau, não haveria
isso, devido ao amôr, á simpatia, bondade, ama- grande nem pequeno.
bilidade e po•lidez. Mas lh a um limite para to-
Todas as virtu,de.s e todos os vícios proma-
das a8 !COisas . Clhega o momento em que o fio nam dêsS'e espírito.
se .p arte. Um fio é um fio; nâlo é arame feito
A a·r te da personalidade é cortar as ares-
de aço. :f:ste mesmo s·e :parte, quando é pux~1do
tas a-gudas dêsse esrpír:iJto de vaidade, que f€:re
com muita força. Nem todos compreendem a e perturba aqueles que encontramos na vida.
delicadeza do coração humano . O sentimento A pessôa que diz: "Eu", quanto mais faLa so-
humano é demooiadam~te .sutil ·para a per- bre isso, tanto mais perturba a imaginação dos
cepção comum. A que S•e assimilha uma 'a:lma seus ouvintes.
que desenvolve sua .personalida-de? Não se as-
simitllha á raiz, ou 3.10 tronco da planta, nem
, 1) O termo Logos foi .aplicado a Jesus Chri sto no
tão pouco aos galhüs, 01u ás foLhas; eJ.a é simi- prologo do ~:vangel~o de S. João, Quer dizer - a pa-
~hante á f,l ôr; á flôr, com sua fragrancia, s:uas lavra, o esp!n,to dJVmo,. b agente de Deus na Creação.
C_orr~sponde a Sabedona dos Judeus, e ao Kibria dos
çôres e delicade~ , tlmdus .
68 INAYAT KHA:N FÓRMAÇÃO DO CA:RÁTER

A vaidrulle e:x;pres-sa :rmldemente cihama~s·e àlrvore frutifera; e, si a. cortarem fóra, sur-


orgulho; expressa decentemlente, s.e denomina girá ela ainda, n1outro logar, e no mesmo iar-
vai1darde. Muitas v·ezes, somos educados na po- dim como fragrante roseira. Ela existirá ~·re­
lidez e a;pren:demoo a linguagem e maneiras dsaínen.te a mesrma, ·porém numJa forma de
poHdas; todavia, si existe esse es•pirito de vai- :m;aior beleza., que trará feliddade para os qule
dade, pronunciadJO, apezar de ·t odas as bôas ma- nela tocarem.
neiras, e belezas de linguagem, aparece ele e Por conseguinte, a arte da personalidâde
se f:az sentir no pensamento, nas palavras ou não ensina a desarraigar a semente da vaidade,
nos áto,s do indivíduo gritando: "Sou eu, sou 81 qual não porde ser desarraigada emquanto o
eu ! " Si o individoo se cons-el'IVar mudo, sua homem vive, mas a sua rude ruparencia exteTior
vaida;de .mamirfestar..:se-á na ex:pressão do o~har. dev.e ser destrui.da, afim de que, depois de mor-
E' ele uma das e10isas mais dificeis de suprimir re·r várias mortes, aquela se possa manifestar
e dominar. como a pianta dos desejos.
A 1uta dos e~rtos na vida não é tão
g.~a;nde como a•s paixões e emoC}õeSI, que, mais
cêdo ou mais tar:de, com maior OIUI mena.r es-
forC}o, 'Pódem •s er ICOI!Üirdas, mas· a vaidade, -
esta sempre vai crescendo. Si J.ihe cortamos a
haste, cerce, 'n ão mais viv.eremos, porque ela
é o ;próprio indivfduo, é o Eu, o ego, a a:Lma,
ou Deus em nosso interior ; sua ·e xistencia !l.ã o
pode ser nega-da, ma•s a 1UJta comtra eLa em~e­
leza mais e mais, e torna mais to~erave1, aquilo
que em sua forma primitiva, é intoleravel.
A vaidade póde ser ·o omparada a uma
planta mágica. Si al\g:uem a vk cres.cendo no
jardim .como 1p:!anta es•pinhosa, e .a c~·rtar, ela
crescerá noultro lugar, no mesmo Ja.r dim, comQ
FORMAÇÁO DO CARATER 7·1

Siulrge, ·então, a pergunta : "A J.evianldad:e tem


algum logar l1la vida, ou não é absolutamente,
necessária na vida?" Tudo é necessário porém
cada coisa tem seu tempo. A dignid~de não
está em mostrar-se o rosto s.evel"a; o respeito
não está em franzir a testa, em mostrar-se car-
rancudo; pela aLtivez de 'POLrte não mostrrum10s
VI ter honra; a dignidade não está em s:er triste
ou acabrunhado; c.o nsiste unicarnen.t e em !e-
O fator dignida;de, :que, noutras palavras, partir a atividade pelo tempn adequad10.
podemos chamar respeito ·p róprio, não é uma. Ha ocas·iões JPara lhilaridadre, e outras,
coisa, que se d:eva desprezar, quamdlo conside- para rs eriedade. A :pessôa qru:e ri cons,tantemen-
ramos a arte da perso:n alidade. Mas· surge a te faz perd:er~se a forç:a. do seu riso; aquela que
pergunta: "QuaJ. é êsse !principio, e como deve é sempre 1evia.na, deixa de imrpô•r o necessário
ser praticado?" Er a resposta só pode s.er que respeito, nra sociedade. AJém disso, a levianda-
toda e qualquer maneiro de 1eviandrade e ten- de, ás vez~es, faz rcom que ofendamos, outros, sem
dencia para frivolidade tem de ser estirpruda o querermos.
do nosso natural, para mantermos essa digni- ArqueJe qule rnão tem respeito para co·n sigo
dade,. que é preciosa para cada um de nós. mesmo, não o tem para com os outros. Póde
Aiquele que não lhe dá i:m:por.t ancias, não pre- pensar, no momento, que é indif.e rente ás cvn-
cisa preoorupar~se oom ela. O que dizemos é venções, e livre :na& suas expressões e no sen-
unicamente rpara aque1es que vêm algo no res- timento ; ma.s não sabe que issio o torna tão
peito próprio. A •pessôa que se respeita a si leve qurunto um farrarpo de papel, movendo-se
mesma será Tespeitada pelos outros, mesmo que daqui para ali, no espaço, batido pelo vento.
se não Jeve em oonta seu poder, suas posses, iPO- A vida é um mar; e, quanto mais pa-ra além
sição, ou colocação social. Em qualquer posi- se viaja n.o mar, ta;:nto mais seguro deve ser
ção o:u situação na vida, essa pessôa imJPo~á :res- o navio. Assim, neste mar da existen:cia, para
~eito. que um homem prudente possa vencer na vida,
72
se exige tu ma certa soma de ponderaç~o, q~·e chi
equilíbrio á .persomalidade . A prudencla d~ essa
pond.e ração; a a'U!Senda del;a é marca de msen-
satez. O cánrta-ro Clheio da;gua é pesado; a au-
senda ldagua no c:ántaro é que o torna leve, VII

3JS•Slm CO
miO o homem
·
sem prudencia se torna
vasio futil. · Uma pessôa de pensamentos nobres mos-
Quanto mais se estuda e compreende a tra, como coisa naturaJ. em seu caráter, a essti-
a;rte oo personalidade, tanto mais se ooha ~ue ma de sua palavra, qJule é chamada a palavra
ela é o enobrecimento do caráter' que prog.rlde de honra. Para essa 'pessôa, sua pa.lav.ra é
para 0 objetivo d31 c·r eação · . . . como si fosse ela propria; e isso pode ohegar
As diferentes virtudes, mamelras a~nmo- a tal ponto que até a 'própria vida será sa-
radas e belas qualidades s~o todas mamfes.ta- crificaJd31 !pOr essa pa1a vra. Uma pessoa que
ç.ões da nobreza de car.á ter. , ? E' o chegou a esse gráu, não está longe de Deus, pois
Que é, porém, nobreza de ca.ra.ter · na E:scritura se lê frequentemente: "Si quizer-
lance de vista largo, que tudo abran:ge. des vêr-Nos, vêde-Noo em nossas pal3.ivras".
Si Deus pode ser visto em Suas palavras, a aJma
verd<11deira t&mbem pode ser vista na sua. Pra-
zer, desgossto, doçura, amargura, honestidade e
deshonestidade, tudo isso pode observar-se nas
palavras que o homem diz; porque a •palavra
é a. expressão do sentimento. E que é o homem?
O homem é o sem próprio 1pensamento e senti-
mento. Assi·m, que é a pa1avra? E' a expres-
são do ho!Illein, a expressão de sua alma.
O homem, cuja palavra nos póde servir de
garantia, esse é o homem de confiança. Ne-
.6
74 iNAYAT KHAN
FORMAÇÃO DO CARÁTER
75
nihuma riqueza neste mundo pode ser oompa-
rada á palavra de honra. urr: homem q~~ diz Muitos, neste mwndo, têm vivido através
de sacrifícios ; dôres e sofrimentos l1h e têm sido
0 que pensa prova, com essa virtude, eSIIHntua-
lidade. P:a.ra quem preza a verdade, voltar irufLingidos, l111as unicamente pa:ra pôr-se em
atrás em su.as <palavra-s, é peior do que morrer, P~ova a sua virtude quanto á palavra; pois .cada
pois é retroceder emt .vez de progredir· ;roda VIrtude tem de Ser submetida ao fogo de um.a
almJa caminha e progride paTa a sua meta e prova. Quando se afirma a si mesma pela ex-
a pessô~, que realmente cam1nha para a frente, periencia ela. se torna uma sólida virtude. Isso
demonstra-o em suas palavras. Nos· terrupo.s póde s.e r praticado em cada peq~Jena coisa, que
.1 de ago;ra, quando são nooessários tantos tri- s: faça, na vida quotidüma. U:ma pessôa que
11 . bunais e t~tnrtos ~tdvogados, obrigando á ma- diz agora uma, coisa e, daí a pout o, outra coisa,
começa a desacreditltr s.e aM perante o seu pró-
li nutenção de inúmeras prisões, que dila a dia
mais florecem, vemos em tudo isso a demoT.s- prio coração. Os grandes homens, que têm vin-
li
tração da falta d.aque1a vir;tude a que sempre do á terra de tempos a teilllpos, e que têm mos-
li
fi deram valor os nobres de pen~amentlo, desde t~ado muitas grandes virtudes, entre eles, essa
o prineí<pio da civilização; porque, nessa qua- VIrtude tem sido a m.,a,is pronunciada. Malho-
l'dade mostra o homem a sua virtude humana, met, antes de apresentar-s·e ao mundo como
li ' • •
qualidade que não pertence aos ammais, nem pro:eta, era chamado Am1n, por seus oompa-
se atribue aos anjos · . nih.eiros, o que significa digno de oonfiança .
Que é religião? Religião, no verdadeiro A história de Hari11 Chandra é conhecida.
sentido da paJ.a,vra, está acima de qualquer ,ex- pelos Indús, através dos s·éculos; o exemplo da-
plicação. E' um fio téruwe, delicado ao tacto; do por ele grawado está llJO pensamento da raç'a
i:nteira.
pois é sobre modo sagrado ~ara s~r :Ocado. E.
o ideial que .pode s·e r polmtdo, SI for tocado' A história de Hatim, :urm Sufi entre os a.de-
e que ~de ser encontrado na sensibilid:ade, qu~, ptos de Zoro~tro, foi uma grande inspiração
para o povo da Persia.
por outras pa-lavras, pode ser chamada eSil)I-
ritualidade, respeito à palavra. Em qualq:uer parte do mundo, e em qual-
quer épo·ca, entre os pens.adores e os idealist~s.
a palavra de honra será apreciada no maximo .
;

I
FORMAÇÃO DO CARATER 77
rar
. este assunto, pou>p a a si mesmo desnec essa
.: -
rws pensamentos, paJ.a.vras e ações e passa a
usar economicamente os prqprios pensamentos
palavras e a.ções; e, dando valor á própria vid~
e ás próprias ações, aprende a valorizar ws
dos outros. O tempo da vida humana sobre a
VIII t:rra é o mais precioso, e, quanto mais se pra-
ti.ca o emtprego economico do tempo e da ener-
Existe, mais ou menos, em cada alma-, um gia, que é o mais precioso, tanto mais se apren-
senso e uma tendencia para economizar ; e, de a fazer o que a vida tem de melJhor.
quando essa tendencia a.tua com aqueles que Mesmo sem falarmo..s, ouvindo só 01wtrem
nos cercam, e com quem estamos em contacto, falar, >experimentamos. uma tensão contínua 0
desenvolvemos a propria personalidooe. O de- que rouba o temlpio e a energia de uma peJSs~a.
sejo de poupar a outrem a sua paciencia, em Quando alguem não compreende, ou não se es-
vez de submetê-la á uma prova extrema, é 81 f~rça, ao menos, por compreender uma coisa
tendencia de eCIOnl()lffiia, uma clevada compreen- dLta n·u ma pa.lavra, e quer pôr numa frase 0
são de economia. Procurar pou:p ar a quem quer que podia ser di'to numa paiavra, certam0nte
qwe seja o emprego de sua energia, em rel&ção não .tem senso algum de economia; pois eco-
ao pensamento, á palavra e á aç.ão, é preserva.r - nomizar nosso próprio dinheiro é muito menos
lhe a energia, e acrescentar beleza á nos·s a pró- importante do qwe econo1rnizrur nülssa vida. e
pria :persOillaUdade. Uma pessôa disso ignoran- energia, e a vida e energia dos outros.
te, com o terrupo, se torna um estorvo para os Por amor ao belo, á graça e ao resrpeito,
outros. Póde ser inocem.te, !IIlJa8 pode tornar-se quando se tratar de outrem, deve-se ir tão lon-
um tormento, porque não tem consideração ge, mas nunca dema.is. Não se póde tratar do
para com a própria enel'!gia, nem pensa na dos mesmo moldo um ami'go, um conhecido e um
outros. Esta consideração aparece no indiví- extra:nho.
duo desde que ele começa a oomrpreender o va- Ainda aí, a quest;&.o de erconomia deve ser
lor da vida. Assim que ele começa a conside- çonsidera(la,
78 INAYAT KHIAN

EiXJperime:ntar a tal ponto a bondade, a


gentil€za, a, generosida.de e a pacienteia dos ou-
tros, s,em o senso da economia, poderia trans··
forma.r, afinal, a experiencia em desvantagem
para todos.
Alquele que é baSitante sensato para guar-
dar ·s eus próprios interesses na vida, póde ser IX
chamado háibil, mas aquele que zela melhor pe-
los interesses alheios 1d'o que ,pelo seu próprio, Depois de adquirir o apuro do caráter, dos
é sábio, pois, obrando assim, faz tambem, sem méritos e virtudes, que são necessarios na vida,
o saber, cois:as em s,e,u ,proprio beneficio. E' o a personalidade pode se tornar completa pelo
mesmo s•enso de ecornomia, que se emprega em despertar do sentimento de justiça. A arte da
peqwenas coisas, na vida quotidiana, em casa personalidade esculpe estátuas, belos modelos
e nos negorcios ; o mesmo senso püsto em uso de arte, mas, quando o sentimento de justiça
de um modo mais alto, pela solicitude e con~ é despertado, tais estátuas adquirem vida, por-
sideração, torna a pessôa mais ca.paz de servir que no S•e ntimento de justiça está o segredo do
a outrem, o que é a religião das mUgiões. desen;voLvimento da alma. Todos conhecem o
nome de justiça, ma.s raramente se pode encon-
trar a'lguem q•we seja realmente justo por natu~
reza, em cujo coração rtenha sido despertado o
sentimento de justiça.
O que acontece ·geralmente é 1_ue cada 1.1m
tem a pretensão de ser justo, apezar de e\Star
longe de o s•e r. O desenvolvimento no senso da
justiça está no desinteresse; nãJo se pode ser
ju:sto e egoísta ao mesmo tem~o. O egoísta
pode ser justo, ma.s só para si. Ele tem sua pr~
pria lei, a le1 que melhor l!he convém, que ele
80 INAYAT KHAN FORMAÇÃO DO CARATER 81
pode modificar á sua vontade e a sua razão o sufidente para aprendê-la. Cihega-se então na
ajudará a fazer assim, afim de servir ás pró- vida a um gráu de culmina.ncia, de mais 'Dieno
prias exigências da vida. Uma centelha de desenvolvimento da alma, quando a justiç:~ e a
justiça póde ser encontrada em todo coração, lealdade atingem a .uma altura tal, que o in-
em toda ·pessôa, seja qual fôr o esta.do de sua divíduo se torna isento de censura; nada tem a
evolução na vida, mas aquele que ama a hones- dizer C()lll;tra alguem, e, si tem, é unicamente
tidade sopra, por assim dizer, tal centelha, totr- contra si próprio. Desse ponto é que se começa
nando-a la:bareda, á luz :da qual a vida se lhe a vêr a justiça divina oculta por trás dessa ma-
tmma mais clara. nifestação. Isso ocorre na vida de alguem,
Faia-se tam:to de justiça., ha tanta discussão como recoill,lpensa de cim!a outorgada, em sinal
e tanrta disputa a respeito, e no fim de tudo de corufiança, uma reco:ma>ensa, que é segurooça
se enc.ontra.m duas pessôas arguindo sobre cer- dada por Deus, para disting.uir tudo o que é
to ponto e diferindo uma da outra, pensando justo e in:justo, na hrHhante e resplendente luz
ambas que são justas, nenhuma delas, entre- da perfeita ju.stiça.
tanto admiti<rá que a outra seja tão justa quan-
to ela. Aqueles que 31Prendem reaJmente :a ser
j:Uistos, sua primeira lição é a que Jesus Ghris-
to ensinou: - "Nião j:uilgueis, para não serdes
julgados". Pode-.se :perguntar: -Si não julgar-
mos, como aprender€1Il1fos a justiça. Mas aquele
que juLga a si mesmo il)Ode conhecer a justiça;
não aquele que se ocupa em julgar os outro-s.
Nesta vida cheia de limitações, si alg11em se
examinar, uniCiamente a st mesmo, encontrará,
no próprio intimo, tanta.s faltas e fraquezas,
e, ao tratar com outros, tanta deslealdade em si
mesmo que a propria vida, para quem realmen-
te qeseje ço~~r a Justiç.a, ofer~er~ roateria
FORMAÇÃO DO CARATER 83

momento apropriado, ou contida a tempo,


quan:do não se deve expr€\Ss·a r, completa a mú-
sica da vioo.
E' uma contínua inclinação a produzir be-
leza o que ajuda o indivíduo no desenvoJvimen-
to da arte relativa á sua •personalidade.
X E' interessante oomo o homem se sente
prontamente incHn.ado a a!p<render o poHmento
A arte da personalida,de é simHhante á a-rte exterior, e como tantos individuos são vagar
da :música; requer ouvido educado e cultura roros m.o des•elllVolver essa arte interiormente.
da voz. Para aquele que conhece a música da Deve-ruo-nos lembrar de que o hábito exterior
vi@, a arte da personalidade chega natural- não tem si:gnifie81do, si não fôr conduzido para
mente; e é, não só inartis.tico, como não musi- o belo, por um impulso interior.
ca:!, aquele que demonstra falta dessa arte na Pode-se aprender na história de Indra, rei
personrulidrude. Qufl;ndo o homem considera do Paraiso, como fica Deus satisfeito com o
cada indivíduo como se fosse uma no'ta! de mú- homem. Na côrte de Indra, Gandhruvas cantam
sica, e aprende a reconhecer ·si essa lllota 'é 'IJm e Apsaras dansam. IniJe11pretado isto em pala-
sustenido ou Ulill bemol, é aguda ou grave, e vras simjples, quer dizer que Deus é a essência
a que tom ;pel'!tenoe, então, se torna conhece-do·r da ·beleza; é o S.eu amôr á beleza que O faz
das almias, e s~be como tratar com todos . ex>primir S!wa própria beleza na revelação, pois
Nas suas ·p róprias ações, na sua lingua- ela é o Seu desejo reaiiz81do no mundo objetivo.
gem, mostra êle a arte; harmoniza-se com o E' interessarute, •al.g umas vezes, observar
ritmo da 811Jmosfera, com o tom da pessôa, com como as bôas maJteiras molestam aque1es que
o têma do m10mento. Vir a ser apurado é tor- se orgulham das suas próprias mallleira.s inci-
nar-se musical ; é alma musical aquele que é vis. Eles chamarão aquelas de futeis, vor-
artista na sua ·personaUdooe. que o seu orgulho se ofende á vista daquilo que
A mesma pailavra, dita em diferentes tons, não alcançaram. Aquele, cuja mão não a-lcança
muda de significação. Uma paJ.:a.vra dita no
li a videira, diz, na sua impotencia, que "as uvas

·-
84 INAYAT KHAN

estão verdes". E, para algmms, é demasiado


belo torMr-se apurado, assim corno não gos-
tam muitos da bôa música, mas ficam iruteira-
rnente satisfeitos com a música popular .
Muitos ficam até cançaldos com as bôas
J:naoneiras, por !parecerem elas extranhas á sua
natureza. Assim oomo não é mérito fica,r-se XI
não musical, tambem não é sábio voJtar-se con-
Uma atitude a;rnistosa, expl'les's a em pen-
tra a poilidez. -
Devemos a'Penas experimentar o belo e de- samentos, palavras e átos silmpáticos, é a coisa
senvolvê-lo, comfiante.s em que, no intimo de principal, na arte da personalidade. Ha um
nossa alma, a beleza e sua. expressão, de qua.l- horizonte ilimi,tllido tpara mos·t rar essa rut1tude,
quer fórma que seja, é sinal de desdobramento e, embora a personalidade esteja muito desenvol-
vilda, nessa di.reção, nunca o estará demais.
da alma.
Na il:Spontanei,dade, na tendencia para dar,
paora dar :a,quilio quJe é caro ao nosso eor·ação,
eis em que se mostra a atitude amistosa.
A vida, neste mundo, tem as suas inume-.
ras obrigações 'para com amigos e inimigos,
oonhecidos e extranhos . Niuruca se pode fazer
demasiado para se estar teonciente das próprias
obrigações, nesta vida, ·e :nunca se faz de mais
para cumpri-las. Fazer mais do que é devido,
vai talvez além das forças de cada um; mas,
fazendo cada um o que deve fazer, cumipre co~
o seu objetivo na vida.
A vida é uma irutoxicação, e o efeito dessa
intoxicação 'é a negligencia. As :palavras hin-
ÍNAYAT KHAN FORMAÇÀO DO CARÀTER
dús dharma e adharma, religiosidade e irreli- examsta, perante Deus. Isto não quer dizer que
giosird.ade, signtficrum, respootivam:ente, o de- alguma venha a ser destituida da visão Divina .
ver de cada wm na, vida ;para tor!1M'-se dharma, quer dizer, apenas, QJUie a pessôa, que n~
e a ne~ligenda do mesmo deve·r , isrto é, a~prendeu a abrir suficientemente os olhos terá
adharma. deante de si a visão de Deus, emquanrto' seus
Aquele qule nãlo está oonciente de suas obri- o:tlo.sestiverem rfechooos. Toda.s as virtudes
gações na vida, para com todos o\S seres, com vem de uma larga visão na vida; toda a com-
os qoois verr1ha a ter contacto, é com efeito ir- preensão vem da persiPi.ca.z observação da vida.
religioso. · Por conseguinte, a nobreza de alma se resume
Muitos dirão: - "Esforçámo-nos pÓr fa- na atitude ampla, que o homem toma na vida.
zer o meilhor possivel, mas não o sabíamos"; ou
~ "Não sabemos qual o noSISo dever", ou
"Como chegaremos a s·a bermos qual é ou não é,
realmerute, nosso dever?"
Ninguem, neste mUíiLdo, póde ensinar qual
é, ou não é, o dever de cada um . Cabe a ca.da
a•l ma p;ro~euratr, •por si mesma, tornar--s:e co)-.
nhecedora das próprias oibrigações . Quanto
maiB con.s:eienciooa ela fÔir, tanto mais obri-
gações encontrará para cumprir, e não ha-
verá fim pia.ra elas·. Em todo caso, nessa
luta continua, o q>ule lhe póde parecer, a prin-
dpio, uma •perda, s1e rá um lucro, afinal, pa.ra
ela; pois se encon:trará faae a face com o seu
I
Senhor, o qual está semlpre vigilante. I
O homem que, absarvido na intoxicação (ia
vida, relaxa. seu dever para com seu simil!hante,
terá certacrnente a vista confusa, e a mente I

..1. J
Aqueles que desejarem especiais informes sobre
o Movimento Sufi fundado por Jnayat Khan podem
se dirigir a
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8(1 RSOI -ImprimiU.


Senado, 267/2/JD.

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