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A Arte Da Personalidade
A Arte Da Personalidade
Formação do Caráter
A ARTE DA PERSONALIDADE
TRADUÇÃO DO JNGLllS
POR
ELVIRA L. JERMANN
2.• EDIÇÃO REVISTA
PELO
PROF. Joko CABRAL
RIO DE JANEIRO
1 9 4 o
1;: í
::
Formação do Caráler
A Arte da Personalidade
I•
...
liANUAIS DE CULTURA MORAL
Formação do Caráter
A ARTE DA PERSOHAUDADE
Tradução do Inglês por Elvim
L. Jarmann - 2.• ed. revista
pelo prof. João Cabral
·COEDITORA BRASJLICA
(Cooperativa)
~;-
PIRIDFA:CIO D\A EiDIÇÃO BRASILE,JRA
XIV
por essa prrática chegamos a adquirk, com o serem empreg1ados atraVIés a luta d:at vida ex-
t€mpo, uma forç.a, /que se póde chamar - do- terior e interior. Ter pen~ .de si mesmo é a
mílllio de si mesmo. -Em pequenas coisas da peior .pobreza. Quando uma pessoa diz: Tenihv
vida diária, des!prezamos ·esta .consideJração, .por pena. . . disto ou daquilo, diminue a metade
pensarmos assim: - "tais são minhas tenden- do 'seu valor antes• de pross·eguir, e o que ela.
cias, meus c.apriCihos, .minhas i·nclinações e, res- disser mlais esmorecê-la-á totalmente. No mun-
peitando...os, reSipeito a mim mesmo ; cornside- I do, lha tanta coisa, :de que nos podemos apiedar,
rnndo-os, coms·idero a mim .próprio". Esquece- e de que ;teriramos dirteito de ter pena; \POOOII4
!m.()-'1108 de que aquilo, a que chamamos meu, si estamos ,preocupados sempre oonosco, não
minha, não é da prop·r ia :pessôa ; é a:quilo que temos tem·po de vol>tar nosso pensamento para.
se quer que seja dela. Assim, na própria ora.. outrem 1110 mundo. A vida é tU'Illla l0111ga jor-
ção dos cristãos, está dito: " ·s eja feita a T:ua ~nooa~ e, quanlto mais pa;rn trás deixamos: o
Vontade", o que significa a Tua vontade obran- n:osso .egoísmo, funto .mais progredimos para
do através de mim; por outras palavras: a mi- a. perfeição.
nha vontade, que é a Tua Vontade, seja feita. Na verdade, quando perdemos o falso Eu,
Erssa ilusão, de confundir o qu·e possuímos, com desoobrimloo o Eü verdadeiro.
o nosso proprio eu, é que géra, toda a ilusão e
afasta o homem da compreensão de si mesmo·. A
vida é uma batalha contínua. O homem luta con-
tra coisas extranhas ao seu espi.rito., e assim I
dá Ciallllpo .aos inimigos, que existem dentro no
.seu :prqprio ser. Por co!lJS:equencia, a coisa mais
necessária na vidla é dar uma trég"Ua aos cui-
dados e.xileriores, arrim de .preparrar-se para a
guerra, que s•e tra'V3Jl"á interiormente, no pró-
prio espírito. Uma vez rea-lizada a paz int€-
rior, obter-se-.~ fw~a e .pod·e r suficientes para
I
-
1,. FORMAÇÃO DO CARATER 19
I•
E.ssa é a ,prova, pel:a qual se pode distin-
guill' a alma pueril da alma do ancião. A a.lma
pueril dará livre curso a qualquer sentimeillto,
aso passo qoo a alma do andão ferirá a nota
mais alta a despeito de qualquer dificuldade.
Ria momento em que o riso deve ser contido,
II e lha ocasiões em que as lágrima.s devem ser
arrastadas. E aqueles que tenham1 chegado a
Na formação do caráter, o que mais se ne- esse gráu de po,derem desempenhar eficazmen-
cessita. aprender é o modo de elliCarar o mnmdo; te a ;p31fte que lhes couber neste .drama dá
o mundo onde se encontram pezares e dificul- ·, vida, eSJSes têm poder mesmo sobre a expressão
dades, pvazeres e sofrimentos. E' muito difi- da própria fisionomia; podem até tornar suas
cil ocultá-los do mundo, tais sentimentos; ao lágrimas em risos, ou risos em M:grimas. P'efl-
mesmo tempo não se compreende que uma pes- g.untar-se-á : "Não é h~pocrisia deixrur de ser
sôa ipl"Udente esteja a mostrar a todos, nem a natUI'Ial ?" E respoa1deremoo :
cada mo:rnento, o que ela sente. Ao contrario, aquele que tem controle SOJ-
A pessôa vulgar, maquinalmente, resiste I
bre a propria mtureza, é mais natural; não
a inflmmcias ~xteriores e impulsos interiores; é somenrte natural, mas tambem senhor da na-
e, desse modo, mlllitas vezes não pode ti:rar .par- I
tUJreza; ~a:q~uele que não tem poder sobre a. na-
tido da música da vida. tureza, ape7iar de sua naturalidade, é fraco.
Para um sábio, a vida é uma sinfonia, na Alem disso, é precioo compreender que a
qual tem ele de executar certa p•arte. Si al- ver.dadeira civilização quer dizer arte da vida.
guem se sentisse tão desanimado que o coração Que arte é essa? Et o conhecimento da
Lhe repercutisse notas mais graves e a vida música da vida.
requeresse, nesse momento, sons mais agudos, Logo que uma alma tenha desrpertado para
ele reconheceria uma falha m sinfonia justa- a conttnua música da vida, essa alma, C()Qlside-
mente II1ial ocasião, em que tivesse de executar mrá como sua responsabilidade, como seu de-
a sua .p arte com segurança. ver, desempelll'har seu rpapel na vida exterior,
li!
I
ai111da que sej~ isso contrário á sua condição que deve executar ca.da músico• em toda a sin-
interior, no momento. fonia. ES!tia é a .ooimreza de nos·s as vidas . Quan-
E' prectso •saber, em cada momento da vida to mais progredimos na ,p arte que tomámos
diária que é que a vida exige de mim? Que nessa orquestra, talllto miais eficientes ros tor-
me ;péde ~La? COmo respooderei ás suas exi- naremos na, execução satisfatória de noss:a par-
gencias? f:sso .r equer q1ue se te.n ha despertado te na sinfonia da vida. Qu:e é necessario para
completamente pall"a, as condições da vida. E' nos .toomarmos capazes de ter esse controle so-
preóso que se coooeça inltros·pec'tivamlente a bre nós mesmos? Devemos ter co,ntrole sobre
Jl!atu:r:eza humana, e que .sejamos capazes de no,sso .proprio :íntimo, porque toda a ~ifesr
co111hecer perfeitamente ~ mossa própria con- tação exterior 111ada ma,i.s é do que a rea?ao .d0
dição. Si alguem diz: "Eu sou como sou. Si estado interior. Por conseguinte, o pr1meno
sou triste, sou triste; :si sou a.legre-, sou alegre"; controle que se deve adquirir, é o controle SO'-
não está bem assim. A terra mesmo não su- bre si ~esmlo, S'Oibl'ie o proprio intimo, o qual
portará aquela pessôa que não corresponder ás se consegue fortifica;ndo a vontade, e tambem
exigencias da vida. O céu não tolerará essa compreendendo melhor a vida.
pessôa, e a escfera não acomodiará quem .não
estiver apto a dar o que a vida l!he pede. Si isso
. [1, rfôr verdade, então é melhor que seja feito de
'b om grado, espontaneamente. Na orquestra, ha
.um regente e vários exec.umntes; e cada um
dêstes, il10 seu imstrumento, ha de conltribuir
para uma execução perfeita. Si um músico fa-
lha.r nessa execução, a culipa será sua.
O reg~ente da orquestra não o atenderá, si
o ·e xecutante disser que l!lão tocou bem por es-
tar triste ou demasiad!aimente alegre. Não se
1: imporia o regente com es·s a tristeza ou ale-
~ria. ~s~ se im:portané{Q SQ<rn.'€.l1te COlll a :pa.rt~
T V
:F'ó:RMAÇÃO DO CArRATER 23
:
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FÓRMAÇÂO DO CARÀTER 25
24 INAYAT KHA:N
quer forma impede al:guem de ;p rogredir, si o
exigir de nós a mesma a-tenção, o mesmo pensa- leva 31 um a oondição peior.
menrtJo ou sentimen:to. A economia po.Jitica tor- EIJJtretanto, é muitíssimo necessário con,h e...
nou..,se um asSiulnto die edue~ação, mas a eco... oor a ciencia dia economia espi·r itual, saber de-
nom!ia espiritual, em ·religião, é a cousa prin...
ci:pal. Tudo ·que S'e diz e faz, tudo que se pensa fen der-se contra todas as influencias na vida
diária, que ~nos vêm ,p erturbar a tra-nqmTd I a
de
e sente, .atua de cevta. maneira sobre nooso es-
I e a paz da alma.
pírito. E' ;pl'udente evitar quiallquer oe!asião de
perdermos ;IlJOsso equilíbrio. Devemos manter-
oos em paz, porem firmes c01ntra 'todraS! as in-
I~ fluencias que rperturbam noosa vida. A oossa .
\
t~ inclimaçãol narouml é prura resrpiondermo:s', em
I•
defesa própriia·, a qualqwer ofeniSa, que n10s ve- I
I
t
T
FORMAÇÃO DO CARATER ~
ções para com seus a.migos, é mais p.iedoso do J !Illhecimento ape111as de si mesma e do que ela
que outro retira-do no isolamento. Aquele que : almeja, absorvida mos pró;prios prazeres e des-
está na solidão não serve a Deus, serve unica- gostos, obsedadru pela sua continua mudança
mente a si, go2:ando o .prazer da solidão; mas de humor. A alma, anciMl observa a relação
aquele que demonstra confiança em todos os entre ela e cada outra alma, s1atisfaz hahil-
seres que enconltra, e oonsidera- suas relações merute ,s uas obr1g;ações para com todos que co-
e conhecimentos, pequell\os ou gT1a1ndes, como nhece. Oculta as próprias feridas, si é que as
alguma cois·a sagrada, observa certamerute a tem, das vi,s tas alheias, e tudo suporta para
; I
lJei espiritua;l dessa treligião, que é a religião oumprir seu devtm', oom a máxima habilidade,
I~ de todas as religiões·. par.a 100m todo mumdo.
tt ~a1~s? Todos nós as temos. Nós mesmos, I
I
1. 1
FORMAÇÃO DO C~RATER J,l
mitindo que o mistério permaneça 1110 seu logar, Não é pr€ciso apregoar, "simpatiso com
isto é, ::ruas esferas silencio·sa.s, é oomo que pres- você, meu caro amigo! •• Nem · tão pouco .t ocar
'ta!r homenag;em ao Rei, a quem todas as honras o tambor: "E:u .perdoei al-guem !" Tais coisas
são devidas . Aparte os mistérios da vida, nas são belas, sutis, hão de ser sentidas ; nenhum
pequeThaB coisas da vida. diária, quanto menos barulho pode exprimi-las; o rui do concorre ape-
palavras forem 'US•adas, tanto mais proveitoso nas paTa eSJtragar-lhes a beLeza e tirar-lhes o
será. valor. Nas idéias e nos pensamento·s espirituais,
Jul•gaes que maior número de ,pal•avTas ex- a suti1eza, é mais necessária do que em qualquer
plica melhor? Nlão, absoLutamente não. De- outm tCIOisa. Si uma ,pessôa espiritual tiver âe
monstram somente nervos·ismo aqueles que di- levar suas :idéias ao mercado, e discutir com uns
zem 'Uilll cento de ,palavras pa·r a exprimirem e outros sobre !SUas crenças e descrenças, onde
uma ooisa que, em duas, pooe ser perfeita- iria ela acabar? Que é que faz o homem espi-
mente explicad~; ~. quanto ao ouvinte, é falta ritual harmonizar-se com toda gente no mUIDdo?
de 1nteligencia, si ele tambem necessita de mui- A chave, que ele possue, para a arte da conciila-
tas paLavras !pa:ra compreender o que pode çãlo, é a sutilez;a, tanto na, .percepção como na
igualmente ser e~plioado numa só. expressão. E' falta 1de: Í'ranlqueza, é hilpoorisia
Muitos pensam que mais pala;vroo. [podem ser sutil? Não, de forma alguma . Ha muitas
explicar melhor as coisas, mas ignoram que na pessôas que são desabridas, tão pronta<s a di-
maioria das vezes, quanto mais palavras• são zerem a verd!ade, quanto a martelarem a cabeça
ditas tanto mais velada e obscurecida !fica a de outra, as quais orgulhosamente sustentam
idéia. No fim, a gente vae .pela mesma porta sua franqueza, dizendo: "Não me importa que
por onde ~trou. isso ofenda ou irrite al~uem, estou apenas fa-
Respeito, IC<msiderlação, reverencia, bo,nda- lando a velidade". Si a verdade é tão dura quan-
de, compaixão e simpatia, •es.pirUo de perdão e to um martelo, ,nunca deve ser dita; ninguem
grati.tuide, todas ~ssa.s virtudes pódem ser me- no mundo poderia seguir tal verdade!
lhor adornadas pela sutileza de expressão. Não Ond1e eSitá, então, essa verdade, que é pa-
é neceSisa.rio exceder-s•e em agra.decimentoo. Uma cifÍ!Ca:dora, que acalma, que é confortante para
palavra de reconihecimento é o ·b astante. cada cor.ação e cada .alma i ess•a verdade, que
34 INAYAT ~HA;N
i]
eleva a alma; esrs.a. verdade, que é creado.ra da
harmonira e da beleza; onde está essa verdade?
E,g.sa verdade illasce na .sutileza de inteligencia
~o pensamento, .na. linguagem e na açoo da d~
hca~eza, que traz prazer, confôrto, helez·a, har.
moma e paz.
VI
Ha duas atitudes, que dividem o povo em
duas secções : a primeira atitude é a de uma
contínrua queixa, e :a outra a de um constacnte
sorriso.
A vida é a mesma, chamem-na bôa ou má,
certa ou errada; ela é o que é, não pode ser
de outro !lll!Odo.
Uma pessôa, para obter a simpatia de ou-
I tras, e mosrtra:r-lhes suas qualidades e, algumas
vezes, mostrar-se mais i1nteligente, justa e com
direito, lamenta-.se. Queixa-se de tudo; de seus
amigos, de seus inimigos, daqueres que ama e,
I muito mais, .daqueles que ela odeia. Lastima-se
desde ;pela manhã até á noite, e lllunca :t êm fim
suas lamentações. lr8Sio pode extender-se de tal
modo que, pa·r a ela, o ttemiPO nã.o é bom, o ar
não :é bom, a atmosfera illão é bôa; ela. é oon-
tra a terra e contra o céu, aclla er•r ado tudo que
os outros faZ€1m; finahnente, esse estado se de-
senvolve a tal ponto que a pessôa começa a des-
gostar'-se das suas próprias obira;s, acabando por
36 INAYAT KH;A:N FORMAÇÃO DO CARATER 37
se desgostar de si mesmo. Dessa forma, se re-- tia: "Como está?" de certo, alimenm el<a den-
volta ela conrtra os outros, contra as condições e, tilro de si mesma, oom a tendenda de se quei~
finalmente, oorutra si própria. Não pensem que xar, o ,g ermen da doença. . . . .
eUe é um caráter raro de encontrar....se no mun~ Neste mundo, a nossa vida cheia de hml-
i do. E' um ca.ráter que se enoontra frequente- tações, e a natureza dos· colllfortos e prazeres
mente e, por certo, aquele que tem essa atitude mundanos, too variaveis e indignos de con:-
é o .p eior inimigo de si mesmo. fiança; a falsidade que se encontra em. tudo, e
O indiv:íJdup com uma aJtitude correta de em toda pal'lte, si nos puséssemos em abtUJde ~e
espirito chega a te~ntar fazer do torto direito, queixa a respeito .dêles, toda a existencia sena
mas aquele que tem uma rutitude de espírito er- curta par& deles nos queixa!'IIDO.S: ;pl~nam~te;
rada converterá até o direito em torto. Afém de ~da momento da nossa vida decorrerria cheiO de
que, magmetismo é ,uma cúisa n€Cessária a toda iamentos. Mas o meio de sairmos disso é vol-
alma; sua ausenda torna a vida penosa. A ten- tarmos a vista ;para o 1ado a.gradavel, para o
den:cia para ver tudo to!l.'tlo r!Oub~nos uma gran- ·lado brilhante de .t udo. Especialmente aqueles
de parte .desse magnetismo, que é .muitissimo que procuram Deus e a Verdade, para :_sses, ~a
necessário :á vid;a,. P\>is a natureza da vida é tal alguma. coisa mats, em que tpensar; ... ele,s. n~
que, por natureza, a exisrtencia da multidão re- precisam Ide saber quanto uma pes~oa e m~ ·
jeita cada ,q ual e aceita unicamente aqueles que quando opensarem nAquele Que esta por tras
entram na multidão com a força do ma.gruetis- dessa pessôa, nAquele Que está no ooração dessa
m'O. Por outras .pal•av-ras, o mundo é um logar pessôa, entoo, olharão esperançosos para ~
onde não re poderia entrar sem um passaporte, vida. Quando virmos as co-isas mal: feitas, s1
e esse passaporte é o magnetismo; aquele que pensarmos somente nisto, que atrás ~ todas _a.<>,
não o ;posstuir será rejeitado em toda parte . obras está DeUiS, Que é justo e perfeito, en:tao,
Além disso, muita gente encontraremos sempre mos tol"'laremos com certeza mais confiantes .
a queixar-se da s.a ude. Pode haver uma razão, A atitude de vêr tudo com um sorriso é
e a~g;umas vezeS! uma razão bem pequena, de sinal de alma santa.
fá to demasiado pequena par.a que se mencio-ne. Um sorriso dispensado a um amigo, um
Qwanldo ,uma ~pes,s6a iSe ac10stuma a responder ·s orriso mesmo 1pa1ra um inimigo, vencerá final-
negativamente ao ·~r interrogada com simpa-
I'
____i
ÍN.A YA T ~H:AJN
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I NAYAT KHAN F ORMAÇÃO DO ü.A.RATER
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Quanto mais .sábia é uma pe'ssôa., tanto Ha esta grande tdi±lere'nça- ent re o indiví-
miais gentil, polida, calma, em tudo que faz. duo quiéto e o turbulento. Um é como o adulto
Gentilhomem, Caval!heiro, em Inglês - amadurecido, o outro, como a criança inquieta.
genUeman - é o homem calmo, polido, gentil:
U:m edifi'oo, o outro destróe. O trabaJ.ho ca[rn.o
deve :s,er prat:iicado ·em todas a-s coisas. ·Fazendo
Conta--se como ;fábula, que um burro se
~uito ~arul:ho 'pür ·n~da, gera-se a comoção, o
dirigiu a um crumeLo e dis·se-lhe: "Tio Ca-melo, d1sturb10 na atmo•s fera, a.t ividade · inutil, sem
sejamos amigos, vamos pastar juntos" .O ca.- r esultado algum. O barulho tambem s'e nota.
mel0 retorquiu: - "Menino, gosto de pa.sseia.r na tenden1cia á exa:geração, quando se quer f::.-
sozinho" . Acrescentou/ ainda o burro: - "Es- zer, de um monticulo de a.r eia, uma grande
t O'u ancioso por acompanhá-lo, meu tio". O pa- montanha .
cato ca.melo consentiu, e partimm juntos. Mui- Modéstia, humilda~de, gentileza, doÇJwra, to-
to antes do oamelo acabar de 'p astar, já o burro das ess·a s vh'tudes se manifestam ll3i ;pessôa
ti,nha acaba;do, e esrtruva andoso po.r manifes- qu!e trabalha através da vida silenciosamente.
t ar-s•e. Disse, então: "Tio ca>melo, eu gostaria
de "cantar", si isso ·n ão o incomoda". O camelo
l."lesponde~~ : - "Não faças tal coisa, po.is será
t errivel para nós ambos~ . Ainda não terminei
o meu janta r" . O burro ,n ão teve padencia, não
poude conter sua- •a legria e começou a " oantaT '\.
O lavrador, atraído 1pelo 1seu "canto", veio com
um hambú oomprido. O bur.r o deu o fora e
toda a sóva 1ca~u sohre as costas do camelo .
Quando, na manhã S'eguinte, foi outra- vez
o burro convidar o tio camelo, disse este: -
"Estou muito doente, e as tuas mame iras sãD
diferentes das minha s . De hoje em derunte, se-
.p arar-nüs-emos".
FORMAÇÃO DO CARATER 45
gularizar na vLda, que esse des1perdicio de tem
po se assimilha ao caso de um intoxicado que
abanàlonasse tod:a.s as suas res;ponsabilidades e
dev.eres, para OCUipar-se, empregar o espirito
e enche,r os ouvidos com indiscreções.
O livre arbítrio nos é dado para atender-
VIII mos os nossos proprios deveres, para reaJizE<,r-
mos os nossos ;próprios ohjetivos, cuidarmos
Ha uma ,coisa que pertence á nai.rureza hu- dos nossos próprios afazeres. Quando esse li-
mana, e sua origem está na curiosidade; curio~ vre arbítrio se em!pr.ega na indagaçãJo das fra-
sidad~ essa, que ·p roduz o desejo de saber. quezas, privações e faltas de outrem, certo é
Quatndo &e abusa dessa tenden;cia, ela se desen- que se abusa do livre arbítrio.
volve e ·se torna indiscreção. Alguma's y,ezes, a curiosidade provém do
E' curioso como a origem de todo•s os de- interesse que se tem ,n a vida de ourt;rem; mas,
feitos é uma tendencia bôa, e o abuso de.s.sa ten- geralmente, é um vido . A pessôa pode não ter
de~ncia bôa é o que a transforma em defe!to. interesse algum no assunto, ·e procurar apenas
Se oonsitderassemo.s quã;o pouco temlpo havemos a satisfaçoo de ouviT e inquirir o que diz res-
de viver neste mundo, veríamos· quanto é P're- peito a outrem.
cioso ea.dat momento da nossa existencia, e que O conhecimento de si mesmo é o ideial dos
deveria ser empregado iem coisas realmente filósofO'S; llOO O COillihecimento da vida alheia.
bem aproveitaveis. Quando esse tempo é em- Ha duas fáses no desenvoJvimento do ho-
pregado .n a indiscreçoo .d:e querermos saber da mem: um~ q:uando ele indaga o que se r.efere
vida aJiheia, gastamos !Um temp,o que tpoderilll ao próxinllO; a 01urtra quando ele trat81 de si
ter sido empregado para um fim superior. A mesmo. Quando a rprimeira fáse cessou e a
vida tem tamtas •r esponsabilidades e tantos de- segunda tev•e inicio, então começa a jornada
veres, e ha tanto que se cor·r i•g ir em nós mes- para o fim .desejado.
mos; tanto que desfazer no que já fizemos, tan- R·umi diz : - "Não .nos preocup.emos eom
to em que cuidar nas próprias ocupações, e re- os outros, po-is ha muito que .p ensar em nós
Cl1!68JnQS" •
46 INAYAT KHAIN
--
FORMAÇÃO DO CARÃTER 49
48 INAYAT KHA:N
çosamente u~ma virtude, ainda que o seja por mal de outrem, e qual a influencia que isso tem
aquele momento. sobre a sua própria alma! O eu interior do
Quantas vezes o homem se esquece de que, homem, não sómente ré comlO um zimbório, onde
dizendo mal de alguem na sua ausencia, o diz tudo que e}e diz tem um éco, mas ainda esse
entretanto na presenÇ-a~ de Deus. Deus ouve éco é creador e 'Prodiutor do que ficou dito. To-
tudo e tudo sabe. O Crea.dor conhec·e tudo das as coisas ·bôas e más na vida de uma pes-
a.cerca de suas· oreatuTas, de suas virtudes e sôa, esta as des~111Volve tOIJllando nelas interesse.
de suas faltas. EJe fica descontente ouvindo Os defeitos, que temJOs, enquanto pequenos, não
maLdizer de Sua Greaillllra, assim como não fi- se percebem e, assim, se desenvolvem até resul-
caria s•atisfeito um artista, ouvindo más obser- tar.em num vexame. A vida lé tão preciosa, e
vações, feitas por quem quer que seja., sobre tanto mais valor tem, quanto mais prudentes
sua arte. Elrnbora reconheça el·e o defeito de nos tornamos ; e cada momento da vida póde
sua obra, ainda ass1m, preferiria ele mesmo ser empr.egrudo rpara umi fim muito superior.
des.cobri-Jo, e não qualquer outro. Quando uma A vida lé uma oportunidade e, quanto mais
pessôa fala mal de outra, as palavras' da pri- nos compenetrarmos di,sso, mais tiraremos pro-
meira podem não atingir á segunda, seus sen- veito dessa oportunidade, que a vida nos ofe-
timentos, po~ém, chegam até lá. Si esta fôr rese.
sensível, sra.berá que al'guem a detratk>u; e, vt>n-
do a pessôa que a detratd.u, Lê em seu ro·sto
tudo quanto essra disse, desde que seja s•ensivel
e hmha olhm- penet~ante. Este mUindo é uma
casa de espeLhoo: o refJexo de um se Teproduz
no outro. Neste mundo, em que tantas coisas
parecem ocultas, na realidade, nada ;permanece
esoondido, tudo, mais cedo ou mais tarde, vem
á sU'perficie e s:e manifesta á vista. Quão pou-
cos neste mundo são os que sabem o efeito que
ca.Ju~a, na ,persop.Ç~.Hda<l~ .(}.e ·v.m illldlviduo, q~~ef
FORMAÇÃO DO CARATER 51
Não é o que Ohristo ensinou que faz com O artista aprende sua arte admi·r ando o
que os seus devotos o amem; eles, em vão, dis- belo.
cutem sobre tais coisas ; o qure o to·r na amad:o •Quando 'Uma pessôa consegue um profun-
é o que Ele próprio foi. E' por isso que é ama- do oonlh ecimento da beJ:eza:, então aprende a
do e admirado por seus devotos . ar~ das art~s, que é a arte da personaiidade.
·Quando J estms Ohristo disse aos pescado- 0 h~~em 'Po~e. ,PIOs•s uir mil tí.tulüs, posição
00
res : - "vinde .a mim, Eu vos ensinarei a i'ter c~ndiçoes sociais, toldos os bens da terra; mas,
pes·oodores de homens", que significa isso? SI lhe falta a .arte da personalidade, é .realmen-
Quer di~err : "Elu vos ensinarei a arte da ·per- te pobr-2.
sonalidade, a qual se tornará uma espécie de E'' 'Pür essa avte que o homem denota no-
rêde neste mwr da vida" ; IJOis que todo cora- breza, essa nobreza, que pertence ao reino de
ção, seja qual fôr o seu gráu de evoJução, atraí- Deus.
d!o será pcla beleza da .a rte da ·p ersonalidade. A arte da ~rsonalidade não é um títuLo
Que busca a humanidade noutra 1pessôa, que honorífico. E' o fi.m 'p ara o qual o !homem foi
espera o homem de seu amigo? Deseja-o rico, cr·~ado, ·e que o conduz a esse objetivo, no cum-
de posição eievaJda, mui.t o !poderoso, possuidor primento do qual está .sllla inteira sa'tis.façãk 1 •
de qu131lidades maravilhosas, de grande influen- ~or essa arte o homem, não só se satisfaz a
cia, mas, além disso e acima de tudo, ele espera SI mesmo, como agrada tambem a Deus. Essa
encontrar, em seu amigo, as qualidades huma- peç.a f.a.ntastic,a é representada ,n a terra. para
nas, que são a aáe da personalidade. Si, a seu g~so daquele Rei do Universo a Quem os Hin-
ami•go, faltar essa arte, todas as supraditas coi- dus chamaram Indra, pe·r ante o Qual Gandhar-
sas serão de 1pouca utilildade e de mínimo valor vas_-cantam e AJpsaras dansam (1) . A interpre-
pa.ra ê1e. taçao rdess~a história é que toda almla S€ d€stin:a
- Como podemos aprender tal coisa? - a dansar na côrte de Indra. Apr€nder a dansar
perguntar-nos-ão. , .1) Gandharvas, na mitologia hindú, são cantores ou
.A!prendé-mo-la Jpelio nosso amor á beleza, mtusicofs dos -deuses, morando geralmente no céu ou
ad mos era. , Apsaras ' em S anscnto,
· .
quer dizer '
moven-
em todos os seus vários aspectos. o-se .nas aguas. São, na mesma mi tolo ia ni f
dansannas da corte celestial de Indra. g ' n as ou
íN AY At K.HIAI'N
.3.- Indra é a- bem dizer,
perfeitamente nacorte~~ A
. , ,
a arte da personalid:ad!e. AQ)Uie1e, porem: qu~
. . - "Ma.s comP posso d.ansar? Eu n~ s~l
dlZ • d f p'Cl<lS
dasnsar " . Esse contraria o seu . es .3.100,looo e
,.., .E. creada para ficar ue ..
nenh.uma ...-"·1·m"· ~ A
_ "Não, não lpü•sso ac)l'editaJr em simHhante dia é que te CQil1Servou na altura convenien-
coisa; quero provas". Logo que Ayaz en~rou tJe". Logo depo,is, tiroru as· roupas, co~ocou-as
110 quarto, troruxer.am o rei e fizeram-no f1car
no mesmo logar de ,seg;wra:nç.a, e saiu. Ao re-
de pé onde havia uma pequena abertura dando tirar-se, que viu Ayaz? Viu que o rei, ante o
para o interior. E· o rei viu o qllle 1á s~e pas- qual se inclinawa ele, o espera va ancios1amffiite
sava: Ayaz entrou no quarto, abriu a porta do para dar-lhe um abraço e dizer-lhe: "Que lição
cod're . E que tirou ele dali? ~ roopas velhas, me deste, Ayaz ! Esta é a lição que nós todos
esmulamhadas, que ele usára emquanto' €Scra- ~r:cisamos a;prender, seja qual fôr a nossa po..
vo. Beijou-as, apertou-as contra os o,lh.os,. e s1çao. Povque, deante daque1e Rei, em Cuja
colocou-as em cima da mesa. Queimou--lhes, m- Presença todos somos escravos nada nos póde
censo e aquilo que ele estava faozendo era como fazer esquecer o auxílio, pelo quaJ! ·fotllljos en-
cois·a sagrada, para ele. Em seguida, vestiu a~ grandecidos, !€1evados e trazidos 'á vida para
roupas e mirou-se 110 eSJ)elho, dizendo palra SI obrar, compreender e viver uma vida jovial.
mesmo como si fosse uma prece: - "Ouve, Disseram-me que tinhaJS ro:u,bado joia,.s da no.s-
Ayaz, ~ê 0 'que já foste um dia. Foi o rei quem sa tesouraria, mas, aqui vindo, achei que .rou-
baste meu coração".
te fez, quem te confiou o encaorgo desse t:-
sooro. Assim olha este dever COIIllO o teu d~~
sito mais sagradlo e essa !honra, como privi-
légio teu, de amor e de bondade, que te confere
0 rei. Reflete que não foi o tffill mérito que te
elevou a tal posição. Recoruhece que foi a gran-
dez,a, a bondade e a generosidade do ll'ei, que
fechlou os olhos ao tuas faltas e te concedeu este
logar e esta posição, ,pelos quais agora estás
sendo honTado. Por conseguinte, nmca te es-
FORMAÇÃO DO CARATER 63
I
FORMAÇÃO DO CARATER 77
rar
. este assunto, pou>p a a si mesmo desnec essa
.: -
rws pensamentos, paJ.a.vras e ações e passa a
usar economicamente os prqprios pensamentos
palavras e a.ções; e, dando valor á própria vid~
e ás próprias ações, aprende a valorizar ws
dos outros. O tempo da vida humana sobre a
VIII t:rra é o mais precioso, e, quanto mais se pra-
ti.ca o emtprego economico do tempo e da ener-
Existe, mais ou menos, em cada alma-, um gia, que é o mais precioso, tanto mais se apren-
senso e uma tendencia para economizar ; e, de a fazer o que a vida tem de melJhor.
quando essa tendencia a.tua com aqueles que Mesmo sem falarmo..s, ouvindo só 01wtrem
nos cercam, e com quem estamos em contacto, falar, >experimentamos. uma tensão contínua 0
desenvolvemos a propria personalidooe. O de- que rouba o temlpio e a energia de uma peJSs~a.
sejo de poupar a outrem a sua paciencia, em Quando alguem não compreende, ou não se es-
vez de submetê-la á uma prova extrema, é 81 f~rça, ao menos, por compreender uma coisa
tendencia de eCIOnl()lffiia, uma clevada compreen- dLta n·u ma pa.lavra, e quer pôr numa frase 0
são de economia. Procurar pou:p ar a quem quer que podia ser di'to numa paiavra, certam0nte
qwe seja o emprego de sua energia, em rel&ção não .tem senso algum de economia; pois eco-
ao pensamento, á palavra e á aç.ão, é preserva.r - nomizar nosso próprio dinheiro é muito menos
lhe a energia, e acrescentar beleza á nos·s a pró- importante do qwe econo1rnizrur nülssa vida. e
pria :persOillaUdade. Uma pessôa disso ignoran- energia, e a vida e energia dos outros.
te, com o terrupo, se torna um estorvo para os Por amor ao belo, á graça e ao resrpeito,
outros. Póde ser inocem.te, !IIlJa8 pode tornar-se quando se tratar de outrem, deve-se ir tão lon-
um tormento, porque não tem consideração ge, mas nunca dema.is. Não se póde tratar do
para com a própria enel'!gia, nem pensa na dos mesmo moldo um ami'go, um conhecido e um
outros. Esta consideração aparece no indiví- extra:nho.
duo desde que ele começa a oomrpreender o va- Ainda aí, a quest;&.o de erconomia deve ser
lor da vida. Assim que ele começa a conside- çonsidera(la,
78 INAYAT KHIAN
·-
84 INAYAT KHAN
..1. J
Aqueles que desejarem especiais informes sobre
o Movimento Sufi fundado por Jnayat Khan podem
se dirigir a
SHABAZ G. BE:ST
Rua Julio Ottoni, 579•
Santa Teresa
Rio de Janeiro
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ALGUMAS EDIÇõEtS BRASILICAS I