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Resumo
Olhar para a museologia, de modo especial, para a denominada
museologia social ou sociomuseologia, conversando com ideias e noções
que podem ser consideradas óbvias, mas que, talvez, examinadas por
outro ângulo, tenham algo de novo a oferecer, faz parte dos objetivos
do presente texto. Além disso, é pertinente perguntar: o óbvio é óbvio
para quem? Não raro, aquilo que parece óbvio para determinados
grupos de especialistas, pode não ser óbvio para uma grande maioria de
pessoas. É neste sentido que peregrinando pela obviedade, afirma-se
que a museologia social ou sociomuseologia não surgiu do nada e
também não é o resultado de intelectuais iluminados que retiraram de si
mesmos, de suas essências a luz museal ou museística que haveria de
iluminar o mundo; ao contrário, surgiu de amplos debates e embates, de
um acúmulo de tensões, críticas, enfrentamentos, vivências, reflexões e
práticas que impactaram a museologia e os museus que do século XIX,
1
Poeta. Diretor do Museu da Republica, professor da Unirio,
pmariosc@gmail.com
2
Diretora do Departamento de Museologia da ULHT
Judite.primo@ulusofona.pt
3
Professora na Reinwardt Academy, em Amsterdã, Holanda.
pasadam@gmail.com
4
Diretora do Centro Cultural Sítio Roberto Burle Marx, Unidade Especial do
IPHAN.
cmstorino@gmail.com
74 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
Abstract
Museology and the construction of its social dimension: perspectives
and paths
To regard museology, in a special way, the so-called social
museology or sociomuseology, conversing with ideas and notions that
might be considered obvious, but which, perhaps, if examined by
another angle, have something new to offer, is part of this essay’s
objectives. Besides, it is relevant to ask: to whom is the obvious,
obvious? Frequently, that which seems obvious to certain groups of
specialists may not be obvious to a great majority of people. It’s in this
sense that, wandering through obviousness, we may affirm that Social
Museology or Sociomuseology did not arise out of nowhere and neither
is it the result of illuminated intellectuals who brought out of
themselves, of their essences, the museal or museistic light that was to
illuminate the world; on the contrary, it emerged from wide-ranging
discussions and clashes, of built-up of tensions, criticism, confrontations,
experiences, reflections and practices that impacted museology and
th
museums which had advanced from the 19 century into the
th
20 without submitting their paradigms to a critical analysis.
5
Ver o artigo “O obvio na relação pedagógica”, de Suzana Schwartz e Lourdes
Maria Bragagnolo Frison, disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/5781/4
202.
76 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
6
Ver páginas 75-76 do livro “Introducción a la nueva museología”, de Luis
Alonso Fernandez, publicado por Alianza Editorial, em 1999, Madrid.
7
Nise da Silveira (Maceió, 15 de fevereiro de 1906 — Rio de Janeiro, 30 de
outubro de 1999) dedicou-se à psiquiatria e manifestou-se radicalmente contra
às formas agressivas de tratamento psíquico.
78 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
8
Darcy Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de
fevereiro de 1997) foi antropólogo, educador, escritor e político. Trabalhou de
modo radical a favor dos povos indígenas e da educação pública.
Cadernos de Sociomuseologia nº 11-2018 (vol 55) 79
9
Abdias Nascimento (Franca, 14 de março de 1914 — Rio de Janeiro, 24 de maio
de 2011) foi poeta, ator, dramaturgo, artista plástico, político e ativista dos
direitos humanos das populações negras. Fundou o Teatro Experimental do
Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-Brasileiros (IPEAFRO).
80 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
10
Ver o livro A Imaginação Museal: museu, memória e poder em Gustavo
Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro, de Mario Chagas, publicado em 2009,
pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Cadernos de Sociomuseologia nº 11-2018 (vol 55) 81
11
Ver o texto O Ecomuseu, de Hugues de Varine, publicado na revista Ciencias &
Letras, Porto Alegre, n. 27, p. 61-101, Janeiro/Junho. 2000.
82 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
12
Ver Cadernos do CEOM, ano 27, n.41, Dez. 2014. Dossiê: Museologia Social.
p.9-22.
13
Idem
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14
Idem
15
Idem
16
Idem
84 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
17
Idem
Cadernos de Sociomuseologia nº 11-2018 (vol 55) 85
18
Ver páginas 79-81 do livro “Introducción a la nueva museología”, de Luis
Alonso Fernandez, publicado por Alianza Editorial, em 1999, Madrid.
86 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
19
Idem
20
Manifeste L’Altermuséologie lançado por Pirre Mayrand, em Setúbal
(Portugal), em 27 de outubro
de 2007. Nesse manifesto, o autor propõe uma Altermuseologia, “um gesto de
cooperação, de
resistência, de libertação e solidariedade com o Fórum Social Mundial”.
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1. Museu da Maré
Lançado em maio de 2006, no âmbito do Programa Pontos
de Cultura21, é o primeiro museu instalado em uma favela da
cidade do Rio de Janeiro e administrado pelos próprios
moradores e ex-moradores da favela.
O conjunto de favelas da Maré situa-se na Zona Norte da
cidade do Rio de Janeiro. Ali vivem mais de 130 mil pessoas,
ocupando uma extensão de 800 mil metros quadrados,
distribuídas em 16 favelas ou comunidades que guardam entre si
semelhanças e diferenças, pluralidades e singularidades
históricas, geográficas, culturais, arquitetônicas, musicais e mais.
Seu projeto é inovador do ponto de vista histórico, antropológico,
educacional, museológico e museográfico e tem servido de
inspiração para outras iniciativas de memória e museologia social
no país.
No Museu da Maré22 há uma forte articulação entre
diferentes gerações. Muitos jovens participam do cotidiano do
Museu que está dividido em 12 tempos não cronológicos, mas
21
Para maiores informações recomenda-se o endereço
http://www.cultura.gov.br/culturaviva/ponto-de-cultura/apresentacao#main-
content (última consulta 13 de novembro de 2016).
22
Para maiores informações recomenda-se o endereço:
https://www.facebook.com/museudamare/?fref=ts (última consulta 13 de
novembro de 2016).
90 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
23
O Museu da Maré teve um papel de destaque no que se refere à decisão para
a realização da 23ª Conferencia Internacional do ICOM e da 15ª Conferência
Internacional do MINOM, em 2013, na cidade do Rio de Janeiro.
24
Ver Lei nº 2224, de 7 de novembro de 2008, Prefeitura Municipal de Duque de
Caxias, disponível em http://smeduquedecaxias.rj.gov.br. (última consulta: 11
de novembro de 2016).
Cadernos de Sociomuseologia nº 11-2018 (vol 55) 91
25
Para maiores informações recomenda-se o endereço:
http://www.museuvivodosaobento.com.br/
(última consulta: 11 de novembro de 2016)
26
Ver o endereço http://www.museudefavela.org ..
92 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
27
Ver o artigo de Kadão Costa, Dell Delambre e Pollyanna de Azevedo Ferrari
https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/view/2612.
28
Ver a entrevista publicada em
http://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/view/2605
Cadernos de Sociomuseologia nº 11-2018 (vol 55) 93
29
Ver página: https://www.facebook.com/museudasremocoes/ (última consulta
15/11/2016).
30
Ver matéria publicada no periódico Brasil de Fato:
https://www.brasildefato.com.br/2016/05/18/museu-das-remocoes-expoe-
memoria-de-resistencia-da-vila-autodromo-no-rio/ (última consulta
15/11/2016).
94 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
31
Está frase foi grafitada na fachada de muitas casas na Vila Autódromo.
32
Ver a matéria publicada no periódico “El País”:
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/25/politica/1469450857_996933.html
33
O projeto das esculturas foi coordenado pela arquiteta e professora Diana
Bogado.
Cadernos de Sociomuseologia nº 11-2018 (vol 55) 95
Considerações finais
Nas últimas três décadas foi possível observar a disputa de
diferentes grupos em torno do social da museologia. Quais foram
os precursores dos trabalhos museológicos de cariz social no
Brasil, em Portugal e por todo o mundo? Quem contribuiu para a
valorização das relações sociais, das ações e manifestações
socioculturais como temas de interesse e estudo da museologia?
Haverá um locus museal34 específico para a museologia social? A
quem pertence o social da museologia? Qual o lugar das
comunidades populares, dos movimentos sociais, dos direitos
humanos e da cidadania na museologia? Estes questionamentos
continuam animando debates.
No entendimento dos autores deste artigo, estas questões e
disputas apontam para a tomada de consciência por parte de
profissionais dos museus e da museologia em relação à
museologia social, nas suas dimensões teórica, prática e crítica;
bem como, para o reconhecimento dos trabalhos
contemporâneos que valorizam o bem social e a socialização das
34
Compreende-se como locus museal a constituição de lugares sociais, culturais,
políticos e econômicos diferenciados que se ancoram em perspectivas
museológicas específicas e singulares.
96 Mário Chagas, Judite Primo, Paula Assunção, Claudia Storino
35
Sabemos que esta sigla está em ebulição. Neste artigo resolvemos nos ater
àquela que no Brasil ficou clássica em termos de política pública.
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Autores
Mario Chagas
Poeta. Graduação em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (Unirio - 1976), licenciatura em Ciências pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj - 1980), mestrado em Memória Social pela Unirio (1997)
e doutorado em Ciências Sociais pela Uerj (2003). Um dos responsáveis pela
Política Nacional de Museus (lançada em 2003) e um dos criadores do Sistema
Brasileiro de Museus (SBM), do Cadastro Nacional de Museus (CNM), do
Programa Pontos de Memória, do Programa Nacional de Educação Museal
(Pnem) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Fundador da Revista
Brasileira de Museus e Museologia - MUSAS e criador do Programa Editorial do
Ibram. Diretor do Museu da Republica, professor da Unirio, com atuação na
Escola de Museologia e no Programa de Pós-graduação em Museologia e
Patrimônio (Ppgpmus); professor visitante da Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias (ULHT), professor colaborador do Programa de Pós-
graduação de Museologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Tem
experiência nacional e internacional no campo da museologia e da museografia,
com ênfase na museologia social, nos museus sociais e comunitários, na
educação museal e nas práticas sociais de memória, política cultural e
patrimônio
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Judite Primo
Diretora do Departamento em Museologia da Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias de Lisboa. Diretora do Doutoramento e do
Mestrado em Museologia na ULHT. Professora titular da Cátedra UNESCO
WINTWIN “Educação, cidadania e diversidade cultural” (no.2017) Docente das
disciplinas: Museologia e Património, Museologia e Pensamento
Contemporâneo, Introdução ao Pensamento Contemporâneo, Museologia e
Políticas Culturais e Museologia e Género na ULHT Membro do Conselho
editorial da revista Cadernos de Sociomuseologia. Tem experiência na área de
Museologia, com ênfase em Sociomuseologia, atuando principalmente nos
seguintes temas: museologia, Sociomuseologia, Património, Museus Locais e
Memória Social. Doutorada em Educação pela Universidade Portucalense
Infante D. Henrique (2007), Mestre em Museologia pela Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias (2000) possui graduação em Museologia pela
Universidade Federal da Bahia (1996).
Paula Assunção
Museóloga e pesquisadora. Presidenta do Movimento Internacional para uma
Nova Museologia no período de 2011 a 2016. Membro da diretoria do
ICOM/ICTOP. Professora de Teoria do Patrimônio e de Sociomuseologia na
Reinwardt Academy, em Amsterdã, Holanda. Tem escrito, organizado e
participado de diversas publicações no campo da sociomuseologia.
Claudia Storino
Mestre em Memória Social (Unirio, 2008), especialista em Preservação e
Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos (CECRE - UFBA / IPHAN /
UNESCO, 1990), arquiteta (Universidade Santa Úrsula,1985), designer (PUC-RJ,
1980). Tradutora-Intérprete (Português/Inglês) pela Escola Americana do Rio de
Janeiro. Faz parte do quadro técnico do IPHAN desde 1984. No período de 2004
a 2009 chefiou o Núcleo de Arquitetura e foi Coordenadora Técnica Substituta
do Departamento de Museus e Centros Culturais do IPHAN; no período de 2009
a 2012 foi Coordenadora de Espaços Museais, Arquitetura e Expografia do
Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e membro do Conselho Consultivo do
Patrimônio Cultural (IPHAN/MinC); de julho de 2012 à atualidade dirige o Centro
Cultural Sítio Roberto Burle Marx, Unidade Especial do IPHAN.
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