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Ambientalmente correto, será?

Recentemente li uma reportagem falando sobre a qualidade


de cabos de dados e energia para celulares na qual se argumenta
que a proibição do uso de PVC como material de recobrimento é
uma das causas da má qualidade destes cabos (veja artigo aqui).
Diante dessa reportagem e de várias outras situações que tenho
presenciado ultimamente, referente a discussões acerca de
impactos ambientais, resolvi escrever este artigo com minhas
opiniões.

Antes de entrar no tema, porém, devo escrever algumas


linhas para deixar claro meu posicionamento. Primeiramente eu me
preocupo com o meio ambiente. Como cidadão espero poder
contribuir positivamente causando o mínimo impacto possível, como
pai espero poder ajudar a preservar o planeta, seus recursos e
belas paisagens para que meus filhos também possam ter a vida
que tive.

Levando isto em conta, eu realmente acredito que minha área


profissional tem um grande potencial de contribuição com a
preservação do meio ambiente. Pode parecer um contrasenso, um
especialista em materiais plásticos defendendo seu uso como forma
de preservar o ambiente, mas é exatamente o oposto. Tenho plena
convicção que, quando bem utilizados, os polímeros podem ser
grandes ”amigos” do meio ambiente e trazer uma contribuição
positiva para reduzir o impacto que causamos no nosso mundo.

Mas note que esta minha certeza passa pela utilização


consciente dos materiais e não pela proibição de uso de qualquer
espécie. Aliás, não acredito que regulamentações que visam a
proibir o uso de um determinado material ou produto sejam 100 %
efetivas. Parto do princípio que não existe material bom ou material
ruim, mas sim materiais que são mais adequados que outros para
cada situação em particular e que devam ser utilizados, nestas
situações, seguindo boas práticas de fabricação, consumo e
descarte.

A proibição imposta ao uso de um determinado material por


seu suposto impacto negativo, seja ele qual for, pode levar à
utilização de materiais alternativos que até aparentem uma
melhoria num primeiro momento mas que podem levar a um
problema maior ainda no longo prazo ou em situações específicas.

Para deixar mais claro esse pensamento vou dar alguns


exemplos.

O exemplo dos cabos de celular


Primeiramente trago o exemplo que citei no início deste
artigo. Resumidamente o que ocorre é que devido a uma pressão
mundial de órgãos ambientais, há uma restrição em diversas
aplicações ao uso do PVC. Em função desta pressão, foram criadas
regulamentações, inclusive na forma de lei em alguns lugares,
banindo o uso do PVC e exigindo que materiais alternativos sejam
utilizados.

O ”fundamento” desta pressão e regulamentação é a de que o


PVC traz prejuízos à saúde e ao meio ambiente. Estes prejuízos
seriam toxicidade do material ou seus componentes,
carcinogicidade das matérias primas, dificuldade ou impossibilidade
de reciclagem etc. Contudo, muitos destes argumentos não têm
razão de ser. Para ter uma ideia dos mitos e verdades a respeito do
PVC visite este site.

O pior de tudo é que sob esta bandeira que não é totalmente


correta, se obriga a indústria a substituir um material que atende às
necessidades de uma aplicação, com excelência, por outros
materiais supostamente mais ”verdes” mas que no longo prazo
trazem mais prejuízos. Ao usar materiais não tão adequados à
aplicação a durabilidade dos cabos é diminuída e no fim das contas
você acaba por consumir mais cabos do que o necessário gerando
mais resíduos e mais impacto ambiental do que se utilizasse o PVC
em primeiro lugar.

Aqui cabe uma outra observação, nem sempre os materiais


substitutos serão piores do que o material original. Neste mesmo
caso dos cabos de celular, eu mesmo trabalhei em projetos de
substituição do PVC em materiais de recobrimento que eram,
tecnicamente muito superiores em performance do que o próprio
PVC. Em outras palavras, o produto final realmente era melhor. Do
ponto de vista ambiental não posso dizer que houveram benefícios
nem perdas....continuou a ser um termoplástico com todas as suas
peculiaridades ambientais. Porém , sem dúvida nenhuma, o
consumidor final foi o mais afetado pois este material era bem mais
caro do que o PVC original....

O exemplo das sacolas de mercado


Este é um exemplo clássico que já gerou muita discussão não
só no Brasil mas no mundo todo. Muitos países possuem
regulamentações banindo e proibindo o uso de sacolas plásticas
descartáveis em mercados sob a alegação de seu alto impacto
ambiental.

Novamente o problema aqui é: se não forem usadas estas


sacolas, alguma coisa será usada em seu lugar. Esta nova opção
tem um impacto maior ou menor do que as sacolas originais? É
exatamente aí que a confusão começa.

Nós temos a tendência de acreditar no grande impacto


negativo das sacolas de mercado, afinal de contas é quase
impossível ficar indiferente às imagens das montanhas de lixo
flutuando no oceano e ao sofrimento da vida marinha em contato
com estes detritos.

Mas quando pensamos em impacto ambiental este não é o


único problema. Para se ter uma ideia do quanto realmente um
produto interfere no meio ambiente é preciso avaliar seu ciclo de
vida completo, desde a extração das matérias primas,
beneficiamento, transformação, transportes envolvidos em cada
etapa, recursos consumidos, utilização e, obviamente fim da vida e
descarte ou reutilização.

O fato é que as alternativas às sacolas de mercado


descartáveis de fato não apresentam os problemas de descarte e
poluição de rios e mares, mas seu impacto total é muito, mas muito
maior do que o das sacolas. Para ter uma ideia do quanto este
impacto é maior e entender a complexidade desta avaliação veja
este estudo.

Note que utilizar uma sacola de algodão, usualmente tido com


um material sustentável (simplesmente pelo fato de ser um produto
”natural”) representa utilizar 131 sacolas descartáveis sem reutilizá-
las ou 393 sacolas descartáveis se estas forem reutilizadas.

Com isso quero dizer que cada uma dessas opções tem um
perfil de utilização adequado. A depender do quanto você utiliza de
sacolas descartáveis pode ser sim que as sacolas de algodão sejam
uma melhor opção para você, mas também pode ser que continuar
a usar as sacolas descartáveis seja a opção de menor impacto
ambiental.

Sendo assim, simplesmente banir ou proibir o uso de sacolas


descartáveis pode colocar muitas pessoas (para não falar em
milhares ou milhões) em uma situação de causar mais impacto
ambiental do que se continuassem a usar as ditas sacolinhas. Tudo
é uma questão de qual seu perfil de usuário.

Então qual a solução?


Se banir ou proibir, criar novas regulamentações que
engessem a indústria e a liberdade de escolha das pessoas não é
uma solução, qual seria a melhor opção?

Na minha opinião a solução é informação. Gerar estudos e


dados como os disponibilizados sobre o PVC e sobre as sacolinhas
descartáveis que você pode ver nos links que disponibilizei
anteriormente, tornar estas informações conhecidas e difundidas de
forma a fazer com que as pessoas possam decidir mais
acertadamente qual a melhor opção de consumo para o seu perfil
seria uma ótima opção.

Obviamente para que as pessoas possam entender estas


informações e estudos e para que possam tomar uma decisão
inteligente baseada nestes fatos e, até mesmo questionar estes
fatos caso as informações prestadas não façam sentido de alguma
forma, é necessário um mínimo de conhecimento.

Finalmente chego à conclusão que a melhor saída é educação


de qualidade. Educação que visa passar informações e ensinar a
pensar criticamente e tomar decisões com base em fatos e
evidências e não com base em achismos e sentimentos ou mesmo
inclinações ideológicas.

Estes achismos, sentimentos e ideologias têm seu lugar na


forma como você quer viver sua vida, mas na hora de tomar
decisões que impactem a vida de outras pessoas é preciso um
pouco mais.

Eu acredito que faço parte deste movimento de levar


informação de qualidade e que pode, de fato, ajudar a população a
tomar decisões mais acertadas e sair do movimento de manada que
segue crenças e achismos populares só porque é o assunto da
moda. Espero poder, um dia, romper as barreiras do público técnico
que lê minhas opiniões e poder expandir minhas ideias para o
público em geral – para isso conto com sua ajuda.

Se você acha que este artigo fez sentido para você,


compartilhe com o maior número de pessoas possível. Indique
meus canais no Youtube, Facebook e Linkedin para que cada vez
mais pessoas possam ter acesso a informação precisa e de
qualidade a respeito dos materiais poliméricos tão importantes para
nossa vida.

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