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AnBllss Ricológia(19i8), li, 4481488

Autismo: um síndromo resultante


da disfunção de um sistema
cerebral específico?
A . R . DAMAS10 *
RALPH G. MAURER **

Embora o autismo infantil tenha sido atri- da base e com o sistema límbico (Damásio e
buído a causas psicogénicas está hoje aceite que Maurer, 1978). Na discussão que segue apre-
o síndromo resulta de um doença cerebral orgâ- sentam-se argumentos que apoiam esta con-
nica (Rutter, 1978; Wing. 1978; Ornitz, 1978; cepção.
Ritvo e Freeman, 1978). Apesar disso, não se
identificou ainda uma causa, e diversas auto-
IMPOSSIBbIDADE DE AQUISIÇÃO
ridades na matéria têm considerado impossível
DE RELAÇOES SOCIAIS NORMAIS
correlacionar as manifestações características
do autismo com localizações anatómicas pri- As alterações do comportamento social dos
mariamente responsáveis pela disfunção (Rutter, indivíduos autistas (Wing, 1978; Rutter, 1970;
1978; Ritvo e Freeman, 1978; Yule, 1978). Se Dewey, 1974; Ricks e Wing, 1975) assemelham-
a procura de uma causa única para o autismo -se as de doentes com certos tipos de disfunção
parece injustificável, visto que se trata de um frontal. fi particularmente notória a semelhança
síndromo e não de uma doença, e que pode entre adultos autistas quase-normais e doentes
resultar de várias causas e não de uma s6 com alterações do comportamento resultantes
(Rutter, 1978; Ornitz, 1978). propomos no en- de lesões bilaterais e estáveis do lobo frontal
tanto, que a análise neurológica dos principais (Kleist, 1934). Estes dois grupos de doentes
sinais de alteração de comportamento, bem partilham a mesma falta de iniciativa, de con-
cretização do pensamento e da linguagem, de
como dos sinais acompanhantes, sugerem um
indiferença afectiva e dispersão da atenção e a
nexo com a disfunção de um sistema neuronal
mesma ausência de empatia. Diferem no facto
específico, que inclui o anel de córtex meso-
dos doentes com lesões dos lobos frontais terem
Embico localizado na face interna dos lobos
um maior reportório de comportamentos sociais
frontal e temporal, o neoestriado, os núcleos
superficiais, o que resulta possivelmente quer
anterior e mediano do tálamo e núcleos do
de terem adquirido a lesão em idade mais
tronco cerebral associados com os gânglios
avançada, quer do envolvimento preferencial
* Department of Neurology (Director, Division of de certas estruturas do lobo frontal (por ex.,
Behavioral Neurology) Univenity of Iowa College of região orbitária por oposição ao sector dorso-
Medicine. lateral ou interno) (Kleist, 1934; Ackerly e
** Department of Psychiatry, Univenity of Iowa
College of Medicine. Benton, 1948; Ackerly, 1964; Hécaen, 1964).

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Os resultados da experimentação animal per- de uma sacada rápida (na realidade, parecem
mitem correlacionar o comportamento social fascinadas pelo estímulo), o que indica que não
anormal com a disfunção de estruturas cere- só existe uma capacidade perceptiva elementar
brais anteriores. O macaco revela uma profunda normal como também indica que o funciona-
perturbação do comportamento social na coló- mento das «células de comando parietalm está
nia depois da ablação do córtex frontal (Myers, intacto (Mountcastle e Lynch et al., 1975; Yin
1976; Kling e Steklis, 1976). Tem tendência a e Mountcastle, 1977). A incapacidade de pres-
isolar-se, exibe uma comunicação gestual (facial tar atenção, consistentemente, a um estímulo
e apendicular), e vocal inapropriada ou dimi- «significativo» sugere, por outro lado, que o
nuída, não participa em actividades de grupo e significado do estímulo nem sempre é apreciado
é finalmente rejeitado pelo grupo (Myers, 1975; no seu contexto de forma apropriada, ou até que
Franzen e Myers, 1973). Este conjunto de com- nunca lhe foi atribuído significado adequado.
portamentos, que de certa forma se aproxima Em stima, parecem perturbados a atribuição
de um modelo animal do autismo, não se obtém do reforço ou o reconhecimento de que ele
com lesões no córtex cerebral posterior ou no existe. Este defeito «límbico» é correlacionável
córtex motor, mesmo que as lesões comprome- com a disfunção de um sistema que compreende
tam áreas visuais de associação e causem de- estruturas internas dos lobos frontal e temporal,
feitos perceptivos graves, ou destruam áreas do tálamo anterior e mediano, dos gânglios da
motoras e provoquem paralisias.
base e dos núcleos do tronco cerebral que ser-
A anormalidade do comportamento visual
vem de «suporte neuroquímico» para estas
das crianças autistas, frequentemente descrita
estruturas (p. ex., substância negra, região ven-
como ((incapacidade de fixação olhos-nos-olhos»
tral do tegmenio, locus coeruleus, núcleos do
ou como «USOda visão periférica em substitui-
rafe mediano).
ção da visão central» é outro dos aspectos do
comportamento que condiciona a incapacidade
de estabelecer relações sociais. A forma como COMPORTAMENTOS RITUALÍSTICOS
as crianças autistas evitam a fixação de um alvo, E COMPULSIVOS
recusando-se a olhar para o examinador ou para
Os comportamentos ritualísticos e compulsi-
um determinado objecto, é semelhante ao que
vos e as reacções negativas às alterações na ro-
se observa em doentes com lesões do sector in-
terno do lobo frontal (principalmente, da circun- tina ou no ambiente, observados nas crianças
volução do cíngulo, e da área suplementar mo- autistas (Rutter, 1978) são semelhantes, na sua
tora), em particular quando as lesões são bila- natureza, frequência, gravidade e resistência ii
terais (Heilman e Watson, 1977; Segarra e An- miodificação, aos comportamentos que têm sido
gelo, 1970) e não difere significativamente da descritos em alguns doentes com síndromos
que foi descrita em animais com lesões seme- agudos ou crónicos do lobo frontal (Goldstein,
lhantes (Watson et al., 1973). As crianças autis- 1935; Goldstein, 1944; Brickner, 1935) mas não
tas por vezes param e fixam o olhar, durante se observam em doentes com síndromos produ-
um curto intervalo de tempo, em episódios se- zidos por lesões cerebrais com outras localiza-
melhantes às suspensões breves de atenção ções. Alguns destes comportamentos, por exem-
observadas em doentes adultos com lesão de plo, as «reacções catastróficas», ocorrem quan-
regiões frontais internas, descritas por Fisher do estes doentes são confrontados com situações
como «interrupções intermitentes de compor- para as quais são incapazes de criar respostas
tamento, (Fisher, 1968). Para além disso, são novas e apropriadas. A «insistência na rotina»
muitas vezes capazes de dirigir o olhar apro- (Rutter, 1978), por consequência, pode ser con-
priadamente e colocar estímulos na visão cen- siderada uma forma de comportamento adapta-
tral, ou seja, produzir foveação por intermédio tivo que conduz ao evitar da «catástrofe», e o

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meio pelo qual se atinge a homeostasia num sis- ou de inibição relativa do discurso que resul-
tema biológico alterado (Goldstein, 1959). tam de lesões internas do lobo frontal que, tal
As crianças autistas, tal como os doentes como no autismo, se acompanham de defeitos
com alguns síndromos do lobo frontal, estão acentuados da comunicação não-verbal e de
dependentes de padrões de comportamento que inatenção (Laplane, Talairach et al., 1977;
ou foram previamente aprendidos ou lhes de- Foix, 1925; Critchley, 1930; Cushing e Eisen-
vem ser explicitamente ensinados. A cperseve- hardt, 1930). Estas alterações não resultam de
ração» e a presença de rituais são comuns aos perturbação primária do processamento lin-
dois grupos, e são um reflexo da incapacidade guístico. Parecem resultar de uma ausência de
de organizar e consolidar novas formas de res- iniciativa de comunicação, e sugerem uma per-
posta. A perseveração e o comportamento repe- turbação do controlo superior da motricidade.
titivo e estereotipado foram também descritos Lesões unilaterais ou bilaterais do lobo frontal
no bomem em doenças dos gânglios da base, em regiões como a área suplementar motora
cujas estruturas estão fortemente associadas ao ou a circunvolução do cíngulo podem produ-
lobo frontal (Sacks, 1973). Em animais de expe- zir estas alterações (Laplane, Talairach et d.,
riência a disfunção dos gângiios da base e das 1977; Penfield e Roberts, 1959; Rubens, 1975;
estruturas mesolímbicas fronto-temporais con- Cntchley, 1930). Os doentes com lesões nestas
duz ii presença de comportamentos repetitivos localizações jamais recorrem ao gesto para
e estereotipados (Iversen, 1977; Villablanca e compensar a pobreza de linguagem. A sua
Marcus, 1975). É possível que estas perturba- ausência de mímica, a placidez, a impossibi-
ções sejam de certo modo primariamente mo- lidade de atender a estímulos circundantes e
toras e que constituam o substrato em torno orientar-se correctamente para eles, e a capa-
do qual se organizam níveis mais elevados cidade intacta de repetição de palavras e frases
de comportamentos ritualísticos e compulsivos. assemelham-se a muitas das características do
autismo. A incapacidade de controlar o volume
e tom da voz, bem como as vocalizações repe-
ALTERAÇOES DA COMUNICAÇÃO titivas semelhantes A palilália, são outras alte-
VERBAL E NÃO-VERBAL
rações habitualmente presentes nestes doentes
As perturbações verbais do autismo (Ricks (Alajouanine, Castaigne et d.,1959).
e Wing. 1975; Baltaxe, 1977; Churchill, 1978; A associação entre mutismo relativo e abso-
Rutter, 1978) distinguem-se da maioria das luto e a disfunção do córtex frontal interno, tem
afasias adquiridas, isto é, das afasias fluen- também sido demonstrada pela estimulação
tes e não-fluentes resultantes da lesão das eléctrica directa desta região, que geralmente
áreas perisílvicas, do hemisfério dominante produz fenómenos como inibição e interrupção
(Geschwind, 1965; Benson e Geschwind, 1971). do discurso, palilália e alterações do controlo
O mutismo e a ecolália, duas características do volume da voz e do ritmo respiratório
pertinentes da linguagem autística apenas estão (Penfield e Welch, 1951; van Buren e Fedio,
presentes em síndromos afásicos raros (afasias 1976). 6 importante realçar que, tal como no
transcorticais motora e sensorial) que resultam caso das alterações da motricidade que serão
de lesões localizadas fora da «área de lingua- descritas adiante, se podem obter fenómenos
gem» perisílvica (Benson e Geschwind, 1971; idênticos pela estimulação eléctrica dos gânglios
Geschwind e Quadfasel et al., 1968). O sín- da base (van Buren, 1966; van Buren e Oje-
dromo de afasia transcortical motora tem ca- e
mann, 1960). também bem conhecida a pre-
racterísticas semelhantes aos defeitos verbais sença de palilália e alterações da iniciativa do
do autismo, mas a semelhança é ainda mais discurso, volume e tom da voz em diversas
nítida em relação aos síndromos de mutismo doenças extrapiramidais.

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Em conclusão, as alterações de desenvolvi- mente (Mettler e Mettler, 1942; Mettler,
mento da comunicação do autismo distinguem- Thompson et ul., 1957; Denny-Brown, 1962;
-se das afasias e apraxias adquiridas e po- Randrup e Munkvad, 1951; Denny-Brown,
dem-se relacionar com a disfunção de estruturas 1951). Os doentes que apresentam estas altera-
que consideramos responsáveis pela alteração ções da motricidade têm também uma varie-
do comportamento social e pelos comportamen- dade de perturbações comportamentais seme-
tos ritualísticos e compulsivos. lhantes as descritas em casos de lesões dos lobos
frontais, sendo o mesmo observado em animais
ALTERAÇOES DA MOTRICIDADE de experiência (KIeist, 1934; Viiiablanca e Mar-
cus, 1975; Mettler e Mettler, 1942; Mettler,
Embora as alterações da motricidade não se- Thompson et al., 1957; Denny-Brown, 1962;
jam geralmente consideradas como parte do Denny-Brown, 1951; Milner, 1964; Bowen.
síndromo e sejam por isso raramente descritas 1975; Teuber, 1975; Damásio e Castro-Caldas,
do ponto de vista neurológico (Walker e Co- 1977; Gomez, Thompson et ul., 1958; Battig,
leman, 1976), constituem um ângulo importante Rosvald et aí., 1962; Pribram, Ahumada et al..
do quadro clínico do autismo. Nas nossas obser- 1964; Teuber e Pmctor, 1964; Divac, Rosvold
vações de um grupo de crianças autistas, em et al., 1967). Uma destas alteraçóes, relacionada
que o diagnóstico obedeceu aos critérios de com a face, pode ter um significado parti-
Rutter (I978), foi frequente o achado de graus cular. Consiste na assimetria ocasional mas
variáveis de distonia, bradicinésia e hiperciné- notória do andar inferior da face, detectável
sia, movimentos involuntários e assimetrias fa- quando as crianças sorriem ou falam esponta-
ciais relacionadas com as emoções. Uma série neamente, mas ausente quando movimentam de
de estudos actualmente em curso no nosso
forma voluntária a musculatura facial, o que é
laboratório tem demonstrado a consistência
digno de realce, visto que estas crianças ap re
destes achados e a semelhança notória com as
manifestações parkindnicas dos adultos (Da-
sentam uma simetria facial muitas vezes sem
expressão. Este fenómeno é conhecido por «pa-
másio, Vilensky e Maurer, 1979). Entre estes
os mais frequentes eram o «pé estriado» uniia- ralisia facial emocional» ou «paralisia facial
teral ou bilateral (um movimento espontâneo de invertida» e tem sido interpretado como sinal
extensão do dedo grande do pé semelhante ao de lesão dos gângiios da base ou do tálamo
obtido no sinal de Babinski e frequentemente (Monrad-Krohn, 1930). Investigações recentes
observado no parkinsonismo (Duvoisin, Yahr demonstraram que também se relaciona com
et aí., 1972; Duvoisin, 1977), um desequilíbrio disfunção do córtex sensório-motor mais an-
agonista-antagonista na postura dos pés, mãos tigo, localizado na face interna do lobo frontal
e dedos, discinésias da boca e das extremidades (Laplane e Talairach, 1977; Damásio e De-
e sinergias involuntárias complexas da cabeça e meter, 1979). Este fenómeno nunca foi des-
dos segmentos proximais. Estas alterações cor- crito como resultado de lesões de áreas neo-
respondem a sinais neurológicos clássicos indi- corticais e é nossa convicção que se associa ii
cativos de disfunção dos gânglios da base e do disfungo de estruturas perialocorticais locali-
lobo frontal (Kleist, 1934; Rylander, 1940; zadas na face interna do lobo frontal e temporal
Martin, 1967; Schwab e England, 1968; Wein- (córtex <unesolímbico»ou <unesocórtex»)assim
garten, 1968; Yahr e Duvoisin, 1968). Obser- como a disfunção de estruturas dos gânglios
vam-se em processos patológicos humanos en- da base e do tálamo, intimamente relacionadas
volvendo essas estruturas (doenças degenerati- com aquelas. As lesões que produzem o fenó-
vas, vasculares, neoplásicas) e estão presentes em meno são muito provavelmente bilaterais mas
animais de experiência com disfunção dos gân- assímétricas, ta1 como no parkinsonismo, e a
giios da base induzidas cirúrgica ou quimica- assimetria facial reflecte esse facto.

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ALTERAÇOES DA FUNÇÃO VESTIBULAR é formado nem por neocórtex nem por alocór-
E DEPENDÊNCZA DA INFORMAÇÃO tex, mas sobretudo por um córtex de transição
SOMATO-SENSITIVA [aperialocórtex, (Filimonoff, 1947), aproiso-
drtem (Sanides, 1970), <«nesoCórtex, (Van
As crianças autistas apresentam diversas al- Hoesen, 1978)]. Em termos de angioarquitec-
terações da função vestibular, tais como uma tura é também distinto (Lazorthes, Gouaze
diminuição do nistagmo rotatório e um aumento et ai., 1976). O trabalho experimental demons-
da tolerância aos movimentos de rotação (Or- tra que o mesocórtex é um ponto de recewo
nitz, 1978). Estas alterações foram interpreta- de informação oriunda do neocórtex percep-
das como uma perturbação da integração sen- tivo, na sua passagem para o hipocampo ou
sorial no tronco cerebral (Ornitz, 1978) mas a para a amígdala (Pandya e Kuypers, 1969;
disfunção pode residir a um nível mais alto de Jones e Powell, 1970; Van Hoesen, Pandya
controlo como os gânglios da base ou o córtex et ul., 1972; Herzog e Van Hoesen, 1976),
cerebral (Maurer e Damásio, 1979). O traba- e também um ponto de passagem de infor-
lho de Mettler e Mettler (1940) demonstrando mação do sistema límbico para o neocórtex
que a remoção bilateral do lobo frontal ou do (Van Hoesen e Pandya, 1975; Mesulam, Van
núcleo caudado e lobo frontal, impede a esti- Hoesen et ai., 1977; Jacobson e Trojanowski,
mulação labiríntica (no cão) apoia esta inter- 1977). As características afectivas dos estímu-
pretação. Os animais distinguiam-se dos con- los no processo de aprendizagem, tal como o
trolos por apresentarem menor reacção & ro- reconhecimento afectivo apropriado dos mes-
tação e menor nistagmo rotatório. Esta e outras mos estímulos mais tarde, pode depender da
observações de Mettler e Mettier (1942) podem integridade destas estruturas. O mesocórtex
ajudar a perceber a razão por que as crianças está intimamente ligado ao neoestriado (Nauta,
autistas dependem de informação somato-senso- 1953; Kemp e Powell, 1970; Yeterian e Van
ria1 para compreender instruções e aprender uma Hoesen, 1978) e em conjunto constituem o ponto
tarefa que envolva estimulação visual ou audi. de terminação dos neurónios dopaminérgicos
tiva (Hermelin e OConnor, 1970) e a razão por com origem no mesencéfalo, o que faz com
que preferem a estimulação somato-sensorial que este «sistema» seja também neuroquimica-
auditiva e, de uma forma geral, preferem os mente distinto (Dahlstrom e Fuxe, 1964; Lind-
estímulos somato-sensoriais aos visuais (Her- vall, Bjorklund et al., 1977; Hokfelt, Ljungdahl
melin e OConnor, 1970; Schopler, 1966). Tal et ai., 1974; Mishra, Demirjian et ai., 1975;
como Mettler (1955) sugeriu, um organismo Berger, 1977; Tassin, Stinus et al., 1977; Farley,
privado do estriado coloca-se sob o «domínio Price et aí., 1977). Merece consideração a possi-
proprioceptivo». bilidade da disfunção neural responsável pelo
autismo ser produzida ou pelo menos acompa-
nhada por alterações no conteúdo dopaminér.
PATOGÉNESE E ETIOLOGIA
gico destas estruturas. As causas capazes de
Como foi discutido acima, as manifestações produzir tal disfunção seriam: a) infecção peri-
do autismo correlacionam-se com a) a disfun- natal; b) alteração genética produzindo uma per-
ção de um anel de córtex filogeneticamente turbação funcional preferencial de certas estru-
mais antigo localizado na face interna dos lobos turas neuronais (deficiente maturaçáo de regiões
frontal e temporal (área suplementar motora, mesencefálicas essenciais para o funcionamento
circunvoluçáo do cíngulo, região ento-rinal, re- de regiões-alvo específicas, deficiência nestas
gião peri-rinal, circunvolução para-hipocâmpica, mesmas regiões, ou aumento da susceptibilidade
hipocampo propriamente dito) e b) disfunção do dessas estruturas para agentes neuropatológicos,
neoestriado. O primeiro conjunto de estruturas como infecção ou alterações metabólicas); c)
é citoarquitectonicamente distinto, visto que não perfusão cerebral deficiente; 6)perturbação car-

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dio-respiratória perinatai; e e) hidrocéfalo DAHLSTROM, A., FUXE, K. (1964) -Acta Physiol.
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