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Andréia Moassab
Universidade de Cabo Verde (UNI-CV), Cabo Verde
Resumo
Este artigo debate a relação entre concepções arquitetônicas e
modelos educacionais para o ensino superior no século XXI. Para
este fim analisaremos o caso da instalação da Universidade de Cabo
Verde. É possível vislumbrarmos um projeto arquitetônico com melhor
capacidade de atender a uma universidade localizada no continente
africano no início do século XXI? Esta discussão será capaz de
apontar novos caminhos para arquitetura e ensino superior ou estará
refém de paradigmas anteriores, produzidos pelo norte global? Nossa
argumentação divide-se em cinco partes. Na introdução, apresentamos
uma síntese das respostas históricas que a arquitetura tem dado a
diversos modelos de universidade. A seguir, centralizaremos nossa
análise na racionalidade arquitetônica do século XX. No item seguinte,
demonstramos como o surgimento das universidades é um projeto
político amparado pelas estruturas de poder social vigente em cada
período histórico. No quarto item, focamos na Universidade de Cabo
Verde. Finalmente, analisamos a relação indiscernível entre projetos
políticos, pedagógicos e arquitetônicos para a Universidade.
Palavras-chave: história da educação, arquitetura, campus universitário,
África.
Com efeito, neste ambiente resta pouco espaço para saberes e conhecimen-
tos não científicos, dotados de outras temporalidades e cujos padrões de
medições diferem daqueles usualmente aceitos pela racionalidade cognitivo-
instrumental, ligada diretamente ao princípio de mercado para o qual indivi-
A universidade tem campi em duas ilhas, Santiago e São Vicente, com uni-
dades espalhadas pelo espaço urbano de Praia e Mindelo, num total de cinco
conjuntos arquitetônicos principais: (1) reitoria em dois edifícios no Plateau
(Praia); (2) vice-reitoria e Departamento de Ciências Sociais e Humanas, em
sala alugada e prédio próprio, respectivamente, no centro de Mindelo; (3)
Escola de Governação e Negócios na Achada Santo Antonio (Praia); (4) De-
partamentos de Ciência e Tecnologia e de Ciências Sociais e Humanas, no
Palmarejo (Praia); e (5) Departamento de Engenharia e Ciências do Mar, em
diversos prédios circunvizinhos, em Ribeira Julião (Mindelo).
A Câmara Municipal da Praia destinou dois diferentes locais para a inclusão do en-
sino superior: a Unidade Operativa de Planeamento e Gestão – UOPG 31 (Monte
Vaca, Monte Cristovão, Pedregal e Covão Faro), na saída para o interior da ilha e a
UOPG 22 (Saco, Monte Babosa, Simão Ribeiro), no eixo oeste, de ligação com Ci-
dade Velha. Esta última está registrada na publicação de uma das versões do Plano
Diretor Municipal2. A primeira consta de relatório interno da Uni-CV, mesmo docu-
mento no qual estão descritos os motivos para a recusa da área, sobretudo devido à
sua proximidade com zonas industriais e de tratamento de lixo (UNI-CV, s/d, p. 05).
Por sua vez, o governo central tem planos de implantar um grande bairro insti-
tucional na zona periférica da cidade, a oeste de Palmarejo, em direção à Cidade
Velha, denominada Zona K, na qual estaria uma parte de 30 hectares designada
para a universidade. Esta parece ter sido a área melhor recebida pelos setores
decisórios da Uni-CV, conforme relatórios internos, por apresentar vantagens
econômico-financeira (terreno doado); técnico-científicas (proximidade do mar
permite desenvolver projetos de investigação sobre energia), economias infraes-
truturais (proximidade da infraestrutura urbana de água e luz).
Claro está que o governo planeja implantar na referida zona os mais diversos ser-
viços urbanos, contudo, deve-se ressaltar que a economia local apresenta dinâ-
mica insuficiente para deslocar uma grande quantidade ou variedade de serviços
2 Apesar de publicado, vale ressaltar que a capital do país não tem um plano diretor
aprovado até o momento.
O poder público por meio de planos urbanísticos tem colaborado para agra-
var, de modo geral, as desigualdades sócio-espaciais. O excesso de regula-
mentação por um lado e a tendência de criminalização de bairros pobres do
outro resulta numa profunda “exclusão territorial” (MARICATO, 2007). Ao
instalar-se na Zona K, seja com parte ou a totalidade de suas instalações,
a universidade integra um processo de ocupação do território o qual tem
seguido um padrão dialógico inclusão/exclusão na cidade da Praia. Neste
contexto, qual deverá ser a sua responsabilidade social no sentido de garan-
tir um crescimento sustentável para a região?
5. Desafios futuros