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O núcleo celular, organelo primeiramente descrito por Franz Bauer, em 1802, é uma
estrutura presente nas células eucariontes, que contém o ADN (ou DNA) da célula. É
delimitado pelo envoltório nuclear, e se comunica com o citoplasma através dos poros
nucleares. O núcleo possui duas funções básicas: regular as reações químicas que
ocorrem dentro da célula, e armazenar as informações genéticas da célula. O seu
diâmetro pode variar de 11 a 22.25 μm.
Além do material genético, o núcleo também possui algumas proteínas com a função de
regular a expressão gênica, que envolve processos complexos de transcrição, pré-
processamento do mRNA (RNA mensageiro), e o transporte do mRNA formado para o
citoplasma. Dentro do núcleo ainda se encontra uma estrutura denominada nucléolo,
que é responsável pela produção de subunidades dos ribossomos. O envoltório nuclear é
responsável tanto por separar as reações químicas que ocorrem dentro do citoplasma
daquelas que ocorrem dentro do núcleo, quanto por permitir a comunicação entre esses
dois ambientes. Essa comunicação é realizada pelos poros nucleares que se formam da
fusão entre a membrana interna e a externa do envoltório nuclear.
Índice
[esconder]
1 História
2 Estrutura
o 2.1 Citoesqueleto
o 2.2 Cromossomas
o 2.3 Envelope nuclear e poros nucleares
o 2.4 Nucléolo
o 2.5 Outros corpos subnucleares
2.5.1 Corpos de Cajal e gémeos
2.5.2 Domínios PIKA e PTF
2.5.3 Corpos PML
2.5.4 Paraspeckles
2.5.5 Agregados granulares intercromatínicos
3 Função
o 3.1 Compartimentação celular
o 3.2 Expressão genética
o 3.3 Processamento do pré-ARNm
4 Dinâmica e regulação
o 4.1 Transporte nuclear
o 4.2 Agregação e desagregação
5 Células anucleadas e polinucleadas
6 Evolução
7 Referências
8 Leitura adicional
9 Ligações externas
[editar] História
Desenho de um núcleo celular, por Walther Flemming, feito em 1882.
O núcleo celular foi o primeiro organelo a ser descoberto, tendo sido primeiramente
descrito por Franz Bauer, em 1802.[1] Foi mais tarde descrito em mais detalhe pelo
botânico escocês Robert Brown, em 1831, numa palestra na Sociedade Linneana de
Londres. Brown estava a estudar orquídeas ao microscópio quando observou uma
região opaca, que chamou de auréola ou núcleo, existentes nas células da camada
exterior, em flores.[2] Na altura não sugeriu nenhuma potencial função. Em 1838,
Matthias Schleiden propôs que o núcleo desempenhava um papel na geração de células,
tendo introduzido o nome "citoblasto" (gerador de células). Acreditou que tinha
observado novas células a aparecerem à volta dos "citoblastos". Franz Meyen era um
forte opositor a esta teoria, tendo já descrito células a multiplicar-se por divisão e
acreditando que muitas células não teriam núcleo. A idéia de que as células podem ser
geradas de novo, pelo "citoblasto", contradizia os trabalhos de Robert Remak (1852) e
Rudolf Virchow (1855), que decisivamente propagaram o paradigma de que as células
são geradas somente por outras células ("Omnis cellula e cellula"). A função do núcleo
permanecia, no entanto, pouco clara.[3]
Entre 1876 e 1878, Oscar Hertwig publicou vários estudos sobre a fertilização em
óvulos de ouriço-do-mar, mostrando que o núcleo do espermatozóide entra no oócito,
fundindo-se com o seu núcleo. Esta foi a primeira vez que era sugerido que um
indivíduo se desenvolve a partir de uma única célula nucleada. Isto vinha em
contradição com a teoria de Ernst Haeckel, de que a filogenia completa de uma espécie
era repetida durante o desenvolvimento embrionário, incluindo a geração da primeira
célula nucleada a partir de uma "Monerula", uma massa sem estrutura, de muco
primordial ("Urschleim"). A necessidade de um núcleo espermático para a fertilização
foi discutida por algum tempo. No entanto, Hertwig confirmou as suas observações em
outros grupos animais, como por exemplo em anfíbios e moluscos. Eduard Strasburger
produziu os mesmos resultados em plantas (1884). Isto abriu o caminho para estabelecer
o núcleo como tendo um papel primordial na hereditariedade. Em 1873, August
Weismann postulou a equivalência das células germinais paternais e maternas para a
hereditariedade. A função do núcleo, como transportador da informação genética,
apenas ficou clara mais tarde, após a mitose ter sido descoberta e a hereditariedade
mendeliana ter sido redescoberta, no início do século XX. Nessa altura, a teoria
cromossómica da hereditariedade foi desenvolvida.[3]
[editar] Estrutura
O núcleo é o maior organelo celular em animais.[4] Em células de mamíferos, o diâmetro
médio anda tipicamente à volta de 11 a 22μm e ocupa 10% do volume total.[5] O líquido
viscoso dentro do núcleo denomina-se nucleoplasma, e é similar ao citoplasma
encontrado no exterior do núcleo.
[editar] Citoesqueleto
[editar] Cromossomas
O núcleo de um fibroblasto de um rato, no qual o ADN está colocado do azul. Os
distintos territórios cromossómicos, do cromossoma 2 (a vermelho) e do cromossoma 9
(a verde) são visíveis através de coloração hibridização fluorescente in situ.
Ver artigo principal: Cromossoma
[editar] Nucléolo
O nucléolo é uma estrutura presente dentro do núcleo, nâo envolta por membrana. Por
vezes é classificado como suborganelo. Forma-se em volta de repetições de ADNr,
ADN que codifica o ARN ribossomal (ARNr). Estas regiões são denominadas regiões
organizadoras de nucléolo. O papel principal do nucléolo é o de sintetizar ARNr e de
formar os ribossomas. A coesão estrutural do nucléolo depende da sua actividade, já que
a formação de ribossomas resulta na associação temporária de componente nucleolares,
facilitando assim mais formação de ribossomas e logo uma maior associação. Este
modelo é suportado por observações de que a inactivação do ADNr resulta na mistura
de componentes nucleolares.[22]
Quando observado através do microscópio electrónico, o nucléolo pode ser visto como
sendo constituído por três regiões distintas: uma região interior (centro fibrilar), rodeada
pelo componente fibrilar denso, que por sua vez é rodeado pelo componente granular. A
transcrição do ADNr ocorre no centro fibrilar ou na fronteira entre o centro fibrilar e o
componente fibrilar denso. Quando a transcrição de ADNr é aumentada, verifica-se a
detecção de mais centros fibrilares. A maior parte da clivagem e modificação do ARNr
ocorre no componente fibrilar denso, enquanto que os passos mais tardios, envolvendo a
assemblagem de proteínas em subunidades ribossomais, ocorre no centro granular.[23]
[editar] Outros corpos subnucleares
Nome da Diâmetro da
estrutura estrutura
PIKA 5 µm[25]
Paraspeckles 0.2–1.0 µm[27]
Speckles 20–25 nm[25]
Um núcleo contém tipicamente entre uma a dez estruturas denominadas corpos de Cajal
ou corpos enovelados, cujo diâmetro é de 0,2 µm e 2.0 µm, dependendo do tipo de
célula e da espécie.[24] Quando vistos ao microscópio electrónico, assemelham-se a
novelos[25] e são densos focos de distribuição para a proteína denominada coilina.[28]
Estes corpos estão envolvidos em alguns papeis relacionados com o processamento do
ARN, especificamente os pequenos ARN nucleolares (snoRNA), a maturação dos
pequenos ARN nucleares (snRNA) e modificação do ARNm histónico.[24]
Similares aos corpos de Cajal são os gémeos de corpos enovelados, quer em forma quer
em tamanho. São virtualmente indistinguíveis sob o microscópio electrónico.[28] Em
oposição aos corpos de Cajal, os gémeos não possuem pequenas ribonucleoproteínas
nucleares (snRNPs), mas contêm uma proteína em inglês denominada survivor of motor
neurons (SMN), cuja função está relacionada com a biogénese das snRNP. Supõe-se
que os gémeos assistem os corpos enovelados na biogénese das snRNP,[29] apesar de
também ter sido sugerido, de evidências microscópicas, que os corpos enovelados os os
gémeos de corpos enovelados são diferentes manifestações da mesma estrutura.[28]
Os corpos PML (do inglês, promyelocytic leukaemia) são corpos esféricos que se
encontram dispersos por todo o nucleoplasma, medindo entre 0,2 e 1,0 µm. Outros
nomes são: domínio nuclear 10, corpos Kremer e domínios oncogénicos PML. São
muitas vezes vistos no núcleo em associação a corpos de Cajal e a corpos de clivagem.
Foi sugerido que desempenham um papel na regulação da transcrição.[26]
[editar] Paraspeckles
O envelope nuclear permite que o núcleo controle o seu conteúdo, separando-o do resto
do citoplasma quando necessário. Isto é importante para o controlo dos processos de
ambos os lados da membrana nuclear. Em alguns casos, onde um processo
citoplasmático necessita de ser restringido, um componente chave é removido para o
núcleo, onde interage com factores de transcrição que regulam a produção de certas
enzimas nas vias metabólicas. Este mecanismo regulador ocorre no caso da glicólise,
uma via metabólica que age para degradar a glucose para produzir energia. A
hexoquinase é uma enzima responsável pelo primeiro passo da glicólise, formando
glucose-6-fosfato a partir da glucose. A altas concentrações de frutose-6-fosfato, uma
proteína reguladora remove a hexoquinase para o núcleo,[36] onde forma onde complexo
transcricional repressor juntamente com proteínas nucleares, para reduzir a expressão de
genes envolvidos na glicólise.[37]
De maneira a controlar quais genes são transcritos, a célula impede que alguns factores
de transcrição, responsáveis por regular a expressão genética, de terem acesso ao ADN,
até que sejam activados por outras vias de sinalização. Isto previne até mesmo níveis
baixos de expressão genética inapropriada. Por exemplo, no caso de genes controlados
por NF-κB, envolvidos na maioria das respostas inflamatórias, a transcrição é induzida
em resposta a uma via de sinalização, como aquela que é iniciada pela molécula
sinalizadora denominada TNF-α, que se liga a um receptor na membrana celular,
resultando no recrutamento de proteínas sinalizadoras e eventualmente na activação do
factor de transcrição NF-κB. Um sinal de localização nuclear na proteína NF-κB,
permite que seja transportada através do poro nuclear até ao núcleo, onde estimula a
transcrição dos genes-alvo.[5]
A compartimentação permite que a célula previna a tradução de mRNA que não sofreu
splicing.[38] O mRNA eucariota contém intrões que devem ser removidos antes que
ocorra a tradução e dêem origem a proteínas funcionais. O splicing é efectuado dentro
do núcleo antes de o mRNA poder ser acedido por ribossomas para se dar a tradução.
Sem o núcleo, os ribossomas iriam traduzir o mRNA recentemente transcrito (não
processado) em proteínas com malformações e não funcionais
A expressão genética envolve a transcrição, na qual o ADN é usado como modelo para
a produção de ARN. No caso de genes que codificam proteínas, o ARN produzido por
este processo é o ARN mensageiro, que depois necessita de ser traduzido pelos
ribossomas para formação das proteínas. Como os ribossomas se localizam fora do
núcleo, o ARNm produzido necessita de ser exportado.[39]
Uma vez que o núcleo é o local da transcrição, também contém uma variedade de
proteínas que ou fazem a mediação directa da transcrição ou estão envolvidos em
regular o processo. Estas proteínas incluem as helicases que desenrolam a dupla fita da
molécula da ADN, para facilitar a acesso a ela, a ARN-polimerase que sintetiza a
molécula de ARN, a topoisomerase que muda a quantidade de enrolamento no ADN,
assim como uma grande variedade de factores de transcrição que regulam a expressão
genética.[40]
As moléculas recém criadas de ARNm são conhecidas como transcritos primários. Elas
têm que sofrer modificação pós-transcricional no núcleo antes de serem exportadas para
o citoplasma; o ARNm que aparece no núcleo sem estas modificações é degradado em
vez de traduzido em proteínas. As três principais modificações são: inserção de uma
capa na extremidade 5', poliadenilação na extremidade 3', e splicing de ARN. Enquanto
no núcleo, o pré-ARN está associado com uma variedade de proteínas, em complexos
denominados partículas de ribonucleoproteínas heterogéneas (hnRPNs). A adição da
capa 5´ocorre co-transcricionalmente e é o primeiro passo na modificação pós-
transcricional]]. A cauda múltipla de adenina na extermidade 3' é apenas adicionada
após a transcrição estar completa.
Durante o seu ciclo de vida, o núcleo pode se desagregar, quer em resposta ao processo
de divisão celular quer como consequência da apoptose, uma forma de morte celular
programada. Durante estes eventos, os componentes estruturais do núcleo, o envelope e
a lâmina, são sistematicamente degradados.
Durante o ciclo celular, a célula divide-se para formar duas células. Para que este
processo seja possível, cada uma das células resultantes deverá possuir um conjunto
completo de genes, um processo que requer a replicação dos cromossomas, assim como
a segregação em conjuntos separados. Isto ocorre pelos cromossomas replicados, os
cromatídeos irmãos, ligados aos microtúbulos, que por sua vez estão ligados a
diferentes centrossomas. Os cromatídeos irmãos podem então ser puxados para
diferentes localizações na célula. No entanto, em muitas células, o centrossoma está
localizado no citoplasma, fora do núcleo, e os microtúbulos não podem ligar-se aos
cromatídeos na presença de um envelope nuclear.[42] Portanto, nos passos iniciais do
ciclo celular, começando na prófase até cerca da prometafase, a membrana nuclear é
desmantelada.[8] Durante o mesmo período, a lâmina nuclear também é desagregada
através de um processo regulado por fosforilação das laminas.[43] Para o fim do ciclo
celular, a membrana nuclear é novamente agregada, e pela mesma altura a lâmina
nuclear também o é, através da desfosforilação das laminas.[43]
O envelope nuclear age como uma barreira que previne que vírus de ADN e ARN
entrem no núcleo. Alguns vírus requerem acesso a proteínas que existem dentro do
núcleo de maneira a poderem-se replicar ou agregarem os seus componentes. Os vírus
de ADN, como o herpes-vírus, replicam e agregam-se no núcleo celular, saindo depois
por evaginação através da membrana nuclear interna. Este processo é acompanhado pela
desagregação da lâmina da face nuclear da membrana interna.[8]
Os eritrócitos humanos, tal como os de outros mamíferos, carecem de núcleo. Este facto
faz parte do desenvolvimento normal da célula.
Apesar de a maioria das células possuir um único núcleo, alguns tipos de células não
possuem núcleo e outros possuem vários núcleos. Isto pode ser derivado de processos
normais, como o da maturação dos eritrócito de mamíferos, ou ser resultado de divisões
celulares mal sucedidas.
[editar] Evolução
Sendo a principal característica que define uma célula eucariótica, a origem evolutiva
do núcleo tem sido alvo de muitas especulações. Quatro grandes teorias foram propostas
para explicar a existência do núcleo, apesar de nenhuma ter até agora um apoio
alargado.[52]
A teoria conhecida como modelo sintrófico propõe que uma relação simbiótica entre as
Archaea e as Bacteria terá criado a célula eucariótica portadora de núcleo. Formula-se
que a simbiose se originou quando Archaea primitivas, similares às actuais Archaea
metanogénicas, invadiram e passaram a viver dentro de bactérias similares às actuais
mixobactérias, eventualmente formando um núcleo primordial. Esta teoria é análoga à
teoria aceite sobre a origem da mitocôndria eucariótica e do cloroplasto, que se pensa
terem se desenvolvido a partir de uma similar relação endossimbiótica entre um proto-
eucariotas e bactérias aeróbias.[53] A origem do núcleo entre as Archaea é suportado por
observações de que este grupo e os eucariotas possuem genes similares para
determinadas proteínas, incluindo as histonas. As observação que mostram as
mixobactérias como organismos móveis, que podem formar complexos multicelulares e
que possuem quinases e proteínas G similares aos Eukarya, suportam uma origem
bacteriana da célula eucariótica.[54]
O modelo mais controverso, conhecido como eucariogénese viral, propõe que o núcleo
composto de membranas, assim como outras estruturas eucarióticas, originaram-se a
partir da infecção de um vírus. A sugestão é suportada por similaridades entre eucariotas
e vírus: fitas lineares de ADN e ligação forte a proteínas (analogia entre histonas e
envelope viral). Uma versão da proposta sugere que o núcleo evoluiu ao mesmo tempo
em que a fagocitose, formando um predador celular primitivo.[57] Outra variante propõe
que os eucariotas são originários de Archaea primitivos, infectados com poxvirus,
baseada nas semelhanças entre a polimerase de ADN de modernos poxvirus e
eucariotas.[58][59] Tem sido sugerido que a questão ainda não resolvida da evolução do
sexo possa estar ligada à hipótese da eucariogénese viral.[60]
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