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1 Políticas educacionais Unidade 13

Políticas educacionais Unidade 13


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Políticas educacionais Unidade 13
Direitos Autorais

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Proibida cópia total ou parcial deste material. A Faculdade Teológica Batista do Paraná reserva
todos os direitos, embasada na LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
VI - reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou cientí-
fica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer armazenamento
permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que venha
a ser desenvolvido.
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Breve Biografia do Autor

GLEYDS SILVA DOMINGUES possui graduação em Educação Cristã - Seminário Teológico Batista
Nacional (1995) e graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco (1987). Mestre em
Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba Atualmente é Doutoranda em Teologia pela Escola
Superior de Teologia (EST). Professora da Faculdade Teológica Batista do Paraná e Professora de Pós-
Graduação da Faculdade de Administração, Educação e Letras (modalidade presencial e a distância). Tem
experiência na área de Educação, com ênfase em formação de professores, atuando principalmente nos
seguintes temas: currículo e conhecimento escolar; trabalho e formação de professores; investigaçãoação,
didática, políticas educacionais e gestão.

Avaliação, Instrumentos, Critérios


Avaliação única presencial: espera-se que o aluno leia o conteúdo de cada unidade, preparando-se para a
avaliação presencial que está marcada para o final do semestre.
Quando da avaliação, cada aluno receberá um texto (e o mesmo para todos). Após a leitura do mesmo,
será solicitado que o aluno discorra sobre o conteúdo, propondo uma relação entre o texto sugerido e o
conteúdo das unidades, que foi disponibilizado.
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Apoio e Suporte ao Aluno


Além do apoio do Tutor, do apoio do Coordenador-Tutor do Pólo, o aluno terá à sua disposição o
suporte 0800, o suporte on-line via Internet, bem como a biblioteca na Sede da FTBP, as bibliotecas de
apoio nos pólos e os links selecionadosemnossa biblioteca on-line.

Bibliografia Básica
DAVIES, Nicholas. Legislação Educacional Federal Básica. São Paulo: Cortez, 2004.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar.
Políticas, Estrutura e Organização. São Paulo: Cortez, 2012.
LÜCK, Heloisa. Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacional. Rio de Janeiro:
Vozes, 2006.

Bibliografia Complementar
DEMO, Pedro. A Nova LDB: ranços e avanços. São Paulo: Papirus, 1998.
GADOTTI, Moacir. A Escola Cidadã. São Paulo: Cortez, 2008.
SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de Souza; SILVA, Eurides Brito da. Como Entender e Aplicar a Nova
LBD. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
Políticas educacionais Unidade 13
Sumário
Plano de Ensino ...................................................................................................................................... 06
Apresentação .......................................................................................................................................... 07
Introdução ............................................................................................................................................... 09
Unidade 01
Assim inicia-se o estudo sobre política educacional .......................................................................... 10
Unidade 02
A carta magna brasileira e a educação ................................................................................................. 17
Unidade 03
Legislação educacional brasileira: desenrolando os fios na história ................................................. 25
Unidade 04
Para onde vai a educação? .................................................................................................................... 31
Unidade 05

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Chegou a vez das diretrizes curriculares .............................................................................................. 38
Políticas educacionais Unidade 13

Plano de Ensino
Ementa

Estudo do conceito de política. A política educacional e os organismos internacionais. A Constituição e a


Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O Plano Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares: papel na
gestão de Cursos. Diretrizes Curriculares de Teologia.

Competências

Compreender a aplicabilidade da política educacional nos rumos da educação brasileira.

Estabelecer paralelos entre a Constituição Brasileira, a Lei de Diretrizes e Bases e o Plano Decenal de
Educação.

Identificar o papel da cidadania e da autonomia como elementos essenciais à formação do educando.

Definir a função das diretrizes curriculares na organização e gestão dos Cursos de Graduação.

Conteúdo Programático
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1. Conceito e definição de política


2. Princípios educacionais – constituição
3. Lei de diretrizes e bases da educação
4. Níveis da educação
5. Diretrizes norteadoras do curso de teologia
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Apresentação
Esta série de estudos temáticos tem por finalidade discutir o papel das políticas educacionais no contexto
da sociedade brasileira e como elas se tornam definidoras das metas e propostas a serem colocadas em
prática na realidade social, uma vez que sua atuação tem caráter regulador sobre os rumos a serem perse-
guidos pela educação, seja esta voltada para a educação básica, seja voltada para o ensino superior.
Ao se pensar em políticas educacionais, vê-se logo que sua influência é decisiva e intencional, visto que
não há uma visão romântica ou nem mesmo neutra sobre a educação direcionada à formação humana,
antes os passos dados fazem parte de uma conjuntura maior proveniente de acordos internos e externos,
o que de fato pode ser visto com a presença de organismos internacionais que interferem diretamente nos
projetos e programas a serem desenvolvidos em âmbito nacional.
Ao falar em políticas educacionais vem à mente uma música popular brasileira composta por Lulu
Santos: “Como uma onda”, a qual será transcrita abaixo. Essa música mantém uma relação bem estreita
com esse tema.
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa

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Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
Políticas educacionais Unidade 13

No mundo
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Acredito que agora você ficou curios@. Confira a analogia que se pode traçar dentre os vários sentidos
a serem representados.
Primeira pergunta: o que interfere na formação de uma “onda”? Com certeza, para aqueles que estão
acostumados com esse fenômeno natural e que presenciam isso em sua realidade dirão: - as marés.
Essa foi fácil. E agora, tente responder: - o que interfere na formação das marés? Nem precisa ser pesca-
dor ou entendedor de astronomia para responder: a lua. Isso mesmo!
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E a última questão: qual o lugar de destino das ondas? Claro que é a praia.
Assim, pode-se chegar à seguinte conclusão: a lua interfere na formação das marés, e as marés, por sua
vez, influenciam na formação das ondas que desaguam na praia. Essa sequência de influências tem tudo
a ver com as políticas educacionais. Como assim? Você deve estar se perguntando.
Bem, veja a explicação: a lua é personificada na imagem do Ministério da Educação e Cultura (MEC),
que comanda o sistema educacional brasileiro, o qual determina as marés (toda sorte de leis, resoluções,
diretrizes, projetos e programas) que serão enfatizados para os sistemas subordinados.
Essas leis, diretrizes, projetos, programas dentre outros (assim como o governo) é regido por ondas, ou
seja, fazem parte de uma proposta governamental que, ao sair de linha, torna-se quase que inexistente,
não é dada continuidade (vem, volta e, às vezes, se desfaz). E tudo isso tem um destino certo chamado
instituição de ensino.
Então, percebeu a sutileza da ação política?
Políticas educacionais Unidade 13
Introdução
Já que a apresentação foi realizada por meio de uma música, então que tal conferir um trecho retirado de Aristóteles
para aprofundar, ainda mais, a questão sobre o efeito da política no âmbito da vida. Fala-se em vida porque, de
fato, a política não está reduzida apenas à organização e ao governo de um Estado, mas à sua própria constituição e
formação identitária, uma vez que os sujeitos são alvos diretos de sua prática.

Antes que você pense que isso é puramente uma questão ideológica, que tal irmos direto ao fato, afinal diante de
fatos, os argumentos devem ser ainda mais contundentes. Concorda?!
Admite-se geralmente que toda arte e toda investigação,
Assim como toda ação e toda escolha,
Têm em mira um bem qualquer (...)
Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim (...)
Que desejamos por ele mesmo
E tudo o mais é desejado no interesse desse fim (...)
Evidentemente tal fim será o bem,
Ou antes, o sumo bem.
Mas não terá o seu conhecimento, porventura,

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Grande influência sobre a nossa vida (...)
Esforcemo-nos por determinar,
Ainda que em linhas gerais apenas.
O que seja ele e de qual das ciências ou faculdades
Constitui o objeto.
Ninguém duvidará de que o seu estudo
Pertença à arte mais prestigiosa
E que mais verdadeiramente
Se pode chamar a arte mestra.
Ora a política mostra ser dessa natureza,
Pois é ela que determina quais as ciências
Que devem ser estudadas num Estado,
Quais são as que cada cidadão
Deve aprender, e até que ponto (...)
(Aristóteles, Ética a Nicômaco, I, 1 e 2)

Na concepção aristotélica, a política seria a base fundante da vida em sociedade, por assim como o maestro, ela rege
o ritmo, a melodia e ensaia a canção ou música a ser apresentada. A política pode ser entendida como a linha mestra
que determina os rumos da sociedade e do Estado em que ganha legitimidade e força.

Ainda na concepção aristotélica, a política traça as diretrizes do ato de formação humana, dando contornos, sub-
stância e até limites, afinal, a visão que se tem de ser humano será aquela que predominará nas propostas do Estado.
Isso pressupõe que o Estado exerce gerência sobre a realidade, a partir da defesa do tão aclarado “bem comum”.

Bom, a discussão apenas começou. Que tal irmos adiante.

Desejo bons estudos e ótimas reflexões.


Políticas educacionais Unidade 01

Assim inicia-se o estudo sobre política educacional

Objetivo

Conhecer o conceito de política educacional e sua influência na realidade brasileira.

Objetivo

Para iniciar esta Unidade Temática faz-se condições dentro das quais se exerce a liberdade
necessário apresentar primeiramente o conceito individual, o cumprimento da justiça, etc
sobre política, visto que sua definição ajuda no (MORA, 2001, p. 2312).
processo de compreensão sobre o seu papel na
No conceito apresentado, encontram-se as duas
realidade social. Antes, porém, é preciso definir o
faces inerentes da política, a que é exercida tanto
sentido dado ao conceito.
por uma classe social, como pelo cidadão. Isso
Entende-se por conceito: sinaliza para uma visão includente de política,
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pois, ao mesmo tempo em que vislumbra aquele


[...] faculdade intelectiva e cognoscitiva do que a realiza profissionalmente, inclui, também, o
ser humano; mente, espírito, pensamento. cidadão comum, sendo este um agente legítimo no
Compreensão que alguém tem de uma palavra; exercício da mesma. E esse exercício está centrado
noção, concepção, ideia; opinião, ponto de na sua capacidade de intervir nos processos, o que
vista, convicção. Dito original e engenhoso, indica nessa visão a presença de uma política de
ditado, máxima, sentença. Ideia ou dito conciso, foro democrático.
define conceito como, resumo, conceituação
(HOUAISS, 2009, p.510) A visão do cidadão como sujeito legítimo para
realizar política pode ser encontrada sobre a
O conceito tem por finalidade definir uma ideia, sua própria essência e forma de existência, uma
uma palavra, um objeto, ou seja, ele diz sobre algo vez que “o homem é sujeito de ação política. É
a fim de trazer compreensão sobre sua existência ele quem a cria, promove e controla. A política
ou forma de ser. Então, ao lançar mão de um é uma atividade de encontro entre homens”
conceito, o que se pretende é demonstrar qual a (GONÇALVES FILHO, 1998, p. 15).
sua função e alcance na realidade social, ou seja,
sua relevância. Ao pensar no ser humano como um produtor de
política, percebe-se que sua ação volta-se para um
Ao definir o conceito de política é preciso pensar coletivo, ou seja, o sentido de alteridade é
compreender o seu sentido, sua abrangência, gerado, uma vez que a prática política marca sua
assim como sua limitação. Afinal, um conceito presença não na satisfação do indivíduo, mas na
traz a representação ou uma ideia sobre algo que ação de promover o bem comum. O bem comum
pode ser alterado quando um novo sentido é a ele torna-se a marca central da política e que muitas
incorporado. vezes não é levada em consideração. Vejam os
diferentes sentidos dados ao bem comum e que
Assim, o Dicionário de Filosofia conceitua política:
são explicitados nesta história.
Como uma atividade que comporta uma atitude
Conta-se que certa vez um presidente americano
reflexiva. Trata-se da atividade do político e
com propósito desenvolvimentista foi visitar
também a de todo o membro de uma sociedade
uma tribo do Oeste. Os índios viviam de caça
na medida em que intervém ou trata de intervir
e pesca, levantavam-se às 4h da madrugada e
nos processos que permitem chegar a decisões
conviviam com a natureza de modo primário.
com respeito à forma de governo, à estrutura
Todos os dias, após o desjejum, conversavam
de governo, aos planos governamentais, às
bastante e iam trabalhar. O trabalho era sempre
Políticas educacionais Unidade 01
ligado à caça e à pesca; por isso, precisavam servir de diretrizes para seu bom funcionamento.
cortar, todo dia, uma árvore. Demoravam um Esta possibilidade parece indicar que a política
dia inteiro para fazê-lo. A machadinha era de não é algo que está parado no tempo, antes sua
pedra, muito pesada e, como se não bastasse, o presença envolve mobilização para ação, pois
corte da árvore era um ritual. O corte iniciava- tem em seu interior a perspectiva de uma ação
se com o mais velho da tribo, que batia até se refletida. E a ação refletiva requer ajustamentos,
cansar. Depois os índios dançavam em volta novas combinações e movimentos.
da árvore e transferiam a machadinha para o
segundo em idade e, assim, todo o dia, até a
Ao fazer a junção da política com educação
derrubada da árvore. Quando a árvore caía,
percebe-se que o seu objetivo será voltado para
todos prorrompiam em dança e canto até o
a formação do ser humano, visto que a proposta
anoitecer. O presidente, ao comparar a situação
educacional assume como núcleo de seu fazer
com a do país que já dispunha de serra elétrica
os processos formativos que contemplam a
e máquinas sofisticadas para cortar árvores, fica
integralidade do ser. Então, a política educacional
estupefato. Retorna à Casa Branca, decidindo
elege como preocupação a sistematização desses
enviar de presente àqueles índios uma serra
processos, sua representação e legitimidade num
elétrica de última geração. Enviou, também, um
determinado contexto social.
técnico para orientar os índios sobre o uso da A marca da política educacional volta-se para
máquina, e avisou que retornaria à tribo para projetar ações e estratégias que assegurem

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uma visita. propostas viáveis para a formação humana, as
Passado alguns meses voltou o presidente
quais devem estar assentadas na qualidade e na
àquela tribo, levando na pasta um projeto de
excelência educativas. Tanto deveria ser assim
reflorestamento. Para sua surpresa, encontrou a
que os projetos e planos educacionais, em seus
floresta tal qual sempre foi. Na verdade, nada
textos, reafirmam essa máxima, embora o que se
entendeu. Será que os índios não aprenderam
assiste é um distanciamento quanto à efetivação
a usar o aparelho? No outro dia, os índios
dessas metas.
levantaram-se como de costume e saíram para A política educacional possibilita compreender,
o trabalho. O presidente reparou na turma da também, o sentido dado à formação humana em
árvore que se dirigia para a floresta, com a serra suas múltiplas dimensões, isso porque não são
elétrica na mão. Chegando ao lugar, dançaram contemplados apenas aspectos ligados ao processo
em torno da árvore eleita, cantaram e passaram escolar, mas todas as áreas que permeiam a forma-
a máquina ao índio mais velho. Este ligou o ção, desde as normas até a prática propriamente
aparelho aproximou-se da árvore e em menos dita. Isso implica pensar que o alcance dado pelas
de cinco minutos estava derrubada. Os índios políticas é abrangente, pois não se detém ao âmbi-
prorromperam em uma dança em torno da to da sistematização do conhecimento, mas as áre-
árvore, até o final do dia. O presidente interpelou as que devem ser contempladas, a fim de que essa
o cacique, querendo saber por que os índios formação seja assegurada.
não cortavam muitas árvores e guardavam ou
acumulavam. O cacique respondeu: - não, índio No contexto das políticas educacionais, então,
só precisa de uma árvore. é possível encontrar diretrizes que visem
ao financiamento da educação, estrutura,
Visões diferenciadas possibilitam olhares diferen- funcionamento e organização dos sistemas de
ciados sobre um mesmo objeto do conhecimen- ensino, indicadores de avaliação de qualidade,
to. Então, a compreensão dada à política assume processos de gestão e seus mecanismos,
vários sentidos, devido às histórias, experiências, fomento à cultura, esporte e lazer, merenda
cultura e idiossincrasias de cada povo situado num escolar, sustentabilidade e ecologia, parâmetros
espaço e lugar. curriculares para a educação básica, formação de
Outra ideia contemplada no conceito de política professores, entre outros.
de Mora (2001) está em sua conexão com o Diante disso, você já pode perceber que o
Estado, à medida que produz, organiza, estrutura tema políticas educacionais envolve uma série
e planeja as ações de governo, as quais devem de temáticas, algumas que são veiculadas ou
Políticas educacionais Unidade 01
conhecidas pela sociedade brasileira e outras que a d) a ampliação da concentração do capital e seu
sociedade só conhece quando se tornam públicas. domínio sobre o trabalho; o trabalho subordina-
Como é o caso das avaliações e dos índices de se formal e concretamente ao capital, e
desenvolvimento da educação básica (IDEB),
que se tornam pautas de campanhas partidárias e) a qualificação simples (trabalho simples), o
na época de eleições e são divulgadas pelos que leva o trabalhador a perder o saber global
partidos nos horários eleitorais, ora para dizer sobre o trabalho.
que a educação melhorou, ora para salientar que
o seu plano de governo visa elevar a qualidade de
ensino. São discursos contraditórios apresentados
pelos diferentes partidos e que depois da eleição,
não se sabe mais o que se está realizando. Eles
voltam ao anonimato. Uma pena, não é mesmo?
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As políticas educacionais ainda refletem as
transformações da sociedade, ou seja, aquelas
provenientes da natureza técnica, científica, Na perspectiva da primeira revolução, pode-se
econômica e política. Isso se torna mais visível inferir que a formação humana voltava-se para
no contexto do trabalho e da escola, espaços que o preparo da mão de obra barata, desprovida da
absorvem os impactos dessas transformações. capacidade de pensar sobre o próprio processo de
Que tal olhar isso a partir da história, claro que de produção, visto que, por ser um trabalho repetitivo,
uma forma panorâmica e bem pontuada? Afinal, o rotineiro e automático, não havia espaço para a
objetivo não é o esgotamento, mas a significação criação livre e nem para o exercício da autonomia,
desses momentos quanto à proposta da formação antes todo o processo já havia sido projetado, por
humana. Para isso, faz-se necessário pontuar sobre isso o trabalhador, apenas, deveria seguir os passos
as revoluções que marcaram os séculos até os dias traçados. Esse trabalho, então, poderia ser atribuído
de hoje. a qualquer pessoa, pois o nível de complexidade
era muito baixo. Isso refletia na remuneração que
A primeira Revolução Técnico-Científica marca era assalariada e na desvalorização do próprio
sua presença na segunda metade do Século XVIII trabalhador. Com a primeira revolução, marca-se
e tem como pilares, segundo Libâneo, Oliveira e a distinção entre duas fronteiras de classes: elite
Toshi (2012, p.71): e proletária. A primeira detinha os processos de
a) a evolução da tecnologia aplicada à produção produção, e a segunda garantia esse processo.
de mercadorias, a utilização do ferro como
A segunda Revolução Técnico-Científica ocorre
matéria-prima, a invenção do tear e a substituição
na segunda metade do século XIX e apresenta
da força humana pela energia e máquina a vapor.
as seguintes características, segundo Libâneo,
Cria-se a passagem da sociedade agrária para a
Oliveira e Toschi (2012, p. 72):
sociedade industrial;
• caracteriza-se pelo surgimento da ação, da
b) a imposição do controle de tempo, a
energia elétrica, do petróleo e da indústria
disciplina, a fiscalização e a concentração dos
química e pelo desenvolvimento dos meios de
trabalhadores para o processo de produção;
transporte e de comunicação;
c) a ampliação da divisão do trabalho, fazendo
• fornece condições objetivas para um sistema
surgir o trabalho assalariado e o proletariado;
Políticas educacionais Unidade 01
de produção em massa e para a ampliação do
trabalho assalariado;

• aumenta a organização e a gerência do


trabalho no processo de produção por meio da
administração científica do trabalho (proposta
por Taylor e Ford); racionalização do trabalho
para aumento da produção, eliminação dos
desperdícios, controle dos tempos e movimentos
dos trabalhadores na linha de montagem;

• ocasiona a fragmentação, a hierarquização, a


individualização e a especialização de tarefas
(linha de montagem);

• intensifica ainda mais a divisão técnica do


trabalho, ao mesmo tempo que promove a
padronização e desqualificação, e Outro fato relevante a ser considerado volta-se para
a criação de Escolas Técnicas, as quais tinham como
• faz surgir escolas industriais e finalidade o preparo de mão de obra qualificada
profissionalizantes (escolas técnicas), bem

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para setores em expansão, como: automobilístico,
como o operário-padrão. serviços (elétricos, eletroeletrônicos, mecânicos,
alimentos) e educação (formação de professores),
no qual a demanda por profissionais visava
suprir a falta de técnicos na sociedade em franco
desenvolvimento.

A Terceira Revolução Científica e Tecnológica
tem início na segunda metade do século XIX,
a qual antecedeu a onda da evolução no campo
Informacional que se instala nos século XX e que
atinge a contemporaneidade.
A terceira Revolução tem como marcas, segundo
Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 72):
I. a microeletrônica, a cibernética, a tecnotrônica,
a microbiologia, a biotecnologia, a engenharia
genética, as novas formas de energia, a robótica,
a informática, a química fina, a produção de
Nesse sentido, a Segunda Revolução traz em seu
sintéticos, as fibras óticas, os chips;
centro a questão da produtividade em massa.
Essa produtividade barateou ainda mais a mão II. acelerar e aperfeiçoar os meios de transporte
de obra e a sua qualificação, pois a partir de e as comunicações (revolução informacional);
tarefas fragmentadas e sem variação, impediu
o desenvolvimento da criação inventiva e do III. aumentar a velocidade e a descontinuidade do
controle dos processos pelo próprio trabalhador. processo tecnológico, da escala de produção,
Bastava ao ser humano apenas reproduzir os da organização do processo produtivo, da
modelos, levando em consideração o tempo e a centralização do capital, da organização do
quantidade, pois sua avaliação estava presa ao processo de trabalho e da qualificação dos
resultado esperado de sua produção. Um bom trabalhadores;
exemplo desse processo é o filme “Tempos
IV. transformar a ciência e a tecnologia em
Modernos”. Nele, está bem demarcada a figura
matérias primas por excelência;
do operário-máquina, que se confunde até mesmo
com o objeto da linha de produção. V. organizar a produção de forma automática,
Políticas educacionais Unidade 01
autocontrolável e autoajustável mediante se tornam comuns termos como realidade
processos informatizados, robotizados por virtual, ciberespaço, hipermídia, correio
meio de sistema eletrônico; eletrônico, Orkut, Facebook, Twiter e outros,
expressando as novas realidades e possibilidades
VI. Tornar a gestão e a organização do trabalho informacionais. Já é comum também a utilização
mais flexíveis e integradas globalmente, e de uma linguagem digital, sobretudo entre os
VII. favorecer a criação de uma economia baseada jovens, para expressar sentimentos e situações
no acesso a serviços, informações, bens de vida;
intangíveis, experiências, etc. • os diferentes mecanismos de informação
Perceba que essa Revolução traz algumas novidades digital (comunicação instantânea), de acesso
ao processo produtivo, primeiro, a flexibilização à informação, de pesquisa e de ligação entre
e a integração; segundo, a acessibilidade aos matérias sempre atualizadas e qualificadas;
bens produzidos; terceiro, a inovação no campo • as novas possibilidades de entretenimento e de
informacional; quarto, a criação de unidades educação (TV educativa, educação a distância,
cada vez menores de armazenamento de dados; vídeos, softwares, etc.), e
quinto, o poder de domínio da tecnologia;
sétimo, substituição da mão de obra humana por • o acúmulo de informações e as infindáveis
alta tecnologia; oitavo, a expansão do chamado condições de armazenamento.
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terceiro setor; nono, a competitividade como base


da economia; e décimo, a hiperespecialização do A quarta evolução aponta para um cenário de maior
ser humano. virtualidade utilizado no contexto da sociedade.
Essa era digital e virtual tem influenciado,
Isso pode ser bem ilustrado na mudança sobremaneira, a forma como o processo ensino e
que ocorre no âmbito da escola, assim: aprendizagem é conduzido. Tem, ainda, permitido

A tecnologia de fato alterou as regras e constitui um uma maior acessibilidade ao conhecimento


novo jeito de produzir e reproduzir informações. e à informação, por meio da disponibilidade
O que determinou novas formas de pensar as fornecida aos dados pela rede interligada de
relações, as organizações e a gestão em diferentes computadores e conhecida como INTERNET,
instâncias (educacionais, empresariais, sociais, quanto ao armazenamento, à transferência, ao
culturais). Com certeza, a tecnologia alterou o compartilhamento, aos serviços e à interatividade.
mundo do trabalho e da escola.
Sobre a questão da acessibilidade, faz-se necessário
Neste cenário em constante transformação e pontuar que, apesar da grande disponibilidade dos
inovação na área tecnológica e comunicacional, dados e das informações, ainda há uma grande
surge a quarta revolução denominada informacional parcela da sociedade sem acesso a esse serviço, o
emergente. Nessa revolução, Libâneo, Oliveira e que conduz a um estado de exclusão social e digital.
Toschi (2012, p. 63) ressaltam sobre: Essa revolução informacional, então, produz uma
nova divisão social, pois “de um lado estão os
• o surgimento de nova linguagem que têm monopólio do pensamento, ou melhor,
comunicacional, uma vez que circulam e da informação; de outro, os excluídos desse
Políticas educacionais Unidade 01
exercício”. (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, respostas e traçar um perfil do sujeito em
2012, p. 80) formação, a fim de corresponder às expectativas
geradas pelos novos tempos.
Essas Revoluções, com certeza, impactaram
as políticas educacionais, pois em cada tempo Vamos dar uma pausa e retornamos com a questão
e lugar histórico, as metas e as propostas da Constituição Federal e a normativa dada à
traçadas tentam acompanhar as transformações educação. Então, para que você resfrie sua cabeça,
ocorridas na sociedade, no sentido de dar divirta-se com a atividade do “Sei Responder”.

Referências

Dicionário Houaiss (2009),


GONÇALVES FILHO, Tarcizo. Ensino Religioso e formação do ser político: uma proposta para
a consciência de cidadania. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar.
Políticas, Estrutura e Organização. São Paulo: Cortez, 2012.
MORA. J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, v.3, 2001.

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Políticas educacionais Unidade 01

Atividades

Sei responder

1 - Veja as charges e marque a Revolução Tecnológica e Científica que está presente.


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a) primeira Revolução
b) segunda Revolução
c) terceira Revolução
d) quarta Revolução

a) primeira Revolução
b) segunda Revolução
c) terceira Revolução
d) quarta Revolução
Políticas educacionais Unidade 02
A carta magna brasileira e a educação

Objetivo

Conhecer o status dado à educação na Constituição Federal do Brasil.

Objetivo

Se existe uma carta que é importante para uma a proteção à maternidade e à infância, a assistência
sociedade, esta é a Constituição. Afinal, além de aos desamparados, na forma desta Constituição”.
estabelecer os princípios que regem o país, ela,
A educação no rol dos Direitos Sociais torna-se,
ainda, normatiza sobre os direitos, os deveres
então, um direito que deve ser estendido a todo
das pessoas jurídicas e físicas, contemplando a
o cidadão, sem distinção de classe, raça ou cor.
natureza pública e a privada. Isso é revelador,
Enquanto direito, ele faz parte do indivíduo, sendo,
pois se cada cidadão ou cidadã quiser conhecer a
portanto, subjetivo. O Estado, ao oportunizar esse

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identidade de seu país, no que ele acredita, prioriza
direito, não está fazendo além de sua obrigação. O
e investe, então, lhe resta ler a Constituição.
Estado está cumprindo um preceito constitucional.
Essa constatação é tão verdadeira que a
No artigo 22, Inciso IX, lê-se que é de compe-
Constituição serve como parâmetro mediador
tência privativa da União legislar sobre as leis
para a criação de novas leis, políticas, planos e
de diretrizes e bases da educação nacional. Isso
projetos. Verifica-se isso no caso da educação, da
porque cabe a União dar um rumo comum que
saúde, da proteção ambiental, da questão afro e
deve ser seguido tanto pelos estados da federação
indígena, dentre outros.
como pelo Distrito Federal, municípios e territó-
O certo é que quando se conhece a Constituição, rios. Então, percebe-se,
torna-se perceptível a compreensão de como aqui, a subordinação dos
o Estado se estrutura, organiza e funciona em estados, Distrito Federal,
torno das questões de princípios, direitos, deveres, municípios e territórios à
sanções, responsabilidades e obrigações. diretriz dada pela União.
O não cumprimento dis-
Ao ler a Constituição, compreendemos que, por so é considerado incons-
vivermos num Estado Democrático de Direito, titucional.
o seu fundamento preceitua que todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio de Já no artigo 23, Inciso V, lê-se sobre a competência
representantes eleitos ou diretamente. Por isso comum a ser celebrada entre a União, os
que se torna tão importante exercer a cidadania Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Essa
neste país. Quer queiramos ou não, somos seres competência diz respeito aos meios de acesso à
políticos e não devemos dar as costas para essa cultura, à educação e à ciência. Isso sinaliza que
responsabilidade-missão. esses entes deverão criar e oportunizar leis e ações
que atendam a essa finalidade constitucional.
Feita essa pequena introdução, faz-se necessário
sinalizar sobre como a presença da educação O artigo 24, no Inciso IX, diz que a União, os
figura na Constituição. A primeira referência é Estados, o Distrito Federal deverão legislar sobre
que a educação é alistada como um direito social. a educação, cultura, ensino e desporto de forma
Isso está descrito no artigo 6º, cujo Título é: Dos concorrente. Isso significa que os entes têm a
Direitos Sociais. Ele expressa que: capacidade de legislar sobre o mesmo ponto
de forma convergente. Então, cada ente pode
“São direitos sociais a educação, a saúde, o criar leis sobre o seu próprio sistema de ensino,
trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, desde que não conflita com o estabelecido na
Políticas educacionais Unidade 02
Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da à União o direito de fiscalizar o que os entes
Educação Nacional. federados e o Distrito Federal estão realizando na
esfera de suas competências.
O artigo 30, ao falar sobre a Competência
dos Municípios, apresenta em seu Inciso VI Esta mesma atribuição interventora da União é
a seguinte direção: Compete aos Municípios conferida aos Estados em relação aos Municípios
manter com a cooperação técnica e financeira da no artigo 35, Inciso III, sendo dado a eles o direito
União e do Estado, programas de educação pré- de fiscalizar sobre a aplicação correta dos recursos
escolar e de ensino fundamental. Isso significa destinados ao ensino e à saúde.
que os Municípios recebem subvenção de caráter
técnico e financeiro para a gestão dos seus Na proposta constitucional, cada ente federado terá
sistemas de ensino. competências bem definidas. Essas competências
não podem sobrepor ou extrapolar os limites
O artigo 34, na alínea e, ressalta que a intervenção dados pela Carta Magna. Então, para uma melhor
da União nos Estados e no Distrito Federal só visualização sobre a competência da União, dos
será cabível quando houver descumprimento Estados e dos Municípios quanto às atribuições de
dos princípios constitucionais e na ausência de cada sistema de ensino, pode-se apresentar uma
aplicação do mínimo exigido da receita resultantes síntese. Essa síntese objetiva ajudar no processo
de impostos estaduais, no provimento, na de compreensão sobre a esfera de atuação de cada
manutenção e no desenvolvimento do ensino e nas ente federado. Segue-se o quadro com a síntese
18

ações e serviços públicos de saúde. O que confere para sua visualização:

ENTES UNIÃO ESTADO MUNICÍPIO

Elabora o Plano Muni-


cipal de Educação.
Elabora o Plano Estadual de
Organiza o Sistema
Educação.
Elabora o Plano Nacional de Municipal de Ensino,
Organiza o Sistema Estadu- considerando as políti-
Educação.
al de Ensino. cas, os planos da União
Organiza o Sistema Federal de
Define com os Municípios e dos Estados.
Ensino.
a colaboração na oferta do Atua na autorização,
Estabelece as Diretrizes Curricu- ensino fundamental. no reconhecimento,
lares Nacionais.
Atua na autorização, no re- no credenciamento, na
Assume a responsabilidade pelo conhecimento, no creden- supervisão e na avalia-
Sistema de Informação e pela ciamento, na supervisão e ção de Cursos e Insti-
Avaliação Educacional. na avaliação de Cursos Su- tuições de Ensino de
ATRIBUIÇÕES Atua na autorização, no reco- periores e Instituições de sua competência.
nhecimento, no credenciamen- Ensino de sua competência. Responsável pela ofer-
to, na supervisão e na avaliação Responsável pela oferta do ta do Ensino Funda-
de Cursos Superiores e Institui- Ensino Fundamental e Ensi- mental e da Educação
ções de Ensino de sua compe- no Médio. Infantil.
tência.
Atua de forma supletiva e Atua de forma redistri-
Assiste técnica e financeiramen- redistributiva. butiva em relação às
te aos estados/ Distrito federal escolas de sua compe-
Responsável pelo transpor-
e Municípios (função supletiva e tência.
te escolar para alunos do
redistributiva)
ensino regular. Responsável em garan-
tir o transporte escolar
para alunos da rede
municipal.
Políticas educacionais Unidade 02
O artigo 37 aponta sobre a proibição de acumulação Os princípios são fundamentais à educação, pois
de cargos públicos, excetuando à destinada a dois ao se pensar nas políticas públicas, deve-se levar
cargos de professor e a de um cargo de professor em consideração o que se espera dos planos e
com outro, técnico ou científico. Então, o exercício das metas traçadas para que a finalidade educativa
da docência pode ser efetivado na esfera pública voltada à formação humana seja alcançada.
em dois sistemas de educação diferentes ou iguais:
União e Estado; Estado e Município; Estado e Assim os princípios visam à (ao):
Estado; Município e Município. I- igualdade de condições para o acesso e
O artigo 40 trata sobre a aposentadoria e no permanência na escola;
parágrafo 5º, dispõe que haverá uma redução II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar
do tempo para o professor que comprove e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
exclusivamente tempo de efetivo exercício das
funções de magistério na educação infantil e no III- pluralismo de ideias de concepções pe-
ensino fundamental e médio. dagógicas, e coexistência de i n s t i t u i ç õ e s
públicas e privadas de ensino;
Os artigos abordados tratam de temas gerais da
educação, porém a Constituição reserva no Título IV- gratuidade do ensino público em estabe-
III, Seção I, artigos 205 a 214, de assuntos mais lecimentos oficiais;
específicos da Educação.

19
V- valorização dos profissionais do ensino,
garantidos na forma da lei, planos de car-
reira para o magistério público, com ingresso
exclusivamente por concurso público de pro-
vas e títulos, aos da rede pública.

VI- gestão democrática do ensino público, na


forma da lei;

VII- garantia do padrão de qualidade;


No artigo 205, a educação é apontada como
direito de todos e dever do Estado e da família, VIII- piso salarial profissional nacional para
ressaltando que a mesma será promovida e os profissionais da educação escolar públi-
incentivada com o apoio da sociedade, tendo ca, nos termos da lei federal.
como objetivo o pleno desenvolvimento Os princípios, ainda, asseguram os valores
da pessoa, seu preparo para o exercício da pautados na equidade, inclusão, democracia,
cidadania e sua qualificação para o trabalho. qualidade e oportunidade para todos e todas, o
Esse artigo demonstra o valor da educação na que infere sobre a universalidade educacional a ser
formação integral do ser humano, à medida que vivida no contexto das instituições de ensino.
abrange as esferas bio-psico-sociais-espirituais- O artigo 207 trata sobre o Ensino Superior,
econômicas, as quais são imprescindíveis para o possibilitando às Universidades gerirem suas
sentido de ser pessoa. instituições com autonomia didático, científica,
No artigo 206, são elencados oito princípios que financeira e patrimonial, devendo, portanto,
regerão o ensino. Esses princípios irão nortear obedecer ao princípio da indissociabilidade
as práticas educativas das instituições de ensino, entre ensino, pesquisa e extensão. Isso significa
quer sejam elas de natureza pública ou privada. que compete às Universidades atenderem a essa
Os princípios dão base para o surgimento de tríplice finalidade, desenvolvendo ações que
políticas, planos e projetos que serão verificados contribuam para a aproximação da Universidade
no contexto da Educação Brasileira. Eles tornam- com o conhecimento, a pesquisa e a sociedade.
se orientadores das ações e estratégias projetadas, No artigo 208, é apresentado o dever do Estado
uma vez que indicam o lugar aonde se quer chegar, com a Educação. Esse dever perpassa desde
por intermédio do ensino. a oferta, acesso, atendimento, chegando à
Políticas educacionais Unidade 02
proposta da universalização gratuita na Educação estão matriculadas e frequentando a escola. Dever
Básica. Vê-se que a preocupação do Estado este que é compartilhado com a família.
é estabelecer garantias que de fato possam
atender a responsabilidade que lhe foi atribuída O artigo 209 aborda sobre o direito de a iniciativa
constitucionalmente. privada ofertar e atuar no contexto do ensino. Para
tal, devem-se observar as normas da Educação
Assim, as garantias são: Nacional e ser, ainda, avaliada e autorizada pelo
Poder Público para atuar neste campo. Ou seja,
I- educação básica obrigatória e gratuita dos a iniciativa privada submete seu projeto político-
4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos d e pedagógico para apreciação das Secretarias de
idade, assegura inclusive sua oferta gratuita Educação, por meio dos seus Núcleos e, quando
para todos os que a ela não tiveram acesso na autorizadas, devem manter sempre atualizado seu
idade própria. projeto, regimento e estatuto de funcionamento.
II- progressiva universalização do ensino O artigo 211 fala do regime de colaboração entre
médio gratuito. União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
III- atendimento especializado aos com relação à organização de seus sistemas de
portadores de deficiência, preferencialmente ensino. Nesse artigo, vê-se que há uma delimitação
na rede regular de ensino. sobre a esfera de atuação dos entes. Assim, a União
organizará o sistema federal de ensino e o dos
20

IV- educação infantil, em creche e pré-escola, Territórios e financiará as instituições de ensino


às crianças até 5 (cinco) anos de idade. público federais. Sua função será redistributiva e
supletiva, visando garantir a equidade, o padrão
V- acesso aos níveis mais elevados do ensino,
mínimo de qualidade, a partir da assistência
da pesquisa e da criação artística, segundo a
técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal
capacidade de cada um.
e Municípios.
VI- oferta de ensino noturno adequado às
Os Estados e o Distrito Federal, por sua vez,
condições do educando.
atuarão prioritariamente no ensino fundamental
VII- atendimento ao educando, em todas e médio, e os Municípios atuarão prioritariamente
as etapas da educação básica, por meio no ensino fundamental e na educação infantil.
de programas suplementares de material
União, Estados, Distrito Federal e Municípios
didático-escolar, transporte, alimentação e
definirão formas de colaboração que visem
assistência à saúde.
garantir a universalização do ensino obrigatório.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito O artigo arremata considerando que a educação
é direito público subjetivo. básica pública atenderá prioritariamente ao ensino
regular, ou seja, aos alunos em idade própria fixada
§ 2º O não oferecimento do ensino na Constituição (4 aos 17 anos de idade).
público, ou sua oferta irregular, importa
responsabilidade da autoridade competente. O artigo 212 trata da questão de financiamento na
Educação e define que o percentual a ser investido
§ 3º Compete ao Poder Público recensear pela União será anualmente, nunca menos de
os educandos no ensino fundamental, fazer- dezoito por cento. Já os Estados, o Distrito
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento
responsáveis pela frequência à escola. no mínimo. Esse percentual é proveniente das
receitas resultantes de impostos, compreendendo,
Os parágrafos deste artigo reafirmam sobre
aqui, a gerada pelas transferências, na manutenção
o direito de todos e todas à educação, o dever
e desenvolvimento do ensino.
e a responsabilização atribuída à autoridade
competente, quanto à oferta do ensino público e a O artigo 213 ao tratar, ainda, sobre financiamento
necessidade de o Poder Público realizar o censo no assegura que os recursos públicos também podem
ensino fundamental, o qual permite ver se todas ser aplicados em escolas de caráter comunitário,
as crianças na idade especificada na Constituição confessional e filantrópico. Essa abertura da
Políticas educacionais Unidade 02
Constituição agrega escolas de natureza privada que de desenvolvimento e crescimento em nível de
comprovem não ter fins lucrativos e que invistam outros países do, então, chamado primeiro mundo.
seus excedentes financeiros na educação, mesmo
que cobrem mensalidades altas. E, também, que Estabelecer metas de aplicação de recursos
assegurem a destinação de seu patrimônio, a outra públicos em educação como proporção do
escola comunitária, filantrópica e confessional, ou produto interno bruto: destinação de recursos
ao Poder Público, no caso de encerramento de específicos no investimento da educação.
suas atividades. Atuar na valorização dos (as) profissionais da
Os recursos previstos no artigo podem ser educação: a ser implementada por intermédio
aplicados em forma de bolsas de estudo para o da formação inicial e continuada. A ideia é a
ensino fundamental e médio, para alunos e alunas aprendizagem contínua.
que comprovarem insuficiência de renda, ou para Promover os princípios ligados ao respeito
suprir falta de vagas em escolas públicas nos cursos aos direitos humanos, à diversidade e à
regulares, porém o Poder Público deve investir sustentabilidade socioambiental: criação de
prioritariamente nessas áreas, a fim de expandir e políticas, planos e projetos que contemplem
suprir a carência de escolas públicas. essas finalidades.
No artigo 214 é estabelecida a previsão de criação
do Plano Nacional de Educação, com duração

21
de 10 anos. Esse plano tem por objetivo articular
o sistema nacional de educação em regime de
colaboração, definir diretrizes, objetivos, traçar
metas e estratégias para esse período, a fim de
assegurar o desenvolvimento e a manutenção do
ensino nos níveis, nas etapas e nas modalidades
da Educação Básica e no Ensino Superior, tendo
O Plano Nacional de Educação age na
aprovado o seguinte texto:
promoção da qualidade educacional, a fim de
Erradicar o analfabetismo: dar um fim a um elevar a educação do país a patamares mais
problema tão antigo que, ainda, persiste no cenário aceitáveis de desenvolvimento e excelência.
da sociedade brasileira. As metas para o decênio 2011- 2020 constam
assim no Relatório Aprovado:
Universalizar o atendimento escolar:
oportunizar escolas para todos e todas, ou seja, Meta 1: Universalizar, até 2016, a educação
dar condições para que todas as crianças tenham infantil na pré-escola para as crianças de quatro
acesso à educação pública gratuita e de qualidade. a cinco anos de idade e ampliar a oferta de
educação infantil em creches de forma a atender,
Melhorar a qualidade do ensino: prover meios no mínimo, cinquenta por cento das crianças de
para elevar os índices da qualidade de ensino. até três anos até o final da vigência deste PNE.
Um dos meios pensado, em nível nacional, vem
associado à proposta de avaliação externa, como Meta 2: Universalizar o ensino fundamental
Sistema de Avaliação da Educação Básica, Exame de nove anos para toda a população de seis
Nacional do Ensino Médio, Exame Nacional de a quatorze anos e garantir que pelo menos
Avaliação e Desempenho Educacional, Provinha noventa e cinco por cento dos alunos concluam
Brasil, sem falar dos instrumentos e processos essa etapa na idade recomendada, até o último
avaliativos em nível estadual e municipal. ano de vigência deste PNE.

Formar para o trabalho: prover e priorizar a Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento
qualificação profissional, o que indica formar para escolar para toda a população de quinze a
o mercado de trabalho. dezessete anos e elevar, até o final do período de
vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas
Promover o desenvolvimento humano, no ensino médio para oitenta e cinco por cento.
científico e tecnológico do país: a tríade pensada
para que uma sociedade possa alcançar patamares
Políticas educacionais Unidade 02
Meta 4: Universalizar, para a população de jovens e adultos na forma integrada à educação
quatro a dezessete anos, o atendimento escolar profissional, nos ensinos fundamental e médio.
aos alunos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou Meta 11: Triplicar as matrículas da educação
superdotação, preferencialmente na rede regular profissional técnica de nível médio, assegurando
de ensino, garantindo o atendimento educacional a qualidade da oferta e pelo menos cinquenta
especializado em salas de recursos multifuncionais, por cento da expansão no segmento público.
classes, escolas ou serviços especializados, públicos Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na
ou comunitários, nas formas complementar e educação superior para cinquenta por cento
suplementar, em escolas ou serviços especializados, e a taxa líquida para trinta e três por cento da
públicos ou conveniados. população de dezoito a vinte e quatro anos,
Meta 5: Alfabetizar todas as crianças, no assegurada a qualidade da oferta e expansão
máximo, até o final do terceiro ano do ensino para, pelo menos, quarenta por cento das novas
fundamental. matrículas, no segmento público.

Meta 6: Oferecer educação em tempo integral Meta 13: Elevar a qualidade da educação superior
em, no mínimo, cinquenta por cento das escolas pela ampliação da proporção de mestres e
públicas, de forma a atender, pelo menos, doutores do corpo docente em efetivo exercício
vinte e cinco por cento dos (as) alunos (as) da no conjunto do sistema de educação superior
22

educação básica. para setenta e cinco por cento, sendo, do total,


no mínimo, trinta e cinco por cento de doutores.
Meta 7: Fomentar a qualidade da educação
básica em todas as etapas e modalidades, com Meta 14: Elevar gradualmente o número de
melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem matrículas na pós-graduação stricto sensu, de
de modo a atingir as seguintes médias nacionais modo a atingir a titulação anual de sessenta mil
para o IDEB: mestres e vinte e cinco mil doutores.

IDEB 1º ano 3º ano 5º ano 7º ano 10º ano

Anos iniciais do ensino fundamental 4,9 5,2 5,5 5,7 6,0

Anos finais do ensino Fundamental 4,4 4,7 5,0 5,2 5,5

Ensino médio 3,9 4,3 4,7 5,0 5,2

Meta 8: Elevar a escolaridade média da Meta 15: Garantir, em regime de colaboração


população de dezoito a vinte e nove anos, de entre a União, os Estados, o Distrito Federal
modo a alcançar no mínimo doze anos de estudo e os Municípios, no prazo de um ano de
no último ano, para as populações do campo, vigência deste PNE, a política nacional de
da região de menor escolaridade no país e dos formação e valorização dos profissionais da
vinte e cinco por cento mais pobres, e igualar a educação, assegurado que todos os professores
escolaridade média entre negros e não negros e as professoras da educação básica possuam
declarados à Fundação Instituto Brasileiro de formação específica de nível superior, obtida em
Geografia e Estatística - IBGE. curso de licenciatura na área de conhecimento
em que atuam.
Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da
população com quinze anos ou mais para Meta 16: Formar, em nível de pós-graduação,
noventa e três vírgula cinco por cento até 2015 cinquenta por cento dos professores da educação
e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o básica, até o último ano de vigência deste PNE,
analfabetismo absoluto e reduzir em cinquenta e garantir a todos os profissionais da educação
por cento a taxa de analfabetismo funcional. básica formação continuada em sua área de
atuação, considerando as necessidades, demandas e
Meta 10: Oferecer, no mínimo, vinte e cinco contextualizações dos sistemas de ensino.
por cento das matrículas de educação de
Políticas educacionais Unidade 02
Meta 17: Valorizar os (as) profissionais do Este documento leva em consideração os 8 (oito)
magistério das redes públicas da educação básica, objetivos de desenvolvimento do milênio, os quais
a fim de equiparar o rendimento médio dos (as) têm como meta combater a pobreza e trazer o bem-
demais profissionais com escolaridade equivalente, estar. Os objetivos estão arrolados na publicação
até o final do sexto ano da vigência deste PNE. Educação de qualidade para todos: um assunto de
direitos humanos (UNESCO, ORELAC, 2007, p. 21):
Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a
existência de planos de carreira para os (as) 1- Erradicar a pobreza extrema e a fome.
profissionais da educação básica e superior 2- Alcançar o ensino fundamental e
pública de todos os sistemas de ensino e, universal.
para o plano de carreira dos profissionais da
3- Promover a igualdade entre os gêneros
educação básica pública, tomar como referência
e a autonomia da mulher.
o piso salarial nacional profissional, definido
em lei federal, nos termos do art. 206, VIII, da 4- Reduzir a mortalidade infantil.
Constituição Federal. 5- Melhorar a saúde materna.
6- Combater o HIV/Aids, a malária e
Meta 19: Assegurar condições, no prazo de dois
outras doenças.
anos, para a efetivação da gestão democrática
da educação, associada a critérios técnicos de 7- Garantir a sustentabilidade do meio
mérito e desempenho e à consulta pública à ambiente.

23
comunidade escolar, no âmbito das escolas 8- Criar uma associação comum para o
públicas, prevendo recursos e apoio técnico da desenvolvimento.
União para tanto. Pode-se inferir desse documento que os objetivos
abrangem outras esferas, além da educação, o que
Meta 20: Ampliar o investimento público em
sinaliza para uma interdependência de fatores que
educação pública de forma a atingir, no mínimo,
contribuem para que a qualidade de vida seja uma
o patamar de sete por cento do produto Interno
conquista e uma realidade no contexto dos países
Bruto (PIB) do País no quinto ano de vigência
da América Latina e Caribe.
desta Lei e, no mínimo, o equivalente a dez por
cento do PIB ao final do decênio. Bom, você já pode perceber a interligação
existente entre os diferentes discursos. Essa
Como você já pode perceber, o que a Constituição
interligação evidencia que as políticas educacionais
prevê é o que de fato irá se concretizar na realida-
não surgem do vazio, antes são projetadas
de social. Claro que os planos, projetos e políticas
com uma intencionalidade bem definida. Essa
projetadas também sofrem pressões de organismos
intencionalidade também está presente na Lei de
internos e de acordos celebrados. Um dos meca-
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN),
nismos que influencia a educação brasileira é a
por isso será alvo de nossos estudos. Isso porque
UNESCO (Organização das Nações Unidas para
“as diretrizes nascidas das bases inscritas na Carta
Educação, Ciência e a Cultura). Tanto é assim, que
Magna, que se constituem na matéria prima de uma
essas metas estão condensadas num documento
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”.
que prevê insumos de desenvolvimento, crescimen-
(SOUZA e SILVA, 1997, p. 1)
to e qualidade na educação para a América Latina
e o Caribe, os quais foram celebrados pelos Minis- Descanse um pouco, faça as atividades e
tros da Educação desses países numa reunião de prepare-se para mais uma jornada no campo das
foro Intergovernamental. políticas educacionais.

Referências

BRASIL. Constituição Federal do Brasil, 1988.


BRASIL. Projeto de Lei 8035/2010.
UNESCO. Educação de qualidade para todos: um assunto de direitos humanos. Brasília: UNESCO/
ORELAC, 2007.
Políticas educacionais Unidade 02

Atividades

Sei responder

1 - Observe a charge e marque a ÚNICA resposta que não está contemplada na imagem.
24

a) a educação é inclusiva
b) a educação não oferece oportunidade a todos.
c) não há escolas para todos.
d) o acesso e a universalização da educação, ainda, é uma meta.

2 - Se um Estado Brasileiro quiser interferir na gestão do município, com relação ao seu


sistema de ensino, essa intervenção será considerada:
a) Correta, pois o Município é subordinado ao Estado.
b) Incorreta, pois o Estado só poderá intervir em casos específicos, arrolados na Constituição.
c) Incorreta, pois o Estado não pode em nenhuma hipótese interferir na gestão municipal.
d) Correta, pois o Estado tem este poder dado pela Constituição.
Políticas educacionais Unidade 03
Legislação educacional brasileira: desenrolando os
fios na história
Objetivo

Conhecer a importância da lei que estabelece as diretrizes e bases para a educação nacional.

Objetivo

“Começar pelo princípio, como, se Outra preocupação de Campos reside na esfera


esse princípio fosse a ponta, da formação de professores secundários e de
sempre visível de um fio mal enrolado, que cultura geral e, também, a ampliação da estrutura
bastasse puxar e ir puxando do ensino secundário para sete anos, sendo cinco
até chegarmos a outra ponta, a do fim (...). de estudo básico e dois propedêuticos, embora
O princípio nunca foi a ponta n a finalidade desse nível de ensino continuasse de
ítida e precisa de uma linha, caráter preparatório para outros níveis.

25
o princípio é um processo lentíssimo,
demorado, que exige tempo e paciência, Em 34, surge no Brasil o movimento da Escola
para se perceber em que direção quer ir, que Nova que, inspirado nos ideais pedagógicos
tenteia o caminho como um cego, progressistas de Dewey, Claparede e funcionalista
o princípio é só o princípio.” de Durkhein, introduzem a visão humanista e laica
do ensino, embora este último ideal fosse alvo de
Ao se fazer uma retrospectiva da educação resistências de grupos espiritualistas e cristãos,
brasileira, a partir dos anos 30, é preciso apontar pois defendiam a existência, o funcionamento e a
os fatos históricos que impactaram, e que ainda presença livre de escolas confessionais.
impactam o nascimento e implantação de políticas
educacionais, explicitadas na forma de legislação. Em 37, com o advento do Estado Novo, é
atribuída ao Estado a função de traçar as diretrizes
“As políticas educacionais foram tratadas na da Educação Nacional e, ainda, de fixar o Plano
qualidade de componentes do conjunto das Nacional de Educação. O Estado, ainda, deveria
políticas públicas de corte social, entendidas assegurar o caráter gratuito e compulsório
como a expressão da ação (ou não) social do do ensino primário e manter os seus sistemas
Estado e que têm como principal referente educacionais.
à máquina governamental” (AZEVEDO e
AGUIAR, 2001, p. 73). Jardim et al (1985, p. 15) ressaltam que “mantendo
o caráter gratuito e compulsório do ensino
Além de esse poder regulatório do Estado, primário, o dispositivo constitucional preocupou-
ainda, faz-se necessário evidenciar a influência se sobretudo com a instrução vocacional e pré-
de correntes de pensamento no processo de vocacional”.
constituição do Estado e, consequentemente, de
políticas educacionais, uma vez que novas ideias Na gestão Capanema, novas ações demarcam
assumidas e incorporadas se legitimam na forma o cenário educacional, como: a fundação da
como este mesmo Estado é estabelecido. Faculdade Nacional de Filosofia; a criação do
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP)
A década de 30 torna-se o princípio da Reforma e da Comissão Nacional do Livro Didático, além
Educacional Brasileira, a partir da implantação das da Comissão Nacional do Ensino Primário.
propostas de Fernando Campos, que assume a
pasta de ministro do recém criado Ministério da Em 41, ainda sob o comando de Capanema, é
Educação e Saúde. É dele a autoria da reforma do criada a Lei Orgânica de Ensino Industrial, a qual
ensino primário e secundário ocorridas em Minas expandiu a oferta do ensino técnico-profissional
Gerais e ampliadas para todo o território nacional. para todo o território nacional.
Políticas educacionais Unidade 03
Em 42, o ensino secundário passa por mais uma c) O fortalecimento da unidade nacional
reforma. Agora sua estrutura é apresentada pela e da solidariedade internacional;
terminologia ciclos: o primeiro ciclo correspondia
ao ginasial. Sua duração era de 4 anos, comum a d) O desenvolvimento integral da
todos; o segundo ciclo, correspondia ao colegial, personalidade humana e a sua participação
subdivido em clássico e científico. O objetivo do na obra do bem comum;
clássico era a formação humanística e do científico e) O preparo do indivíduo e da sociedade
a formação realística. para o domínio dos recursos científicos
Em 46, é promulgada a nova Carta Magna do e tecnológicos que lhes permitam utilizar
país, que prescreve a necessidade de nova lei de as possibilidades e vencer as dificuldades
diretrizes e bases para a educação nacional, a qual do meio;
vem se consolidar em 1961. f) A preservação e expansão do
Na década de 50, a educação brasileira apresentava patrimônio cultural;
o seguinte quadro: predominância de escolas g) A condenação a qualquer tratamento
particulares, em especial, escolas confessionais; desigual por motivo de convicção
distanciamento e diferenciações entre os ramos filosófica ou religiosa, bem como a
secundário e técnico, visto que o primeiro era quaisquer preconceitos de classe ou raça.
inflexível e acadêmico e, o segundo, utilitário;
26

centralização no plano federal do campo O alicerce principal da 4024/61 foi a descentralização,


administrativo e pedagógico, que resultava na mediante a criação de sistemas estaduais de ensino,
imposição pelo Ministério da Educação de com a finalidade de atender as peculiaridades e
currículos, programas e metodologias de ensino. especificidades regionais. A filosofia norteadora
era a liberdade a ser praticada pelas escolas, pois o
Em contrapartida, vê-se o crescimento qualitativo fim almejado era a transformação sócio-cultural da
do ensino primário, devido à existência de escolas realidade brasileira.
de formação de professores nas principais capitais
do país, e sua vinculação à administração estadual, Os educadores tiveram grande participação para
que garantia uma relativa liberdade de ação concretização deste fim educativo, à medida que
às escolas. sob sua responsabilidade estava a tarefa de “fazer
frutificar a filosofia pedagógica emanada no texto
Na década de 60, é sancionada a primeira Lei legal, mas sobretudo a incumbência de criar uma
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional educação autenticamente nacional e democrática,
(LDBEN), conhecida pelo número 4024/61. perfeitamente identificada com a comunidade e o
“Na LDBEN 4024/61, dava-se prioridade momento histórico” (JARDIM et al, 1985, p. 16).
aos mais altos valores humanos, àqueles que
permanentemente elevam o homem sobre tudo o A equivalência trazida pela LDBEN 4024/61
mais, sejam objetos, sejam instituições” (SOUZA possibilitava a articulação entre os níveis de
e SILVA, 1997, p. 7). ensino, quer seja, no sentido horizontal, quer
seja, no sentido vertical, porém a dissociação e a
O artigo 1º da LDBEN 4024/61 traz a seguinte dualidade entre o ensino acadêmico e profissional
redação: não foram resolvidas.
Artigo 1º – A educação nacional, inspirada nos A estrutura do ensino de educação de base
princípios da liberdade e dos ideais de solidariedade era assim configurada: ensino primário, com
humana, tem por fim: duração mínima de quatro anos e máxima de seis
a) Compreensão dos direitos e deveres da anos, tendo a possibilidade de integração entre
pessoa humana, do cidadão, do Estado, este nível de ensino com o de nível médio, por
da família e dos grupos que compõem a meio da criação da 5ª. e 6ª. Séries, sendo estas
comunidade; suplementares ao curso primário, o que poderia
soar como continuidade entre os níveis.
b) O respeito à dignidade e às liberdades
fundamentais do homem; A escola média apresentava a seguinte estrutura:
Políticas educacionais Unidade 03
ginasial, primeiro ciclo e colegial, segundo ciclo, A redação do artigo 1º da LDBEN 5972/71 é
porém o currículo do ensino secundário continua alterada pela Lei 7044/82 por pressões da classe
sendo pensado e imposto pela LDBEN, contendo dominante que não aceitava o ensino técnico-
disciplinas obrigatórias indicadas pelo Conselho profissional para seus filhos e ainda acreditava numa
Federal de Educação e disciplinas optativas, proposta científica e acadêmica de formação. A nova
indicadas pelos Conselhos Estaduais de Educação. redação ficou assim: “O ensino de 1º e 2º Graus
tem por objetivo geral proporcionar ao educando
No Plano Trienal de Educação (1963- 1965), “foi a formação necessária ao desenvolvimento de suas
apresentado o projeto de ginásios modernos, potencialidades como elemento de autorrealização,
caracterizados como, ginásios orientados para preparação para o trabalho e para o exercício
o trabalho, com opções de cursos comuns com consciente da cidadania”.
opção para práticas de comércio, indústria e
agricultura.” (JARDIM et al, 1985, p. 17) A nova redação redefiniu a proposta educacional
estabelecida pela LDBEN 5692/71, à medida
Em 1968, foi promulgada a Lei 5.540, a qual que suprimiu a ideia de universalização da
fixou normas de organização e funcionamento qualificação para o trabalho no 2º Grau, o que
do ensino superior. Essa lei procurou manter agradou a elite brasileira.
articulação com o ensino médio, o que sinalizou a
presença de novos rumos no cenário educacional A LDBEN 5692/71 permaneceu vigente por mais
brasileiro. Destaca-se: o impacto das mudanças de 20 anos. Essa duração prolongada fez com que

27
sociais alavancadas pelo ideário desenvolvimentista se tornasse uma lei caduca, pois não acompanhava
na reformulação dos níveis de ensino primário e mais as demandas e nem as transformações sociais,
médio apontadas. econômicas, políticas, culturais e educacionais em
que se encontrava o país. Era necessário rever
Em 1971, é promulgada a nova LDBEN 5692/71. seus princípios, sua estrutura, sua organização
Essa lei estabeleceu como objetivo geral do ensino e funcionamento voltados para a educação. Os
de 1º E 2º Graus “proporcionar ao educando a principais problemas apontados pelos estudiosos
formação necessária ao desenvolvimento de giravam em torno de sua implantação e efetividade
suas potencialidades, como elemento de auto- de ação no contexto brasileiro.
realização, qualificação para o trabalho e preparo
para o exercício consciente da cidadania”. Constatou-se falhas na sua implantação,
devido a aspectos tais como: não aceitação
Uma peculiaridade da LDBEN 5692/71 é que do novo tipo de escola, por uma sociedade
seu nascimento acontece justamente no regime tradicionalmente acostumada à educação
militar, o que de fato influenciará nos rumos da acadêmica e seletiva; insuficiência de recursos
educação nacional. materiais, financeiros e humanos; inadequação
Souza e Silva (1997, p. 7) ressaltam que: “A Lei entre os currículos organizados pelas escolas
5692/71, ao manter em vigor o artigo 1º da Lei e as expectativas e necessidades do alunado
4024/61, referendou o seu respeito à formação do e do mercado de trabalho; falta de condições
eu essencial, em face dos processos circunstanciais”, da nossa escola em entender e atender aos
embora há que sinalizar a substituição dos fins anseios que a população brasileira apresentou
evidenciados na 4024/61 pelos objetivos e, estes na última década, em função dos aspectos
restritos a apenas um grau de ensino. políticos, econômicos e sócio-culturais do País
(JARDIM, et al, 1985, p. 19).
Jardim et al (1985, p. 19) dizem que as principais
inovações em relação a LDBEN anterior foram: Esses problemas foram pauta de revisão,
debates e reivindicação por uma nova LDBEN.
a) Um ensino de 1º Grau com oito séries e um Principalmente, porque em 1988 surge a nova
ensino de 2º Grau cm três ou quatro séries; Constituição que estabelece novas diretrizes e
bases para a educação nacional. Ressurge no
b) Uma integração horizontal e vertical nos
cenário brasileiro a democracia e com ela os
currículos escolares, objetivando uma continuidade
valores agregados de cidadania, autonomia e
de estudos e ao mesmo tempo, a possibilidade de
desenvolvimento do sujeito integral.
acesso ao mercado de trabalho.
Políticas educacionais Unidade 03
Mesmo neste novo contexto democrático, é claro, didático-pedagógica e à visão político-institucional.
que esse processo não foi fácil. Tanto que, após Essa inovação pode ser assim caracterizada:
várias discussões e propostas advindas da sociedade
civil, por meio de professores, universidades, Doutrinariamente: desloca a liberdade de ensino
pesquisadores, dentre outros, surge a nova para o direito de aprender, alterando o eixo do
LDBEN 9.394/96, mas que não contemplou nem processo educativo do ensino para a aprendizagem.
em cinquenta por cento as sugestões apresentadas Organizacionalmente: propõe a integração das
nas pautas de reuniões e discussões tecidas pelos etapas (educação infantil, ensino fundamental e
diversos setores da sociedade. ensino médio) em um único nível: educação básica.
Conclui-se, então, que a Lei de Diretrizes e Bases Flexibiliza, ainda, a questão de séries, podendo
da Educação Nacional (LDBEN) traça as linhas utilizar a terminologia ciclos, etapas. Esta
norteadoras para a Educação em todo o país. Ela flexibilização visa atender às demandas dos alunos
sustenta em seu interior a estrutura, a organização e dos projetos pedagógicos.
e as formas de funcionamento dos sistemas de
ensino. Sua abrangência é total, pois, agora, rege Didático-pedagogicamente: apresenta como
tanto a educação básica como a educação superior. meta da aprendizagem o desenvolvimento de
competências, as quais devem ser construídas ao
E, ainda, “da ação conjunta do texto constitucional longo da trajetória escolar.
e do contexto da Lei de Diretrizes e Bases nascem a
28

política e o planejamento educacionais, e depende Responsabiliza a escola pelo projeto pedagógico e


o dia a dia do funcionamento das redes escolares o docente pelo plano de trabalho, os quais devem
de todos os níveis de ensino” (SOUZA e SILVA, respeitar o contexto em que serão construídos e
1997, p.1) desenvolvidos.

Resumindo: no percurso da história já tivemos 3 Enfatiza o ato de aprender a aprender e não a


(três) Leis de Diretrizes e Bases. A primeira data do aquisição de conhecimentos estáticos e impostos
ano de 1961. Essa primeira Lei surgiu após amplos pelo currículo escolar.
debates e reivindicações no campo educacional.
Propõe a articulação entre teoria e prática no
Nela, pela primeira vez, foram delineados os fins e
processo de formação inicial e continuada dos
os princípios da educação.
professores.
A segunda LDBEN 5692 surgiu 10 anos após a
Política-institucionalmente: estabelece os
primeira, ou seja, no ano de 1971. Sua característica
critérios de autonomia da União, dos Estados, do
principal é que enfatizou o ensino técnico-
Distrito Federal e dos Municípios.
profissionalizante, respondendo às questões e às
demandas de uma sociedade que crescia e investia Estabelece, ainda, o sistema nacional de avaliação
no âmbito da industrialização e serviços. Essa Lei e estatísticas educacionais.
perdurou até o ano de 1996, quando foi substituída
pela LDBEN 9394, a que vigora atualmente. Confere certa autonomia para as instituições de
escolares.
A atual LDBEN 9394 inovou em sua proposta
por agregar a Educação em todos os seus A LDBEN, então, se apresenta como uma
níveis e modalidades. Isso porque a educação resposta direta às demandas da sociedade e da
superior era regida por uma lei à parte da LDB própria Constituição do país, uma vez que engloba
(Lei 5540/680). Essa inovação permitiu ter uma as dimensões de ensino apontadas, assegurando
visão completa da proposta educacional a ser legitimidade às suas ações.
concretizada na realidade brasileira, visto que,
Agora, é preciso destacar alguns aspectos
nela, estão expressos os objetivos e a forma de
fundamentais de uma Lei de Diretrizes e Bases.
atuação de cada nível de ensino.
Eles foram alistados por Souza e Silva (1997, p.
A LDBEN 9394/96 trouxe um novo modelo 1-2) e assinalam que:
pedagógico no que se refere à doutrina, à
organização espaço-temporal da escola, à proposta
Políticas educacionais Unidade 03
a) A LDB não pode divergir filosófica e o texto de sua lei básica não for sintético e amplo,
doutrinariamente do que estatui a Constituição, com vistas à estabilidade normativa, a lei de hoje
no que diz respeito aos princípios guiadores da poderá ser inútil amanhã.
educação brasileira.
d) A LDB deve regular a vidas das redes escolares,
b) a LDB não pode, nem acrescentar, nem omitir, no que diz respeito ao ensino formal, ficando
no seu texto, algo não consagrado fora do seu alcance todas as manifestações de
expressamente na Constituição. ensino livre e daquele tipo de curso que funciona
sob a supervisão de órgãos outros, que não os da
c) a LDB não pode conter minúcias, nem normas administração superior dos sistemas de ensino.
de regulamentação casuística, devendo sua
linguagem primar pela clareza, pela generalidade Conclui-se que as políticas educacionais irão
e pela síntese. Não fora ela uma lei de diretrizes! contemplar as diretrizes e bases que estão
Sendo, como é, uma lei de âmbito nacional e presentes na LDBEN, a fim de concretizar a
compondo-se como se compõe o Brasil, de finalidade pretendida, o pleno desenvolvimento
uma variedade incontestável de situações as do educando, seu preparo para o exercício da
mais diversas e contrastantes, se não genérica e cidadania e sua qualificação para o trabalho.
abrangente nas regras que contém, não servirá
a todos os sistemas de ensino do País, como é o Vamos dar uma pausa. Agora é sua vez de praticar,
seu dever. Ademais, estando a educação sujeita, o realizando as atividades do “Sei Responder”.

29
tempo todo, a mutações dinâmicas e sucessivas, se Espero você na próxima Unidade Temática.

Referências

AZEVEDO, Janete M. L. de & AGUIAR, Márcia Ângela. A produção do conhecimento sobre a política
educacional no Brasil: um olhar a partir da ANPED. Educação & Sociedade, ano XXII, n° 77,
Dez/2001.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasilia: MEC, 2006.
JARDIM, Ilza Rodrigues et al. Ensino de 1º e 2º Graus. Porto Alegre: Sagra, 1985.
SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de Souza; SILVA, Eurides Brito. Como entender e aplicar a nova
LDB. São Paulo: Pioneira Thomson, 1997.
Políticas educacionais Unidade 03

Atividades

Sei responder

1 - Complete a sentença, escolhendo a palavra que deve ser escrita no interior dos parêntesis.
Joana fez a seguinte afirmação: No contexto brasileiro, já tivemos 3 LDBENs. A última é de 1996.
Ela surge num ambiente (.......)
a) contrastante
b) democrático
c) técnico
d) profissionalizante
2 - Pedro estava convencido de que a melhor alteração da lei foi a que ocorreu nos anos 80.
30

Isso porque não acreditava numa escola de fundo predominantemente (........)


a) universalista
b) tradicional
c) técnico-profissionalizante
d) democrático
T3 - eresa olhou para o relógio e pensou: - Chegou a hora de mudar esta LDBEN, pois reina
há mais de 20 anos. Esta Lei (......) está com o seu tempo esgotado.
a) 5.692
b) 5.540
c) 4.024
d) 7.044
Políticas educacionais Unidade 04
Para onde vai a educação?

Objetivo

Identificar os princípios e os objetivos da educação presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional.

Objetivo

Uma das questões cruciais para a educação é traçar que se encontra inserido.
sua finalidade, isso porque é ela que norteará
todos os processos formativos do ser humano. Alguns estudos (LIBÂNEO, OLIVEIRA,
Não basta, apenas, tecer ações, deve-se ater aos TOSCHI, 2012, p. 421-422) realizados apontaram
princípios e aos objetivos, pois serão eles que que, para que a proposta educacional tenha êxito,
fundamentarão as práticas educativas a serem faz-se necessário entender que existe uma série de
concretizadas na realidade social. mecanismos organizacionais que devem funcionar

31
de um modo adequado, coerente e eficiente, e que
A finalidade educativa, então, torna-se a base contemplem as seguintes características:
para a constituição de princípios e objetivos
a) professores preparados, que tenham clareza
que darão legitimidade às diretrizes, às políticas,
de seus objetivos e conteúdos, que façam
ao planejamento, ao currículo, ao processo de
planos de aula, que consigam cativar os alunos,
formação do cidadão e da cidadã.
que utilizem metodologias e procedimentos
Ao pensar dessa maneira, a Lei de Diretrizes adequados à matéria e às condições de
e Bases, obedecendo ao que está instituído na aprendizagem dos alunos;
Constituição Federal, estabelece nos primeiros
b) existência de projeto pedagógico-curricular
artigos o sentido a ser dado à educação. Sendo
com um plano de trabalho bem definido;
assim, no artigo 1º, lê-se que a educação abrange
os processos formativos. Esses processos ocorrem c) bom clima de trabalho;
em espaços formais e não formais de ensino. E
por conta disso sua amplitude é extensiva, pois não d) estrutura organizacional e boa organização
limita a educação ao âmbito da escola e da família. do processo ensino-aprendizagem;

No artigo 2º, lê-se que a educação é um dever e) papel significativo da direção e da coordenação
atribuído à família e ao Estado, o que indica a pedagógica;
responsabilidade dessas duas instituições para
f) disponibilidade de condições físicas
a sua promoção e seu desenvolvimento. Ainda
e materiais;
ressalta que a base da educação deve pautar-
se nos princípios da liberdade e nos ideais de g) estrutura curricular e modalidades de
solidariedade humana, o que sinaliza para os organização do currículo com conteúdos bem
conceitos de autonomia, cidadania e alteridade. selecionados;
Ainda, no artigo 2º, é apresentada a finalidade da h) disponibilidade da equipe para aceitar
educação que se destina ao pleno desenvolvimento inovações, observando o critério de mudar sem
do educando, seu preparo para o exercício da perder a identidade.
cidadania e sua qualificação para o trabalho. Isso
sinaliza que a educação não se limita apenas ao Essas ações impactarão a forma como a finalidade
preparo da mão de obra, mas à formação integral educativa é percebida no contexto da instituição de
do sujeito, pois o exercício de cidadania requer ensino, ao mesmo tempo em que criará condições
reconhecimento de si, do outro e do contexto em para o exercício docente e gestor do ensino.
Políticas educacionais Unidade 04
Sendo assim, para que a finalidade educacional se os artigos presentes nesse título abordarão sobre
torne uma realidade, será necessário que a proposta a responsabilidade do Estado com a educação
de ensino caminhe levando em consideração a pública, no sentido de realizar o censo, assegurar
direção manifesta, por isso deve apoiar-se nos o acesso, a gratuidade, a permanência, a oferta, o
seguintes princípios, os quais estão alistados no padrão de qualidade. Esse título ainda aborda a
artigo 3º: responsabilidade dos pais de matricular os filhos
na escola, a partir dos 4 anos de idade.
I- igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola. Vale ressaltar que no Título III não aparece o
ensino superior, o que pode inferir-se que esse
II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, nível de ensino não faz parte do dever do Estado,
divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o ou seja, não tem responsabilidade para sua oferta
saber. e manutenção, o que é muito estranho, não é
III- pluralismo de ideias e de concepções mesmo? Afinal, a garantia da educação deve ser
pedagógicas. restrita ou ampliada?

IV- respeito à liberdade e apreço à tolerância. O Título IV aborda a Organização da Educação


Nacional a ser administrada pelos entes federativos
V- coexistência de instituições públicas e (União, Estado, Distrito Federal e Municípios). Os
privadas de ensino. artigos apresentam o nível de atuação e competência
32

dos entes quanto à organização, estrutura dos


VI- gratuidade do ensino público em
seus sistemas de ensino. Apresenta, ainda, o
estabelecimentos oficiais.
papel do docente e da escola quanto às diretrizes
VII- valorização do profissional da educação apresentadas, sendo importante destacar que:
escolar.
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
VIII- gestão democrática do ensino público
I - participar da elaboração da proposta
em estabelecimentos oficiais.
pedagógica do estabelecimento de ensino;
IX- garantia de padrão de qualidade.
II - elaborar e cumprir plano de trabalho,
X- valorização da experiência extraescolar. segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino;
XI- vinculação entre educação escolar, o
trabalho e as práticas sociais. III - zelar pela aprendizagem dos alunos;

Perceba que os princípios são aqueles mesmos IV - estabelecer estratégias de recuperação


apresentados na Carta Magna, sendo acrescentados para os alunos de menor rendimento;
o respeito à liberdade e o apreço à tolerância;
V - ministrar os dias letivos e horas-
a valorização da experiência extraescolar, e a
aula estabelecidos, além de participar
vinculação entre educação escolar, o trabalho
integralmente dos períodos dedicados
e as práticas sociais, o que afirma o sentido
ao planejamento, à avaliação e ao
humanista da educação, estabelecendo a coerência
desenvolvimento profissional;
entre a finalidade educativa e os princípios, aqui,
elencados. VI - colaborar com as atividades de
articulação da escola com as famílias e a
Assim, os princípios que regem a Educação no
comunidade.
país refletem a forma como devem ser conduzidas
as práticas educativas, no que diz respeito ao Observe que a LDBEN 9394/96 prevê as
reconhecimento do ser humano, de sua relação competências dos docentes quanto ao seu exercício
consigo mesmo e com o outro, na sociedade e no profissional, que ocorre na participação dos
mundo do trabalho. processos organizacionais da instituição de ensino
e da sala de aula, dando destaque à elaboração do
O Título III da LDBEN 9394/96 trata sobre o
projeto político pedagógico, documento norteador
direito à educação e o dever de educar. Assim,
da filosofia, da missão institucional e da política
Políticas educacionais Unidade 04
didático-metodológica da instituição de ensino. III - orientação para o trabalho;

Outro ponto de destaque volta-se para a criação IV - promoção do desporto educacional e


de mecanismos de articulação entre escola, apoio às práticas desportivas não-formais.
comunidade e pais, conferindo e afirmando o
caráter democrático e participativo presente A composição do currículo da escola deve
na Constituição Brasileira. Esses mecanismos atentar para compreender os conteúdos de uma
associam-se à prática da gestão democrática, forma abrangente, a fim de que possa atender às
colegiada e participativa, que se apresentam na diretrizes apresentadas, no sentido de desenvolver
forma do Conselho Escolar e Associação de conhecimentos, competências, habilidades e
Pais e Mestres, cuja finalidade é acompanhar e atitudes para a vida e para o mundo do trabalho.
avaliar a qualidade da educação ofertada e, ainda, Percebe-se, então, a dupla finalidade do currículo,
promover junto com a escola eventos, campanhas que além de oferecer as bases do conhecimento
de mobilização, dentre outras. científico, ainda deve se preocupar com a formação
para o trabalho.
O Conselho Escolar é um órgão representativo,
deliberativo, consultivo e fiscal que tem como O currículo é o ponto de toque das práticas
objetivo participar das tomadas de decisão da escolares, tanto é assim, que foram instituídas
escola que são de sua competência. Suas atribuições em todos os níveis da educação as diretrizes
estão definidas na legislação estadual, municipal e curriculares nacionais, as quais definem o sentido,

33
no regimento escolar. A composição do conselho a proposta de ensino e o perfil esperado da
é proporcional ao número de alunos, professores e formação humana a ser desenvolvida.
funcionários da escola, observando o princípio da A composição dos currículos deve observar o que
paridade: 50% de integrantes da escola e 50% de está previsto na LDBEN, ou seja, além de ter uma
integrantes da comunidade. abrangência nacional, ele deve conter duas partes:
O Título V trata sobre a composição dos níveis e a base nacional comum, de acordo com a etapa de
da modalidade de ensino, o que será examinado ensino (ensino fundamental e ensino médio) e a
mais de perto, visto que essa temática está bem diversificada, que é flexibilizada de acordo com as
presente na realidade da sociedade, quer em forma peculiaridades do local. Ou seja, uma escola rural
de projetos, programas e políticas. A LDBEN comporá esta parte de temáticas que são alusivas
9394/96, ao apresentar os níveis da Educação, ao local, diferente da escola urbana que integrará
divide-os em dois: Educação Básica, que inclui outras temáticas.
a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o A despeito de existir uma resolução que
Ensino Médio; Ensino Superior, que envolve regulamenta as diretrizes curriculares de
os Cursos de Graduação, Sequenciais e Pós- cada nível de ensino, em 13 de julho de
Graduação. 2010, a Câmara de Educação Básica (CEB)
do Conselho Nacional de Educação (CNE)
A Educação Básica tem como finalidades
definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais
“desenvolver o educando, assegurar-lhe a
para a Educação Básica (DCNEB) por meio
formação comum indispensável para o exercício
da Resolução 4/2010. Tais DCNEB têm
da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
como fundamento a responsabilidade que o
no trabalho e em estudos posteriores” (art.23).
Estado brasileiro, a família e a sociedade têm de
Em relação ao currículo, a Educação Básica deve garantir a democratização do acesso, a inclusão,
seguir as diretrizes que são voltadas para: a permanência e a conclusão com sucesso das
crianças, dos jovens e adultos na instituição
I - a difusão de valores fundamentais ao educacional, a aprendizagem para continuidade
interesse social, aos direitos e deveres dos dos estudos e a extensão da obrigatoriedade e
cidadãos, de respeito ao bem comum e à da gratuidade da educação básica. (LIBÂNEO,
ordem democrática; OLIVEIRA, TOSCHI, 2012, p. 344-345).
II - consideração das condições de As Diretrizes Curriculares da Educação Básica são
escolaridade dos alunos em cada normas obrigatórias e devem ser seguidas pelas
estabelecimento;
Políticas educacionais Unidade 04
escolas e instituições de ensino. Elas devem ser e possibilitar a correspondente
contempladas na construção do Projeto Político concretização, integrando os
Pedagógico, documento norteador da missão, da conhecimentos que vão sendo adquiridos
visão, da finalidade e da base política, filosófica, numa estrutura intelectual sistematizadora
social e educacional de formação do educando. do conhecimento de cada geração;

Cury (2002, p.193) define as Diretrizes Curriculares VI - estimular o conhecimento dos


“sendo linhas gerais que assumidas como problemas do mundo presente, em particular
dimensões normativas, tornam-se reguladoras de os nacionais e regionais, prestar serviços
um caminho consensual [...] para se atingir uma especializados à comunidade e estabelecer
finalidade maior”. com esta uma relação de reciprocidade;

As Diretrizes Curriculares não são contempladas VII - promover a extensão, aberta à


apenas na Educação Básica, mas também no Ensino participação da população, visando à difusão
Superior, uma vez que o mesmo deve observar na das conquistas e benefícios resultantes da
construção de seus projetos pedagógicos algumas criação cultural e da pesquisa científica e
determinações legais e normativas quanto ao tecnológica geradas na instituição.
processo de formação de seus alunos.
Vale salientar que, assim como na Educação
A LDBEN 9394/96 estabelece, também, as Básica são instituídas as Diretrizes Curriculares
34

finalidades do Ensino Superior. Essas finalidades Nacionais, o Ensino Superior tem para cada
apontam para a tríade que norteia a função das Curso a definição das suas Diretrizes Curriculares.
Universidades: essa tríade contempla, então, a Essas Diretrizes têm abrangência nacional e
pesquisa, a extensão e o ensino. Não há como devem ser observadas quando da construção pelas
conceber uma Universidade sem a integração Instituições de Ensino Superior dos seus projetos
dessas funções, visto que sua visão basilar ancora- pedagógicos dos Cursos a serem ofertados.
se na divulgação, produção e construção de
conhecimentos que devem ser disseminados de O Título VI aborda os profissionais da educação,
forma pública para a comunidade. ou seja, dispõe sobre o processo de formação de
docentes para a educação básica; docentes para
I - estimular a criação cultural e o o ensino superior; educadores ligados à (ao):
desenvolvimento do espírito científico e do administração; planejamento; inspeção; supervisão
pensamento reflexivo; e orientação.

II - formar diplomados nas diferentes áreas A lei dita que a formação de docentes para atuar
de conhecimento, aptos para a inserção em na Educação Básica será feita em nível superior,
setores profissionais e para a participação no em curso de licenciatura, de graduação plena, em
desenvolvimento da sociedade brasileira, e universidades e institutos superiores de educação;
colaborar na sua formação contínua; admitida, como formação mínima para exercício
do magistério na Educação Infantil e nas quatro
III - incentivar o trabalho de pesquisa primeiras séries do Ensino Fundamental, a
e investigação científica, visando o oferecida na modalidade Normal. (Decreto
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e nº3276/99-regulamentação).
da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
desenvolver o entendimento do homem e do A formação de profissionais de educação para
meio em que vive; administração, planejamento, inspeção, supervisão
e orientação educacional para a educação básica
IV - promover a divulgação de conhecimentos será feita em cursos de graduação em pedagogia ou
culturais, científicos e técnicos que constituem em nível de pós - graduação, a critério da instituição
patrimônio da humanidade e comunicar o de ensino. A formação docente, exceto para a
saber através do ensino, de publicações ou Educação Superior, incluirá prática de ensino de,
de outras formas de comunicação; no mínimo, trezentas horas. A preparação para o
V - suscitar o desejo permanente de exercício do magistério superior será feita em nível
aperfeiçoamento cultural e profissional de pós -graduação, prioritariamente em programas
Políticas educacionais Unidade 04
de mestrado e doutorado. ças mais vulneráveis e em maior desvantagem;

O Título VII apresenta a temática dos Recursos 2- assegurar que todas as crianças, com especial
e Financiamento da Educação. Nesse título ênfase nas meninas e crianças em circunstâncias
são tratados sobre um dos dispositivos mais difíceis, tenham acesso à educação primária,
fundamentais, pois define de onde deve vir o obrigatória, gratuita e de boa qualidade até o
dinheiro para financiar a educação no país. São ano de 2015;
definidos, também, os percentuais constitucionais
3- assegurar que as necessidades de aprendiza-
de recursos para a educação em geral, as despesas
gem de todos os jovens e adultos sejam atendi-
para manutenção e desenvolvimento do ensino,
das pelo acesso equitativo à aprendizagem apro-
o padrão mínimo de oportunidades educacionais
priada, a habilidades para a vida e a programas
para o ensino fundamental e o custo mínimo
de formação para a cidadania;
por aluno, de modo a se atingir um mínimo de
qualidade no ensino. 4- alcançar uma melhoria de 50% nos níveis de
alfabetização de adultos até 2015, especialmente
Assim, os recursos públicos destinados à educação
para as mulheres, e acesso equitativo à educação
são originados das receitas: de impostos próprios
básica e continuada para todos;
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios; de transferências constitucionais 5- eliminar disparidades de gênero na educa-
e outras; do salário-educação e de outras ção primária e secundária até 2005 e alcançar a

35
contribuições sociais; de incentivos fiscais e de igualdade de gênero na educação até 2015, com
outros recursos previstos em lei. enfoque na garantia ao acesso e o desempenho
pleno e equitativo de meninas na educação bási-
O Título VIII trata das disposições gerais
ca de boa qualidade;
que visam ao estabelecimento de programas
intensivos de ensino e pesquisa para oferta de 6- melhorar todos os aspectos da qualidade da
educação escolar bilíngue e intercultural aos educação e assegurar excelência para todos, de
povos indígenas; incentivo ao desenvolvimento e forma a garantir a todos resultados reconheci-
à veiculação de programas de ensino a distância dos e mensuráveis, especialmente, alfabetização,
em todos os níveis e modalidades de ensino, e de matemática e habilidades essenciais à vida.
educação continuada; permissão de organização
de cursos ou instituições de ensino experimentais; A Declaração Mundial sobre Educação para Todos
aproveitamento dos discentes da educação objetiva, ainda, a redução da taxa de analfabetismo,
superior em tarefas de ensino e pesquisa pelas a universalização do Ensino Fundamental e a
respectivas instituições, exercendo funções de melhoria da qualidade de ensino. O Brasil com
monitoria, de acordo com o seu rendimento e seu intuito de atingir esses objetivos criou os seguintes
plano de estudos. programas: Brasil alfabetizado; Fome Zero e
Bolsa- Família.
O Título IX trata das disposições transitórias. Aqui
são tratadas as disposições provisórias, ou seja, Mesmo com o desenvolvimento de políticas
por tempo definido. Nesse período, por exemplo, públicas, o Brasil, ainda, não alcançou as metas
as instituições escolares devem aproveitar o tempo e encontra-se como um país intermediário. O
de transição estabelecido para adequarem-se às ranking coloca o Brasil na 88ª posição entre
novas regras estabelecidas na Lei 9394/96. 128 países. O Brasil, apesar de ter um índice de
desempenho bom na alfabetização, possui um
Estabelece ainda que a União deverá propor o percentual insatisfatório dos alunos aprovados no
novo Plano Nacional de Educação, atendendo o 5º ano do ensino fundamental.
acordado na Declaração Mundial sobre Educação
para Todos, que ocorreu em 2000 (Dakar). Esse Esse ranking é obtido por meio da estatística
acordo foi assinado por mais de 160 países e tem realizada que tem por base as taxas de alfabetização
como metas: de adultos, a igualdade de gênero, a matrícula
na educação primária e a aprovação na escola
1- expandir e melhorar o cuidado e a educação até a quinta série do ensino fundamental. Essas
da criança pequena, especialmente para as crian- estatísticas compõem o índice de Desenvolvimento
Políticas educacionais Unidade 04
Educacional (IDE). Para que haja uma elevação Então, lembre-se disso, ao contemplar uma
desse índice, o Brasil deve investir na qualidade inovação na área da educação, saiba que ela não
da educação e, por isso, deve apostar nos seus surge de uma proposta neutra e sem motivações
indicadores. Os indicadores de qualidade da de caráter ideológico, político, social, econômico
educação são: ambiente educativo, prática e cultural. A inovação já pressupõe o interesse
pedagógica e avaliação, ensino e aprendizagem do Estado em planejar, oportunizar ou mostrar
da leitura e da escrita, gestão escolar democrática, seus avanços ou suas intenções em atender as
formação e condições de trabalho, ambiente físico demandas advindas da sociedade, no que se refere
e escolar e acesso e permanência dos alunos. ao campo educacional.
Como você pode ver, a Lei de Diretrizes e Bases da Se assim é, qual seria a proposta de formação
Educação Nacional, além de trazer especificações para os estudantes do Curso de Teologia? Que
sobre formação do educando, sistemas de ensino, diretrizes curriculares estão previstas nessa área?
financiamento, destinação de recursos, ainda Quais os conteúdos? Qual o perfil?
deve fomentar a criação de políticas públicas que
visem à qualidade educacional e que atendam as Ficou curios@? Então aguarde a nossa última
propostas oriundas dos acordos internacionais. Unidade Temática.

Referências
36

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Brasília: MEC, 1996.
CURY, Carlos Roberto Jamil Cury. A educação básica no Brasil. In: Educação e Sociedade. V.23, n.80,
p.168-200, set., 2002.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar.
Políticas, Estrutura e Organização. São Paulo: Cortez, 2012.
Políticas educacionais Unidade 04
Atividades

Sei responder

1 - José está com uma dúvida daquelas! Ajude-o a resolver


as questões, marcando as alternativas que não estão
contempladas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9394/96.

( ) Níveis de Ensino
( ) Declaração Mundial sobre Educação para Todos
( ) Financiamento da Educação
( ) Oito jeitos de mudar o mundo

37
( ) Políticas de inclusão social
( ) Princípios e Objetivos da Educação
( ) Índice de Desenvolvimento Educacional
( ) Diretrizes Curriculares Nacionais
( ) Formação Docente
( ) Gestão Democrática
Políticas educacionais Unidade 05

Chegou a vez das diretrizes


curriculares
Objetivo

Conhecer as diretrizes curriculares que norteiam o Curso de Teologia.

Objetivo

Você sabia que para cada Curso de Graduação 5) Definição e Previsão dos Estágios
existe uma proposta de formação diferenciada? Supervisionados e das Atividades Complementares.
Essa proposta, portanto, não é feita sem uma
diretriz definida, antes é pensada para cada Curso 6) Critérios para acompanhamento e avaliação no
uma linha que define a direção a ser perseguida no decorrer do Curso.
processo de formação humana. As Diretrizes, ainda, preveem o exercício da
Se você quiser conhecer a proposta de formação autonomia da Instituição de Ensino e da sua
38

projetada para os Cursos, o melhor canal de proposta pedagógica. Isso demonstra que cada
consulta são as Diretrizes Curriculares. Nela, estão Instituição de Ensino é responsável pela seleção e
presentes um conjunto de definições doutrinárias escolha dos conteúdos que comporão o currículo,
sobre os princípios, fundamentos e procedimentos visto que a matriz curricular deve aproximar-se da
que devem ser colocados em ação pelas diferentes realidade social, na qual o Curso está inserido.
instituições de ensino. A inobservância das Feita essa pequena introdução, chegou agora a hora
diretrizes pode resultar na não aprovação do de conhecer e analisar as Diretrizes Curriculares
projeto pedagógico do Curso. que normatizam o Curso de Bacharel em Teologia.
A instituição das Diretrizes Curriculares deu-se Um dado importante é que o Curso de Teologia
pela LDBEN 9394/96, cuja meta era estabelecer não era reconhecido pelo Ministério da Educação
princípios, diretrizes e critérios de composição e Cultura (MEC) como um Curso de Graduação
curricular que dessem conta da formação humana até o ano de 1999, por meio do Parecer 241.
pretendida. É por essa razão que as Diretrizes Curriculares
As Diretrizes Curriculares para o Ensino Superior voltadas para o Curso de Teologia foram um
foram aprovadas pelo Parecer 776/97, que motivo de discussões e debates no âmbito oficial,
estabeleceu orientações iniciais. Nesse Parecer como nos órgãos de representação e entre as
estão previstas as seguintes bases: flexibilidade, instituições de ensino, principalmente pela
qualidade da formação e estudos independentes diversidade de confessionalidades, que agregam
(referem-se às atividades complementares), a seus conhecimentos, suas manifestações e sua
fim de desenvolver a autonomia profissional e religiosidade. O certo é que em 2010 surgem as
intelectual dos alunos. Diretrizes Curriculares, que foram construídas em
parceria com vários representantes de diferentes
As Diretrizes Curriculares devem apresentar: Instituições de Ensino do país.
1) Perfil do egresso; Assim reza as Diretrizes Curriculares de Teologia
(2010, p.3), em relação ao propósito de sua
2) Descrição das competências, habilidades e
construção:
atitudes;
[...] o estabelecimento
3) Descrição das habilitações, das ênfases e dos
das Diretrizes
conteúdos curriculares;
Curriculares para os
4) Estrutura e organização do Curso; cursos de graduação
Políticas educacionais Unidade 05
em Teologia deverá nentes das Diretrizes Curriculares.
ter o ensejo de elevar Diferentemente da Filosofia, o graduado
a qualidade do estudo em Teologia, além da necessária forma-
da Teologia e oferecer ção acadêmica, a depender da confissão
maior clareza às ou tradição religiosa de sua origem, po-
instituições que buscam derá servir como agente operativo para
o reconhecimento apoiar a transformação social, bem como
oficial, devendo servir em situações de apoio e amparo
também levar em conta humano, e especialmente, mas não unica-
cursos que buscam mente, nas comunidades religiosas de sua
reconhecimento origem. Esse fato inconteste foi perceptí-
oficial sem observar vel no estudo comparativo que levou em
os mínimos requisitos conta 73 matrizes curriculares de institui-
formais e de qualidade. ções já credenciadas pelo MEC.
A proposta é orientar às Instituições de Ensino
que desejam ter o Curso de Teologia reconhecido,
como aquelas que precisam observar os requisitos Os pontos levantados evidenciam a natureza
mínimos para que possa alcançar a qualidade de diversa em que transita a Teologia, devido à
quantidade de tradições e matizes religiosas que

39
ensino desejável e assim pleitear o reconhecimento
do Curso no âmbito do Ministério da Educação e estão representadas no país, o que sinaliza para
Cultura (MEC). uma variedade de disciplinas a serem construídas
e que atendam às especificidades dessas tradições.
Como também, a inserção do teólogo em outras
frentes de atuação, que ultrapassa o campo da
Comunidade Religiosa. Então, têm-se, aqui,
evidenciadas duas questões básicas: currículo
e área de atuação. Essas questões ligam-se à
proposta pedagógica do Curso de Teologia que
deve atentar para a relevância do Curso e sua
Diante da busca pela qualidade de ensino, o Curso
autonomia na criação da matriz curricular do
de Teologia deve, ainda, contemplar os seguintes
Curso, como também a inserção profissional do
pontos:
futuro teólogo na esfera da sociedade. São estes
a) O conteúdo curricular tendo pontos que justificam o sentido de ser do Curso.
em vista a diversidade própria da
Teologia. Esse fato se manifesta não
apenas em termos de conteúdo (item
que necessariamente não é alcançado
pelas Diretrizes), mas nas disciplinas
oferecidas por meio de cada tendência
teológica, considerando-se a sua tradição
de origem, e até mesmo nas suas
nomenclaturas e fontes de pesquisa [...].
Em outras palavras, no Brasil o estudo
da teologia, como campo do saber, está
claramente ligado à tradição religiosa ou
confessionalidade.
b) Os objetivos de formação graduada
que resultarão no estabelecimento do
perfil do egresso e, por consequência,
também no estabelecimento das suas
competências e habilidades, compo-
Políticas educacionais Unidade 05
Desses pontos, são apresentados os referenciais universalidade de conhecimento que é própria
que substanciam as propostas dos Cursos de do ensino superior;
Teologia. Esses referenciais não anulam o fator
e. além disso, é preciso que os cursos de Teologia
da confessionalidade, mas é ela justificada com o
contemplem o eixo pragmático para qualificar
propósito de guiar a própria natureza do Curso,
não apenas teólogos acadêmicos (mesmo
pois a confessionalidade não interfere na visão
porque um teólogo não se faz apenas com a
academicista e reflexiva tão necessária à formação.
graduação, mas com uma carreira extensiva de
Assim: produção acadêmica), mas agentes comunitários
para atuar efetivamente na sociedade, tanto
a. a confessionalidade, tão cara ao saber em comunidades religiosas, como em serviços
teológico em geral, é garantida de modo geral de capelania (hospitalar, educacional, militar,
na Constituição, se efetiva e se expressa na penitenciária, etc.), e atenção multidisciplinar
educação de modo específico, sendo reafirmada em situações de catástrofes e crises sociais e
por meio da LDB; pessoais, tais como em cuidados paliativos
b. a confessionalidade não impede o caráter (no aspecto religioso) a pacientes terminais
acadêmico e reflexivo da educação teológica, numa ação paralela aos cuidados médicos e
nem impede a necessidade do conhecimento psicológicos;
amplo da Teologia que vá além das fronteiras f. nesse sentido, na graduação deve-se exigir que
40

da própria confessionalidade, num ambiente de o graduando esteja envolvido em estágios, que se


diálogo com o conhecimento humano; aplicam nesta faceta de sua formação, levando-
c. as diretrizes devem abrir espaço para que se em conta a Lei Nº 11.788, de 25 de setembro
haja liberdade confessional, prevista no de 2008. Por isso mesmo, o ensino teológico
Parecer CNE/CES 241/99 em sua conclusão não pode se restringir apenas à formação de
quando afirma que “os cursos de bacharelado em acadêmicos, já que para ser teólogo exigir-se-
Teologia sejam de composição curricular livre, a critério ia formação em níveis mais elevados na pós-
de cada instituição, podendo obedecer a diferentes graduação, que daria ao aluno a capacitação
tradições religiosas.” E isso em nada impede o adequada para isso, pois um egresso de um
estabelecimento das Diretrizes Curriculares para curso de graduação em Teologia não terá ainda
os cursos de Teologia nos termos do Parecer condições de ser um teólogo, da mesma forma
CNE/CES 67/03, conforme já mencionamos que um egresso de graduação em Filosofia não
há pouco, nos seguintes termos: “que se pudesse pode ser considerado um filósofo, na acepção
estabelecer um perfil do formando no qual a formação concreta da palavra, para ambos os casos;
de nível superior se constituísse em processo contínuo, g. além do mais, a formação de teólogos não
autônomo e permanente, com uma sólida formação apenas acadêmicos, mas também desses
básica e uma formação profissional fundamentada na agentes comunitários religiosos com qualidade
competência teórico-prática, observada a flexibilização proporcionará adequada qualificação em sua
curricular, autonomia e a liberdade das instituições de ação comunitária, dando à religiosidade no
inovar seus projetos pedagógicos de graduação, para o Brasil a seriedade que lhe é imprescindível;
atendimento das contínuas e emergentes mudanças para
cujo desafio o futuro formando deverá estar apto.” h. por isso tudo, esse trabalho torna-se relevante,
pois se, de um lado, precisamos da afirmação
d. essa liberdade curricular, contudo, não do caráter laico do Estado, do outro lado,
deve ensejar a criação de cursos de graduação se torna necessária a afirmação da liberdade
em Teologia sem um rumo indicativo de sua das IES quanto à sua definição religiosa,
própria natureza, com caráter exclusivamente comparativamente ao conceito da autonomia
catequético (ou ministerial na linguagem pedagógica, conceito tão caro nos Pareceres do
protestante e evangélica), e até mesmo que CNE;
ignorem o pluralismo do saber teológico,
deixando de conceder ao aluno a oportunidade i. assim, as diretrizes devem ser elaboradas de
de ter acesso à complexidade das teologias modo a atender os variados eixos de ensino
nas diferentes culturas, nem dando acesso a ensejando às diversas confissões e tradições
Políticas educacionais Unidade 05
religiosas de todas as matizes a oportunidade e as situações práticas da vida;
de refletir sobre a sua fé, sobre as suas práticas,
seus ritos, rituais, liturgias, participação na b. integrar várias áreas do conhecimento
construção do cotidiano e na busca de soluções teológico para elaborar modelos, analisar
dos graves dilemas que os cenários do mundo questões e interpretar dados em harmonia com
contemporâneo indicam, além de refletir sobre o objeto teológico de seu estudo;
as tendências que estão sendo cimentadoras dos c. compreender a construção do fenômeno
novos cenários da construção histórica. humano sob a óptica da contribuição teológica
Deve-se, ainda, atentar para as seguintes questões considerando o ser humano como ente holístico
presentes nestes referenciais, que subsidiarão a e refletir criticamente sobre a questão do sentido
construção das diretrizes curriculares do Curso de da presença do humano nesta vida;
Teologia como: d. analisar, descrever e explicar os fenômenos
1- o caráter pragmático do Curso, ou seja, buscar a religiosos, articulando a religião e outras
interação teórico-prática, a partir de outros olhares manifestações culturais, apontando a diversidade
de formação, como dos agentes comunitários; dos fenômenos religiosos em relação ao
processo histórico-social;
2- a constituição de uma visão plural e holística,
que abranja as diferentes matizes, percepções e e. fazer reflexão teológica e divulgação de sua
compreensão teológica;

41
manifestações religiosas;
3- a liberdade de construção curricular, porém f. desenvolver a transcendência como
observando as Diretrizes Curriculares, a fim capacidade humana de ir além dos limites que
de evitar, contudo, o proselitismo, embora se experimentam na existência;
assegurando a identidade confessional; g. ter formação teórica e prática que o capacite
4- a proposta de uma prática multidisciplinar e para exercer presença pública interferindo
interdisciplinar, que possa dar conta da diversidade construtivamente na sociedade na perspectiva
e dos problemas sociais que afetam a sociedade; da transformação da realidade e na valorização
e promoção do ser humano;
5- a reafirmação da presença da religiosidade no
contexto brasileiro; h. assessorar instituições confessionais ou
interconfessionais, educacionais, assistenciais
6- a liberdade da instituição de ensino em defender e promocionais em âmbito teológico, tanto na
sua posição religiosa. perspectiva teórica, quanto na prática;

7- o envolvimento do aluno em práticas de estágio i. elaborar e desenvolver projetos de pesquisa


durante todo o processo de formação; dentro das exigências do rigor

8- a elaboração de diretrizes curriculares inclusivas acadêmico e dos princípios éticos da


e não fechadas em torno de uma tradição religiosa confessionalidade;
a ser imposta para as demais;
j. ter hábito pessoal de leitura, disciplina no
9- a liberdade confessional; estudo e motivação para prosseguirem sua
formação teológica, na perspectiva da formação
10- a reflexividade, a criticidade e a produção como continuada;
pontos fundamentais do processo de formação.
k. participar de comitês interdisciplinares,
Com esses referenciais em mente, surgem, como os comitês de Bioética, a partir de uma
então, no cenário social brasileiro as Diretrizes fé que se relacione com a vida, e que promova a
Curriculares do Curso de Teologia, desenhando o defesa dos direitos inalienáveis do ser humano,
seguinte perfil do egresso: participando e incentivando da construção
a. compreender os conceitos pertinentes ao permanente de uma sociedade mais justa e
campo específico do saber teológico e ser capaz harmônica.
de estabelecer as devidas correlações entre estes
Políticas educacionais Unidade 05
Percebe-se que o perfil desenhado engloba demonstrando capacidade para crítica,
de forma relacional e integrada conceitos, reflexão, análise, interpretação e comentário
conhecimentos e práticas que devem fazer parte de textos teóricos, segundo os mais rigorosos
do saber-fazer dos teólogos. Esse saber-fazer procedimentos hermenêuticos;
envolve o desenvolvimento de competências
c. diferenciar correntes teológicas construídas
que se farão presentes no processo de formação
ao longo da história e contemporaneamente;
teórico-prática. Essas competências abrangem a
área epistemológica de caráter geral e específico, d. utilizar adequadamente conceitos teológicos
e a parte aplicada, voltada as diferentes áreas de aliados às situações do cotidiano, desenvolvendo
atuação do teólogo. capacidade de transferir conhecimentos da vida
e da experiência cotidianas para o ambiente de

trabalho, revelando-se profissional participativo
e criativo;

e. utilizar o instrumental oferecido pela Teologia


em conexão com outras áreas do saber, tais
como, a Filosofia, a Sociologia, a Psicologia,
Direito, etc. para analisar situações históricas
concretas, formulando e propondo soluções a
42

problemas e dilemas humanos;

f. desenvolver expressão e comunicação


compatíveis com o exercício de seu trabalho,
inclusive nas comunicações interpessoais ou
intergrupais;

g. ter iniciativa, criatividade, determinação,


vontade de aprender e abertura para
compreender as transformações sociais e
consciência da qualidade e das implicações
éticas do seu exercício profissional;
Pode-se fazer a seguinte leitura, o conceito
h. capacidade de relacionar o exercício da
significado produz conhecimento, que conduz à
reflexão teológica com a promoção integral da
prática que é significada por um conceito. E assim,
cidadania e com o respeito à pessoa;
reinicia o processo novamente. Então, pressupõe-
se que o perfil desenhado não é estático, mas se i. desenvolver capacidade para trabalhar em
renova a todo instante. equipe, elaborar, implementar e consolidar
projetos em organizações
As Diretrizes Curriculares tecem as competências,
habilidades e atitudes necessárias ao saber-fazer Em seguida, as Diretrizes Curriculares apresentam
do futuro teólogo. Note que o conjunto de os conteúdos curriculares que são propostos em
ações a ser mobilizado reflete diretamente no três núcleos. Esses núcleos não são fechados em
delineamento do perfil apresentado. Isso indica si mesmo, antes propõem a interdisciplinaridade
que há uma interrelação entre perfil, competências tão necessária para compreender as grandes
e conhecimentos, visto que são essas três estruturas temáticas impostas na sociedade contemporânea.
que irão dinamizar o currículo a ser desenvolvido Pensa-se, então, numa formação integral, que não
pelos Cursos. As Diretrizes Curriculares, então, prioriza um núcleo em detrimento do outro, mas
propõem uma coerência interna e externa a ser possibilita que caminhem juntos na proposição de
mantida pelos projetos pedagógicos do Curso. novas leituras e interpretações sobre a vida.
a. estimular a criação cultural e o desenvolvimento Os núcleos eleitos são: fundamental,
do espírito científico do pensamento reflexivo; interdisciplinar e formativo teórico-prático.
Podem ser visualizados assim:
b. ler e compreender textos teológicos,
Políticas educacionais Unidade 05
uma construção coletiva da proposta, em que há a
presença de várias vozes na composição do Curso.
A alínea “e” já desenha a estrutura do Curso,
mostrando que a mesma deve ser articulada em
3 (três) campos bem definidos: ensino, pesquisa
e extensão. Assegura ainda que as dimensões
humanas, científicas, sociais, filosóficas,
educacionais e psicológicas sejam atendidas, por
meio de propostas de trabalho que garantam a
interrelação entre os campos teórico-prático.
e. A estrutura do curso de graduação em
Teologia assegurará:

i. articulação entre o ensino, a pesquisa e a


Ao tecer a organização curricular, as Diretrizes
extensão garantindo ensino crítico, reflexivo
Curriculares tratam sobre a organização do Curso,
e criativo que leve em consideração o perfil
que deve seguir as seguintes orientações:
almejado, estimulando o aluno a participar
a. A organização dos cursos de graduação em ativamente de todas as atividades acadêmicas e

43
Teologia, observadas as Diretrizes Curriculares práticas do curso;
Nacionais e os Pareceres da Câmara de
ii. as atividades teóricas e práticas que deverão
Ensino Superior, indicará claramente no
estar presentes desde o início do curso,
Projeto Pedagógico do Curso os componentes
permeando toda a formação do egresso de
curriculares, abrangendo o perfil do egresso,
forma integrada e interdisciplinar;
as competências e habilidades, os conteúdos
curriculares e a duração do curso, o regime de iii. a visão de educar para a cidadania e a
oferta, as atividades complementares, o sistema participação plena na sociedade;
de avaliação, o estágio curricular supervisionado
e o trabalho de conclusão curso, tudo isso iv. implementação de metodologia no processo
como componentes obrigatórios da Instituição, ensinar-aprender que estimule o aluno a refletir
sem prejuízo de outros aspectos que tornem sobre a realidade cotidiana e a aprender a
consistente o próprio projeto pedagógico; aprender;

b. A estrutura do curso de graduação em v. a definição de metodologias pedagógico-


Teologia deverá ser construída e definida didáticas que articulem o saber, o saber refletir,
coletivamente pelo respectivo colegiado que o saber fazer, o saber sentir, o saber conviver e o
indicará as modalidades de seriação e demais saber ser visando a conhecer o campo teológico,
componentes segundo a legislação vigente. a refletir construindo suas articulações e
ponderações da fé que estuda, a elaborar a sua
c. O Projeto Pedagógico do Curso deverá buscar efetiva articulação entre o conhecimento teórico
a formação integral e adequada do estudante e a sua ação concreta no mundo, a construir sua
por meio de uma articulação entre o ensino, a afetividade de modo a poder cumprir o seu papel
pesquisa e a extensão; como egresso, a viver junto em comunidade e a
buscar atributos indispensáveis à
d. Deverá ter a investigação como eixo
integrador que retroalimenta a formação formação de sua personalidade de modo a
acadêmica e a prática do egresso; participar ativamente na construção sadia da
realidade em que vive;
Até a alínea “d”, vê-se a preocupação com a parte
de organização do Curso, que está fundamentada vi. o estímulo às dinâmicas de trabalho em
na legislação própria e também na construção do grupos, por favorecer a discussão coletiva e as
Projeto Pedagógico, que deve ter a participação relações interpessoais;
efetiva do colegiado do Curso. Isso sinaliza para
Políticas educacionais Unidade 05

vii. a valorização das dimensões éticas e direcionado à consolidação de desempenhos


humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes profissionais desejados inerentes ao perfil
e valores voltados para o exercício de seu papel do egresso, devendo a Instituição que optar
na sua comunidade, na sociedade em geral e por sua realização aprovar o correspondente
também orientados para a cidadania e para a regulamento com suas modalidades de
solidariedade; operacionalização por meio de supervisão
adequada;
Em seguida, as Diretrizes Curriculares
apresentam o papel significativo dos estágios, do g. As atividades complementares são atividades
trabalho de conclusão de Curso e das atividades consideradas em todas as Diretrizes Curriculares
complementares no processo de formação Nacionais e compõem os currículos dos cursos,
contínua do futuro teólogo. A previsão dos possibilitando o reconhecimento, por meio
estágios e das atividades complementares é um de avaliação, habilidades, conhecimentos e
diferencial, visto que enfatiza para a necessidade competências do estudante, adquiridas ou não,
de que a formação não se feche em termos no âmbito do ambiente universitário. Ademais,
teóricos, mas que essa formação seja vislumbrada, possibilitam a ele enriquecer o currículo, razão
principalmente no âmbito da sociedade, o que por que devem ser motivo de escolha livre
demanda sempre a necessidade de aprendizagem a modalidade que é de seu interesse para ser
contínua e permanente. cumprida;
44

a. Os estágios são mecanismos que integram o h. O estágio supervisionado e o Trabalho de


itinerário formativo do aluno Conclusão de Curso devem ser

promovendo a sua interação com o mundo desenvolvidos durante o processo de formação


concreto em que vai atuar, visando à sua a partir do desdobramento dos componentes
preparação para o trabalho produtivo; curriculares, concomitante ao período letivo
escolar.
b. Os estágios serão desenvolvidos no interior
dos programas dos cursos, com intensidade Por fim, são apresentados os mecanismos de
variável segundo a natureza das atividades acompanhamento e avaliação que devem ser
acadêmicas; oportunizados no decorrer do Curso.

c. Constituem instrumentos privilegiados para a. as instituições de ensino teológico deverão


associar desempenho e conteúdo de forma adotar formas específicas e alternativas de
sistemática e permanente; avaliação, internas e externas, sistemáticas,
envolvendo todos quantos se contenham no
d. O projeto pedagógico do curso de graduação processo do curso, centradas em aspectos
em Teologia poderá contemplar a realização considerados fundamentais para a identificação
de estágios e atividades complementares em e consolidação do perfil do egresso. Assim, os
consonância com a dinâmica do currículo pleno cursos deverão criar seus próprios critérios para
e com vistas à implementação do perfil desejado avaliação periódica, em consonância com os
para o egresso; critérios definidos pela Instituição de Ensino
Superior a que pertencem;
e. O estágio deve ser voltado para o
desempenho profissional antes mesmo de se b.das disciplinas/módulos: Os planos de ensino,
considerar concluído o curso e é necessário que, a serem fornecidos aos alunos antes do início
à proporção que os resultados do estágio forem de cada período letivo, deverão conter, além
sendo verificados, interpretados e avaliados, dos conteúdos e das atividades, a metodologia
o estagiário esteja consciente do seu atual do processo de ensino aprendizagem, os
perfil, naquela fase para que ele próprio esteja critérios de avaliação a que serão submetidos e a
consciente das necessidades de aperfeiçoamento bibliografia básica.
na associação teórico-prática diante da realidade
concreta em que deverá atuar; O processo avaliativo tem um papel fundamental
na implementação dos Cursos, visto que, por seu
f. O estágio curricular supervisionado é intermédio, pode-se identificar sua legitimidade,
Políticas educacionais Unidade 05
validade e confiabilidade. Afinal, esse processo As Diretrizes Curriculares, então, tentam dar
é determinante no ato de formação, pois é a uniformidade aos Cursos quanto aos aspectos
formação que está sendo desenvolvida no decorrer legais, normativos, estruturais e organizacionais.
do Curso, por isso todo cuidado e atenção são
indispensáveis. Espero que você tenha gostado de estudar sobre
as Diretrizes Curriculares que delineiam o seu
Pode-se dizer que as Diretrizes Curriculares Curso. Espero, também, que esta série temática
envolvem todas as esferas e dimensões para tenha lhe ajudado a compreender sobre o papel
implantação do Curso. Elas, de fato, evidenciam essencial das políticas no contexto da organização,
o que se deve levar em consideração no ato de estrutura e composição da educação brasileira.
construção dos projetos pedagógicos. Sinaliza,
ainda, sobre elementos basilares que devem ser Então, agora é com você. Um abraço amigo.
contemplados, independente da tradição religiosa.

Referência

BRASIL. DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE TEOLOGIA. Brasília: MEC, 2010.

Atividades

45
Sei responder

1 - Assinale as sentenças que são verdadeiras:


( ) As Diretrizes Curriculares do Curso de Teologia têm caráter obrigatório.
( ) As Diretrizes Curriculares do Curso de Teologia rejeitam a confessionalidade.
( ) As Diretrizes Curriculares do Curso de Teologia tecem uma proposta interdisciplinar.
( ) As Diretrizes Curriculares não precisam ser observadas na elaboração dos Projetos Pedagógicos
dos Cursos.
2 - O que não indica ser o perfil do egresso do Curso de Teologia.
a) Visão crítica e reflexiva
b) Formação voltada, exclusivamente, para o ministério pastoral.
c) Leitura e estudo sobre as diferentes tradições religiosas.
d) Assessorar instituições confessionais e interconfessionais.
e) Compreender a construção do fenômeno humano.

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