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17/08/2020 Constitucionalização do Direito Civil (Civil) - Artigo jurídico - DireitoNet

ARTIGOS

Constitucionalização do Direito
Civil
Há algum tempo, matérias antes só tratadas pelo Código Civil
têm ganhado previsão constitucional e assim o Código Civil
tem sido interpretado à luz da Constituição. Isto é um
fenômeno denominado constitucionalização do Direito Civil
ou Direito Civil constitucionalizado.

  Por Tayana Wood Schalcher

DIREITO CIVIL | 09/JUN/2011

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INTRODUÇÃO

Um fenômeno denominado constitucionalização do Direito Civil tem


mudado a idéia que era mantida de que o “Direito Civil é a Constituição do
Direito Privado”. Tem-se que esclarecer, que o Direito Civil não tem mais tal
autonomia e deve ser interpretado à luz da Constituição Federal que é a Lei
Maior, pois matérias antes tratadas apenas civilmente têm ganhado previsão
constitucional. Os fundamentos de validade jurídica do Direito Civil devem
ser extraídos da Constituição.

O presente trabalho tem o objetivo de desenvolver as características desse


fenômeno que tem revolucionado o Direito Civil e o Direito Privado, expor
suas particularidades e vantagens.

Para isso, inicialmente será analisada a supremacia da Constituição, que é


um princípio muito importante no Direito.

1 A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
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A supremacia da Constituição não deve ser questionada, pois a Constituição


Federal assume o topo da hierarquia do ordenamento jurídico e assim dita
regras e serve de fundamento para todos os outros ramos do Direito. Todas
as normas do ordenamento jurídico devem se adequar ao parâmetro da
constituição, ela é a Lei Maior.

Se o Código Civil está incompatível com a Constituição ele não pode


continuar vigente, pois a Constituição ordena que todos os ramos do direito
estejam em harmonia com ela e caso isso não aconteça, existem mecanismos
para fazer o que for necessário para que essa harmonia seja refeita.

Pablo Stolze apud Maiana Pessoa (2004, p.5) acrescenta:

Por tudo isso, a Constituição Federal, consagrando valores como a dignidade


da pessoa humana, a valorização social do trabalho, a igualdade e proteção
dos lhos, o exercício não abusivo da atividade econômica, deixa de ser um
simples documento de boas intenções e passa a ser considerada um corpo
normativo superior que deve ser diretamente aplicado às relações jurídicas
em geral, subordinando toda a legislação ordinária.

O Direito Civil não conseguiu incorporar os princípios fundamentais da


Constituição na sua prática, e em nenhuma hipótese deverá ser adotada a
conduta freqüente de se ler a Constituição a partir do Código Civil.

2 O DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL

O Direito Civil é o principal ramo do direito privado e trata-se do conjunto de


normas que regem as relações entre os particulares, que estão em um
equilíbrio de condições. Como diz Moraes (2006, p.2): “O Direito Civil foi
identi cado com o próprio Código Civil, que regulava as relações entre as
pessoas privadas, seu estado, sua capacidade, sua família e principalmente
sua propriedade, consagrando-se como o reino da liberdade individual”.

O Direito Civil não está conseguindo acompanhar os princípios


constitucionais que têm que ser seguidos por todos os ramos do direito, até
porque “o nosso novo Código Civil foi elaborado em 1975, portanto, antes da
Constituição, o que signi ca dizer que ele já nasceu em descompasso com a

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realidade social do país e com a nossa Magna Carta”. (BRITO, 2007, p.1). Vale
lembrar, que o Direito civil é o ramo mais distante da Constituição.

As primeiras Constituições não regulavam nada sobre o direito privado, mas,


já faz algum tempo, a partir da Constituição de 1988, que assuntos antes só
tratados no Código Civil fazem parte dos assuntos da Constituição Federal.
Como bons exemplos pode-se citar o direito de família, de propriedade e de
contrato. Tepedino (2004, p.7) con rma:

O Código Civil perde, assim, de nitivamente, o seu papel de Constituição do


direito privado. Os textos constitucionais, paulatinamente, de nem
princípios relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código
Civil e ao império da vontade: a função social da propriedade, os limites da
atividade econômica, a organização da família, matérias típicas do direito
privado, passam a integrar uma nova ordem pública constitucional.

A constitucionalização do Direito Civil aconteceu justamente porque


matérias antes só tratadas civilmente ganharam previsão constitucional, e
assim ao interpretar o Código Civil tem-se que levar em consideração a
Constituição, para certi car-se de que não se está contrariando-a. Além
disso, deve-se sempre fazer uma ltragem constitucional, ou seja, fazer uma
leitura de todos os ramos do direito sob a ótica constitucional. Como diz
Lôbo (2002, p.2): “[...] a constitucionalização tem por to submeter o direito
positivo aos fundamentos de validade constitucionalmente estabelecidos”.

Com a constitucionalização do Direito civil, têm-se inúmeras vantagens, por


exemplo, elevar os direitos fundamentais da pessoa, a dignidade da pessoa
humana passa a ocupar um primeiro plano. Tepedino (2004, p.22) con rma:

Trata-se, em uma palavra, de estabelecer novos parâmetros para a de nição


de ordem pública, relendo o Direito Civil à luz da Constituição, de maneira a
privilegiar, insista-se ainda uma vez, os valores não-patrimoniais e, em
particular, a dignidade da pessoa humana, o desenvolvimento de sua
personalidade, os direitos sociais e a justiça distributiva, para cujo
atendimento deve se voltar a iniciativa econômica privada e as situações
jurídicas patrimoniais.

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Quando as normas do Código Civil forem incompatíveis com a Constituição,


devem ser revogadas ou declaradas inconstitucionais. Quando for possível o
aproveitamento, observar-se-á a interpretação conforme a Constituição.

Maiana Alves Pessoa (2004, p.6) em seu artigo diz:

Advirta-se, porém, que a constitucionalização do Direito Civil é muito mais


do que estabelecer limites externos à atividade privada. Trata-se da releitura
de antigos institutos fundamentais do Direito Civil, em razão da sua
reformulação interna de conteúdo, com uma nova valoração determinada
pela Constituição-cidadã.

A Constituição aproximou-se das necessidades humanas reais e concretas, e


sem sufocar a vida privada conferiu maior e cácia aos institutos
fundamentais do Direito Civil, botando-os à luz de valores fundamentais
aclamados como garantias e direitos fundamentais do cidadão.

A constitucionalização do Direito Civil confere uma nova personalidade ao


direito privado. E segundo Lôbo (2002, p.4) a constitucionalização do Direito
Civil “[...] é imprescindível para a compreensão do moderno direito civil.” .

CONCLUSÃO

Concluindo, a constitucionalização do Direito civil é muito importante e


assim essencial para a compreensão do direito moderno e para que a
harmonia do ordenamento jurídico seja mantida. O Direito Civil e todos os
demais ramos do direito têm que ter como fundamento de validade a
Constituição e seus princípios, esta deve direcionar todas as leis
infraconstitucionais.

A constitucionalização do Direito Civil renova a idéia que se tem deste e do


Direito Privado, além de trazer vantagens imensas ao cidadão. O fato da
dignidade da pessoa humana ser elevada é importantíssimo.

Alguns civilistas são totalmente contra a constitucionalização do Direito


Civil, mas diante de tudo que foi falado ca claro que esse fenômeno é
essencial, já que cada vez mais se percebe que a dicotomia entre Direito
público e Direito privado está acabando e assim o Direito Civil não está
separado de modo algum da Constituição.
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REFERÊNCIAS
BRITO, Ludmila Silva de. Constitucionalização do Direito Civil e a in uência
sobre a responsabilidade civil. Acesso em: 24 out. 2007. Disponível em:
http://www.direitonet.com.br/artigos/x/35/22/3522/.

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Constitucionalização do direito civil. Acesso em: 10


out. 2007. Disponível em: http://www.mundojuridico.adv.br/cgi-
bin/upload/texto085.doc.

MORAES, Maria Celina B. A caminho de um Direito Civil constitucional.


Acesso em: 18 out. 2007. Disponível em: http://209.85.165.104/search?
q=cache:V6OWPudQ4T8J:www.idcivil.com.br/pdf/biblioteca4.pdf+direito+ci
vil+constitucional&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=4&gl=br.

PESSOA, Maiana Alves. Direito civil constitucional. Acesso em: 24 out. 2007.
Disponível em: http://www.juspodivm.com.br/_direito-civil-
constitucional-maiana-alves.pdf.

TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

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