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Autores
Jair de Jesus Mari1
Publicação: Out-2005
1 - O que é depressão?
Os episódios depressivos (depressão maior) são caracterizados por períodos bem delimitados,
com duração de no mínimo duas semanas, durante os quais o paciente exibe sintomas
depressivos durante a maior parte do dia. Esses sintomas estão listados na tabela 1.
Tabela 1. Sintomas de depressão segundo os critérios
diagnósticos do DSM-IV (APA, 1994)
Humor deprimido na maior parte do dia
Ganho ou perda de peso significativa sem estar em dieta (pelo menos 5% do peso
corporal)
1
Professor Titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo – Escola
Paulista de Medicina; Ph.D. pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres.
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Pelo menos cinco sintomas devem estar presentes e ao menos um deve ser representado por
humor deprimido ou perda de interesse/prazer. Os sintomas devem, via de regra, infligir
considerável grau de sofrimento psíquico ao paciente em questão, ou afetar negativamente
suas atividades cotidianas (o conjunto de atividades fundamentais que compõem o dia-a-dia de
um indivíduo). De acordo com o grau de comprometimento ou sofrimento a ele associado, bem
como com o número de sintomas, o episódio depressivo poderá ser classificado em leve,
moderado ou grave.
4 - O que é depressão-ansiosa?
Há uma relação importante de co-morbidade entre sintomas ansiosos e depressivos nos casos
que se apresentam na comunidade e na clínica geral. Embora a presença de sintomas
ansiosos em pacientes portadores de transtornos depressivos seja bastante comum, deve ser
mencionado um sub-tipo específico de transtorno, incluído entre os transtornos ansiosos na
CID-10. Trata-se do transtorno misto de ansiedade e depressão, quadro onde a pessoa
apresenta concomitância de sintomas ansiosos e depressivos, sem que sejam preenchidos os
critérios para um ou outro diagnóstico isoladamente. A presença de sintomas ansiosos terá
importância específica no que se refere ao tratamento dos transtornos depressivos.
5 - O que é distimia?
O transtorno afetivo bipolar (TAB) caracteriza-se por oscilações do humor entre os pólos da
depressão e da euforia (mania ou hipomania). Durante a fase depressiva, o TAB pode ser
indistinguível da depressão unipolar, a não ser que se disponha de dados de história sobre
episódios prévios de exaltação do humor, fornecidos pelo próprio paciente ou por familiares.
Sintomas a serem pesquisados para a identificação de tais episódios de exaltação incluem
aceleração psicomotora, logorréia, gastos excessivos, auto-estima excessivamente elevada e
idéias grandiosas, muitas vezes de cunho delirante.
Ainda não se conhece exatamente a causa da depressão. É possível que uma combinação de
fatores dispare o estado depressivo, com cerca de 35% do risco atribuído à genética e 65% aos
eventos vitais. Os eventos vitais que representam mudanças identificáveis no padrão de vida e
que representam uma ruptura do comportamento usual podem afetar o bem estar do indivíduo.
Os eventos podem ter diferentes impactos de acordo com o período da vida, e parece que mais
importante que o evento em si é a percepção de gravidade pessoal do mesmo. No entanto, o
acúmulo de eventos parece ser um fator que predispõe a pessoa a episódios depressivos.
Eventos como separação conjugal, perda por morte de ente querido, perda de emprego,
acidente com lesão corporal, assalto, migração e presença de familiar com doença crônica no
domicílio podem disparar episódios depressivos.
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9 - Qual o impacto social da depressão?
O impacto social da depressão decorre tanto da incapacidade individual como do fardo familiar
associado à doença. Sintomas depressivos e depressão maior são problemas comuns e
importantes em termos de saúde pública. Os custos da assistência médica, o tempo de
trabalho perdido e a diminuição da qualidade de vida associam-se de forma clara e consistente
com transtornos depressivos. Apesar de serem crônicos, os transtornos depressivos são
condições tratáveis e as opções terapêuticas têm crescido enormemente nos últimos 25 anos.
Além disso, mesmo os sintomas menos graves de depressão são relevantes, na medida em
que sua presença é associada ao desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos mais
graves. A depressão é uma das causas mais importantes de incapacidade na população adulta
do planeta, quando se estima os “Dalys” (dias úteis de saúde perdidos por causa da
enfermidade). É a segunda causa mais importante de incapacidade nos países desenvolvidos
e a quarta causa nos países em desenvolvimento.
Sim. Vários estudos populacionais sugerem que pessoas com baixa escolaridade e renda
apresentam maior prevalência de transtornos mentais. As condições precárias de habitação, o
isolamento social e a desigualdade econômica devem ser fatores importantes que corroboram
para o aumento da incidência de depressão. Os eventos de vida desfavoráveis, como
desemprego, falta de lazer, estresse crônico face à baixa escolaridade e privação social,
convívio mais próximo com a violência, principalmente na periferia dos grandes centros
urbanos, são fatores que devem estar relacionados com o aumento de risco de depressão. Por
isso, esta classe econômica é a mais necessitada de acesso ao tratamento. Enquanto na
população de alta renda pode haver um excesso na prescrição de antidepressivos, boa parte
da população carente está marginalizada quanto ao acesso ao tratamento.
Com relação ao gênero, a maioria das pesquisas indica que as mulheres apresentam cerca de
duas vezes mais depressão do que os homens. No entanto, o sexo feminino parece não ser um
fator de risco ‘per se’, mas sim o ambiente e suporte social na maioria das culturas. O fato de
os homens relatarem menos sintomas depressivos do que as mulheres também colabora para
esse achado. O fato é que as mulheres provenientes de áreas carentes e que freqüentam os
centros de atenção primária têm um excesso de transtorno depressivo, que em geral passa
desapercebido pelo clínico geral.
12 - A depressão é hereditária?
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cerebrais) podem ser detectadas quando pacientes com depressão são comparados a
voluntários sadios. Dessa forma, foram demonstradas reduções do volume do córtex frontal, da
amígdala, do hipocampo e dos gânglios da base em pacientes portadores de transtorno
depressivo, estruturas estas partes do sistema límbico. Tais achados sugerem que disfunções
nestes circuitos, sejam elas pós-natais (morte neuronal) ou pré-natais (hipoplasia de estruturas
cerebrais), estão envolvidas no estabelecimento de quadros depressivos. Estes achados
possibilitam a formulação de teorias fisiopatológicas, possibilitando a integração de aspectos
neurobiológicos e ambientais. É o caso da redução de volume hipocampal em pacientes
depressivos, a qual tem sido atribuída a níveis cronicamente elevados de cortisol sérico, os
quais, por sua vez, parecem resultar de exposição a fatores estressantes.
São várias as condições médicas que podem estar associadas à emergência de sintomas
depressivos: hipotireoidismo, reumatismo artróide e doença de Parkinson. Algumas
medicações de uso rotineiro na clínica devem ser pesquisadas, pelo potencial de disparar ou
piorar os sintomas depressivos: anti-hipertensinvos (propranolol, reserpina, metildopa e
diuréticos tiazídicos); bloqueadores H2 (cimetidina e ranitidina); antiinflamatórios esteróides e
não-esteróides; digitálicos e metoclopramida. O clínico deve avaliar o possível consumo de
álcool e de drogas e, no caso de mulheres, investigar o uso de drogas ou fórmulas contendo
anfetaminas para inibir apetite, em regimes para perda de peso.
Alguns pacientes referem perda de apetite com subseqüente perda de peso, enquanto outros
podem ter fissura por carboidratos e aumento do apetite, com subseqüente ganho de peso. Os
testes de laboratório devem ser solicitados somente no caso de haver uma causa médica
subjacente ao transtorno depressivo. Não há razão no início do tratamento de se pedir testes
específicos como, por exemplo, de função tireoidiana, a não ser que o paciente não responda
ao tratamento. O ECG deve ser solicitado em caso de uso de tricíclicos.
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nos receptores anticolinérgicos, anti-histamínicos e alfa-adrenérgicos, certos efeitos colaterais,
como boca seca, constipação, ganho de peso, sedação e hipotensão ortostática, são
relativamente pouco freqüentes. Os efeitos colaterais mais importantes dos ISRS são náusea,
perda de apetite, sudorese excessiva, insônia, disfunção sexual, sedação, dor de cabeça e
tontura.
Tabela 2. Antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina
Substância Dose habitual diária
Fluoxetina 20 a 40 mg
Sertralina 50 a 100 mg
Paroxetina 20 a 40 mg
Citalopran 20 a 40 mg
Escitalopran 10 a 20 mg
Os antidepressivos tricíclicos devem ser iniciados com uma dosagem menor, que será
aumentada progressivamente para atingir a dose mínima necessária para se obter a resposta
clínica. Os tricíclicos bloqueiam receptores muscarínicos e colinérgicos, podendo causar boca
seca, constipação, retenção urinária, taquicardia sinusal, embaçamento visual e disfunção
cognitiva. O bloqueio de receptores histamínicos produz sedação, aumento do apetite, ganho
de peso e hipotensão. O bloqueio alfa-adrenérgico pode causar hipotensão postural, tontura,
taquicardia reflexa e potencialização de drogas anti-hipertensivas. Os tricíclicos causam efeitos
na condução cardíaca e são contra-indicados no glaucoma e na hipertrofia prostática. A maioria
dos efeitos colaterais é minimizada com o aumento gradual da dose a ser utilizada. É
importante se obter ECG antes e após quatro semanas após o início do tratamento. O ganho
de peso e a sedação podem criar dificuldades para pacientes que se queixam de hipersônia e
hiperfagia. Os tricíclicos são favoráveis para pacientes com queixas de insônia e perda de
peso. Embora o custo dos tricíclicos seja menor, os efeitos colaterais podem prejudicar a
adesão ao tratamento. A tabela 3 lista os antidepressivos tricíclicos disponíveis.
Tabela 3. Antidepressivos tricíclicos
Substância Dose habitual diária
Imipramina 75 a 150 mg
Clomipramina 50 a 150 mg
Nortriptilina 50 a 150 mg
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Tabela extraída de Souza, FGM. Tratamento da Depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria,
vol.21 s.1, Editado por Delporto, JÁ & Lafer B., São Paulo, Maio 1999 (Direitos autorais obtidos
na RBP).
O clínico deve prescrever a medicação com a menor probabilidade possível de gerar efeitos
colaterais. Neste sentido, os ISRS oferecem menor risco de abandono do tratamento, quando
comparados aos tricíclicos, por melhor tolerabilidade ao tratamento. A falta de eficácia pode
estar associada a uma baixa dosagem do antidepressivo utilizada pelo clínico e pela falta de
um bom preparo do paciente frente aos efeitos colaterais e o tempo de espera para os
resultados da medicação.
Os pacientes depressivos com sintomas ansiosos associados, bem como aqueles portadores
de transtorno misto de ansiedade e depressão, podem se beneficiar da utilização de drogas
com maior potencial sedativo, como amitriptilina, nortriptilina e mirtazapina. Os ISRS estão
associados à piora dos sintomas ansiosos nos primeiros dias após a introdução da medicação.
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Caso se opte por um deles, deve-se preferir os de menor potencial ansiogênico, como
sertralina, paroxetina ou citalopram/escitalopram. Considerar associação com medicação
ansiolítica benzodiazepínica (por exemplo, clonazepan 0,5-2 mg/dia ou alprazolan 0,5 a 1,5
mg/dia) nos primeiros dias de tratamento.
Primeira – terapia aguda: dura de oito a doze semanas, até a obtenção da dose clínica a ser
utilizada.
O risco de recaída com a interrupção do tratamento se reduz após quatro meses de resposta
terapêutica. Os pacientes com episódios anteriores de crise depressiva têm maior risco de
recaídas. A dose de manutenção pode ser mais baixa do que a necessária para se obter a
resposta clínica. Em geral, após quatro meses de remissão dos sintomas, pode-se iniciar uma
tentativa de redução gradual de dose até o mínimo necessário para prevenir as recaídas. Na
retirada gradual da dosagem, se houver suspeita de reinício dos sintomas, deve-se interromper
a redução e retornar à dose do nível anterior.
Após seis semanas, se o antidepressivo não tiver tido o efeito desejado, uma mudança de
classe e/ou potencialização da terapia podem ser experimentadas, desde que tenha sido
utilizada a dose total da opção inicial. Outra situação de mudança é se houver recaída do
episódio depressivo após três meses de tratamento. Infelizmente, não há um algoritmo
disponível de forma consensual que oriente qual droga deve ser experimentada após a
primeira ter falhado no alívio dos sintomas depressivos. Pode-se mudar de antidepressivo ou
tentar uma combinação estratégica com lítio ( 600 a 900 mg/dia) ou bupropiona ( 150 a 300
mg/dia).
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25 - O que o clínico deve dizer ao paciente com depressão?
É aconselhável que a depressão seja compreendida como uma enfermidade médica com sinais
e sintomas específicos. O médico pode se referir a um desequilíbrio neuroquímico cerebral,
causado por possíveis eventos desfavoráveis, em pessoas com predisposição para
desenvolver o problema. Deve ser enfatizado que ter depressão não é indicativo de fraqueza
ou de falha pessoal. É importante frisar que os sintomas não vão desaparecer
espontaneamente e que, em geral, os antidepressivos demoram de três a cinco semanas para
fazer efeito. O início do tratamento pode ser desconfortável e sua duração é de, no mínimo,
seis meses. Antidepressivos não devem ser confundidos com pílulas da felicidade.
Na presença de idéias de suicídio, o paciente deve ser informado que a depressão poderá
passar nas próximas semanas e que esta sensação de desesperança e impulso suicida
também devem desaparecer no decorrer do tratamento.
Cerca de 60% a 70% dos pacientes com depressão apresentam pensamentos suicidas na fase
aguda da enfermidade. Aproximadamente 10% a 15% praticam alguma forma de tentativa de
suicídio e 2% a 3% dos pacientes com depressão poderão se matar por conseqüência direta
da doença. A depressão está presente em mais de 50% dos suicídios em adultos e em mais de
75% nas crianças e adolescentes. O risco de suicídio aumenta na presença de uma doença
grave, no desemprego, nas grandes perdas financeiras, no histórico de tentativas prévias, na
posse de armas e nas situações de isolamento social.
As questões relacionadas ao suicídio devem ser feitas de forma livre, direta, mostrando afeto e
empatia pelo sofrimento do paciente. As perguntas devem ser formuladas de forma gradual e
progressiva no decorrer do histórico dos sintomas da depressão:
Os pacientes que admitem um plano organizado estão sob alto risco de suicídio, assim como
os pacientes que não possuem amigos ou familiares que possam ajudá-lo nesta fase.
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por superdosagem de antidepressivos foram decorrentes de tricíclicos). O médico deve seguir
o seguinte roteiro no histórico de risco de suicídio:
O Sistema de Vigilância dos Estados Unidos (FDA) exigiu recentemente um alerta para a
prescrição de antidepressivos para crianças e adolescentes com depressão, na suspeita de
que a medicação induziria à ideação e o comportamento neste grupo de pacientes. Este é um
tópico altamente complexo, porque se trata de uma situação em que a própria doença está
associada ao suicídio. Há evidências de que a introdução dos ISRS na década de 90 está
relacionada com uma redução consistente de suicídios nos EUA. Os dados mais preocupantes
dizem respeito a uma possível exacerbação dos pensamentos suicidas em crianças e
adolescentes para a maioria dos antidepressivos, com exceção da fluoxetina. O fato é que o
uso de ISRS pode ter influenciado num afrouxamento na vigilância do risco de suicídio, pela
segurança do baixo risco de overdose.
Contudo, deve-se lembrar que o suicídio tem um risco muito maior de ocorrência nos casos de
depressão não tratados daqueles possivelmente induzidos pela medicação. O clínico deve,
portanto, alertar o paciente e os familiares com a possibilidade da medicação induzir
pensamentos suicidas, principalmente no período de latência, no qual a droga não atingiu a
resposta clínica esperada.
Nos tricíclicos, os efeitos colaterais mais freqüentes são tontura, sedação, hipotensão
ortostática e alterações cognitivas. As complicações resultantes de bloqueio muscarínico são:
boca seca, visão turva, constipação e esforço para urinar. Pode haver constipação intestinal e
retenção urinária. É comum o ganho de peso entre os tricíclicos e no uso de lítio. A disfunção
sexual, com comprometimento das funções de ereção e ejaculação no homem e perda da
libido e anorgasmia em ambos os sexos são observados principalmente com os ISRS. A
indução de convulsão pode ser atribuída a alguns antidepressivos, mas o risco tem sido
discreto (menor do que 1%) e pode aumentar com o aumento da dose, com exceção da
bupropiona, que não deve ser utilizada em dosagem superior a 300 mg ao dia. A fluoxetina
pode originar distúrbio do sono e aumentar a ansiedade. A bupropiona pode elevar a
ansiedade.
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Deve-se evitar uso concomitante de carbamazepina, porque ela reduz os níveis sanguíneos de
antidepressivos.
Os pacientes devem ser avisados que os antidepressivos não são aditivos, embora síndromes
de descontinuação possam ser observadas em alguns pacientes. Síndrome de descontinuação
ou retirada tem sido mencionada na literatura, incluindo alterações somáticas e gastrintestinais,
alterações do sono, distúrbio dos movimentos e hipomania. Sintomas de descontinuação
normalmente aparecem de um a 14 dias após o fim do tratamento e melhoram dentro de uma
semana.
A síndrome de descontinuação não deve ser confundida com recorrência de depressão, que
começa em média de 3 a 15 semanas após o término de utilização do antidepressivo. Sintomas
de retirada podem ocorrer com dosagens não tomadas regularmente. Os tratamentos do
sintoma de descontinuação incluem: reinstalação de baixas doses do antidepressivo, uso de
anticolinérgicos para alívio sintomático ou simplesmente observar.
A duração da terapia deve, portanto, levar em conta a freqüência e a gravidade dos episódios
depressivos. Entre 50% e 85% das pessoas sofrendo de um episódio de depressão aguda irão
ter um futuro episódio, usualmente dentro de dois a três anos. Na vigência de crises freqüentes
e de certa gravidade, assim como nos pacientes com distimia, o tratamento poderá se
prolongar por toda a vida.
O paciente deve estar a par dos riscos envolvidos na interrupção do antidepressivo. Se ainda
assim a descontinuação é processada, seria apropriado ir reduzindo as doses lentamente por
um período mínimo de quatro semanas para avaliar se está ocorrendo recaída. Os níveis de
descontinuação dos IRSS são menores (10%) quando comparados aos dos tricíclicos (20%).
Na suspeita do retorno da sintomatologia, deve-se suspender a redução da dose e aumentá-la
até a remissão dos sintomas. O risco de recaída aumenta na presença de distimia e de outros
transtornos psiquiátricos, como dependência química, síndrome do pânico e paciente com
tentativas prévias de suicídio.
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objetivo de consolidar o progresso, reduzir possíveis sintomas residuais e prevenir futuras
recaídas.
Apesar dos avanços no tratamento, há muito estigma e desinformação quanto ao potencial dos
tratamentos medicamentosos e psicoterápicos na depressão. É senso comum acreditar que a
depressão não tem cura, que pode ser uma fraqueza de caráter e que pode ser devida à falta
de ocupação. Acredita-se também que com esforço e determinação o paciente poderá
melhorar sozinho e que os medicamentos antidepressivos tornam a pessoa dependente.
Portanto, várias pessoas no país ainda resistem à busca de tratamento para depressão, com
conseqüente perda de qualidade de vida e impacto no risco de desenvolver outras doenças,
abreviando a longevidade.Os familiares devem ser informados que no início do tratamento os
pacientes não conseguem participar de atividades sociais. É muito comum a crença de que os
pacientes devem se ajudar buscando atividades recreativas. Na fase aguda da doença não há
como esperar a participação dos pacientes nestas atividades, pelo comprometimento geral da
libido que acarreta a depressão. Os familiares devem, portanto, ser informados da doença e
respeitar os limites do paciente na fase aguda do episódio depressivo.
A ECT tem ação de eficácia comprovada na depressão e pode ser indicado nos casos
resistentes à medicação ou de gravidade clínica que comprometa a vida do paciente. Por
exemplo, são descritos casos de Síndrome de Cotard, onde o paciente apresenta um delírio de
negação. O paciente acredita que não tem mais o coração, sangue nas veias, o intestino e, em
particular o esôfago, deixando de se alimentar. Pode haver desnutrição grave e desequilíbrio
hidroeletrolítico, colocando em risco a vida do paciente. A ECT pode tirar este paciente de seu
estado catatônico. A ECT é hoje realizada com anestesia geral, em ambiente hospitalar (o
paciente pode ficar internado por algumas horas), gerando pouco sofrimento ao paciente. Há
ainda muito preconceito em torno desta técnica, possivelmente confundindo-a com a tortura
praticada no regime militar. Em casos graves e resistentes à medicação a ECT pode ser a
única alternativa para trazer o paciente à vida. Pode ser alternativa importante de tratamento da
depressão na gravidez. A ECT é, portanto, uma boa opção de tratamento desde que
administrada com cuidado, ética e ambiente apropriado. A principal conseqüência do
tratamento é uma disfunção cognitiva que pode remitir após alguns dias ou semanas depois da
última aplicação.
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• na situação de gravidez ou de planos para engravidar;
• na dúvida diagnóstica.
42 - Leitura recomendada
Del Porto JA, Lafer B. Depressão. Suplemento da Revista Brasileira de Psiquiatria 1999;vol.21
s.1. www.scielo.br/rbp
Mari JJ, Razzouk D, Peres MFT, Del Porto JA. Psiquiatria. Guias de Medicina Ambulatorial e
Hospitalar UNIFESP/Escola Paulista de Medicina, Editora Manole, Barueri, São Paulo, 2002.
Stern TA, Herman JB, Slavin PL. The MGH Guide to Psychiatry in Primary Care. McGraw-Hill,
Nova York, 1998.
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