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GUIA PRÁTICO PARA

ACOMPANHAR UM
FAMILIAR NO LABIRINTO
DA BIPOLARIDADE

Dr. Renato Silva - CRM: 54154 - MG/RQE N. 39620


Converso com bipolares e seus familiares todos os
dias nas redes sociais e vejo que quase todos tem
um problema em comum: relacionamentos. Os
relacionamentos inevitavelmente sofrem, em
alguma medida, com a instabilidade de humor.
Muitas vezes o próprio familiar se sente perdido
em um labirinto, tentando de todas as formas
ajudar e sentindo que só está atrapalhando, que
nunca vai encontrar a saída.

Lidar com a irritabilidade, a impaciência e a


alternância de humor não é tarefa fácil. Não é à toa
que a taxa de divórcio em bipolares é
significativamente maior do que em pessoas sem o
transtorno. Mas o mais difícil é quando não se sabe
que isso é decorrente de um transtorno, quando se
acha que é associado a personalidade do
indivíduo.

Há uma única saída no dilema de relacionamentos


e bipolaridade: conhecimento, de ambos os
integrantes da relação, seja ela amorosa, familiar,
de trabalho ou de amizade.
A primeira coisa que tenho para te
contar, e que talvez gere um
desconforto pelo tamanho
sentimento de urgência em tirar
quem você ama de um sofrimento
desmedido é que é importante
aceitar os limites desta pessoa.
Muitas vezes o familiar acredita que
com autocontrole, com vontade, com
determinação é possível sair de uma
depressão ou de uma mania, por
exemplo, mas isso não é verdade,
ninguém escolhe ser bipolar.

Além do mais, é importante aceitar


os seus próprios limites: você não
vai conseguir resgatar a pessoa que
você ama e que possui transtorno
bipolar, e não pode forçá-la a assumir
a responsabilidade de se
comprometer a melhorar. Você pode
oferecer apoio e incentivar, mas em
última análise a responsabilidade está
na mão da pessoa que possui o
transtorno.

Um outro ponto importante e que


tem um grande potencial de ajudar é
tentar reduzir o estresse. O estresse
pode piorar muito o quadro da
bipolaridade então é interessante
tentar reduzi-lo na vida do seu
familiar, perguntar como pode ajudar,
se voluntariar para assumir algumas
responsabilidades desta pessoa, se
for o caso, para que você consiga
ajudar a reduzir a pressão, o estresse
na vida dela.
A rotina é muito importante na Como familiar, uma das coisas mais
bipolaridade para regular o ritmo importantes que você pode fazer
biológico, então é importante ajudar a pela pessoa que você ama é
pessoa que você ama a estabelecer convencê-la a procurar um médico e
uma rotina, horários para dormir, incentivá-la a se manter no
acordar, fazer as refeições. tratamento. Muitas vezes isso pode
ser desafiador. Você pode trazer
A comunicação acolhedora também elementos como: transtorno bipolar
pode fazer muita diferença no é um transtorno real e que, assim
relacionamento. Escutar para como diabetes, exige um tratamento,
compreender e não para se defender ressaltar que essa pessoa não tem
ou julgar, ajuda a criar um ambiente culpa por ter transtorno bipolar, que
de apoio e de acolhimento que pode ela não causou isso e que há muitos
ser benéfico para todos os tratamentos eficazes para o
envolvidos. transtorno bipolar para que ela possa
se sentir muito melhor.
Entender sobre as medicações, sobre os efeitos colaterais, colocar um alarme
para a pessoa não esquecer. Oferecer a sua visão para os profissionais da
saúde também pode ajudar. Encontrar um profissional qualificado para
atender o seu familiar, marcar horário, acompanhar o paciente.

São todas ações que podem ajudar muito no tratamento.

Muitas vezes não é possível evitar que a pessoa que a gente ama entre em
uma depressão ou em uma mania. Mas então, como manejar crises em casa?
O que fazer neste cenário?

A primeira coisa é não levar os sintomas da bipolaridade para o lado


pessoal, muitas vezes esse ente querido pode dizer ou fazer algo que
machuca quem está perto, mas saber que isso é um sintoma e não a pessoa
pode auxiliar a manejar melhor a fase.
Quando a pessoa está em Quando a pessoa está com
mania/hipomania: depressão:

A primeira coisa é apoiá-la a A primeira coisa é apoiá-la a


seguir o tratamento e não seguir o tratamento e não
abandoná-lo. abandoná-lo.
Se a pessoa tem muita energia, Se possível, demonstre que a
uma boa forma de passar tempo pessoa é importante para você e
com ela e estimular a prática de que você se preocupa com ela.
atividade física é tentar caminhar É importante se ater a rotina,
junto com ela, isso permite que fazer atividade física, tomar os
ela esteja em movimento mas medicamentos nos horários
ainda assim esteja ali com você. recomendados pelo profissional.
Tente preparar refeições ou Estimule a pessoa a alcançar
comidas fáceis de comer, porque pequenos objetivos, pois muitas
pode ser difícil a pessoa se vezes o que antes era natural fica
sentar, fazer uma refeição. muito custoso.
Evite submeter a pessoa a muitas Não fazer grandes mudanças na
atividades ou muita estimulação vida nesse período de depressão,
quando ela está em fase de é importante sempre alinhar o
mania/hipomania. Mantenha o que está acontecendo junto com
ambiente mais silencioso, mais o médico, junto com o terapeuta.
calmo possível, com menos É importante estar ali com a
iluminação. pessoa, garantindo o tratamento,
a rotina, e acesso ao que pode
realmente ajudá-la.

Seguindo as recomendações saiba que você estará fazendo muito para auxiliar
a pessoa que você ama a encontrar a saída do labirinto da bipolaridade.
RESUMO
Buscar se informar sobre o que é bipolaridade, quais os
sintomas, as fases, quais as formas de tratamento.

Aceitar os limites do seu familiar.

Tentar reduzir o estresse da vida da pessoa, pois o


estresse pode piorar muito o quadro da bipolaridade

Ajudar o seu familiar a estabelecer uma rotina, com


horários para refeições, atividade física, para dormir e
acordar.

Tentar manter uma comunicação acolhedora, escutar


para compreender e não para se defender ou julgar.

Incentivar o seu familiar a se manter no tratamento.

Entender sobre as medicações, sobre os efeitos


colaterais, colocar um alarme para a pessoa não se
esquecer.

Oferecer a sua visão para os profissionais da saúde caso


solicitado ou propício.

Encontrar um profissional qualificado para atender o seu


familiar, marcar horário e, se for o caso, acompanhá-lo na
consulta.
SOBRE O AUTOR

Dr. Renato Silva é médico psiquiatra formado pela USP há mais de 10 anos,
sendo referência no conhecimento e no tratamento dos transtornos de
humor. Ele acredita que é possível ajudar pessoas a reconquistarem seu
equilíbrio emocional e saúde mental através de informações de qualidade
para o público em geral, sem nunca deixar de lado o embasamento
científico.

É mentor, professor e supervisor de profissionais de saúde. Desenvolveu o


Método Estabilidade Bipolar, ajudando milhares de pessoas com o
transtorno bipolar a alcançarem uma vida mais estável e feliz. Foi o
idealizador do App Estabiliza, o primeiro aplicativo brasileiro para ajudar
pacientes bipolares e deprimidos a fazerem um acompanhamento diário
dos sintomas, dos hábitos e da evolução do tratamento.

Dr. Renato Silva - CRM: 54154 - MG/RQE N. 39620

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