Você está na página 1de 61

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE MEDICINA VETERINARIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ANÁLISES CLÍNICAS

Aluno: Letícia da Silva


Matrícula: 08004477-1
Supervisor Acadêmico: Profª. Drª. Mariangela da Costa Allgayer
Supervisor Local: Profª. Drª. Stella de Faria Valle

Canoas

2013
LETÍCIA DA SILVA

ANÁLISES CLÍNICAS

Trabalho de Conclusão de Curso em Medicina Veterinária


Universidade Luterana do Brasil
Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Medicina Veterinária

Supervisor: Profª. Drª. Mariangela da Costa Allgayer

Canoas

2013
RELATÓRIO DO ESTÁGIO PRÁTICO SUPERVISIONADO EM ANÁLISES
CLÍNICAS

LETÍCIA DA SILVA

Relatório do Estágio Prático Supervisionado submetido ao Curso de Medicina


Veterinária da Universidade Luterana do Brasil, como parte integrante dos requisitos
de avaliação da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso.

Aprovado por:

..................................................................
Professor supervisor

..................................................................
Professor membro da Banca

..................................................................
Professor membro da Banca

Canoas

Dezembro 2013
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por poder estar aqui realizando a etapa final
do curso de Medicina Veterinária, um grande sonho que vem se concretizando neste
último período.

Agradeço a minha família e em especial minha avó e minha mãe, que sempre
estiveram presentes em todos os momentos, compartilhando as alegrias e desafios
da minha vida.

Agradeço aos professores que a cada aula contribuíram para que esse
trabalho de conclusão fosse realizado. Em especial a professora Mariangela
Allgayer, minha orientadora, que com muita dedicação esteve sempre presente,
minha orientadora local e aos médicos veterinários residentes do LacVet, que com
muito carinho me receberam e ao longo dos 3 meses de estágio auxiliaram e
agregaram muito para que eu chegasse até aqui.

Agradeço também as minhas colegas, que assim como eu, envolvidas nas
suas atividades acadêmicas, nunca deixaram a amizade e companheirismo de lado,
fazendo que nos momentos descontraídos eu encontrasse a motivação para a
conclusão desta etapa.

Não posso deixar de agradecer também a todos os animais, em especial


minhas duas ratinhas, companheiras nesta última etapa da faculdade. A paixão por
eles é que me trouxe até aqui.
4

E a tantas outras pessoas que com muito carinho me ajudaram a concluir esta
etapa.

Muito obrigada!
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 : Entrada do Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV-


UFRGS)......................................................................................... 10
Figura 2 : (a) Sala para coleta. (b) Bancada com os materiais para a coleta
de sangue...................................................................................... 11
Figura 3 : Setor de Hematologia do LacVet – UFRGS ................................. 12
Figura 4 : Local da análise física e química urinária do LacVet-
UFRGS.......................................................................................... 13
Figura 5 : Equipamento automatizado CM 200 utilizado no setor de
Análises Bioquímicas.................................................................... 14
Figura 6 : Quantificação das atividades realizadas no LacVet no período
do estágio curricular...................................................................... 16
Figura 7 : Quantificação dos exames bioquímicos solicitados, realizados 1
pelo LacVet e exames encaminhados para processamento 7
externo........................................................................................... 16
Figura 8 : Refratômetro, utilizado para mensuração da Proteína
Plasmática Total e Densidade Urinária......................................... 22
Figura 9 : Contador de células CELM ® ....................................................... 24
Figura 10: Aglutinação macroscópica visível de hemácias............................ 28
Figura 11: Agregados de eritrócitos visualizados microscopicamente........... 29
Figura 12: Snap Test positivo para FIV e FeLV.............................................. 39
Figura 13: Cálculo renal imerso em solução fisiológica, para limpeza das
sujidades....................................................................................... 42
Figura 14: Cálculo já macerado para análise de sua composição................. 43
6

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Hemogramas realizados no Laboratório de Análises Clínicas


Veterinárias LacVet-UFRGS, distribuídos por espécie, durante o
período do estágio curricular ........................................................ 18
Tabela 2: Quantidade e descrição de exames bioquímicos realizados pelo
LacVet no período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013..... 30
Tabela 3: Quantidade e descrição de exames encaminhados para laboratório
externo no período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013.......... 31
Tabela 4: Quantificação e descriminação dos cinco exames mais solicitados
para cães e gatos, no período de 01 de agosto a 31 de outubro de
2013 .................................................................................................. 31
Tabela 5: Snap Tests realizados no Laboratório de Análises Clínicas
Veterinárias do HCV-UFRGS no período de 01 de agosto a 31 de
outubro de 2013 ................................................................................ 38
LISTA DE ABREVIATURAS

HCV Hospital Clínico Veterinário


UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
LacVet Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias
RDW Índice indicador de anisocitose
EDTA Ácido Etileno DiaminoTetracético.
FIV Vírus da Imunodeficiência Felina
FeLV Vírus da Leucemia Felina
TP Tempo de Tromboplastina
TTPA Tempo de tromboplastina parcial ativada
CHCM Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
VCM Volume Corpuscular Médio
ALT Alanina aminotransferase
FA Fosfatase Alcalina
EQU Exame Qualtativo da Urina
DEU Exame de Densidade Urinária
ELISA EnsaIo imunoenzimático ligado a enzimas
PBS Tampão Fosfato-Salino
rpm Toração por minuto
Ht Hematócrito
PPT Proteína Plasmática total
4DX Snap Test diagnóstico canino de Difilaria sp., Borrellia
sp., Anaplasma sp. e Ehrlichia sp.
FPL Lipase Plasmática Felina
CPL Lipase Plasmática Canina
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 09

1 LOCAL DE ESTÁGIO......................................................................................... 10

2 ROTINA LABORATORIAL................................................................................. 15

3 ATIVIDADES REALIZADAS E OU/ ACOMPANHADAS................................... 17


3.1 COLETA DE SANGUE..................................................................................... 17
3.2 HEMATOLOGIA............................................................................................... 18
3.3 PROVA CRUZADA........................................................................................... 26
3.4 BIOQUÍMICA.................................................................................................... 29
3.4.1 AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO HEPÁTICA......................................................... 31
3.4.2 AVALIAÇÃO D FUNÇÃO RENAL................................................................. 33
3.5 EXAME QUALITATIVO DE URINA.................................................................. 34
3.6 ANÁLISE DE LÍQUIDOS (EFUSÕES PLEURAIS E PERITONEAIS).............. 35
3.7 SNAP TEST..................................................................................................... 38
3.7.1 SNAP TEST FIV/FELV.................................................................................. 39
3.7.2 SNAP TEST 4DX.......................................................................................... 40
3.7.3 SNAP TEST CPL E FPL………………………………………………………... 41
3.8 CÁLCULO RENAL………………………………………………………………… 41

4 ANEMIA ARREGENERATIVA……………………………………………………… 44
4.1 ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA (ANEMIA DA DOENÇA INFLAMATÓRIA) 46
4.2 ANEMIA SECUNDÁRIA A DOENÇA RENAL.................................................. 47
4.3 ANEMIA SECUNDÁRIA A DISTÚRBIOS METABÓLICOS............................. 47
4.4 ANEMIA SECUNDÁRIA A DISTÚRBIOS DA MEDULA ÓSSEA..................... 47
4.5 ANEMIAS APLÁSICAS ADQUIRIDAS 48

5 RELATO DE CASO CLINICO............................................................................. 50


5.1 DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO................................................................... 51

CONCLUSÃO........................................................................................................ 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 57

ANEXOS................................................................................................................ 60
INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso relata as atividades realizadas no


Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), no Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias (LacVet) em Porto
Alegre, RS, durante o estágio curricular supervisionado, descrevendo a rotina
laboratorial e as técnicas empregadas neste.

O estágio foi realizado no período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013,


com supervisão local da Profª. Drª. Stella de Faria Valle e supervisão acadêmica da
Profª. Drª Mariangela da Costa Allgayer, totalizando um período de 478 horas.

O trabalho de conclusão aborda a descrição do local de estágio e das


atividades realizadas na rotina laboratorial, compreendendo um grande número de
amostras clínicas, classificando os exames mais solicitados neste período. Descreve
os exames complementares acompanhados solicitados na clínica veterinária, como
hemograma, exames bioquímicos, análises urinárias, análises de cálculo vesical,
análises de líquidos e Snap Tests, realizados nas dependências do LacVet com
embasamento em revisões bibliográficas referentes às técnicas utilizadas. Descorre
sobre o tema Anemia Arregenerativa, através de revisão bibliográfica relacionando a
importância dos exames complementares da Patologia Clínica no auxílio ao
diagnóstico para a clínica veterinária.
1 LOCAL DE ESTÁGIO

O Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias (LacVet) localiza-se nas


dependências do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul–UFRGS (Figura 1), na rua Bento Gonçalves n° 9090, no segundo
andar em Porto Alegre – RS, com horário de funcionamento de segundas às sextas-
feiras das 8h às 18h30.

Figura 1: Entrada do Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV/UFRGS).

O LacVet é dividido por setores, tendo: recepção, sala para depósitos de


materiais, salas dos professores e sala para estudos, além dos setores de
Hematologia, Análises Bioquímicas e sala para coleta de amostras.

Na recepção os proprietários efetuam o pagamento dos exames mediante


requisição preenchida pelo médico veterinário e logo após do cadastro e pagamento,
aguardam até que seus animais sejam encaminhados à sala de coleta.
11

As requisições são diferenciadas por espécie e identificadas com diferentes


cores, facilitando o preenchimento das mesmas e a interpretação pelos médicos
veterinários, levando em consideração as diferenciações em valores de referência
de cada espécie. Além de conter o número de cadastro do atendimento do paciente
no HCV, recebem outra numeração de cadastramento do LacVet.

A coleta de amostras é realizada pelos médicos veterinários residentes


responsáveis pelo local acompanhados pelos estagiários do laboratório na sala de
coleta (Figura 2a), composta por uma mesa para acomodação dos animais no

momento da coleta, bancada com os materiais a serem utilizados para a coleta de

sangue (Figura 2b), tais como tubos Vacutainer® contendo: EDTA, acelerador de
coágulo, citrato de sódio, heparina e fluoreto de sódio. Disponibilizado também gaze,
algodão, álcool, água oxigenada e uma maleta com este mesmo material, que é
utilizado para coleta de animais internados, realizada no setor dos tratamentos do
HCV.

a b
Figura 2: (a) Sala para coleta.
(b) Bancada com os materiais para coleta de sangue.

A coleta é realizada após tricotomia e higienização do local com gaze


umedecida com álcool etílico. É feito um garrote e a coleta é realizada através do
Vacutainer® obtendo acesso preferencialmente pela veia jugular.

Após a coleta, as amostras sanguíneas são encaminhadas ao Setor de


Hematologia (Figura 3), onde os frascos com acelerador de coágulo, fluoreto de
sódio ou citrato de sódio são centrifugados e os frascos contendo EDTA são
utilizados para a realização do hemograma. Esse é o setor mais amplo do
12

laboratório, contendo cinco microscópios, três centrífugas, contador hematológico

automático ABC Vet Animal Blood Connter® para obtenção de valores de eritrócitos,
hemoglobina, plaquetas e índice de anisocitose (RDW), entre outros equipamentos
destinados à realização de exames tanto da rotina hospitalar como de pesquisa,
realizadas pelos pós-graduandos do setor.

Figura 3: Setor de Hematologia do LacVet-UFRGS

Neste mesmo setor são realizadas as análises de cálculo renal e vesical a


partir do Conjunto Cálculo Renal-Bioclin®, que permite a identificação rápida de
carbonato, oxalato, amônio, fosfato, cálcio, magnésio, urato e cistina, além das
análises urinárias, onde a análise química é obtida através do leitor automático
Clinitek Bayer® (Figura 4).
13

Figura 4: Local da análise física e química urinária do LacVet-UFRGS.

Na sala ao lado ao Setor de Hematologia, há a sala de estudos, com


computadores disponíveis para pesquisa e realização de trabalhos, impressoras e
várias bibliografias disponíveis para consultas, além de uma cozinha e armários para
acomodação de artigos pessoais dos médicos veterinários residentes e estagiários
do local.

O LacVet também conta com uma sala de armazenamento de materiais como


vidraria, materiais de limpeza, água destilada e materiais em geral utilizados no
laboratório e uma sala dos professores.

Por fim, há o Setor de Análises Bioquímicas, que funciona de forma


automatizada, através do equipamento em uso CM 200 (Figura 5), um analisador
bioquímico que trabalha com um software integralmente desenvolvido para Windows
XP ®. Neste setor também são realizados os Snap Tests para diagnóstico felino de
imunodeficiência viral (FIV) e leucemia viral (FELV); canino para Dirofilaria sp.,
Borrellia sp., Anaplasma sp. e Ehrlichia sp., além da determinação de lipase
pancreática canina e felina.
14

Figura 5: Equipamento automatizado CM200 utilizado no


Setor de Análises Bioquímicas.
2 ROTINA LABORATORIAL

Durante o estágio curricular supervisionado realizado no Laboratório de


Análises Clínicas Veterinária (LacVet), foram realizadas atividades de
acompanhamento e/ou realização dos exames laboratoriais da rotina e coletas de
amostras referentes a maioria dos exames processados, totalizando 478 horas de
estágio, desempenhando funções de acordo com a demanda nos diferentes setores
do laboratório.

Após conhecer as dependências do laboratório, os médicos veterinários


residentes do LacVet realizaram uma breve explanação de como são realizados os
exames e mediante a chegada dos mesmos, foram acompanhados passo a passo o
processamento das amostras, desenvolvendo assim conhecimento e habilidade para
posteriormente poder contribuir de forma efetiva na rotina laboratorial, considerando
que durante todo o estágio as atividades executadas pelos estagiários eram
supervisionadas pelos médicos veterinários residentes e quando presente, pela Drª
Stella Faria Valle, professora responsável pelo local.

No período de estágio curricular foram realizados pelo LacVet 1.924


hemogramas, 1.211 coletas, 5.880 bioquímicos, 25 análises de líquidos, 81 Snap
Test, 182 análises urinárias; 3 análises de cálculo renal, 35 exames de citologia,
além de 50 exames encaminhados para serem realizados no Instituto Hermes
Pardini, Belo Horizonte – MG.

Os números obtidos são decorrentes da casuística oferecida pelo HCV-


UFRGS, o LacVet agrega auxílio diagnóstico disponibilizando resultados
laboratoriais confiáveis e reprodutíveis. Para melhor compreensão os mesmo dados
estão dispostos na Figura 6 e Figura 7.
16

Atividades realizadas

Figura 6: Quantificação das atividades realizadas no LacVet–


UFRGS no período do estágio curricular.

Bioquímicos solicitados
50

LacVet

Externos

5.880

Figura 7: Quantificação dos exames bioquímicos solicitados,


realizados pelo LacVet e exames encaminhados para
processamento externo.
17

3 ATIVIDADES REALIZADAS E/OU ACOMPANHADAS

3.1 Coleta de sangue

A coleta de sangue é realizada pelos médicos veterinários residentes do LacVet,


médicos veterinários pós-graduandos que participam da rotina laboratorial como
horas complementares de seus projetos e ou realizada pelos estagiários do
laboratório na sala própria para coleta, onde os pacientes são encaminhados após
cadastro e pagamento dos exames solicitados.

Quando o paciente encontra-se internado nas dependências do HCV-UFRGS, a


coleta ocorre no Setor de Tratamentos do hospital, ou em caso de animais com
suspeita de doenças infecto contagiosas, a coleta é realizada no ambulatório ou
isolamento.

Os cães normalmente não são amordaçados, apenas quando sinais de


agressividade são demonstrados ou alertados pelo proprietário e os felinos são
colocados em um “cat sack”, de forma que somente a cabeça e o pescoço fiquem
expostos, facilitando assim a coleta. A presença do proprietário no momento da
coleta é opcional, podendo ele auxiliar na contenção.

Em todos os animais é realizada uma tricotomia na região a ser coletada e uma


antissepsia do local com gaze umedecida com álcool etílico, é feito o garrote para
ingurgitamento e melhor visualização da veia a ser coleta, sendo a jugular a veia de
eleição, ou ainda em alguns casos na veia cefálica ou femoral.

A coleta é realizada através do Vacutainer®, primeiramente coletando amostras


em tubos de citrato de sódio, quando solicitado exames de tempo de coagulação
como TP e TTPA ou tubos com acelerador de coágulos, quando solicitado exames
bioquímicos realizados a partir do soro e após estes, é coletado em tubo com EDTA,
sendo este homogeneizado imediatamente, evitando amostras com coágulos e ou
fibrina, invalidando a amostra.
18

Após o término da coleta, a região da venipunção é higienizada com água


oxigenada e quando necessário, é passada uma pomada Reparil® Gel (Escina,
salicilato de dietilamônio), para minimizar edemas. O paciente é levado até a
recepção ou corredor, onde os proprietários aguardam e as amostras são
etiquetadas com o número de cadastro do LacVet e encaminhadas ao Setor de
Hematologia.

3.2 Hematologia

Durante o estágio curricular realizado no LacVet, no Setor de Hematologia,


foram acompanhados 1.924 hemogramas, discriminados na Tabela 1. O hemograma
é um dos exames complementares mais solicitados na rotina clínica em decorrência
do baixo custo, praticidade e confiabilidade, servindo assim para avaliação da saúde
do paciente, no diagnóstico, terapêutica ou avaliar o progresso de certas doenças.

Tabela 1: Hemogramas realizados no Laboratório de


Análises Clínicas Veterinárias LacVet -
UFRGS, distribuídos por espécie, durante
o período de estágio curricular
Espécies Hemograma
Caninos 1.564
Felinos 313
Equinos 38
Ovinos 5
Silvestres 6
TOTAL 1.924

O hemograma é realizado com o sague periférico colhido com anticoagulante


EDTA e é dividido em duas partes: o Eritrograma e o Leucograma.

As amostras recebidas no Setor de Hematologia do LacVet são verificadas


quanto à presença de fibrina e ou coágulos, que quando presentes, tornam a
amostra inválida para o processamento, caso a amostra esteja adequada, uma
alíquota desta é transferida para outro tubo no qual é centrifugado na rotação de
19

2.500rpm por 5 minutos para obtenção do plasma e a outra parte é destinada a


confecção de esfregaço sanguíneo, obtenção do hematócrito, proteína plasmática
total (PPT) e por último, analisada pelo contador automático que após impresso os
valores de eritrócitos, hemoglobina, plaquetas e RDW, são calculados Volume
Corpuscular Médio (VCM) e Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
(CHCM).

A realização do esfregaço sanguíneo de forma correta é fundamental para


uma boa avalição das células no diferencial leucocitário, desta forma a padronização
deste é uma das exigências do LacVet. O esfregaço sanguíneo corado é
fundamental para as contagens dos tipos de leucócitos individuais (ou seja,
contagem diferencial) e para avaliar importantes alterações patológicas que
envolvem leucócitos, hemácias e plaquetas (LASSEN e WEISER, 2006).

Para a confecção do esfregaço sanguíneo, homogeniza-se a amostra


contendo EDTA e separa-se uma pequena quantia desta com um tubo de micro
hematócrito para com este, depositar uma gota desta amostra sanguínea próxima a
uma das extremidades da lâmina. Colocar outra lâmina sobre a primeira, em uma
angulação aproximada de 30°; deslizar pra trás, até tocar a gota de sangue no
ângulo agudo formado entre elas. Após o sangue ter se espalhado por cerca de 2 a
3 mm até a borda da lâmina, empurrar a segunda lâmina, rápida e suavemente, por
toda a extensão da primeira. Um esfregaço adequado tem a forma de chama
(REBAR et al., 2003).

Após a preparação, as lâminas são colocadas num suporte adequado, frente


a um ventilador e secas em poucos segundos, para melhor conservação das células
e logo após são coradas com corante do tipo Romanowsky, sendo este o Panótico,
proporcionando uma rápida coloração. Os corantes rápidos geralmente requerem
que o esfregaço primeiramente seja mergulhado, de maneira lenta, em um álcool
fixador, depois em uma mistura de tintura de azul de metileno e finalmente em uma
solução que contenha eosina (WALKER, 2009). No LacVet, a coloração é realizada
desta maneira, porém após passar pelo fixador, a lâmina é mergulhada em tintura
com eosina e após esta, em tintura azul de metileno.
20

Após a coloração, a lâmina é enxaguada com água da torneira para retirada


do excesso do último corante e disposta novamente no suporte para que quando
seca, possa ser avaliada por um dos médicos veterinários residentes do laboratório
para a realização do diferencial leucocitário.

Após confecção do esfregaço sanguíneo, é realizado o hematócrito, porém


antes os frascos contendo sangue, são homogeneizados, manualmente, agitando o
tudo delicadamente ou através do homogeneizador automático, pois pode haver
sedimentação das células sanguíneas, alterando valores e podendo gerar resultados
não confiáveis. O valor do hematócrito correspondente à porcentagem de hemácias
presentes no sangue. É calculado a partir de uma coluna de sangue; sua
centrifugação promove a compactação máxima das hemácias (LASSEN e WEISER,
2006).

A realização desta etapa ocorre da seguinte maneira: a partir da amostra que


foi obtida de um tubo de coleta contendo EDTA e sua homogeneização, o capilar é
preenchido (tubo para micro hematócrito), onde segundo Lassen e Weiser (2006) é
necessário preencher 70 a 90% do comprimento do tudo, uma extremidade é selada
com uma massa selante ou chama de lamparina. O tubo preenchido é, então,
colocado em uma das ranhuras radiais de uma centrífuga de micro hematócrito com
a extremidade selada posicionada para fora do centro da centrífuga. A tampa da
centrifuga deve ser posicionada e a centrífuga fechada e trancada. O tubo deve ser
centrifugado por 5 min a 10.000 até 13.000G (SINK e FELDMAN, 2006a).

Após sua remoção da centrífuga, é possível notar três camadas distintas no


tubo: a coluna de plasma no topo, as hemácias compactadas na base e uma fina
camada esbranquiçada de leucócitos sobre as hemácias compactadas, conhecida
como creme leucocitário. O creme leucocitário consiste em células nucleadas
(predominantemente leucócitos) e plaquetas e pode ser avermelhado quando a
quantidade de hemácias nucleadas for muito alta. É necessário registrar qualquer
anormalidade na parte que corresponde ao plasma, situada acima das hemácias
compactadas (LASSEN e WEISER, 2006).
21

O plasma normal é límpido e incolor (caninos e felinos) ou ligeiramente


amarelado nos equinos e bovinos, devido ao caroteno e à xantofila, substâncias
presentes na alimentação dos herbívoros. Plasma ictérico é amarelo e límpido;
plasma hemoglobinêmico é límpido; variando de rosa a vermelho; plasma lipêmico é
esbranquiçado e turvo (GONZÁLEZ, 2008).

O hematócrito é determinado em um cartão de leitura para micro hematócrito.


Posiciona-se a extremidade inferior da camada de hemácias na linha zero e a
extremidade superior da coluna de plasma na linha 100, em seguida, verifica-se a
posição do topo da coluna de hemácias, obtendo-se o valor do hematócrito
(LASSEN e WEISER, 2006).

Geralmente hematócrito abaixo do normal indica anemia, mas ocorre também


em estágios avançados de gestação, após tranquilização e anestesia, podendo
também ser devido hemólise por erro de coleta do material. O hematócrito acima do
normal geralmente indica desidratação, mas ocorre também em casos de
medo/excitação, choque, atividade intensa, hipertireoidismo em felinos, altitudes e
devido a uma policitemia absoluta (ALLGAYER, 2007).

Com o mesmo capilar utilizado para obtenção do hematócrito, pode-se


mensurar valores de concentração de proteínas plasmáticas totais e concentração
de fibrinogênio plasmático, através da precipitação pelo calor e refratometria. Estes
valores assim como o valor do hematócrito, são registrados em uma tabela
impressa, para posteriormente serem anotadas nos respectivos laudos.

Várias proteínas estão presentes no plasma: hormônios, enzimas, anticorpos,


proteínas de transporte e fatores de coagulação são apenas algumas. Essas
proteínas possuem diversas configurações químicas e funções, incluindo a
manutenção do equilíbrio ácido-base e a pressão coloidosmótica.

O refratômetro (Figura 8) é comumente usado para medir as proteínas


plasmáticas (SINK e FELDMAN, 2006). Esse instrumento pode ser empregado para
estimar a concentração de qualquer soluto de um fluido, com base no princípio de
22

que o soluto desvia a luz que passa pelo fluido em grau proporcional à concentração
dele (LASSEN e WEISER, 2006).

Figura 8: Refratômetro, utilizado para mensuração da Proteína


Plasmática Total e Densidade Urinária.

Para a mensuração da proteína plasmática utiliza-se a coluna de plasma do


tubo do micro hematócrito. Quebra-se o tubo logo acima da porção do creme
leucocitário e o plasma dessa parte é usado para carregar o refratômetro de modo
que uma fonte de luz ambiente possa transpor o prisma umedecido com plasma,
possibilitando a leitura da refração da luz em escala visível (LASSEN e WEISER,
2006).

O baixo valor da proteína plasmática total pode ser reflexo de uma das
seguintes anormalidades: nefropatia com perda proteica (caracterizada por
proteinúria), enteropatia com perda proteica (usualmente associada com perda
crônica de peso e diarreia), perda de linfa (avaliar a presença de efusão pericárdica
ou pleural), perda crônica ou grave de sangue (avaliar hematócrito), diminuição da
produção hepática da proteína. Valores elevados de proteína plasmática total
refletem a hemoconcentração ou o aumento da produção de globulinas. A
hemoconcentração pode causar elevações nos parâmetros da série vermelha,
aumento da densidade urinária e da concentração sérica de eletrólitos. O aumento
23

da produção de globulinas é mais comumente associado a processos inflamatórios.


Nessas situações, um leucograma inflamatório geralmente estará presente (REBAR
et al., 2003).

A determinação do fibrinogênio ocorre por precipitação pelo calor e, assim


como plasma, sua mensuração é realizada por refratometria. Após o capilar ser
centrifugado e a obtenção dos valores do hematócrito e proteína plasmática total,
um segundo capilar é preenchido e centrifugado da mesma forma e após
centrifugação é aquecido em banho-maria na temperatura de 56 a 58C° por 3
minutos para que ocorra a precipitação do fibrinogênio no plasma e novamente
ocorre a centrifugação, sendo este plasma sem fibrinogênio mensurado no
refratômetro. O fibrinogênio plasmático é calculado pela subtração do índice de
refração do plasma incubado do índice de refração do plasma não incubado (isto é,
valor da proteína total). Este método é útil para identificação de concentrações de
fibrinogênio elevado, mas não é preciso na identificação de baixa concentração de
fibrinogênio (REBAR et al., 2003).

Para determinação dos valores de hemoglobina, eritrócitos, leucócitos e


plaquetas utiliza-se o contador hematológico automático ABC Vet Animal Blood
Connter®, na falta deste, os valores são obtidos por métodos semiautomático e
manual. No caso das amostras de caninos, são processadas pelo contador
hematológico CELM® (Figura 9) e para felinos e equinos, os valores de eritrócitos e
leucócitos são obtidos através do método manual do Hemocitômetro, utilizando
câmara de Neubauer. A metodologia manual do Hemocitômetro para contagem de
leucócitos e eritrócitos possui um erro inerente de 20%, gerando resultados de baixa
acurácia (REBAR et al., 2003). Desta forma, é sempre preferível que a contagem
ocorra de forma automática, em equipamentos devidamente calibrados para as
diferentes espécies avaliadas.
24

Figura 9: Contador de células CELM®.

As plaquetas são determinadas através de uma estimativa pela leitura na


lâmina de esfregaço sanguíneo, onde 10 campos são visualizados em objetiva de
100X com auxilio do óleo de imersão, enumerados e, em seguida, calcula-se o valor
médio por campo, multiplicando por 20.000. Os valores são expressos em µL.

Além de amostras dos animais domésticos, o LacVet também recebe


amostras de animais de estimação não convencionais e silvestres. A amostra dos
mamíferos é processada totalmente de forma manual, com mensuração de
hemoglobina em espectrofotômetro semiautomático, diluição do sangue para
contagem de eritrócitos (com solução fisiológica) e leucócitos (com líquido de Turk) e
posterior contagem em câmara de Neubauer.

A diluição do sangue para contagem de eritrócitos e leucócitos de espécies de


répteis e aves é feita com solução de Natt & Herrick e contada em câmara de
Neubauer e a hemoglobina também é mensurada por espectrofotometria. As
lâminas de répteis e aves são coradas com o corante de Wrigth para posterior
realização do diferencial leucocitário, levando em conta as particularidades e valores
de referência para a mesma.
25

Após obtenção dos valores de eritrócito, hemoglobina e hematócrito, são


calculados os valores de Volume Corpuscular Médio (VCM) e a Concentração de
Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM). O VCM é uma mensuração do tamanho
dos eritrócitos e é obtido por simples cálculo aritmético a partir do hematócrito e da
contagem de eritrócitos da amostra. Valores normais de VCM são denominados
normocíticos, valores aumentados macrocíticos e menores microcíticos
(ALLGAYER, 2007).

O valor do VCM é obtido através da seguinte fórmula:

VCM (fL): Hematócrito (%) x 10


_________________________________________________________

Nº de eritrócitos x 10

O CHCM é uma mensuração da concentração da hemoglobina nos eritrócitos


e é obtido aritmeticamente a partir do hematócrito e da concentração total de
hemoglobina da amostra. Os valores normais são denominados como normocrômico
e, se menor que o normal, hipocrômico. Uma diminuição da CHCM ocorre tanto em
quadros anêmicos regenerativos, já que a célula mais nova tem menos
hemoglobina, como nas anemias ocasionadas por má síntese de hemoglobina. O
CHCM maior que o normal, hipercrômico é fisiologicamente impossível, um valor
elevado neste parâmetro será um artefato ou hemólise in vivo ou in vitro
(ALLGAYER, 2007).

O valor do VCM é obtido através da seguinte fórmula:

CHCM (%): Concentração de hemoglobina x 100


_________________________________________________________________________________________________

Hematócrito (%)

Para auxiliar nas interpretações das anemias e determinar o real grau de


eritropoeise da medula óssea, recomenda-se a determinação contagem de
reticulócitos. Este exame deve ser solicitado separadamente, já que é um exame
complementar. Um reticulócito é um eritrócito imaturo que contém organelas
(ribossomos) que são perdidos à medida que a célula amadurece. Essas organelas
respondem pela coloração policromatofílica ou cinza-azulada difusa das células
26

imaturas com o corante de Wright. Quando essas células imaturas são coradas com
o novo azul de metileno ou azul cresil brilhante, as organelas são visualizadas como
grânulos sendo referidos como retículo. Esses retículos podem ser visualizados
como agregados ou cadeias de grânulos azuis (THRALL, 2005).

O leucograma é a parte do hemograma que pesquisa alterações quantitativas


e/ou morfológicas das séries leucocitárias. Ele é composto da contagem global de
leucócitos e suas contagens diferenciais, consideradas em seu número relativo e
absoluto. Além disso, devem ser registradas as observações sobre as alterações
morfológicas encontradas no esfregaço sanguíneo; defeitos funcionais somente
serão notados quando acompanhados de morfologia alterada (GONZÁLEZ, 2008).

A contagem total de leucócitos representa a quantidade de células nucleadas


presentes na solução da qual as hemácias foram removidas por lise ou
centrifugação (LASSEN e WEISER, 2006). A contagem de leucócitos, como já dita
anteriormente, é realizada através do contador automático, ou eventualmente, de
forma manual, através do método do Hemocitômetro.

A partir da obtenção do número total de leucócitos é realizado o diferencial


leucocitário em esfregaço sanguíneo, previamente corado, onde são contadas 100
células em campo de contagem homogêneo, classificando cada uma delas de
acordo com sua morfologia. O esfregaço sanguíneo deve ser inspecionado em
pequeno aumento (10x) para observar números de células e esquadrinhar a borda
franjada da distensão sanguínea quanto a agregados de plaquetas, células anormais
e microfilárias. Depois, o observador deve selecionar uma porção do filme próximo
da extremidade final, referida como área de contagem e mudar para a objetiva de
imersão em óleo (100x) para concluir a avaliação (TRHALL, 2005).

Os valores referentes a todos os exames solicitados no LacVet juntamente


com a descrição das alterações morfológicas, quando presentes, são anotados no
laudo e este é destinado à sala de estudos, para que seja digitado e impresso, onde
posteriormente, após conferência e assinatura do médico veterinário residente, é
liberado para o clínico solicitante dos exames.
27

3.3 Prova Cruzada

Outro exame realizado nas dependências do LacVet é o teste da prova


cruzada, realizado para verificar se há ou não reação aglutinante frente as hemácias
e o plasma de doador e receptor. Esse exame não consta nas citações anteriores,
pois ainda não foi inserido no sistema automatizado de dados do LacVet,
impossibilitando assim mensurar número dos exames realizados no período do
estágio curricular.

Com frequência, a reação cruzada é expressa como “maior” ou “menor”. Uma


reação cruzada maior consiste na adição de soro do paciente às células do doador,
seguindo um protocolo específico para determinar anticorpos de aglutinação e/ou
hemólise no paciente contra os antígenos do doador. A presença de anticorpos
resulta em reação in vitro positiva. A reação cruzada menor consiste na adição de
soro do doador às hemácias do paciente (BROWN e VAP, 2006).

O LacVet recebe amostras sanguíneas com EDTA do receptor e doador,


realizando primeiramente a mensuração do hematócrito e posteriormente, uma
alíquota (2 mL) do sangue são separadas em outro frasco com a identificação de
doador e receptor e este é centrifugado por 5 minutos em rotação de 2.500 rpm para
obtenção do plasma e precipitado eritróide. Após a centrifugação, o plasma é
separado e o precipitado sanguíneo é lavado com solução fosfatada tamponada
(PBS) e volta a ser centrifugado, por 3 minutos na rotação de 3.300 rpm. Este
procedimento é repetido três vezes e após, obtém-se o plasma e o concentrado
eritróide, que deste é realizado uma suspenção de eritrócitos, para realização da
prova maior e menor, sempre realizada em duplicata.

Utiliza-se oito frascos, onde em duplicata, serão identificados como prova


maior a adição de eritrócitos (solução eritróide) do doador com o plasma do receptor,
a prova menor, a adição dos eritrócitos do receptor com o plasma do doador e os
controles, sendo estes a homogeneização dos eritrócitos do doador com o seu
próprio plasma e da mesma forma com o plasma e eritrócitos do receptor. Após
homogeneização os frascos são levados ao banho-maria na temperatura de 37°C e
28

por 20 minutos e em seguida são centrifugados por 1 minutos na rotação de 3.300


rpm.

Examina-se o sobrenadante, observando se ocorreu hemólise e agitam-se


levemente os frascos para verificação de aglutinação macroscópica visível de
hemácias (Figura 10).

Figura 10: Aglutinação macroscópica visível de hemácias.

Caso não haja aglutinação, deve-se transferir uma pequena amostra para
uma lâmina de vidro e, em seguida, examiná-la ao microscópio em pequeno
aumento, reduzindo o condensador para aumentar o contraste. Não havendo
aglutinação, os eritrócitos estarão distribuídos de maneira uniforme. Se houver
aglutinação se assemelha aos agregados de eritrócitos (Figura 11), na forma de
uvas (BROWN e VAP, 2006).
29

Figura 11: Agregados de eritrócitos visualizados microscopicamente.

A reação cruzada maior é considerada “incompatível” quando o soro do


paciente reagir com os eritrócitos do doador e, nesse caso o sangue do doador não
deve ser transfundido. A reação cruzada menor é considerada “incompatível”
quando o soro do doador reagir com os eritrócitos de receptor. Neste caso, deve ser
expressa como “reação cruzada menor incompatível”; neste caso, apenas os
concentrados de eritrócitos podem ser seguramente transfundidos (BROWN e VAP,
2006).

3.4 Bioquímica

As amostras coletadas em frasco com acelerador de coágulo eram


centrifugadas 30 minutos após a coleta em rotação de 2.500 rpm durante 10 minutos
para obtenção do soro no Setor de Hematologia onde encontram-se as centrífugas,
e logo após a separação do soro, este era identificado e encaminhado ao Setor de
Bioquímica para o seu processamento.

O Setor de Bioquímica do LacVet possui equipamento automatizado


CM200®, e eventualmente alguns exames, como mensuração de hemoglobina são
30

realizados em equipamentos semiautomáticos TP Analyzer Basic®. A automação


propicia que um elevado número de amostras seja processado pelo laboratório.

Durante o estágio curricular realizado no LacVet, no Setor de Bioquímica,


foram realizadas 5.880 exames (Tabela 2). Neste mesmo período foram
encaminhadas 50 amostras ao Instituto Hermes Pardini (Tabela 3), em Belo
Horizonte – MG.

Os exames mais solicitados pelos médicos veterinários, para espécie canina


e felina foram para avaliação da função hepática e renal, sendo eles, Alanina
Aminotrasnferase (ALT), Albumina (ALB), Fosfatase Alcalina (FA), Creatinina
(CREAT) e Ureia (Tabela 4).

Tabela 2: Quantidade e descrição de exames bioquímicos realizados pelo LacVet no


período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013.
Exames Processamento LacVet
Alanina Aminotransferase 1.596
Creatinina 1.702
Fosfatase Alcalina 618
Ureia 609
Albumina 777
Fósforo 30
Triglicerídeos 105
Creatina Fosfoquinase 11
Frutosamina 116
Proteína Total 89
Tempo de Protrombina 140
Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada 140
Globulinas 20
Amilase 4
Lipase 2
Aspartato Aminotransferase 30
Cálcio Total 31
TOTAL 5.880
31

Tabela 3: Quantidade e descrição de exames encaminhados para laboratório


externo no período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013.
Exames Processamento externo
Avaliação para Giardia sp. 2
Leptospirose 3
Gama Glutamil Transferase 10
Bilirrubinas 3
Cálcio Ionizado 2
Potássio 8
T4 Livre por Diálise 4
Fator Reumatóide 1
Tirotrofina 2
Fenobarbital 8
T4 Total por Rádio Imuno Ensaio 6
Brometo de Potássio 1
TOTAL 50

Tabela 4: Quantificação e descriminação dos cinco exames mais solicitados para


cães e gatos, no período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013.
Exame Bioquímico Canino Felino Total
CREAT 1.396 289 1.685
ALT 1.279 314 1.593
ALB 551 208 759
FA 521 84 605
UREIA 512 84 596

3.4.1 Avaliação da função hepática

O fígado representa um local importante para o metabolismo proteico. Os


aminoácidos e proteínas absorvidos pelo intestino ou produzidos pelo organismo são
direcionados para o fígado. Esse órgão desamina os aminoácidos, podendo
32

convertê-los em carboidratos e lipídios, dependendo das necessidades nutricionais


(WASHABAU, 2010).

É importante perceber que o fígado é frequentemente afetado


secundariamente por processos de doença primária que ocorrem em outros tecidos,
tais como a doença inflamatória do intestino e pancreatite. A insuficiência hepática
pode resultar de doenças do fígado, e é reconhecido tanto pelo fracasso para
detoxificar o sangue dessas substâncias, normalmente eliminada pelo fígado, e por
insuficiência de sintetizar aquelas substâncias normalmente produzidas pelo fígado.
Doença hepática, no entanto, nem sempre resulta em insuficiência hepática. O
fígado tem uma grande capacidade de reserva e deve perder 70-80 % da massa
funcional hepática antes que a insuficiência hepática ocorra (ALLISON, 2012).

A ALT é encontrada em grande concentração no fígado e, em menor grau, no


rim, e nos músculos, tendo localização citoplasmática. A ALT é um bom indicador de
hepatopatias agudas em cães, gatos, coelhos, ratos e primatas, principalmente em
doença hepatocelulares, necrose hepática, obstrução biliar, intoxicações e infecções
parasitárias (GONZÁLEZ e SILVA, 2006). Aumentos de sua atividade sérica em
geral indicam dano dos hepatócitos com liberação da enzima para circulação. Entre
os testes mais comuns, é considerado o melhor para detecção de lesão hepática
aguda (BUSH, 2004). Esta enzima tem um pico de liberação no sangue cerca de 3
ou 4 dias após lesão, mas retorna aos valores basais cerca de 2 semanas após. A
persistência de valores elevados por um período maior pode indicar o
estabelecimento de uma patologia crônica como neoplasia ou hepatite (GONZÁLEZ
e SILVA, 2006).

A FA é uma enzima de indução sintetizada no fígado, nos osteoblastos, nos


epitélios intestinais, renal e na placenta. É possível notar aumento marcante da
atividade sérica de FA nos casos de colestase em cães; em outras espécies
verificam-se aumentos variáveis (LASSEN, 2006). É uma enzima excretada na bile.
A atividade dessa enzima aumenta em caso de colestase, mas também sob o efeito
de certos medicamentos, como corticosteroides ou anticonvulsivantes. A FA também
está presente em inúmeros tecidos, principalmente nos ossos (BIOURGE, 2010). Em
animais jovens, a maior parte da FA vem de osteoblastos e condroblastos, por causa
33

do desenvolvimento ósseo ativo. Quando o desenvolvimento ósseo se estabiliza, a


maioria da FA vem do fígado, principalmente em animais idosos (COLVILLE, 2005).

A albumina é a principal proteína encontrada no soro e constitui 35% a 50%


da proteína sérica total (ECKERSALL, 2008). É sintetizada no fígado e contribui em
80% da osmolaridade do plasma sanguíneo, constituindo também uma importante
reserva proteica, bem como um transportador, de ácidos graxos livres, aminoácidos,
metais, cálcio, hormônios e bilirrubina. A albumina também tem função importante
na regulação de pH sanguíneo, atuando como ânion (GONZÁLES e SILVA, 2006).

3.4.2 Avaliação da função renal

A ureia, sintetizada no fígado a partir de CO2 e amônia, é o principal produto


do metabolismo proteico, circula no sangue e é filtrada nos rins, sendo a maior parte
excretada na urina. Os valores da ureia geralmente encontram-se aumentados em
casos de insuficiência renal aguda ou crônica, desidratação acentuada, catabolismo
proteico aumentado ou perda muscular (MACIEL, 2003 apud VIEIRA et al., 2011,
p.133).

Os níveis de ureia são usados para avaliar a função renal com base na
capacidade dos rins de remover resíduo nitrogenado (ureia) a partir do sangue. Esse
teste de função renal não é muito sensível; em torno 75% do tecido renal devem
estar não funcionais antes de serem detectados valores elevados. Em animais
saudáveis, a ureia é passivamente filtrada do plasma pelos glomérulos renais. Uma
parte da ureia retorna ao sangue através dos túbulos renais, porém a maior parte é
excretada pela urina. Se o rim não estiver funcionando apropriadamente, não se
remove ureia suficiente a partir do plasma, acarretando aumento dos níveis de ureia
sanguínea (COLVILLE, 2005).

A creatinina plasmática deriva quase somente do catabolismo da creatina


encontrada nos tecidos musculares. A creatina é utilizada para estocar energia no
músculo (como fosfocreatina) e a sua quebra em creatinina ocorre em uma taxa
constante (BUSH, 2004). A excreção da creatinina só se realiza por via renal, uma
vez que ela não é reabsorvida nem reaproveitada pelo organismo. Por isso os níveis
34

de creatinina plasmática refletem a taxa de filtração renal, de forma que níveis altos
de creatinina indicam uma deficiência na funcionalidade renal (GONZÁLES e SILVA,
2006). Os valores de creatinina também encontram-se aumentados em casos de
desidratação acentuada.

3.5 Exame Qualitativo de Urina

Durante o estágio curricular no Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias


do HCV-UFRGS foram realizados 182 exames qualitativos de urina (EQU), sendo a
espécie canina com maior número de exames, tendo 129 amostras processadas.

O EQU é um exame muito importante na medicina veterinária, capaz de


detectar alterações, tanto no trato urinário como nos demais sistemas. Este exame é
dividido em três partes: exame físico, químico e análise do sedimento.

As amostras de urina são processadas imediatamente após o recebimento no


laboratório, onde na recepção recebem o número de cadastramento e são
encaminhas ao Setor de Hematologia, onde são processadas. No caso da análise
laboratorial demorar mais de 30 min do momento da coleta, a amostra de urina pode
ser refrigerada em 2 a 8ºC por até 4 horas (SINK e FELDMAN, 2006).

O LacVet adotou como conduta, a quantidade 10 mL como volume mínimo


para análise. A alíquota de 10 mL é transferida para um tubo cônico graduado para
dar inicio ao processamento, passando pelo exame físico, onde são observados:
cor, volume da amostra, turbidez e densidade urinária.

Normalmente a cor da urina é amarela, determinada pela presença dos


urocromos, na realidade os pigmentos biliares, que são urobilinogênio e sua forma
oxidada urobilina e, ocasionalmente, a bilirrubina conjugada. A intensidade da cor é
diretamente proporcional à concentração desses pigmentos, indo do amarelo citrino
(mais claro) ao âmbar (mais escuro) (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

A análise química é feita através do uso de uma tira reagente para urinálise
Siemens®, onde mergulhamos a fita no tubo cônico contendo a urina e em seguida
é colocada no leitor automático Clinitek Bayer® (Figura 4), obtendo-se dados da
35

quantidade e presença ou não de substâncias na amostra, como glicose, bilirrubina,


cetona, sangue oculto, pH, proteínas e urubilinogênio. O leitor automatizado da tira
reagente pode constituir um método mais consistente de leitura de uma tira
reagente, pois a diferenciação da graduação de cor de cada teste pode ser difícil
visualmente (SINK e FELDMAN, 2006).

Logo, os 10 mL são centrifugados por 10 minutos em velocidade de 1.500


rpm, onde do sobrenadante são obtidos valores de densidade específica da urina
(DEU) através de refratometria. A DEU mede o grau de solutos existentes na
amostra e, indiretamente, a capacidade renal de concentração da urina. A DEU
acha-se elevada nas urinas concentradas ou hipertônicas, quando geralmente há
oligúria, e diminuída nas urinas diluídas ou hipotônicas, que frequentemente
acompanham a poliúria. O seu aumento indica uma diminuição da filtração
glomerular, e/ou um aumento de reabsorção da água, fatos estes que levam á
oligúria (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

Depois de retirados 9 mL de sobrenadante, homogeneíza-se o restante do


sedimento para confecção da lâmina, onde colocamos uma gota do sedimento sobre
a lâmina de vidro, cobrindo-a com uma lamínula e sendo analisada rapidamente.
Sendo este, a análise do sedimento, que ocorre com a visualização microscópica
dos elementos presentes na urina. Com a exceção da urina equina, a urina normal
dos animais domésticos não contém grande quantidade de sedimento. Pode-se
encontrar um número pequeno de células epiteliais, filamentos mucosos, eritrócitos,
leucócitos, cilindros hialinos e cristais de vários tipos na urina de animais normais
(ZINKL, 2005).

3.6 Análises de líquidos (efusões pleurais e peritoneais)

Durante o estágio curricular no Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias


do HCV-UFRGS foram realizadas 25 análises de líquidos, entre elas, efusões
pleurais e peritoneais.

As amostras eram recebidas em frascos com e sem EDTA e estas após


cadastramento e identificação, eram encaminhadas ao Setor de Hematologia onde
eram processadas, passando pelo exame físico, químico, citológico e Teste de
Rivalta.
36

No exame físico, realizado com a amostra no tubo sem anticoagulante, é


verificado volume, cor, aspecto e densidade, sendo esta verificada no refratômetro
após centrifugação. A turbidez pode significar uma infecção devido ao aumento de
células em suspensão, no entanto o aspecto opalescente mesmo após a
centrifugação sugere um derrame quiloso. O aspecto hemorrágico pode sinalizar
uma neoplasia, traumas ou mesmo acidente de punção (FONSECA, 2011).

O exame químico é também realizado com a amostra sem anticoagulante,


utilizando o sobrenadante quando muito turva. O exame é realizado em tiras
reagente e passadas no leitor automático Clinitek Bayer®, obtendo-se dados da
quantidade e presença ou não de substâncias na amostra, como glicose, pH,
sangue oculto e proteínas.

O Teste de Rivalta é um método simples e barato, utilizado na Medicina


Veterinária em líquidos peritoneais como um teste sugestivo para PIF (peritonite
infecciosa felina) quando positivo. O procedimento consiste em encher um tubo com
5 mL de água destilada, adicionar uma gota de ácido acético a 98% e
homogeneizar. Em seguida deitar uma gota do líquido de derrame na superfície da
solução. Se a gota desaparecer e solução permanecer limpa o teste é considerado
negativo, mas se pelo contrário mantiver a sua forma, aderir à superfície ou começar
a afundar lentamente, o teste é considerado positivo (HARTMANN et al., 2003 apud
MOTA, 2010, p.30). No LacVet a diluição para o teste consiste em 7 mL de água
destilada, 4 gotas de ácido acético e 1 gota do líquido coletado com EDTA.

A reação positiva é induzida pelo grande conteúdo proteico do derrame e


pelas elevadas concentrações de fibrinogênio e mediadores de inflamação
presentes no derrame (HARTMANN et al., 2003 apud MOTA, 2010, p.30).

A quantificação de proteína é normalmente realizada por refratometria,


entretanto, algumas instituições determinam proteína pelo espectrofotômetro ou pela
análise automatizada. Ambos os métodos oferecem uma leitura acurada em uma
vasta gama de concentração de proteínas (GEORGE, 2001 apud REBAR e
THOMPSON, 2009, p.172).
37

As efusões são normalmente classificadas como transudatos, transudatos


modificados e exsudatos, relacionadas com a concentração proteica, contagem de
células nucleadas e tipos de células presentes (REBAR e THOMPSON, 2009).

Os transudatos são líquidos límpidos, incolor, com concentrações baixas de


células e proteínas. Ocorrem como um resultado de hipoalbuminemia severa. Eles
podem ser observados nos casos com nefropatias e enteropatias com perda
proteica ou grave insuficiência hepática. Os transudatos modificados contêm mais
proteína e células que os transudatos puros. Eles geralmente ocorrem devido a um
aumento de pressão hidrostática ou aumento da permeabilidade vascular nos
estágios iniciais de um processo inflamatório. O transudato modificado
classicamente é um pouco a moderadamente celular, fluido com moderada a alta
proteína. Exsudatos tem alto teor de proteína e de moderada a alta concentrações
celular e são classificados como asséptico ou séptico (TASKER e GUNN-MOORE,
2013).

O exame citológico é realizado a partir da confecção de esfregaço da amostra


com anticoagulante, quando o líquido apresenta-se muito turvo, pode ser diluído em
solução salina. Os procedimentos básicos para realizar uma diferenciação de células
nucleadas variam entre os laboratórios. Alguns laboratórios não diferenciam, outros
diferenciam em três partes de 100 células (células mononucleadas grandes, células
mononucleadas pequenas e neutrófilos), enquanto outros irão fornecer uma
diferenciação de 100 células de todos os tipos observados. A diferenciação promove
uma imagem dos tipos e números celulares e ajuda na instituição de uma lista de
causas potenciais de acúmulo de líquido (REBAR e THOMPSON, 2009).

No LacVet ocorre a contagem de eritrócitos na área de contagem para


eritrócitos e as células nucleadas na área de contagem dos leucócitos, contando os
dois lados da câmara de Neubaeur fazendo uma média e aplica-se a fórmula para
correção de contagem das células onde para:

 Eritrócitos = 10 x 5 x diluição x contagem na Câmara Neubauer


 Células nucleadas = 10 x diluição x contagem ÷ 4
38

Após é realizada a centrifugação do frasco com EDTA e a realização de um


esfregaço do sedimento através da técnica de “Squash”. Posteriormente, é corado
com panótico (Romanowski) e passa por análise citológica.

Diversos tipos de células podem ser encontrados em efusões de cavidade


corporal e suas proporções relativas variam dependendo da causa do acúmulo de
fluido. É esperada a presença de células em um fluido normal incluindo fagócitos
mesoteliais mononucleares, linfócitos e raros neutrófilos (REBAR e THOMPSON,
2009).

3.7 Snap Test

Durante o estágio curricular realizado no LacVet, no Setor de Bioquímica,


foram realizados 81 Snap Tests para diagnóstico felino de imunodeficiência viral
(FIV) e leucemia viral (FELV) e canino de Dirofilaria sp., Borrellia sp., Anaplasma sp.
e Ehrlichia sp. (4DX), além do Snap Test para determinação de lipase pancreática
canina (CPL) e felina (FPL), demonstrados na Tabela 5.

Tabela5: Snap Tests realizados no Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias do


HCV-UFRGS no período de 01 de agosto a 31 de outubro de 2013.
Exame Canino Felino
FIV/FeLV - 50
4DX 22
CPL / FPL 7 2
TOTAL 29 52

O Snap Test utilizado pelo LacVet por sua rapidez e confiabilidade,


oferecendo bons resultados em diagnóstico.

Durante o período de estágio curricular no LacVet, foram realizados 50 Snap


Test para diagnóstico de FIV/FeLV, sendo destes, apenas 3 amostras positivas para
FIV, 10 amostras positivas para FeLV, sendo 2 amostras positivas para ambos como
evidenciado na Figura 12.
39

Figura 12: Snap Test felino positivo pra FIV e FeLV.

3.7.1 Snap Test FIV/FeLV

A SNAP FIV/FeLV Combo Test é um teste imunoenzimático para a detecção


do vírus da imunodeficiência felina e vírus da leucemia felina em soro felino, plasma
ou sangue total anticoagulado. A SNAP FIV/FeLV Combo Test é um imunoensaio
rápido para a detecção de anticorpos específicos para o vírus da imunodeficiência
felina (FIV) em soro felino, plasma ou sangue total anticoagulado. Um resultado
positivo indica que o gato tem anticorpos FIV na circulação e, portanto,
provavelmente infectados (IDEXX, 2013c).

A SNAP FIV/FeLV Combo Test é um imunoensaio rápido para detecção do


vírus da leucemia (FeLV) antígeno felino no soro felino, plasma ou sangue total
40

anticoagulado. Este rápido imunoensaio detecta a presença do antígeno FeLV p27,


que se encontrou é diagnóstico de infecção por FeLV (IDEXX, 2013c).

Segundo fabricante, o Snap Test FiV/FeLV apresenta sensibilidade e


especificidade para os resultados, tendo, 98,6% de sensibilidade e 98.2 % de
especificidade para FeLV e 93,5% de sensibilidade e 100% de especificidade pra
FIV (IDEXX, 2013c).

3.7.2 Snap Test 4DX

No LacVet, o exame ELISA, denominado Snap Test 4DX (ELISA-IDEXX®)


utilizado para diagnóstico canino de Difilaria sp., Borrellia sp., Anaplasma sp. e
Ehrlichia sp., foi solicitado para 22 pacientes, sendo que apenas um teste
apresentou-se positivo para Anaplasma sp., sendo os demais resultados, negativos.

O Snap Test tem como proposta obter um rápido diagnóstico, onde este pode
ser feito no próprio consultório durante o período da consulta, podendo ser realizado,
nessa situação com sangue total, os resultados dos testes são lidos após 8 minutos
após o início de deste, dando assim uma margem de tempo para que o Médico
Veterinário já possa instruir o proprietário quanto a prevenção e ou prognóstico do
paciente.

Segundo fabricante o Snap Test 4DX utiliza uma tecnologia com base em
peptídeos de ensaio PNA que permite a avaliação de anticorpos altamente
específicos apenas para Anaplasma spp., Doença de Lyme e Ehrlichia spp., que
ajuda a eliminar falsos positivos. Assim, o teste nos fornece 94.1% de sensibilidade
e 96.2% de especificidade para B. burgdorferi, causadora da Doença de Lyme,
97.1% de sensibilidade e 95.3% de especificidade para Ehrlichia spp, 90.3% de
sensibilidade e 94.3% de especificidade para Anaplasma spp e 99.0% de
sensibilidade e 99.3% de especificidade para Dirofilaria spp. Sendo assim,
considerado um teste rápido e confiável (IDEXX, 2013a).
41

3.7.3 Snap Test CPL e FPL

A lipase pancreática é a mais abundante de todas as lipases no plasma. A


sua presença elevada no plasma é indicativo de pancreatite, especialmente em cães
(GONZÁLEZ e SILVA, 2006).

A Snap test CPL é o único teste pet-side desenvolvido para medir os níveis de
lipase caninos específicos para o pâncreas. O médico veterinário pode diagnosticar
ou ajudar a excluir pancreatite com o Snap Test CPL, sendo o teste mais específico
no diagnóstico da lipase no soro (IDEXX, 2013b).

A confirmação da elevação dos níveis de lipase dispostos no soro, são


evidentes pela intensificação da coloração azulada que o teste oferece, sendo uma
cor servindo como marcador da enzima em seu padrão normal e a outra servindo
para o diagnóstico, sendo ela a ser observado quanto a sua cor. Em um estudo
envolvendo 14 técnicos veterinários, onde visualizavam 20 amostras por duas
vezes, 96% dos resultados foram interpretados corretamente (IDEXX, 2013b).

Esta mesma análise realizada no teste específico para cães, pode ser
utilizada com os mesmo princípios para os gatos, com a Snap Test FPL que é um
simples exame de sangue que detecta o nível de lipase específica do pâncreas. A
sensibilidade do ensaio FPL para o diagnóstico da pancreatite encontrado foi de
79% e a especificidade para a exclusão de pancreatite foi de 80% (IDEXX, 2013b).

3.8 Cálculo Renal

Durante o período de estágio curricular, realizado no Laboratório de Análises


Clínicas Veterinárias, LacVet, localizado nas dependências do HCV-UFRGS, foram
realizadas três análises de cálculo vesical, sendo essa análise qualitativa,
identificando a composição deste através de reagentes. Das três análises
realizadas, duas eram da espécie canina e o outro cálculo vesical de tartaruga.
42

O cálculo é enviado ao laboratório logo após sua retirada na cirurgia e este


fica em solução fisiológica por 24h para que haja desprendimento das sujidades
(Figura 13), após é levado para uma estufa a 36°C e permanecendo por 24h.

O cálculo, após seco, passa por um exame físico, onde são analisados
características, como cor, consistência e superfície, após registrar essas
informações no laudo, o cálculo é partido ao meio, onde uma parte é guardada em
frasco de vidro, para uma nova análise, caso necessário; a outra parte do cálculo é
macerada até transformar-se em pó (Figura 14). Conforme as instruções presentes
no kit Conjunto Cálculo Renal Bioclin® utilizado para análise, separa-se 40g do
macerado em tudo de ensaio de vidro juntamente com o reagente alcalino e água
destilada, ocorre incubação por 5 minutos em temperatura de 56ºC, centrifugação e
separação do sobrenadante e do sedimento, sendo ambos submetidos a vários
testes que permite a identificação rápida de carbonato, oxalato, cálcio e magnésio
do sedimento e amônio, fosfato, urato e cistina do sobrenadante.

Figura 13: Cálculo renal imerso em solução fisiológica, para


limpeza das sujidades.
43

Figura 14: Cálculo já macerado para análises de sua


composição.
44

4 ANEMIA ARREGENERATIVA

A anemia é definida como uma diminuição na massa de hemácias ou


eritrócitos em termos práticos pode ser definida como uma diminuição no
hematócrito (Ht), na concentração de hemoglobina e contagem de hemácias abaixo
dos valores de referência para a espécie. Em circunstâncias especiais, a anemia é
diagnosticada em um animal com um hematócrito que vem diminuindo com o tempo,
mesmo que ainda permaneça no intervalo dos valores de referência (COUTO,
2006).

A anemia é resultante de uma doença primária, responsável pela destruição


de hemácias ou hemólise, pela perda de sangue decorrente de hemorragia, pela
menor produção de hemácias ou pela associação de alguns desses eventos. Os
sinais clínicos geralmente estão relacionados à menor oxigenação dos tecidos ou
aos mecanismos compensatórios a ela associado; é possível notar palidez de
membranas mucosas, letargia, menor tolerância ao exercício, aumento da
frequência respiratória ou dispneia, aumento da frequência cardíaca e sopros
induzidos pela maior turbulência do sangue (THRALL, 2006c).

A anemia é classificada como regenerativa ou arregenerativa. Com base na


quantidade de hemácias imaturas na corrente sanguínea. A liberação precoce de
hemácias imaturas é uma resposta normal da medula em decorrência a maior
síntese de eritropoietina, principalmente pelo tecido renal, induzida pela hipóxia.
Após hemorragia ou hemólise, há liberação de maior quantidade de hemácias
imaturas na circulação, característica da anemia regenerativa. A ausência de
hemácias imaturas circulantes indica anemia arregenerativa; tal achado deve ser
considerado evidência de disfunção da medula óssea (THRALL, 2006a).

Se a causa da anemia ainda não for evidente, uma importante definição será
então se a anemia é regenerativa ou arregenerativa. A contagem de reticulócitos
fornece evidência objetiva em relação à resposta medular apropriada. Admitindo-se
45

que a anemia estava presente a mais de 3 a 4 dias, a ausência de reticulócitos


indica que há anemia arregenerativa (COTTER, 2004).

Anemias arregenerativas são também chamadas anemias aplásicas e são


causadas por uma hipoplasia eritrocitária, que é uma queda da produção de
eritrócitos com uma diminuição no número de precursores nucleados dos eritrócitos
na medula óssea. Do ponto de vista morfológico são normocíticas e normocrômicas,
e seu índice de reticulócitos é zero. Quanto à sua etiologia, podemos dividi-las em
primárias, cuja origem está numa disfunção primária da medula óssea, e secundária,
cuja origem se encontra em outro órgão ou sistema, com consequência sobre a
eritropoese (GARCIA-NAVARRO, 2005b). Segundo Thrall (2006a), a anemia
arregenerativa pode ser desencadeada por doença inflamatória, por insuficiência
renal crônica, doença endócrina e raramente deficiências nutricionais.

A anemia arregenerativa pode ser causada por fatores exógenos que afetam
a medula ou por insuficiência medular primária. Para produzir eritrócitos normais, a
medula óssea deve ter um número adequado de células tronco pluripotentes,
apropriados fatores de crescimento hematopoiético aos quais as células tronco e os
progenitores marcados são capazes de responder, microambiente favorável e
nutrição adequada. Se qualquer desses fatores estiver ausente ou se fatores tóxicos
ou supressores estiverem presentes, como fármacos, auto-anticorpos acometendo
os progenitores ou substâncias desconhecidas, como aquelas secretadas pelas
células leucêmicas, não poderá ser produzido um número adequado de eritrócitos
funcionais (COTTER, 2004).

A principal razão para uma anemia arregenerativa é a produção eritrocitária


diminuída, sendo que a eritropoiese defeituosa também pode contribuir. Uma vez
que o tempo de vida dos eritrócitos de animais domésticos geralmente é de 2-5
meses, podem decorrer várias semanas até meses para que uma anemia se
desenvolva se ela for causada apenas por diminuição da eritropoiese. Por exemplo,
o tempo de vida do eritrócito de um cão é cerca de 100 dias. No estado hígido,
metade dos seus eritrócitos tem mais de 50 dias de vida e metade deles tem menos
de 50 dias de vida, se uma doença interromper completamente a eritropoiese e não
alterar o tempo de vida eritrocitário, seriam necessários 25 dias para o hematócrito
46

do cão cair de 40 % para 30% e cerca de 50 dias para cair de 40% para 20%
(STOCKHAM e SCOTT, 2011).

A maior parte dos animais com anemia arregenerativa ficou anêmico por
várias semanas antes que sinais clínicos fossem detectados. Como a anemia é
crônica, a doença ou o distúrbio que está causando a anemia é de caráter crônico. A
gravidade de uma anemia arregenerativa dependerá da duração da doença, do grau
de diminuição da eritropoiese e da presença de outros processos que encurtam o
tempo de vida dos eritrócitos (STOCKHAM e SCOTT, 2011).

4.1 Anemia da doença crônica (Anemia da doença inflamatória)

A anemia provocada por doença inflamatória (anemia de doença crônica) é o


tipo mais comum em animais domésticos, mas em geral é discreta e clinicamente
insignificante. Esse tipo de anemia está associado a várias doenças inflamatórias,
inclusive infecções, traumatismos e neoplasias; normalmente é discreta a moderada,
arregenerativa e normocítica (THRALL, 2006a).

A lógica evolutiva proposta para a anemia de inflamação é que ela resulta de


uma adaptação imunológica para limitar o acesso microbiano a ferro. Na década
passada se viu avanços na compreensão dos mecanismos moleculares da anemia
da inflamação. Novas percepções envolvem a hepcidina, um hormônio agora aceito
como o mediador chave da anemia da inflamação. Inicialmente, reconhecido como
um agente antimicrobiano é um peptídeo sintetizado no fígado, expressão
antimicrobiana peptídeo (LEAP - 1), hepcidina foi posteriormente identificada como
uma proteína de fase aguda e um inibidor chave regulador do metabolismo do ferro.
É sintetizada principalmente pelos hepatócitos, daí o nome da hepcidina, intimando
tanto o seu tecido de origem quanto seus efeitos antimicrobianos diretos. A forma
bioativa é um aminoácido que exerce os seus efeitos através da ligação da célula e
superfície do ferro, ferroportina, e induzindo sua internalização e degradação. O
efeito desta interação é inibir tanto a absorção de ferro da dieta do epitélio intestinal
e exportação de ferro dos macrófagos (FRY, 2010).
47

Uma menor concentração sérica de ferro deve ser vantajosa ao paciente


portador de doença inflamatória, porque reduz a disponibilidade de ferro necessário
ao crescimento bacteriano (THRALL, 2006a).

Diversos estudos da anemia da doença crônica têm sido conduzidos em


anemia. A inflamação foi induzida por injeção subcutânea de um irritante, resultando
na formação de abscesso. Nos cães, a anemia desenvolveu-se após 2 a 3 semanas,
enquanto nos gatos o hematrócrito diminuiu de 9% a 15% em cerca de uma semana
(COTTER, 2004).

4.2 Anemia secundária a doença crônica renal

Anemia por insuficiência renal crônica, segunda Thrall (2006a) costuma ser
de moderada a grave, tendo como causa primária a deficiência na síntese renal de
eritropoietina, desta forma, como não há lesão direta na medula, quando tratada
com eritopoietina canina recombinante, pode haver reversão do quadro, aumento
efetivamente o hematócrito.

4.3 Anemia secundária a distúrbios metabólicos

Anemia secundária a distúrbios metabólicos é normocítica discreta


(hematócrito de 28% a 35%) está presente em 30% a 50% dos cães hipotiroideos
(COTTER, 2004; THRALL, 2006a). A anemia em geral é assintomática, porém pode
ser secundária à diminuição do consumo de oxigênio por causa do metabolismo
mais lento. A suplementação de hormônio tireoideo resulta na resolução da anemia.
Anemias discretas também podem estar associadas com hipopituitarismo,
hipoadrenocorticismo, diminuição do hormônio de crescimento e gestação
(COTTER, 2004).

4.4 Anemias secundárias a distúrbios da medula óssea

Os distúrbios neoplásicos, hipoplásicos ou displásicos da medula óssea


podem resultar em anemia e outras citopenias. Nessas condições, existe uma
diminuição dos precursores eritróides normais que são substituídos por células
inflamatórias ou neoplásicas, uma escassez ou ausência de precursores eritróides
48

ou um bloqueio da maturação dos precursores eritróides. Todos esses distúrbios,


com a exceção de aplasia eritróide pura, acometem tipicamente mais de uma
linhagem celular e os pacientes são bicitopênicos ou pancitopênicos (COUTO,
2006).

A aplasia eritróide pura é caracterizada pela marcante redução na quantidade


de precursores eritróides na medula óssea, com granulopoiese e trombopoiese
normais, resultando em anemia arregenerativa grave e contagens normais de
neutrófilos e plaquetas. Em cães, a aplasia eritrocitária pura quase sempre é
causada por destruição imunomediada de precursores eritróides e geralmente
responde à terapia imunossupressora. Notam-se esferócitos e aglutinação; cerca de
metade dos cães acometidos apresentam resultados positivos ao teste de Coombs
(THRALL, 2006a).

A anemia eritróide pura é um raro defeito adquirido da eritropoiese,


caracterizado pela presença de inibidores séricos da produção de eritrócitos. Uma
hipoplasia eritróide transitória pode ser vista em pacientes humanos e animais com
distúrbios hemolíticos, bem como pode ser associada ao uso de algumas drogas, a
estados alérgicos e a contato com toxinas ou substâncias químicas. Essas
alterações transitórias são descritas com o nome de eritroblastopenias agudas
(FIGHERA, 2001).

4.5 Anemias aplásicas adquiridas

A anemia aplásica adquirida ocorre secundariamente à radiação, à


quimioterapia, ao uso de alguns fármacos e ao hiperestrogenismo (FIGHERA, 2001).
A elevada concentração de estrogênio interfere na diferenciação da célula primitiva,
resultando em pancitopenia e aplasia medular. Os efeitos tóxicos do estrogênio nos
cães são bem conhecidos e foram mais bem estudados em casos de superdose do
estrogênio, especialmente ciclopentipropionato de estradiol, o qual no passado foi
usado para impedir a gestação ou tratar a hiperplasia prostática. A pancitopenia
induzida por estrogênio, geralmente fatal, ocorre relacionada ao ciclo estral de
fêmeas (COTTER, 2004).
49

A quimioterapia pode ser considerada hoje uma das principais causas de


aplasia, principalmente no que diz respeito a cães e gatos, isso é oriundo de intensa
difusão dessa modalidade antineoplásica no nosso meio. A maior parte das drogas
quimioterápicas leva a transtornos moderados quando utilizadas de maneira correta
(FIGHERA, 2001). Os fármacos antineoplásicos, incluindo os agentes alquilantes, as
antraciclinas e os antimetabólicos, são mieolosupressores. A maior probabilidade de
ocorrência é de neutropenia, porque o tempo de vida do neutrófilo na circulação é de
apenas algumas horas, sendo necessária a reposição constante. Nos casos mais
graves, as plaquetas também podem diminuir, mas por causa do longo tempo de
vida dos eritrócitos circulantes, a interrupção da produção por um período curto de
tempo não causa uma queda significativa no hematócrito (COTTER, 2004).
50

5 RELATO DE CASO CLÍNICO

Durante o estágio supervisionado, foram acompanhados os exames de uma


cadela, com 7 anos de idade, SRD. Segundo histórico clínico, a mesma apresentava
dificuldade de levantar, respiração ofegante, esteve no cio há 5 meses, tendo sido
aplicado “injeção anticoncepcional”. A paciente foi encaminhada para o LacVet onde
foi realizado coleta de sangue para realização de hemograma e bioquímicos (ALT e
creatinina (Anexo A - Laudos 30/07/2013). Os resultados evidenciaram anemia
normocítica normocrômica, e a avaliação da morfologia celular no esfregaço
sanguíneo revelou microcitose, anisocitose e poiquilocitose. Devido estes achados,
foi recomendado pelo laboratório ao clínico a solicitação da contagem de
reticulócitos, cujo resultado foi número de reticulócitos normal, que não caracteriza
regeneração medular. O leucograma não apresentou alteração. As plaquetas não
foram quantificadas devido a sua agregação. Os resultados dos bioquímicos
solicitados estavam dentro dos valores normais para a espécie.

A paciente retornou para atendimento clínico, quatro dias após o primeiro


exame, sendo solicitado hemograma (Anexo B – Laudo 02/08/2013). Os resultados
evidenciaram uma anemia mais intensa e os valores da contagem de reticulócitos
permaneceram sem alteração. Leucograma sem alteração. A quantificação
plaquetária estava normal para a espécie. Diante a do quadro apresentado, foi
iniciado tratamento medicamentoso com: antimicrobiano, inibidor de secreção
gástrica e corticóide e indicado retorno após duas semanas para nova avaliação.

Na terceira avaliação hematológica, os valores encontrados neste


hemograma (Anexo C – Laudos 14/08/2013) assemelhavam-se aos resultados do
exame anterior. Os exames bioquímicos (Creatinina, AST, ALT e albumina)
apresentaram-se sem alterações. Devido à permanência da anemia caracterizada
como arregenerativa, e a piora clínica do animal, foi realizado ultrassonografia
abdominal, evidenciando útero aumentado de volume sendo sugestivo de piometra.
A paciente foi encaminhada a cirurgia de ovariohesterectomia. Como o animal
apresentava um perfil hematológico inadequado à cirurgia, devido à severa anemia,
51

foi solicitada a transfusão sanguínea antes do procedimento cirúrgico. Para isto,


requisitou-se a prova cruzada entre paciente e doador, como etapa determinante
para a realização da transfusão de sangue, demonstrando compatibilidade entre
ambos e propiciando a realização deste procedimento. Após a transfusão, o
hematócrito da paciente era de 17%. Foi realizado o procedimento cirúrgico e a
paciente teve alta no dia seguinte.

Ao retornar ao HCV-UFRGS, após o procedimento cirúrgico, foi coletada


amostra de sangue para o hemograma (Anexo D – Laudos 23/08/2013), este
evidenciou queda nos valores eritrocitários (hematócrito 14%), sendo indicado o
mielograma. Porém, não se obteve sucesso na coleta de uma amostra de medula
óssea.

Ao retornar para atendimento após duas semanas, foi requisitado hemograma


(Anexo E – Laudos 05/09/2013). Os valores revelaram anemia normocítica
normocrômica, contagem de reticulócitos evidenciando anemia arregenerativa. O
clínico permaneceu com a prescrição de corticoide, conforme presente na ficha do
animal, e uma nova avaliação foi solicitada, porém o proprietário informou o óbito da
paciente.

5.1 Discussão do caso clínico

Frente aos resultados dos hemogramas iniciais, evidenciava-se tratar de um


caso de anemia arregenerativa, ideia esta, fundamentada pelos baixos valores
obtidos nas contagens de reticulócitos, o que determina se há ou não regeneração
eritrocitária. Após esta classificação, buscou-se identificar uma causa primária, já
que anemias arregenerativas são geralmente secundárias a patologias, como por
exemplo, insuficiência renal crônica, neoplasias, deficiência nutricional ou
inflamação. Com base nesses dados a discussão deste caso busca um possível
diagnóstico, relacionando os fatos ocorridos durante o caso, com embasamento em
literatura.

Segundo Cotter (2004), na doença renal crônica, a anemia se estabelece


devido à diminuição na síntese de eritropoietina, diminuindo assim o estímulo
52

medular para produção dos eritrócitos, porém, através da avaliação bioquímica do


perfil renal do animal, essa possibilidade foi descartada, já que os valores
encontravam-se dentro dos valores de referência para a espécie, não evidenciado
assim uma insuficiência renal.

As anemias aplásicas podem ser adquiridas pelo uso de quimioterápicos,


alguns fármacos e hisperestrogenismo (FIGHERA, 2001). A paciente não tinha
histórico de uso de fármacos e quimioterápicos, no entanto existia o relato de
aplicação de “injeção anticoncepcional” depois do cio. Este fato leva a suspeita de
anemia adquirida devido ao uso indiscriminado de ciclopentilproprionato de estradiol
levando a aplasia da medula. Segundo Cotter (2004) a intoxicação pelo estrógeno
leva a uma pancitopenia da medula óssea. No entanto a paciente não apresentou
pancitopenia, apenas citopenia da série vermelha.

Outras patologias estão associadas à falha nutricional caracterizada pela


carência do ferro, porém a paciente apresentava-se com bom escore corporal,
compatível com uma alimentação adequada, não demonstrando indícios de que a
anemia presente fosse de origem nutricional, além disso, as alterações
características de anemia ferropriva não foram evidenciadas em nenhum dos
exames realizados.

Segundo Cotter (2004), doenças com disfunções hormonais, como


hipotuitarismo, hipoadrenocorticismo ou hipotireoidismo podem caracterizar quadros
anêmicos, porém, normalmente cursam com anemias leves e o caso é estabilizado
mediante reposição hormonal exógena, entretanto a paciente não apresentava
sinais clínicos correlacionados com essas patologias.

Outra patologia que pode resultar em uma anemia arregenerativa é causada


por inflamação, decorrentes do sequestro do ferro circulante, na tentativa de diminuir
o acesso microbiano ao ferro, além do quadro toxêmico, que pode afetar a medula
diretamente.

Através da análise clinica, com o auxílio de outros exames complementares,


como o ultrassom, identificou-se um foco inflamatório no sistema reprodutor. A
53

piometra, então identificada, determinou a primeira suspeita diagnóstica: uma


anemia arregenerativa decorrente da doença inflamatória.

Após a realização da ovariohisterectomia terapêutica para retirada do foco


inflamatório, esperava-se a melhora do quadro. Porém, as seguintes avaliações
demonstraram resultados baixos em relação à hemoglobina, hematócrito e
eritrócitos, além da contagem de reticulócitos, que em todos os hemogramas
realizados indicava um quadro sem regeneração.

Estabelecido um quadro de anemia arregenerativa sem uma causa primária


evidente, houve a necessidade da realização de exames mais específicos, como por
exemplo, o mielograma.

A indicação mais comum para o exame citológico de medula óssea é o


reconhecimento de anormalidades hematológicas que não são prontamente
explicáveis com base em um bom histórico, exame físico, perfil bioquímico e/ ou
outros procedimentos clínicos. As biópsias aspirativas de medula óssea podem ser
coletadas do úmero proximal, crista ilíaca, fossa trocantérica do fêmur e do esterno
de cães e gatos (GRINDER et al, 2009).

A paciente foi submetida à coleta de material para a realização do


mielograma, mas este não obteve sucesso na coleta de medula. Desta forma, a
médica veterinária residente, responsável pelo animal, optou por um diagnóstico
com base terapêutica, mas com o óbito do animal, a terapia não pôde ser avaliada
de forma positiva.

Assim, com base nos valores de hemogramas e exames bioquímicos


realizados desde a chegada do animal ao HCV-UFRGS até a data de seu óbito,
levando em consideração a retirada do foco inflamatório através da
ovariohesterectomia terapêutica e, após este, a continuidade da anemia
arregenerativa, pode-se sugerir que este caso clínico tenha como diagnóstico uma
aplasia eritróide pura, pois segundo THRALL (2006a), anemias decorrentes dessa
alteração cursam com diminuição acentuada dos eritrócitos, sem qualquer alteração
no leucograma, situação semelhante à descrita, pois levando em consideração
54

outras possíveis causas nenhuma das opções enquadram-se como as que a aplasia
eritróide pura cursa. Segundo COTTER (2004), muitos casos de aplasia eritróide
pura são idiopáticos e a causa mais comum nos cães provavelmente é
imunomediada. Porém, o diagnóstico definitivo pode apenas ser estabelecido frente
á uma análise de medula, e sendo assim, aplasia eritróide pura é uma sugestão para
o diagnóstico da severa anemia apresentada pelo animal.
CONCLUSÃO

Durante todo período de estágio curricular até o término das descrições do


trabalho de conclusão final de curso, pude perceber o quanto somos desafiados,
perante o meio acadêmico e diante de nós mesmos, frente aos testes de nossos
conhecimentos adquiridos ao longo do curso, a nossa capacidade de relações e
sociabilidade e quanto somos desafiados frente à nossas emoções, pois é um
período que exige muita dedicação.

Com os trabalhos desenvolvidos e acompanhados no estágio curricular pode


adquirir um imenso conhecimento, pois a casuística do LacVet permitiu-me
acompanhar e entender diversas alterações hematológicas que até então não
conhecia. Permitindo também através da realização das coletas sanguíneas, um
contato direto com os animais e a proximidade com os proprietários, algo que
favorece muito, pois a rotina laboratorial muitas vezes nos exige muita dedicação e
habilidade técnica e indiretamente vamos perdendo a sensibilidade de manipulação
dos animais, além disso, com o contato com o animal, podermos acompanhar e
correlacionar o estado geral do mesmo com os resultados dos exames solicitados.

Todas as revisões bibliográficas contidas neste e leituras adicionais


realizadas ao longo do estágio e neste período final possibilitaram um grande
entendimento tanto de algumas patologias já revisadas, como principalmente no
diagnóstico das mesmas por meios laboratoriais, além de perceber o quanto ainda
devo estudar para sentir-me segura frente aos desafios diários que nossa profissão
oferece.
56

Desta forma, mesmo que a clínica médica seja soberana, ressalvo com este
trabalho de conclusão final de curso o quão importante são os exames
complementares para auxílio diagnóstico, podendo levar diretamente a este ou
auxiliar de forma determinante na conduta clínica do médico veterinário solicitante e/
ou prognóstico do animal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLGAYER, M.C.; SIMON, C.F. Hemograma. In:______. Bioquímica Clínica


Veterinária. Canoas: Ed. ULBRA, 2007.

ALLISON, R.W. Laboratory Evaluation of the Liver. In: THRALL, M.A. et al.
Veterinary Hematology and Clinical Chemistry. Oxford: John Wiley & Sons, 2012.

BIOURGE, V. Manejo Nutricional das Doenças Hepáticas. Veterinary Focus,


France, v. 20, n. 3, p. 16, 2010.

BROWN, D.; VAP, L. Princípios Sobre Transfusão Sanguínea e Reação Cruzada. In:
THRALL, M. A. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. São Paulo: Roca,
2006.

BUSH, B. M. Bioquímica Plasmática. In:______. Interpretação de Resultados


Laboratoriais para Clínica de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2004.

COLVILLE, J. Bioquímica Sanguínea. In: HENDRIX, C.M. Procedimentos


Laboratoriais Para Técnicos Veterinários. São Paulo: Roca, 2005.

COTTER, S. M. Anemia Arregenerativa. In: ETTINGER, S.J.; FELDAN, E. C.


Tratado de Medicina Interna Veterinária, Doenças do Cão e do Gato. 5 ed.. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

COUTO, C. G. Hematologia e Imunologia. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G.


Medicina Interna de Pequenos Animais. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

ECKERSALL, P. D. Proteins, Proteomics, and The Dysproteinemias. In: KANEKO,


J.J. et al. Clinical Biochemistry of Domestic Animals. San Diego: Academic
Press, 2008.
.
FIGHERA, R. A. Anemias por insuficiência medular. In:______. Anemia em
Medicina Veterinária. Santa Maria: O Autor, 2001.
58

FONSECA, L. F. A. Estudo do Líquido Pleural : uma revisão. Artigo de revisão,


Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

FRY, M. M. Anemia of Inflammatory, Neoplasic, Renal, and Endocrine Diseases. In:


WEISS, D. J.; WARDROP, K. J. Schalm’s Veterinary
Hematology. 6 ed. USA: Blackwell Publishing, 2010.

GARCIA-NAVARRO, C. E. K. Exame físico da urina. In:______. Manual de


Urinálise Veterinária. São Paulo: Livraria Varela, 2005a.

GARCIA-NAVARRO, C. E. K. Técnicas hematológicas. In:______. Manual de


Hematologia Veterinária. 2 ed. São Paulo: Livraria Varela, 2005b.

GONZÁLEZ, F.H.; SILVA, S.C. Perfil Bioquímico Sanguíneo. In:______. Introdução


à Bioquímica Clínica Veterinária. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.

GONZÁLEZ, F.H.; SILVA, S.C. Patologia Clínica Veterinária: Texto introdutório.


In:______. Introdução à Bioquímica Clínica Veterinária. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2008.

GRINDEN, C.B et al. A medula óssea.In: COWELL, R. L. et al. Diagnóstico


Citológico e Hematologia de Cães e Gatos. 3 ed. São Paulo: MedVet, 2009.

IDEXX, Laboratories. SNAP® 4Dx® Plus Test. Disponível em:


<http://www.idexx.com//view/xhtml/en_us/smallanimal/inhouse/snap/4dx.jsf?SSOTO
KEN=0> Acesso em: 10 nov. 2013a.

IDEXX, Laboratories. SNAP® cPL™ Test. Disponível em:


<http://www.idexx.com//view/xhtml/en_us/smallanimal/inhouse/snap/cpl.jsf?SSOTOK
EN=0 > Acesso em: 10 nov. 2013b.

IDEXX, Laboratories. SNAP® FIV/FeLV Combo Test. Disponível em:


<http://www.idexx.com//view/xhtml/en_us/smallanimal/inhouse/snap/4dx.jsf?SSOTO
KEN=0> Acesso em: 10 nov. 2013c.

IDEXX, Laboratories. SNAP® fPL™ Test. Disponível em:


<http://www.idexx.com//view/xhtml/en_us/smallanimal/inhouse/snap/fpl.jsf?SSOTOK
EN=0 > Acesso em: 10 nov. 2013d.

LASSEN, E. D.; WEISER, G. Princípios Gerais Sobre Exames e Diagnósticos


Laboratoriais. In: THRALL, M.A. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária.
São Paulo: Roca, 2006.

LASSEN. E. D. Avaliação Laboratorial do Fígado. In: THRALL, M. A. Hematologia e


Bioquímica Clínica Veterinária. São Paulo: Roca, 2006.

MOTA, A. L. D. R. Relação Entre Apresentação Clínica, Carga Viral e a Titulação


de Anticorpos na Peritonite Infecciosa Felina. 2010. 95f. Dissertação (Mestrado
59

em Medicina Veterinária), Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica


de Lisboa, Lisboa, 2010.

REBAR, A. H.; THOMPSON, C. A. Abody Cavity Fluíds. In: RASKIN, R. E.; MEYER,
D. J. Canine and Feline Cytology a color atlas and interpretation guide. 2 ed.
Saunders, 2009.

REBAR, A.H. et al. Métodos Laboratoriais em Hematologia. In: ______. Guia de


Hematologia Para Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2003.

SINK, C. A.; FELDMAN. B. F. Coleta e Avaliação da Amostra. In:______. Urinálise e


Hematologia Laboratorial Para o Clínico de pequenos Animais. São Paulo,
2006.

STOSKHAM, S.L.; SCOTT, M.A. Anemias arregenerativas. In:______. Fundamentos


de Patologia Clínica Veterinária. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

TASKER, S.; GUNN-MOORE, D. Difeferential Diagnosis of Ascites in Cats.


August, 26, 2013.

THRALL, M. A. Anemia Arregenerativa ou Não Regenerativa. In:______.


Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. São Paulo: Roca, 2006a.

______. Anemia Regenerativa. In: ______. Hematologia e Bioquímica Clínica


Veterinária. São Paulo: Roca, 2006b.

______. Classificação e Diagnóstico de Anemia. In: ______. Hematologia e


Bioquímica Clínica Veterinária. São Paulo: Roca, 2006c.

______. Hematologia. In: HENDRIX, C.M. Procedimentos Laboratoriais Para


Técnicos Veterinários. São Paulo: Roca, 2005.
.
VIEIRA. F. A. N. Avaliação de parâmetros bioquímicos em cães infectados por
Leishmania chagasi. Revista Ciência Saúde. v.13, n. 2, p. 131.140, julho-dezembro,
2010.

WALKER. D. Esfregaço de sangue periférico.In: COWELL, R. L. et al. Diagnóstico


Citológico e Hematologia de Cães e Gatos. 3 ed. São Paulo: MedVet, 2009.

WASHABAU, R. Exames laboratoriais para diagnóstico de doença hepática.


Veterinary Focus, France, v.20, n. 3, p. 32-37, 2010.

ZINKL, J. W. Urinálise. In: HENDRIX, C. M. Procedimentos Laboratoriais Para


Técnicos Veterinários. São Paulo: Roca, 2005.
60

ANEXOS

Você também pode gostar