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A Eleição e a Salvação

Um dos motivos mais controversos da doutrina da eleição diz respeito particularmente à


possibilidade colocada por muitos de Deus ter escolhido uns para serem salvos deixando
outros, por exclusão de partes irremediavelmente condenados. Isto contraria tudo o que nós
encontramos nas escrituras acerca da graça de Deus. Podemos inventar as desculpas que
quisermos para fazermos passar esta versão errônea da eleição, mas isso nunca a tornará
coerente nem biblicamente lógica. Se há muitos que estão irremediavelmente perdidos então
porque morreu o Senhor “por todos os Homens”? Porque é oferecida a salvação a “todos os
homens”? O nosso bendito Deus, para além de todas as Suas elevadíssimas virtudes, é um Deus
extremamente coerente nunca se pondo em causa ou contradizendo-se. Como dissemos
anteriormente a eleição é uma das maiores demonstrações da Graça ilimitada de Deus que
idealizou todo o seu plano soberano pensando na salvação de “todos os homens”. Por isso
também a morte sacrificial do Senhor Jesus Cristo foi conhecida desde antes da “fundação do
mundo” (1Pe 1:20). Diga-se mesmo que o Senhor conta com todos os homens para executar os
Seus planos. Tanto com Israel como na Igreja da presente época todos os homens tiveram a
possibilidade de se tornar membros do povo eleito, sem que ninguém estivesse eliminado à
partida. A salvação sempre foi oferecida a todos, mesmo aos não Judeus que tinham a
possibilidade de se tornarem prosélitos:

Israel:

Ezequiel 18:32 “Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS;

convertei-vos, pois, e vivei.”

No entanto esta vontade de Deus em salvar o pecador incluía o próprio judeu porque se
corporativamente eram eleitos individualmente estavam perdidos pelo que tinham necessidade
de se converterem – “porque nem todos os que são de Israel são Israelitas” (Ro 9:6):

Ezequiel 33:11 “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio,
mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos
vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?”

Isto tornou-se ainda mais claro depois da rejeição do Messias, porquanto lemos:

Ro 11:28: “Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós (Igreja); mas, quanto
à eleição, amados por causa dos pais (Israel).”

Igreja:

1Tim 2:3-6: “Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,

Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da

verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens,

Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos,

para servir de testemunho a seu tempo.”


Ac 17:30 “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os
homens, e em todo o lugar, que se arrependam;”

Tit 2:11 “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”

Custa a entender como é possível que perante a clareza destes textos ainda exista quem pense
que o nosso amado Senhor tenha escolhido uns para serem salvos deixando outros para a
perdição. Que mais é que o Senhor nos terá de dizer para compreendermos que o Seu desejo
mais ardente é salvar “todos os homens”?

A eleição nunca contemplou a salvação porque Deus não salva povos mas almas (a própria
conversão de Israel ao Messias passava pelo arrependimento e baptismo na água de cada
Israelita individualmente). São duas coisas completamente distintas. Um eleito para o ser tem
de se converter primeiro, e todos o podem fazer. Isto é a Graça de Deus na verdadeira acepção
da palavra. O nosso Deus é um Deus de graça

É muito claro na palavra de Deus o Seu ardente desejo em salvar almas, as quais para Ele valem
mais que o mundo inteiro: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a
sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” ( Mt 16:26). No entanto este
desejo de salvação em nada belisca os Seus planos eternos nem estes estorvam à Sua vontade
em salvar almas.

Conforme podemos ver pelo texto de Efésios 1 existem um conjunto de aspectos que fazem
parte, por decreto Divino, da vocação da Igreja e consequentemente da nossa eleição (por ex.: a
essência, o carácter, filiação, herança, pátria celestial, …) mas não encontramos qualquer
referência à salvação.

É contudo usual citar-se 2 Ts 2:13 para afirmar que Deus também nos elegeu para a salvação:
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus
elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade;”. De facto
embora apareça aqui a palavra “salvação” o facto é que ela não diz respeito à nossa alma mas
ao assunto tratado em todo o capítulo 2 desta epístola: a Grande Tribulação. O que ali diz é que
na Sua bendita graça o Senhor nos elegeu para nos salvar, à Igreja Corpo de Cristo, desse
período terrível que vai ser a Grande Tribulação. De facto este é também um dos factos
soberanos da eleição do povo celestial – que este não passaria pela Grande Tribulação. Não é
por mérito nosso ou como recompensa pelos serviços da Igreja enquanto povo mas porque
Deus assim decretou e definiu como um dos aspectos para que fomos eleitos. Refira-se aliás
que já em 1 Ts 5 quando o apóstolo trata o mesmo assunto ele tem o cuidado de ressalvar esta
verdade embora dito de outra forma: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a
aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, ( 1 Ts 5:9).

5- A Eleição e a Presciência de Deus


1Pe 1:2 “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam
multiplicadas.”

Ninguém pode negar a importância do atributo da presciência de Deus para o plano da eleição,
no entanto este não foi usado no sentido que tradicionalmente se entende de que o Senhor
sabendo antecipadamente os que se haviam de salvar, os terá escolhido para determinado fim.
Não que o Senhor não conheça antecipadamente o coração do homem, pois só Deus conhece
os intentos do coração humano, mas o facto é que Deus não escolheu ninguém para ser salvo
ou perdido. Pensamos que esta verdade exalta ainda mais a graça de Deus que não obstante a
Sua presciência relativamente a quem se salva e a quem se perde, continua a oferecer a
salvação a todos sem excepção e mais que isso permitiu que o Seu Filho amado morresse por
todos inclusive pelos que Deus sabia que se iam perder. Talvez isto nos ajude a compreender
um pouco melhor a dureza do castigo eterno sobre os que rejeitarem o Senhor e a Sua salvação.

A presciência de Deus, de que nos fala Pedro, relativamente à eleição consiste no facto de que
Deus na eternidade passada ter previsto o pecado na Sua criação celestial e terrena e ter
idealizado um “propósito … segundo a eleição” por meio do qual reconciliaria toda a criação
consigo mesmo: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude
dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;” (Ef. 1:10). De facto o
pecado não apanhou Deus desprevenido, antes com um plano para lhe dar resposta e isto
graças ao atributo da Sua presciência.

6- A Eleição e a Soberania de Deus


Se por um lado a eleição, conforme dissemos anteriormente, é um hino à graça infinita de Deus,
por outro não o é menos em relação à Sua soberania. Todo o propósito da eleição está revestido
da soberania de Deus, ou seja no acto de Deus concretizar os Seus planos sem os fazer
depender da boa ou má conduta de anjos ou homens. Deus ao eleger dois povos fê-lo segundo
“o beneplácito da Sua vontade”, dotando-os de um conjunto de propriedades
independentemente do que seja a prática destes. Por exemplo no caso da Igreja Deus propôs
em Si mesmo dotá-la com uma herança celestial valiosíssima tornando-nos “co-herdeiros com
Cristo”. Fizemos alguma coisa para o merecer? Ou deixaremos de o ser por algum motivo? Não,
foi Deus quem o determinou soberanamente sem que isto tenha a ver com “a vontade do varão”.
Por isso lemos naquele belo cântico de Ro. 8 “Quem intentará acusação contra os escolhidos de
Deus? É Deus quem os justifica.” (vers. 33).

Mas perguntará alguém: não é Deus soberano para escolher uns para a salvação em detrimento
de outros? A nossa resposta é NÃO. Deus é soberano mas também é coerente e a coerência de
Deus é o limite da Sua soberania. Podemos mesmo dizer que Deus nunca passa por cima de Si
mesmo. O Seu ardente desejo em salvar almas impede-o de rejeitar à partida seja quem for.
Corroboramos esta verdade com um exemplo: Deus não é soberano para deixar de cumprir com
as Suas promessas quando nós lhe somos infiéis (o que até seria justo)? A palavra de Deus dá-
nos a resposta: “Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (2Ti 2:13).
Nem a soberania Divina o pode fazer “negar-se a Si mesmo”. Escolher uns para serem salvos em
detrimento de outros seria “negar-se a Si mesmo”, ou negar o Seu próprio desejo declarado em
salvar almas.

Não queremos deixar de fazer um breve comentário ao capítulo 9 da epístola aos Romanos. De
facto uma leitura menos cuidada daquele texto pode-nos deixar a ideia de que o nosso amado
Senhor usa a Sua soberania de uma forma tirana. ‘ Compadecesse de quem quer, endurece a
quem quer, sem que a coisa formada possa dizer ao que a formou: porque me fizeste assim ’.
Mas a verdade é que o estudo atento do texto leva-nos exactamente à conclusão que acima
salientamos. De facto Deus nunca deveu nada ao homem para que este O questione – o homem
só tem que se queixar de si mesmo. Mas Deus é misericordioso mesmo para com os rebeldes
pelo que lemos: “Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar
de misericórdia”. Mesmo em relação aos “vasos da ira” lemos: “E que direis se Deus, querendo
mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira,
preparados para a perdição;”. Preparados por quem? Por Deus? Não, por eles próprios. Deus
nunca contou com a perdição do homem pelo que os que se perdem não terão um destino
especifico para eles mas o “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;” (Mt 25:41). É
verdade porém que Deus já endureceu os corações de muitos. mas nunca condenou nem
endureceu santos nem pessoas que o desejavam conhecer como seu salvador, apenas homens
ímpios cujos corações já à muito tinha dito não a Deus. Atentemos para os dois exemplos
citados naquele capítulo: Esaú, de quem falaremos mais adiante, e Faraó. Homens perversos
que tinham rejeitado o valor das coisas eterna a favor das temporais. Que dizer então se depois
de estes e muitos outros homens terem rejeitado totalmente o Senhor, Ele os endurecer e usar
para melhor se revelar e concretizar os Seus planos? Por isso podemos compreender melhor o
versículo que diz: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?”

7- Um Outro Tipo de Eleição


É frequente ainda confundir-se o assunto que estamos a tratar com determinados casos que
encontramos nas escrituras acerca de escolhas pontuais, mas soberanas, de Deus. No entanto
isto é um assunto completamente distinto do que tratamos até aqui. De facto o Senhor tem um
propósito para cada crente e para cada igreja local podendo por isso levantar homens salvos
pela Sua graça para executar determinada tarefa. Podemos encontrar alguns exemplos nas
escrituras: a escolha de Judá: “Antes elegeu a tribo de Judá; o monte Sião, que ele amava.” (Sl
78:68); a escolha de David: “Também elegeu a David seu servo, e o tirou dos apriscos das
ovelhas;” (Sl 78:70); a escolha de Pedro: “E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e
disse-lhes: Homens irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para
que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem.” (Ac 15:7). Ora isto
nada tem haver com o propósito eterno da eleição, são escolhas ou chamadas pontuais sem
que isso implique demérito ou perda para os não chamados, é apenas a ordem de Deus que Ele
estabelece, note-se, soberanamente.

O mesmo se passa com aquele texto das escrituras, tantas vezes incompreendido, de Ro. 9:11:

“Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal

(para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das

obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.

Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú. Que diremos pois? que há

injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.”

O que este texto diz é que Deus na Sua soberania escolheu Jacó e não Esaú para ser o patriarca
das doze tribos de Israel. Esaú não estava condenado por causa desta decisão de Deus, o que o
condenou foi a vida profana que ele sempre viveu. Pela sua vida compreendemos o porquê
desta decisão de Deus: Esaú como patriarca fazia perigar os planos de Deus relativos, aqui sim,
à eleição de Israel:

“(para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das

obras, mas por aquele que chama)”. Note-se que tanto na chamada de Jacó, David, Pedro e da
tribo de Judá o que sempre determinou a escolha foi sempre a vontade soberana de Deus de
acordo com o que o Senhor entendeu ser o melhor para levar até ao fim os Seus planos. E nisto
não há injustiça porque se os que não são chamados souberem com humildade se sujeitar à
vontade de Deus por certo que também poderão ser usados para a gloria de Deus noutras áreas.
É o que acontece num igreja local que está ordenada segundo Deus: quando o Senhor chama, ou
elege, um crente para ancião por exemplo, os não chamados não deixarão de ser abençoados
por causa disso, a menos que como Esaú se ensoberbeçam e se tornem profanos. Aí sim “Amei
a Jacó,- o escolhido – e aborreci a Esaú – o soberbo”

http://ibbfloripa.com.br/a-doutrina-da-eleicao/

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