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I SELLE
_________________________________________________________________________________Universidade Federal de Goiás
Introdução
Referencial teórico
Para a realização desse trabalho, tivemos como base teórica autores que há
algum tempo vêm desenvolvendo trabalhos acerca da afetividade na aprendizagem
de LE. Para Richard-Amato (1988), as variáveis do domínio-afetivo podem tanto
promover como inibir a aprendizagem de uma LE, dependendo da positividade ou
negatividade da mesma. Conforme Hilgard (1963), as teorias cognitivas da
aprendizagem deveriam delegar papel para os fatores afetivos ou, do contrário,
poderiam ser rejeitadas. Já para Damasio (1994), o domínio afetivo não pode ser
dissociado do cognitivo, posto que mesmo no nível neurobiológico existem
evidências incontestáveis de que as emoções atuam juntamente com a razão.
Figueiredo (2005) adota a posição de que a escrita é uma atividade tanto
cognitiva como emocional, uma vez que sentimos e pensamos durante o processo de
escrita. Baseando-nos, então, nessas teorias sobre a afetividade na aprendizagem de
LE, podemos dizer que os professores deveriam estar mais atentos quanto a esses
fatores, já que para Almeida (1999), o desenvolvimento da inteligência (domínio
cognitivo) está intimamente ligado ao desenvolvimento da afetividade (domínio
afetivo).
Metodologia
Conforme aponta Lago (2006, p. 8), podemos dividir a pesquisa científica, sob
uma abordagem clássica, em “quantitativa — que se dá através do teste de dada
hipótese por meio de instrumentos objetivos e análises estatísticas apropriadas — e
qualitativa — que não utiliza de hipótese já definida, abrindo espaço para uma
possível mudança de dados ou de focos durante a observação”. Para a coleta de
dados, utilizamos métodos qualitativos e quantitativos. Observando esses dois
extremos de um continuum, utilizamos para a análise dos dados,
1. Autoestima
2. Ansiedade
3. Motivação
4. Crenças
4.1 Crenças sobre aprendizagem
4.2 Crenças sobre o papel do professor
Com os dados das pesquisas anteriores deste projeto, em vigor desde 2007, e
das pesquisas mais recente, fizemos um trabalho de comparação. Localizamos dados
relevantes sobre cada um dos fatores, cruzamos as proposições e obtivemos alguns
resultados muito contundentes. Apresentamos, neste trabalho, por questão de
espaço, apenas as pesquisas realizadas em 2008 e 2009. A turma A se refere às
turmas do ensino fundamental, a turma B às turmas do ensino e a turma C às turmas
de participantes do curso de Letras Inglês.
1. AUTOESTIMA
2. ANSIEDADE
3. MOTIVAÇÃO
Resultado em 2008:
Eu gostaria de aprender a escrever muito bem em inglês.
Porcentagem de alunos que concordam com a proposição: 87%
Turma A
Ah, porque ela (a professora), tem hora que ela fica
incentivando a gente: “Ah! Vocês têm que estudar inglês porque
quando vocês forem falar com uma pessoa que fala inglês, vocês
não vão dar conta, vocês não vão entender nada. Por isso que
vocês têm que aprender.” Maria Eduarda - Entrevista - Turma A
4. CRENÇAS
De acordo com McLeod (1987) crenças são convicções mantidas pelas pessoas,
mas que não são necessariamente comprovadas. Já no contexto de
ensino/aprendizagem de línguas, Barcelos (2001, p. 72), interpreta o termo crenças
como “opiniões e idéias que alunos (e professores) têm a respeito dos processos de
ensino e aprendizagem de línguas”. São essas convicções que os alunos levam para a
aula de LE, aonde já chegam, na maioria das vezes, com opiniões sobre como se
aprende uma LE, além de possuírem também atitudes e crenças sobre a língua, seus
falantes nativos, o(s) país(es) onde é (são) falada(s), etc (Mastrella, 2005).
Dividimos esta seção sobre crenças em duas partes, conforme explícito na
tabela 1.
Nesta seção, mostraremos as opiniões dos alunos com relação ao que eles
acreditam que seja a aprendizagem em LE, e como eles acreditam que ela ocorra. Os
exemplos abaixo mostram algumas dessas convicções:
Resultados em 2008:
Quem escreve bem em português possui facilidade para
escrever bem em inglês.
Porcentagem de alunos que concordam com a proposição: 76%
Turma A
Resultados em 2008:
Os professores deviam explicar as regras gramaticais mais
explicitamente.
Porcentagem de alunos que concordam com a proposição: 89%
Turma A
Considerações Finais
Nossas considerações aqui estão longe de ser finais. Ainda há muito que se
pesquisar acerca das emoções e sentimentos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem de uma língua estrangeira. Contudo, faremos aqui alguns comentários
acerca dos resultados obtidos neste estudo, que consideramos relevantes para os
professores e alunos.
Os alunos que participaram de nossa pesquisa se mostraram, grosso modo,
como aprendizes de autoestima baixa no que se refere à aprendizagem da escrita em
LE; com motivações instrumentais acerca do inglês, como a conquista de um futuro
emprego ou a capacidade de tecer relações com falantes nativos dessa língua; com
crenças diversificadas sobre o papel do professor, a aprendizagem da LE, o processo
de escrita e/ou mesmo acerca da própria LE; além de sentirem graus distintos de
ansiedade linguística, principalmente no que se refere a ter vergonha ou
constrangimento ao cometerem erros.
Os dados obtidos neste estudo referem-se a contextos específicos, e não
podem, portanto, ser generalizados para todos os aprendizes de inglês como LE.
Entretanto, a recorrência dos mesmos sentimentos nos vários anos de execução
deste projeto nos leva a inferir que as manifestações afetivas dos nossos
participantes possam ter eco em outras salas de aula, em distintos lugares do
mundo.
Vemos como de suma importância, tanto para professores como para alunos
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de inglês, o conhecimento dessas
variáveis afetivas, a fim de que tomem decisões mais acertadas sobre como agir com
esses fatores nas suas salas. Essa postura mais consciente certamente contribuirá
profundamente para que se tornem melhores ensinadores e aprendizes.
Referências Bibliográficas
BRANDEN, N. Auto-estima e seus seis pilares. São Paulo, SP: Saraiva, 2002.
DAMASIO, A. Descartes’ error: emotion, reason and the human brain. New York,
Avon, 1994.
ELLIS, R. Second Language Acquisition. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 1998.
MCLEOD, S. Some thoughts about feelings: the affective domain and the writing
process. College Composition and Communication, 1987.