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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

Inclusão Digital e Cidadania: um olhar sobre o Programa Acessa SP, seus potenciais e limites1

André Luís Lourenço2


Juliano Maurício de Carvalho3
Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

O artigo parte do princípio de que os benefícios potencialmente proporcionados pela Sociedade da


Informação apenas serão sentidos pelo conjunto da sociedade caso haja políticas específicas capazes
de proporcionar a inclusão digital, atacando as desigualdades e consolidando uma nova forma de
cidadania em ambientes digitais. Por meio de revisão de literatura e análise de documentos
públicos, debatem-se potencialidades e limites do Programa Acessa São Paulo, a maior e mais
longeva iniciativa do Governo de Estado de São Paulo para a inclusão digital, a partir da realidade
do interior do Estado, com destaque para o Município de Botucatu (SP). Desse estudo evidencia-se
uma abrangência tímida da iniciativa em relação à população atendida, bem como a ausência de um
projeto mais efetivo para inclusão digital que proporcione o empoderamento das tecnologias pela
sociedade.
Palavras-chave: Acessa São Paulo; Cidadania Digital; Inclusão Digital; Políticas Públicas;
Sociedade da Informação;

Introdução

As transformações ocorridas em decorrência da evolução das Tecnologias da Informação e


da Comunicação (TIC) têm sido notáveis nos mais diferentes âmbitos da organização da sociedade
– seja do ponto de vista da economia, da política ou da própria dinâmica de sociabilidade. Essa
afirmação comprova-se na medida em que se observa que as mais diferentes atividades cotidianas
têm sido mediadas ou estão diretamente dependentes dos avanços no campo das tecnologias.
Uma série de denominações tem surgido para caracterizar o conjunto de transformações
decorrentes da evolução dos processos de produção e consumo permitidos pelas TIC – como
Sociedade da Informação, Sociedade do Conhecimento, Sociedade da Aprendizagem, Sociedade
Pós-industrial, entre outras –, que apresentam semelhanças em suas definições conceituais. Para fins

1 Trabalho apresentado no GP Políticas e Estratégias de Comunicação, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação,
evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Jornalista. Mestre e doutorando em Comunicação (Unesp-Faac, Bauru-SP). Pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos em

Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã (Lecotec-Unesp). Docente e integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE) nos
cursos de graduação em Jornalismo e em Com. Social com Hab. em Publicidade e Propaganda na Fundação Educacional Dr. Raul
Bauab (Faculdades Integradas de Jaú). Desenvolve pesquisas em Políticas Culturais e de Comunicação.
3 Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia, docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação

Midiática e do Curso de Jornalismo, líder do Lecotec (Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã) da
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp). Pós-doutorado em Digitalização e Indústrias Criativas
(Universidade de Sevilha, Espanha) e Televisão Digital na Europa (Universidade Carlos III de Madri, Espanha), doutor em
Comunicação Social (Umesp), mestre em Ciência Política (Unicamp) e bacharel em Jornalismo (PUC-Campinas).

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didáticos, estabelece-se aqui o termo Sociedade da Informação como referencial para as discussões
que seguem.
Ocorre que os benefícios potencialmente proporcionados pela Sociedade da Informação não
são imediatamente sentidos pelo conjunto da sociedade, uma vez que dependem de condições
específicas de produção para que sejam efetivadas. Essas exigências vão desde a infraestrutura,
passando pelo acesso, até a alfabetização digital e a apropriação das ferramentas e possibilidades
permitidas pelas tecnologias por parte do cidadão.
Assim, nota-se que novas formas de exclusão, segregação e dominação podem surgir no
momento em que se existam parcelas da população que não possuem acesso ou
competência/habilidade para utilização efetiva das novas ferramentas, sobretudo em uma sociedade
dependente das tecnologias. É nesse momento que encontra eco a discussão sobre Cidadania Digital
e a necessidade de inclusão digital. Portanto, há que se considerar a necessidade de elaboração e
implementação de políticas públicas que sejam capazes de proporcionar a inclusão digital do
indivíduo, permitindo condições para que possa beneficiar-se das possibilidades potencialmente
ocasionadas pela Sociedade da Informação, atacando as desigualdades e consolidando uma nova
forma de cidadania em ambientes digitais.
O presente artigo apresenta um debate acerca das potencialidades e dos limites do Programa
Acessa São Paulo, a maior e mais longeva iniciativa do Governo de Estado de São Paulo para a
inclusão digital – em funcionamento desde 2000 e presente em mais de 600 municípios4. O estudo
recortou para análise a realidade do interior do Estado, com destaque à cidade de Botucatu (SP)5.
O trabalho se desenvolve em três etapas. A primeira diz respeito à revisão de literatura, a
partir de pesquisa bibliográfica e documental. O objetivo dessa etapa é a breve discussão e
delineamento dos conceitos de Sociedade da Informação, Políticas Públicas, Inclusão Digital e
Cidadania Digital. Nesse momento, apresenta-se o cenário correspondente ao objeto de estudo
proposto. A segunda etapa realiza-se a partir de pesquisa e análise de relatórios e pesquisas acerca
das atividades do Programa Acessa São Paulo, disponibilizadas pelo Governo do Estado de São
Paulo no site oficial da iniciativa.
Por fim, o trabalho apresenta considerações acerca das potencialidades e limites do projeto.
Entre as questões evidenciadas destacam-se a abrangência tímida em relação à população atendida e
a ausência de um projeto mais efetivo para inclusão digital que contemple não apenas o acesso, mas
o empoderamento das tecnologias pela sociedade.

4Informações disponíveis em: http://www.acessasp.sp.gov.br/sobre-o-acessasp/. Acesso em: 20/06/2016.


5Com população estimada pra o ano de 2015 em 139.483, o município fica distante aproximadamente 240 km da cidade de São
Paulo (SP). Informações disponíveis em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun= 350750&search=sao-
paulo|botucatu. Acesso em: 20/06/2016.

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A sociedade da informação: mudança de paradigma social e a necessidade de políticas


públicas

A sociedade tem experimentado um novo paradigma técnico-econômico, em maior ou


menor grau de acordo com suas condições materiais de produção, desde a reestruturação do
capitalismo, ocorrida entre o final da década de 1970 e início da década de 1980. Isso porque, esse
fenômeno teria inaugurado um novo modelo de produção econômica, de regulação social e de vida
cultural (TREMBLAY, 2011).
Essa nova perspectiva foi motivada pelos avanços no campo das Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TIC), que geraram transformações técnicas, organizacionais e administrativas
que têm como fatores preponderantes insumos de informação, criatividade e inovação. Segundo
Tremblay (2011, p. 60), para uma definição mais generalista, é possível afirmar que a Sociedade da
Informação tem se constituído ao redor de um núcleo de valores que tem por potencialidade: “a
horizontalidade das relações em uma organização em rede; o potencial ilimitado da tecnologia
digital; a liberdade de criação e de acesso; o internacionalismo; a diversidade dos pontos de vista e
das culturas; a possibilidade de distribuição social de recursos; e a democratização”.
Carvalho (2008, p. 147) explica que a sociedade da informação passa a ser caracterizada
pela valorização do saber como forma de acesso ao poder, “com as fontes de poder e riqueza
dependentes da capacidade de geração de conhecimento e do processamento de informações”.
Portanto, entende-se que essa sociedade permitiu o desenvolvimento de uma nova economia cujo
capital tornou-se intelectual/cognitivo, focada na atuação do ser humano, em seus recursos
intelectuais e em sua capacidade de formação de redes sociais, sobretudo sustentados e/ou
viabilizados pelas novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (BENDASSOLLI, 2007).
Neste contexto, a informação se tornaria matéria-prima no momento em que permite que os
indivíduos atuem, por meio das tecnologias, diretamente sobre a própria informação – sobrelevando
sua função como agente norteador da economia. Na verdade, os efeitos das novas tecnologias
passariam a ser perceptíveis em razão de a informação se tornar parte integrante de toda atividade
humana, individual ou coletiva, nos mais variados setores (CASTELLS, 1999).
Nessa linha, Tremblay (2011, p. 59) trabalha a ideia de Sociedade da Informação a partir de
quatro características fundamentais: o crescimento do setor de serviços, que substitui o setor
manufatureiro como o espaço principal de concentração da mão de obra; a centralidade da
informação e do conhecimento como fatores de produção; o aumento da produtividade em razão da
inovação; e a emergência de novas elites técnicas e de novos princípios de estratificação social.

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Isso indica que o autor (Ibid) compreende o conceito como uma nova fase da economia, na
qual o foco e os processos do mercado foram alterados em razão das possibilidades oferecidas pelas
Tecnologias da Informação e da Comunicação, enfatizando a importância e a necessidade de
educação para a inovação e de conhecimento como formas de poder e inclusão social – ensejando
novas exigências no que diz respeito às condições de capacitação individuais e coletivas, bem como
a emergência de novos modelos produtivos.
Tremblay (2011, p. 61), porém, explica que a Sociedade da Informação não é apenas um
estágio do desenvolvimento econômico, mas um objetivo a ser alcançado pelas diferentes
sociedades, uma vez que numa observação superficial é possível encontrar desigualdades em
equipamentos, acesso e recursos financeiros e humanos – o que denota que a ausência de políticas
públicas para o setor implica, notadamente, na perpetuação da lógica de dominação entre grupos
com diferentes condições econômicas observada em outros modelos.
De acordo com Califano (2013, p. 05), é possível apontar como definição de políticas
públicas processos que envolvem “as ações e omissões do Estado com relação a uma determinada
questão, as decisões de governo, as causas e consequências de suas atividades, os recursos ou bens
em jogo e os atores afetados ou mobilizados em torno de uma determinada questão”. Significam,
objetivamente, aquilo que o “governo escolhe fazer ou não fazer” (SOUZA, 2006, p. 24). Trata-se
da “soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que
influenciam a vida dos cidadãos” em quaisquer setores do cotidiano social (SOUZA, 2006, p. 24).
Assim, é possível destacar que a consolidação de uma sociedade da informação, e a
possibilidade de viabilização de seus benefícios no campo do desenvolvimento econômico e social,
apenas ocorre a partir da atuação de políticas públicas que permitam que uma sociedade, de uma
forma ampla, esteja inserida no conjunto de valores e possibilidades oferecidas pelo uso das TIC –
portanto, não apenas presente, mas empoderada da tecnologia. Isso enseja a discussão acerca do
fato de que, em função das transformações ocorridas na sociedade a partir da inserção e uso da
tecnologia, surgem novas exigências e competências no que diz respeito à relação entre indivíduo e
tecnologia. De acordo com Carvalho (2010, p. 97), esse contexto evidencia a necessidade de
discussão acerca daquilo que na sociedade da informação é chamado “Cidadania Digital”.

A inclusão digital como alicerce da cidadania na Sociedade da Informação

Carvalho (2008) explica que a noção de cidadania deve ser entendida como conjunto de
direitos garantidos ao sujeito. Segundo o autor (Ibid), cidadania subentende a existência de três
tipos distintos, porém interligados, de direitos: civil, político e social. A existência dessas três

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categorias determina, portanto, as condições teoricamente ideais para consolidação da cidadania em


uma sociedade.
Para Carvalho (2008), o direito civil se refere ao leque de garantias mais básicas do
indivíduo em uma sociedade, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade etc. Ou seja,
questões que asseguram o status de cidadão ao sujeito, tal como apalavrado na legislação vigente. Já
o direito político representa a garantia de que o cidadão pode e deve participar da vida política da
sociedade, seja como eleitor ou agente político, ou ainda como cidadão participativo em espaços de
deliberação, como Audiências Públicas, Reuniões Legislativas, Orçamentos Participativos, entre
outros. Na verdade, trata-se de uma segurança de que o cidadão poderá permanecer participativo em
processos decisórios no âmbito político. A terceira categoria apontada por Carvalho (2008), o
direito social, compreende questões relacionadas aos direitos de acesso do indivíduo, seja à
educação, à saúde e, mais recentemente, à comunicação e às tecnologias, entre outros, que se
referem ao desenvolvimento pessoal do indivíduo e as possibilidades de ascensão social e superação
das exclusões.
De forma ampla, Carvalho (2010, p. 97) evidencia que cidadania digital localiza-se no
processo de ampliação dos direitos conquistados pelos indivíduos nos campos social, político,
econômico e cultural aplicados aos ambientes digitais. Assim, torna-se premente o debate acerca do
fato de que no contexto de uma nova organização social gerada pela consolidação de uma
Sociedade da Informação, surge a necessidade de avaliar a questão da exclusão social do meio
digital. Segundo Carvalho (2008), não apenas o acesso às novas tecnologias da informação e da
comunicação, mas também sua qualidade no sentido da apropriação da tecnologia representa a
ascensão do cidadão às novas dinâmicas sociais e sua inserção no novo contexto social como
indivíduo autônomo.
Portanto, na medida em que grande parte dos espaços de convivência social, dos processos
de promoção de direitos sociopolíticos e das oportunidades de viabilização de acesso a novas
possibilidades econômicas migrou ao meio digital – pelo menos potencialmente –, a exclusão
digital passa a ser um elemento de reforço da exclusão social (CARVALHO, CARVALHO e
PASSOS, 2007).
Carvalho (2008) explica que caso a população não se aproprie das linguagens e das
possibilidades de uso consciente das ferramentas, de nada adiantarão as tecnologias de comunicação
e informação para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo e sua busca pela equidade social.
Por isso, o autor aponta que uma sociedade que não consiga inserir seus membros em uma vida
digital, não atingirá índices satisfatórios de igualdade social no novo contexto sociotécnico –
perpetuando situações excludentes historicamente observáveis.

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Neste momento, a questão da inclusão digital se coloca como pilar fundamental da


promoção da cidadania digital. De acordo com Carvalho (2010), o termo inclusão digital não diz
respeito apenas ao ingresso do cidadão em ambientes digitais, de forma determinista, na pseudo-
afirmação de que no momento em que o cidadão estivesse conectado necessariamente passaria a
utilizar seu potencial. “O termo ‘inclusão digital’ nos remete a um processo em que a pessoa ou
grupo de pessoas passam a compartilhar dos métodos de processamento, transferência e
armazenamento de informações que já são do uso e do costume de outro grupo” (CARVALHO,
2010, p. 99-100).
Nesse sentido, Ferreira (2003) ressalta que, sobretudo em países em desenvolvimento, a
consolidação de uma Sociedade da Informação, e a inclusão digital do indivíduo inserido nesse
contexto, passa pela necessidade de o Estado atuar, essencialmente ou minimamente, em quatro
questões: ‘Infraestrutura’; ‘Acesso e Desigualdade’; ‘Alfabetização precária’; ‘Analfabetismo
digital e Usos das tecnologias’.
Obviamente, a ausência ou a precariedade da infraestrutura determina o alcance da
viabilização de uma sociedade da informação e de seus objetivos práticos. Sem a infraestrutura
disponível, nem se cogita a reorganização produtiva a partir de insumos de informação de caráter
equitativo.
Ocorre que, no caso brasileiro, esse talvez nem seja exatamente o grande problema, apesar
de a qualidade da infraestrutura estar aquém de outros países mais desenvolvidos. Fato é que a
internet encontra-se disponível em grande parte do território nacional, seja nas residências ou
espaços públicos (como escolas, praças, lan houses públicas etc). Em relação ao acesso às
tecnologias da informação e da comunicação, o Brasil possui um contexto bastante interessante.
Apesar de disponível em grande parte do território, a internet ainda não chegou a índices
satisfatórios de acesso à população. Essa afirmação é possível a partir dos números apresentados
recentemente pela 10ª edição da pesquisa “TIC Domicílios”6, divulgada em setembro de 2015 pelo
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) – órgão integrante do Núcleo de
Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
De acordo com o levantamento, referente ao ano de 2014, o número de brasileiros de 10
anos ou mais que são usuários de Internet chegou a 55% – correspondendo a um total estimado em
94,2 milhões de usuários. Observa-se, portanto, que praticamente metade da população dessa faixa

6 Informações disponíveis em http://cetic.br/pesquisa/domicilios/indicadores. Acessado em 30/09/2015.

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etária não contou com essa ferramenta para atuação nas mais variadas áreas a que se permite – o
que sobreleva um caráter desigual e excludente.
Conforme o estudo, existe grande desigualdade de acesso entre as regiões brasileiras.
Enquanto a região Sudeste registra 63% de sua população com acesso à internet, a região Nordeste
apresenta apenas 43%. As demais regiões demonstram os seguintes índices de acesso: Sul, 56%;
Centro-Oeste, 54%; e Norte, 48%. É interessante notar que entre indivíduos residentes em áreas
urbanas, 59% são usuários de Internet, enquanto apenas 29% entre os residentes em áreas rurais
possuem acesso à rede mundial de computadores.
A utilização da rede como espaço de debate, entretanto, demanda capacidades e
competências que são majoritariamente desenvolvidas no âmbito escolar, como habilidades para
apreensão, assimilação e utilização de conteúdos e de técnicas e procedimentos. No caso do
desenvolvimento de um processo educacional que não contemple essas competências, formar-se-ia
então mais um núcleo ou possibilidade de exclusão e opressão, ainda que, no Brasil, uma maioria
absoluta da população estivesse incluída do ponto de vista digital.
Portanto, para a consolidação da Sociedade da Informação é necessária, e na verdade se
mostra como fundamental, a atuação das unidades de ensino formal, sobretudo as públicas, na
preparação do aluno em relação às competências de leitura e produção de textos, de modo que possa
utilizar das potencialidades da internet no contínuo consumo de conteúdos úteis à inovação – proto-
célula da inserção completa do indivíduo na economia da informação proporcionada pelo novo
paradigma tecnológico.
Por fim, no que se refere ao tópico ‘Analfabetismo digital e Usos das tecnologias’, e que
interessa diretamente à proposta deste projeto, evidencia-se a necessidade de reflexão acerca do fato
de que a infraestrutura, o acesso e a educação formal não geram, por si, a conscientização ou a
apropriação das ferramentas de acordo com seus potenciais oferecidos. A educação para o uso
consciente e eficiente das novas tecnologias deve ser, portanto, foco de preocupação do Estado,
como também peça necessária dos componentes dos currículos escolares e ações específicas de
Governo.
Essa perspectiva é reafirmada pela 10ª edição da pesquisa “TIC Domicílios”7 que demonstra
que a atividade mais realizada pelos usuários de Internet, nos três meses anteriores à pesquisa, foi o
envio de mensagens instantâneas por meio de plataformas de redes sociais – como o chat do
Facebook, chat do Skype ou aplicativo WhatsApp (83% dos usuários de Internet). Isso aponta para
o fato de que, apesar de o acesso à internet estar disponível, sobretudo por meio dos dispositivos

7 Informações disponíveis em http://cetic.br/pesquisa/domicilios/indicadores. Acessado em 30/09/2015.

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móveis pessoais, a utilidade prática dessa via potencial de complementação didático-pedagógica é


subutilizada pela falta de educação para o uso consciente dessa tecnologia da informação e da
comunicação.
Essa situação vai de encontro à definição de Alfabetização digital proposta por Carvalho
(2010), para a qual o termo refere-se ao processo de compreensão e a habilidade no uso das
tecnologias.

Aqui o cidadão inserido na rede consegue explorar seus caminhos, buscando


alternativas e benefícios. Esses benefícios podem ser diversos, desde a economia
de tempo, já que boa parte das atividades hoje pode ser realizada via internet.
Desde um simples orçamento até o pagamento de um tributo são possíveis de ser
realizados via rede, ampliando o domínio cognitivo e intelectual do cidadão. Na
rede, são muitos os bancos de dados sobre as mais variadas informações. Há
também a possibilidade de se criar novos conteúdos, de fazer com que o
conhecimento seja gerado e acumulado constantemente, exemplos de
potencialidades do meio. (CARVALHO, 2010, p. 100)

Ocorre, porém, que a discussão não se resume à dicotomia exclusão/inclusão, uma vez que
existem diferenças na qualidade e nas possibilidades entre os indivíduos teoricamente inseridos no
universo digital, que podem determinar novas formas de segregação social. Silveira (2008, p. 57)
afirma que o processo de inclusão digital deve considerar pelo menos quatro assimetrias no uso
individual e coletivo das redes: “1) o acesso à banda larga; 2) o conhecimento da língua inglesa; 3)
a bagagem cultural; 4) a habilidade tecnológica e os saberes técnicos”.
De acordo com Silveira (2008), a conectividade em internet de banda larga é essencial para
o desenvolvimento eficaz de atividades em rede, seja no campo da interatividade ou da exploração
dos recursos. Sobre o segundo e terceiro aspectos, Silveira (2008) destaca que “o conhecimento da
língua inglesa e a boa formação educacional que compõem o repertório cultural da população
podem gerar um uso e aproveitamento completamente desigual das redes informacionais”. Da
mesma maneira que Ferreira (2003) apresenta a educação precária como fator problemático,
Silveira (2008, p. 57) enfatiza o fato de que as possibilidades de navegação ficam limitadas pela
ausência de domínio do idioma inglês, bem como a baixa capacidade de concentração e leitura,
decorrente de uma educação precária, tendem a produzir uma utilização empobrecida e limitada dos
recursos da Internet. “Estas limitações dificultam também o avanço do teletrabalho, principalmente
nas regiões em que a chegada da banda larga poderia representar o surgimento de empregos em
rede, bem como, dificultam o acompanhamento das diversas ferramentas e tecnologias que surgem
constantemente na rede” (SILVEIRA, 2008, p. 58).
Portanto, a consolidação de uma cidadania digital no contexto da Sociedade da Informação
depende da correção de desigualdades que têm se perpetuado ao longo do diferentes momentos e

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paradigmas sociais. Dessa forma, as políticas públicas de inclusão digital se colocam cada vez mais
como alicerce de fortalecimento democrático e distribuição das condições de produção no universo
capitalista digital.

Acessa São Paulo: projeto, objetivos e abrangência

No Estado de São Paulo, o maior e mais longevo programa governamental de inclusão


digital é o Acessa São Paulo8, em funcionamento desde 2000 e presente em mais de 600
municípios9. Trata-se de uma iniciativa de inclusão digital do Governo estadual, coordenado pela
Subsecretaria de Tecnologia e Serviços ao Cidadão da Secretaria Estadual de Governo – com gestão
da Diretoria de Serviços ao Cidadão da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São
Paulo (Prodesp).
Conforme informações do site oficial do Programa, seu objetivo é o de oferecer “para a
população do Estado o acesso às novas tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), em
especial à internet, contribuindo para o desenvolvimento social, cultural, intelectual e econômico
dos cidadãos paulistas”.
Para atingir seus objetivos, o Programa Acessa São Paulo mantém espaços públicos com
computadores para acesso gratuito à internet. Conforme informações do site do Programa, o Acessa
São Paulo visa “contribuir para a consolidação de uma democracia mais inclusiva, disponibilizando
oportunidades de formação, informação e colaboração que contribuam para a construção de um
cidadão mais autônomo, crítico e feliz”10. É destacada como missão da iniciativa a de “promover o
empoderamento digital do cidadão oferecendo infraestrutura gratuita de tecnologia e comunicação,
orientação, informação e formação, em um ambiente colaborativo”11.
O programa é desenvolvido por meio de unidades que funcionam em diferentes
estabelecimentos do Governo do Estado, bem como em espaços implantados em patrimônios
municipais – estas últimas que constituem a maior parcela das unidades do Programa. Todos os
postos contam com monitores/estagiários, sem a exigência de formação específica para
desenvolvimento das atividades, tendo os monitores a responsabilidade de cadastrar os usuários,
organizar a utilização de serviços e auxiliar em dúvidas quanto à navegação na internet. A iniciativa

8 Idem.
9 Informações disponíveis em: http://www.acessasp.sp.gov.br/sobre-o-acessasp/. Acesso em: 20/06/2016.
10 Idem.
11 Idem.

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também disponibiliza cursos e fomenta projetos comunitários com uso das tecnologias da
informação, bem como faz a divulgação e facilitação do uso de serviços de governo eletrônico12.
De acordo com relatório de atividades referente ao ano de 201513, no período, o Programa
Acessa São Paulo registrou 199.225 usuários cadastrados (aptos a utilizar o serviço), com 4.839.631
atendimentos (número de utilizações do serviço por parte dos usuários cadastrados). Esses números
são referentes às cidades do interior do Estado.
O Programa Acessa São Paulo também disponibiliza números referentes ao perfil dos
usuários14, que são resultado de pesquisa realizada pelos próprios monitores referente ao ano de
2014. Conforme o levantamento, as faixas etárias de ‘11 a 14’, ‘15 a 19’ e ‘30 a 39’ são as que mais
utilizam os serviços da iniciativa, representando 18% cada uma no cômputo total. Já a faixa etária
de ‘40 a 49’ registrou 14% dos atendimentos. Em seguida, ‘20 a 24’ e ‘20 a 29’ representam 10%
dos atendimentos, cada uma. Por fim, as faixas etárias de ’50 a 59’, ‘mais de 60’ e ‘0 a 10’
registraram 7%, 4% e 1%, respectivamente. Desses usuários, 70% eram homens e 30% mulheres,
dos quais 67% declararam não ter filhos.
Quanto ao grau de escolaridade, 30,5% declararam possuir Ensino Médio completo, 20,4%
Ensino Fundamental incompleto, 12,9% Ensino Médio incompleto, 11, 6% Ensino Fundamental
completo, 11,4% Ensino Superior incompleto, 9,4% Ensino Superior completo, 2,4% Pós-
graduação e 1,4% lê e escreve sem nunca ter ido à escola.
Em relação à ocupação laboral dos usuários, a pesquisa aponta que 27% trabalham (com ou
sem carteira assinada), 25% são estudantes que não trabalham, 25% são desempregados a procura
de oportunidades de trabalho, 5% são aposentados ou pensionistas, 3% declararam trabalhar como
“aprendiz, ajudante etc”, 3% são donas de casa e 3% declararam não trabalhar e não estarem a
procura de emprego. Por fim, 9% responderam ao campo aberto com declarações de ocupação
diversas, como ‘autônomo’, ‘afastado’, ‘férias’, ‘estagiário’ etc.
Quanto à renda familiar, 40% afirmaram receber de 1 a 2 salários mínimos (de R$ 756,00
em 2014), 36% até 1 salário mínimo, 18% de 2 a 4 salários mínimos, 4% de 4 a 6 salários mínimos
e apenas 2% informaram receber mais que 6 salários mínimos.
A pesquisa também questionou os usuários em relação ao tempo em que utilizavam o
serviço. Sobre essa questão, 27% declararam freqüentar de 1 a 3 anos, 17% de 3 a 5 anos, 14% de 6
a 12 meses, 11% de 1 a 3 meses, 10% de 3 a 6 meses, 6% há menos de 1 mês e 2% há mais de 10
anos.

12 Idem.
13 Disponível em: http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_dezembro_2015.html. Acesso em 20/06/2016.
14 Disponível em: http://www.acessasp.sp.gov.br/wp-content/arquivos/ponline/ponline_2014.pdf. Acesso em: 20/06/2016.

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Em relação à frequência de utilização cotidiana, o levantamento revelou que 29,4% dos


usuários estavam presentes nos postos do Acessa São Paulo de 1 a 2 dias da semana, 27,5% de 3 a 4
dias da semana, 23,1% todos os dias da semana, e 16,8% menos de uma vez por semana.
Interessante frisar ainda que apenas 7% dos usuários declararam possuir algum tipo de deficiência.
Sobre os usos do Programa Acessa São Paulo pelos usuários, o levantamento evidenciou que
54% o utiliza para procurar emprego. Entretanto, também é interessante notar que a navegação por
sites de redes sociais aparecem como as atividades mais realizadas.
O Programa Acessa São Paulo não disponibiliza o perfil dos usuários por município. Porém,
é possível encontrar informações acerca do número e localidade das unidades, da infraestrutura
física e de recurso humano, bem como do número de usuários cadastrados e do número de
atendimentos.
Na cidade de Botucatu-SP, conforme o relatório de atividades referente ao mês de maio de
201615, há cinco unidades ativas do Programa Acessa São Paulo, três delas em localidades afastadas
do centro geográfico e econômico da Cidade.
A unidade localizada mais próxima ao centro geográfico da cidade é a unidade Acessa São
Paulo Centro16. O posto conta com 2 monitores/estagiários e 10 equipamentos17. No ano de 201518,
a unidade registrou 119 usuários cadastrados, com 2.027 atendimentos realizados. Ainda no Centro
da Cidade, a unidade localizada no Programa Poupatempo19 conta com 3 monitores/estagiários e 5
equipamentos20. No ano de 2015, o referido posto registrou 1.229 usuários, com 9.770
atendimentos.
Distantes do centro geográfico e econômico da cidade, Botucatu conta com as unidades
localizadas nas Subprefeituras dos Distritos de Rubião Júnior21 e de Anhumas/César Neto22, e um
posto localizado no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS-leste)23. As três localidades
estão próximas à zona rural.

15 Disponível em: http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_maio_2016.html. Acesso em: 20/06/2016.


16 Endereço: Rua Cardoso de Almeida, nº 1001, Centro, Botucatu-SP.
17 Disponível em: http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_maio_2016.html. Acesso em: 20/06/2016.
18 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao ano de 2015. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_dezembro_2015.html. Acesso em 20/06/2016.
19 Endereço: Av. Mal. Floriano Peixoto, nº 461, Centro, Botucatu-SP. O Poupatempo se refere a um Programa do Estado de São
Paulo no qual estão localizados órgãos e empresas prestadoras de serviço de natureza pública. Informações em
https://www.poupatempo.sp.gov.br/. Acesso em 20/06/2016.
20 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao mês de maio de 2016. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_maio_2016.html. Acesso em: 20/06/2016.
21 Endereço: Rua João Calônego, nº 60, Distrito de Rubião Junior, Botucatu-SP.
22 Endereço: Rua Firmino Pontes Ribeiro, nº 161, Distrito de César Neto, Botucatu-SP.
23 Endereço: Rua Sebastião Gonçalves da Cunha, nº304, Jardim Ciranda, Botucatu-SP.

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O posto do Acessa São Paulo do Distrito de Rubião Júnior conta com 10 equipamentos e 1
monitor/estagiário24; No ano de 2015, foram registrados 9.256 atendimentos referentes a 570
usuários cadastrados25. Já a unidade localizada no Distrito de Anhumas/César Neto conta com 8
equipamentos e 2 monitores/estagiários26; em 2015, realizou 2.832 atendimentos de 44 usuários
cadastrados27. Por fim, o posto localizado no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS-
leste) conta com 8 equipamentos e 2 monitores/estagiários28; em 2015 registrou 92 usuários
cadastrados, com 2.027 atendimentos.
Portanto, na somatória das 5 unidades localizadas em Botucatu, em 2015, o programa
Acessa São Paulo registrou 2.054 usuários cadastrados e 24.569 atendimentos.

Considerações sobre o Programa Acessa São Paulo e a realidade local: política de


inclusão digital ou de acesso à internet?

Os números do Programa Acessa São Paulo surpreendem positivamente a princípio. Porém,


isso se atenua na medida em que são colocados em um contexto maior. Isso significa dizer que,
apesar de estar presente na densa maioria dos municípios do interior do Estado de São Paulo,
conforme apontam os relatórios consultados, o Programa não atinge percentuais significativos de
indivíduos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado de São
Paulo possui uma população estimada para 2015 em 44.396.48429. Desse total, 11.967.825 estão
presentes na Capital e 32.428.659 no interior. Isso significa, levando em consideração o percentual
de cidadãos com acesso à internet na Região Sudeste conforme a 10ª edição da pesquisa “TIC
Domicílios”30, aplicado à população do Estado de São Paulo, aproximadamente 16 milhões de
pessoas não contam com acesso à internet em todo o Estado, sendo cerca de 11,5 milhões no
interior. Diante desses números, é interessante notar que segundo relatório de atividades de
atividades de 2015, aproximadamente 200 mil usuários foram cadastrados.

24 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao mês de maio de 2016. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_maio_2016.html. Acesso em: 20/06/2016.
25 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao ano de 2015. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_dezembro_2015.html. Acesso em 20/06/2016.
26 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao mês de maio de 2016. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_maio_2016.html. Acesso em: 20/06/2016.
27 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao ano de 2015. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_dezembro_2015.html. Acesso em 20/06/2016.
28 Informações disponíveis no relatório de atividades referente ao mês de maio de 2016. Disponível em:
http://docs.acessasp.sp.gov.br/relatorios/relatorio_geral_maio_2016.html. Acesso em: 20/06/2016.
29 Informações disponíveis em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?lang=&sigla=sp. Acesso em 20/06/2016.
30 Informações disponíveis em http://cetic.br/pesquisa/domicilios/indicadores. Acessado em 30/09/2015.

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Portanto, ainda sem discutir a questão da apropriação da tecnologia às necessidades


cotidianas, é possível apontar que é pouco representativa a participação da população do ponto de
vista do acesso ao Programa Acessa São Paulo. Entretanto, isso não significa que se trata de uma
iniciativa sem sentido, uma vez que é possível perceber que 76% dos usuários do Programa têm
renda familiar de até 2 salários mínimos – o que demonstra que a iniciativa pode representar
oportunidades no campo educacional, cultural, econômico e político que essa parcela da sociedade
talvez não pudesse alcançar de outra forma, dependendo do suporte prestado.
Outra questão positiva é o fato de 80% dos usuários declararem acessar o Programa pelo
menos 1 vez por semana, denotando que, ainda que de forma tímida, essa tecnologia tem estado
presente no cotidiano do indivíduo.
No mesmo sentido, é fundamental destacar que 41% dos respondentes da pesquisa
acessaram o Programa há menos de 1 ano. Disso pode-se inferir que o Programa Acessa São Paulo,
mesmo após 16 anos de atividades, ainda tem angariado novos usuários.
A realidade local reflete a situação do Programa no âmbito Estadual. Isso porque, se
considerados os números das pesquisas consultadas como parâmetro de análise à realidade local, o
contexto da cidade de Botucatu apresenta os seguintes números: população estimada para 2015 em
139.483 habitantes31, com erca de 51 mil cidadãos (37%) não teriam acesso à internet. Dessa forma,
o registro de 2.054 usuários cadastrados em 2015 teria pouca representatividade.
Cabe ressaltar, neste caso específico, o fato de que as unidades do Programa Acessa São
Paulo no município de Botucatu têm localização estratégica, haja vista que três delas encontram-se
e localidades próximas à zona rural – justamente a população cuja 10ª edição da pesquisa “TIC
Domicílios” apontou ser minoria no índice de acesso.
É possível apontar, portanto, que no aspecto da abrangência o Programa Acessa São Paulo,
apesar de atingir majoritariamente o perfil de usuários que menos tem acesso (dois ou menos
salários mínimos), a iniciativa é pouco abrangente em número de beneficiários – seja no âmbito
Estadual ou no local. Essa questão pode denotar, especialmente, a falta de divulgação do próprio
Governo do Estado de São Paulo ou ainda a ausência de uma política de fomento à utilização.
Porém, para além da pouca amplitude populacional do programa, é essencial a discussão
acerca da carência de uma política de apropriação efetiva da tecnologia por parte da população. Isso
porque, conforme as informações disponíveis no site oficial da iniciativa, há controvérsias
fundamentais ligadas ao vínculo administrativo do Programa Acessa São Paulo e ao perfil dos
monitores responsáveis.

31 Informações disponíveis em http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=350750&search=sao-paulo|botucatu.


Acessado em 30/09/2015.

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Quando se discute a questão da inclusão digital para promoção ou fortalecimento da


cidadania digital, debatem-se, na verdade, formas de capacitação/educação para utilização das
tecnologias, de forma que possam ser apropriadas pelo cidadão, ocasionando ganhos efetivos no
que tange à autonomia do usuário da internet e as possibilidades por ele vislumbradas diante dos
ambientes digitais.
A iniciativa, Programa Acessa São Paulo, é coordenada pela Subsecretaria de Tecnologia e
Serviços ao Cidadão da Secretaria Estadual de Governo – com gestão da Diretoria de Serviços ao
Cidadão da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp). Embora
haja, segundo o endereço eletrônico do Programa, parceria com o projeto Escola do Futuro da
Universidade de São Paulo (USP), apesar de o site não aprofundar essas informações, um programa
de inclusão digital deveria ter o aporte e vínculo direto com a Secretaria de Estado da Educação, na
condição de parte significativa de política pública específica e não de programa isolado e
comandado por órgão de serviços – ainda que no âmbito digital.
No mesmo sentido, o fato de os monitores/estagiários não possuírem formação específica,
apesar de passarem por processos de capacitação, representa um déficit no que tange às
possibilidades de auxílio aos usuários em ultrapassarem as barreiras de navegação e usabilidade das
ferramentas disponíveis.
Como evidenciado por Silveira (2008, p. 58), apesar de notáveis imperfeições apresentadas
por projetos como o Acessa São Paulo, essas iniciativas têm demonstrado que o acesso, por si, traz
algum tipo de benefício aos seus usuários, como novas oportunidades culturais e profissionais.
Ocorre que, do ponto da atenuação das desigualdades sociais, no contexto da Sociedade da
Informação, a ausência de políticas que ataquem efetivamente o não empoderamento da sociedade,
de forma ampla e isonômica, em relação às tecnologias representará a perpetuação da dominação
exercida por parcelas sociais sobre outras.
Por fim, é interessante notar que, apesar de facilitar o acesso a serviços governamentais
eletrônicos, aos ambientes digitais de sociabilidade e a alguns espaços de busca por oportunidades,
ainda que para uma pequena parcela da população do Estado de São Paulo, o Programa Acessa São
Paulo não irá cumprir os objetivos de consolidação de uma democracia inclusiva, promovendo
cidadania digital por meio da inclusão do indivíduo na Sociedade da Informação, enquanto não
ocorrer um trabalho mais específico de alfabetização digital que vise a apropriação e a autonomia
do indivíduo em relação às Tecnologias da Informação e da Comunicação, permitindo-lhe a
transformação de sua realidade.

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Referências bibliográficas

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