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08/03/2006
Especialistas divididos em relação às chances de conter uma
eventual pandemia de gripe aviária
No momento em que dirigentes de serviços de saúde pública do mundo inteiro estão
reunidos em Genebra, num congresso da Organização Mundial da Saúde, alguns
cientistas questionam a viabilidade de qualquer estratégia de contenção de uma
eventual pandemia

Andrew Jack *

Enquanto os principais funcionários da saúde do mundo inteiro encerram nesta quarta-feira


(7/3), em Genebra (Suíça), um congresso no qual foram
discutidas as melhores maneiras de tentar limitar o alastramento de uma
possível futura pandemia de gripe aviária entre os seres humanos, os
especialistas permanecem divididos em relação às suas chances de sucesso.

Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocou 30 especialistas


internacionais com a missão de reavaliar sua "estratégia de contenção". O objetivo é de
produzir até o final do mês uma versão final deste elenco de medidas, para então começar a
pôr em prática as decisões que terão sido tomadas.

A meta é de "esmagar dentro do ovo" a disseminação de todo e qualquer vírus gripal que vier
a surgir no futuro e que seja transmissível entre humanos, por meio de um "cobertor de fogo"
de remédios anti-virais a serem ministrados a todas as pessoas que estejam na zona onde
surgiu o foco de infecção.

"Nós não estamos indefesos, se agirmos coletivamente, e imediatamente",


afirmou Margaret Chan, a funcionária encarregada de implantar a estratégia da OMS de luta
contra a influenza (doença infecciosa aguda de origem viral que acomete o trato respiratório,
ocorrendo em epidemias ou pandemias; o seu nome deriva da suposta influência planetária
sobre a saúde) no seu discurso de abertura do congresso, nesta segunda-feira (6).

Entre as questões em pauta, os especialistas discutem se a estratégia pode funcionar, o que


determina as probabilidades de sucesso, e, até mesmo, se vale a pena alocar os parcos
recursos da saúde pública num tal
empreendimento.

A idéia da contenção ganhou credibilidade no verão passado, com a publicação nos jornais
especializados "Nature" e "Science", por acadêmicos britânicos e americanos, de dois
modelos científicos distintos que simulam a erupção de uma epidemia na Tailândia. Eles
defendem a tese de que a contenção poderia funcionar, sob certas condições.

"Se nós não contivermos uma erupção de epidemia na fonte, ela se espalhará por todo o
planeta", avalia Ira Longini, um professor de biologia e estatística da Universidade de
Washington, e autor do artigo publicado pela "Science", no qual ele sugere que 100.000 a 1
milhão de doses de anti-virais poderiam ser suficientes.

Houve uma divergência desde o começo, uma vez que Neil Ferguson, do Colégio Imperial de
Londres, o autor principal do artigo publicado na "Nature", sugeriu que 2 a 3 milhões de doses
seriam necessárias para se ter alguma chance de sucesso.

Mas ambos os estudos oferecem esperanças de que, pela primeira vez, uma
pandemia de vírus gripal poderia ser contida na fonte, em vez de se
disseminar de maneira descontrolada por todo o globo.

As suas conclusões tiveram uma grande repercussão quando a Roche, o grupo do setor
farmacêutico baseado na Suíça que produz o Tamiflu, o principal medicamento anti-viral
existente, doou uma reserva de 3 milhões de doses
para tratamento para a Organização Mundial da Saúde. Desde então, este
primeiro lote foi reforçado com a suplementação de outros 2 milhões de
doses, enquanto a companhia tomou iniciativas visando a montar estoques em nível regional,
principalmente na Ásia.

Entretanto, mais recentemente, Marc Lipsitch, da Faculdade de Saúde Pública de Harvard


escreveu junto com alguns colegas um artigo publicado no jornal online "Public Library of

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Science Medicine" ("Livraria Pública de Medicina Científica), no qual ele defende que a
probabilidade de se implantar uma contenção bem-sucedida é muito reduzida.

Segundo ele, mesmo se uma erupção localizada fosse detida, outras


provavelmente se seguiriam a ela, o que iria requerer a utilização de um
grande volume de doses anti-virais toda vez que isso fosse ocorrer.

"Existem grandes chances para que algumas das hipóteses sejam contrariadas", disse. Para
que o plano seja bem-sucedido, os modelos de contenção requerem em geral que uma
erupção da doença não seja iniciada numa área densamente povoada, que ela seja detectada
de maneira precoce, e que as iniciativas sejam acompanhadas por medidas tais como a
colocação das pessoas atingidas em quarentena.

Ira Longini defendeu a tese de que é reduzida a chance de mutação de um


vírus da gripe aviária capaz de gerar uma pandemia, ocorrer mais de uma vez, mas ele
reconheceu: "Se for uma cepa pouco virulenta e não tão bem adaptada aos humanos, existe
uma chance muito grande de detê-lo. Mas se ele for mais agressivo, não existe praticamente
nenhuma chance de conseguir debelar a pandemia".

Ele descartou a probabilidade de que as restrições às viagens aéreas - que foram propostas
por vários países - poderiam se revelar eficientes, mas sugeriu que medidas que favoreçam o
"isolamento social", tais como o
fechamento de estabelecimentos escolares e universitários, possam ajudar a limitar o impacto
de uma pandemia.

Numa declaração oficial, os dirigentes da Organização Mundial da Saúde


afirmam: "Mesmo se a pandemia não puder ser detida, as intervenções dos
serviços de saúde pública poderiam ganhar tempo e permitir aos países
reforçarem seus sistemas de proteção, acelerando a produção da vacina
anti-viral. Mesmo se houver uma chance pequena... a OMS tem a
responsabilidade de tentar".

* Frances Williams colaborou com reportagem em Genebra.

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Gripe aviária

Tradução: Jean-Yves de Neufville

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