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ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL

PROFESSOR: DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO

2013_02

Material base desenvolvido pela professora Gisele Walczak da Silva


Professor Daniel Viegas Ribas Filho

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL EM CONTABILIDADE

SUMÁRIO

1. OBJETO E OBJETIVO DA ÉTICA ................................................................ 3

2. CONCEITO DE ÉTICA ................................................................................. 11

3. O CAMPO DA ÉTICA .................................................................................. 16

4. FONTES DAS REGRAS ÉTICAS ................................................................ 24

5. COMPORTAMENTO ÉTICO ........................................................................ 26

6. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL ......................................................... 37

7. O PROFISSIONAL E O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO ................................ 39

8. ÉTICA E QUALIDADE ................................................................................. 47

9. A ÉTICA E A LEI.......................................................................................... 49

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Ética é a disciplina que dispõe sobre o comportamento humano adequado


e os meios de implementá-lo, levando-se em consideração os
entendimentos presentes na sociedade.

1. OBJETO E OBJETIVO DA ÉTICA

A convivência em sociedade conduz as pessoas a travarem entre si grande


número de relacionamentos. Esse quadro tem por base a necessidade de se
atingirem determinados objetivos, os quais podem ser de natureza individual ou
coletiva.

Tais relacionamentos são influenciados por aspectos ligados ao


comportamento humano que, por sua vez, recebe influencia das crenças e
valores que cada pessoa carrega. É neste contexto que podem surgir conflitos
entre as pessoas envolvidas nestes relacionamentos sociais, visto que é
comum a busca de objetivos antagônicos.

Um exemplo é uma pessoa que adentra uma loja a procura de um aparelho


eletrodoméstico e certamente na mesma encontrara alguém com o objetivo de
vender eletrodomésticos. Para que ambos objetivos concretizem-se é essencial
um relacionamento entre as partes.

No exemplo temos pessoas com objetivos opostos e surgirão questões


relacionadas ao produto tais como: marca, preço, condições de pagamento e
entrega. Na discussão para resolução de tais questões cada lado assumira
uma posição e um comportamento próprio dentro daquilo que acredita ser certo
e justo para a situação; assim os objetivos individuais só serão atingidos caso
as pessoas cheguem a um ponto de um entendimento comum.

Esta situação é comum em nossa sociedade e requer decisões simples, já


outras questões de caráter coletivo requerem discussões mais complexas. O
principal desafio destas questões é encontrar um “ponto de entendimento”,

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eliminando ou atenuando o conflito de interesses que envolve as pessoas em


cada situação.

Para que haja uma convivência pacifica no âmbito de cada sociedade faz-se
necessário que cada pessoa, dentro das fronteiras delimitadas por suas
crenças e valores, assuma comportamentos tais que respeitem seus
semelhantes naquilo que é de seu direito.

O Homem em Sociedade

Desde seu nascimento e em toda sua existência o homem vive em sociedade.


O termo sociedade pode ser definido de várias maneiras, sempre em função do
contexto no qual ele encontra-se inserido. Tome-se a seguinte definição:
“integração verificada entre duas ou mais pessoas, que somam esforços para
que determinados esforços sejam alcançados.”

A integração entre pessoas só se torna possível a partir do momento em que


exista um relacionamento estabelecido entre as mesmas, ou seja, viver em
sociedade significa a manutenção de relacionamentos entre os membros que a
compõem.

Muitos e de diversas naturezas são os relacionamentos estabelecidos no


cotidiano do ser humano. Partindo do relacionamento primário que envolve pais
e filhos, é possível enumerar diversos outros que podem ocorrer na escola, no
trabalho, no lazer, na religião.

Cada um destes relacionamentos tem uma razão particular para existir e,


naturalmente, busca objetivos específicos. Podemos então olhar cada um deles
como uma sociedade particular.

A quantidade de relacionamentos existentes entre os membros de determinada


sociedade torna complexa a vida em comum. Em principio essa complexidade
reside no fato de uma mesma pessoa fazer parte de várias sociedades que
podem buscar atingir objetivos opostos.

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É de se notar que a participação de cada pessoa em determinada sociedade


tanto pode acontecer por escolha própria (torcer por um time) como pode advir
de um fato relacionado à natureza (constituição de família), ou ainda por uma
imposição normalmente de caráter legal (forças armadas).

Deve ser lembrado ainda que o fato de cada tipo de sociedade ter um motivo
especifico para existir e objetivos próprios para perseguir não significa que as
sociedades existam independentemente umas das outras. Na verdade existe
um inter-relacionamento direto e constante entre diversos tipos de sociedades,
ou seja, os objetivos de cada uma delas para serem atingidos depende do
relacionamento que a sociedade mantém com as demais.

Todos os tipos de sociedades podem ser vistos como uma sociedade mais
ampla, limitada por fronteiras geográficas tais como vilas, bairros, cidades,
estados e países. Sociedades deste tipo têm seus próprios objetivos, entre os
quais se destacam a conservação dos costumes e bem estar de seus
habitantes, dentre outros.

Todas estas sociedades estão relacionadas entre si de alguma forma, inclusive


no que diz respeito aos países. Com base nesta visão ampliada todos os
homens formam uma única sociedade, a sociedade dos habitantes terrestres,
sendo as demais sociedades derivadas desta.

Independente de sua vontade cada homem esta obrigado a conviver com os


demais e esta convivência transcende fronteiras entre as pessoas, isto porque,
para atender seus anseios ao longo de sua vida, cada pessoa em particular e a
sociedade na qual ela convive esta obrigada a manter relacionamentos com as
demais.

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Ética e Valores

Ao nascer cada pessoa tem seu “berço” que lhe serve como primeira referência
na vida e sobre a vida e é representado pelo conjunto de referências que o
cercam, entre as quais estão: família, raça, religião, país.

Parte destas condições iniciais pode ser alterada ao longo da existência


enquanto outra parte lhes acompanhara ao longo de toda vida. É importante
lembrar que estas condições estarão influenciando as pessoas em todo
momento.

Adicionalmente às condições que a cercam, cada pessoa recebe desde cedo


um conjunto de informações a respeito da vida, informações estas que tratam
de assuntos a respeito da sociedade e que abrangem questões ligadas à
justiça social entre os homens.

Nos primeiros anos a pessoa não possui discernimento suficiente para


entender de forma completa as informações que lhe são passadas, e por isso
ela simplesmente aceita aquela informações. Com o passar do tempo esta
situação de passividade diminui à mediada que as pessoas recebem tais
informações elas apreendem a analisá-las e aceita-las ou não.

Como é de se esperar, o comportamento das pessoas é fortemente


influenciado pelas condições que cada uma tem a seu redor, da mesma forma
que pelas condições adicionais que recebe pela vida afora.

Afirmar que cada pessoa tem sua visão própria da vida significa dizer que elas
atribuem valores diferentes para fatos; significa que cada um tem sua própria
reação e seu próprio comportamento diante de um mesmo fato.

O fato de pessoas distintas apresentarem comportamentos distintos diante de


situações iguais, nem sempre implica que exista uma parte “certa” e outra
“errada”. Significa tão somente que cada parte tem sua visão da própria vida
isto em decorrência das condições que possui e das informações que recebe.

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Vale destacar que o comportamento das pessoas não é estável, em face das
modificações sofridas nas condições que acompanham cada pessoa durante a
vida. Não é imutável também em virtude da capacidade que cada uma tem de
analisar e entender as informações que lhes são passadas, caso em que pode
modificar seus valores e transformar seu comportamento.

Uma visão clara da diferença entre valores das pessoas, e em conseqüência


dos comportamentos, pode ser vista naquilo que diz respeito ao atendimento
de suas necessidades no dia-a-dia.

É próprio do ser humano buscar satisfazer a uma série de necessidades como


alimentar-se, vestir-se, abrigar-se. Essas necessidades têm seu atendimento
diretamente atrelado às condições que os cercam em cada fase da vida.

Na escala de valores de uma família de baixa renda, o valor atribuído às


necessidades básicas certamente encontra-se em patamar superior ao do valor
atribuído às necessidades menos imediatas, como lazer. Esse quadro é
diferente quando a escala de valores é de uma família de alta renda, cujas
necessidades básicas já estão supridas.

Como é natural, quanto maior o distanciamento verificado entre as condições


de vida das pessoas certamente maior será a diferença no que se refere ao
conjunto de informações a respeito da vida recebido de forma individual, da
mesma forma que diferente serão as necessidades a que cada uma busca
atender de maneira mais imediata, ou seja, maior será o distanciamento de
seus valores.

Um exemplo é que determinadas sociedades veneram alguns tipos de animais


como se deuses fossem. Para esse tipo de sociedade é inconcebível o
sacrifício destes animais, fato este que não tem nenhum significado em outras
sociedades. Para o primeiro tipo de sociedade o valor atribuído ao animal é
superior ao valor atribuído pelo segundo tipo de sociedade, que enxerga aquele

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animal tão somente como um simples animal e às vezes como fonte alternativa
de alimento.

As diferenças verificadas entre as pessoas provocam o aparecimento de


conflitos no meio da sociedade, uma vez que colocam frente a frente pessoas
que buscam atingir vários objetivos e que enxergam a vida através de seus
valores.

Ética e Formas de Conduta

O fato das pessoas fazerem parte de uma mesma sociedade não implica que
elas sejam iguais, isto é, que pensem da mesma forma, que acreditem nas
mesmas coisas e que individualmente busquem o mesmo objetivo, que
desejem atender as mesmas necessidades. Cada pessoa carrega seus
próprios valores e suas próprias crenças. É natural, adicionalmente a
constatação de que cada sociedade tem seus interesses próprios, cada pessoa
tem seus interesses particulares.

A perseguição de objetivos diferentes por parte de pessoas que se comportam


de maneira desigual, isto é, a busca de interesses distintos, intra e inter-
sociedades, conduz ao surgimento de conflitos de interesses, algumas vezes
entre indivíduos, outras entre indivíduos e a sociedade, o que significa que em
determinados momentos as pessoas precisam decidir qual interesse atender
em primeiro plano, qual comportamento adotar diante de determinadas
situações ou, de outro modo, decidir o que é justo, o que é certo, o que é
errado, o que é bom, o que é ruim.

Tais conflitos de interesses em várias situações, em face do comportamento


adotado pelas pessoas, individualmente ou pelas sociedades como um todo,
podem trazer como conseqüências prejuízos capazes de atingir tanto quem
assumiu o comportamento em defesa de seus interesses, como quem teve seu
interesse contrariado.

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O cotidiano nos apresenta muitas situações nas quais, em virtude das decisões
tomadas, dos comportamentos assumidos e dos interesses contrariados
prejuízos individuais ou coletivos são causados, exemplos:

 Carro que avança um sinal vermelho;


 Funcionário que aceita um suborno;
 Marginal que realiza um assalto;
 Briga entre torcidas de times adversários;
 Proibição de pessoas de determinada raça de freqüentar um local;
 Guerra entre dois povos.

Ainda que o ser humano seja obrigado a viver em sociedade, tal convivência
nem sempre é pacifica, sendo tão mais difícil quanto maiores forem os conflitos
de interesses nela existentes. Vale lembrar que quanto maior for a distancia
existente entre as condições de vida de cada segmento da sociedade, mais
complexa se torna a solução para tais conflitos.

A questão que se coloca é: o que é direito quando o interesse de determinada


pessoa contraria o de outra, isto é, o que é certo ou errado?

Todos esses problemas tão presentes em qualquer sociedade, e relacionados


com o comportamento das pessoas, podem ser apontados genericamente
como problemas ligados à Ética.

Sociedade e Ética

Entender os conflitos existentes entre as pessoas, buscando suas razões,


como resultado direto de suas crenças e valores, e com base nisto estabelecer
tipos de comportamentos que permitam a convivência em sociedade, é o
objetivo de estudo da Ética.

Da mesma forma que para o homem se torna necessária à convivência em


sociedade para alcançar seus objetivos particulares, para cada sociedade é

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imprescindível à presença da Ética, sem a qual fica difícil sua própria


sobrevivência.

De modo que, é de se esperar que a Ética esteja na base de toda e qualquer


norma que dite comportamentos a serem seguidos. Tal regra torna-se tão
significativa quanto maior for o numero de participantes de uma determinada
sociedade.

A Ética tem por objeto o comportamento humano no interior de cada


sociedade. O estudo deste comportamento com o fim de estabelecer os níveis
aceitáveis que garantam a convivência pacifica dentro das sociedades e entre
elas constitui o objetivo da Ética.

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2. CONCEITO DE ÉTICA

De forma simplificada pode se definir o termo Ética como um ramo da filosofia


que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo ou errado. Pode se dizer
que Ética e “Filosofia da Moral” são sinônimos.

Esta definição apesar de parecer simples, na realidade trata-se de um conceito


complexo, pois engloba juízos de valor não tão fáceis de ser aplicados.

O uso popular do termo Ética tem diferentes significados, um deles é que Ética
diz respeito aos princípios de conduta que norteiam um individuo ou um grupo
de indivíduos.

Os filósofos se referem à Ética para denotar o estudo teórico dos padrões de


julgamento morais inerentes às decisões de cunho moral, tal como os físicos
usam o termo física para aludir a investigação entre os campos de força e os
meios materiais.

Entretanto a reflexão ética não pode pretender converter os agentes sociais em


indivíduos éticos, mas pode instrumentaliza-los para que decidam
consequentemente, de acordo com o que a coletividade espera deles.

A Ética representa uma tomada de posição ideológico-filosofica que remete aos


interesses sociais envolvidos. Assim dependendo da posição dos agentes,
pode se ter mais de uma posição ética segundo a ótica de cada um.

Um caso a ser mencionado é o da bomba atômica, do ponto de vista dos EUA,


das tropas combatentes e dos fabricantes, a produção e lançamento desta
bomba sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki constituíam uma atitude
ética. É claro que tal posição não era compartilhada pelos japoneses nem pelas
entidades oposicionistas da sociedade civil norte-americana. O que era ético
para alguns agentes coletivos não era para tantos outros.

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A Ética

A palavra Ética tem como base etimológica a palavra grega ethos.

Ethos significa domicílio, moradia humana: maneira de ser habitual, o caráter


ou disposição interna da vontade.

A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez.
O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si.

Contando uma história: “O Carpinteiro”

Um velho carpinteiro, que construía casas, estava pronto para se aposentar.


Ele informou ao chefe seu desejo de sair da indústria da construção e passar
mais tempo com sua família, ele ainda comentou que sentiria falta do salário,
mas estava mesmo decidido a se aposentar.

A empresa não seria muito afetada pela saída do carpinteiro, no entanto, o


chefe estava triste em ver um bom funcionário partindo. De qualquer modo,
pediu ao carpinteiro para que trabalhasse em mais um projeto, como um favor
pessoal.

O carpinteiro não gostou do pedido, mas acabou concordando, porém, foi fácil
ver que ele não estava entusiasmado com a idéia, pois ele prosseguiu fazendo
um trabalho de segunda qualidade e usando materiais inadequados. Foi uma
maneira negativa de este terminar sua carreira.

Quando o carpinteiro concluiu o projeto, seu chefe veio fazer a inspeção da


casa construída e, depois lhe deu as chaves e disse: “Essa é sua casa, ela é
meu presente para você”.

O carpinteiro ficou muito surpreso. Que pena! Se ele soubesse que estava
construindo sua própria casa ele teria feito tudo diferente.

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Pense nisso: “A vida é um projeto que você mesmo constrói”. Suas atitudes e
escolhas de hoje estão construindo a “casa” que você vai morar amanhã.

A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é
um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um
senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente
avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou
erradas, justas ou injustas.

Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e


errado, do bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas
classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem
em determinadas sociedades e contextos históricos.

A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com


os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas
idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e
cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

O estudo da ética talvez tenha se iniciado com filósofos gregos há 25 séculos


atrás. Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e
inúmeros outros pesquisadores do conhecimento dedicam-se ao seu estudo.
Sociólogos, psicólogos, biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem
trabalhos no campo da ética.

Ao iniciar um trabalho que envolve a ética como objeto de estudo,


consideramos importante, como ponto de partida, estudar o conceito de ética,
estabelecendo seu campo de aplicação e fazendo uma pequena abordagem
das doutrinas éticas que consideramos mais importantes para o nosso
trabalho.

Relação com a Filosofia

Como um ramo da Filosofia, a Ética a influenciou e foi por ela influenciada.

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A palavra filosofia é de origem grega, sendo ela composta por duas outras
palavras: Philo e Sophia.

Philo: deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre
iguais.
Shofia: quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.

Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo


saber, bem como o filósofo é aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo
saber, deseja saber.

Atribui-se ao Filósofo grego Pitágoras que viveu no século V a.C a “invenção”


da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa
pertence aos deuses, mas os homens, seres imperfeitos, limitados podem
desejá-la, ou amá-la tornando-se o filósofo.

A Filosofia até hoje guarda o sentido de busca do saber por inteiro, busca da
“inteireza” do saber que se revela a reflexão filosófica. Em outras palavras,
filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos.

Quando estamos filosofando?

Quando tomamos a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas,


as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa
existência cotidiana; jamais aceitá-los sem havê-los investigados e
compreendidos.

Filosofar é dar sentido à experiência

“Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que
não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal”. Isso
significa que as questões filosóficas fazem parte do cotidiano de todos nós.

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A Filosofia surge no momento em que o pensar é posto em causa, tornando-se


objeto de reflexão.

Refletir (reflectare em latim) significa “fazer retroceder”, “voltar atrás”. Portanto,


refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já “pensado”, voltar para si
mesmo e colocar em questão o que já é e conhece.

Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que
agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os
animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e expressamos
essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e
ações.

A atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por que é?


Dirigindo ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com
ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação e a origem
de todas as coisas.

Já a reflexão filosófica indaga: Por quê? O quê? Para quê?


Dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São
perguntas sobre a capacidade e a finalidade humana para conhecer e agir.

Onde está a necessidade da Filosofia?

A necessidade da Filosofia está no fato de que, por meio da reflexão, a


Filosofia permite ao homem ter mais de uma dimensão, além da que é dada
pelo agir imediato no qual o “homem prático” se encontra mergulhado.

Portanto, a Filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a


capacidade de que só o homem tem de superar a situação dada e não
escolhida. Pela transcendência, o homem surge como ser de um projeto, capaz
de liberdade e de construir o seu destino.

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3. O CAMPO DA ÉTICA

Os dilemas morais surgem como conseqüência do comportamento dos


indivíduos. Estão, assim, diretamente relacionados com o cotidiano de cada
sociedade, o que nos permite afirmar que um mesmo comportamento pode ser
visto por uma sociedade como desprovido de moral, enquanto em outra
sociedade pode ser considerado como moralmente aceito.

Se, por exemplo, no meio de nossa sociedade, uma pessoa resolve sair à rua
sem roupa, certamente terá seu comportamento condenado e reprimido.
Todavia em uma tribo indígena localizada no meio da floresta amazônica o ato
seria visto com naturalidade.

Da mesma forma que entre sociedades distintas, no seio de uma mesma


sociedade, é comum pessoas diferentes enxergarem determinado fato através
de óticas diferenciadas, muitas vezes conflitantes.

Exemplificando, é normal em nossa sociedade a condenação do ato de roubar;


não obstante isso, um chefe de família pode acreditar que possa fazê-lo em
virtude das privações por que passa sua família, e justificar-se sobre este
pretexto.

A existência de um dilema moral implica que a ação de determinado individuo,


ou mesmo a ação de um grupo de indivíduos, contrariou aquilo que
genericamente a maioria da sociedade acredita ser o comportamento
adequado para aquela situação.

Deve ser lembrado que a definição de um comportamento moral adequado


para uma situação qualquer nem sempre é pacífica. Tome-se, por exemplo, a
clássica história de Robin Hood. Caso alguém queira analisá-la apenas por
suas ações como saqueador, certamente enxergara ali um comportamento que
apresenta ausência de ética.

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Por outro lado, se o mesmo comportamento for analisado em função do motivo


que o conduziu àquelas ações, o sofrimento do povo em conseqüência da
tirania do soberano, é possível que aquele comportamento seja visto como
ético.

Da mesma forma que este exemplo, muitas situações apresentadas no


cotidiano ensejam uma discussão sobre ética. O caso do chefe de família que
se obriga a roubar para assegurar o sustento de sua família, já mencionado, é
um exemplo típico desta situação.

Função da Ética

A história da humanidade nada mais é do que o retrato da ação das pessoas


através do tempo. Essa história teve, e certamente ainda terá, seu rumo
alterado, seja de maneira brusca, seja paulatinamente através dos tempos.

Pode-se afirmar que as pessoas mudam de comportamento ao longo de suas


vidas. Essas alterações são resultado de vários fatores, dentre eles, uma nova
descoberta tecnológica, uma epidemia de largas proporções, ou a ascensão ao
poder de uma nova vertente de pensamento.

É de se entender que quando ocorrem mudanças no rumo da humanidade ou


mesmo de uma sociedade composta por um agrupamento menor de pessoas,
como habitantes de um país, tais alterações ocorrem em nível das pessoas.
Desse modo as mudanças no âmbito de uma sociedade só acontecem caso a
maior parte das pessoas que a compõem assumam novos hábitos de vida.

No plano individual, uma pessoa pode alterar seu comportamento, refletindo


essa mudança em suas ações, independentemente de qualquer mudança
ocorrida nas demais pessoas da sociedade.

A capacidade de imprimir alterações no curso da própria vida esta relacionada


com a capacidade de raciocinar, a qual permite ao ser humano escolher, com

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base em sua própria experiência de vida, qual o caminho a seguir e em qual


momento a rota deve ser alterada.

As modificações no modo de agir representam tão somente um aspecto pratico


no cotidiano das pessoas. Como é de se esperar, elas não ocorrem sem
razões que as sustentem, que representam um aspecto conceitual, relacionado
com a justificação de crenças e valores que cada pessoa tem da vida. Deve ser
lembrado, ainda, que o ser humano ao mesmo tempo em que se mostra
racional, a ponto de refletir sobre a sua vida, mudando o rumo até então dado à
mesma, ele carrega uma carga muito grande de sentimentos, que podem
conduzi-lo a irracionalidade.

Ambos os fatores, racionalidade e sentimento, provocam alterações nas


crenças e, por conseguinte, nos valores que cada pessoa traz consigo. O
passo seguinte, portanto, é representado pela mudança das ações, refletindo
um novo comportamento, que pode apresentar um caráter temporário ou
definitivo.

Quando por exemplo um país se envolve em uma guerra, os habitantes desse


país estão assumindo um comportamento que normalmente condenam em
tempo de paz, qual seja, matar seus semelhantes.

O envolvimento de um país em uma guerra pode ocorrer em virtude de varias


razões, tais como defesa própria, agressão fundamentada em um motivo
qualquer, defesa de terceiros. Quaisquer que sejam os motivos que levam um
país a guerra, é certo que caberá sempre uma discussão a respeito da validade
dos valores que sustentam esses motivos e da moral ou falta dela nas ações
assumidas pelos que participam dos conflitos.

Essa discussão ganha maior relevância à medida que possa influir no sentido
de evitar que ocorram novos conflitos da mesma natureza, com todas as
atrocidades e prejuízos que eles acarretam.

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A historia contemporânea nos traz o exemplo de alguns presidentes de nações


democráticas que em virtude do comportamento antiético no exercício do poder
foram obrigados a renunciar, antecipando assim o final de seu mandato. Entre
eles figuram o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, devido ao
caso “Watergate”, e o ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello.

Este fato torna-se ainda mais relevante se levado em consideração pelos


eleitores em pleitos futuros. A sociedade brasileira, com a renuncia de
Fernando Collor de Mello, passou a dedicar atenção maior a respeito do
comportamento dos políticos, suas relações dentro do poder e fora dele.

Da mesma forma que nos exemplos citados, que envolvem nações inteiras,
problemas de comportamento menos relevantes são encontrados no cotidiano
por qualquer pessoa. Assim é comum ouvirmos falar em pessoas que dirigem
embriagadas, empresas que lesam seus clientes, policiais envolvidos com
bandidos.

Quando nos referimos aos problemas de comportamento humano estamos


adentrando o campo da ética e discutindo problemas éticos.

Neste contexto a Ética tem como função essencial a tarefa de investigar a


realidade dentro da qual cada momento da história foi vivido e explicar os
valores que conduziram a determinado tipo de comportamento.

Ainda que não se possa esperar da ética uma correção dos atos praticados no
passado, não se pode desprezar suas contribuições no sentido de, a partir do
entendimento do passado, evitar a aceitação de comportamentos não éticos no
futuro.

Os problemas relacionados com o comportamento do ser humano encontram-


se inseridos no campo de preocupações da Ética. Ainda que não torne os
indivíduos “moralmente perfeitos” a Ética tem por função investigar e explicar o
comportamento das pessoas ao longo das várias fases da história.

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Essa função apresenta-se como de grande relevância, tanto no sentido de se


entender o passado, quanto de servir como parâmetro para a fixação de
comportamentos padrões, aceitos pela maioria visando diminuir o nível de
conflitos de interesses dentro da sociedade.

Problemas Morais e Problemas Éticos

A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas


atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o
errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade.

Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo:

 Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso


mentir?

 Será que é correto tomar tal atitude?

 Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida?

 Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de


trânsito vermelho?

 Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente


condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?

Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas
relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via de
regra, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outras
pessoas que poderão sofrer as conseqüências das decisões e ações,
conseqüências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira.

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O homem é um ser no mundo que só realiza sua existência no encontro com


outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras
pessoas.

Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que
coordenem e harmonizem esta relação. Estas regras, dentro de um grupo
qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas
possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São os códigos
culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem.

Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de


forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou
"receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais
adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e
reconhecidas como válidas e obrigatórias.

Fazemos uso de normas, praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos


servimos de determinados argumentos para tomar decisões, justificar nossas
ações e nos sentirmos dentro da normalidade.

As normas de que estamos falando têm relação como o que chamamos de


valores morais. São os meios pelos quais os valores morais de um grupo social
são manifestos e acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório.

A palavra moral tem sua origem no latim "mos"/"mores", que significa


"costumes", no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito.
Notar que a expressão "bons costumes" é usada como sendo sinônimo de
moral ou moralidade.

A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas cristalizadas
pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido
caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as
prescrições e proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de
cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo

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incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e


sociais.

A moral tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura, história
e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela
comunidade.

Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada sociedade


são bem aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles. Mas,
quando surgem questionamentos sobre a validade de certos costumes ou
valores consolidados pela prática, surge a necessidade de fundamentá-los
teoricamente, ou, para os que discordam deles, criticá-los.

Como podemos entender então o conceito de ética?

A ética, tantas vezes interpretada como sinônimo de moral aparece exatamente


na hora em que estamos sentindo a necessidade de aprofundar a moral.
Geralmente a ética apoia-se em outras áreas do conhecimento como a
antropologia e a história para analisar o conteúdo da moral. Seria o tratamento
teórico em torno da moral e da moralidade.

Uma disciplina originária da filosofia, há muito discutida pelos filósofos de todas


as épocas e que se estende a outros campos do saber como teologia, ciências
e direito.

Ética e Moral

Alguns diferenciam ética e moral de vários modos:

1. Ética é princípio, o moral trata de aspectos de condutas específicas.

2. Ética é permanente, moral é temporal.

3. Ética é universal, moral é cultural, é proibição moral.

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4. Ética é filosofia da moral, a moral é conduta.

5. O Moral é regra. Ética é questionamento: Por quê?

Um exemplo a ser mencionado é:


A lei moral judaica proíbe comer carne de porco, e certos indianos não comem
carne de vaca.
A Ética diz: se estiver faminto mate o porco e mate a vaca e coma, pois o
princípio da vida está acima das leis morais e religiosas.

Ética = ethos Moral = mos

Princípios Universais Regras p/ as ações coletivas


(pressão interna) (pressão externa)

Reflexão e Valores Hábitos e Costumes

A ética pressupõe análise e reflexão antes do agir. Toda existência


tem o lado da alteridade, isto é, da dimensão do OUTRO.

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4. FONTES DAS REGRAS ÉTICAS

O fato de se considerar a Ética como expressão única do pensamento correto


implica a idéia de que existem certas formas de ação preferíveis a outras, às
quais se prende, necessariamente, um espírito julgado correto. Tomando-se
por base esta definição, existiria uma natureza humana “verdadeira” que seria
a fonte primeira das regras éticas.

Essa natureza humana verdadeira seria aquela do homem sadio e puro, em


que habitariam todas as virtudes de caráter integro e correto. Toda ação do
homem ético seria uma ação ética (universalidade da ética).

Existem, ainda, normas de caráter diverso e até mesmo oposto à idéia da


universalidade da ética: as relacionadas à forma ideal universal e comum do
comportamento humano, expressa em princípios validos para todo pensamento
são. Esta seria a segunda fonte das regras éticas.

O termo ética pode assumir diferentes significados, conforme o contexto em


que os agentes sociais estão envolvidos. Assim, existe a ética dos negócios, a
ética na profissão do contador.

A terceira fonte de normas éticas seria a conseqüência da busca refletida dos


princípios do comportamento humano. Assim, cada significado do
comportamento ético tornar-se ia objeto de reflexão por parte dos agentes
sociais. Essa seria a procura racional das razões da conduta humana.

A quarta fonte de regras ética seria a legislação de cada país, ou de foros


internacionais, ou mesmo os códigos de ética empresarial e profissional.

A quinta fonte de normas éticas vem dos costumes e exprime a excelência


daquilo que “na parte irracional é acessível aos apelos da razão”.

Nossos movimentos e paixões estão inscritos em nosso aparelho psíquico e


não podemos deixar de senti-los. Ninguém se encoleriza intencionalmente.

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Ora, a qualificação bom/mau supõe que aquele que assim julga escolheu agir
assim. Um homem não escolhe suas paixões: ele não é então responsável por
elas, mas somente pelo modo como faz com que elas se submetam a sua
ação. É deste modo que os outros o julgam sob o aspecto ético, isto é,
apreciando seu caráter. Um juízo ético seria simplesmente impossível se não
houvesse como regular as paixões.

Em suma, podemos afirmar que as fontes das regras éticas podem ser
divididas em cinco categorias:

1. A natureza humana “verdadeira”;


2. A forma ideal universal do comportamento humano, expressa em
princípios validos para todo pensamento sadio;
3. A busca refletida dos princípios do comportamento humano;
4. A legislação;
5. Os costumes.

Essa relação não tem o consenso dos estudiosos. Na opinião de alguns


filósofos não existiriam duas naturezas humanas, uma verdadeira e outra falsa,
mas só uma.

Segundo outros autores, a própria realidade social seria fonte maior das regras
éticas, porquanto ela influencia o comportamento das pessoas, mostrando-lhes
ao longo da vida e que é certo e o que é errado.

A reflexão do cotidiano das pessoas ao longo de suas vidas irá indicar, com
clareza, quais as origens do comportamento socialmente aceito, o
comportamento ético.

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5. COMPORTAMENTO ÉTICO

Diariamente, as pessoas deparam com cenas nas quais a falta de ética pode
ser facilmente visualizada. Implica dizer que, diante de determinadas situações,
as pessoas apresentam um comportamento que contraria as normas
estabelecidas pela sociedade. Tais cenas podem ser vistas em qualquer
ambiente, como ruas, escolas, repartições públicas, templos religiosos.

A rigor, nem mesmo se faz necessário que alguém esteja fora de sua moradia
para presenciar cenas nas quais regras éticas são quebradas. Os meios de
comunicação, especialmente a televisão, retratam cotidianamente estas cenas,
seja na forma de acontecimentos reais, seja na forma de ficção.

Da mesma forma que independem de local, as regras éticas são


desrespeitadas dentro de qualquer sociedade, não importando seu tipo,
natureza ou objetivo que busca alcançar. Muitas vezes, a ausência de ética é
percebida no seio de uma família, outras vezes em empresas.

As regras que regem a ética em qualquer sociedade, estejam elas definidas de


maneira formal ou não, são estabelecidas tendo-se por base uma situação
qualquer e contemplam o comportamento considerado adequado dos
participantes da sociedade diante de tal situação.

Pode-se afirmar, portanto, que a pratica de qualquer ato que desrespeite uma
regra estabelecida e aceita pela sociedade, independente de sua natureza,
representa falta de ética.

O ato de sonegar o Imposto de Renda, além de representar uma transgressão


às regras fiscais, é um ato desprovido de ética. No mesmo sentido, quando
alguém assalta um banco, além de crime penal, essa pessoa agiu de forma
antiética.

De forma geral, o estabelecimento de normas no seio de uma sociedade busca


proteger o direito das pessoas e da própria sociedade. É de se entender,

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portanto, que à medida que uma dessas regras é violada, o infrator fica sujeito
a algum tipo de penalidade, mesmo que seja tão-somente uma condenação
moral.

As pessoas, sem exceção, são colocadas constantemente diante de situações


nas quais elas têm de decidir entre cumprir ou quebrar uma regra. É provável
que neste momento dois fatores pesem na decisão: o beneficio que a violação
da regra proporcionara; e o custo de sofrer a penalidade que será imposta pela
quebra da regra.

Como é normal na natureza humana, algumas pessoas farão opção, em


determinadas situações, pela obediência às regras, enquanto outras optarão
pelo descumprimento das mesmas. Neste contexto, outra questão pode ser
colocada: o que leva uma pessoa a preservar, ou não, os valores éticos de
uma sociedade da qual faz parte?

Risco e Chance

Qualquer sociedade organizada não pode prescindir de um conjunto de regras


que normatize o convívio de seus participantes. Tal conjunto de regras terá sua
extensão determinada em função do tamanho e da natureza da própria
sociedade, assim como dos níveis de relacionamento nela existentes.

Ainda que convivendo em uma mesma sociedade, nem sempre os interesses


particulares de uma pessoa convergem para o interesse dos demais
participantes da sociedade. Daí a importância de regras que fixem as fronteiras
do relacionamento interpessoal, que devem ser respeitadas quando cada
pessoa busca atender a seus próprios interesses.

Da mesma forma que no interior das sociedades, o relacionamento de duas ou


mais sociedades, sejam elas grandes ou pequenas, não podem dispensar um
conjunto de regras que balizem seu cotidiano.

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Em outras palavras, pode-se afirmar que nenhuma sociedade pode abdicar de


um conjunto de “regras de convivência”, conjunto este que induza ao respeito
entre seus participantes e assegure o direito dos mesmos. Tal observação é
valida também no que se refere ao relacionamento existente entre duas ou
mais sociedades. Vale ressaltar que, no caso de uma dessas regras não ser
observada, certamente surgirão prejuízos, seja para as pessoas, seja para a
sociedade.

No liminar da historia humana as sociedades configuravam-se sob a forma de


tribos nas quais o papel a ser desempenhado pelos componentes era bem
definido: os homens asseguravam a sobrevivência, o que significa dizer a caça
e a segurança, enquanto as mulheres asseguravam o bem estar da família e a
organização do lar.

Considerando-se os conhecimentos do ser humano naquela época,


especialmente no que diz respeito aos meios de sobrevivência, era natural
também que cada tribo-sociedade tivesse seu próprio território de atuação, nos
limites do qual todos os problemas deveriam ser solucionados. A invasão deste
território por outra tribo significava a quebra de uma regra de convivência e,
quase sempre, o inicio de uma guerra.

Daquela época até os dias atuais, as sociedades evoluíram e surgem novas


regras de convivência a cada dia.

Atualmente, considerado o grau de complexidade dos relacionamentos


existentes, intra e inter-sociedades, para que se compreenda o conjunto de
regras que regem seu cotidiano, torna-se necessário que elas sejam
segregadas em função de algum fator, tal como natureza, objetivo,
competência de quem as determina, abrangência.

Certamente, um dos primeiros critérios deveria ser a segregação destas regras,


segundo sua natureza, entre formais e informais. As regras formais são
aquelas escritas, emitidas por quem de direito para tanto. Como exemplo desse
tipo de regra temos o conjunto de leis de um país.

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Já as regras informais têm origem na própria cultura da sociedade, não são


escritas, mas ainda assim são observadas pela maioria das pessoas tornando
habito como: auxiliar um deficiente da visão a atravessar a rua, ceder o próprio
assento para uma pessoa idosa, cumprimentar as pessoas conhecidas.

Outro critério de segregação das regras existentes em uma sociedade seria


segundo a competência de quem as estabelece, entre coercivas e facultativas.
As primeiras, para que sejam obrigatórias, precisam ser escritas, portanto,
formais. As facultativas normalmente estão ligadas ao relacionamento social
das pessoas, aos “bons modos” como, por exemplo, falar baixo, vestir-se de
maneira adequada ao ambiente.

A existência de uma regra qualquer, independentemente de sua natureza e da


competência de quem a elabora, não garante por si só que os objetivos sejam
alcançados. Desse modo, é de se esperar que para cada regra exista uma
“penalidade” estipulada para quem a desobedecer.

Para determinados tipos de regra, como leis, a penalidade é de fácil


visualização e entendimento por todos. Assim, caso alguém sonegue impostos,
por exemplo, se sujeita a todas as sanções previstas na lei tributaria. Quando a
pessoa é agredida física ou moralmente, o agressor fica sujeito às penalidades
previstas na lei penal.

Para outros tipos de regras nem sempre a penalidade é clara, todavia, ela
existira sempre. Se, por exemplo, alguém vai a uma festa de gala vestido de
maneira inadequada, certamente esta pessoa será preterida pelos demais
participantes da festa e talvez não mais receba convites para festas similares.
Estas serão suas punições.

No mesmo sentido, quando alguém não respeita os idosos, passa a ser


considerado, pelas demais pessoas, como uma pessoa sem educação, sem
caráter.

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Independentemente das características de cada uma, essas regras visam


organizar a sociedade, assegurando o bem geral, a segurança da mesma, uma
convivência pacífica entre seus componentes. Ainda assim, problemas de
varias ordens continuam a existir nas sociedades, fato este que indica que
regras, não obstante as penalidades, não estão sendo observadas.

Diante do exposto, a questão que pede uma resposta é: considerando as


regras, seus objetivos e as penalidades a elas inerentes, por qual motivo elas
não são observadas em sua integra, ou seja, quais as razões que levam as
pessoas a desrespeitá-las?

Dois são os caminhos que conduzem à resposta que se busca: o primeiro


relaciona-se com o surgimento de novas oportunidades para que uma regra
seja desrespeitada; o outro caminho diz respeito a seu custo que é a
penalidade imposta em virtude da quebra da regra.

Em relação ao primeiro dos caminhos, a constatação de que se uma regra foi


quebrada é porque a oportunidade para tal se apresentou, ainda que óbvia,
requer analise atenciosa. Alguém pode alegar que o ser humano sente certa
satisfação ao quebrar uma regra. Todavia, não se pode esquecer que toda vez
que uma chance de se quebrar uma regra ocorre é porque um conflito de
interesses esta, no mesmo momento, ocorrendo.

Ninguém sonega um imposto pelo simples prazer de sonegar. Existira sempre


uma razão individual que sustentara o ato praticado como: “o imposto é injusto
considerando o meu nível de renda”, “o governo aplica mal os recursos
arrecadados”, “as pessoas mais ricas não pagam, por que eu tenho de pagar?”.

No mesmo sentido, quando alguém agride outra pessoa é porque em face de


um motivo qualquer, se sentiu ultrajada, ou ainda, quando alguém não cede o
assento para uma pessoa idosa é porque tem outro motivo, ou não enxerga na
pessoa idade suficiente para que ela tenha prioridade.

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Em resumo, cada vez que uma oportunidade se apresenta e uma regra é


quebrada, é porque o transgressor tem um motivo que julga suficientemente
forte para quebrá-la. Considerando que o ser humano tem uma vocação para
colocar seus interesses à frente do interesse das demais pessoas e da própria
sociedade, é fácil de entender que oportunidades de quebrar regras sempre
existirão em grande quantidade e em praticamente qualquer tipo de
relacionamento que exista na sociedade.

Se, conforme mencionado, toda vez que alguém desrespeita uma regra esta
agindo em beneficio próprio, colocando seus interesses a frente dos interesses
de seus pares e da própria sociedade, esta pessoa deve considerar em sua
decisão, também, a penalidade imposta pela quebra das regras. Isto conduz ao
segundo dos caminhos apontados para responder à questão anteriormente
colocada: o custo.

Quando alguém se dispõe a quebrar uma regra, mesmo tendo consciência de


que pode sofrer uma penalidade, provavelmente esse alguém julga que o risco
de ser apanhado não é significativo e, ainda que seja, o beneficio obtido em
virtude da quebra da regra é maior do que o ônus da penalidade.

Diante deste quadro, seria de supor que um dos caminhos que estimularia o
cumprimento da regras seria estabelecer mecanismos de controles eficientes e
penalidades pesadas, de modo que grande parte daqueles que descumprem
tais regras de sintam atemorizados.

Qualquer que seja a sociedade em foco e, dentro desta, qualquer que seja o
nível de relacionamento mantido, ainda que totalmente balizado por regras,
haverá sempre oportunidades para que tais regras sejam quebradas. Isto
porque existira sempre alguém disposto a assumir os riscos das penalidades
impostas àqueles que desrespeitam as normas.

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Risco e Chance na Profissão

Ao longo da historia, o desenvolvimento do ser humano tem sido impulsionado


por sua busca incessante em atingir dois objetivos: conhecer a si próprio, e
suprir suas necessidades. Estes continuam vivos até hoje.

À medida que persegue estes objetivos, a espécie humana acumula


conhecimento e desenvolve-se. O progresso do conhecimento humano é algo
que desafia a imaginação e que pode ser visto em todos os campos do
conhecimento humano, da medicina à informática, da tecnologia ao lazer.

Muitos foram os fatores que influenciaram o desenvolvimento do conhecimento


humano ao longo da historia e, ainda hoje, continuam a influenciá-lo. Entre eles
temos o fator “especialização”.

Se, no inicio, o homem sabia tão pouco sobre si e sobre a terra em que
habitava, com o passar do tempo esta tarefa se tornou impossível. A cada nova
descoberta, mais era preciso descobrir, e o cominho encontrado foi dividir a
missão.

Temos então, neste contexto, o surgimento de segmentos especializados em


conhecimentos, ou seja, profissionais especializados, como médicos,
advogados, contadores. Cada um deles tem preocupações limitadas por campo
de conhecimentos e destinadas a atender necessidades especificas.

Dentro destas especializações, foram surgindo outras, novas, cujo objetivo era
explorar campos e necessidades mais especificas. Assim temos médicos
cardiologistas, contadores auditores, advogados tributaristas. A partir das
novas especializações chega-se a outras como cardiologistas especializados
em um único tipo de doença, auditores especializados em instituições
financeiras, tributaristas especializados em um único tipo de tributo.

Ainda que a especialização tenha contribuído e continue a contribuir de


maneira valiosa para o desenvolvimento da espécie humana, no que diz

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respeito ao comportamento ético dos profissionais, ela traz consigo algumas


particularidades que podem acarretar prejuízos para a sociedade ou para quem
necessita de um especialista.

Imagine-se, por exemplo, que alguém apresentando sintomas de enfarte no


miocárdio, procura um hospital e, lá chegando, encontra tão somente um
médico especialista em outro ramo da medicina. A partir daí algumas situações
podem ser visualizadas:

a) o médico atende com sucesso o paciente salvando-lhe a vida;


b) o médico atende ao paciente, mas este não sobrevive;
c) o médico recusa-se a atender ao paciente por este não ser um caso
dentro de sua especialidade.

Quanto à situação (a) nenhum comentário adicional necessita ser feito. No que
se refere à situação (b) no mínimo duas questões merecem ser levantadas: se
tivesse sido atendido por um especialista o paciente teria sobrevivido? e houve
erro no atendimento? Quanto à situação (c), independentemente do destino do
paciente uma questão merece ser respondida: o médico agiu corretamente ao
não atender ao paciente?

Dentro da mesma situação imagine-se que o médico de plantão seja um


cardiologista. Suponha-se que no momento do atendimento o paciente faleceu.
Certamente questões do tipo “houve negligência?” e “houve erro médico” serão
colocadas.

No meio contábil muitas situações análogas podem acontecer e, ainda que não
envolvendo o risco direto de vidas humanas, também são passíveis de
discussão.

Tome-se como exemplo a situação de uma empresa falida. Suponha-se que a


decretação de falência ocorreu logo depois do encerramento de um exercício
com simultânea divulgação das demonstrações contábeis acompanhadas do
parecer dos auditores independentes, emitido sem nenhuma ressalva.

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

A primeira pergunta que vem a tona em situações dessa natureza é: a emissão


do parecer dos auditores independentes observou todas as regras
determinadas pelos órgãos competentes?

Outra situação seria aquela de uma empresa cujos administradores procuraram


seguir corretamente todas as normas fiscais e, de repente, recebe uma
autuação do fisco em face de irregularidades em sua contabilidade. A pergunta
seria: onde estava o contador?

Caso se queira resumir todas essas questões em uma única questão, é de se


perguntar: qual regra deixou de ser observada?

É claro que qualquer profissional, independentemente de sua especialização,


esta sujeito a cometer um erro ainda que busque com total esmero cumprir
todas as regras aplicáveis.

Quando a pessoa necessita da atuação de uma profissional especialista em


determinado ramo de atividade, na maior parte dos casos fica totalmente
dependente daquele profissional, isto porque não conhece a atividade e,
portanto, não consegue avaliar se seu trabalho esta sendo realizado da forma
que se espera. Em outras palavras, muitas vezes a pessoa não consegue
avaliar se as regras estão sendo cumpridas adequadamente.

Considerando-se a posição privilegiada que cada profissional especializado


tem no momento em que atua, ou seja, considerando ser ele “o senhor da
verdade” em seu campo de atuação, é de se entender que as oportunidades
para desrespeitar as regras surgem em maior numero de vezes.

Naturalmente este fato não implica que ele aproveitara todas as oportunidades
que se apresentam para praticar a má ação, até porque, apesar da
especialização, os riscos continuam a existir e nenhum profissional, por mais
especializado que seja, é único em seu campo de atuação. Isto quer dizer que
sempre haverá alguém capaz de avaliar sua performance.

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

Vale ressaltar que as profissões têm suas regras próprias a serem seguidas e,
portanto, também suas próprias punições. No caso dos contadores, as
penalidades ficam por conta do Conselho Federal de Contabilidade, dos
Conselhos Regionais de Contabilidade e da Comissão de Valores Mobiliários.

Como se percebe, os profissionais especializados, como os contadores, têm


em seu cotidiano as mesmas chances e riscos que qualquer outro integrante
da sociedade. Adicionalmente estes profissionais contam com as chances que
lhes são proporcionadas pela especialização. Em contrapartida, assumem
tanto os riscos normais, como qualquer cidadão, quanto os riscos advindos das
regras estabelecidas pelos órgãos reguladores da profissão.

Disposição de Proteger Valores Éticos

Toda e qualquer sociedade guarda seus próprios valores e, portanto sua


própria ética. Significa dizer que nenhuma sociedade é desprovida de ética,
mesmo que esta não seja reconhecida como ética por outras sociedades.

Apesar da presença da ética em todas as sociedades, em algumas delas as


situações nas quais a ética é afrontada surgem com maior freqüência. Tal fato
demonstra que determinadas sociedades conseguem proteger seus valores
éticos com menor ou maior intensidade do que outras.

Algumas sociedades tentam proteger seus valores éticos através de punição,


esta pode até coibir a transgressão dos valores éticos, contudo não significa
sua extinção, nem mesmo representa o melhor caminho para tal. Ainda que a
punição represente um risco, para o infrator, no momento em que o beneficio
da transgressão superar o custo da penalidade a violação dos valores será
concretizada.

A proteção dos valores éticos deve representar uma decisão que a sociedade
precisa tomar em conjunto e jamais uma imposição de cima, ou seja, para que
os valores éticos sejam preservados é necessário que a maior parte de seus

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

participantes assim deseje, que seja educada para tal, que aceite e, mais
importante, que exercite esta proteção a todo instante.

O exercício pleno dos valores éticos, que significa sua proteção irrestrita, só
ocorrera de forma satisfatória a partir da compreensão por parte dos
componentes da sociedade dos benefícios que isso traz.

Outro fator relevante para qualquer sociedade que deseje proteger seus
valores éticos é o papel do líder. Assim sendo, para que todas as pessoas
compreendam, exercitem e aceitem a proteção dos valores éticos, é de
fundamental importância assistir ao exemplo dos líderes. Dificilmente, algum
valor será preservado pela sociedade se não for preservado por seus líderes.

Certamente, o convívio em sociedade trará benefícios gerais a partir do


momento e que todos estejam dispostos a proteger os valores éticos. Para
tanto, é necessários que estes valores sejam claros, amplamente difundidos e
válidos para todos.

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

6. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL

Um código de ética pode ser entendido como uma relação das praticas de
comportamento que se espera que sejam observadas no exercício da
profissão. As normas do código de ética visam o bem estar da sociedade, de
forma a assegurar a lisura de procedimentos de seus membros dentro e fora da
instituição.

Um dos objetivos de um código de ética profissional é a formação da


consciência profissional sobre padrões de conduta.

Os princípios éticos podem existir naturalmente, por consenso na comunidade,


bem como podem apresentar-se na forma escrita, o código de ética. Esse,
todavia, torna os princípios éticos obrigatórios aos praticantes, tornando
possível que seja assegurada sua observância.

Um código de ética contém asserções sobre princípios éticos gerais e regras


particulares sobre problemas específicos que surgem na prática da profissão.

Nenhum código de ética consegue abarcar todos os problemas que aparecem


quando do exercício da profissão. Ele deve, por isso, ser suplementado com
opiniões de órgãos competentes.

Apesar de o código de ética profissional servir para coibir procedimentos


antiéticos, este não é seu principal objetivo. Seu objetivo primordial é expressar
e encorajar o sentido de justiça e decência em cada membro do grupo
organizado.

Um código de ética deve indicar um novo padrão de conduta interpessoal na


vida profissional de cada trabalhador que esteja exercendo qualquer cargo na
organização.

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

O Código de Ética do Profissional do Contador

Além de servir como guia a ação moral, o código de ética profissional


possibilita que a profissão de contador declare seu propósito de:

 cumprir as regras da sociedade;


 servir com lealdade e diligencia;
 respeitar a si mesma.

O objetivo do código de ética para o contador é habilitar esse profissional a


adotar uma atitude pessoal, de acordo com os princípios éticos conhecidos e
aceitos pela sociedade.

O código de ética profissional do contador contém princípios éticos aplicáveis a


sua profissão. Em resumo, tais princípios dizem respeito à:

a) responsabilidade, perante a sociedade, de atuar com esmero e


qualidade, adotando critério livre e imparcial;
b) lealdade, perante o contratante de serviços, guardando sigilo profissional
e recusando tarefas que contrariem a moral;
c) responsabilidade com os deveres da profissão (aprimoramento técnico e
inscrição nos órgãos de classe);
d) preservação da imagem profissional, mantendo-se atualizado em
ralação as novas técnicas de trabalho, adotando, igualmente, as mais
altas normas profissionais de conduta o contador deve contribuir para a
difusão dos conhecimentos próprios da profissão;
e) o respeito aos colegas deve ser sempre observado.

Todo profissional e, principalmente, o contador, experimenta situações


diferenciadas e provocadoras em seu dia-a-dia, ocasionando dilemas morais e
colocando à prova seus valores éticos, exigindo, assim, sólida formação moral
e preparo psicológico, embora a conduta esperada, ou seja, a atitude que deve
adotar, esteja formalizada no Código de Ética da profissão.

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

O Código de Ética do Profissional do Contador foi instituído pelo Decreto-Lei


1.040, de 21.10.69 e aprovado pela Resolução CFC nº 803/96, de 10.10.96,
com alterações nas Resoluções CFC nºs. 819/97, de 20.11.97, 942/02, de
30.08.2002, e 950/02, de 29.11.02. Atualmente possui a seguinte estrutura:

CAPÍTULO I - DO OBJETIVO

CAPÍTULO II - DOS DEVERES E DAS PROIBIÇÕES

CAPÍTULO III - DO VALOR DOS SERVIÇOS PROFISSIONAIS

CAPÍTULO IV - DOS DEVERES EM RELAÇÃO AOS COLEGAS E À CLASSE

CAPÍTULO V - DAS PENALIDADES

CAPÍTULO VI - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

7. O PROFISSIONAL E O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO

A ética é uma importante fonte de diretrizes do homem. Ela o condiciona a


impor limites a si próprio, de modo continuo, de forma a manter o equilíbrio
necessário para a vida em sociedade.

O Papel do Contador na Sociedade

O contador desempenha papel relevante na analise e aperfeiçoamento da ética


na profissão contábil, pois sempre esta a volta com dilemas éticos, nos quais
deve exercer, na plenitude de sua soberania, seu papel de profissional
independente.

A ética profissional, longe de debilitar a posição social da empresa, fortalece-a.

A respeito de acatar todos os procedimentos contábeis referidos nas leis, foi


ouvido no interior de uma empresa o seguinte contra-argumento: “Ora, mas
meus concorrentes na dão importância à contabilidade da empresa. Além de

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

utilizar não-contadores para fazer e analisar balanços, meus concorrentes


costumam apresentar resultados fictícios, sem constituir as necessárias
provisões. Quando não apresentam resultados é porque constituíram provisões
em excesso ou porque interpretaram, segundo seus interesses, determinada
norma legal. Por que nós, então, vamos arcar com o ônus financeiro e político
de uma contabilidade correta? Por que arcar com a desvantagem competitiva
em relação à concorrente, de evidenciar todo e qualquer fato econômico-
financeiro que altere a posição da empresa?”

Esse argumento é falho e pode ser assim analisado:

O fato de os concorrentes não darem importância à contabilidade da empresa


não mostra evidencia de ser esta a posição correta. Ao contrario a pratica
mostra o quanto a contabilidade é útil no acompanhamento da posição
econômico-financeira das empresas, na avaliação de seu desempenho e na
divulgação de informações.
A hipótese de a concorrente utilizar-se de não contadores para elaboração e
analise de suas demonstrações possibilita duas interpretações do ponto de
vista da ética:
 Se o profissional que ela utiliza não é contador, mas é familiarizado com
a técnica contábil reconhecidamente aceita, tal não se configura falta de
ética. Este profissional não poderá, no entanto, assinar referidas
demonstrações, por determinação de normas que regem o exercício da
profissão;
 Se a concorrente utilizada de profissional ou equipe não qualificada, tal
se configura falta de ética profissional, pois estará demonstrando
incompetência . a competência profissional é principio ético que deve
nortear os procedimentos de elaboração do balanço.

A hipótese aventada de que os concorrentes apresentam resultados fictícios,


sem constituírem as necessárias provisões deve ser mais bem formulada. Com
base em que se faz tal afirmação? O parecer da auditoria independente acusou
o fato? Houve ressalvas no parecer da auditoria? O balanço será republicado?
Admitindo-se, após reflexão responsável, que determinada concorrente

40
Professor Daniel Viegas Ribas Filho

apresentasse falsos resultados, este fato justificaria o mesmo procedimento


pela empresa reclamante? Correriam elas os mesmos riscos, na fiscalização
pelos órgãos arrecadadores de impostos?

A hipótese sobre a manipulação dos resultados pelos concorrentes, através da


constituição de provisões em excesso ou da interpretação enviesada da lei,
carece igualmente de provas. A não ser que o reclamante mantivesse um
serviço de acompanhamento sofisticado de concorrentes, ele não poderia
afirmar e, muito menos, provar a hipótese acima. Mas, também admitindo-se
que tal afirmação seja responsavelmente formulada, o concorrente de fato não
atende ao regime de competência de exercícios e à confrontação de receitas e
despesas, é de se perguntar: Deve o reclamante maldizer-se de sua sorte
enquanto empresário ético?

O fato do concorrente não constituir as provisões necessários ou de constituí-


las em excesso, distorcendo o resultado, é problema legal e ético do
concorrente, que arca com todas as responsabilidades do ato fraudulento.
Essas responsabilidades incluem: ressalvas no parecer de auditoria,
republicação de balanços, autuação pelos órgãos arrecadadores, publicidade
negativa, demissão etc. “Maquiar” balanços é pratica combatida, não estando
no repertório do bem profissional. Não existe, pois nível para comparação entre
o reclamante ético e o concorrente desonesto.

O ônus financeiro da desvantagem competitiva a que se refere o reclamante,


na verdade, não existe. Isso porque é difícil comprovar a prática dos atos
ilícitos, bem como mensurar suas vantagens. De qualquer forma, supondo-se
praticados os procedimentos ilegais, eles têm o grave poder deletério de
institucionalizar o vício do procedimento errado, gerando uma cultura nociva a
ser difundida por aqueles funcionários que dele têm conhecimento.

O importante a enfatizar é que os princípios éticos não são mera figura de


retórica, à moda em determinadas épocas. São preceitos que a sociedade
acolhe como verdadeiros e a eles legitima.

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Professor Daniel Viegas Ribas Filho

Conceitos Relacionados com Dilemas Éticos


O profissional de contabilidade enfrenta inúmeros dilemas éticos no cotidiano
do exercício de sua profissão. Essas situações críticas situam-se nas esferas
dos conceitos de dever, direito, justiça, responsabilidade, consciência e
vocação.

O dever corresponde à obrigação de oferecer, realizar ou omitir algo diante do


direito de alguém. A obrigação de um contador é de realizar os serviços de
natureza contábil da instituição, com qualidade dentro de determinado prazo.
Tal obrigação é um dever desse profissional e um direito da empresa.

O direito é a contrapartida do dever. É tudo aquilo que uma pessoa pode exigir
de quem lhe deve.

A justiça tem por axioma dar a cada pessoa o lhe corresponde, permitir que
possua o que lhe é de direito. Ela e a principal virtude da ética.

A responsabilidade é a capacidade de entendimento do direito e do dever que


acompanha o exercício de qualquer atividade. Assim, ao realizar um trabalho, a
pessoa percebe ter assumida uma obrigação, seja de executar bem um
serviço, seja de cumprir um prazo para sua conclusão.

A consciência é uma regra moral que motiva a pessoa a agir de determinada


forma, em vez de outra. A consciência age como o “juiz interno” que influencia
na tomada de decisão.

A vocação é a tendência (baseada nas aptidões) de uma pessoa de dedicar-se


a determinada profissão. Essa inclinação favorece a qualidade dos serviços
que ela presta, já que é mais difícil para a pessoa dedicar-se àquilo de que não
gosta.

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Dilemas Éticos

Os dilemas éticos são situações que forçam alguém a tomar um curso de ação
que, embora ofereça um potencial beneficio pessoal ou organizacional, ou
ambos, podem ser considerados potencialmente não-éticos. São situações em
que as ações devem ser tomadas, mas sobre as quais não há consenso claro
quanto ao que é certo ou errado. O indivíduo fica com o peso de fazer boas
escolhas.

A dificuldade chave dos problemas éticos da atualidade consiste em questionar


interesses pessoais com responsabilidade social, esse debate sobre a ética e a
responsabilidade social é muito antigo, e acentuou-se recentemente, devido a
problemas como poluição, desemprego e proteção dos consumidores, entre
muitos outros que sempre envolvem as organizações, públicas ou privadas.

Fatores que afetam a Ética Gerencial

É fácil demais se confrontar com dilemas éticos na segurança de um livro


didático ou de uma sala de aula da faculdade. Na prática, um gerente é
desafiado com freqüência a escolher cursos de ação éticos em situações nas
quais as pressões podem ser contraditórias e grandes. Uma consciência maior
dos fatores que influenciam a ética gerencial pode ajudá-los a lidar melhor com
eles no futuro. Esses fatores emanam da pessoa, da organização e do
ambiente externo.

a) O gerente como pessoa: A ética gerencial é afetada pelas experiências


pessoais e as vivências do gerente. Influências familiares, valores religiosos,
posições pessoais e necessidades financeiras ajudarão a determinar a conduta
ética de um gerente em uma dada circunstância. Gerentes, que não tem um
conjunto forte e coerente de éticas pessoais, descobrirão que suas decisões
vão variar de situação para situação enquanto eles tentam maximizar seus
interesses próprios. Os gerentes que atuam com fortes arcabouços éticos,
regras pessoais ou estratégias para o processo decisório ético serão mais

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coerentes e confiantes porque as escolhas serão feitas em confronto com um


conjunto estável de padrões éticos.

b) A organização empregadora: A organização exerce outra influência na


ética gerencial, o que pode com certeza afetar as decisões e ações de um
indivíduo é exatamente aquilo que o superior imediato exige e aquilo que
resultará em prêmio ou punição. As expectativas e reforços dados por colegas
e as normas do grupo parecem ter impacto semelhante. Declarações formais
de políticas e regras escritas, embora não garantam resultados, são também
muito importantes no estabelecimento de um clima ético para a organização
como um todo. Elas apoiam e reforçam a cultura organizacional que tem forte
influência no comportamento ético dos membros.

c) O ambiente externo: As organizações operam em ambientes externos


compostos de leis e regulamentos governamentais e normas e valores sociais.
As leis interpretam os valores sociais para definir comportamentos adequados
para as organizações e seus membros; os regulamentos ajudam o governo a
monitorar esses comportamentos e a mantê-los dentro de padrões aceitáveis.
O clima de concorrência numa indústria também estabelece um padrão de
comportamento para aqueles que esperam prosperar dentro dela. Ás vezes as
pressões da concorrência contribuem ainda mais para os dilemas éticos dos
gerentes.

Padrões de Conduta Ética para Contadores Gerenciais

O Contador Gerencial tem obrigações: (a) para com a empresa em que


trabalha, (b) com o público e (c) consigo mesmo. Essas obrigações consistem
em manter os mais altos padrões de conduta ética. No reconhecimento dessas
obrigações o IMA - Institute of Management Accountants tem adotado os
seguintes padrões de conduta ética para os Contadores Gerenciais. A
aderência a esses padrões deve ser integral para se atingir os objetivos da
Contabilidade Gerencial. Os Contadores Gerenciais não podem cometer e nem
permitir que outras pessoas cometam atos contrários aos padrões
estabelecidos.

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COMPETÊNCIA

Os Contadores Gerenciais tem por responsabilidade:

 Manter um nível apropriado de competência profissional com o


desenvolvimento contínuo de seus conhecimentos e habilidades.
 Realizar seus deveres profissionais de acordo com as leis, regulamentos
e padrões técnicos relevantes.
 Preparar relatórios e recomendações completos e claros após a análise
apropriada de informações relevantes e confiáveis.

CONFIDENCIALIDADE

Os Contadores Gerenciais tem por responsabilidade:

 Não divulgar informações confidenciais adquiridas no curso de seu


trabalho exceto quando autorizado, a menos que seja obrigado legalmente
a fazê-lo.
 Alertar aos subordinados apropriadamente a respeito da
confidencialidade da informação adquirida no curso dos trabalhos.
Monitorar suas atividades assegurando a manutenção plena da
confidencialidade.
 Não permitir o efetivo ou aparente uso de informação confidenciais
adquiridas durante o curso de seu trabalho para usufruir vantagens anti-
éticas ou ilegais, pessoalmente ou através de terceiros.

INTEGRIDADE

Os Contadores Gerenciais tem por responsabilidade:

 Evitar conflitos de interesses reais e aparentes. Alertar todas as partes


envolvidas em algum potencial conflito de interesses.

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 Não se envolver em qualquer atividade que possa prejudicar sua


habilidade em conduzir seus deveres eticamente.
 Recusar qualquer presente, favor ou hospitalidade que possa influenciar
ou possa parecer influenciar suas ações.
 Reprimir ativamente ou passivamente qualquer ato que possa impedir
que a organização atinja seus objetivos éticos e legítimos.
 Reconhecer e comunicar limitações profissionais ou outras restrições
que possam prejudicar julgamentos responsáveis ou o sucesso de um
trabalho ou de uma atividade.
 Comunicar informações, julgamentos ou opiniões profissionais
desfavoráveis de modo semelhante ao usado para as favoráveis.
 Repudiar o envolvimento ou apoio a qualquer atividade que possa
desacreditar a profissão.

OBJETIVIDADE

Os Contadores Gerenciais tem por responsabilidade:

 Comunicar as informações de forma satisfatória e objetiva.


 Revelar por completo quaisquer informações que tenham a possibilidade de
influenciar a compreensão dos relatórios, bem como dos comentários e
recomendações apresentadas, por parte de um possível usuário.

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8. ÉTICA E QUALIDADE

As relações econômicas mundiais sempre se firmaram em um ambiente


político e social de transformação e em constante evolução. O significado
social da moral esta na regulamentação das relações entre os homens
enquanto indivíduos e seres sociais para contribuir com a manutenção e
garantia da ordem comunitária.

A segunda metade do século XX assistiu às mais rápidas mudanças que a


humanidade viveu e os fatos confirmam que a aceleração desta mudança é
crescente em relação ao tempo.

A ênfase do atual modelo econômico e, ao mesmo tempo, a razão pela qual as


transformações ocorrem esta na figura do cliente. A preferência e a fidelidade
ao mercado consumidor são minuciosamente disputadas e a moral cumpre
uma função bem definida neste contexto, que é contribuir para que os atos dos
indivíduos ou de uma empresa se desenvolvam de maneira vantajosa para
toda a sociedade.

As alterações estruturais, tecnológicas e comportamentais em busca por


qualidade total vêm sendo sucessivas nas empresas desde o começo do
século. Em geral, os processos de melhoria da qualidade têm como foco o
cliente, sua satisfação e fidelidade. Isto deriva da tendência de que, no futuro, o
espaço das empresas no mercado dependerá da confiança e credibilidade
pública atingidas, pois preços baixos, publicidade fascinante, sucesso do
passado e grandes promessas não serão suficientes.

Ética Profissional e os Programas de Melhoria da Qualidade

Afinal, pode uma empresa que não possua um padrão ético manter um
programa de melhoria da qualidade?

São vários os exemplos em que a implementação dos conceitos de qualidade


em uma organização perdem a credibilidade. A principal razão é a excessiva

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atenção dada ao desenvolvimento da qualidade estratégica e operacional, sem


o acompanhamento simultâneo da qualidade ambiental. O ambiente da
empresa, os relacionamentos internos, o envolvimento e o comprometimento
de cada indivíduo são partes tão fundamentais quanto a estratégia e a
operacional.

Os programas de qualidade falham quando os recursos humanos não se


identificam ou quando não estão claros os objetivos ou a missão da empresa.
Só há sucesso quando se consegue a confiança em valores como justiça
dentro da empresa e na importância de sua reputação. A partir de então, surge
o interesse na melhoria da qualidade de produção e atendimento.

No cotidiano das empresas, os profissionais defrontam com a necessidade de


pautar seu comportamento por normas que indiquem a conduta que se julgue
mais apropriada. Essa necessidade é sanada na proporção em que o
profissional aceita e reconhece o dever de cumprir tais normas. Nessa situação
ele passa a agir moralmente e a emitir juízos de valor coerentes com a cultura
de qualidade que a empresa que implantar.

A Wharton School da Universidade da Pensilvânia identificou algumas


motivações diretas para empresas e gestores sobre a manutenção dos padrões
éticos:

 Altos padrões éticos criam um ambiente psicologicamente saudável;


 Empresas com tais padrões têm menos problemas de furtos, sabotagens,
discriminação, produtos defeituosos e depredação das instalações;
 Empresas éticas desenvolvem, relações de confiança mais estáveis e
lucrativas com seus clientes;
 Minimizam-se riscos de escândalos que destroem companhias e carreiras;
 Confiança é fundamental nas transações comerciais eficientes e certamente
o comportamento ético é necessário para manter a confiança.

Nesse, sentido grandes alterações são observadas no sistema de informação


da empresa. Em todos os vetores, a comunicação exigida pela abordagem

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clientes e fornecedores internos revoluciona os métodos habituais de troca de


informações.

O comportamento ético padronizado pela empresa é o grande mediador do


envolvimento informativo dos níveis hierárquicos da empresa. A gestão passa a
ser mais participativa delegável e a qualidade torna-se parte do código de ética
da empresa. Daí surgem duas variantes: a necessidade de treinamento e
educação de todo a empresa dentro da ética, e a valorização do perfil ético de
gestores.

Sendo a valorização da ética uma tendência adotada pelas organizações em


todo o mundo, o ensino da ética nas escolas é uma conseqüência direta. O
desafio é ajudar os estudantes a aprender a lidar com o conceito de ética
efetivamente nas transações nacionais e internacionais, recursos humanos,
decisões financeiras, diretrizes políticas, padrões profissionais, gerenciamento
da qualidade e a combinação destes fatores.

9. A ÉTICA E A LEI

Na sociedade humana a lei favorece a estabilidade social. È através dela que a


sociedade fica sabendo das regras necessárias para viver-se em harmonia e
promover-se o desenvolvimento.

Seria possível uma sociedade sem leis? Imagine-se vivendo em um país em


que não haja leis ou normas que regulamentem a ordem coletiva. Como seria
seu relacionamento com um mendigo que lhe pedisse insistentemente uma
esmola? Bastaria você negar, ou seria de se esperar uma atitude de violência
qualquer por parte do despossuído?

Imagine-se agora vivendo em uma sociedade igual as primeiras sociedades


organizadas, na qual a lei existente fosse a do Piteco (a lei do mais forte). Você
conseguiria assegurar sempre suas conquistas, seja de território, seja de bens
pessoais? A resposta e negativa, pois sempre surgiria alguém mais selvagem e
forte que você que iria apossar-se do que é seu.

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A importância da lei pode agora ser avaliada. Ela veio distinguir os


comportamentos sadios dos nocivos. Os primeiros enquadram-se naqueles
tidos como normais, já que são praticados pela maioria das pessoas e aceitos
pela sociedade como bons. Os segundos consistem naquelas atitudes que
prejudicam o próximo e são praticadas por um número relativamente pequeno
de pessoas.

Pode-se dizer que a lei é um instrumento ético, porquanto, a ética, como


expressão única do pensamento correto, conduz à idéia da universalidade
moral, ou ainda, a forma ideal universal do comportamento humano, expressa
em princípios validos para todo pensamento moral e sadio.

Além de promover a segurança para a coletividade, a lei transmite valores que


servem de referencia à consciência de cada pessoa e, consequentemente, da
nação.

A lei pode englobar princípios sociais, bem como ideais da sociedade.


Entretanto ela não pode ser desobedecida de forma generalizada e sistemática
por aqueles ao quais de aplica, sob pena de tornar-se inócua. Para assegurar
sua eficácia as penas por ela previstas devem ser fiscalizadas e executadas.

Uma das principais características da lei é sempre estribar-se na verdade.

Diariamente, vários atentados ao direito pessoal são notificados pela mídia. A


grande maioria desses delitos diz respeito a roubos, tráficos de drogas,
assaltos e assassinatos, enfim, atentados violentos ao direito pessoal. As
razões que levam algumas pessoas a cometer crimes dessa natureza são
diversificadas e complexas.

Os crimes de colarinho branco são delitos de natureza financeira e econômica


cometidos por pessoas que têm recursos, contra aqueles com quem têm
interesses comuns. São crimes motivacionais, ou seja, seus autores tiveram

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motivos próprios para burlar a lei que foram superiores a sua formação ética. O
motivo mais freqüente é o desejo de enriquecimento pessoal.

Os códigos de ética, embora tenham grande influencia em nível corporativo,


não eliminam as ocorrências de fraude e de outros crimes de colarinho branco,
que surge quando a ambição exerce seu fascínio e o profissional se vê refém
da mentira.

Embora alguém possa desejar que todo caso de violação da ética esteja
previsto em lei, a violação de preceitos éticos não acarreta necessariamente
uma punição para os transgressores.

Atributos de um bom Profissional da Contabilidade

A honestidade é uma das qualidades mais importantes e exigidas do


profissional de contabilidade. Outras qualidades também exigidas são
competência, produtividade e sociabilidade.

Através de sua competência, o profissional de contabilidade mostra o quanto


pode ser hábil e sofisticado na produção de informação; através de sua
produtividade, ele consegue otimizar o tempo disponível, de sorte a produzir
mais informação; por meio da sociabilidade, ele mostra como lidar com o
cliente e como cruzar a fina linha entre relatar a verdade e não perder o cliente,
acrescido de novas oportunidades na carreira.

Os contadores devem sempre dizer a verdade e resistir às propostas cuja


aceitação redundaria em comportamento profissional antiético. Zelar, pois,
pelos interesses dos acionistas majoritários e dos minoritários é obrigação do
contador que não deverá fazer distinção de qualidade da informação desses
grupos.

Uma forma de combater praticas lesivas à empresa é a denuncia, feita por um


ou vários empregados, geralmente aos escalões superiores.

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