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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE MANICA

Auria Erica Luís Sixpenze

Resumo de textos sua comparação


Trabalho da cadeira de TELP no
curso de Licenciatura em Ensino de
História e Geografia, 1o ano.
Orientado pelo: dr. Vicente

Manica, Maio de 2022


O ASSALTO

Carlos Drummond de Andrade

Na feira, a gorda senhora protestou a altos brados contra o preço do chuchu:

– Isto é um assalto!

Houve um reboliço. Os que estavam perto fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o guarda.
Um minuto depois, a rua inteira, atravancada, mas provida de admirável serviço de
comunicação espontânea, sabia que se estava perpetrando um assalto ao banco. Mas que
banco? Havia banco naquela rua? Evidente que sim, pois do contrário como poderia ser
assaltado?

– Um assalto! Um assalto! 

– Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!

O ónibus na rua transversal parou para assuntar. Passageiros ergueram-se. Não se via nada. O
motorista desceu, desceu o trocador, um passageiro advertiu: 

– No que você vai a fim de ver o assalto, eles assaltam seu caica.

Ele nem escutou. Então os passageiros também acharam de bom alvitre abandonar o veículo. 

Outros ónibus pararam, a rua entupiu. 

– Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas. Assim eles não podem dar no pé. 

– É uma mulher que chefia o bando!

– Já sei. A tal dondoca loura.

– A loura assalta em São Paulo. Aqui é a morena.

– Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi. 

– Minha Nossa Senhora, o mundo está virado!

– Vai ver que está caçando é marido.

– Não brinca numa hora dessas. Olha aí, sangue escorrendo!


– Sangue nada, tomate.

Na confusão, circularam notícias diversas. O assalto fora a uma joalheria. O que os bandidos
não levaram, era agora objecto de saque popular. Morreram no mínimo duas pessoas, e três
estavam feridas. 

Os edifícios de apartamento tinham fechado suas portas, logo que o primeiro foi invadido por
pessoas que pretendiam, ao mesmo tempo, salvar a pele e contemplar lá de cima. Janelas e
balcões apinhados de moradores, que gritavam:

– Pega! Pega! Correu pra lá!

– Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma metralhadora, a pequena distância. Cessou o ruído.


Que assalto era esse dilatado no tempo, repetido, confuso?

– Olha o diabo daquele escurinho tocando matraca! E a gente com dor-de-barriga, pensando
que era metralhadora. 

Caíram em cima do garoto, que soverteu na multidão. A senhora gorda apareceu, muito
vermelha, protestando sempre:

– É um assalto! Chuchu por aquele preço é um verdadeiro assalto!” 

O Regresso do Morto

Aos magaíça, va mafelandlelene (I)

Veio do poente incendiado, lá do fim do mundo, pelo atalho dos fundos.

Foi no derradeiro canto das codornizes, no último voo da rola, a oração das rãs nos pântanos,
a terra cobrindo-se de sombras e de silêncio.

Os mortos, quando regressam, diziam, trazem a cruz pesada da sua própria tumba dobrando-
lhes a coluna. Porém, nunca ninguém os viu de regresso.

Mas eis que este retorna. Uma pesada mala de chapa no lugar da cruz.

Vem arrastando um par de botas sólidas. Pôs a mala no chão. Os ossos rangeram como os
gonzos de uma porta velha, quando endireitou a coluna. Uma lâmina pairou no ar como um
raio e, em arco, fulminou o tronco seco. Uma mulher, entre duas palhotas, rachava lenha. Ao
fitá-la, o fogo avivou os olhos mortos.

– Hodi! O vento devolveu ao poente a voz débil.

– Hooodii! – fez novamente, com mais ar. O raio parou no ar. A velha voltou-se, lentamente,
e procurou o dono da voz. Depois, os olhos esbugalhados, o corpo tremeu, o machado caiu.

– Hoyo-hoyo – o Morto esperava ouvir tal saudação. Sete anos antes, numa tarde igualzinha
àquela, Maria, sua nora, suspendera o maço do pilão no ar e dissera:

– Vem aí um homem.

– É quem?

– Musés morreu na mina.

Moisés, mafunda-djoni, uma mocidade vendida no contracto a sonhar com gramafone, roupas
de valor, confortáveis mantas e ricas bugigangas, o pão de agradável odor, guardado dias sem
bolor, a farinha dissolvendo-se saborosa na boca. Moisés via com admiração os magaíça
desembarcando no comboio da Manhiça, as malas cheias, os olhos brilhantes de orgulho. E o
País do Rand começou a atraí-lo.

– Não vou mais à escola – decidiu – o professor bate muito.

– Vais ser burro de carregar sacos – sentenciava a mãe.

– Burro, não, mineiro. Estudar para quê?

E acrescentava com os ombros cheios:

– Volto com massónica para varrer toda a gente!

Partiu sem dizer adeus. Nenhuma carta desde então. Chegada a notícia da sua morte, a família
vestiu luto. É ainda dentro dessas roupas de dor que o Morto encontra a velhota. Há uma força
que a magnetiza. Olhos rasgados e húmidos de emoção, avança, passo a passo, para o Morto.
Os ossos fortes apertam-na num abraço.

– Não chores, mãe. Eu não morri...

Ela já havia desmaiado.


Suleiman Cassamo, in O Regresso do Morto

O que de comum há nos 2 (dois ) textos:

Os dois textos são de género literário do tipo narrativo. Ambos apresentam uma função
estética, linguagem conotativa, apresentam liberdade na criação baseada na imaginação do
autor.

Ou por outra, os dois textos são baseados na imaginação do escritor/artista e, portanto,


são subjectivos. Apresentam a função de entreter o leitor, e estão intimamente relacionados
com a arte. Por serem textos artísticos, não tem compromisso com a objectividade e com a
transparência das ideias. Possuem um carácter estético e não somente linguístico, cuja
interpretação e significação variam de acordo com a subjectividade do leitor.

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