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- E tais coisas disse e tantas, com gente já a chegar-se, que minha mãe pôs fim ao
- sermão, por não gostar de trovoadas:
GUIA DO PROFESSOR - – Mas se gostas mais desta, leva-a, mulher.
«A GALINHA»
- Foi o que ela quis ouvir. Trocou logo as galinhas, mas ainda disse:
Atividades de motivação para
a leitura 25 – Mas sempre te digo que a minha é de mais dura, basta bater-lhe assim (bateu)
Promova a recolha de opini-
ões sobre a) a natureza da
- para se ver que é mais forte.
violência humana: ela é ina-
ta ao ser humano? b) exem-
- – Então fica com ela outra vez – disse minha mãe.
plos dessa violência: familiar,
social, mundial…
- – Não, não. Trafulhices, não. Está trocada, está trocada.
- Meu tio estava a assistir mas não dizia nada, porque minha tia dizia tudo por ele e,
Atividades de pré-leitura 30 se dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia engolia-o. Meu pai também es-
1. O conto que vais ler apre-
senta um cenário de conflito - tava a assistir, mas também não dizia nada, por entender que aquilo era assunto de
generalizado dentro de uma - mulheres. Acabadas as compras, minha mãe voltou logo com o meu pai na carroça
comunidade. Atendendo ao tí-
tulo, dá a tua opinião justifica- - do António Capador, que tinha ido vender um porco. Mas a minha tia ficava ainda
da sobre se esse conflito foi
causado por algum aconte- - com o meu tio, porque precisavam de ir visitar a D. Aurélia, que era uma pessoa im-
cimento insignificante ou se, 35 portante e merecia por isso uma visita para se ser também um pouco importante.
pelo contrário, teve início de-
vido a alguma razão impor- - E como ficavam e só voltavam na camioneta da carreira, a minha tia pediu a minha
tante.
- mãe que lhe trouxesse a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado,
2. No final do conto, o narra-
dor relata ter partido à mar- - que até se podia partir. De modo que disse:
telada uma galinha de barro:
«Então, com um ódio reforça- - – Tu podias levar-me a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braça-
do, fui-me à galinha de marte-
lo no ar. Os cacos voaram por
40 do, que até se pode partir.
todo o lado. Já não havia mais
galinha, mas eu continuava a
- Minha mãe trouxe, pois, as duas galinhas na carroça do António Capador, e a mi-
martelar.» - nha tia ficou. E quando à tarde ela voltou da feira, foi logo buscar a sua. Minha mãe
Na tua opinião, ele tem esta
atitude porque – seleciona as
- já a tinha ali, embrulhada e tudo como minha tia a deixara, e deu-lha. Mas minha
três possibilidades que estão - tia olhou a galinha de minha mãe, que já estava exposta no aparador, e ao dar meia
em consonância com o senti-
do geral do conto: 45 volta, quando se ia embora, não resistiu:
a) a galinha esteve na origem - – Tu trocaste mas foi as galinhas.
de muito sofrimento;
b) quer demonstrar o seu re- - Disse isto de costas, mas com firmeza, como quem se atira de cabeça. E minha
púdio pela violência que tes-
temunhou; - mãe pasmou, de mãos erguidas ao céu:
c) é uma forma de protestar - – Louvado e adorado seja o Santíssimo Nome de Jesus! Então eu toquei lá na ga-
contra a natureza violenta do
ser humano; 50 linha! Então a galinha não está ainda conforme tu ma entregaste? Então tu não vês
d) não gostava da galinha por - ainda o papel dobrado? Então não estarás a ver o nó do fio?
a considerar um objeto feio.
- Estavam só as duas e puderam desabafar.
- – Trocaste, trocaste. Mas fica lá com a galinha, que não fico mais pobre por isso.
Áudio
«A galinha», conto - Minha mãe, cheia de compreensão cristã e de horror às trovoadas, ainda pensou
de Vergílio Ferreira 55 em destrocar tudo outra vez. Mas aquilo já ia tão para além do que Cristo previra,
- que bateu o pé:
CD áudio
- – Pois fico com ela, não a quisesses trocar. Só tens gosto naquilo que é dos outros.
- E daqui para a frente, disseram tudo. Minha tia saiu num vendaval, desceu as
- escadas ainda aos berros, de modo que minha mãe teve de vir à janela dizer mais
60 coisas. Minha tia foi indo pela rua adiante, sempre aos gritos, e de vez em quan-
- do parava, voltando-se para trás para dizer uma ou outra coisa em especial a mi-
- nha mãe, que estava à janela e lhe ia também respondendo como podia. Até que a
- rua acabou e minha mãe fechou a janela. E aí começou o meu pai, quando lá longe
- minha tia lhe passou ao pé e meu pai lhe perguntou o que havia e ela lhe disse o que
65 havia, chamando mentirosa a minha mãe. Meu pai então disse:
50
2
- – Mentirosa é você.
- E começou a apresentar-lhe os factos com-
- provativos do que afirmara e que já tinha decerto
- enaipados de outras ocasiões, porque não se en-
70 gasgava:
- – Mentirosa é você e sempre o foi. Já quando
- você contou a história do Corneta, andou a dizer
- que
- – Mentiroso é você, como sua mulher. Uma vez
75 na padaria a sua mulher disse que
- E daí foram recuando no tempo à procura das
- mentiras um do outro. Estavam já chegando à in-
- fância, quando apareceu o meu tio. Minha tia pas-
- sou-lhe a palavra e começou ele. Mas como a coisa
80 agora era entre homens, meu tio cerrou os punhos
- e disse:
- – Eu mato-o, eu mato-o.
- Meu pai, que já devia estar cansado, ficou quie-
- to, à espera que ele o matasse. E como ficou quie-
85 to, meu tio recuou uns passos, tapou os olhos com
- um braço e disse outra vez:
- – Foge da minha vista que eu mato-te.
- Entretanto olhou em volta à espera que o segu-
- rassem. E quando calculou que tudo estava a postos
90 para o segurarem, ergueu outra vez os punhos e avançou
- para o meu pai. Finalmente seguraram-no, e meu tio estrebuchou a querer libertar-
- -se para matar o meu pai. Mas lá o foram arrastando, enquanto o meu tio se voltava
- ainda para trás, escabujando de raiva e de ameaça.
- E chegada a coisa a este ponto, era a altura de se formarem partidos, como sem-
95 pre que há uma razão para se formarem partidos. Velhos ódios, invejas e ciúmes
- vieram ao de cima para um ajuste de contas.
- No domingo seguinte, já com vinho a empurrar, houve mesmo facadas. O Corne-
- ta tinha com o Catrelha uma questão de águas de há séculos e aproveitou. Os parti-
- dos subdividiram-se assim em grupos pelo Catrelha e pelo Corneta. Foi quando o
100 Boia, que não gramava o Capador desde a história de um porco mal capado, adian-
- tou na taberna que as galinhas possivelmente tinham sido trocadas por ele, que não
- gramava o meu tio desde uma história de mordomia do Mártir S. Sebastião. O Cara-
- panta ouviu e foi dizer. Num outro domingo, e já entusiasmado de briol, o Capador
- pediu satisfações. Armou-se então um arraial cujo balanço deu três feridos com
105 facadas, dois à paulada e um morto com um tiro de caçadeira. E desde então toda a
- aldeia ficou em pé de guerra. Metade da população foi metida na cadeia, mas depois
- de muitos interrogatórios não se passou daquilo que já se sabia e era quem tinha
- ficado ferido e quem tinha ficado morto. De modo que se reconstituiu a popula-
- ção com a libertação dos presos. E dado isso, recomeçou-se outra vez. No domingo
110 seguinte, melhorou-se o saldo com dois mortos e vinte feridos. Veio a guarda e le-
- vou a outra metade da população com um ou outro elemento da primeira metade.
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2 Textos literários: narrativas e crónicas
- Mas não se melhorando o resultado das investigações, uns dois ou três meses de-
- pois voltou tudo para casa, até porque a metade que ficara livre ia continuando o
- trabalho, com um saldo, aliás pouco brilhante, de cinco feridos e um moribundo.
115 Trocadas as metades e recomeçadas as investigações sem resultado, houve quem
- propusesse meter tudo na cadeia. Mas havia o problema dos velhos e das crianças,
- que precisavam dos outros e talvez estivessem inocentes, e veio tudo outra vez para
- a rua. Mas agora, aos domingos, a aldeia ficava coalhada de guardas. A princípio deu
- resultado, porque nas discussões não se passou de palavras. Até que certa vez uma
120 pedrada anónima acertou em cheio na cabeça de um agente e logo se armou uma
- sarrabulhada enorme, com gritos, gente a fugir e tiroteio para o ar. E como a dada
- altura as pedradas recomeçaram, o tiroteio recomeçou também, mas mais baixo. O
- saldo dessa vez foi francamente positivo, com cinco mortos e vinte feridos. E como
- a luta continuou, alguns habitantes, que não podiam estar à espera de que acabasse,
125 foram morrendo de morte natural. E como havia intervalos na luta com a autorida-
- de, alguns habitantes aproveitavam para irem entre si acertando contas em atraso.
- Verificada a certa altura a insuficiência da guarda, veio a tropa. Primeiro a infan-
- taria, depois a cavalaria, esperando-se depois a artilharia. Reduzida a população a
- metade, também as habitações, talvez por serem desnecessárias, ficaram reduzidas
130 a metade. E quando finalmente os combatentes rarearam ou sucumbiram a uma
- imprevista cobardia, a luta cessou. E acabada a luta, recomeçou a paz. No meu ba-
- lanço pessoal verifiquei a morte de meu tio com três facadas a uma esquina e a mor-
- te natural de meu pai, que aliás, cumprida a sua missão no barulho, se reformara
- logo a seguir. E alguns anos depois de se fazerem as pazes, morreu minha mãe.
135 Como eu era o único herdeiro, dispus-me a tomar posse do que era meu. Mas
- por isso mesmo, a primeira coisa que entendi necessária foi arrumar a cacaria com
- que minha mãe fora adornando a casa. Antes de mais, atirei-me aos santos de toda
- q celeste, porque sou ateu. Havia-os em estampas, em louça, em metal.
a hierarquia
- Dependurados em molduras, metidos em redomas, com ou sem lamparina. E em
140 livros de missa, fo folha sim, folha não. E, escacada a santaria, dispus-me a atacar o
- resto. Irritavam-m
Irritavam-me sobretudo os vasinhos que se multiplicavam por todo o lado
- e umas um andorinhas em louça pregadas na parede da sala de visitas.
- e
E estava eu nisto quando chegou a minha tia. Ela fora ao enterro de
- m
minha mãe, fora lá a casa dar os sentimentos, abraçando-se-me aos
145 gr
gritos antes de eu ter tempo de uma reação apropriada. Entrada
- q foi agora, estava eu na tarefa da limpeza, sentou-se compun-
que
- ggida e disse:
- – Olha, filho, o que lá vai lá vai e só Deus sabe o que tenho cho-
- rado e rezado pela tua mãe.
150 Calou-se. Eu, como não tinha nada a objetar, também não disse
- nada. E minha tia, aproveitando o silêncio, disse:
- – Ai!...
- Eu continuei calado, por não haver razão para falar. Mas
- qualquer coisa em mim se fora preparando para o que viria,
155 porque quando veio não me surpreendi. E o que veio foi:
- – Olha, meu filho.
52
2
- Minto. Antes disso, minha tia disse ainda:
- – Ai!...
- E só então, sim:
160 – Olha, meu filho, eu tinha uma coisa a pedir-te. Tu
- sabes, enfim, como foi o caso da galinha. A tua mãe, que
- Deus tenha...
- Interrompi-a:
- – Quer a galinha? Leve-a.
165 Ela teve ainda um clarão de cólera:
- – Não a quero! Não quero o que é teu! Quero só, só o que
- é meu!
- E amansou. Baixou o tom:
- – Queria só que ma trocasses. Trago aqui esta.
170 E tirou-a de um cabaz, pondo-a ao pé da outra no apara-
- dor. Eu sorri:
- – Leve as duas.
- – Não quero o que é teu! - disse ela outra vez, alçando o
- tom.
175 Sorri outra vez também:
- – Deixe então essa e leve a outra.
- Ela agradeceu, já sossegada, de olhos baixos e virtuosos.
- Abri a tampa da galinha – estava cheia de estampas, carros de linha, agulhas, amos-
- tras de fazenda. E comecei a tirar. Minha tia, então, de súbito, deitou as mãos ao
180 ventre, ergueu para mim uns olhos necessitados.
- – Ao fundo do corredor – disse eu. – Veja se há papel.
- Ela foi, eu continuei o despejo. No fundo da galinha havia uma estampa de San-
- ta Bárbara. Achei piada, deixei-a ficar. Especializada em trovoadas, a santa, tê-la-ia
- posto ali a minha mãe? Deixei-a ficar. Minha tia regressou, mais reconciliada com a
185 vida. Fui dentro procurar papel para o embrulho, mas ela interrompeu-me:
- – Não é preciso.
- Mal eu virara costas, empalmara logo a galinha, metera-a no cesto. Abraçou-me
- e chorou. Não percebi porquê – chorou. Acompanhei-a à porta, regressei à sala. En-
- tão, com um ódio reforçado, fui-me à galinha de martelo no ar. Os cacos voaram
190 para todo o lado. Já não havia mais galinha, mas eu continuava a martelar. Até que,
- enfim, parei. E só então é que vi: entre a cacaria que se espalhara em volta, mesmo
- no meio dos destroços, estava a estampa de Santa Bárbara.
53
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Leitura
GUIA DO PROFESSOR
Leitura
1. A mãe do narrador com- Analisa o conto considerando, principalmente, o conflito que nele ocorre e os diferentes
prou uma galinha de barro na
feira; a tia do narrador com- espaços nos quais se desenvolve.
prou depois outra. A tia do
narrador, comparando a sua Observa o quadro antes de responderes às questões que se seguem.
galinha com a comprada pe-
la mãe do narrador, disse que
eram diferentes. A mãe do
narrador não concordou. Foi
este facto que iniciou a dis- Ação / conflito Espaço(s)
cussão entre as duas.
2. Trata-se de um espaço ex- 1. Início Espaço público A feira
terior, aberto, público: a feira.
3. Psicologicamente, a tia do Residência do narrador
narrador revela-se uma per- 2. Desenvolvimento e da sua família
sonagem conflituosa. Mostra Do espaço privado ao
(progressão; generalização;
má educação por se expres- espaço público A rua
sar «aos berros», ll. 10-12 globalização do conflito)
quando lhe dizem o preço da A aldeia
galinha; pouco depois torna
a «erguer a voz», l. 18; a má 3. Final Espaço privado Residência do narrador
educação verifica-se ainda
quando acusa de trafulha a
cunhada, l. 28. O conto apre-
senta outros momentos nos
quais se revela o caráter con-
flituoso da personagem em I – Um conflito privado que nasce num espaço público (ll. 1 a 40)
análise.
4. Trata-se da residência do 1. Explicita o facto que iniciou o conflito entre as duas mulheres.
narrador e da sua família.
5. O conflito agravou-se por- 2. Define o espaço onde se iniciou este conflito.
que a tia do narrador acusou
a mãe deste de ter trocado as
galinhas na sua ausência. 3. Com base nas suas palavras e atitudes, caracteriza psicologicamente a tia do narrador.
6. A acusação foi feita «com
firmeza», l. 47: deste mo-
do, a tia do narrador preten-
II – Um conflito privado que se desenvolve num espaço privado (ll. 41 a 57)
dia, sem dúvida, intensificar o
conflito.
4. Identifica o «espaço privado» acima referido.
7.
7.1 Estas frases demonstram 5. Refere a acusação que fez agravar o conflito.
a indignação da mãe do nar-
rador, e também o seu espan-
to perante a acusação. 6. Explicita de que modo foi feita a acusação.
8.
7. Perante a acusação, a mãe do narrador exprime-se através de uma sequência de frases
8.1 A expressão «num ven-
daval» concretiza uma me- exclamativas e interrogativas.
táfora.
7.1 Esclarece o seu valor expressivo.
8.2 Do mesmo modo que um
vendaval consiste em vento
que sopra a grande velocida-
de, a tia também saiu muito III – Um conflito privado que se desenvolve num espaço público
depressa e em grande agita- e se transforma em conflito público, generalizado (ll. 58 a 134)
ção.
8.3 Trata-se da metáfora
«trovoadas», que surge por 8. A passagem do espaço privado para o espaço público ocorre com a frase «Minha tia saiu
duas vezes, ll. 22 e 54: do
mesmo modo que a trovoa- num vendaval (…)», l. 58.
da se caracteriza por ruídos
muito fortes, as discussões 8.1 Identifica o recurso expressivo presente nesta frase.
entre as duas mulheres tam-
bém eram em extremo ruido-
8.2 Explica a sua expressividade.
sas, cheias de berros e gritos. 8.3 Identifica, no conto, duas ocorrências repetidas do mesmo recurso expressivo –
também elas de cariz meteorológico – que surgem antes deste.
54
2
9. Identifica os outros espaços públicos nos quais a ação conflituosa se vai desenvolver segui-
damente.
GUIA DO PROFESSOR
10. Faz o levantamento dos vários motivos que, na aldeia, contribuíram para instaurar o con-
Leitura
flito permanente. 9. Os espaços públicos são a
rua, onde se situa a residên-
cia do narrador; depois, este
IV – O fim do conflito (ll. 135 a 192) espaço alarga-se à aldeia na
sua totalidade.
11. A presença do narrador está bem marcada na parte final do conto. 10. O conflito alargou-se de-
pois de vários habitantes da
11.1 Explica a atitude do narrador participante ao destruir, «(…) com um Categorias aldeia terem assistido à dis-
da narrativa cussão com ameaças de
ódio reforçado (…)», l. 189, a galinha de barro. Págs. 262-263 morte entre o pai e o tio do
narrador; a partir daqui for-
maram-se «partidos», l. 94,
e o conflito generalizou-se na
aldeia.
Escrita
11.
11.1 A destruição da galinha
Oficina é simbólica: o narrador, ao fa-
de escrita zê-lo, põe em causa a violên-
cia familiar que tantas vezes
pôde testemunhar; o modo
Escrever para expressar opiniões fundamentadas como destrói a galinha revela
bem quanto lhe custavam as
Trabalho de pares ou grupos de três alunos situações de ódio entre ele-
mentos da sua família.
Lê com atenção os três pequenos textos que se seguem. O texto A narra o mito bí- Escrita
blico do primeiro assassinato; no texto B sintetiza-se a opinião de Konrad Lorenz sobre Oficina de escrita
a violência humana; no texto C, Vergílio Ferreira dá-nos uma chave de leitura funda- O trabalho de edição pode ser
recomendado como TPC.
mental para o conto «A galinha».
TEXTO A
Caim porém disse a seu irmão Abel: Saiamos fora. E quando ambos estavam no
campo, investiu Caim contra seu irmão Abel, e matou-o.
Génesis, Capítulo 4, versículo 8, Lisboa, Três Sinais Editores, 2001 (adaptado)
TEXTO B
O ponto crucial da visão de Konrad Lorenz a respeito da natureza humana é
que o homem tem o impulso inato do comportamento agressivo em relação à sua
própria espécie.
http://www.cobra.pages.nom.br (Consultado em 12.07.2012)
TEXTO C
O homo homini lupus [o homem é um lobo para o homem] era-me de trági-
ca evidência nas contendas absurdas que presenciara na infância. Mas só tarde
aprendi que a aldeia era o mundo.
Vergílio Ferreira, Espaço do Invisível, Lisboa, Bertrand, 1998 (adaptado)
55
2 Textos literários: narrativas e crónicas
56
2
Oralidade
EXPRESSÃO
GUIA DO PROFESSOR
Falar para comentar opiniões Oralidade (expressão)
Nota:
Escolhe uma das seguintes propostas.
Avaliação: projete e anali-
1 se com a turma uma grelha
Considera as três afirmações relativas ao conto «A galinha» de Vergílio Ferreira. de avaliação para que todos
O conto: saibam os principais aspetos
nos quais ela vai incidir.
¤ contribui para consciencializar o leitor da irracionalidade da violência;
Grelhas de
¤ mostra como motivos fúteis podem desencadear conflitos violentos;
LPP
heteroavaliação da
¤ apresenta um microcosmos que é uma metáfora do mundo. expressão oral,
pp. 35-36
Apresenta um comentário oral a uma destas afirmações que demore entre 3 e 5 minutos. Gramática
1. c. complemento direto.
Planifica a tua apresentação. Para isso podes aproveitar as indicações de planificação da
oficina de escrita anterior. 2. b. complemento indireto.
3. a. complemento direto.
Avalia o teu discurso com base nos critérios que o professor indicar.
Planifica a tua apresentação. Para isso podes aproveitar as indicações da atividade anterior.
Avalia o teu discurso com base nos critérios que o professor indicar.
Gramática Pratica
Funções sintáticas, modos e tempos
1. Os complementos destacados nas três frases seguin- verbais, lugar dos pronomes pessoais
átonos na frase; frase ativa e frase
tes são oblíquos, exceto um. Identifica-o e refere a sua
passiva, subordinação
função sintática.
a. «Minha mãe e minha tia foram à feira», l. 1.
b. «– Mas se gostas mais desta (…)», l. 23.
c. «(…) leva-a, mulher», l. 23.
2. Os complementos destacados nas três frases seguintes são diretos, exceto um. Identifica-o
e refere a sua função sintática.
a. «E comprou-a também», l. 5.
b. «(…) a mulher vendeu-lhe uma outra igual (…)», l. 11.
c. «Minha tia confrontou as duas galinhas (…)», l. 15.
CA
3. Os complementos destacados nas três frases seguintes são indiretos, exceto um. Identifica-o Funções sintáticas
Pág. 43
e refere a sua função sintática.
a. «(…) precisavam de ir visitar a D. Aurélia (…)», l. 34.
b. «(…) para dizer uma ou outra coisa em especial a minha mãe (…)», ll. 61-62.
Funções
c. «(…) e lhe ia também respondendo como podia», l. 62. sintáticas
Pág. 278
57
2 Textos literários: narrativas e crónicas
4. As expressões destacadas têm todas a função sintática de sujeito, exceto uma. Identifica-a e
refere a sua função sintática.
GUIA DO PROFESSOR a. «(…) estava a minha mãe a pagar (…)», l. 9. c. «(…) disse minha mãe», l. 27.
Gramática b. «(…) leva-a, mulher (…)», l. 23. d. «(…) veio a tropa (…)», l. 127.
4. b. – mulher – vocativo.
5. d. – complemento direto. 5. As frases seguintes, exceto uma, integram um predicativo do sujeito. Identifica a exceção.
6. d. a. «– Mentiroso é você (…)», l. 74.
7. b. «por ele». b. «(…) toda a aldeia ficou em pé de guerra», ll. 105-106.
8. Possivelmente, ele tinha c. «O saldo dessa vez foi francamente positivo (…)», ll. 122-123.
trocado as galinhas.
9. b. Oração subordina-
d. «(…) verifiquei a morte de meu tio (…)», l. 132.
da substantiva completiva.
[Com função de complemen- 6. As frases seguintes, exceto uma, integram um modificador [de grupo verbal]. Identifica-a.
to direto relativamente ao
verbo de que depende – «di- a. «Na feira compraram muitas coisas (…)», ll. 2-3.
go».]
b. «(…) tapou os olhos com um braço (…)», ll. 85-86.
10.
a. lha = lhe (complemento in- c. «Minha tia saiu num vendaval (…)», l. 58.
direto) + a (complemento di-
reto); d. «– Leve as duas», l. 172.
b. ma = me (complemento in-
direto) + a (complemento di- 7. Só uma das frases seguintes integra um complemento agente da passiva. Identifica-a.
reto).
Nota: Os alunos revelam a. «(…) enquanto o meu tio se voltava ainda para trás (…)», ll. 92-93.
grandes dificuldades na dis- b. «(…) as galinhas possivelmente tinham sido trocadas por ele (…)», l. 101.
tinção das funções sintáti-
cas de pronomes pessoais c. «(…) o Capador pediu satisfações», ll. 103-104.
como me, te, nos, vos. Este
exercício pode servir para re-
ver esta matéria gramatical, 8. Transforma a frase que identificaste no exercício anterior numa frase ativa.
partindo da análise dos com-
plementos selecionados pe-
los verbos dar e entregar: 9. Apenas uma das orações subordinadas presentes nas frases complexas seguintes não é
ambos são transitivos diretos causal. Identifica-a.
e indiretos: alguém dá / en-
trega alguma coisa a alguém. a. «Minha mãe aí não se conformou, porque tinha regateado (…)», l. 12.
11. b. «– Mas sempre te digo que a minha é de mais dura (…)», l. 25.
11.1
a. Minha tia passar-lhe-á a
c. «– Foge da minha vista que eu mato-te.», l. 87.
palavra;
b. Minha tia passar-lhe-ia a 10. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelos pronomes pessoais contraídos e des-
palavra.
tacados:
11.2 Os pronomes pesso-
ais encontravam-se à direita a. «(…) e deu-lha», l. 43.
das formas verbais; passa-
ram a estar no interior da for- b. «Então a galinha não está ainda conforme tu ma entregaste?», l. 50.
ma verbal.
11.3 Minha tia não lhe passa- 11. Atenta na frase «Minha tia passou-lhe a palavra (…)», ll. 78-79.
rá a palavra; minha tia não lhe
passaria a palavra. 11.1 Reescreve-a aplicando o verbo nos seguintes tempos e modos:
11.4 Os pronomes pessoais a. futuro simples do modo indicativo;
estavam à direita das formas
verbais; passaram a estar à b. condicional simples.
sua esquerda devido ao em-
prego da negativa. 11.2 Explica o que observaste relativamente à colocação dos pronomes pessoais.
12. 11.3 Reescreve ambas as frases na negativa.
CA
12.1
11.4 Explica o que observaste relativamente à colocação dos prono-
a. E tê-la-á comprado tam- Funções sintáticas
bém; mes pessoais. Págs. 39-46
b. E tê-la-ia comprado tam- Frase ativa e frase passiva
Pág. 59
bém. 12. Atenta na frase «E comprou-a também», l. 5.
Subordinação
12.1 Reescreve-a aplicando o verbo nos seguintes tempos e modos: Pág. 54
Lugar dos pronomes
a. futuro composto do modo indicativo; pessoais átonos na frase
Pág. 49
b. condicional composto.
Conjugação verbal
Pág. 73
58
Narrativa de autor estrangeiro
2
Gabriel García
Márquez
Texto 3 INTEGRAL METAS
A sesta de terça-feira
Gabriel García Márquez, Contos completos (1947-1992), Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2011
6.3.1927
- O comboio saiu do trepidante corredor de rochas vermelhas, penetrou nas plan- Este escritor
colombiano, natural
- tações de bananeiras, simétricas e intermináveis, e o ar tornou-se húmido e não se de Aracataca, estudou
- voltou a sentir a brisa do mar. Uma fumarada sufocante entrou pela janela da car- Direito, embora não
tenha concluído o
- ruagem. Viam-se carros de bois carregados de cachos verdes no estreito caminho curso. Fascinado pela
5 paralelo à via férrea. Do outro lado, em inesperados espaços não semeados, havia escrita, optou pelo
Jornalismo. Colaborou
- escritórios com ventiladores elétricos, construções de tijolo vermelho e moradias em várias publicações
- com cadeiras e mesinhas brancas em terraços situadas entre palmeiras e roseiras sul-americanas e foi
correspondente do jornal
- cobertas de poeira. Eram onze da manhã e o calor ainda não tinha começado. El Espectador, em Roma.
- – É melhor levantares o vidro – disse a mulher. – Vais ficar com o cabelo todo sujo Notabilizou-se com
o Prémio Nobel da
10 de carvão. A menina tentou fazê-lo, mas a janela estava emperrada devido à ferru- Literatura, em 1982.
- gem. Eram os únicos passageiros da modesta carruagem de terceira classe. Como o Alguns títulos da sua
obra literária: Relato de
- fumo da locomotiva continuou a entrar pela janela, a menina levantou-se do banco um náufrago; Crónica de
- e colocou nele os únicos objetos que traziam: um saco de plástico com algumas uma morte anunciada;
O amor nos tempos de
- coisas para comer e um ramo de flores envolvido em papel de jornal. Sentou-se no cólera; Cem anos de
solidão.
15 banco fronteiro, afastada da janela, em frente da mãe. Ambas guardavam um luto
Vive no México desde
- rigoroso e pobre. 1980.
59
2 Textos literários: narrativas e crónicas
- A menina tinha doze anos e viajava pela primeira vez. A mulher parecia velha de
- mais para ser mãe dela, por causa das veias azuis das pálpebras, e do corpo peque-
GUIA DO PROFESSOR
- no, franzino e sem formas, metido num vestido talhado como uma sotaina. Viajava
«A SESTA DE TERÇA-FEIRA» 20 com a coluna vertebral firmemente apoiada nas costas do assento, segurando no
Atividades de motivação para - regaço, com ambas as mãos, uma bolsa de verniz sem brilho. Tinha a escrupulosa
a leitura
Promova a recolha de opini-
- serenidade da pessoa acostumada à pobreza.
ões sobre o seguinte: as histó-
rias lidas nos contos literários
- O calor tinha começado ao meio-dia. O comboio parou dez minutos numa esta-
são meros relatos de acon- - ção sem povoação a fim de se abastecer de água. Lá fora, no misterioso silêncio das
tecimentos ou podem ser li-
das também como metáforas 25 plantações, a sombra tinha um aspeto limpo. Todavia, o ar fechado na carruagem
do mundo? Isto é, para além
da história, podemos desco-
- cheirava a coiro por curtir. O comboio não tornou a acelerar. Deteve-se em duas
brir nelas mensagens várias? - povoações iguais, com casas de madeira pintadas de cores vivas. A mulher inclinou
Sobre a condição humana em
geral, sobre as relações entre - a cabeça e mergulhou na sonolência. A menina descalçou os sapatos e depois foi
as pessoas, sobre a natureza - aos sanitários deitar água no ramo de flores mortas.
do amor, etc.?
Atividades de pré-leitura 30 Quando regressou ao assento, a mãe esperava-a para comerem. Deu-lhe um pe-
O conto que vais ler constitui - daço de queijo, meio pão de milho e uma bolacha, e tirou do saco de plástico, para
uma lição sobre a dignidade
humana. As frases seguin- - ela, uma ração igual. Enquanto comiam, o comboio atravessou muito devagar uma
tes ocorrem na parte inicial,
quando duas personagens - ponte de ferro e passou a certa distância de uma povoação igual às anteriores, com
que viajam num comboio são - a única diferença de que nesta havia uma multidão na praça. Um grupo de músicos
apresentadas:
a) «…a menina levantou-se do 35 executava uma peça alegre, sob o sol abrasador. Do outro lado da povoação, numa
banco e colocou nele os úni- - planície fendida pela aridez, terminavam as plantações.
cos objetos que traziam: um
saco de plástico com algu- - A mulher parou de comer.
mas coisas para comer e um
ramo de flores envolvido em - – Calça os sapatos – disse.
papel de jornal»;
b) «Ambas guardavam um lu- - A menina olhou para o exterior. Nada mais viu além da planície deserta por onde
to rigoroso e pobre.»; 40 o comboio voltava a correr de novo, mas meteu no saco o resto da bolacha e calçou
c) «segurando no regaço (…)
uma carteira envernizada já - prontamente os sapatos. A mulher deu-lhe um pente.
sem brilho.»
- – Penteia-te.
Com base na informação que
podes recolher nestas três - O comboio começou a apitar enquanto a menina se penteava. A mulher enxugou
frases, indica, justificando:
- o estatuto social destas du-
- o suor do pescoço e limpou a gordura da cara com os dedos. Quando a menina aca-
as personagens; 45 bou de se pentear, o comboio passou diante das primeiras casas de uma povoação
- possíveis motivos para a via- - maior mas mais triste do que as anteriores.
gem.
- – Se tens vontade de fazer alguma coisa, faz agora – disse a mulher. – Depois, mes-
- mo que estejas a morrer de sede, não bebas água em lado nenhum. E sobretudo não
- te ponhas a chorar.
50 A menina assentiu com a cabeça. Entrava pela janela um vento ardente e seco,
- misturado com o apitar da locomotiva e o estrépito das velhas carruagens. A mu-
- lher enrolou o saco com os restos dos alimentos e meteu-o na bolsa. Por instantes,
- a imagem de toda a povoação surgiu resplandecente na janela, naquela lumino-
- sa terça-feira de agosto. A menina enrolou as flores nas folhas de papel de jornal
55 molhadas, afastou-se um pouco mais da janela e olhou para a mãe fixamente. Esta
- retribuiu-lhe o olhar com uma expressão tranquila. O comboio apitou e reduziu a
- marcha. Imobilizou-se momentos depois.
- Não havia ninguém na estação. Do outro lado da rua, no passeio sombreado pe-
- las amendoeiras, somente estava aberto o salão de bilhar. A povoação flutuava no
60 calor. A mulher e a menina desceram do comboio, atravessaram a estação abando-
- nada, cujos ladrilhos começavam a rachar devido à pressão da erva, e cruzaram a
- rua até ao passeio à sombra.
60
2
- Eram quase duas horas. Àquela hora, oprimida pela sonolên-
- cia, a povoação dormia a sesta. Os armazéns, as repartições pú-
65 blicas, a escola municipal, encerravam a partir das onze e não
- tornavam a abrir senão um pouco antes das quatro, quando
- passava o comboio no sentido oposto. Apenas se mantinham
- abertos o hotel situado em frente da estação, o seu restaurante
- e o seu salão de bilhar, e o escritório do telégrafo, num canto
70 da praça. As casas, construídas na sua maioria segundo o mo-
- delo da companhia bananeira, tinham as portas fechadas por
- dentro e as persianas descidas. Fazia tanto calor em algumas
- delas que os moradores almoçavam no pátio. Outros levavam
- um assento para a sombra das amendoeiras e faziam a sesta
75 sentados em plena rua.
- Procurando sempre a sombra das amendoeiras, a mu-
- lher e a menina entraram na povoação sem perturbar a sesta.
- Dirigiram-se diretamente à sede paroquial. A mulher bateu
- levemente com a unha na rede metálica da porta, esperou um
80 momento e tornou a bater. Lá dentro, zumbia uma ventoinha
- elétrica. Não se ouviram passos. Ouviu-se somente o ranger de
- uma porta e a seguir uma voz cautelosa, muito próxima da rede
- metálica: «Quem é?» A mulher tentou ver através da rede metá-
- lica.
85 – Preciso de falar com o padre.
- – Agora está a dormir.
- – É urgente – insistiu a mulher.
- A voz dela tinha uma tenacidade tranquila.
- A porta entreabriu-se sem ruído e apareceu uma mulher madura e atarracada, de
90 pele muito pálida e cabelos cor de ferrugem. Os olhos pareciam demasiado peque-
- nos por trás das grossas lentes dos óculos.
- – Entrem – disse, e acabou de abrir a porta.
- Conduziu-as a uma sala impregnada de um cheiro antigo a flores. A mulher da
- casa levou-as até um banco de espaldar e fez-lhes sinal para se sentarem. A menina
95 obedeceu, mas a mãe permaneceu de pé, absorta, com a bolsa agarrada com as duas
- mãos. Não se distinguia qualquer ruído por detrás do som da ventoinha elétrica.
- A mulher da casa apareceu na porta do fundo.
- – Ele diz que voltem depois das três – disse em voz muito baixa. – Deitou-se há
- cinco minutos.
100 – O comboio parte às três e meia – disse a mulher.
- Foi uma réplica breve e segura, mas a voz dela continuava a ser tranquila, rica em
- inflexões.
- A mulher da casa sorriu pela primeira vez.
- – Está bem – disse.
105 Quando a porta do fundo tornou a fechar-se, a mulher sentou-se ao lado da filha.
- A estreita sala de espera era pobre, arrumada e limpa.
61
2 Textos literários: narrativas e crónicas
- Do outro lado de uma balaustrada que dividia a sala, havia uma mesa de trabalho,
- muito simples, com uma toalha de oleado, e em cima da mesa uma velha máquina
- de escrever junto de uma jarra com flores. Por trás, estavam os arquivos paroquiais.
110 Notava-se que era um gabinete cuidado por uma mulher solteira.
- Abriu-se a porta do fundo e apareceu o sacerdote, a limpar os óculos com um
- lenço. Só quando os pôs se tornou evidente que ele era irmão da mulher que tinha
- aberto a porta.
- – Que deseja? – perguntou.
115 – As chaves do cemitério – disse a mulher.
- A menina estava sentada com as flores no
- colo e os pés cruzados debaixo do banco. O
- sacerdote olhou para ela, depois olhou para a
- mulher, e depois, através da rede metálica da
120 janela, para o céu brilhante e sem nuvens.
62
2
- Orientando-se menos pelo ruído da fechadura do que por um terror desenvol-
150 vido dentro dela por vinte e oito anos de solidão, localizou na imaginação não só o
- sítio onde estava a porta mas ainda a altura exata da fechadura. Segurou a arma com
- as duas mãos, fechou os olhos e premiu o gatilho. Era a primeira vez na sua vida que
- disparava um revólver. Logo a seguir à detonação nada mais ouviu senão o murmú-
- rio do chuvisco no telhado de zinco. Depois escutou o som de um objeto metálico
155 caindo no passeio de cimento e uma voz muito baixa e tranquila, mas muitíssimo
- cansada: «Ai, minha mãe.» O homem que amanheceu morto diante da casa, com
- o nariz despedaçado, vestia uma camisa às riscas coloridas, uma calças ordinárias
- com uma corda a fazer de cinto, e estava descalço.
- Ninguém o conhecia na povoação.
160 – Com que então chamava-se Carlos Centeno –
- murmurou o padre quando acabou de escrever.
- – Centeno Ayala – disse a mulher. – Era o único va-
- rão. O sacerdote acercou-se de novo do armário.
- Penduradas num prego no interior da porta acha-
165 vam-se duas chaves grandes e enferrujadas, como
- imaginava a menina e como imaginava a mãe quando
- era menina e como deve ter imaginado alguma vez o
- próprio sacerdote que seriam as chaves de São Pedro.
- Pegou nelas, colocou-as sobre o livro aberto em
170 cima da balaustrada e apontou com o indicador um
- local na página escrita, olhando para a mulher.
- – Assine aqui.
- A mulher garatujou o nome, segurando a bolsa de-
- baixo da axila. A menina pegou nas flores, aproximou-
175 -se da balaustrada e observou atentamente a mãe.
- O padre suspirou.
- – Nunca tentou fazê-lo entrar no bom caminho?
- A mulher respondeu, quando acabou de assinar.
- – Era um homem muito bom.
180 O sacerdote olhou atentamente para a mulher e
- para a menina e verificou com uma espécie de piedo-
- sa estupefação que não estavam prestes a chorar.
- A mulher continuou, sem se alterar:
- – Eu dizia-lhe que nunca roubasse nada que fizesse falta a alguém para comer
185 e ele dava-me ouvidos. Em contrapartida, dantes, quando jogava boxe, passava às
- vezes três dias na cama prostrado pelos socos.
-
– Teve de arrancar os dentes todos – interveio a menina.
-
– É verdade – confirmou a mulher. – Cada bocado que eu comia nesse tempo ti-
- nha o gosto das bordoadas que davam ao meu filho nos sábados à noite.
190 – A vontade de Deus é inescrutável – disse o padre.
63
2 Textos literários: narrativas e crónicas
64
2
Leitura
1. Identifica, entre as ll. 1-33, características da mãe e da menina que permitem incluí- GUIA DO PROFESSOR
-las no grupo social de pessoas pobres ou desfavorecidas. Leitura
5. (cont.)
2. Refere o tipo de sensações presentes no seguinte segmento textual: «Entrava pela 5.2 Esta analepse inicia-se
na linha 142, «Tudo começa-
janela um vento ardente e seco, misturado com o apitar da locomotiva e o estrépito ra…», e termina na linha 159,
das velhas carruagens.», ll. 50-51. «Ninguém na aldeia o conhe-
cia.».
6.
3. Explica o significado das atitudes da mãe e da filha expressas na frase «Procurando
6.1 As pessoas (um grupo de
sempre a sombra das amendoeiras, a mulher e a menina entraram na povoação sem rapazinhos) olhavam procu-
perturbar a sesta», ll. 76-77. rando ver o máximo, de tal
modo que nem davam pelo
facto de terem a cara, os «na-
4. Indica o sentido que poderás atribuir à frase «(…) apareceu o sacerdote, a limpar os rizes» quase esmagados con-
tra «a rede metálica»; esta
óculos (…). Só quando os pôs se tornou evidente que ele era irmão da mulher que atitude revela uma extrema
tinha aberto a porta», ll. 111-113, justificando. curiosidade.
6.2 Dado ter ocorrido um cri-
me na aldeia havia pouco
5. Em determinado momento o narrador lembra um acontecimento ocorrido no passa- tempo, estas pessoas, aper-
do, interrompendo, desse modo, a progressão cronológica do conto. cebendo-se da presença de
estranhos na terra, em casa
5.1 Identifica esse acontecimento. do padre, podem ter intuído
uma relação entre esse fac-
5.2 Delimita a secção do texto que lhe corresponde. to e o crime; daí a curiosidade.
(O conto permite esta leitura,
principalmente pelo que su-
6. Atenta na frase «Antes de abrir a porta da rua, o padre deu-se conta de que havia cede no final – a curiosidade
gente a olhar lá para dentro, com os narizes esborrachados contra a rede metálica», geral).
ll. 204-207. 7.
7.1 Em primeiro lugar olhou
6.1 Explicita a atitude das pessoas que olhavam para dentro de casa, caracterizan- atentamente para a rua, de-
do-as psicologicamente. pois de ter compreendido, fe-
chou a porta devagar.
6.2 Justifica essa atitude. 7.2 Compreendeu a curiosi-
dade mórbida dos habitantes
da aldeia.
7. Atenta na frase «O padre examinou a rua distorcida pela reverberação e então com- 7.3 O padre fechou a porta
preendeu. Voltou a fechar suavemente a porta», ll. 214-215. «suavemente» de modo a não
agudizar o interesse das pes-
7.1 Refere as duas ações do padre. soas, é uma atitude humana,
a dele, de defesa da mulher e
7.2 Explica o que é que ele «compreendeu». da filha.
7.3 Encontra uma justificação para a segunda atitude. 8. Esta atitude da irmã cor-
responde, de algum modo, à
forma suave como o padre fe-
8. Justifica a utilização do verbo murmurar na frase «– As pessoas perceberam – mur- chou a porta; de facto, tam-
murou a irmã», l. 220. bém a irmã se compadece
com a situação da mãe e da
filha, que além de terem per-
9. Tendo em conta a leitura global do conto, indica, de entre as seguintes afirmações, dido nas circunstâncias que
se conhecem, respetivamen-
aquela(s) com que te identificas mais. te o filho e o irmão, ali estão
num dia de sol inclemen-
a. A mulher, a mãe, é uma personagem marcada por um grande sofrimento. te, sofrendo o calor e expos-
tas à curiosidade maldizente
b. Trata-se de um sofrimento que não nasceu da morte do filho, mas que já é antigo, dos habitantes da povoação.
habitual. Ela murmura para que nada,
nem uma palavra sua mais al-
c. Pode considerar-se que o calor opressivo presente no conto se relaciona direta- ta, possa ser ouvida fora, pro-
vocando mais interesse pela
mente com esse sofrimento: o calor funciona como mais uma imagem do sofri- mãe e pela filha.
mento. 9. Todas as afirmações são
d. No final do conto, a mulher, apesar das advertências do padre e da irmã, sai, aceitáveis.
dignamente, embora saiba que vai ser olhada por todos com reprovação e saiba
também que vai aguentar um calor excessivo – tudo porque a vida dela foi e é
sofrimento, nada de mal lhe pode suceder que não conheça já.
65
2 Textos literários: narrativas e crónicas
66
2
A – Complemento direto
complemento direto – o GN
«sono»).
c. A mãe disse à menina para se preparar. Funções sintáticas das b. «que queriam falar com ele».
orações subordinadas c. «para se preparar».
d. A mãe disse à filha que se preparasse. Pág. 57
d. «que se preparasse».
67
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Oração
Frases GPrep GAdv subordinada
adverbial
a. Elas fizeram ontem uma longa viagem.
a
Os modificadores b. Elas esperaram pacientemente o padre.
b
[de grupo verbal] c. Elas levantaram-se porque o padre chegou.
c
“oracionais” são
normalmente orações d. Ele pendurou as chaves num prego, de tarde.
d
subordinadas adverbiais e. Logo que o padre entrou, elas falaram com ele.
e
finais, temporais e ff. «O comboio parou dez minutos numa estação
causais. sem povoção a fim de se abastecer de água»,
ll. 23-24.
6. Na frase complexa seguinte existem dois modificadores [de grupo verbal]. Um ocorre
CA
num grupo frásico, o outro numa oração subordinada adverbial. Identifica ambos.
Funções sintáticas das
orações subordinadas Antes que o comboio parasse, a senhora levantou-se rapidamente.
Pág. 57
68
2
Escrita
e. 1958
f. 1967 Publica Cem anos de solidão. Áudio
g. Publica O outono do patriarca. «Biobibliografia de Gabriel
García Márquez»
h. 1981
i. 1985 Publica Amor em tempos de cólera. CD áudio
j. 1989
k. 1982
69
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Machado de Assis
História comum
Machado de Assis, Obra completa, Volume II, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1994
21.06.1839 - 29.09.1908
Escritor brasileiro da
viragem do século - ... Caí na copa do chapéu de um homem que passava... Perdoe-me este começo; é
XIX para o século XX,
nascido no Rio de
- um modo de ser épico. Entro em plena ação. Já o leitor sabe que caí, e caí na copa do
Janeiro, notabilizou-se - chapéu de um homem que passava; resta dizer donde caí e por que caí.
como cronista, contista,
dramaturgo, jornalista, - Quanto à minha qualidade de alfinete, não é preciso insistir nela. Sou um simples
poeta, novelista,
romancista, crítico e
5 alfinete vilão, modesto, não alfinete de adorno, mas de uso, desses com que as mu-
ensaísta. - lheres do povo pregam os lenços de chita, e as damas de sociedade os fichus1, ou as
Citam-se alguns títulos - flores, ou isto, ou aquilo. Aparentemente vale pouco um alfinete; mas, na realidade,
da sua variadíssima obra,
nos diferentes géneros - pode exceder ao próprio vestido. Não exemplifico; o papel é pouco, não há senão o
literários: comédia
– Desencantos (1861);
- espaço de contar a minha aventura.
poesia – Crisálidas, 10 Tinha-me comprado uma triste mucama2. O dono do armarinho3 vendeu-me,
(1864); romance –
Ressurreição, (1872), - com mais onze irmãos, uma dúzia, por não sei quantos réis; cousa de nada. Que
Memórias póstumas de
Brás Cubas ( 1881), Dom
- destino! Uma triste mucama. Felicidade, – este é o seu nome, – pegou no papel em
Casmurro (1899); conto - que estávamos pregados, e meteu-o no baú. Não sei quanto tempo ali estive; saí um
– Histórias sem data,
(1884), Relíquias de casa
- dia de manhã para pregar o lenço de chita que a mucama trazia ao pescoço. Como
velha, (1906); teatro – 15 o lenço era novo, não fiquei grandemente desconsolado. E depois a mucama era
Queda que as mulheres
têm para os tolos (1861), - asseada e estimada, vivia nos quartos das moças, era confidente dos seus namoros
Os deuses de casaca - e arrufos4; enfim, não era um destino principesco, mas também não era um destino
(1865).
- ignóbil.
70
2
- Entre o peito da Felicidade e o recanto de uma mesa velha, que ela tinha na alco-
20 va5, gastei uns cinco ou seis dias. De noite, era despregado e metido numa caixinha
- de papelão, ao canto da mesa; de manhã, ia da caixinha ao lenço. Monótono, é ver- GUIA DO PROFESSOR
- dade; mas a vida dos alfinetes, não é outra. Na véspera do dia em que se deu a minha
- aventura, ouvi falar de um baile no dia seguinte, em casa dum desembargador que
- fazia anos. As senhoras preparavam-se com esmero e afinco, cuidavam das rendas, Link Internet
«Em homenagem ao
25 sedas, luvas, flores, brilhantes, leques, sapatos; não se pensava em outra cousa se- centenário da morte de
- não no baile do desembargador6. Bem quisera eu saber o que era um baile, e ir a ele; Machado de Assis»
(consultado em 28.12.2012)
- mas uma tal ambição podia nascer na cabeça de um alfinete, que não saía do lenço
- de uma triste mucama? – Certamente que não. O remédio era ficar em casa.
- – Felicidade, diziam as moças, à noite, no quarto, dá cá o vestido. Felicidade, aper-
30 ta o vestido. Felicidade, onde estão as outras meias?
- – Que meias, nhanhã7?
- – As que estavam na cadeira...
- – Uê! nhanhã! Estão aqui mesmo.
- E Felicidade ia de um lado para outro, solícita, obediente, meiga, sorrindo a todas,
35 abotoando uma, puxando as saias de outra, compondo a cauda desta, concertando
- o diadema8 daquela, tudo com um amor de mãe, tão feliz como se fossem suas filhas.
- E eu vendo tudo. O que me metia inveja eram os outros alfinetes. Quando os via ir da
- boca da mucama, que os tirava da toilette, para o corpo das moças, dizia comigo, que
- era bem bom ser alfinete de damas, e damas bonitas que iam a festas.
40 – Meninas, são horas!
- – Lá vou, mamãe! disseram todas.
- E foram, uma a uma, primeiro a mais velha, depois a mais moça, depois a do meio.
- Esta, por nome Clarinha, ficou arranjando uma rosa no peito, uma linda rosa; pre- Vocabulário
1
- gou-a e sorriu para a mucama. espécie de xaile
2
empregada da casa
45 – Hum! hum! resmungou esta. Seu Florêncio hoje fica de queixo caído... 3
loja que vende tecidos
- Clarinha olhou para o espelho, e repetiu consigo a profecia da mucama. Digo 4
problemas amorosos
- isto, não só porque me pareceu vê-lo no sorriso da moça, como porque ela voltou- 5
quarto
- -se pouco depois para a mucama, e respondeu sorrindo: 6
juiz
7
designação carinhosa
- – Pode ser. (menina)
50 – Pode ser? Vai ficar mesmo. 8
joia
9
- – Clarinha, só se espera por você. tristeza
- – Pronta, mamãe!
- Tinha prendido a rosa, às pressas, e saiu.
- Na sala estava a família, dous carros à porta; desceram enfim, e Felicidade com
55 elas, até à porta da rua. Clarinha foi com a mãe no segundo carro; no primeiro foi o
- pai com as outras duas filhas. Clarinha calçava as luvas, a mãe dizia que era tarde;
- entraram; mas, ao entrar caiu a rosa do peito da moça. Consternação9 desta; teima
- da mãe que era tarde, que não valia a pena gastar tempo em pregar a rosa outra vez.
- Mas Clarinha pedia que se demorasse um instante, um instante só, e diria à mucama
60 que fosse buscar um alfinete.
- – Não é preciso, sinhá; aqui está um.
71
2 Textos literários: narrativas e crónicas
2. O conto não se desenrola, como outros que leste, com a ação ou ações encadeadas
linearmente, cronologicamente.
2.1 Justifica esta afirmação.
Vocabulário
10
não se envergonhe 3. O conto é, ainda, uma grande personificação. Justifica apresentando, no mínimo, três
11
era necessário exemplos retirados do texto.
72
2
4. Explica por que razão ou razões o alfinete se autocaracteriza como «vilão, modesto», l. 5.
vas relativas.
2.2 Duas destas orações subordinadas têm a função sintática de complemento direto.
Identifica-as e justifica.
CA
3. Reescreve no discurso indireto a seguinte resposta da «mucama», l. 61: «– Não é preciso, Discurso direto
e discurso indireto
sinhá; aqui está um». Pág. 59
73
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Aprende
Modificador de nome restritivo e apositivo
GUIA DO PROFESSOR
Gramática
V O modificador de nome é uma função sintática desempenhada por um grupo adje-
2. a. conjunção subordinati-
va completiva; b., c. e d. pro- tival (exemplo 1), por um grupo nominal (exemplo 3) ou por um grupo preposicio-
nome relativo. Em a., trata-se
de uma conjunção que intro-
nal (exemplos 2 e 4) que, normalmente, surge à direita do nome.
duz uma oração subordinada
substantiva completiva, que Exemplos:
completa o sentido da for- 1. «Sou um simples alfinete vilão», ll. 4-5.
ma verbal «diria»; nos outros
casos trata-se de pronomes 2. Gosto de chapéus de palha.
relativos – todos têm um an- 3. «O par de Clarinha é o Dr. Florêncio, um rapaz bonito», ll. 76-77.
tecedente grupo nominal que
retomam: Cavalheiro / idem / 4. Um alfinete, de enorme modéstia, caiu na copa de um chapéu.
um rapaz bonito.
3. V O modificador de nome pode ser retirado das frases sem que a sua gramaticalidade
3.1 Subordinadas substan- seja afetada:
tivas completivas – b. e d.:
«que caí» e «que se demoras- 5. «Sou um simples alfinete (…).»
se um instante»; subordina-
das adjetivas relativas a) e c): 6. Não gosto de chapéus (…).
«que passava» e «que a mu- 7. «O par de Clarinha é o Dr. Florêncio (…)»
cama trazia ao pescoço».
3.2 b. e d., pois completam 8. Um alfinete (…) caiu na copa de um chapéu.
o sentido das formas verbais
«sabe» e «pedia». (Será dida- V Os modificadores de nome são restritivos quando restringem (limitam) o univer-
ticamente válido verificar que
os verbos saber e pedir são, so referencial do nome que modificam (exemplos 1 e 2); apositivos quando essa
neste caso, ambos transiti-
vos diretos, portanto selecio-
restrição não se verifica (exemplos 3 e 4).
nam complementos diretos Ao contrário do modificador de nome restritivo, o apositivo vem sempre separado
que são aqui orações.)
por vírgula do nome a que se refere (exemplos 3 e 4).
4. A mucama respondeu à si-
nhá que não era preciso, pois
tinha ali um.
A função sintática de modificador de nome pode ainda ser desempenhada por uma
oração, como se pode observar nos elementos destacados nas frases seguintes:
Animações
Gramáticas:
«Caí na copa do chapéu de um ho- Modificador de nome Oração subordinada relativa
Funções sintáticas restritivo adjetiva restritiva
mem que passava», l. 1.
Discurso direto e discurso
indireto O Dr. Florêncio, que é o par de Modificador de nome Oração subordinada relativa
Clarinha, é um rapaz bonito. apositivo adjetiva explicativa
Estes modificadores de nome oracionais também podem ser retirados das frases
sem que a sua gramaticalidade seja afetada:
¤ «Caí na copa do chapéu de um homem (…)»
Funções
¤ O Dr. Florêncio, (…), é um rapaz bonito. sintáticas
do nome
Pág. 279
74
2
1. Identifica, nas frases seguintes, os modificadores de nome restritivos e apositivos.
a. Neste conto, o narrador começa por ser um alfinete muito modesto.
b. Felicidade, a mucama, ia ajudando todas as moças. GUIA DO PROFESSOR
Gramática
c. Um alfinete simples e despretensioso caiu na copa de um chapéu.
1.
d. «(…) ouvi falar de um baile (…) em casa dum desembargador que fazia anos», ll. 23-24. a. «muito modesto» - MNR;
b. «a mucama» - MNA;
e. O Dr. Florêncio, que era um rapaz muito bonito, pediu a mão de Clarinha.
c. «simples e despretensio-
f. O Dr. Florêncio, um rapaz muito bonito, pediu a mão de Clarinha. so» - MNR;
d. «que fazia anos» - MNR;
g. Era bom ser alfinete de damas bonitas.
e. «que era um rapaz muito
bonito» - MNA;
f. «um rapaz muito bonito» -
2. Os modificadores de nome apositivos que se seguem são orações subordinadas adjetivas MNA;
relativas, com exceção de um. Identifica-o. g. «bonitas» - MNR.
2. b. Trata-se de um modi-
CA
a. As meninas, que este texto nos apresentou, eram todas bonitas.
ficador de nome apositivo
b. Elas disseram que aquelas meninas, bonitas, iam casar. Funções constituído não por uma ora-
sintáticas ção, mas por um grupo adjeti-
c. Machado de Assis, que é talvez o maior escritor brasileiro, escreveu este conto. Pág. 48 val – «bonitas».
Escrita
Constrói um guião para dramatização do conto «História comum» que tenha, no máximo,
quatro páginas. Tem em atenção as instruções seguintes:
¤ verifica a informação constante do anexo informativo relativa ao texto dramático,
página 265;
¤ relê o conto;
¤ constrói um plano do guião no qual indiques:
P o número de atos da peça;
P definas o número de cenas por ato;
P apresentes sugestões para os cenários dos atos;
P escrevas o nome das várias personagens;
¤ relativamente ao número de atos, considera a possibilidade de dois – o primeiro rela-
tivo à preparação para a festa, o segundo relativo ao baile;
¤ quanto aos cenários, aproveita as informações sobre o espaço que o conto faculta;
¤ planifica ainda os diálogos, que devem conter apartes e didascálias;
¤ considera a possibilidade de um monólogo do alfinete como início da peça;
¤ terminada a planificação, escreve o guião seguindo-a;
¤ revê o texto, verificando com atenção se
P incluíste todas as personagens;
P estão presentes apartes e didascálias;
P as indicações cénicas são adequadas;
P a pontuação está corretamente utilizada;
P existem repetições desnecessárias, etc.
Apresenta o teu guião à turma através de uma projeção em Powerpoint.
75
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Textos
de literatura juvenil
GUIA DO PROFESSOR
Texto 5 (A) METAS
Nota: o texto está dividido em
duas partes, dada a sua ex-
tensão e grau de dificuldade.
Os títulos dos dois excertos
Peregrinação
são da responsabilidade dos
autores. de Fernão Mendes Pinto
Peregrinação de Fernão Mendes Pinto – Aventuras extraordinárias dum Português no Oriente, Lisboa, Bertrand, 2009
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Capítulo I
9ec[WcWii[j[fWhj_ZWiDWk\h|]_ei9heYeZ_beigk[Yec[c][dj[
Eif[iYWZeh[iZ[elWiKcce_he[if[hje[X[c#_dj[dY_edWZe
Eie\h_c[dje[iYkbjehZ[c|iYWhWiF_ehgk[dWDWk9Wjh_d[jW
7jjh_YW^_ijh_WCWdZWCW\ecW0YkcfhW#i[Fehgk[ci"dec[Z[iWcfWh[i
LWZ_ei[i[Z_Y_eieiWjWYWcW\[_jeh_Wfehjk]k[iWZeFe
@kij_Weh_[djWbYedjhWbWZh[i0\Wp[_Yecelei\Wp[c¾
mação anterior:
Gramática
a. possibilidades; b. causas; c. consequências; d. circunstâncias de tempo. 1. Talvez o crocodilo os tenha
atacado.
2. O narrador tê-los-á visto.
pe-
3. O narrador não lhe teria p
Gramática Pratica dido auxílio.
Lugar dos pronomes
1. Reescreve a frase seguinte pronominalizando o complemen- pessoais átonos na frase
to direto e iniciando-a com o advérbio Talvez: O crocodilo
atacou os amigos do narrador.
2. Reescreve a frase seguinte pronominalizando o complemento direto e
passando o verbo para o futuro composto: O narrador tinha visto os cro-
codilos.
Lugar
3. Reescreve a frase O narrador pediu auxílio ao rei de Àru pronominali- dos pronomes
pessoais átonos
zando o complemento indireto e passando o verbo para o condicional na frase
composto na negativa. Pág. 276
77
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Texto 5 (B)
78
2
Leitura
1. Indica três características do espaço por onde vai passando o narrador que contribuem GUIA DO PROFESSOR
para o seu estado lastimoso. Leitura
1. O local inóspito onde per-
maneceu com os amigos –
os «penedos», l. 1; o mato
2. Escolhe a opção correta. A frase «(…) pescadores que, movidos mais das nossas promes- espesso e impenetrável, es-
sas que dos nossos rogos, condescenderam em nos recolher a bordo», ll. 20-22, significa pinhoso; o rio infestado de
«crocodilos», l. 17. Outros
que o que levou os pescadores a aceitar recolher os náufragos foram: elementos do espaço podem
ser referidos.
a. os pedidos deles; c. tanto os pedidos como as promessas;
2. b.
b. principalmente as promessas deles; d. principalmente os pedidos. 3.
a. «tão peçonhentas que só
com o bafo matam» – trata-
3. Identifica, nas expressões «Cuspidos à costa (…)», l. 1, «(…) tão peçonhentas que só com se de evidente exagero;
o bafo matam», l. 15, e «(…) ser aquele o meu último dia», l. 28, os seguintes recursos b. «Cuspidos à costa»;
expressivos: c. «ser aquele o meu último
dia» – evidente eufemismo da
a. hipérbole; b. metáfora; c. eufemismo. morte.
3.1 Com esta metáfora o nar-
3.1 Explica a expressividade da metáfora. rador transmite a violência
com que o mar os arremes-
sou à praia: do mesmo modo
que o que é cuspido o é, nor-
Gramática malmente, com força, assim
sucedeu com eles.
Aprende
Gramática
1.
Locuções prepositivas
b. além dos / de / + os (deter-
minante artigo definido);
V Atenta na expressão destacada na frase «Ali pernoitámos dentro de água (…)», ll. 8-9.
c. Ao cabo desse / de / + es-
se (determinante demonstra-
Esta expressão inclui a preposição de. Trata-se de uma locução prepositiva (locução tivo).
por ter mais de uma palavra, prepositiva por pertencer à classe das preposições).
As locuções prepositivas são grupos fixos de palavras que terminam sempre por uma
preposição.
1. Nos segmentos textuais seguintes existem locuções prepositivas terminadas com uma
preposição contraída com uma palavra de outra classe.
1.1 Realiza o exercício segundo o modelo.
Locuções Classe de
Segmentos textuais Preposição
prepositivas palavras
CA
79
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Crónica
Maria Judite
de Carvalho
Texto 6 INTEGRAL METAS
8.09.1921 - 1998
Natural de Lisboa, Maria - Desço a rua, entro no metropolitano, estendo à menina muda as moedas neces-
Judite de Carvalho
foi poetisa, cronista,
- sárias, aceito o retangulozinho que ela me fornece em troca, desço a escada, espe-
jornalista, tradutora, - ro, paciente, que se aproxime o olho mágico da carruagem subterrânea. Ela chega,
romancista, dramaturga.
Foi casada com o
- para, parte. Lá dentro, o silêncio do mar encapelado, isto é, o de toda aquela ferra-
escritor Urbano Tavares 5 gem barulhenta, som de não dizer nada. Na minha paragem saio, subo as escadas
Rodrigues e viveu em
França durante 10 anos - do formigueiro ou do túnel de toupeiras por onde andei.
(de 1949 até 1959).
- E sigo pela rua fora – outra rua –, entro numa loja. De cesto metálico na mão (es-
Tanta Gente Mariana,
obra de contos publicada - tamos na era do metal) escolho caixas, latas e latinhas, sacos. Tudo aquilo é bonito,
em 1959, foi considerada
pela imprensa da época
- bem arranjado, atraente, higiénico, impessoal. A menina da máquina registadora
uma revelação. Dois 10 recebe a nota, dá-me o troco. Ausente, abstrata. Verá sequer as caras que desfi-
anos depois, o livro
As palavras poupadas
- lam diante de si? Apetece-me dizer qualquer coisa, que o troco não está certo, por
mereceu o prémio - exemplo. Que me deu dinheiro a mais. Ou a menos. Mas não digo nada. As máqui-
Camilo Castelo Branco.
As histórias escritas
- nas sabem o que fazem. As meninas das máquinas também.
nos jornais e nas - Tenho, de repente, saudades do bilhete de não sei quantos tostões que dentro
revistas constituem,
hoje, documentos 15 de alguns anos deixará de se pedir em elétricos e autocarros a um funcionário com
fundamentais para o - cara de poucos amigos, do merceeiro que não nos perguntará mais como estamos
estudo do conjunto da
sua obra. - nós de saúde, e a família, pois claro. Saudades do tempo das palavras, às vezes insig-
Este tempo – Crónicas - nificativas, de acordo, mas palavras.
recebeu o Prémio da
Crónica da Associação - Volto a casa com as minhas compras, higiénicas, atraentes e silenciosas. Sinto-
Portuguesa de
Escritores.
20 -me no futuro. Não gosto.
80
2
Leitura
1. Escolhe a afirmação que melhor sintetiza o conteúdo da crónica. O mundo da cronis- GUIA DO PROFESSOR
ta caracteriza-se Leitura
1. d.
a. pela falta de comunicação entre as pessoas, facto que não a impede de o apreciar.
2. Ela acredita que no futu-
b. pelo facto de a comunicação entre as pessoas ir desaparecendo, o que a revolta. ro, trocas de palavras, mes-
mo breves, que no seu tempo
c. por ser um mundo no qual se deteta uma progressiva ausência de comunicação se fazem, por exemplo, para
comprar um bilhete de auto-
entre as pessoas, facto que leva a cronista a sentir repugnância por ele. carro, desaparecerão.
d. por ser um mundo que revela uma progressiva falta de comunicação entre as 3.
pessoas, facto que ela não aprecia. 3.1 Apesar desse aspeto, ele
comunica, fala com a cronis-
ta, por pouco que seja.
2. Identifica uma previsão que a cronista faz relativamente à comunicação no futuro. 4.
4.1
a. «formigueiro» e «túnel de
3. A cronista afirma que tem já saudades de «(…) um funcionário com cara de poucos toupeiras», l. 6;
amigos (…)», ll. 15-16, que prevê não encontrar no futuro. b. «olho mágico da carrua-
gem subterrânea», l. 3.
3.1 Explica por que razão, ou razões, terá ela saudades de alguém antipático, tendo
em atenção o sentido geral do texto.
Escrita
81
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Crónica
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7djkd[i
Texto 7 INTEGRAL METAS
A consequência
dos semáforos
1-9-1942
António Lobo Antunes, Livro de crónicas, Lisboa, Dom Quixote, 2006
Nasceu em Lisboa, na
zona de Benfica, em
1942.
Formou-se em medicina, - Odeio os semáforos. Em primeiro lugar porque estão sempre vermelhos quando
na especialidade de - tenho pressa e verdes quando não tenho nenhuma, sem falar do amarelo que pro-
psiquiatria.
Estes são os títulos de
- voca em mim uma indecisão horrível: travo ou acelero? travo ou acelero? travo ou
alguns dos seus livros: - acelero? acelero, depois travo, volto a acelerar e ao travar de novo já me entrou uma
Memória de elefante,
1979; A explicação dos 5 furgoneta pela porta, já se juntou uma data de gente na esperança de sangue, já um
pássaros, 1981; Livro - tipo de chave-inglesa na mão saiu da furgoneta a chamar-me Seu Camelo, já a com-
de crónicas, 1998; Que
farei quando tudo arde?, - panhia de seguros me propõe calorosamente que a troque por uma rival qualquer,
2001; O meu nome é - já não tenho carro por uma semana, já me ponho na borda do passeio a fazer sinais
legião, 2007; Não é meia
noite quem quer, 2012. - de náufrago aos táxis, já pago um dinheirão por cada viagem e ainda por cima tenho
Sobre o que o motiva 10 de aturar o pirilampo mágico e a Nossa Senhora de alumínio no tablier, o esqueleto
a escrever, disse em
entrevista:“Eu escrevo - de plástico pendurado no retrovisor, o autocolante da menina de cabelos compri-
livros para corrigir os - dos e chapéu ao lado do aviso Não Fume Que Sou Asmático, proximidade que me
anteriores. E ainda tenho
muito para corrigir.” - leva a supor que os problemas respiratórios se acentuaram devido a alguma perfí-
- dia secreta da menina que não consigo perceber qual seja.
82
2
15 A segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque de cada
- vez que paro me surgem no vidro da janela criaturas inverosímeis: vendedores de
- jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras virtuosas com uma caixa de GUIA DO PROFESSOR
- metal ao peito que nos colam autoritariamente sobre o coração o caranguejo do Leitura
- Cancro, os matulões da liga dos Cegos João de Deus nas vizinhanças de um altifa- 1.
1.1 A cor vermelha impede-
20 lante sobre uma camioneta com um espadalhão novo em folha em cima, o sujeito -o de prosseguir e surge sis-
- digno a quem roubaram a carteira e que precisa de dinheiro para o comboio do Por- tematicamente sempre que o
cronista tem pressa; quando
- to, o tuberculoso com o seu atestado comprovativo, toda a casta de aleijões não tem pressa, os semáfo-
ros estão – «sempre» – ver-
- (microcefálicos, macrocefálicos, coxos, marrecos, estrábicos divergentes e con- des; quanto à cor amarela, ela
perturba-o fortemente por-
- vergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, que fica sem saber o que fa-
25 mongoloides, dirigentes de partidos políticos, etc.) zer: travar ou acelerar.
2. a.
- sem contar o grupo de Bombeiros Voluntários que necessita de uma ambulância,
3.
- os finalistas de Coimbra, de capa e batina, que decidiram fazer uma viagem de fim
3.1 Anáfora.
- de curso à Birmânia e a rapaziada da heroína que não conseguiu roubar nenhum 3.2 Com a utilização des-
leitor de cassetes nesse dia. ta anáfora o cronista procu-
-
ra transmitir a variedade de
30 Resultado: no primeiro semáforo já não tenho trocos. No segundo não tenho ca- situações que podem surgir
por causa de um problema
- saco. No terceiro não tenho sapatos. No quinto estou nu. No sexto dei o Volkswagen. de trânsito. (Outras respostas
são possíveis.)
- No sétimo aguardo que a luz passe a encarnado para assaltar por meu turno, de mis-
4.
- tura com uma multidão de bombeiros, de estudantes, de drogados e de microcefáli- 4.1 Trata-se de objetos com
- cos o primeiro automóvel que aparece. Em média mudo cinco vezes de vestimenta os quais os passageiros de
«táxis», l. 9, se deparam nes-
35 e de carro até chegar ao meu destino, e quando chego, ao volante de um camião Tir, te tipo de veículos. (O cronista
- a dançar numas calças enormes, os meus amigos queixam-se de eu não ser pontual. refere-os todos exagerando
para provocar um efeito de
cómico: um táxi não os traz
todos.)
Áudio
Leitura «A consequência dos
semáforos», crónica
de António Lobo Antunes
1. O autor confessa o seu ódio aos semáforos: «Odeio os semáforos.», l. 1. O primeiro
motivo desse ódio são as suas cores.
1.1 Explica de que modo elas o incomodam.
3. O texto apresenta uma sequência de frases iniciadas pela palavra «já» - ll. 4 a 9.
3.1 Identifica este recurso expressivo.
3.2 Explicita o seu valor expressivo.
83
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Recorda
Características da crónica
Gramática
Aprende
Locuções adverbiais
V As locuções adverbiais são formas fixas, constituídas por duas ou mais palavras,
que pertencem à classe dos advérbios.
Observa os exemplos:
A expressão «de novo» pode ser substituída pelo advérbio novamente; a expres-
Classe são «Em primeiro lugar» pode ser substituída pelo advérbio conectivo primeira-
dos
advérbios mente.
Págs. 268-269
84
2
Oralidade
COMPREENSÃO
GUIA DO PROFESSOR
Vê o vídeo que noticia um acidente de viação provocado provavelmente pelo desres- Oralidade (compreensão)
peito por um semáforo. 1. a. V; b. F.
2. a. O; b. F; c. O; d. F; e. O.
Pré-escuta / visionamento 2.1 «Tudo indica que», «em
princípio», «pode».
1. Recupera a informação da leitura da crónica «Consequência dos semáforos» e indica 3.
a afirmação verdadeira (V) e a falsa (F). a. estão a funcionar;
a. O cronista apresenta uma perspetiva pessoal sobre o quotidiano citadino quando b. resultaram.
Informações F O
a. Tudo indica que um dos condutores não respeitou um sinal vermelho.
“Aparatoso acidente de
b. Os sapadores gastam mais de uma hora para desencarcerar o ferido trânsito no Porto”
mais preocupante.
c. O acidente deu-se por desobediência ao sinal luminoso, em princípio. Teste de compreensão
LPP
oral, pp. 42-43
d. Do acidente resultaram três feridos, dois ligeiros e um grave.
e. Um dos feridos pode ter lesões internas.
2.1 Transcreve as palavras ou expressões que são marcas de uma linguagem sub-
jetiva, isto é, que apresentam uma perspetiva pessoal do locutor sobre o que é
dito.
Pós-escuta / visionamento
4. Reproduz por escrito o conteúdo da notícia, sintetizando-o num texto com um máxi-
mo de 20 palavras.
85
2 Textos literários: narrativas e crónicas
EXPRESSÃO
Apresenta, numa exposição oral que demore entre 3 a 5 minutos, a tua opinião fun-
damentada sobre este assunto:
Notícias que referem exemplos graves ou muito graves da falta de civismo
dos portugueses são frequentes nos meios de comunicação social.
A nossa incivilidade manifesta-se, por exemplo, nos seguintes domínios:
¤ barulhos incomodativos; condução automóvel; relação com o lixo em diferentes
espaços; assistência a espetáculos desportivos; relação com os animais domés-
ticos; desrespeito pela natureza; desrespeito por equipamentos públicos, entre
outros.
86
2
Presta atenção à avaliação do teu discurso.
Grelha de heteroavaliação
Expressão oral (aspetos verbais)
1ª apresentação 2ª apresentação
Aspetos a observar
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
Apresentou o assunto indicando os dois aspetos
Introdução
escolhidos a desenvolver.
Indicou as razões da escolha.
Apresentou exemplos relativos aos dois aspetos.
Utilizou para isso marcadores adequados.
Deu opiniões fundamentadas sobre esses aspetos.
Desenvolvimento Usou expressões apropriadas para exprimir uma
opinião pessoal.
Aplicou conectores apropriados para iniciar as
justificações.
Organizou a progressão do discurso através de
marcadores apropriados.
Conclusão Deixou uma mensagem de esperança.
Laboratório
de texto
Reescrita (operações de
Frases Instrução(ões)
substituição)
a. Os semáforos estavam a funcionar Inicia a frase com a conjunção subordinativa
bem; ocorreu um acidente às 17 concessiva embora e faz as alterações
horas. necessárias.
Pronominaliza o grupo nominal e faz as
b. – Quem desligou os semáforos?
alterações necessárias.
c. – Foi o funcionário da câmara mu- Inicia a frase com o advérbio Talvez;
nicipal que desligou os semáforos. pronominaliza o último grupo nominal.
87
2 Textos literários: narrativas e crónicas
TORNAR-ME LEITOR
LITERATURA DE VIAGENS
Viajar nos livros, falar dessas viagens
A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto é um dos mais famosos livros de viagens da nossa
literatura. Logo que foi publicado em Portugal, em 1614, já depois da sua morte, muitos dos
seus leitores não acreditavam nas extraordinárias aventuras que ele contava, e começou a
circular uma brincadeira com o seu nome: – Fernão, mentes? – Minto! Mas não mentia, como
investigações levadas a cabo séculos depois descobriram.
Da versão da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto adaptada por Aquilino Ribeiro conhe-
ces já a maior parte do capítulo I. O livro tem mais dez capítulos.
Capítulo
O narrador conta como o seu navio foi atacado por piratas, como o seu amigo e
II chefe António de Faria se vingou, como matou de forma rápida e atroz o pirata
Similau. Muitas aventuras!
Novas lutas com outros piratas! António de Faria quase morre, mas, finalmente,
III
consegue uma grande vitória e apresa mercadoria valiosa.
As aventuras dos portugueses continuam; este capítulo mostra como os portu-
IV gueses, tantas vezes gananciosos e até ladrões, também sabiam ter gestos de
humanidade…
Mais combates com outros piratas nos mares do Oriente. Os portugueses, apesar
V
de inferiores em número, conseguem vencer devido às artimanhas que utilizam.
Os perigos do mar! Naufrágios, mortes, aventuras para sobreviver… Mas António
VI
de Faria consegue amizades e arranja novos barcos.
Grande vitória dos portugueses sobre o temível pirata Coja Acém, «derramador e
VII bebedor do sangue português», a quem muito queriam apanhar e matar. No final
do capítulo, os inimigos derrotados têm um fim terrível!
Os portugueses aproximam-se da China, nem sempre com os melhores compor-
VIII
tamentos para com povos de estranhas culturas…
Na China, as dificuldades em entender uma língua desconhecida: «– Quiteu parão,
IX fau fau!», e «– Cur cur binau falem»! Na China, o espanto com povos e costumes
tão diferentes!
Os portugueses, sempre na ânsia de enriquecer, só pensam em roubar. São criti-
X
cados fortemente pela ganância imensa que nada respeita, nem os cemitérios!
Uma crítica muito forte dos chineses aos homens «com barbas compridas e cor-
XI pos de ferro» que só pensam em enriquecer através de crimes. Castigos dos por-
tugueses. Finalmente, conduzidos a Pequim, acabam por ser libertados.
88
2
HISTÓRIA
HISTÓRIA EXPEDIÇÃO
EXPEEDIÇÃO AO OMMURMÚRIO O DO MUNDO A ODISSEIA DE
TRÁGICO-MARÍTIMA:
TRÁ
ÁGICO-MARÍTIMA: PACÍFICO
P CÍF
PA FICO REVISITADA
– A ÍNDIA REEVISITADA HOMERO
narrativas
narr
rativas dos naufrágios Marilar
ar Aleixandre
Marila Almeida
Alm
meida Fariaa Adaptação de João
das é
épocas das conquistas
i D. Quixote, 1999 Tinta-da-China Edições, de Barros
Adaptação de António Sérgio 2012 Marcador, 2012
Sá da Costa, 1934
A ODISSEIA
O DE HOMERO VIAGENS
VIAGE ENS CARTA
CA
ARTA DE PERO
P VAZ
V
VAZ DE CAMINHA AS ILHAS
Adaptada
Adaaptada para jovens por Marco o Polo A EL-REI
E D. MANUEL SOBRE O DESCONHECIDAS
Frederico
derico Lourenço
Fred Assírio
o & Alvim, 2008 ACHAMENTO
AC
CHAMENT TO DO BRASIL Raul Brandão
Cotovia, 2005 Pero Vaz de Caminha Quetzal, 2011
Martin Claret,, 2005
89
2 Textos literários: narrativas e crónicas
Teste de verificação
de conhecimentos
GUIA DO PROFESSOR
Conhecimentos verificados –
Metas Curriculares de Português
Elogio do subúrbio
Leitura – L8 9.6 (Reconhecer
- Cresci nos subúrbios de Lisboa, em Benfi- - guarda-redes enchumaçado como um barão
a forma como o texto está es- - ca, então quintinhas, travessas, casas baixas, - medieval apontou-me ao pasmo dos colegas
truturado) – pergunta 1.1;
- a ouvir as mães chamarem ao crepúsculo - – O pai do ruço é doutor
L7 18.6 (Identificar e reco-
nhecer o valor dos seguintes - – Vííííííííítor 50 no que constituiu de imediato a minha
recursos expressivos: enume- 5 num grito que, partido da Rua Ernesto da - primeira glória desportiva e a primeira tene-
ração, personificação, com-
paração, anáfora, perífrase, - Silva, alcançava as cegonhas no cume das ár- - brosa responsabilidade, a partir do momen-
metáfora, aliteração, pleo-
nasmo e hipérbole) – pergun-
- vores mais altas e afogava os pavões no lago - to em que o treinador, a apalpar-me os mús-
ta 4.1 e 4.2; - sob os álamos. Cresci junto ao castelito das - culos com os olhos, preveniu numa careta de
L9 20.2 (Identificar temas, - Portas que nos separava da Venda Nova e da 55 dúvida
ideias principais, pontos de
vista e universos de referên- 10 Estrada Militar, num país cujos postos fron- - – Sempre estou para ver se lhes chegas ó
cia, justificando) – pergunta teiriços eram a drogaria do senhor Jardim, a
2.1 e 3.
- - ruço que o teu pai no ringue era lixado para
- mercearia do Careca, a pastelaria do senhor - a porrada.
Gramática – G9 25.4 (Dividir e - Madureira e a capelista Havaneza do senhor - O dono da Farmácia União jogava o pau, a
classificar orações) – pergun-
ta 6;
- Silvino, e demorava-me à tarde na oficina de 60 esposa do proprietário da Farmácia Marques
G9 25.2 (Consolidar o conhe- 15 sapateiro do senhor Florindo, a bater sola - era uma grega sumptuosa de nádegas de ân-
cimento de todas as funções - num cubículo escuro rodeado de cegos sen- - fora e pupilas acesas, que me fazia esquecer a
sintáticas) – pergunta 5.
- tados em banquinhos baixos, envoltos no - mulher do Sandokan ao vê-la aos domingos
Escrita – E9 17.2 (Escrever - cheiro de cabedal e miséria que se mantém - a caminho da igreja, o sineiro a quem chama-
textos de argumentação con- - como o único odor de santidade que conhe- 65 vam Zé Martelo e que tocava o Papagaio Loi-
trária a outros propostos pelo
professor.) 20 ço. A dona Maria Salgado, pequenina, magra, - ro na Elevação da missa do meio-dia em vez
- sempre de luto, transportava a Sagrada Fa- - do A treze de Maio obrigatório, possuía uma
- mília numa caixa de vivenda em vivenda, e - agência funerária cujo prospecto-reclame
Teste interativo - os meus avós recebiam na sala durante quin- - começava «Para que teima Vossa Excelência
Textos literários: narrativas
e crónicas - ze dias essas três figuras de barro numa redo- 70 em viver se por cem escudos pode ter um lin-
Teste interativo (aluno) 25 ma embaciada que as criadas iluminavam de - do funeral?», e eu escrevia versos no interva-
Textos literários: narrativas
e crónicas
- pavios de azeite. Cresci entre o senhor Paulo - lo do hóquei, fumava às escondidas, uma das
- que consertava com guitas e caniços as asas - minhas extremidades tocava Jesus Correia e
- dos pardais, e os Ferra-o-Bico cuja tia fugiu - a outra Camões, e era indecentemente feliz.
Testes de avaliação - com um cigano e lia a sina nas praias, embu- 75 Hoje, se vou a Benfica não encontro Benfi-
LPP
modelo GAVE,
pp. 63-72 30 çada de negro como a viúva de um marujo - ca. Os pavões calaram-se, nenhuma cegonha
- que nunca deu à costa. Os meus amigos ti- - na palmeira dos Correios
- nham nomes próprios tremendos - ( já não existe a palmeira dos Correios, a
- (Lafaiete, Jaurés) - quinta dos Lobo Antunes foi vendida)
- e habitavam rés do chão de janelas ao ní- 80 o senhor Silvino, o senhor Florindo e o se-
35 vel da calçada onde se distinguiam aparelhos - nhor Jardim morreram, ergueram prédios no
- de rádio gigantescos, vasos de manjerico e - lugar das casas, mas eu suspeito que por bai-
- madrinhas de chinelos. O cão da fábrica de - xo destes edifícios de cinco e seis e sete e oito
- curtumes acendia latidos fosforescentes nas - e nove andares, num ponto qualquer sob
- noites de Julho, quando o pólen da acácia 85 marquises e sucursais de banco, o senhor
40 me chovia nas pálpebras, eu, morto de amo- - Paulo ainda conserta, com guitas e caniços,
- res pela mulher do Sandokan, descobria-me - as asas dos pardais, a dona Maria Salgado
- unicórnio trancado na retrete da escola, e - ainda trota de vivenda em vivenda com a Sa-
- o brigadeiro Maia, de boina basca, descia à - grada Família na sua redoma embaciada, o
- Adega dos Ossos a gesticular contra o regime. 90 Lafaiete e o Jaurés jogam ao virinhas na Cal-
45 Na época em que aos treze anos me estreei - çada do Tojal cercados de vasos de manjeri-
- no hóquei em patins do Futebol Benfica, o - co e madrinhas de chinelos. Não há pavões
90
2
- nem cegonhas e contudo a acácia dos meus - a voz da minha mãe chamar
- pais, teimosa, resiste. Talvez que só a acácia - – Antóóóóóóóónio
95 resista, que só ela sobeje desse tempo como - e um miúdo ruço atravessará o quintal, GUIA DO PROFESSOR
- o mastro, furando as ondas, de um navio 105 com um saco de berlindes na algibeira, pas- Leitura
- submerso. A acácia basta-me. Arrasaram as - sará por mim sem me ver e sumir-se-á lá em 1.
- lojas e os pátios, não tocam o Papagaio Loiro - cima no quarto, a sonhar que ao menos a 1.1 Os advérbios são «então»,
l. 2 e «Hoje», l. 75.
- no sino, mas a acácia resiste. Resiste. E sei - mulher de Sandokan não o obrigaria nunca 2.
100 que junto do seu tronco, se fechar os olhos e - a comer puré de batata nem sopa de nabiças 2.1 Espaço físico: trata-se de
- encostar a orelha ao seu tronco, hei de ouvir 110 durante o tormento do jantar. um dos subúrbios de Lisboa,
Benfica, constituído por quin-
tinhas, ruas estreitas («tra-
António Lobo Antunes, Livro de crónicas, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2006 vessas») e casas baixas. Era
um espaço pequeno, ao al-
cance de um grito e cujas
fronteiras eram «a drogaria
Leitura do senhor Jardim, a merce-
aria do Careca, a pastelaria
1. O texto estrutura-se em dois momentos temporais distintos: passado e presente. do senhor Madureira e a ca-
pelista Havaneza do senhor
1.1 Transcreve do texto os advérbios que te permitem identificar cada um desses momentos. Silvino». Espaço social: cons-
tituído por ambientes e pes-
soas com quem o narrador
2. Referindo-se ao bairro de Benfica, o narrador remete-nos para um espaço físico e um espaço social. estabelece relações de pro-
2.1 Caracteriza-os sucintamente. ximidade e que criam deter-
minada atmosfera social: a
drogaria senhor Jardim, a
3. Explicita o significado da frase «Hoje, se vou a Benfica não encontro Benfica», ll. 75-76. mercearia do Careca, a paste-
laria do senhor Madureira e a
capelista Havaneza do senhor
4. Considera o seguinte segmento textual «Talvez que só a acácia resista, que só ela sobeje desse Silvino, ou a oficina de sapa-
teiro do senhor Florindo, por
tempo como o mastro, furando as ondas, de um navio submerso», ll. 94-97. exemplo.
4.1 Identifica o recurso expressivo nele presente e explica a sua funcionalidade. 3. A frase significa que o bair-
ro de Benfica da infância e
adolescência do autor já não
Gramática existe. As casas baixas fo-
ram substituídas por prédios
1. Responde com verdadeiro (V) ou falso (F). Corrige as falsas. de vários andares, e os anti-
a. Na frase «ergueram prédios no lugar das casas», ll. 81-82, a palavra destacada desempenha gos habitantes do bairro fo-
ram morrendo.
a função sintática de complemento indireto. 4.
b. Na frase «Cresci junto ao castelito das Portas que nos separava da Venda Nova e da Es- 4.1 Comparação. Esta com-
paração pretende mostrar
trada Militar», ll. 9-10, a oração destacada desempenha a função sintática de complemento que, tal como o mastro prova
direto. a existência de um navio afun-
dado, também a acácia ates-
c. Na frase «o senhor Paulo ainda conserta, com guitas e caniços, as asas dos pardais», ll. 85- ta a existência de uma cidade
submersa pelo tempo.
-87, a expressão destacada desempenha a função sintática de complemento oblíquo.
d. Na frase «O cão da fábrica de curtumes acendia latidos fosforescentes (…), quando o pólen Gramática
da acácia me chovia nas pálpebras», ll. 37-40, a oração destacada desempenha a função 1.
a. F (complemento direto);
sintática de modificador [de grupo verbal].
b. F (modificador de nome res-
e. Na frase O guarda-redes do Futebol Benfica disse que o pai do ruço era doutor, a oração tritivo);
destacada desempenha a função sintática de complemento direto. c. F (modificador [de GV]);
d. V;
e. V.
2. Classifica as orações destacadas nas seguintes frases complexas.
2.
a. A acácia resiste como o mastro de um navio submerso [resiste]. a. Oração subordinada adver-
bial comparativa;
b. «Cresci entre o senhor Paulo que consertava (…) as asas dos pardais»
b. Oração subordinada adjeti-
va relativa restritiva.
Escrita
Escreve um texto expositivo (entre 180 e 240 palavras) sobre o seguinte tema: Escrita
E9 16.1 (Escrever textos ex-
¤ A influência das convulsões sociais (desemprego, pobreza, exclusão social…) no quotidiano positivos)
das cidades e nas relações entre as pessoas.
Estrutura-o em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
91
Teatro de
Gil Vicente
Auto da Barca do Inferno
Em destaque:
Leitura Escrita
3
V Oficinas de escrita
O autor e a sua época
t Escrever para contra-
A vida e a obra de Gil Vicente
-argumentar
Gil Vicente – os tipos sociais t Escrever um texto expositivo
Auto da Barca do Inferno –
características gerais
Personagens-tipo: os símbolos Oralidade
Personagens: percursos cénicos
t Falar para argumentar
t Escutar para apreender sentidos
globais e pormenores
Auto da Barca
do Inferno
de Gil Vicente Gramática
Peça de teatro t Arcaísmos e neologismos
t Palavras derivadas: valores de
sufixos e de prefixos
t Funções sintáticas
t Subordinação
t Classes de palavras
t Processos fonológicos de evolução
de palavras
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
20 Há uma outra tradição, mais plausível, que identifica Gil Vicente como
- mestre de retórica do rei D. Manuel. Da mesma época conhece-se tam-
- bém em Lisboa um Gil Vicente alfaiate que foi procurador dos mesteres na
- Câmara de Lisboa.
94
3
- Casou por duas vezes, a primeira com Branca Bezerra,
- de quem teve Gaspar de Belchior, e a segunda com Belí-
- cia Rodrigues, mãe dos seus filhos Paula, Luís (responsá-
- vel pela edição da compilação das suas obras em 1562)
45 e Valéria. A última notícia de Gil Vicente coincide com a
- sua última obra, Floresta de Enganos, de 1536.
95
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Leitura
GUIA DO PROFESSOR 1. Escolhe a opção correta. O significado da frase «(…) as datas de nascimento
Leitura e de óbito que lhe são atribuídas são conjeturais (…)», ll. 4-5, é o seguinte: as
1. c.
datas do nascimento e da morte de Gil Vicente são
2. Trabalhou para a Corte a
partir de 1502 na organização a. desconhecidas. c. meras hipóteses.
de festas; além disso, nes-
se ano, apresentou o seu pri- b. impossíveis de descobrir. d. bem conhecidas.
meiro auto. Outros factos são
possíveis.
3. 2. Identifica dois factos comprovados da vida de Gil Vicente presentes no texto.
1. c. (l. 47 a 50); 2. b. (l. 51 a
55); 3. a. (l. 56 a 60); 4. d. (l.
61 a 71); 5. e. (l. 72 a 78); 6. f. 3. Todas as informações referidas abaixo encontram-se no texto, a partir da l. 47,
(ll. 79-80).
mas não pela ordem em que aí surgem. Ordena-as de acordo com o seu apa-
4. c.
5. O pronome pessoal «lhes»
recimento no texto:
tem como antecendente «os a. Gil Vicente serviu-se do teatro para criticar a sociedade.
fiéis».
b. As figuras que apresenta são tipos, isto é, representam uma classe
social, uma profissão.
PowerPoint c. A crítica vicentina atinge praticamente toda a sociedade.
“Vida e obra de Gil Vicente”
d. Gil Vicente faz rir os espectadores, produzindo efeitos cómicos, por
exemplo através da linguagem.
e. A visão cristã medieval da vida está bem presente no teatro vicentino,
pois a preocupação com o destino das almas é nele bem evidente.
f. Gil Vicente é o fundador do teatro literário em Portugal.
96
3
Gil Vicente – os tipos sociais
Gil Vicente não criou tipos psicológicos mas sim tipos sociais. Apesar de o seu
número ser elevado, todos se apresentam bem definidos: a bruxa, encarnada em
Genebra Pereira, que fazia feitiços (Auto das Fadas); a beata (Comédia de Rubena); a
bêbada (Pranto de Maria Parda); criancinhas, com a sua linguagem infantil (Comédia
de Rubena); o sapateiro, que roubava o povo (Auto da Barca do Inferno); a esposa
adúltera (Auto da Índia); os criados que criticam os patrões (Quem tem Farelos?); o
juiz namorador e sedutor (Floresta de Enganos); a velha gaiteira que quer tornar a ca-
sar (Auto da Festa); as alcoviteiras sem escrúpulos e exploradoras (O Velho da Horta,
O Juiz da Beira, Auto da Barca do Inferno); o escudeiro pelintra (Quem tem Farelos?);
médicos incompetentes (Auto dos Físicos); o velho enamorado (O Velho da Horta); (…)
judeus (Auto da Lusitânia, Auto da Barca do Inferno, Inês Pereira); o frade ou o clérigo
enamorado (Auto da Barca do Inferno e Auto dos Físicos).
Mário Fiúza, História Literária de Portugal – Idade Média e Século XVI, Porto, Athena, s/d
Nota: Outras citações deste livro serão identificadas deste Auto da Barca do Inferno em S. Miguel de Odrinhas, [teatro de rober-
modo: CV, Inferno, e respetiva página. tos], Vicenteatro, Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas
97
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Personagens-tipo: os símbolos
Ao aspeto cénico do auto pertencem também os objetos ao mesmo tempo simbóli-
cos do pecado de cada personagem, e, paradoxalmente, da sua esperança de salvação.
Stephen Reckert, Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e da Teoria Literária, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1977, vol. I (Adaptado)
Fidalgo
do Diabo Onzeneiro
Barca
do
a A
rc
Ba
Parvo nj
o
Sapateiro
Frade
Alcoviteira
Judeu
Corregedor e Procurador
Enforcado
Quatro Cavaleiros
Cais
98
3
INTEGRAL METAS
Auto da Barca
do Inferno
Gil Vicente
Teatro de Gil Vicente, apresentação e leitura de António José Saraiva, Lisboa: Portugália, 6ª edição, s/d
CENA I
O Diabo e o Companheiro
Vocabulário
- Dia. À barca, à barca, houlá! - Faze aquela poja11 lesta12
2
porque
3
parte da antena das velas
- que temos gentil maré!
2 - e alija13 aquela driça14.
latinas. Trata-se de uma - ã<_NcR[UN\PN_\3 a ré! 20 Com. Ô-ô, caça! Ô-ô, iça! iça!
manobra náutica relacionada - Dia. Oh, que caravela esta!
com os preparativos da viagem - Com. Feito, feito! - Põe bandeiras, que é festa.
4
em muito má hora
5 Dia. Bem está! - Verga alta! Âncora a pique!
5
estica
6
cabo que serve para içar a vela
- Vai tu muitieramá4,
7
depressa
- atesa5 aquele palanco6
8
belzebu, um dos nomes do - e despeja aquele banco,
diabo - pera a gente que virá.
9
interjeição designativa de
incitamento 10 ©ON_PNtON_PNUbãb
10
espaço entre o mastro grande
e a popa
- Asinha7, que se quer ir!
11
cabo que fixa o carro
- Oh, que tempo de partir,
12
frouxa - louvores a Berzebu8!
13
solta - – Ora, sus9!, que fazes tu?
14
corda para içar velas 15 Despeja todo esse leito10!
- Com. Em boa hora! Feito, feito!
- Dia. Abaxa má-hora esse cu!
GUIA DO PROFESSOR
Leitura
Nota: Os títulos das cenas fo- «O espaço representado é o da margem de um rio (porto, braço de mar, ribeira), onde as
ram criados pelos autores pa-
ra facilitar a sua abordagem duas barcas (…) estariam dispostas de proa para quem assistisse. (…)
do texto. As barcas do Inferno e do Paraíso simbolizam espaços antagónicos, destinos opostos para
Leitura as almas que vão chegar.»
1. CV, Inferno, p. 5.
1.1 A. Exemplos: «vai», v. 6,
«atesa», v. 7, «despeja», v. 8,
«Despeja», v. 15, «Abaxa», 1. A impressão de movimento sugerida neste quadro inicial é evidente para o leitor.
v. 17, «Faze», v. 18, «alija», v. 19.
«Põe», v. 22; Explicação: to- 1.1 Mostra como ela é conseguida apresentando os exemplos e as explicações em
das estas ordens contribuem
fortemente para a impressão falta nas colunas A e B.
de movimento, pois enquanto
as dá, o Diabo mexe-se e faz
o Companheiro mexer-se pa- A B C
ra as executar.
Verbos no modo Exclamações, frases Determinantes
B. Exemplos: existem muitas exclamativas e frase
frases exclamativas – vv. 1-5, imperativo demonstrativos
10-13, 16-20; as frases inter-
interrogativa
rogativas também estão pre- «aquele palanco», v. 7;
EXEMPLOS
100
3
2. O Diabo está, evidentemente, feliz.
2.1 Indica as razões dessa felicidade relativas aos seguintes domínios:
a. condições para a viagem;
b. aspeto interior da barca;
c. aspeto exterior da barca;
d. passageiros que vão chegar.
101
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Gramática
CA
Animações
c. «Põe bandeiras, que é festa.», v. 22.
Gramáticas:
Subordinação
Tipos de sujeito: Pág. 54
subentendido e 2. Identifica o tipo de sujeito presente na frase «e alija aquela driça», Funções sintáticas
indeterminado Sujeito
v. 19. Pág. 39
Arcaísmos e neologismos
PowerPoint
“Apresentação de Auto da
Barca do Inferno” Aprende
Arcaísmos e neologismos
V Repara que a palavra «asinha», v. 11, usada pelo Diabo, apesar de ser habitual
na linguagem dos séculos XV e XVI, foi, com o tempo, deixando de se usar.
Nota: Também o pronome pessoal «vós», que encontrarás ao longo do auto, era frequentemente
utilizado na época como forma de tratamento respeitosa, dirigida a pessoa de classe social su-
perior.
V Às palavras que caem em desuso, isto é, que deixam de ser usadas numa de-
terminada língua ou comunidade linguística, chamamos arcaísmos.
Por sua vez, às palavras novas que se criam a partir de processos e de estruturas
já existentes na língua, num determinado momento da sua evolução, chamamos
neologismos, como, por exemplo, as palavras televisão, cibercrime, deslocalizar,
descontinuar…
CA
Processos de alargamento
do léxico
Neologismo e arcaísmo
Pág. 30
102
3
CENA II
O Fidalgo Dom Anrique
103
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
20 Fid. =N_RPRãaRNaVN``V
- Dia. Em que esperas ter guarida6?
- Fid. Que leixo7 na outra vida
- quem reze sempre por mi.
- Dia. Quem reze sempre por ti?
25 Hi hi hi hi hi hi hi!...
- E tu viveste a teu prazer,
- cuidando cá guarecer8
- por que rezam lá por ti?
104
3
105
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
106
3
Leitura
«O Fidalgo (…) quer entrar na barca do Paraíso com o argumento de ser quem é: fidalgo de
solar. O Anjo contra-argumentará, no entanto, com a impossibilidade da sua salvação: a tira- GUIA DO PROFESSOR
nia, a fantesia, a cadeira, o rabo, o senhorio, o desprezo dos pequenos são as razões invocadas.» Leitura
1.
CV, Inferno, p. 9. 1.1 «cá» e «lá», vv. 27-28.
1.2 O primeiro refere-se ao
cais onde estão as barcas, ou
1. No decurso deste quadro são referidos várias vezes dois espaços que se opõem, atra- ao mundo depois da morte; o
segundo, ao mundo dos vivos.
vés de dois advérbios com valor de lugar. 2.
1.1 Identifica os advérbios. 2.1 O Fidalgo apresenta como
argumento o facto de haver
1.2 Refere os espaços. alguém que rezará pela sua
alma. Era costume na Idade
Média os poderosos que sen-
tiam a morte aproximar-se
2. O primeiro argumento que o Fidalgo apresenta ao Diabo para justificar a salvação da reservarem dinheiro para que
sua alma ocorre entre os vv. 22 e 23. se rezassem missas por eles
durante anos, como forma de
2.1 Explicita-o. expiar os seus pecados. Além
disso, os familiares também
rezariam.
3. A resposta do Diabo a esse argumento inclui uma grande risada, v. 25. 3.
3.1 O Diabo sabia que o fac-
3.1 Justifica-a. to de haver alguém – o clero
ou a família – a rezar pelo Fi-
dalgo não era de modo algum
4. Explica o sentido da resposta do Diabo no v. 44 «Do que vós vos contentastes». suficiente para que ele se sal-
vasse.
4. O Diabo refere-se ao con-
5. Explicita o primeiro argumento que o Fidalgo apresenta ao Anjo para embarcar na tentamento que o Fidalgo
obteve com os seus muitos
barca da Glória. pecados – que, agora, o levam
ao Inferno.
5. O Fidalgo invoca o seu ele-
6. Identifica, nas falas do Anjo, as diferentes acusações que ele faz ao Fidalgo. vado estatuto social – «Sou fi-
dalgo de solar», v. 60.
6. O Anjo acusa o Fidalgo de:
7. Escolhe a opção correta e justifica. Quando o Anjo diz ao Fidalgo «de generoso / des- 1) ter sido tirano, isto é, opres-
prezastes os pequenos», vv. 82-83, utiliza uma: sor em relação a quem de-
pendia dele, vv. 62 e 63;
a. antítese. b. ironia. c. comparação. d. metáfora. 2) ser soberbo, sempre mar-
cado pela mania da grandeza,
v. 66;
8. Atenta nos vv. 105-106, «Tomarês um par de remos, / veremos como remais». Ten- 3) mania que transporta para
o outro mundo, como o Anjo
do em consideração que o Fidalgo, dado o seu elevado estatuto social, nunca fora lhe aponta, vv. 72 a 77: estes
obrigado a qualquer tipo de trabalho manual, esta nova situação provocou, por certo, objetos «cadeira» e «rabo»
simbolizam a soberba do Fi-
determinada reação no público. dalgo;
8.1 Indica-a justificando. 4) acusa-o ainda de ter des-
prezado as pessoas humildes,
ele que foi «fumoso», isto é,
que vivia na exibição do seu
9. Seguidamente, o Diabo consegue cobrir de ridículo o Fidalgo, quando este lhe pede elevado estatuto social.
para ir ver a mulher. 7. b., porque o Anjo, na verda-
de, está a acusá-lo de não ter
9.1 Explica porquê. sido nada «generoso» com os
desfavorecidos: usa o adjetivo
com sentido inverso ao seu
10. Escolhe a opção correta. O sentimento expresso pelo Fidalgo quando diz «Entre- significado habitual, daí a iro-
nia.
mos, pois que assi é», v. 143, é de: 8.
a. resignação. b. humilhação. c. perturbação. d. revolta. 8.1 O público ri-se porque a
situação é cómica devido a
colocar o mundo às avessas,
11. Justifica a utilização do sinal de pontuação existente no final do v. 151 «A cadeira isto é, o riso provém de uma
situação cómica porque inusi-
é cá sobeja:». tada, inesperada – cómico de
situação.
107
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Gramática
108
3
B. Processos fonológicos de inserção, supressão
e alteração de segmentos
GUIA DO PROFESSOR
Gramática
V Na mudança do português clássico presente no Auto da Barca do Inferno para o
português moderno ocorreram diversos processos fonológicos.
Animações
Vejamos as modificações que se verificaram nas palavras seguintes: Gramáticas:
Funções sintáticas
Português Português Descrição Processo
Arcaísmos e Neologismos
clássico moderno da mudança fonológico
Processos fonológicos
Acrescenta-se um <a> no início de inserção, supressão e
i, v. 96. ai Prótese alteração de segmentos
da palavra.
Suprime-se um <l> no interior da
dolores, v. 155. dores Síncope
palavra.
O som representado pela vogal
<e> altera-
Pera, v. 6. para Assimilação
-se para <a> por semelhança
com outro que lhe está próximo.
CA
ante o tipo de fenómeno e a sua localização na palavra.
Processos fonológicos
Estes processos ocorrem não só ao longo da evolução histórica da língua, mas de inserção, supressão
e alteração de segmentos
também nas variedades regionais, sociais e situacionais da língua atual. Pág. 5
Exemplos
Designação Em que consiste Variação regional, social e
Variação histórica
situacional
Adição de um fonema no início da sentar > assentar
Prótese spiritu > espírito
palavra (variação social)
Adição de um fonema no interior espelho > espeilho
Inserção Epêntese cheo > cheio
da palavra (variação regional)
Adição de um fonema no final da fizeste > fizestes
Paragoge ante > antes
palavra (variação social)
Supressão de um fonema no ainda > inda
Aférese atonitu > tonto
início da palavra (variação social / situacional)
Supressão de um fonema no piscina > p[ ]scina
Supressão Síncope opera > obra
interior da palavra (variação social)
Supressão de um fonema no final homem > home
Apócope cubiculum > cubículo
da palavra (variação social)
Redução Fechamento de um som vocálico bolo – bolinho
vocálica em posição átona casa – casinha
muito > mui[n]to
Um fonema torna igual a si um
Assimilação ipse > esse (o ditongo “ui” nasaliza-se por
outro segmento seu vizinho
Alteração influência da consoante inicial)
Dois fonemas iguais tornam-se feminino > femenino
Dissimilação calamellu > caramelo
diferentes (oralidade)
Transposição de segmentos ou prateleira > parteleira
Metátese semper > sempre
sílabas no interior de uma palavra (variação social)
109
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Oralidade
COMPREENSÃO
GUIA DO PROFESSOR
Oralidade (compreensão)
Pré-escuta / visionamento
1.
1.1 Crítico / divertido / irónico
/ acusador / justo.
1. Antes de veres o vídeo “O Diabo explicado”, recorda o Diabo no seu diálogo com o
1.2 (Resposta orientada para Fidalgo.
a identificação, no texto, das
características do Diabo iden- 1.1 Seleciona na lista seguinte os adjetivos que melhor caracterizam o Diabo.
tificadas pelos alunos).
2. crítico impaciente acusador
Tópico 1: O Diabo denuncia,
aponta os erros, condena, é divertido irónico observador
justo, tem uma função equi-
libradora da sociedade, dando
expressão à máxima ridendo vaidoso aborrecido justo
castigat mores.
Tópico 2: Sedutor, folgazão,
bufarinheiro, provocador, ten-
1.2 Indica as razões da tua escolha.
tador.
Tópico 3: É uma obra atual; os
políticos, em particular, de- Escuta / visionamento
veriam aprender com as su-
as denúncias e ensinamentos. 2. Vê o vídeo, no qual se refere o simbolismo do Diabo, e acrescenta a caracterização
3. de cada tópico.
a. De facto;
b. Adjetivos (sedutor, folgazão,
tentador…); Tópicos Caracterização
c. Oração subordinada adver-
bial final: «(…) para poder
aprender alguma coisa com 1. O Diabo na obra
os ensinamentos deste dia- de Gil Vicente
bo.».
ta deverá sser con-
4. A resposta
dizente com o conteúdo d do tó- 2. O Diabo na cultura
pico respetivo. popular transmontana
3. Atualidade do Diabo
Vídeo na obra vicentina
3. Revê o vídeo e centra a tua atenção nas três últimas intervenções da conferencista
e deteta:
“O Diabo explicado”
a. na segunda, um conector de reafirmação e de retoma do discurso;
Teste de compreensão b. na terceira, exemplos da(s) classe(s) de palavras mais frequente(s) para caracte-
LPP
oral,
pp. 44-45 rizar o Diabo;
c. na quarta, a oração subordinada adverbial na qual a conferencista refere o motivo
por que a obra vicentina deve ser revisitada.
Pós-escuta / visionamento
110
3
CENA III
O Onzeneiro 1
111
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Gramática
1.
1. Identifica as funções sintáticas das seguintes palavras ou expressões:
a. vocativo;
a. «onzeneiro», v. 4; b. «meu parente», v. 4; c. «Saturno», v. 8; d. «em tal barca», v. 27. b. modificador apositivo (do
nome Onzeneiro);
c. sujeito;
2. Atenta no verso «Dar-vos-ei tanta pancada», v. 73.
d. complemento oblíquo.
2.1 Reescreve a frase, fazendo as alterações necessárias: 2.
a. na negativa; b. iniciando-a por É provável que. 2.1 a. Não vos darei tanta
pancada; b. É provável que
2.2 Reescreve-a também com o verbo no: vos dê tanta pancada.
CA
Aprende
GUIA DO PROFESSOR Palavras derivadas: valores de sufixos e de prefixos
Gramática
1. 1. Observa as palavras «onzeneiro», «marinheiro» e «embarcar».
1.1 As duas primeiras pala-
vras são nomes comuns, a úl- 1.1 Indica a classe de palavras a que pertencem.
tima é um verbo.
1.2 Escolhe a opção correta. As bases a partir das quais derivam é um
1.2 a.
1.3 a. a. nome. b. adjetivo. c. verbo.
1.4 c. 1.3 Escolhe a opção correta. O sufixo destacado nas duas primeiras palavras tem o valor de
a. profissão. b. qualidade. c. lugar, habitat ou meio.
1.4 Escolhe a opção correta. O prefixo destacado em «embarcar» tem o valor de
a. movimento para fora. b. negação. c. movimento para dentro.
Grit(-) (verbo) -aria Resultado de ação Gritaria (nome) Grande quantidade de gritos
Branc(o) (adjetivo) -ura Qualidade, estado Brancura (nome) Qualidade de algo que é branco
Escrita
Animações
Gramáticas:
Funções sintáticas
Escrever para expressar opiniões
Processos fonológicos O Anjo, no seu diálogo com o Onzeneiro, ordena-lhe: «vai para quem te enganou.», v. 37.
de inserção, supressão e
alteração de segmentos Escreve um texto, com um mínimo de 140 palavras e um máximo de 200, no qual apresen-
Palavras derivadas: valores tes, pelo menos, três enganos presentes na sociedade atual. Podes selecionar os enganos da
de sufixos e de prefixos
lista seguinte ou referir outros que aí não constem:
¤ o engano da moda; o engano do consumismo; o engano do dinheiro; o engano nas re-
lações entre as pessoas (amizade, amor, casamento…); o engano da falta de civismo…
No teu texto refere a tua opinião, justifica e dá exemplos que a comprovem.
114
3
CENA IV
O Parvo Joane1
115
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
- Dia. De quê?
- Joa. De cagamerdeira,
20 Má ravugem7 que te dê!
- Dia. Entra! Põe aqui o pé!
- Joa. Houlá! Nom tombe o zambuco8 !
- Dia. Entra, tolaço enuco9 ,
- que se nos vai a maré!
- Sapateiro da Candosa!
35 Antrecosto do carrapato13 !
- Hiu! Hiu! Caga no sapato,
- filho da grande aleivosa14 !
- Tua mulher é tinhosa
- e há-de parir um sapo
40 chentado15 no guardenapo!
- Neto de cagarrinhosa16!
116
3
Chega o Parvo ao batel do Anjo, e diz:
-
4. Refere o tipo de cómico presente neste quadro, justificando através de, pelo menos,
Animações
três exemplos.
Gramáticas:
Processos fonológicos
Pratica de inserção, supressão e
Gramática alterações de segmentos
Processos fonológicos de evolução das
palavras; arcaísmos Arcaísmos e neologismos
1. A forma verbal «abaste», v. 67, evoluiu para baste no
português moderno (abaste > baste).
CA
117
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
CENA V
O Sapateiro Joanantão
118
3
- Sap. Quantas missas eu ouvi,
- nom me hão elas de prestar?
30 Dia. Ouvir missa, então9 roubar –
- é caminho per’aqui.10
119
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Leitura
«Também o Anjo sabe que o Sapateiro consta no caderno das ementas infernais e que as for-
GUIA DO PROFESSOR mas são sinal de que não viveu dereito.»
Leitura CV, Inferno, p. 9.
1.
1.1 b.
1.2 Embora se tivesse con-
1. O Sapateiro vem «carregado de formas», como indica a didascália inicial. Contudo, o
fessado, não disse ao con- carregamento que traz não é só de formas: quando o Anjo lhe diz secamente «A cárre-
fessor todos os pecados, pois
pensava que o mal que tinha ga t’embaraça», v. 44, refere-se aos pecados vários cometidos em vida pelo Sapateiro.
não era de morte, vv. 18-21;
além disso, foi ladrão, pois
1.1 Escolhe a opção correta. A palavra «cárrega» está portanto utilizada no sentido:
roubava os clientes nos pre- a. denotativo. b. conotativo.
ços, vv. 22-23.
2. 1.2 Indica dois pecados cometidos pelo Sapateiro, justificando.
2.1 Disse ter morrido confes-
sado.
2.2 O Diabo atacou a validade 2. O Sapateiro apresentou argumentos para ir para o Paraíso; contudo, o Diabo contra-
deste argumento ao provar- -argumentou com eficácia.
-lhe que tinha morrido mal
confessado, em pecado mor- 2.1 Identifica o primeiro argumento do Sapateiro.
tal portanto.
3. 2.2 Explica como o Diabo atacou a validade deste argumento.
3.1 Ao confessor.
4. O segundo argumento foi
ter morrido «comungado», is- 3. Atenta no v. 21, «calaste dous mil enganos».
to é, recebeu, antes de falecer,
o sacramento da comunhão –
3.1 Indica a pessoa a quem foram escondidos os «enganos».
vv. 16-17. Mas o Diabo lem-
brou-lhe que ao comungar
sem se ter devidamente con-
fessado, ficou e morreu ex-
comungado, situação terrível Aprende
na Idade Média para um cris-
tão: morto, ia para o Inferno;
o argumento seguinte diz
V Esta afirmação encerra um evidente exagero: trata-se de uma hipérbole,
respeito ao facto de o Sapa- recurso expressivo que consiste no exagero deliberado da realidade.
teiro lembrar ao Diabo que ia
muito frequentemente à mis-
sa, o Diabo contrapõe-lhe o
facto de ser um ladrão, e es-
te facto pesa mais na hora da 4. Identifica todos os outros argumentos
morte do que ir à missa – «é apresentados pelo Sapateiro em sua
caminho per’aqui.», v. 31; o
quarto argumento prende- defesa e mostra como todos foram con-
-se com o facto de o Sapatei- sistentemente atacados pelo Diabo.
ro dizer que tinha o costume
de dar «ofertas» à Igreja e de
rezar pelos defuntos. O Dia-
bo contrapõe-lhe o facto de 5. Tem em atenção os vv. 57-60:
ele não ter por hábito indem-
nizar suficientemente aque- Sap. Assi que determinais
les que roubava – vv. 34-35 _ que vá cozer ò Inferno?
destruindo assim o argumen-
to do Sapateiro. Anjo Escrito estás no caderno
5. das ementas infernais.
5.1 Tratava-se de uma vida
que podia ser recompensa-
da com o Paraíso, se justa,
5.1 Identifica a conceção de vida no
ou condenada eternamente Além própria da Idade Média neles
ao sofrimento, se pecadora.
O sofrimento no Inferno con- presente.
cretizava-se no arder eterno
e noutras torturas contínuas
e inconcebíveis.
Recursos
expressivos
Págs. 286-287
120
3
Oralidade
COMPREENSÃO E EXPRESSÃO
GUIA DO PROFESSOR
Oralidade (comp. e expressão)
Pré-escuta / visionamento
1. Resposta livre.
2.
1. Certamente conhecerás a expressão «profissão em vias de extinção».
a. (…) porque, como não sabia
1.1 Há quem considere a profissão de sapateiro em extinção. Diz o que pensas sobre ler, foi a única coisa que pôde
agarrar;
este assunto.
b. (…) porque foi empregado e
1.2 Indica alguns exemplos de profissões extintas. fazia sapatos novos por enco-
menda;
1.3 Dá a tua opinião sobre as razões que levam ao desaparecimento de certas profissões. c. (…) porque a vida mudou
(infere-se que piorou);
d. (…) porque prefere coser os
Escuta / visionamento sapatos em vez de usar colas;
e. (…) porque o trabalho que
2. Vê o vídeo “Sapateiro artesanal” e completa as frases de modo a traçares o perfil faz não se destina a enrique-
cer;
profissional deste sapateiro. f. (…) por isso a oficina deve
desaparecer com a sua mor-
a. O sr. José escolheu a profissão de sapateiro . te.
b. No passado, a sua vida de comerciante era mais agitada . 3. Algumas características
pessoais: honestidade, desin-
c. No presente, o sr. José faz apenas consertos . teresse pelo lucro, simplici-
dade, respeito.
d. O sr. José demora mais nos consertos que os super-rápidos . 4. Alguns argumentos possí-
e. O sr. José não se importa com as fracas receitas que obtém . veis:
Ptem trabalhado a vida toda;
f. Os filhos não seguiram a profissão do pai . Pé consciencioso no seu tra-
balho;
Po seu trabalho é reconhe-
3. Traça um quadro que sintetize as características pessoais deste homem. cido;
Pleva um preço justo pelos
consertos;
Pós-escuta / visionamento Pé um homem desinteres-
sado;
4. Prepara uma pequena lista de argumentos que provem que esta personagem, ao Pé um homem simples e ho-
nesto.
contrário do Sapateiro do Auto da Barca do Inferno, merece o Paraíso.
4.1 Apresenta-os à turma.
Vídeo
Gramática
Pratica
“Sapateiro artesanal”
Classes de palavras; subordinação
Gramática
1. Indica as classes de palavras que estão contraídas nas seguintes palavras: 1.
a. «nela»: contração da pre-
a. «nela», v. 43; b. «desse», v. 54; c. «àquele», v. 64. posição em com o pronome
pessoal ela;
b. «desse»: contração da
2. Identifica a oração subordinada presente nos versos «Se tu viveras dereito / elas preposição de com o deter-
minante demonstrativo esse;
foram cá escusadas», vv. 55-56.
c. «àquele»: contração da
2.1 Classifica-a. preposição a com o determi-
CA
121
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
CENA VI
O Frade
- Vem um Frade com ũa Moça pela mão, e um broquel1 e ũa
- espada na outra, e um casco2 debaixo do capelo3 ; e, ele mes-
- mo fazendo a baixa4 , começou de dançar, dizendo:
Vocabulário
- Entrai, padre reverendo! - Dia. Não curês de mais detença11 . 1
escudo pequeno e redondo;
- Fra. Para onde levais gente? - Embarcai e partiremos: 2
capacete; 3 capuz – parte
- Dia. Pera aquele fogo ardente - tomareis um par de remos. integrante do hábito do
- que nom temestes vivendo. 40 Fra. Nom ficou isso n’avença12 . Frade; 4 tipo de dança;
5
25 Fra. Juro a Deus que nom t’entendo! - Dia. Pois dada está já a sentença! vivo segundo os hábitos da
corte (e não segundo os do
- E este hábito no me val10 ? - Fra. Pardeos! Essa seri’ ela! 13
convento…); 6 tipo de dança
- Dia. Gentil padre mundanal, - Não vai em tal caravela que se executava depois da
- a Berzabu vos encomendo! - minha senhora Florença. «baixa»; 7 claro que sei!;
8
tocarei; 9 não vos
impediam?; 10 não me salva
- Fra. Ah, Corpo de Deos consagrado! 45 Como? Por ser namorado – do Inferno?; 11 não penseis
30 Pela fé de Jesu Cristo, - e folgar com ũa mulher em mais demora; 12 o Frade
- que eu nom posso entender isto! - se há um frade de perder, quer dizer que quando entrou
- Eu hei de ser condenado? - com tanto salmo rezado? para a Igreja – o que ele
entende como uma espécie
- Um padre tão namorado - Dia. Ora estás bem aviado14 !
de «avença» ou contrato –
- e tanto dado à virtude? 50 Fra. Mais estás bem corregido15 ! estava contratado ir para o
35 Assi Deos me dê saúde, - Dia. Devoto padre marido, Céu; 13 era só o que faltava!;
14
- que eu estou maravilhado! - haveis de ser cá pingado... não escapais ao castigo!;
15
mas estais bem enganado!
122
3
- Descobrio o Frade a cabeça, tirando o 90 Daqui saio com ũa guia
- capelo, e apareceu o casco, e diz o Frade: - esta é a quinta verdadeira,34
- e um revés da primeira:
55 Fra. Mantenha Deos esta coroa!16 - – Oh! quantos daqui feria!
- Dia. Ó padre Frei Capacete! - Padre que tal aprendia
- Cuidei que tínheis barrete... 95 no Inferno há-de haver pingos? 35
- Fra. Sabê que fui da pessoa!17 - Ah! nom praza36 a São Domingos
- Esta espada é roloa - com tanta descortesia!
60 e este broquel, rolão18 .
- Dia. Dê Vossa Reverença lição - Tornou a tomar a Moça pela mão, dizendo:
- d’esgrima, que é cousa boa!
- Fra. Vamos à barca da Glória!
- Começou o Frade a dar lição d’esgrima
100 Começou o Frade a fazer o tordião e foram
- com a espada e broquel, que eram
- dançando até o batel do Anjo desta maneira:
65 d’esgrimir, e diz desta maneira:
- Fra. Ta-ra-ra-rai-rã; ta-ri-ri-ri-ri-rã;
- Fra. Deo gratias! Demos caçada! 19
- rai-rai-rã; ta-ri-ri-rã; ta-ri-ri-rã.
- Pera sempre contra sus20 !
- Huhá!
- Um fendente21 ! Ora sus!
- Esta é a primeira levada22 . 105 Deo gratias! Há lugar cá
70 Alto! Levantai a espada! - pera minha reverença?
- Talho largo, e um revés23 ! - E a senhora Florença
- E logo colher os pés24 , - polo meu37 entrará lá!
- que todo o al25 no é nada!
- Joa. Andar, muitieramá!
- Quando o recolher se tarda26 110 Furtaste esse trinchão38 , frade? GUIA DO PROFESSOR
75 o ferir nom é prudente. - Fra. Senhora, dá-me à vontade39 Leitura (pág. 124)
1. O movimento cénico do
- Ora, sus! Mui largamente, - que este feito mal está. 40 Frade é o habitual: apresen-
- cortai na segunda guarda!27 ta-se perante o Diabo, recusa
a ida para o Inferno e vai ter
- – Guarde-me Deos d’espingarda
- Vamos onde havemos d’ir! com o Anjo; resigna-se final-
- mais de homem denodado28 .
- Não praza a Deus com a ribeira! mente à sua sorte e vem ter
de novo com o Diabo para en-
80 Aqui estou tão bem guardado29
115 Eu não vejo aqui maneira trar na barca do Inferno.
123
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Leitura
«A quinta figura (…) deve ter dado azo a uma entrada espectacular: traz broquel, espada, casco
GUIA DO PROFESSOR e uma moça – Florença – pela mão. Os pecados são bem visíveis.»
Leitura (cont.) CV, Inferno, p. 9.
3. A atitude de espanto reve-
la-se no v. 7 «Que é isso; pa-
dre?! Que vai lá?»: o Diabo 1. Descreve o movimento cénico do Frade.
admira-se com aquele Frade
que chega comportando-se 1.1 Compara-o com o do Sapateiro, verificando se existem semelhanças ou diferenças.
de um modo absolutamente
inapropriado para alguém do
seu estado; as duas frases 2. O Auto da Barca do Inferno satiriza a sociedade portuguesa do início do século XVI pro-
interrogativas demonstram vocando o riso nos espectadores devido a vários tipos de cómico, de situações cómicas,
esse espanto. Mas o Diabo
recupera imediatamente a si- desde logo porque o mundo é apresentado às avessas.
tuação, pois logo a seguir per-
gunta ironicamente ao Frade 2.1 Comprova, mediante dois exemplos, que este é o caso do Frade.
se ele conhece determina-
da dança – v. 9 «Sabês tam-
bém o tordião?»; além disso, 3. O Diabo revela, nas suas primeiras falas, perante o Frade, duas atitudes: a primeira, de
o convite para o Frade entrar espanto, a segunda, de ironia. Justifica esta afirmação.
na barca e fazerem «um se-
rão», v. 12, demonstra tam-
bém a ironia do Diabo – que 4. As personagens deste auto são personagens-tipo, isto é, representam os vícios e os
sabe muito bem com quem
está a falar e sabe também defeitos da classe social a que pertencem.
que os comportamentos do
Frade são pecaminosos.
4.1 Identifica um verso no qual o Frade aponta nesse sentido.
4.
5. O Frade argumenta no sentido de não ir para o Inferno.
4.1 «E eles fazem outro tan-
to», v. 19; com este verso o 5.1 Indica qual o seu primeiro argumento.
Frade abandona a individuali-
dade e assume-se como um 5.2 Há um provérbio popular que o Diabo poderia ter citado para atacar este argumen-
representante da sua classe,
o clero. to. Indica-o.
5.
5.1 O primeiro argumento do
6. Explicita o sentido do v. 27,«Gentil padre mundanal».
Frade é o seu estado eclesi-
ástico – v. 26. Ele entende que
por ser Frade – o que se reco-
nhece no «hábito», o livra au- Escrita
tomaticamente do Inferno.
5.2 O hábito não faz o monge.
6. Com o primeiro adjetivo, o
Escrever para apreciar criticamente
Diabo refere-se à caracterís-
tica do Frade ser «gentil», is- Escreve um texto, com o mínimo de 150 palavras e o máximo de 200, no qual faças uma
to é, dado às damas, ao amor apreciação crítica ao Frade e ao seu comportamento.
às mulheres; com o segundo,
ao facto de se comportar co- Divide o teu texto nas três partes habituais. No desenvolvimento, poderás:
mo vivendo no «mundo», isto
é, na realidade de todos, uma
realidade profana, e não na ¤ no primeiro parágrafo, descrever objetivamente os comportamentos do Frade em
realidade sagrada em que o vida, baseado no que o seu quadro revela;
padre devia viver, comportan-
do-se como tal. ¤ no segundo parágrafo, dar a tua opinião justificada sobre esses comportamentos,
dizendo se eram ou não adequados ao estatuto social da figura e porquê.
Gramática
1. O Diabo perguntou-lhe se Pratica
sabia outra dança. Gramática
2. O Diabo não lhe perguntou Lugar dos pronomes
se sabia outra dança. pessoais átonos na frase
1. Reescreve a frase O Diabo perguntou ao Frade se sabia
3. O Diabo dançá-la-ia caso
soubesse. outra dança pronominalizando o complemento indireto.
CA
124
3
CENA VII
A Alcouviteira Brísida Vaz
- Tanto que o Frade foi embarcado, veio ũa Alcouviteira, per nome Brísida Vaz, a
- qual chegando à barca infernal, diz desta maneira:
125
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
126
3
- Anjo Ora vai lá embarcar,
70 não estês23 emportunado24 .
- Brí. Pois estou-vos eu contando GUIA DO PROFESSOR
- o porque me haveis de levar. Leitura (cont.)
- Anjo Não cures de emportunar, 3. Muitos são os pecados de
Brísida, e graves:
- que não podes vir aqui. 1. os «seiscentos virgos pos-
75 Brí. E que má-hora eu servi, tiços», v. 17, que pretende
embarcar simbolizam as
- pois não m’ há-de aproveitar!25 muitas raparigas jovens que
levou ao engano para junto
de homens que pretendiam
- Torna-se Brísida Vaz à barca do Inferno, dizendo: satisfação sexual – pecado
da luxúria;
2. as atividades na área da
- Brí. Hou barqueiros da má-hora, feitiçaria, isto é, de enganar
pessoas crédulas, estão re-
- que é da prancha, que eis me vou? presentadas nas «três ar-
cas de feitiços», v. 18;
80 E há já muito que aqui estou, 3. o seu caráter intriguista
- e pareço mal cá de fora. está simbolizado nos cinco
cofres de enleios, v. 21;
- Dia. Ora entrai, minha senhora, 4. a Brísida ladra está im-
- e sereis bem recebida; plícita nos «furtos alheios»
Vocabulário que confessa – v. 22;
- se vivestes santa vida, 23 5. as manhas e mentiras da
estejas
85 vós o sentirês agora. 24
alcoviteira ligam-se ao ver-
aborrecendo bo «encobrir», v. 24;
25
Então trabalhei tanto e não 6. finalmente, «as moças
que vendia», representam
sou recompensada?
o pecado da luxúria, já visto
mais acima, pecado do qual
a alcoviteira, promotora
da prostituição, era culpa-
da. Por causa de tantos pe-
cados e tão graves é que o
Diabo se limita a dizer-lhe:
«Ora ponde aqui o pé…»,
Leitura v. 32
4. Trata-se do habitual mo-
«Ao que parece, Brísida não traz qualquer objeto (…). Por outro lado, Brísida faz menção da cárrega vimento cénico – tenta a sua
que pretende embarcar. O peso dos pecados já não precisa de ser visto, basta ser dito e ouvido.» sorte com o Anjo, perde, e re-
CV, Inferno, p. 25. gressa à barca infernal.
5.
5.1 Palavras ou expressões
1. Explica a impaciência do Diabo, traduzida em duas frases interrogativas, vv. 6-7, relativa- como – «mano», «meus
mente a Brísida Vaz. olhos», «minha rosa», «meu
amor», «minhas boninas»,
«olho de perlinhas finas!», vv.
2. Atenta no v. 12. «Que sabroso arrecadar», e explica: 45 a 57, demonstram a enor-
me capacidade de Brísida em
a. quem saboreia; b. por que saboreia. seduzir pela palavra amiga,
envolvente, tentadora…
2.1 Com base nas respostas anteriores, caracteriza psicologicamente o Diabo. 5.2 A metáfora está presen-
te, por exemplo, em «olho de
perlinhas finas», v. 57: Brísida
3. Refere, com base nas confissões de Brísida ao Diabo, quais os seus pecados. metaforiza os olhos do Anjo
em pérolas de qualidade; do
mesmo modo que os olhos
4. Descreve o movimento cénico de Brísida Vaz depois de terminar a primeira conversa com são arredondados e brilham,
o Diabo. as pérolas também.
5.3 A capacidade evidente de
Brísida para seduzir através
5. Brísida procura seduzir o Anjo, convencendo-o a que a deixe embarcar na Barca da Glória. da palavra origina-se na mui-
ta experiência que tinha em
5.1 Identifica palavras ou expressões que fazem do discurso de Brísida um discurso de seduzir raparigas para a pros-
tituição.
sedução.
5.2 Mostra a ocorrência da metáfora nessas palavras e expressões de Brísida.
5.3 Com base no que sabes da vida desta alcoviteira, justifica a qualidade deste discurso.
127
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Gramática Pratica
Formação de palavras;
GUIA DO PROFESSOR subordinação
1. Atenta na palavra «guarda-roupa», v. 24 e explica o seu
Gramática
processo de formação.
1. Palavra formada por com-
posição, porque associa duas
palavras que mantêm auto-
nomia de acentuação. 2. Escolhe a opção correta. A oração subordinada existente nos vv. 61 e 62 «Santa Úrsula
2. c. Subentende-se: “tantas nom converteo / tantas cachopas como eu», é adverbial:
cachopas como eu {converti}.”
a. causal. b. final. c. comparativa. d. condicional.
CA
Animação
Gramática – Formação de
Formação de palavras
palavras: derivação Pág. 7
e composição Escrita
Subordinação
Pág. 54
Escrita
Nota: Esta oficina de escri- Oficina
ta parte dos disposto nas
Metas Curriculares de Por-
de escrita
tuguês, «Escrita, E9», «17.
Escrever textos argumentati-
vos», nomeadamente o ponto Escrever para contra-argumentar
«2. Escrever textos de argu- Trabalho de pares
mentação contrária a outros
propostos pelo professor»,
página 67. A Lê com atenção o texto seguinte para detetares:
Trata-se de um texto irónico
escrito pelos autores do ma- ¤ a tese defendida pelo autor;
nual. ¤ os quatro argumentos que a justificam;
¤ os exemplos que os comprovam;
¤ os marcadores textuais específicos de um texto de natureza argumentativa;
¤ a estrutura geral do texto: introdução, desenvolvimento, conclusão.
128
3
129
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
CENA VIII
O Judeu
- Tanto que Brísida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode1 às cos-
- tas; e, chegando ao batel dos danados, diz:
130
3
- Azará, pedra miúda, - E comia a carne da panela
- lodo, chanto, fogo, lenha, - no dia de Nosso Senhor!14
- caganeira que te venha! 45 E aperta o salvanor, 15 Vocabulário
30 Má corrença que te acuda!8 - e mija na caravela! 8
este verso e os três
- Par el Deu9 , que te sacuda - Dia. Sus, sus! Dêmos à vela! anteriores apresentam
uma série de pragas que o
- c’a beca10 nos focinhos! - Vós, Judeu, irês à toa16 ,
Judeu roga ao Diabo
- Fazes burla dos meirinhos? - que sois mui ruim pessoa. 9
Por Deus
- Dize, filho da cornuda! 50 Levai o cabrão na trela! 10
veste de alguns oficiais
de justiça
35 Joa. Furtaste a chiba,11 cabrão? 11
o bode
12
- Parecês-me vós a mim cesta grande
13
com mais espaço.
- gafanhoto d’Almeirim
14
referência ao facto
- chacinado em um seirão12 .
de que os judeus não se
- Dia. Judeu, lá te passarão, abstinham de carne em
40 porque vão mais despejados13 . dias de abstinência para os
- Joa. E ele mijou nos finados católicos
15
«Salvanor» – equivalente
- n’ergueja de São Gião!
a um palavrão
16
a reboque (o Judeu
nunca chega a entrar na
Barca do Inferno)
Leitura
«A oitava cena, que de novo interrompe o modelo dominante, é protagonizada por uma
figura (…) cuja entrada, com um bode (talvez animal vivo) às costas, deve ter resultado
quase tão espectacular como a do Frade. É novidade (…) a recusa do Diabo em lhe dar
passagem, mesmo a troco de dinheiro».
CV, Inferno, p. 27.
GUIA DO PROFESSOR
Leitura
1. Indica o argumento do Judeu para passar para o Além. 1. O argumento que o Judeu
apresenta é de ordem mate-
1.1 Identifica o verso que o comprova. rial: o seu dinheiro é o valor
absoluto.
1.1 «Passai-me por meu di-
2. O Diabo impede o Judeu de entrar na sua barca, o que nunca tinha feito a ninguém. nheiro», v. 7.
2.
2.1 Justifica esta atitude.
2.1 Trata-se do preconceito
contra os Judeus: eram muito
mal considerados e persegui-
3. Tanto nas falas do Diabo como nas do Judeu há exemplos do mesmo tipo de dos ferozmente. Simbolica-
cómico. mente, aqui nem o Diabo o(s)
quer.
3.1 Identifica-o, exemplificando. 3.
3.1 Trata-se do cómico de
linguagem. Exemplos: Dia-
4. Escolhe a opção correta, justificando. A fala do Parvo, entre os vv. 35 e 46, con- bo: «Nem eu nom passo ca-
siste em: brões», v. 12. A palavra
«cabrões» provoca o riso da-
a. dar informações sobre o Judeu; da a sua duplicidade: animais
e grosseria; Judeu: a série de
b. fazer acusações ao Judeu; imprecações ou insultos, a
partir do verso 11, na qual se
c. prestar depoimentos sobre o Judeu; destaca a grosseria «caganei-
ra», entre outras.
d. tecer comentários a atitudes do Judeu. 4. b.
131
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Vocabulário CENAS IX e X
1
sendo ambos
magistrados através dos
O Corregedor e o Procurador 1
132
3
- Dia. E as peitas23 dos judeus - Essa gente que aí está
- que a vossa mulher levava? - pera onde a levais?
- Cor. Isso eu não o tomava24 90 Dia. Pera as penas infernais.
55 eram lá percalços25 seus. - Pro. Dix38 ! Nom vou eu pera lá!
- Nom som peccatus meus, - Outro navio está cá,
- peccavit uxore mea.26 - muito milhor assombrado39 .
- Dia. Et vobis quoque cum ea, - Dia. Ora estás bem aviado!
- não timuistis Deus.27 95 Entra, muitieramá!
133
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Vocabulário
41
se não devolveis o que foi roubado; 42 entregar, devolver; 43 porque temos esperança em Deus; 44 embarquemos no meu
barco; 45 esperais; 46 dos que vão para o Céu; 47 tende; 48 breviários, livros específicos dos sacerdotes; como o parvo viu
livros, concluiu serem breviários; 49 roubastes coelhos e pernas de perdizes: provável referência a caça aceite como suborno;
50
onde estão os beleguins (oficiais de justiça)? 51 eu falo latim macarrónico (este tipo de latim é usado nas intervenções do
diabo e do parvo); 52 para que; 53 o Corregedor invoca são marçal, padroeiro dos incêndios, contra o fogo infernal;
54
em vida, as pessoas pensam ser loucura acreditar no inferno; 55 ave de rapina cheia de sujidade; 56 embarcai no zambuco;
57
o Procurador preparava-se para argumentar ainda com um texto das Decretais, texto legal da época; 58 ao menos aqui
estou em paz; 59 preparar outra patifaria; 60 talvez um escrivão; 61 a reboque
134
3
Leitura
«Tanto o Fidalgo como o Frade se tinham feito acompanhar por outras figuras, mas é neste
GUIA DO PROFESSOR
longo fragmento que dois entrelocutores se confundem em cena. As entradas são autónomas:
Leitura
o Corregedor juiz d’alçada chega em primeiro lugar (…). Traz grande quantidade de feitos (os
1. Primeira acusação: o Diabo
processos que documentam o seu trabalho) e uma vara, como símbolo de autoridade associada acusa o Corregedor de, quan-
à justiça. do ocupava o cargo de ouvi-
(…) O Corregedor anuncia a segunda entrada e, em diálogo com a nova figura, esclarece as cir- dor, ter aceitado subornos;
cunstâncias da morte do Procurador (inesperadamente, sem confissão) e justifica a formação Segunda acusação: também
diz que julgou com maldade;
deste par: os representantes da justiça e do direito são ladrões inconfessados e impunes.»
Terceira acusação: além disso,
CV, Inferno, pp. 29 e 31. o Diabo lembra ao Corregedor
que a sua mulher aceitava su-
bornos dos Judeus;
1. O Diabo faz várias acusações ao Corregedor. Explicita-as a partir dos versos da coluna Quarta acusação: Finalmente,
da esquerda: culpa-o por ter enriquecido
não julgando como devia pes-
soas de estratos sociais des-
Acusações Início da resposta… favorecidos.
2. Trata-se de uma confusão
Primeira Quando éreis ouvidor
O Diabo acusa o Corregedor de … com a palavra «escrivães», a
nonne accepistis rapina?, vv. 40-41. qual apresenta dois sentidos:
funcionários do tribunal e os
Segunda quia judicastis malitia., v. 49. Também diz que… autores dos quatro Evange-
lhos: São Marcos, São João,
Terceira E as peitas dos judeus São Mateus e São Lucas. O
Além disso, o Diabo lembra ao…
que vossa mulher levava?, vv. 52-53. Diabo avisa o Corregedor de
que encontrará no Inferno es-
Quarta A largo modo adquiristis crivães, isto é, funcionários
sanguinis laboratorum judiciais corruptos; o Cor-
Finalmente, culpa-o por… regedor faz-se desentendi-
ignorantis peccatorum.
do, e mostra-se surpreendido
Ut quid eos non audistis?, vv. 60-63. por estarem no inferno os
quatro santos.
2.1 Os trocadilhos configu-
2. Explicita o trocadilho presente nas falas trocadas entre o Diabo e o Corregedor imedia- ram exemplos de cómico de
tamente antes da entrada do Procurador, vv. 68-75. linguagem: provocavam o riso
nos espectadores.
2.1 Indica, justificando, o tipo de cómico aqui presente. 3.
3.1 O Diabo ouve atentamente
a conversa entre o Procura-
3. Atenta no diálogo entre os dois juízes – vv. 80 a 107. O Diabo, que os escuta com aten- dor e o Corregedor relativa à
ção, pergunta-lhes «Pois (= Então / Assim sendo) porque nom embarcais?», v. 108. confissão. Fica a saber que o
Procurador morreu sem con-
3.1 Explica a razão de ser desta pergunta, tendo em consideração o conteúdo da con- fissão, não tendo sido ab-
solvido das suas patifarias
versa. e pecados; além disso, fica
também informado de que o
Corregedor, embora se tenha
4. O Parvo não deixa passar a oportunidade para fazer também uma acusação aos dois confessado, não o fez como
juízes, em latim macarrónico, provocando, desse modo, um efeito de comicidade. devia, tendo calado muitos
pecados e não sendo, por is-
4.1 Identifica a acusação feita. so, deles absolvido. Portanto
só lhes resta embarcar para
o Inferno…
Pratica 4.
Gramática Funções sintáticas; coordenação 4.1 Trata-se da acusação fei-
ta nos vv. 123 e 124 e relativa
aos subornos com peças de
1. Tem em atenção o v. 6 e indica as funções sintáticas nele presentes: caça que ambos os magistra-
dos aceitavam.
a. Está aqui; b. aqui; c. o senhor juiz.
2. Atenta nos vv. 126 e 127 «Oh! não nos sejais contrairos / pois nom temos outra ponte!».
CA
135
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Oralidade
COMPREENSÃO
GUIA DO PROFESSOR
Gramática (p. 135) Pré-escuta / visionamento
1.
a. predicado; 1. Antes de veres o vídeo “Muitos portugueses traçam retrato negro da justiça”, relem-
b. predicativo do sujeito;
c. sujeito. bra o diálogo que o Procurador e o Corregedor estabelecem com o Diabo e o Anjo e
2. enumera alguns dos defeitos apontados a estes membros da justiça.
2.1 d.
3. Não o levaremos à toa. O questionário seguinte serve para incluires o que pensas da justiça em Portugal na
atualidade e para refletires, em conjunto com os teus colegas, sobre este assunto a
partir dos resultados obtidos.
Animação
Gramática – Funções
Concordo
sintáticas A justiça portuguesa atual Concordo Discordo
parcialmente
Oralidade (compreensão)
a. favorece os mais ricos;
1. Resposta livre.
b. caracteriza-se por uma grande lentidão e ineficácia;
2.
– Problemas apontados pe-
los advogados: falta de juízes, c. é sempre isenta;
processos que se arrastam,
falta de especialização de juí- d. trata a todos por igual;
zes e de magistrados do Mi-
nistério Público; e. é rápida, eficiente, imparcial.
– Problemas apontados pelas
testemunhas: o adiamento
(de audições / julgamentos)
e a demora (o tempo exces- Escuta / visionamento
sivo de permanência nos tri-
bunais). 2. O vídeo trata dos problemas que afetam a justiça portuguesa na atualidade.
3.
3.1 «Causa-me bastante A locutora refere a lentidão da justiça. De acordo com o conteúdo do vídeo, indica os
transtorno, visto que a minha problemas apontados pelos advogados e pelas testemunhas.
empregada e a minha esposa
tiveram que vir…».
3.2 «visto que».
Pela locutora Pelos advogados Pelas testemunhas
4.
4.1 Sujeito composto: «eu e
ela e uma testemunha fo-
mos intimados para vir aqui». Problemas A lentidão
5. apontados da justiça.
5.1 Exemplos possíveis:
POs juízes devem ser justos
e imparciais, aplicando a
lei sem olhar a estatutos
sociais.
POs advogados devem de- 3. Centra a tua atenção no discurso das duas testemunhas.
fender os seus clientes,
quer sejam ricos ou pobres. 3.1 Identifica uma oração subordinada adverbial causal no discurso da primeira tes-
PAs testemunhas devem di- temunha na qual ela apresenta a causa do seu transtorno.
zer sempre a verdade, nada
mais que a verdade. 3.2 Identifica a locução subordinativa causal que a inicia.
“Muitos portugueses
traçam retrato negro
da justiça”
136
3
Pós-escuta / visionamento
5. Num julgamento, os papéis principais pertencem ao juiz ou juízes, aos advogados e
às testemunhas. GUIA DO PROFESSOR
Oralidade (expressão)
5.1 Escreve uma frase relativa a um destes três intervenientes num julgamento, Para a avaliação, deverá pro-
dizendo como se deve pautar a sua atuação. jetar uma grelha e pedir aos
alunos para a analisar antes
5.2 Partilha a tua opinião na turma, lendo-a. de iniciar a atividade. Assim,
poderão lembrar, uma vez
mais, os aspetos nos quais a
avaliação vai incidir. Se a ava-
liação não for globalmente
positiva, os alunos poderão
proceder a uma nova apre-
EXPRESSÃO sentação para aperfeiçoa-
mento do discurso.
LPP
de heteroavaliação
da expressão oral,
p. 37
O mundo em que vivemos conhece, como sempre sucedeu, em maior ou menor grau,
situações de injustiça: social, económica, profissional, familiar, etc…
Prepara / planifica uma apresentação oral, para um mínimo de 3 minutos e um má-
ximo de 5, na qual:
¤ na introdução, reconheças a presença da injustiça no mundo, indicando, pelo
menos, duas áreas concretas nas quais existam, reconhecidamente, injustiças;
¤ no desenvolvimento:
P exponhas com mais pormenor os dois campos referidos;
P os apresentes nitidamente separados;
P organizes a separação através de marcadores discursivos como:
em primeiro lugar, em segundo lugar, além disso…
P indiques exemplos que comprovem a existência dessas injustiças;
P utilizes expressões ou frases para os apresentar como:
por exemplo, posso exemplificar referindo…
¤ na conclusão, reconheças que a injustiça existe, mas termines
com uma mensagem de esperança.
137
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Escrita
Procede à revisão do teu texto acrescentando (um conector, por exemplo…), retirando (um si-
nal de pontuação…), substituindo (uma palavra repetida…), deslocando (uma palavra mal integrada
na frase…).
138
3
CENA XI
O Enforcado
- Vem um homem que morreo enforcado, e, chegando ao batel dos mal-aventurados, dis-
- se o Arraiz, tanto que chegou:
139
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
GUIA DO PROFESSOR
Leitura
1.
1.1 Garcia Moniz.
1.2 O argumento está nos Leitura
versos 5 a 10: o Enforcado se-
ria «bem-aventurado», isto «O Enforcado não traz carga, talvez exiba o baraço no pescoço, mas também não embarcará no
é, iria para o Céu, pelo facto
de ter morrido como morreu; batel do Anjo (o que, tal como o Judeu, não tentará).»
mais: seria mesmo, por ter CV, Inferno, p. 34.
sido perseguido pela justi-
ça, preso e justiçado na forca, «Na cena do Enforcado, Gil Vicente satiriza a tese da salvação da alma e da purificação dos peca-
«canonizado», isto é, declara- dos através da morte na forca. Garcia Moniz convence o Enforcado de que já se teria libertado dos
do santo pela Igreja.
pecados no purgatório da prisão e, como tinha sofrido muito na vida, era um “santo”. O Enforcado
2.1 Foi-lhe prometida a com-
panhia de São Miguel, com parece ser mais uma vítima da sua ingenuidade do que propriamente culpado. »
quem «jentaria pão e mel», Fonte: http://mym-pt.blogspot.pt/2008/12/o-enforcado.html (Consultado em 19.8.2012)
vv. 46-47; além disso, foi-lhe
prometido que imediatamen-
te depois de morrer iria para
o Céu, vv. 51-54.
3.1 supersticioso: o Enforcado
1. O Enforcado vem convencido de que vai diretamente para o Paraíso.
não se revela supersticioso, 1.1 Refere quem o convenceu.
uma vez que nada na cena
o mostra a acreditar em su- 1.2 Indica o argumento utilizado por essa pessoa para o convencer.
perstições.
(Pág. 141)
4. 2. O Enforcado foi também alvo de promessas relativas à vida no Além.
4.1 libertação: o sentimento 2.1 Indica duas.
de libertação seria um senti-
mento positivo, portanto con-
trário à situação em que se 3. Uma vez que acreditou piamente em todas as promessas que lhe foram feitas, todos os ad-
encontra o Enforcado – de-
fraudado nas suas expecta- jetivos que se seguem poderiam servir para serem utilizados na caracterização psicológica
tivas.
do Enforcado, exceto um:
5. O eufemismo ocorre no v.
27: «passo derradeiro», ex- crédulo ingénuo inocente simples supersticioso
pressão que suaviza a reali-
dade da morte. 3.1 Identifica-o e justifica.
140
3
4. Ao perceber que vai mesmo ter de entrar na Barca do Inferno, o Enforcado pode ter sentido
vários dos seguintes sentimentos, com exceção de um:
resignação espanto revolta tristeza libertação assombro GUIA DO PROFESSOR
Gramática
4.1 Identifica-o e justifica.
1.
a. Oração subordinada subs-
tantiva completiva;
Aprende
b. Oração subordinada subs-
tantiva completiva;
V Atenta no v. 41: «Mas quem há-de estar no ar». Este verso refere-se, como viste, ao c. oração subordinada adver-
ato de alguém ser enforcado, ficando pendurado no ar. Com este modo de dizer, suavi- bial causal;
za-se a crua realidade do enforcamento. Trata-se de um recurso expressivo designado d. oração subordinada adver-
bial temporal;
eufemismo, que consiste em atenuar ou suavizar uma ideia por meio de palavras apro- e. oração coordenada copula-
priadas. Quando estudares Os Lusíadas de Luís de Camões vais encontrar um dos mais tiva (sindética);
f. oração subordinada adver-
famosos eufemismos da nossa literatura: «Tirar Inês ao mundo determina», verso bial causal.
que se refere à decisão de alguém que mandou matar, assassinar Inês de Castro. Sugestões didáticas:
em 1. a): colocar a frase
complexa na ordem direta:
Eu mando-te que irás aqui;
verificar que a forma verbal
5. Identifica, entre os vv. 27 e 28 outro eufemismo relacionado com a Recursos
mando exige complemen-
expressivos to direto; o complemento in-
morte. Págs. 286-287 direto está presente (te); o
verbo mandar (= ordenar)
é transitivo direto e indireto:
alguém ordena alguma coi-
sa a alguém; levar os alunos
Gramática a descobrir que, neste caso,
o complemento direto é uma
oração subordinada – mando
Pratica o quê?; frequentemente é um
grupo nominal, neste caso é
Coordenação e subordinação; funções sintáticas uma oração;
em 1. b): verificar que o verbo
dizer é transitivo direto e indi-
reto: o complemento indireto
1. Classifica as orações coordenadas ou subordinadas destacadas nos versos seguintes: está presente (me), o direto é
a. «Mando-t’eu que aqui irás», v. 14; a oração subordinada, depen-
dente da forma verbal disse –
b. «me disse nos meus ouvidos / que o lugar dos escolhidos / era a forca e o Limoei- disse o quê?
Tanto em 1. a) como em 1. b)
ro;», vv. 28-30; insistir no facto de que estas
c. «Entra, entra no batel, / que ao Inferno hás-de ir!», vv. 43-44; subordinadas completam o
sentido da forma verbal da
d. «jentaria pão e mel / tanto que fosse enforcado.», vv. 47-48; qual dependem, são, por isso,
completivas. Em 1. c) e 1. f)
e. «Ora, já passei meu fado, / e já feito é o burel.», vv. 49-50; verificar a classe de palavras
a que pertence a conjunção
f. «– Alto! Todos a tirar / que está em seco o batel!», vv. 71-72. que inicia as orações (= por-
que); em 1. d) verificar que a
locução «tanto que» tem va-
lor temporal (= logo que).
2. Indica as funções sintáticas das expressões destacadas:
2.
a. «e já feito é o burel», v. 50; Coordenação a. Sujeito;
e subordinação
b. «e era santo o meu baraço», v. 56. b. Sujeito.
Pág. 279
Nota: muitos alunos revelam
grande dificuldade em identi-
ficar sujeitos à direita do ver-
bo; sempre que aparecem
exercícios deste tipo, convém
chamar a atenção para esta
possibilidade – tão frequen-
te em textos literários. Nes-
ta situação, proceder ao teste
de concordância com o ver-
bo ajuda o aluno a identificar
o sujeito.
141
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
CENA XII
Os Quatro Cavaleiros
- Vêm quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pelo qual Se-
- nhor e acrecentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos1 a2
- culpa3 e pena4 per privilégio que os que assi morrem têm dos mistérios da Paixão d’Aquele por
- Quem padecem, outorgados por todos os Presidentes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja.
5 E a cantiga que assi cantavam, quanto a palavra dela, é a siguinte:
- Cav. À barca, à barca segura, - E passando per diante da proa do batel dos
- barca bem guarnecida5 , - danados assi cantando, com suas espadas e
- à barca, à barca da vida! 25 escudos, disse o Arraiz da perdição desta ma-
- neira:
- Senhores, que trabalhais
10 pola vida transitória, - Dia. Cavaleiros, vós passais
- memória, por Deos, memória - e nom preguntais onde is?
- deste temeroso cais! - 1.º Cav. Vós, Satanás, presumis7 ?
- À barca, à barca, mortais, 30 Atentai com quem falais!
- Barca bem guarnecida, - 2.º Cav. Vós que nos demandais?
15 à barca, à barca da vida6 ! - Siquer8 conhecê-nos bem.
- Morremos nas Partes d’Além9,
- Vigiai-vos, pecadores, - e não queirais saber mais.
- que, despois da sepultura,
- neste rio está a ventura 35 Dia. Entrai cá! Que cousa é essa?
- de prazeres ou dolores! - Eu nom posso entender isto!
20 À barca, à barca, senhores, - Cav. Quem morre por Jesu Cristo
- barca mui nobrecida, - não vai em tal barca como essa!
- à barca, à barca da vida!
142
3
- Tornam a prosseguir, cantando, seu caminho direito
40 à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:
GUIA DO PROFESSOR
- Anjo Ó cavaleiros de Deos, Leitura
- a vós estou esperando, Vocabulário 1. Trata-se do Norte de África,
1
absolvidos, perdoados principalmente no atual Mar-
- que morrestes pelejando rocos, onde Portugal tinha
2
de várias possessões e onde as
- por Cristo, Senhor dos céos! lutas com os mouros eram
3
pecados
45 Sois livres de todo mal, constantes; são as «Partes
4
sofrimento (no Purgatório ou d’Além» (mar).
- mártires da Madre Igreja, no Inferno) 2.
- que quem morre em tal peleja 5
que tem tudo o necessário à 2.1 Os destinatários são os
salvação das almas espectadores do auto, os
- merece paz eternal. «Senhores», v. 9, que ainda
6
da «vida» eterna vivem e pecam – «pecado-
7
sois presunçoso? res», v. 16.
- E assim embarcam. 2.2 O objetivo é lembrar a es-
8
ao menos sas pessoas que no final da
9
no Norte de África (Marrocos) vida terão de passar obriga-
- a lutar contra os mouros, os toriamente pelo «temeroso
cais», v. 12: o auto define-se,
infiéis deste modo, como tendo um
objetivo pedagógico: lançar
o receio na sociedade, receio
do além, para que se compor-
Leitura tem segundo as leis de Deus.
3.
«A última e mais breve sequência põe em cena quatro figuras que trazem a cruz de Cristo e, diz a 3.1 Tanto o segundo Cavaleiro
rubrica que as apresenta, morreram em poder dos mouros, pelo acrecentamento da santa fé católica. São como os outros apresenta-
memória próxima de desastres recentes das expedições a África, em 1516, e da bula papal que ga- ram um argumento que o
Diabo era incapaz de rebater:
rantia a absolvição das vítimas. (…) Na sequência final, os Cavaleiros dirigem-se cantando à barca tendo morrido a lutar pela
do Anjo, que, pela primeira vez, os espera (…) e os acolhe. São as únicas figuras bem recebidas pelo Santa Igreja, contra os infiéis,
Anjo, o que confere a esta última cena a configuração moralizante de final feliz.» os Cavaleiros estavam per-
CV, Inferno, pp. 37 e 38. doados de qualquer pecado
e tinham o Céu por certo – o
Papa assim decidira.
1. Identifica as «Partes d’Além», v. 33, referidas por um dos Cavaleiros. 4.
4.1 «que morreste pelejan-
do / por Cristo Senhor dos
2. A «cantiga» que os quatro cavaleiros cantam tem destinatários e objetivos precisos. céos», vv. 43-44 e «que quem
morre em tal peleja / merece
2.1 Refere quem são os destinatários. paz eternal», vv. 47-48. Am-
bas as orações são iniciadas
2.2 Indica quais os objetivos da cantiga, qual a sua função. pela palavra «que» – conjun-
ção subordinativa causal.
Gramática
3. O Diabo chama a atenção dos quatro Cavaleiros para o facto de passarem por ele e não lhe
1.
prestarem a atenção que todos, anteriormente, lhe prestaram. a. Sujeito.
3.1 Explicita o argumento usado pelo segundo Cavaleiro e, logo a seguir, pelos quatro, para b. Vocativo.
terem agido como agiram. c. Complemento indireto.
d. Modificador de nome res-
tritivo.
4. O Anjo, nas suas palavras finais, dirigidas aos Cavaleiros, apresenta duas razões para os
acolher.
4.1 Identifica as duas orações subordinadas adverbiais causais que introduzem essas razões. Animação
Gramática – Funções
sintáticas
Gramática Pratica
Funções sintáticas
1. Identifica as funções sintáticas das palavras destacadas:
a. «Vós, Satanás, presumis?», v. 29. c. «Vós que nos demandais?», v. 31.
CA
b. «Vós, Satanás, presumis?», v. 29. d. «merece paz eternal.», v. 48. Funções sintáticas
Págs. 39-48
143
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Escrita
GUIA DO PROFESSOR
Escrita Oficina
Os processos de construção de escrita
do cómico no Auto da Barca
do Inferno
Notas: Texto expositivo
1. O trabalho de pares, tan-
to o preparatório como o da
escrita em oficina, pode ser
alargado, mas não será acon-
selhável a criação de grupos OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DO CÓMICO
com mais de três alunos. NO AUTO DA BARCA DO INFERNO
2. Os grupos que fizerem o
trabalho preparatório deve-
rão manter-se durante a ofi-
cina. A comicidade, o riso
3. Para realizar todo o traba-
lho (pesquisa e escrita) serão São três os modos como Gil Vicente provoca o riso nos espectadores. Observa o qua-
necessários três blocos de 90 dro.
minutos (um para a pesquisa,
dois para a escrita – planifica-
ção, textualização, revisão).
CÓMICO DE SITUAÇÃO CÓMICO DE LINGUAGEM CÓMICO DE CARÁTER
3.1 Lembre-se que os dois
blocos previstos para a Resulta de as personagens
Resulta da utilização de
textualização e para a re- Resulta de uma situação manterem as mesmas
visão serão, certamente, palavrões, trocadilhos,
surpreendente. atitudes condenatórias,
tempos para recordar e latim macarrónico…
aplicar matéria gramati- mesmo depois de mortos.
cal – é o que a experiência
mostra. Ex.: FIDALGO Ex.: PARVO Ex.: FIDALGO
4. O professor deverá orien- Uma situação cómica ocor- Ainda hoje, tal como no sé- Os espectadores riem
tar a textualização e a revi- re quando o Diabo propõe culo XVI, os palavrões e as quando o Fidalgo, morto,
são: se optar por trabalho de
pares, terá mais ou menos 14
ao Fidalgo que entre na sua expressões insultuosas do apresenta ao Anjo como
textos para acompanhar; se barca, pegue nos remos e Parvo fazem rir os espec- argumento para entrar na
optar por grupos de 3 alunos, reme: os espectadores riem tadores ou leitores do auto. barca da Glória o facto de
bem menos.
pois a situação é inusitada, ser fidalgo de solar: con-
4.1 Todos os alunos escre-
vem o mesmo texto; bas-
surpreendente, vai contra tinua a comportar-se no
ta o professor analisar um, o que o modelo social es- Além como em vida, reve-
com a devida atenção por tabelecia: os Fidalgos não lando, deste modo, o seu
parte dos elementos do
par ou grupo, para todos
faziam qualquer trabalho caráter arrogante.
poderem aperfeiçoar os braçal.
textos no sentido indicado
pelo professor.
Atenção: por vezes, estes tipos de cómico podem ocorrer juntos.
5. No que respeita à divul-
gação, além das sugestões
apresentadas, é convenien-
te que partes dos textos em
construção, por exemplo uma
boa introdução, possam ser
partilhadas no decurso da ofi-
cina, e não somente no final.
6. As Metas Curriculares de
Português dão particular
atenção ao texto expositivo –
Secção Escrita E9, subsecção
16. A organização desta pro-
posta de oficina segue o dis-
posto nesta subsecção bem
como nas subsecções 13 e
14, além, naturalmente, do
disposto no PPEB.
144
3
nas de escrita anteriores ou criar um novo – que contenha, embora com desenho
diferente, os mesmos elementos.
Escreve-o
Escreve o texto, com o teu par ou com os teus colegas, seguindo a planificação:
nunca a percas de vista! Verifica agora as instruções do ponto 2.
Revê-o
Fá-lo com a colaboração do professor, enquanto escreves ou quando o terminares.
O professor dar-te-á indicações de aperfeiçoamento do texto (discute-as com o
teu par ou colegas antes de as seguires; faz as necessárias intervenções no texto).
Podes ainda partir da grelha de avaliação da página 146 para rever o texto.
Divulga-o
Para além da leitura do texto, no final da oficina, verifica com o teu professor ou-
tras possibilidades de o divulgar: no jornal da escola, no blogue da turma…
Estruturação e organização
145
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Revisão
A nível geral
Lembra-te de que, independentemente do tipo de texto que escreves, há quatro ope-
rações de aperfeiçoamento que te podem ajudar a melhorar o teu texto:
Acrescentar um sinal de pontuação, uma palavra, um exemplo…
Retirar uma vírgula, uma palavra…
Substituir um nome por um pronome, um adjetivo repetido por outro…
Deslocar informação fora do sítio apropriado, uma palavra mal colocada na frase…
Revisão específica do texto expositivo
Utiliza a seguinte grelha de avaliação do teu texto no decurso da textualização (no
final do desenvolvimento, por exemplo), ou somente quando deres o texto por termi-
nado. Os aspetos que vais verificar são específicos do texto expositivo.
Texto expositivo
Aspetos em avaliação S N
Estruturei o texto em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Na introdução, apresentei o assunto do texto com clareza.
Organizei o desenvolvimento em vários parágrafos.
¤ Cada parágrafo correspondeu a um assunto diferente.
Terminei o texto com uma conclusão clara e sucinta.
No início de cada parágrafo do desenvolvimento, utilizei marcadores textuais adequados
(Em primeiro lugar, em segundo lugar, além disso, finalmente…).
Organizei a informação dentro destes parágrafos através de conectores apropriados
(e, não só … mas também, além disso…).
Justifiquei as minhas afirmações iniciando as justificações com conectores adequados
(porque, já que…).
Comprovei/documentei as minhas afirmações através de exemplos pertinentes.
Utilizei predominantemente frases do tipo declarativo.
Utilizei predominantemente formas verbais no presente do indicativo.
146
3
Texto expositivo
p
PLANIFICAÇÃO
Ç
Introdução
ç . indico, de forma breve, o assunto do meu texto
. 1 pparágrafo
g (posso
p referir os três tipos
p de cómico)
Desenvolvimento
1 o pparágrafo
g f 2 o pparágrafo
g f 3 o pparágrafo
g
. Cómico de… . Cómico de… . Cómico de…
. Em qque consiste . Em qque consiste . Em qque consiste
. Exemplo(s)
p . Exemplo(s)
p . Exemplo(s)
p
Para iniciar
Em pprimeiro lugar…
g Em segundo
g lugar…
g Finalmente…
1AQA_TRSIiCAQ
_
pporque,
q jjá qque… pporque,
q visto qque… pporque,
q uma vez qque…
1AQAEWELOKIiCAQ
O
Por exemplo…
p Um exemplo… O exemplo…
p
Matéria g
gramatical a ter em conta,, além Defeitos do texto a qque tenho de estar atento:
do jjá referido . repetições
p ç desnecessárias
. frases do tipo
p declarativo / . ppontuação
ç
ppresente do indicativo .…
147
3 Teatro de Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno
Teste de verificação
de conhecimentos
GUIA DO PROFESSOR
Conhecimentos verificados –
Metas Curriculares de Portu-
guês - Vem um Frade com ũa Moça pela mão, e um broquel e ũa espada na outra,
- e um casco debaixo do capelo ; e, ele mesmo fazendo a baixa , começou de dançar,
Leitura – L9 9.3 (3. Identificar
pontos de vista e universos - dizendo:
de referência, justificando.) –
perguntas 1, 2 e 3;
L8 20.8 (Identificar e reco- - Fra. Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; - Dia. Não curês de mais detença.
nhecer o valor dos recursos ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã ; Embarcai e partiremos:
5 -
expressivos já estudados e,
ainda, dos seguintes: antítese, - tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huha! - tomareis um par de remos.
perífrase, eufemismo, ironia) –
pergunta 3.1; - Dia. Que é isso, padre?! Que vai lá? 40 Fra. Nom ficou isso n’avença.
L9 20.2 (Identificar temas, - Fra. Deo gratias! Som cortesão . - Dia. Pois dada está já a sentença!
ideias principais, pontos de
vista e universos de referên- - Dia. Sabês também o tordião? - Fra. Pardeos! Essa seri’ ela!
cia, justificando.) – pergunta Não vai em tal caravela
4,5 e 5.1.
10 Fra. Porque não? Como ora sei! -
-
modelo GAVE,
pp. 73-82 - a Berzabu vos encomendo!
Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, in Teatro de Gil Vicente, apresentação e leitura
de António José Saraiva, Lisboa: Portugália, 6ª edição, s/d
148
3
Leitura
1. Identifica o sentimento manifestado pelo Diabo com a entrada do Frade em cena:
a. surpresa; b. aborrecimento; c. tristeza; d. alegria. GUIA DO PROFESSOR
Leitura
1.1 Justifica a tua resposta. 1. a.
1.1 O Diabo fica surpreendido
porque não esperava ver um
2. Em função dos adereços de que o Frade se faz acompanhar e das observações do Diabo, frade a dançar, vestido como
indica os motivos que justificam que o Frade vá para o Inferno. um cortesão e trazendo pela
mão uma moça.
2. O vestuário, a companhia
3. Indica a crítica implícita que se encontra na expressão do Diabo «Que cousa tão precio- que traz e a forma como en-
tra em cena (a dançar) não
sa…», v. 20. são próprias de um homem
de Deus, mas de um homem
3.1 Refere o recurso expressivo de que se serviu para fazer essa crítica. Escolhe a opção mundano («cortesão»). As
correta: observações irónicas do Dia-
bo («Sabês também o tor-
a. metáfora; b. ironia; c. hipérbole; d. personificação. dião?», v. 9 , «Que cousa tão
preciosa», v. 20 e «fezestes
bem, que é fermosa.», v. 16)
sugerem um comportamen-
4. Depois de lhe ter sido indicada a Barca do Inferno, o Frade mostra-se surpreendido. Re- to impróprio e, por isso, digno
tira do texto duas expressões que comprovem essa surpresa. do Inferno.
3. A de que o clero, em geral,
se comportava como este fra-
5. Seleciona a partir do texto os argumentos que o Frade invoca para evitar ir na barca do de «cortesão».
3.1 b. Ironia.
inferno.
4. Podem retirar-se, entre ou-
5.1 Diz se te parecem argumentos válidos. Justifica. tras, as seguintes:
«Juro a Deus que non
t’entendo!», v. 25; «eu nom
Gramática posso entender isto!», v. 31.
5. O Frade argumenta com o
1. Indica o processo fonológico presente na evolução de «val», v. 26, para «vale». seu estatuto de clérigo e de-
fende-se das acusações do
Diabo dizendo ser «dado à vir-
2. Na frase complexa «Fezestes bem, que é fermosa!», l. 16, substitui a conjunção «que» tude», v. 34, e ter «muito sal-
mo rezado», v. 48. Além disso,
pela palavra adequada entre as seguintes: desvaloriza o facto de folgar
a. mas; b. portanto; c. porque; d. quando. «com ũa mulher», v. 46.
5.1 Os argumentos não têm
2.1 Classifica a oração subordinada daí resultante. validade, em primeiro lugar,
porque acha que o hábito o
protege do Inferno e que, por-
3. Escolhe a opção correta. Na frase complexa «Juro a Deus que nom t’entendo!» o seg- tanto, poderá levar uma vida
de «cortesão»; em segun-
mento destacado é uma oração subordinada do lugar, porque ser dado à
c. substantiva relativa. virtude e não a praticar des-
a. adjetiva relativa restritiva. mascaram a sua hipocrisia e,
d. adverbial causal. em terceiro lugar, porque re-
b. substantiva completiva. zar muitos salmos, mas com-
portar-se de forma imprópria
3.1 Indica a função sintática desta oração relativamente ao verbo de que depende. («folgar com ũa mulher») só
o poderão conduzir ao inferno.
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