PSICOLÓGICAS EM INSTITUIÇÕES
- ATENÇÃO PSICOLÓGICA: FUNDAMENTOS, PESQUISA E PRÁTICA
Resumo
A vida nas grandes cidades do Ocidente exige das pessoas uma luta diária por
espaço, segurança, privacidade, enfim pela própria sobrevivência. Do ponto de vista
psicológico, paradoxalmente, sentimentos de solidão rondam os relacionamentos. A
experiência de exclusão não se restringe aos menos favorecidos, econômica e
culturalmente; democratiza-se pelo viés da competitividade. Alguns buscam apoio em
dogmas, outros em verdades que se traduzem em números e indicadores. Todos
parecem necessitar de alguma forma de apoio para enfrentar modos de existência que
se tornam cada vez mais conturbados. Qual o papel da psicologia clínica num cenário
como este? As psicoterapias tradicionais, em especial as de tempo indeterminado,
disponibilizam modelos de intervenção cuja eficácia baseia-se em critérios de
aderência e auto motivação do paciente, possíveis apenas no restrito contexto das
clínicas privadas. O sofrimento humano vivido na experiência coletiva do cotidiano das
instituições demanda abordagens criativas e emancipatórias, abordagens que
reconduzam as pessoas a uma compreensão sobre si mesmas e sobre o sentido de
suas vidas.
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Quando afirmamos que nosso referencial é humanista e fenomenológico,
buscamos um resgate, como o propôs Husserl (1935/1996), do sentido a partir da
subjetividade, ou melhor, um mundo intersubjetivo, não apenas centrado numa
subjetividade em particular.Visamos o homem em seu viver mais próprio, em
comunidade, o homem com suas experiências cotidianas particulares, conduzindo sua
vida em meio a outros homens; um homem encarnado nas palavras de Merleau--Ponty.
Nesse sentido, nossas pesquisas buscam trazer à tona os modos particulares de
expressão das pessoas, tomadas em sua totalidade, vivendo suas experiências e
atribuindo um sentido a elas. Não é nossa intenção proporcionar uma forma de ajuda
psicológica de antemão; também não pretendemos enquadrar o vivido ou classificá-lo;
não importa ao clínico em seu sentido stricto os esquemas explicativos, pois lhe cabe
exercitar o ofício da compreensão. De modo análogo, o pesquisador fenomenológico
não está interessado em encontrar uma maneira de provar o que já está consolidado
teoricamente; ao contrário, ele permite-se impregnar do fenômeno, a fim de pronunciar
as questões iniciais numa relação autêntica com o contexto e com os participantes. O
projeto de pesquisa é delineado a partir de uma motivação pessoal intensa vivida pelo
pesquisador aproximando-se do que Moustakas denominou de pesquisa heurística.
(Husserl, 1935/1996,p83).
diferenciados parece ter a árdua – mas feliz – função de nos levar a refletir sobre a
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prática profissional do psicólogo, buscando formas de atuação inovadoras que visem
qualificar a profissão, adequando cada vez mais o que fazemos àquilo que precisa ser
feito com ética e responsabilidade social, tomando por base a construção de modelos
de ajuda que não excluam a vida concreta, com seus potenciais e limites, valores e
alma e o que cabe no ser, seus alvos originários, é indelimitável. Cabem as angústias,
apenas, então, dos cuidados do corpo. Nela, o que é mais preciso é a natureza mesma
legitimando o lugar de sujeitos que somos ao fazermos ciência, que nossa ciência será
mais humana.
contato psicológico entre as duas pessoas envolvidas, terapeuta e cliente, sendo que a
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manter uma relação terapêutica potencialmente positiva. Os dois personagens em cena
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implica nesta particular experiência de não saber, de estar disponível para a
descoberta do novo, daquilo que se anuncia dialogicamente. Esta condição é
desafiadora para o aprendiz, pois desaloja suas frágeis certezas provenientes do saber
recentemente adquirido.
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O fato de a atenção psicológica ser oferecida no exato momento da
necessidade, também assume um importante papel no sentido de ser um elemento
fundamental a possibilitar a emergência da criatividade, pois aquele que se dispõe a
rever sua experiência pessoal, estará apto a criar novos modos de estar no mundo,
modos estes que podem permanecer neutralizados nas circunstâncias habituais da
vida em seu curso natural (Furigo,2006). Este potencial criativo atuará a favor da
atenção psicológica, que associada ao poder terapêutico da relação de ajuda, em uma
atmosfera de escuta e aceitação, facilitará a emergência de um processo
transformador, auto motivado.
ouvinte.Este, por sua vez, ao contar aquilo que ouviu, transforma-se ele mesmo, em
com tal modo de pensar a experiência e a narrativa como sua expressão, levam-nos a
eleger a narrativa como uma técnica metodológica apropriada aos estudos que se
Essa estratégia metodológica tem suas bases na filosofia de Benjamin (1994) que
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nas formas de narrar no decorrer da história, descobre que a pobreza narrativa
passar do tempo foram sendo obscurecidos face ao avanço capitalista. Assim, em suas
Benjamin discute a era da informação como substituindo a história oral narrada como
explicações, a narração não tem compromisso algum com o real nem com verdades,
algo acabado, mas estaríamos trazendo ao presente um vivido. Esse vivido, ao ser
aconteceu”, mas é “como reflito sobre minha experiência do que aconteceu, agora”.
Portanto, para o próprio narrador, o vivido passa a ser receptivo a outros significados
narrativa da pesquisadora.. O leitor do trabalho irá, por sua vez, amalgamar aos
narrativa), possibilita o contato com a própria experiência como nos tempos antigos
anunciados por Benjamin(1994). O narrador era artesão, sua consciência não estava
descolada do fazer, do seu corpo. Sua fala e seu trabalho vinculavam-se à experiência.
“A alma, o olho e a mão estão assim inscritos no mesmo campo. Interagindo, eles
definem uma prática. Essa prática deixou de nos ser familiar”(p220) e ainda logo depois
“Podemos ir mais longe e perguntar se a relação entre o narrador e a sua matéria – a
vida humana – não seria ela própria uma relação artesanal. Não seria sua tarefa
trabalhar a matéria-prima da experiência – a sua e a dos outros – transformando-a num
produto sólido, útil e único ?(p.231).
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crianças e adolescentes passam considerável parte de seus dias, de modo que a
acontece atualmente mais na escola do que no convívio familiar. Contexto escolar foi
de sala de aula, mas ao tempo que se passa na escola e à qualidade das relações
humanas estabelecidas.
personalidade.
Com isso, pode-se dizer que as entrevistas possuem caráter interventivo e até
terapêutico.
pela participação nesta pesquisa parecem ter dado voz à busca pela liberdade de ser si
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mesmo e ao viver criativo que a dança já expressava sem palavras. Dançar em grupo
Campos & Cury (2009) em pesquisa sobre encontros terapêuticos com crianças
iniciativa pela busca espontânea por uma relação de ajuda psicológica e para
instituição, tais como hospital, creche, escola e serviço de assistência judiciária, tem
estabelecem.
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revelar os significados da experiência vivida num jogo interessante de interlocução
dialógica no qual o pesquisador interroga o psicólogo sobre sua prática clínica e este
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