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A Falta do Psicólogo da Saúde Ocupacional na

Equipe de Segurança do Trabalho


Publicado em : 21/03/2016
Autor : Liliana A. M. Guimarães*

Há tempos venho questionando esta importante ausência: O PSICÓLOGO


DA SAÚDE OCUPACIONAL NA EQUIPE DE SEGURANÇA DO TRABALHO.

Não é exigida por lei, em nosso país, a presença do Psicólogo da Saúde


Ocupacional nas equipes de Segurança do Trabalho nas empresas. Estas
equipes são compostas pelos seguintes profissionais: Técnico de
Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Médico do
Trabalho e Enfermeiro do Trabalho. Estes profissionais formam o que se
denomina SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho. Sequer a Psicologia da Saúde Ocupacional (PSO) é
reconhecida como especialidade pelo CFP, em nosso país.

A transformação dos processos de trabalho em seus diversos aspectos,


apontam na direção da eliminação de riscos que podem ocasionar agravos
à saúde. A PSO apresenta-se como um campo emergente que busca
integrar investigação e prática com um foco voltado para os riscos
psicossociais, cada vez mais presentes nos diferentes contextos de
trabalho.

Segundo o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) a


PSO é a aplicação da Psicologia para prover qualidade de vida no trabalho
e proteger a segurança, a saúde e o bem estar do trabalhador, A PSO é um
campo interdisciplinar emergente focado nos fatores psicossociais
contribuintes para o bem-estar, saúde e segurança no trabalho. O diálogo
interdisciplinar é fundamental para um bom desempenho profissional na
área da PSO. O campo faz interface com diferentes áreas do conhecimento.
Os empregados da empresa constituem a CIPA – Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes, que tem como objetivo a prevenção de acidentes
e doenças decorrentes do trabalho, tornando compatível
permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da
saúde do trabalhador.

Do que se ocupa a PSO? Da pesquisa e intervenção em questões de


segurança e saúde ocupacional, estresse e fatores de risco organizacionais,
intervenções organizacionais, programas de assistência ao trabalhador e
práticas em saúde pública, segundo o NIOSH.
Quem melhor do que o psicólogo para fazer uma avaliação psicossocial?
Esta ausência se faz sentir, também quando o psicólogo não tem modelos
que o oriente para a prática desta especificidade. A disciplina PSO teria que
ser inserida nos currículos das faculdades em Psicologia. No Brasil, agora
começam a acontecer iniciativas de se incluir a PSO nos níveis de pós
graduação lato sensu. Uma única universidade do centro-oeste brasileiro
tem em seu curso de graduação a disciplina PSO, há cinco anos, experiência
esta que pode-se dizer bem sucedida, porque no último ano do curso os
alunos estagiam no referido campo saem aptos a enfrentar as “novidades”
de um mundo trabalho em franca transição.

A avaliação psicossocial engloba todos os fatores de risco psicossociais,


que podem ser as características do cargo (conteúdo e processo de
execução), qualidade das relações interpessoais (colegas, chefias, clientes)
até clima, cultura e questões ambientais (tempo e qualidade do
deslocamento). Uma questão que também tem sido bastante destacada
pela PSO é a relação trabalho-família e uso do tempo livre e ações para
recuperação do desgaste laboral. No país, já se pode contar com serviços
importantes, como é o caso dos Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador (CEREST) e de serviços municipais de atenção à saúde do
trabalhador.

Evidentemente, o aprofundamento da discussão depende do(s)


pesquisador(s) que conduz (em) essa(s) atividade(s), do real interesse da
empresa em abrir este espaço e querer modificar as condições e processos
de trabalho e, do grau de mobilização dos trabalhadores e do contexto
político econômico da atual conjuntura, desfavorável aos assalariados.

Ainda que existam algumas iniciativas importantes com relação à avaliação


e valorização dos riscos psicossociais, há muito que ser feito e estas
atuações supõem um período de tempo para que se chegue a um objetivo
comum: o de melhorar a saúde e a qualidade de vida no trabalho.

Os Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho (FPRT) podem ser


entendidos como aquelas características do trabalho que são “estressoras”,
isto é, que implicam em grande exigência e são combinadas com recursos
insuficientes para seu enfrentamento. Adicionalmente, também podem ser
entendidos como as percepções subjetivas dos fatores de organização do
trabalho, resultantes das características físicas da carga, da personalidade
do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho.

O termo risco psicossocial é um conceito unitário que cabe em um amplo


conjunto de situações potencialmente negativas para a saúde dos
trabalhadores, e para a dignidade do trabalhador. Pode-se esperar para o
futuro, os principais riscos psicossociais emergentes? Acreditamos que
sim: (I) novas formas de relações contratuais e a insegurança no
trabalho; (ii) o envelhecimento da mão-de-obra; (iii) a intensificação do
trabalho; (iv) elevadas exigências emocionais no trabalho, e (v)
precária relação de equilíbrio trabalho – casa, o que na verdade já vem
ocorrendo tem algum tempo.

Ao meu ver as práticas no campo da PSO, devem se basear na intervenção


aos fatores de riscos psicossociais, em um enfoque coletivo sobre a saúde
dos trabalhadores, o foco de preocupação e investigação deveria ser
estendido para a qualidade de vida no trabalho, uma vez que as “boas
práticas das empresas” incluem ambientes de trabalho salubres e, políticas
organizacionais e de gestão compatíveis com as necessidades dos
trabalhadores, principais sujeitos e protagonistas desse processo. O
alinhamento entre investigação e prática é um de seus principais
diferenciais. Há uma forte preocupação nesse hiato entre a produção do
conhecimento e sua aplicabilidade.

O futuro da Psicologia da Saúde Ocupacional poderia envolver alguns


aspectos fundamentais, contando com a participação do Psicólogo da
Saúde Ocupacional na equipe de Segurança no Trabalho:

1)- Vigilância às características do ambiente de trabalho;

2)- Pesquisa sobre efeitos das práticas organizacionais; Pesquisas de


intervenção: a- Pesquisa explicativa (e.g., desenvolvimento de modelos
conceituais de estresse no trabalho;

b- Pesquisa descritiva (e.g., estudos epidemiológicos, relações com


parâmetros das metas e objetivos organizacionais, avaliação de custo-
efetividade);

c- Desenvolvimento de instrumentos (e.g., estandardização de


questionários de mensuração do nível de estresse no trabalho)

e- Mudanças organizacionais (e.g., medições sistemáticas de projetos de


mudança e mais atenção à implementação de projetos).

*Liliana A. M. Guimarães – Profª Titular da UCDB/MS. Programa de


Mestrado e Doutorado em Psicologia. Pesquisadora Sênior do SAMPO – IPq
da FMUSP.

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