REVISÃO

SISTEMÁTICA Recebido: 05/01/2021

E METANÁLISE Aceito: 04/06/2021

Evidências teórico-práticas na prevenção e

promoção em saúde mental do trabalhador
Theoretical-practical evidence in the prevention and promotion of
workers’ mental health
Tadeu Lucas de Lavor-Filho1 , Gabriel Alves Rocha2, Eduardo Carvalho de Almeida3,
Rochelly Rodrigues Holanda1, Vilkiane Natercia Malherme Barbosa1, Helena Dias Pereira2,
Thalia Alves Chagas Menezes4, Antoniel dos Santos Gomes-Filho5

RESUMO | A saúde mental é uma condicionante de saúde importante para as práticas de prevenção, promoção e vigilância na
atuação intersetorial em saúde do trabalhador. O objetivo deste artigo é identificar na literatura de artigos científicos os fatores
de risco e a promoção do bem-estar, ambos no campo da saúde mental em saúde do trabalhador. Problematizamos a saúde do
trabalhador no campo da gestão e de pesquisas que embasam, por meio de aparato teórico-metodológico, políticas assistenciais e
intersetoriais aplicadas à prevenção e promoção do bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras. Operamos uma revisão sistemática
no mês de maio de 2020 no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
no período de 2009 a 2019. Orientados pelo método Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses de
inclusão e exclusão de variáveis, realizamos uma análise profícua de uma amostra final de 14 artigos incluídos. Na análise dos
resultados, inicialmente foi realizada uma descrição de elementos de composição dos estudos através de um formulário-apêndice;
após essa etapa, foram evidenciados três eixos de discussão dos dados analíticos: a) Tessituras sobre Saúde Mental e Saúde do
Trabalhador; b) Fatores de Risco e Saúde Mental do Trabalhador; e c) Educação em Saúde Mental do Trabalhador. Os estudos
evidenciam o fortalecimento de saúde mental do trabalhador como elemento de prevenção e promoção no campo psicossocial,
redução da morbimortalidade, enfrentamento da precarização, de assistência e compreensão das psicopatologias do trabalho e não
individualização do adoecimento ocupacional.
Palavras-chave | saúde do trabalhador; saúde mental; fatores de risco; educação em saúde.

ABSTRACT | Mental health is an important conditioning factor of health in prevention, promotion, and surveillance practices
in the intersectoral activity of workers’ health. The goal of this study is to identify, in the scientific literature, risk factors and the
promotion of wellbeing, both regarding workers’ mental health. We approached workers’ health in the field of management and
research that provide the foundation, through a theoretical-methodological framework, for assistance and intersectoral policies
applied to prevention and promotion of workers’ wellbeing. We conducted a systematic review in May 2020 using the Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) scientific journal database, with studies published from 2009 to 2019.
We followed the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) guidelines for including and
excluding variables and performed a fruitful analysis of a final sample of 14 scientific articles. For analyzing our results, we initially
described the elements constituting the studies using a form; after this stage, we evidenced 3 axes for discussing the analytical
data: a) interconnections of mental health and workers’ health; b) risk factors and workers’ mental health; and c) workers’ mental
health education. Studies show the strengthening of workers’ mental health as an element for prevention and promotion in the
psychosocial domain, reduction of morbidity and mortality, coping with precarious employment, the assistance and understanding
of occupational psychopathologies, and not individualizing occupational illness.
Keywords | occupational health; mental health; risk factors; health education.

1
Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil.
2
Departamento de Medicina, UFC, Fortaleza, CE, Brasil.
3
Programa de Pós-graduação em Linguística, UFC, Fortaleza, CE, Brasil.
4
Departamento de Enfermagem, UFC, Fortaleza, CE, Brasil.
5
Departamento de Psicologia, Centro Universitário Vale do Salgado, Icó, CE, Brasil.
Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FUNCAP).
Conflitos de interesse: Nenhum
Como citar: Lavor-Filho TL, Rocha GA, Almeida EC, Holanda RR, Barbosa VNM, Pereira HD, et al. Theoretical-practical evidence in the prevention and promotion of
workers’ mental health. Rev Bras Med Trab. 2021;19(4):491-502. http://dx.doi.org/10.47626/1679-4435-2021-746

Rev Bras Med Trab. 2021;19(4):491-502

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 Lavor-Filho TL et al.
INTRODUÇÃO
Os estudos sobre saúde do trabalhador têm sido
objeto de investigações nas mais diversas interfaces do
cuidado em saúde com ênfase na prevenção, promoção
e vigilância, sobretudo visando o bem-estar individual e
comunitário. A Organização Mundial da Saúde (OMS),
a partir de 2007, criou um Plano de Ação Global de
Saúde do Trabalhador (2008-2014), que teve como
centralidade suscitar políticas de concepção e organização
de políticas de saúde aplicadas, desenvolver indicadores
epidemiológicos, criar mecanismos de coleta e estudo de
evidência na área e articular políticas e pactos intersetoriais
no campo da saúde do trabalhador1.
No Brasil, a saúde do trabalhador ficou instituída na
Constituição Federal no Art. 200 como eixo de aplicação
do Sistema Único de Saúde (SUS)2. No entanto, apenas
em 2004 foi criada a Política Nacional de Saúde do
Trabalhador do Ministério da Saúde com ênfase na redução
de acidentes, mortalidades e doenças ocupacionais,
além de ser criada a Rede Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Trabalhador (RENAST)3. Já em 2005, com
a Portaria n.º 1.125 de 6 de julho de 2005, foram criadas
diretrizes para uma ampliação da produção de informação
e fortalecimento da pesquisa, da formação de recursos
humanos e das orientações aos gestores. Com o avanço
dessa diretriz, em 2009 a RENAST foi incorporada ao
organograma do SUS por meio dos Centros de Referência
em Saúde do Trabalhador (CEREST), que atuam nos
serviços especializados em saúde do trabalhador. Por
último, como organização sistemática de política pública,
foram criados dois decretos fundamentais para sua
consolidação na administração tripartite, a saber: decreto
n.º 1.823, de 23 de agosto de 2012 – Política Nacional de
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – e o decreto n.º
7.602, de 7 de novembro de 2011 – Política Nacional de
Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST)4,5.
Em paralelo a esse cenário de formulações
institucionais amparadas pelo discurso jurídico, a saúde do
trabalhador também avançou em pesquisas aplicadas para
explicação de modelos teóricos, experiências concretas e
boas práticas. Enquanto um eixo de funcionamento do
SUS, atribui-se os avanços da tematização dos estudos
na área através da perspectiva em vigilância em saúde do
trabalhador ancorada em uma visão multidisciplinar e
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interdisciplinar de saberes na promoção e proteção dos
trabalhadores6,7.
Nesse cenário, o recorte que privilegiamos é o de
discutir os impactos diretamente atravessados na saúde
mental de trabalhadores. Corroboramos com Glina et al.8,
Guimarães & Grubits9 e Sato & Bernardo10, de que a saúde
mental é uma condicionante de saúde importante para
as práticas de vigilância em saúde do trabalhador, uma
vez que os estudos apontados por esses autores reiteram
a incidência cada vez mais de doenças ocupacionais
de semiologia psicopatológica. Não obstante, além de
identificar fatores variáveis, é também necessário que a
atenção promova condições de promoção do bem-estar de
forma integrada aos fatores ambientais, comunicacionais e
psicossociais do trabalho.
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo é
caracterizar a produção científica de artigos teóricos e/
ou empíricos recuperados no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) nos últimos 10 anos (2009-2019) que
tenham ênfase acerca de evidências teórico-metodológicas
e práticas em fatores de risco e educação em saúde mental
de trabalhadores e trabalhadoras. Parte-se das seguintes
perguntas de pesquisa: 1) “quais fatores de risco são
evidenciados na literatura que produzem adoecimento na
saúde mental dos trabalhadores?”, e 2) “como a educação
em saúde é promotora de qualidade de bem-estar na saúde
mental do trabalhador?”.
MÉTODOS
ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS
Diante do exposto, desenvolvemos uma pesquisa
de evidência de literatura científica sob o método de
revisão sistemática. Sampaio & Mancini11 definem uma
técnica sistemática e rigorosa de pesquisa bibliográfica
que relaciona evidências de estudos a partir de
literaturas sobre um estipulado tema. Com isso, são
demandados procedimentos estratégicos, determinados e
sistematizados para compor a síntese de uma compilação
de relações causais e de intervenção sobre um tema. Esse
método de revisão possibilita produzir análises inéditas
acerca de fenômenos e integrar indicativos que podem
suscitar novos diagnósticos e pautar decisões.
 Evidências em saúde mental do trabalhador
Seguimos as orientações de passo a passo de
Sampaio & Mancini11 para operacionalizar uma revisão
sistemática de literatura, a saber: 1) definição de uma
pergunta norteadora que ocupa a função de problema do
estudo; 2) coleta de dados – são os estudos publicados e
disponibilizados em plataformas de base de dados e/ou
sistemas de bibliotecas digitais utilizando ferramentas de
estratégias de busca, tais como indexadores, descritores
booleanos, entre outros; 3) revisão e seleção dos estudos
– nesta etapa, foram aplicados critérios de inclusão
e exclusão nos elementos textuais, tais como títulos,
resumos e palavras-chave, devendo ser rigorosamente
pactuados com o tema central do estudo; 4) análise dos
conteúdos dos estudos de evidências no corpus final dos
dados; e 5) síntese dos resultados.
A partir disso, no passo 1, construímos como
perguntas-problema do nosso estudo as seguintes
indagações: 1) quais fatores de risco são evidenciados na
literatura que produzem adoecimento na saúde mental
dos trabalhadores?, e 2) como a educação em saúde é
promotora de qualidade de bem-estar na saúde mental do
trabalhador? Buscamos através dessas duas perguntas uma
díade de complementação de um campo ao outro, ou seja,
compreender evidências que apresentam fatores de risco
e de cuidado em saúde no campo da vigilância em saúde
mental do trabalhador. A correlação de problemáticas é
encorajada em uma revisão sistemática a fim de torná-la
inédita na produção de sínteses, como afirmam os autores
Donato12.
No passo 2, realizamos uma busca no Portal de
Periódicos da CAPES com recorte de temporalidade
dos últimos 10 anos de publicação com delimitação
para textos de artigos científicos entre 2009-2019.
Utilizamos o descritor booleano AND para recuperar
os artigos na plataforma. Foram usadas aspas entre os
Tabela 1. Artigos recuperados a partir da busca de descritores
Descritores e operador booleano operacionalizado
Saúde do Trabalhador AND Saúde Mental
Saúde do Trabalhador AND Fatores de Risco
Saúde do Trabalhador AND Educação em Saúde
Total
Fonte: Coleta realizada no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 30 de abril de 2020.
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descritores, cuja finalidade foi de recuperar palavras
compostas/inteira. A escolha do Portal de Periódicos
da CAPES foi pela compilação de várias bases de
dados. Com isso, a extração de estudos tende a alcançar
uma maior diversidade de artigos, cujas bases foram:
Directory of Open Access Journals (DOAJ); SciELO
Colombia; Engineering Research Database; SciELO
(CrossRef); Elsevier (CrossRef); SciELO Public Health;
MEDLINE/PubMed (NLM); ScienceDirect (Elsevier);
PMC (PubMed Central); Scopus (Elsevier); SciELO;
Sociological Abstracts; SciELO Brasil; e Social Sciences
Citation Index (Web of Science). Na Tabela 1, está
descrito o quantitativo recuperado de 503 materiais. Após
isso, foram incluídos apenas os revisados por pares (421)
em virtude de possuírem maiores níveis de classificação,
e, depois, seguimos com a exclusão de repetidos (38).
Ao final, totalizamos o quantitativo de 383 artigos para
leitura de títulos e resumos conforme o método Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-
Analyses (PRISMA) de revisão sistemática.
CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE DOS ESTUDOS
Na etapa 3, operamos sob o método PRISMA para
filtrar os artigos a partir dos elementos de títulos, resumos e
palavras-chave. Esse método consiste em elencar dois juízes
para realizar a leitura dos elementos do artigo às cegas em
ambas as classificações com a finalidade de incluir os estudos
que fazem parte do corpus final de análise12,13. Serviram
como critérios de inclusão as contribuições analíticas acerca
de fatores de risco e a promoção da educação em saúde no
campo da saúde mental como elemento central e primário
de discussão do estudo independente da natureza teórico-
metodológica do artigo. Artigos em idiomas estrangeiros,
inglês e espanhol, foram considerados aptos a serem
incluídos na análise. Já os critérios de exclusão basearam-se
Artigos Avaliados por Excluídos Corpus de
recuperados pares por repetição primeira análise
269 221 - -
141 115 - -
93 85 - -
503 421 38 383
493
 Lavor-Filho TL et al.

em a saúde mental não ser a temática central de discussão
dos estudos, a saber: a) apenas citado “saúde mental” sem
exploração ou aprofundamento; b) ênfases semiológicas e
psicopatológicas; e c) discussão analítica sem vestígios de
explicitação de “fatores de risco” e de “educação em saúde”
ou “fatores de promoção e prevenção”. Após a leitura acurada
dos juízes autores deste estudo, o corpus final dos artigos
contabilizou apenas 14 estudos para análise completa de
seu conteúdo e apresentação dos resultados de evidências.
Observamos a variação dos 14 artigos revisados pelo ano de
publicação, tendo maior frequência os anos de 2015 e 2017
e menor frequência os anos de 2009 e 2019.
Considerando o fato de que uma revisão sistemática
possui etapas de construção que demandam uma
continuação e linearidade das sínteses registradas, a escrita
do texto também demanda uma função importante na
apresentação e compilação das evidências sistematizadas
do corpus de análise. Por isso, adotamos a construção de um
formulário de categorização das informações dos artigos,
cujo modelo segue em anexo neste manuscrito. Diante do
exposto, redimensionamos nossas análises em descrever,
por exemplos, as apostas teóricas, metodológicas e campos
de pesquisa de cada estudo, como também explicitar uma
gramática de resultados encontrados nos estudos a fim de
nos propiciar elementos de evidência sobre nossa questão
de estudo que intersecciona o campo da saúde mental e
saúde do trabalhador.
RESULTADOS
DESCRIÇÃO DOS ESTUDOS
Iniciamos o 4º passo tabulando informações descritivas
dos nossos dados. Na Tabela 2, são visualizados os

Tabela 2. Banco de dados da revisão sistemática de literatura

Estudo Título Autores Periódico Ano

1 Condições de trabalho e transtornos mentais comuns em Carvalho & Ciência & Saúde Coletiva 2010
trabalhadores da rede básica de saúde de Botucatu (SP) Binder14
2 “Cada caps é um caps”: uma coanálise dos recursos, meios e Ramminger & Psicologia & Sociedade 2011
normas presentes nas atividades dos trabalhadores de saúde Brito15
mental
3 Formas de adoecimento pelo trabalho dos agentes comunitários Camelo et al.16 Revista Enfermagem UERJ 2012
de saúde e estratégias de gerenciamento
4 Saúde mental e qualidade de vida de policiais civis da região Wagner et al.22 Revista Brasileira de 2012
metropolitana de Porto Alegre Medicina do Trabalho
5 A questão da saúde mental na vigilância em saúde do trabalhador Leão & Gomez17 Ciência e Saúde Coletiva 2014
6 Afastamento do trabalho por transtornos mentais e estressores Silva-Júnior & Revista Brasileira de 2015
psicossociais ocupacionais Fischer18 Epidemiologia
7 Manifestações de sofrimento: dilemas e desafios para a vigilância Leão & Brant19 Physis: Revista de Saúde 2015
em saúde do trabalhador Coletiva
8 Salud mental relacionada con el trabajo: desafíos para las políticas Bernardo et al.20 Universitas Psychologica 2015
públicas
9 Linha de cuidado em saúde mental do trabalhador: discussão para Bottego & Merlo23 Revista Polis e Psique 2016
o SUS
10 Análise das políticas de saúde do trabalhador e saúde mental: uma Perez et al.24 Saúde em Debate 2017
proposta de articulação
11 Clínica do Trabalho no SUS: possibilidade de escuta aos Bottega & Merlo25 Psicologia & Sociedade 2017
trabalhadores
12 Vigilância em Saúde Mental e Trabalho no Brasil: características, Araújo et al.21 Ciência & Saúde Coletiva 2017
dificuldades e desafios
13 Adoecimento mental e as relações com o trabalho: estudo com Fernandes et al.27 Revista Brasileira de 2018
trabalhadores portadores de transtorno mental Medicina do Trabalho
14 Atravessamentos políticos: A cultura organizacional e o sofrimento Schünke & Revista Psicologia 2018
moral no serviço público Giongo26

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 Evidências em saúde mental do trabalhador

14 artigos que compõem o corpus final desta revisão
sistemática. Inicialmente, foi diagnosticado que 35,7%
tratavam de estudos teóricos (n = 5), e 64,3%, de estudos
empíricos (n = 9). Nos resultados de idiomas, 13 estudos
originalmente estão em português com filiação institucional
de autores brasileiros, e apenas um em espanhol com
filiação estrangeira. Dentro de nossas análises, também
estratificamos a diversidade regional da filiação institucional
dos autores, tendo como resultado: Sudeste14-21 (n = 8),
Sul22-26 (n = 5), Nordeste27 (n = 1), Norte (n = 0) e Centro-
oeste (n = 0). Para detalhar os artigos, os identificamos
pelos títulos, autorias, periódicos e anos de publicação.
Na Tabela 3, seguindo a sequência numerada de
apresentação dos artigos selecionados, apresentamos suas
categorias de enredo, a saber: aporte teórico, objetivo do
estudo, ferramentas metodológicas e campos temáticos.
Esta última categoria contempla a discussão do tema em
que as evidências de fatores de risco e educação em saúde
são articuladas à saúde mental e à saúde do trabalhador.
Na Tabela 4, analisamos de forma descritiva o
percentual de categorização de artigos por aporte
teórico, tendo como prevalência de 35,7% (n = 5)
o uso da abordagem de “Vigilância em saúde do
trabalhador”18,19,21,22,24. Em contrapartida, o aporte com
menor frequência identificado foi a “Abordagem teórico-
metodológica crítica da saúde mental relacionada ao
trabalho”20, com apenas 7,1% (n = 1), sendo que esse foi o
único estudo estrangeiro incluído na revisão.
Na Tabela 5, analisamos de forma descritiva
o percentual de ferramentas metodológicas
operacionalizadas na investigação das pesquisas sobre
saúde mental do trabalhador. O resultado apontou para
maior ênfase no uso de entrevistas14,18,23,25-27, com 42,9%
(n = 6), sendo todas com formato semiestruturada, e
análise documental de portarias, legislações, prontuários
e dados previdenciários16,17,19,20,21,24, com 35,7% (n = 5). Os
métodos menos utilizados foram observação-participante
e grupo focal15, ambos com 7,1 % (n = 1).

Tabela 3. Artigos selecionados e suas especificidades de enredo

Ferramentas Campos
Autores Aporte teórico Objetivo do estudo metodológicas temáticos

Carvalho & Clínica de atividade Explorar as relações entre demandas psicológicas, grau Entrevistas Saúde em
Binder14 de controle e presença de suporte social no trabalho e atenção
prevalência de TMC em trabalhadores da rede básica de básica
saúde de Botucatu (São Paulo).
Ramminger Clínica de atividade Ampliar o diálogo entre dois importantes campos da Observação Atenção
& Brito15 saúde que parecem distantes um do outro, embora participante; grupo especializada:
tratem de tantos temas comuns: saúde mental e saúde do focal CAPS
trabalhador.
Camelo et Clínica de atividade Identificar as formas de adoecimento pelo trabalho dos Revisão bibliográfica Relações de
al.16 agentes comunitários de saúde e as estratégias utilizadas trabalho
por esses profissionais para gerenciá-las ou preveni-las.
Wagner et Vigilância em saúde Avaliar a saúde mental e a qualidade de vida de policiais Aplicação de Relações de
al.22 do trabalhador civis da região metropolitana de Porto Alegre (Rio Grande questionários: 1) trabalho
do Sul). sociodemográfico; 2)
WHOQOL-BREF; 3)
QSG-12
Leão & Vigilância em saúde Contribuir para a integração da saúde mental na Vigilância Análise documental Relações de
Gomez17 do trabalhador em Saúde do Trabalhador, aportando alguns subsídios trabalho
teóricos para a construção de estratégias a esse respeito
no âmbito da RENAST.
Silva-Júnior Psicodinâmica do Avaliar os fatores associados ao afastamento do trabalho Entrevista, Atenção
& Fischer18 trabalho por transtornos mentais relacionados ao trabalho, em documentos, especializada
especial a percepção dos trabalhadores sobre fatores normativas de políticas
psicossociais no trabalho. (análise documental)
Leão & Vigilância em saúde Realizar uma análise crítica dos desafios e dilemas relativos Documentos, Atenção
Brant19 do trabalhador à integração da saúde mental no escopo da vigilância em normativas de políticas especializada
saúde do trabalhador no SUS. (análise documental)
Continua na próxima página

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 Lavor-Filho TL et al.

Tabela 3. Continuação

Ferramentas Campos
Autores Aporte teórico Objetivo do estudo metodológicas temáticos

Bernardo et Abordagem teórico- Apresentar uma perspectiva mais ampla para o Análise documental Relações de
al.20 metodológica crítica desenvolvimento de possíveis políticas públicas voltadas trabalho
da saúde mental à promoção da saúde mental dos trabalhadores e à
relacionada ao prevenção de doenças e sofrimento psíquico decorrentes
trabalho da atividade laboral.
Bottego & Psicodinâmica do Discutir a construção de uma linha de cuidado/escuta Entrevista, aplicação de Relações de
Merlo23 trabalho em saúde mental do trabalhador e da trabalhadora como teste SQR-20 trabalho
expressão da clínica do trabalho no SUS, com base na
psicodinâmica do trabalho e inserida na rede já existente.
Perez et al.24 Vigilância em saúde Desenvolver uma análise a respeito de legislações do Análise documental Relações de
do trabalhador Ministério da Saúde, tendo como foco o acolhimento ao trabalho
trabalhador-usuário do SUS, especialmente relativo à saúde
mental.
Bottega & Psicodinâmica do Propõe-se a subsidiar a construção de propostas para uma Entrevistas e aplicação Relações de
Merlo25 trabalho clínica em saúde mental e trabalho para os serviços do de teste SQR-20 trabalho
SUS.
Araújo et Vigilância em saúde Fomentar reflexões sobre o panorama atual em que se Análise documental, Atenção
al.21 do trabalhador encontram as ações em vigilância nesse campo, seus revisão bibliográfica especializada
principais entraves e possibilidades de avanços.
Fernandes Psicodinâmica do Analisar a percepção de pacientes atendidos em um Entrevista Atenção
et al.27 trabalho hospital psiquiátrico do nordeste brasileiro sobre a relação hospitalar
entre seu adoecimento e a atividade laboral exercida.
Schünke & Clínica de atividade Analisar, através de uma pesquisa, a relação entre as Entrevista Relações de
Giongo26 práticas de gestão nas instituições públicas e a saúde trabalho
mental dos servidores.
CAPS = Centro de Atenção Psicossocial; QSG-12 = Questionário de Saúde Geral; RENAST = Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador; SUS = Sistema
Único de Saúde; SQR-20 = Self-Reporting Questionnaire; TMC = transtornos mentais comuns; WHOQOL-BREF = Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da
Organização Mundial da Saúde.

Tabela 4. Aportes teóricos dos artigos investigados

Amostra Porcentagem
Categoria (n) (%)

Vigilância em saúde do trabalhador 5 42,3

Clínica de atividade 4 28,6
Psicodinâmica do trabalho 4 28,6
Abordagem teórico-metodológica crítica da saúde mental relacionada ao trabalho 1 7,1

Tabela 5. Ferramentas metodológicas dos artigos investigados

Amostra Porcentagem
Categoria (n) (%)

Entrevista 6 42,9
Análise documental 5 35,7
Observação participante 1 7,1
Grupo focal 1 7,1
Aplicação de questionário/teste 3 21,4
Revisão bibliográfica/sistemática 2 14,3

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 Evidências em saúde mental do trabalhador
Os dados descritos e visualizados nas tabelas
anteriores foram o primeiro extrato de análise dos estudos
de evidência sobre a estrutura das pesquisas voltadas para
nossa problemática na área da saúde mental e saúde do
trabalhador. Seguimos orientados conforme Sampaio &
Mancini11 e Costa & Zoltowski13, pautando a construção
de uma síntese dos resultados na sessão seguinte.
Tensionamos em três blocos de temas os extratos de
evidências discursivas e pragmáticas das pesquisas
narradas nos artigos revisados.
DISCUSSÃO
TESSITURAS SOBRE SAÚDE MENTAL E SAÚDE
DO TRABALHADOR
A intersecção entre saúde mental e saúde do
trabalhador é pensada, em alguns dos trabalhos
analisados, sob a abordagem da Vigilância em Saúde do
Trabalhador (VISAT), a qual é perspectiva de 35,7% (n
= 5) dos estudos coletados, como apontado na seção
anterior. Leão & Brant19 afirmam que a missão da VISAT
é “conhecer-intervir nos determinantes e condicionantes
da saúde mental da população trabalhadora” 20 (p.
1272). A VISAT é definida, por esses autores, como um
conjunto de ações que incidem sobre os sofrimentos
dos trabalhadores em níveis diferenciados e como
um importante componente do Sistema Nacional
de Vigilância em Saúde (SNVS) responsável por um
conjunto articulado de ações de promoção da saúde e de
redução da morbimortalidade da população trabalhadora
por Araújo et al.21.
Essas ações devem constar desde o atendimento
aos casos individuais de sofrimento mais graves,
passando pela intervenção na organização do trabalho
de forma a integrar os aspectos psicossociais aos
riscos ocupacionais, às aproximações e articulações
com organizações de geração de renda e à inserção no
mercado de trabalho de pessoas em sofrimento, por
exemplo19. Percebe-se, então, que o escopo da VISAT
deve ser amplo. Além de ter amplitude, deve também
possuir uma abordagem integrativa, segundo Leão
& Gomez18, no sentido de que não deve considerar
que há, de forma separada, um aspecto objetivo e um
subjetivo: em suma, os elementos materiais do contexto
Rev Bras Med Trab. 2021;19(4):491-502
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laboral – a organização do trabalho, o contexto cultural,
as relações interpessoais – e os aspectos de avaliação
individual clínica atuam juntos.
Apesar de esses aspectos serem apontados como
essenciais, Bernardo et al.20 se perguntam se essas ações
buscam abarcar a complexidade do problema ou se
apenas constituem propostas paliativas para diminuir
a perda de produtividade dos processos de trabalho e
adaptar os trabalhadores às condições e aos modelos
de organização de trabalho predominantes. Os autores
partem de uma perspectiva teórico-metodológica crítica
da saúde mental relacionada ao trabalho para apontar que
as diretrizes institucionais não entendem o trabalhador
como sujeito ativo no processo de identificação de
fatores de risco psicossociais, mas como objeto de análise
ou intervenção.
Nesse sentido, a organização do trabalho exerce sobre
o trabalhador uma ação específica, e, em certas condições
ocupacionais, o empregador pode fazer manifestar
sofrimentos quando o trabalhador vê entrarem em choque
sua história individual, seus projetos e suas esperanças
com uma organização que os ignora16. Por isso, Bernardo
et al.20 ressaltam a necessidade de uma abordagem de
aspectos micro e macro da saúde mental do trabalhador,
principalmente levando em consideração as condições
socio-históricas do capitalismo que determinam as
características do trabalho.
As condições do capitalismo, os aspectos sociais e
as especificidades do trabalho devem ser intrínsecos à
uma análise da VISAT. Isso é percebido, por exemplo,
quando se analisam as peculiaridades de determinadas
categorias trabalhistas. A saúde mental do trabalhador
da área da saúde foi objeto de estudo16,23, ressaltando
que a proximidade com o adoecimento alheio
experienciada pelos trabalhadores do SUS pode
fazer que adoeçam e, sobretudo, apontando que as
condições ou as situações em que o pessoal de serviços
de saúde realiza seu trabalho têm os levado a negarem
o sofrimento presente nessa atividade ou até mesmo
a desistirem da profissão tamanho o desgaste físico e
psíquico apresentado. Profissionais como os policiais
civis também apresentam alto grau de deterioramento
de qualidade de vida e saúde mental, em razão do contato
com a violência, baixos salários e desvalorização social
de sua categoria, chegando a terem índices de saúde
 Lavor-Filho TL et al.
mental de pessoas vítimas de grandes catástrofes ou de
sujeitos com transtorno do pânico22.
Segundo Fernandes et al.27, as pesquisas acerca da
relação saúde-doença-trabalho se estruturam, sobretudo,
na vertente da psicopatologia do trabalho, possibilitando
uma análise da psicodinâmica dos processos produtivos
mobilizados pela confrontação do indivíduo com o
trabalho e de onde estão envolvidos o sofrimento
psíquico e o prazer. Em contrapartida, a caracterização
da vinculação entre o quadro clínico e o trabalho é uma
das dificuldades encontradas no processo de investigação
e acompanhamento dos trabalhadores em sofrimento
mental, haja vista a inexistência de consenso para a
classificação dos distúrbios psíquicos relacionados ao
processo produtivo25.
Um dos estudos analisados aborda que essa
falta de critérios objetivos que possam relacionar a
exposição ocupacional a estressores psicossociais com o
adoecimento tem como consequência a subnotificação
de doenças relacionadas ao trabalho, limitando que
se conheça a amplitude do problema. Isso dificulta a
formulação de políticas de promoção e proteção da saúde
do trabalhador18.
Visando compreender os estressores psíquicos do
ambiente laboral, Bottega & Merlo25 trazem a estreita
relação entre as modificações nos novos modelos de
gestão, pautadas na individualização, nas exigências e no
cumprimento de metas, com o surgimento de mal-estar
e depressão no trabalho. Na mesma perspectiva, Perez
& Merlo24 abordam que os modelos de gestão vigentes
buscam capturar a subjetividade dos trabalhadores,
resultando na formação de identidade baseada no que se
faz, e, quando o trabalho diz quem se é, a saúde pode ser
afetada.
Bottega & Merlo25 trazem que a escuta clínica no
ambiente de trabalho tem efeitos positivos, como “tirar
sujeito da solidão, da individualização de seu sofrimento
e adoecimento, por mais que este seja singular” (p. 8). A
escuta preocupa-se com o sofrido-vivo e com as ações,
sobretudo coletivas, para superar e modificar situações
danosas provenientes da organização do trabalho.
Esse pensamento entra em consonância com Schünke
& Giongo26, quando abordam que a comunicação
organizacional possibilita interações, aprendizados e
trocas no ambiente de trabalho.
Rev Bras Med Trab. 2021;19(4):491-502
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FATORES DE RISCO E SAÚDE MENTAL DO
TRABALHADOR
Os transtornos psicossociais aparecem entre as
principais causas de absenteísmo no trabalho, sendo
apontados atualmente como a terceira causa de concessão
de benefícios previdenciários no Brasil. Entretanto, entre
os principais problemas nessa discussão, está a dificuldade
para identificar o nexo causal entre adoecimentos
psíquicos e estressores ocupacionais enquanto fatores
de risco à saúde do trabalhador19. Em linhas gerais, a
literatura selecionada destaca que, de modo independente
ao fator psicossocial avaliado, o adoecimento mental dos
indivíduos manifesta-se no aumento dos níveis de estresse
fisiológico e cognitivo, indicando sofrimento laboral
que se manifesta em diversas formas, tais como dores
generalizadas, episódios depressivos ou mesmo tentativas
de suicídio25.
Frente a essa realidade e com a ascensão das ideias
neoliberais em gestão de negócios, entrou em vigor uma
lógica gerencialista dentro do âmbito organizacional que,
por vezes, pode dar lugar ao aparecimento de fatores de
riscos psicossociais ainda não conhecidos26 (p. 450). Os
novos modelos de gestão e as provenientes transformações
no modo de operar o trabalho (contextos sociais de
interação, crises econômicas) mostraram estreita relação
com o aumento da violência psicológica e assédio moral
vivido nas organizações25.
Leão & Brant20 ressaltam que os diagnósticos clínicos
e o estabelecimento do nexo causal não são isentos de
interferências pessoais no que diz respeito a valores
morais e ideológicos do profissional de saúde responsável
por essa avaliação. Assim, pode-se inferir que a avaliação
dos fatores de risco psicossocial em ambiente laboral
possui relevância necessária à sua apreciação tanto quanto
apresenta dificuldades conceituais e metodológicas em
seu reconhecimento e (sub)dimensionamento.
Araújo et al. 21, por sua vez, colocam que, em
respeito à saúde mental, há lacunas importantes
que interferem no dimensionamento do problema,
pois a subnotificação dessa questão ainda é um
dos principais obstáculos enfrentados, além da
identificação e atuação dos fatores que produzem
esses eventos serem prejudicadas. Nessa perspectiva,
não é fácil estabelecer uma relação entre adoecimento
e saúde do trabalhador, visto que, além desses fatores
 Evidências em saúde mental do trabalhador
que dificultam o reconhecimento da problemática, o
adoecimento psíquico envolve várias dimensões do
sujeito e suas particularidades27.
Outrossim, no que tange ao campo das relações
sociais, Fernandes et al.27 descrevem que é possível notar
que as relações interpessoais influenciam na saúde mental
dos trabalhadores. A falta de entendimento e acolhimento
por parte dos colegas de trabalho, o ambiente negativo e a
sobrecarga emocional fazem acreditar que a falta de apoio
social corrobora a percepção dos trabalhadores sobre os
estressores no ambiente profissional.
Em análise que contempla a compreensão de diferença
entre gêneros, entre os estudos nos quais foram analisados
profissionais da saúde no que diz respeito à saúde
psíquica, alguns resultados mostram níveis moderados
e altos da síndrome de esgotamento profissional e de
transtornos mentais comuns (TMC), sendo a prevalência
destes últimos identificada com maior risco entre
mulheres16. Figurando na centralidade dos determinantes
psicossociais nesse contexto, estão a divisão sexual do
trabalho, as relações desiguais de gênero, o assédio e
o não reconhecimento social, que são considerados
condicionantes ao sofrimento psíquico e ao esgotamento
profissional21.
É importante ressaltar que o trabalho por si só
enquanto ocupação interfere no bem-estar psíquico do
indivíduo, exercendo papel fundamental na vida humana
e acarretando também processos de sofrimento psíquico.
Fernandes et al.27 enfatizam que algumas das exigências
do âmbito laboral podem influenciar a saúde do
trabalhador, como ocorre com os fatores psicossociais.
Eles englobam as cargas psíquicas, que são agrupadas em
sobrecarga psíquica e subcarga psíquica. A primeira diz
respeito às situações de tensão prolongada, e a segunda,
à impossibilidade de se desenvolver a capacidade mental,
à falta de controle sobre o trabalho, ao distanciamento
entre grupos de mandos e de subordinados, ao
isolamento social no ambiente de trabalho, aos conflitos
de papéis, aos conflitos interpessoais e à falta de apoio
social.
Ademais, Araújo et al.21 afirmam que o trabalho é
estruturador das relações e singularidades, sendo via de
construção de identidade, satisfação e prazer, e pode,
sob determinadas condições, constituir-se em elemento
patogênico e, portanto, comporta relações de identificação,
Rev Bras Med Trab. 2021;19(4):491-502
499
na medida em que inscreve marcas na imagem de si e do
mundo, que são internalizadas como pertencentes àquele
sujeito.
Diferentes entidades e iniciativas governamentais têm
indicado caminhos para a identificação de fatores de risco
psicossociais e proposto ações para seu enfrentamento20.
No Brasil, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e
da Trabalhadora é um dos exemplos das normativas que
aparentemente buscam o tratamento do problema no
âmbito da vigilância, visando à promoção e à proteção
da saúde dos trabalhadores, bem como à redução da
morbimortalidade em decorrências laborais2. Entretanto,
entre as principais críticas direcionadas às análises e às
intervenções focadas em fatores de risco psicossociais, está
a de que estas seriam profundamente ligadas ao interesse
dos empregadores20.
EDUCAÇÃO EM SAÚDE MENTAL DO
TRABALHADOR
Embora já seja de comum conhecimento que o processo
de trabalho afete direta ou indiretamente a saúde dos
trabalhadores, diretrizes e estratégias mais organizadas para
a prevenção e promoção da saúde desses sujeitos no SUS
só começaram a serem articuladas, de forma mais efetiva, a
partir de 2002 com a RENAST2. A partir das reverberações
possíveis advindas do reconhecimento da relevância da
temática para o SUS e dos dispositivos criados, como o
CEREST, é viabilizada a articulação em prol da promoção,
prevenção, assistência, vigilância e reabilitação dos e das
trabalhadoras (Portaria n.º 1823/2012, p. 1)2.
Barbosa et al.28 vêm apontando que o modelo de
trabalho em saúde, destacando as condições precárias,
as cobranças e a pouca efetividade de resolução de
casos, tem tornado ainda mais adoecedor o cotidiano
dos profissionais, especialmente no âmbito da saúde
mental. É, então, uma das prerrogativas relevantes para
a efetivação e eficácia dessas estratégias de cuidado à
saúde do e da trabalhadora, no geral, a implantação
de um processo de educação em saúde com os
trabalhadores, para que possam ser agentes ativos na
promoção e prevenção do cuidado à saúde mental no
âmbito do trabalho.
Dessa forma, surge a necessidade de uma
contraposição à organização do trabalho que tem se tido,
pois esse ambiente tem fomentado adoecimentos aos
 Lavor-Filho TL et al.
seus trabalhadores pelo seu próprio sistema, que produz
mais competitividade, individualização de desempenho,
cumprimentos de metas exacerbantes, entre outras
estratégias para aumentar a produtividade do trabalho
que têm causado como consequência o adoecimento
mental dos trabalhadores e trabalhadoras23.
Assim, entre os e as trabalhadoras do SUS, emerge,
também, a necessidade de fomentar entre as atribuições
e as competências dos e das mesmas a possibilidade
de atuação que dialogue com essa nova perspectiva
de cuidado. Isso traz um duplo desafio, pois, ao passo
que esses profissionais são responsáveis pela oferta
do cuidado, estes também podem vir a ser alvos, por
também serem trabalhadores e por também adoecerem
nesses processos de cuidado4.
Para Barbosa et al.28, a educação permanente em
saúde é um processo que tem a potência de transformar
a realidade do trabalho, pois suas ações e estratégias
emergem do cotidiano dos trabalhadores, e é a partir
desse ponto que é pensado o movimento para a mudança,
que propicia ações conjuntas a partir do que é vivenciado,
produzindo um saber-fazer para a saúde que desencadeia
processos de cuidado mais criativos, coletivos e com
reverberações para a melhoria e que vão de comum
acordo com a realidade do trabalho.
Assim, processos de educação em saúde mental
podem ofertar aos trabalhadores e trabalhadoras novas
ferramentas e estratégias de cuidado que dialoguem
com seus cotidianos de trabalho e que visualizem seus
sofrimentos não como causa individual, mas como parte
da própria organização do trabalho23. Nesse sentido,
uma estratégia de enfrentamento dessas condições
adoecedoras de trabalho é um processo de mudança
dessa organização que fomente novas possibilidades de
atuação menos adoecedoras e que inclua o trabalhador
e a trabalhadora como agentes ativos para a produção de
um trabalho mais coletivo e humanitário25.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa de uma conclusão, faz-se necessário
estimular a realização de pesquisas de levantamento de
dados panorâmicos acerca do campo de saúde mental
nos estudos em saúde do trabalhador e, sobretudo,
na compreensão de fatores de risco apontados como
variáveis que recrudescem o adoecimento e tornam
Rev Bras Med Trab. 2021;19(4):491-502
500
improdutivo o exercício do trabalho nos cotidianos dos
indivíduos. Concomitantemente, deve-se fortalecer
também pesquisas que viabilizem investigar o campo da
educação em saúde como eixo de orientação e respaldo
de práticas de prevenção e promoção à saúde mental de
trabalhadores e trabalhadoras.
O presente estudo, através dos artigos analisados,
conseguiu mapear um cenário de práticas plurais de
investigação, cujas construções se dão por vias teóricas
e práticas e no qual o conceito de saúde mental assume
uma ênfase na saúde do trabalhador importante, que
tem como finalidade propor condições de bem-estar
e qualidade de vida. A saúde mental do trabalhador
assumiu no mesmo plano a dimensão de análise,
intervenção, fomento de uma compreensão de saúde
ampliada, cuja incidência ressoa na integração de
aspectos psicossociais, na redução da morbimortalidade
e no enfrentamento de questões socio-históricas da
precarização do trabalho, e assistência e compreensão
das psicopatologias do trabalho e de uma não
individualização do adoecimento ocupacional.
O estudo permitiu também explorar variáveis
de fatores de risco abordados em diferentes lócus de
investigação e reconhecimento do componente de
adoecimento ocupacional. Esse mapeamento permitiu
conhecer que variáveis estressoras estão presentes na
dimensão do esforço físico, cognitivo, interpessoal e
impactos psicossociais. Nesse último ponto, a ênfase
para o adoecimento laboral em saúde mental tem
reverberação mediante a vulnerabilidade da atividade
laboral a quem está submetida e que muitas vezes
sequer chegar às subnotificações. Nossa investigação
também teve como elemento-chave o sistema
capitalista como um modus operandi que, ao longo da
história, não privilegiou a saúde do trabalhador, e,
como emblema desse investimento capital perverso,
a saúde mental ficou submetida como na relação
causal dos diagnósticos psicologizantes individuados,
isto é, o problema de adoecimento atribuído como
causa subjetiva, ao invés do reconhecimento de uma
medicina social.
O surgimento de um eixo de saúde do trabalhador
no avanço de uma medicina social implicada com uma
relação holística com a saúde-doença contribuiu para
o campo da saúde do trabalhador de forma efetiva.
 Evidências em saúde mental do trabalhador
Os estudos apontaram como referência o paradigma
de educação em saúde engendrado no SUS como um
exemplo desse modo de prevenir e promover a saúde
por uma visão mais ampliada, política e do cuidado em
saúde mental como uma constante do mundo laboral
e de importante função para a qualidade de vida e a
produção do trabalho. A educação em saúde se mostrou
como estratégia contínua de cuidado em saúde mental
tanto no fortalecimento de vínculos, do bem-estar
subjetivo, do enfrentamento das doenças psíquicas e de
respaldo técnico para a política pública.
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CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES
TLLF, GAR e ECA participaram da concepção do
estudo, tratamento de dados, análise formal, metodologia,
investigação, redação – esboço original, redação – revisão &
edição e supervisão. RRH, VNMB, TACM, HDP e ASGF
participaram do tratamento de dados, análise formal,
investigação, metodologia, redação – esboço original e
redação – revisão & edição. Todos os autores aprovaram
a versão final submetida e assumem responsabilidade
pública por todos os aspectos do trabalho.
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Endereço para correspondência: Tadeu Lucas de Lavor-Filho. Universidade
Federal do Ceará, Área 2 do Centro de Humanidades, Bloco Didático Prof.
Ícaro de Sousa Moreira, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-
graduação em Psicologia, Av. da Universidade, 2762 – Bairro Benfica – CEP:
60020-180 – Fortaleza (CE), Brasil – E-mail: tadeulucaslf@gmail.com

2021 Associação Nacional de Medicina do Trabalho

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