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Pe. Fernando Armellini, S. C. J. Celebrando A Palavra. Ano C
Pe. Fernando Armellini, S. C. J. Celebrando A Palavra. Ano C
Celebrando
a Palavra
“Ano C”
Apresentação
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• os que sofrem as consequências dos erros cometidos;
• todos os que têm certeza de terem arruinado a própria vida
de forma irremediável;
• todos os que foram privados injustamente dos próprios bens
e da própria honra;
• todos os que se sentem rejeitados, até mesmo por alguns que
se consideram amigos de Deus;
• todos os que têm medo de Deus.
Para todos estes, o Evangelho de Lucas tem uma palavra de
esperança. Mostra que nenhuma situação pode ser considerada como
definitivamente comprometida: sempre é possível reconstruir uma
vida, porque Jesus está sempre ao lado de quem errou, ao lado de
quem enfrenta problemas. Para isto é que ele veio.
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Prouvera que os batizados, os catecúmenos e todos os que, aos
domingos, participam do banquete da Palavra, nas vossas comuni-
dades, saíssem sorridentes das vossas capelas e igrejas.
Sejam as vossas palavras simples, claras, densas de compara-
ções e de exemplos, como eram as do Mestre. Através dos vossos
lábios, o Pai quer comunicar a sua Palavra de conforto e de esperança
para todos os que dela precisam.
Sei quanto amor sentis pela Palavra de Deus que anunciais. Sei
a quantos sacrifícios vos submeteis para servir a vossa comunidade.
Sei o quanto sofrestes para manterdes a vossa fidelidade ao Mestre!
Jesus, o Senhor, está convosco todos os dias. Convosco também
estão o meu apreço, a minha oração e a minha bênção.
O Autor
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Tempo do Advento
Respondia o Batista:
“Quem tem duas túnicas,
dê uma ao que não tem;
e quem tem o que comer, faça o mesmo”
(Lc 3,11).
1. O Ano Litúrgico
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em prolongar a alegria dessa festa para sete semanas, os 50 dias de
Pentecostes, que deviam ser celebrados com alegria, porque – como
dizia um famoso bispo daqueles tempos antigos, chamado Irineu
– “estes dias são como um único dia de festa, que tem a mesma
importância do domingo”.
Passaram-se ainda muitos anos e, por volta de 350 d.C., decidiu-
-se celebrar também o nascimento de Jesus. Mas em que dia nasceu
Jesus? Ninguém sabia! Naquele tempo não existia o registro civil,
como em nossos dias, e o povo se esquecia facilmente do dia e até
mesmo do ano em que a pessoa tinha nascido.
De que maneira, então, seria possível estabelecer a data de Natal?
Naqueles tempos havia uma festa, conhecida como a “Festa do
nascimento do Sol”; no Egito, era celebrada no dia 6 de janeiro e
em Roma no dia 25 de dezembro. Os pagãos estavam convencidos
de que o Sol era um deus e, por esta razão, faziam uma festa para
comemorar o seu nascimento. Era uma oportunidade na qual se di-
vertiam, comiam e bebiam até se embriagarem, permitindo-se outras
coisas que é melhor não contar.
Quando, por volta de 350 d.C., os cristãos se tornaram nume-
rosos, até mesmo mais do que os pagãos, o que decidiram eles?
Mudaram o nome e o sentido da festa do “nascimento do Sol”.
Estabeleceram esse dia para a celebração do nascimento de Jesus,
pois, – assim pensavam – Ele é o verdadeiro Sol, a luz que ilumina
todos os homens.
E foi assim que, por muitos anos, o ano litúrgico teve seu início
no dia 25 de dezembro.
Por volta do ano 600 d.C. os cristãos julgaram que uma festa
tão importante deveria ser preparada com muito esmero e, por esta
razão, decidiram que fosse precedida pelos quatro domingos do
Advento e que o Ano Litúrgico deveria começar com o primeiro
desses domingos: portanto, no final do mês de novembro ou no
começo de dezembro.
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certos de que ao mesmo tempo se tornaria presente no meio dos
seus fiéis, disposto a distribuir suas bênçãos e a conceder os seus
favores. A palavra “advento” significava também a visita de um
rei a uma cidade ou podia indicar o dia da coroação do soberano.
Os cristãos aplicaram todos esses significados à “vinda”, ao
mundo, do próprio Deus que se manifestara em Jesus; reservaram
porém o termo “advento” para o período dedicado à preparação
desta “visita”.
A essa altura alguém poderia com razão perguntar: mas este
Jesus já não veio? Por que motivo, então, preparar-se como se ele
fosse vir outra vez? O Natal não é somente uma festa de aniversário
e o Advento é o tempo de prepará-la, comprando alimentos, bebidas,
convidando amigos para cantar e organizar danças?
Não! O Advento não é isso. Os pagãos foram quem se prepa-
ravam dessa maneira para a festa do “nascimento do Sol”.
Os cristãos festejam, se alegram, dançam no dia de Natal, mas
não é este o aspecto principal.
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guida para casa, bate na mulher e nos filhos... Pois bem, poderá
alguém dizer que Jesus chegou no coração dessa pessoa? Ou então,
tomemos o caso de um jovem que não estuda, que repete dois ou
três anos seguidos, não trabalha e nas festas abusa das moças. Nes-
te jovem está presente Jesus ou é preciso fazer alguma coisa para
preparar a sua vinda? E numa comunidade cristã, cujos membros
são invejosos e estão desunidos, falando mal uns dos outros, não se
ajudando reciprocamente... Já chegou Jesus? E em uma nação onde
os cidadãos se matam, onde há guerras, violências, ódios, rancores,
vinganças... Já chegou Jesus?
Não! Ainda não chegou e, enquanto não forem removidos os
obstáculos que impedem sua chegada, Ele não poderá vir. Deverão
antes ser derrubadas as barreiras e aterrados os vales que dividem
os homens, porque tudo aquilo que separa os homens afasta também
de Cristo.
As leituras do Advento nos convidam para a vigilância, para
manter nossos olhos bem abertos, a fim de poder descobrir e preparar
os caminhos que Jesus escolheu para nos libertar de todos os males
nos quais buscamos a felicidade, mas que, em verdade, causam
somente muitos sofrimentos.
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Primeiro Domingo do Advento
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árvore cresce devagar e os nossos olhos não conseguem acompanhar
as pequenas mudanças que vão ocorrendo dia após dia.
Quem se deixa levar pelo desencanto e pelo desânimo, quem
foge ao ter de enfrentar problemas, quem é intolerante consigo
mesmo e com os outros, porque gostaria de transformações radicais
e imediatas, não entendeu nada da lógica do Reino de Deus.
Procuremos nos perguntar: quais são os assuntos que mais
despertam atenção nas nossas comunidades? Damos ouvidos aos
que anunciam calamidades, aos que exclusivamente dão destaque
só e sempre aos aspectos negativos da vida, aos que descobrem o
mal por todos os lados e julgam que o único caminho que resta é a
resignação diante da derrota?
Lembremo-nos: os verdadeiros profetas são outros. São os que
transmitem entusiasmo, como fez o profeta com os israelitas que
voltavam do exílio da Babilônia. São os arautos da esperança, que
repetem a todos que para o reino do mal não há mais futuro, que
ajudam os irmãos a descobrir em qualquer situação o caminho para
a renovação, para a reconstrução da vida, que aos olhos dos homens
pode aparecer fadada à ruína.
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recíproco, que Paulo recomenda aos cristãos de Tessalônica, não
podem ser substituídas por nenhuma prática de devoção (ainda que
recomendável) pela qual procuramos nos preparar para o Natal.
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profetas: “Farei aparecer prodígios em cima no céu... sangue, fogo
e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas e a lua em san-
gue” (At 2,19-20). Trata-se, evidentemente, de figuras, pois – bem
o sabemos – naquele dia nada disso aconteceu. São as chamadas
“imagens apocalípticas”, que eram muito usadas pelos pregadores e
escritores no tempo de Cristo. Os que não as entendem de maneira
correta, e as interpretam como uma antevisão jornalística daquilo
que acontecerá no fim do mundo, divagam em interpretações fan-
tásticas e por vezes ridículas.
Tentemos, então, entender o que realmente Jesus nos quer ensi-
nar: tem ele o objetivo de provocar o temor ou despertar a alegria?
Anuncia um futuro tenebroso e angustiante ou um acontecimento
venturoso? Convida-nos a um isolamento dentro de nós mesmos,
aterrorizados e desesperados ou nos pede para abrirmos o coração
aos horizontes da esperança?
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tiças; espalham-se os ódios, as violências, as guerras e instalam-se
condições desumanas; a própria natureza é destruída pela explo-
ração desordenada dos recursos; até mesmo os ciclos dos tempos
e das estações já não são mais regulares. Tomados de angústia os
homens se perguntam: O que acontecerá? Qual será o nosso fim?
“Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que
devem sobrevir a toda a terra”, diz o Evangelho de hoje (v. 26).
É o terror que os homens experimentam diante dos desastres que
eles mesmos provocaram com a rejeição de qualquer norma ética,
com o desprezo dos valores mais sagrados, com a perda de todos
os pontos de referência moral.
Então a história da humanidade está encaminhada para uma
inevitável catástrofe?
Não! – garante Jesus. – Quando tudo parecer arruinar-se no
pecado, virá o Filho do Homem, com grande poder e majestade, e
do caos fará surgir um mundo novo (v. 27).
As suas palavras, portanto, não são uma ameaça de infortúnios,
não querem incutir pavor: são uma mensagem de alegria. São um
apelo para abrir o coração para a esperança: o mundo dominado
pela injustiça, pela maldade, pelo egoísmo, pela arrogância está
chegando ao fim e um novo mundo está despontando.
Nós também, em nossos dias, diante dos dramas que teste-
munhamos permanentemente, muitas vezes temos a impressão
de estarmos submersos num caos idêntico ao dos primórdios. Um
mundo novo, porém, já surgiu com Jesus de Nazaré.
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a jovem enganada e desprezada por todos porque ficou grávida, o
pai de família que perdeu o emprego por causa da inveja dos cole-
gas, as pessoas vítimas da violência e do ódio, os indivíduos que se
sentem um joguete dos próprios maus sentimentos e dos próprios
instintos... Todos estes sentem-se inclinados a abaixar a cabeça e
pensar que a própria vida já está destruída e não tem mais sentido.
O Advento é o tempo que prepara o dia da libertação. É a esses
todos que o Senhor dirige o convite para levantar a cabeça: o fim
da vossa opressão – diz ele – está próximo (v. 28).
• Diante das forças do mal que parecem dominar o mundo,
além do desânimo, existe o perigo da fuga, da busca de paliativos,
de soluções enganosas.
Há os que fogem dos problemas, deixando-se escravizar pela
bebida, abandonando-se aos prazeres, procurando compensações
na própria profissão, isolando-se no próprio ego, enclausurando-se
no próprio pequeno mundo. Eis o motivo do segundo apelo que o
Evangelho de hoje nos dirige: “Velai sobre vós mesmos, para que
os vossos corações não se tornem pesados com o excesso de comer,
com a embriaguez e com as preocupações da vida” (v. 34). Estas
evasões são um “laço” (v. 35), uma armadilha da qual são vítimas
muitas pessoas, que se deixam enlear, não conseguindo mais correr
ao encontro do Senhor que está vindo.
• A última exortação desperta a vigilância e estimula a oração
(v. 36). Alguém pode pensar que estes apelos “devotos” e “espiritu-
ais” podem induzir as pessoas a esquecer a própria responsabilidade
com o fim de melhorar este nosso mundo.
É verdade, existe uma forma de rezar que é ingênua e infan-
til, que se afasta da realidade, pois, mais do que para o céu, está
voltada para as nuvens! A oração autêntica, porém, aproxima de
Deus e conduz a um compromisso corajoso em benefício do pró-
prio homem. É um estímulo para zelar pelos irmãos que vivem
nesta terra; não cria ansiedades por aquilo que acontecerá no fim
do mundo, mas transmite sensibilidade às angústias e aos dramas
dos que estão ao nosso lado.
Alertando para a “vigilância”, Jesus nos convida a estarmos
atentos para poder perceber, a toda hora, as necessidades e os pe-
didos de ajuda dos irmãos.
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Só quem reza é que tem condições de cultivar esta “vigilância”
e pode interpretar os acontecimentos alegres e tristes deste mundo,
com os olhos de Deus.
Tema do Domingo
LEVANTAI A CABEÇA! A LIBERTAÇÃO ESTÁ PRÓXIMA!
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Segundo Domingo do Advento
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como Jerusalém, se transformarão em “cidades” esplendorosas,
também serão chamadas “lugares da paz fundada na justiça, reinos
da glória que procede da fidelidade ao Senhor”. Não só darão algum
retoque superficial à própria aparência sombria, mas irão se vestir
com roupas novas, como símbolo de uma vida plenamente feliz.
Para que este milagre possa se realizar é preciso permitir a Deus
que aplaine as montanhas e as escarpas deste mundo, que preencha
os vales que nos mantêm afastados dele e separados dos irmãos.
O Advento nos lembra que o Senhor está vindo para realizar
esta obra de salvação. O que devemos fazer para dar-lhe acolhida?
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Poderia essa bela oração ser aplicada à nossa comunidade? Os
apóstolos que a fundaram têm motivos para se sentirem entusias-
mados e louvar a Deus por isso, como fez Paulo?
Talvez ainda não seja perfeita; entretanto, devemos cultivar a
confiança e o otimismo. Antes que o Senhor venha, Deus levará a
bom termo a boa obra por ele iniciada (v. 6).
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este mundo, que gera relações novas entre as pessoas, que faz brotar
paz, amor, partilha nos lugares onde impera o egoísmo e a injustiça,
que faz surgir novas condições de vida aqui e agora.
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Da mesma forma que João, também os cristãos, embora resi-
dindo neste mundo, vivem num “deserto”, como se fossem estran-
geiros: não pensam, não falam, não se comportam como os outros.
No meio daqueles que falam de guerra, de violência, de vinganças,
eles pronunciam palavras de paz e de perdão; num mundo, no qual
são declarados felizes os que acumulam fortunas, que enriquecem
talvez oprimindo e explorando os mais fracos, eles anunciam as
bem-aventuranças do amor, do serviço aos pobres, da partilha dos
bens; num mundo no qual se procura o prazer a qualquer custo, eles
pregam a renúncia e o dom de si.
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No livro dos oráculos do profeta Isaías, ao invés, pede-se aos
israelitas que eles próprios preparem o caminho do Senhor. O pro-
feta faz um apelo para que eles mesmos se esforcem para aplainar
todas as montanhas e nivelar os lugares escarpados. A salvação de
Deus só pode chegar se for preparada com a colaboração do homem.
Os dois profetas não se contradizem, mas se completam. O
primeiro destaca a obra irresistível do amor de Deus. Ele – afirma
– conseguirá certamente, “com seu amor fiel”, reconduzir o seu
povo da terra da escravidão para a liberdade (Br 5,7-9). É como um
homem loucamente apaixonado: não há obstáculo algum insuperável
para ele no caminho que o conduz ao encontro da mulher amada.
Não há montanha tão elevada e nem vale tão profundo e tenebroso
que possa impedi-lo de realizar o seu sonho de amor.
O segundo profeta, ao contrário, destaca a obra do homem. É
verdade que o triunfo do amor de Deus está absolutamente garantido,
mas o homem pode desperdiçar muitas horas, muitos dias, muitos
anos de felicidade e de alegria longe do Senhor. Por isso é necessário
que ele abra o próprio coração, que remova todos os obstáculos que
impedem este encontro.
5. Diferentemente dos outros evangelistas que se limitam a citar
um versículo do livro do profeta Isaías, Lucas continua a citação:
“Todo vale será aterrado e todo monte e outeiro serão arrasados...
Todo homem verá a Salvação de Deus” (vv. 5-6).
Esta última afirmação tem um significado especial. Lucas a co-
loca no início do seu Evangelho, escolhe-a quase como título da sua
obra, pois contém uma declaração solene de Deus: ele não reserva
a sua salvação para algumas pessoas privilegiadas, mas quer que
seja oferecida para todos os homens. Ninguém será excluído! Este
é o seu projeto e é difícil imaginar que ele não consiga realizá-lo!
6. O Batista poderia ser chamado de “pregador do Advento”.
Todos os anos, a Liturgia nos propõe a sua mensagem, porque, tendo
ele preparado o povo de Israel para a vinda do Messias, da mesma
forma ele pode nos ensinar como nos devemos preparar para o Natal.
João não devia ser um homem muito simpático! É difícil ima-
giná-lo sentado à mesa, conversando com tranquilidade, contando
alguma piada, sorrindo, pelo menos algumas vezes! Quando aparece
no Evangelho, está sempre dando bronca em alguém: ameaça com
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castigos terríveis: fogo, faxina geral, poda até as raízes! Fala para as
pessoas, chamando-as de “raça de víboras”! Tenho pensado muitas
vezes: ainda bem que Jesus não era como ele! Embora tivesse uma
grande estima por João, Jesus se comportava de uma forma muito
diferente: comia, bebia e jantava com os pecadores.
Penso, no entanto, que no mundo haja necessidade também
de pessoas severas e austeras como o Batista. Elas têm por missão
lembrar, a todos, os compromissos importantes da vida, denunciam
abertamente as situações inaceitáveis e têm a coragem de enfrentar
também os poderosos quando estes praticam alguma injustiça.
Tenhamos a coragem de questionar a nós mesmos: não pode
acontecer às vezes que também nas nossas comunidades são tolera-
dos alguns “caminhos tortuosos”, algumas atitudes ambíguas? Não
há, por acaso, “montanhas” que impedem, especialmente aos mais
débeis, aos que têm uma fé mais fraca, de caminhar ao encontro
de Jesus? Não há, por acaso, “vales” que separam irmãos de uma
mesma família? Quais são as “montanhas” que devem ser aplainadas
e os “vales” que devem ser aterrados na nossa vida?
Tema do Domingo
VEM TRAZER SALVAÇÃO PARA TODO HOMEM
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