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Coleção Conferências

JOÃO NERY GUIMARÃES

A MAÇONARIA E A LITURGIA

Conferência pronunciada na Loja "Evolução III" na tarde de 19 de Julho de 1952

LIVRARIA EDITORA EVOLUÇÃO SÃO PAULO — 1954


RECOMENDAÇÃO
Esta publicação é reservada para maçons e não deve ficar ao alcance de profanos

"Os símbolos são imutáveis, mas as interpretações variam. Essa é a lei do Esoterismo".
Armand BEDARRIDE — "Le travail sur la Pierre Brute", Paris, 1925.

Parecer aprovado pelo ilustre Conselho Estadual do Grande Oriente de São Paulo em 10 de
Março de 1954.

PROCESSO No 240/54

RELATÓRIO — O Pod. Ir. Dr. Joaquim Rodrigues Gonçalves, em prancha de 27 de


Janeiro de 1954, E. V. bate às portas deste ilustre Conselho Estadual, solicitando
autorização para publicar, na íntegra, uma conferência pronunciada pelo Pod. Ir. Dr. João
Nery Guimarães, na Aug. e Resp. Loja "Evolução III", na presença das mais altas
autoridades do Grande Oriente de São Paulo. Trata-se de uma conferência que vem
prefaciada pelo Pod. Ir. Roberto Pabst, 33.
Adotamos em todos os seus termos o prefácio da obra. É toda ela vasada em termos
elevados, demonstrando profundo conhecimento do seu autor nos assuntos abordados.
Servirá ela de orientação e ilustração a todos os que se iniciarem na Sub. Inst., e, porque
não confessar, a muitos Maçons altamente graduados, pois que muita coisa aprendemos
naquela conferência que contém ensinamentos indispensáveis a todos quantos se dedicam
aos nossos sublimes trabalhos.
O Dr. João Nery Guimarães, ilustre e estimado irmão, já tem abordado outros assuntos
maçônicos e se tem revelado homem de cultura invulgar, competente e estudioso, com o
que tem grangeado a nossa admiração e o nosso respeito, o respeito e a admiração do povo
profano também, em favor de cujos direitos e liberdade muito se dedica na sua brilhante
atividade profissional. Pena é que outros Mr., não lhe sigam os exemplos, o que
concorreria para a maior difusão dos conhecimentos maçônicos e maior ilustração de todos
quantos se dispõem a lutar pelos nossos princípios e pelos nossos ideais. Lamentamos que
nos faltem habilitações para comentar a obra que merecia, sem dúvida alguma, crítica
elevada e à altura do seu conteúdo. Felicitamos o Dr. João Nery Guimarães por mais este
trabalho altamente valioso e que deve ser divulgado.
VOTO — Pelo confronto dos arts. 4.°, n.° 4 da Constituição do Grande Oriente do Brasil,
92 e 94 do Regulamento Geral da Ordem, verificamos que cabe ao Em.'. Gr.'. Mestre
autorísar expressamente a publicação ou impressão de qualquer trabalho sobre assunto
maçônico — pelo que, deve o autor da conferência cumprir o que determina o art. 94
citado, se já não o fez, enviando à Grande Secretaria três exemplares da obra cuja
publicação pretende — e, por ser a mesma de grande valia para o povo maçônico,
RECOMENDO ao Em.-. Grão Mestre no sentido de autorisar a publicação da conferência,
na conformidade com o que dispõe o art. 4.°, n.° 4 da citada Constituição.

Sala das Sessões, 10 de Março dc 1954.

CARLOS TEIXEIRA PINTO 30. R e l a t o r


DECRETO No 2 1 7
Autoriza a publicação do livro "A Maçonaria e a Liturgia".
EU, Diniz Gonçalves Moreira 33."., Gr.". Mestr.". Interino do Gr.". Or.". de São Paulo, sob
os auspícios do Gr.’. Or.’. do Brasil, FAÇO saber a todas as LLoj.". e MMaç.". da Obed.".,
para que cumpram e façam cumprir, que o Cons.". Estadual, em Ses., realizada no dia 10 do
corrente mês, aprovou, e eu promulgo a seguinte
RESOLUÇÃO
Art. 1º. — Pica autorizada a publicação e distribuição do livro "A Maçonaria e a Liturgia"
de autoria do Pod.". Ir.". Dr. João Nery Guimarães M.". M.". .
Art. 2.'' — Este Dec.". entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições
em contrário.
O Pod.". Ir.". Gr.". Sec.". Interino deste Gr.". Or."., fica incumbido da publicação e
notificação deste Dec.". .
Dado e traçado no Gabinete do Gr.'. Mestrado em São Paulo, aos 15 de Março de 1954 (E.\
V.".) .
O Gr.". Mestr.'. Interino Diniz Gonçalves Moreira 33.'.
O Gr.". Sec.". Interino Olavo Sampaio Carvalho 32.'. O Gr.". Tes.". Dr. Adolpho Eisele de
Carvalho 33.'.
O Gr.". Chanc.". Dr. Waldomiro Franco da Silveira 33.'.
P R E F Á C I O

Lemos e relemos com imensa satisfação e grande enlevo, as páginas deste interessante e
utilíssimo livro, intitulado:

" A MAÇONARIA E A LITURGIA"


de autoria do nosso estimado e provecto I r . ' . D r . João Nery Guimarães, e achamos que o
mesmo é bem merecedor de ser classificado como um portentoso manancial de sabedoria e
cultura maçônicas, e de grande valor na disseminação e formação de novos caracteres
maçónicos dos recém-admitidos, para os quais esse livro servirá de estímulo em enriquecer
os seus cabedais de conhecimentos com novos valores e ensinamentos; aos Maçons
graduados, encanecidos nas lides maçônicas, e aos graduados que apenas "passaram" pelos
graus, sem a devida instrução e conhecimentos litúrgicos, concorrerá para recuperarem
aquilo que, pela falta de bons livros, redigidos em nosso idioma, a seu tempo, foram
inhibidos de alcançar, o que agora com facilidade lhes é proporcionado, com o lançamento
do presente livro.
O aparecimento oportuníssimo desta obra veiu preencher uma lacuna existente na litera-
tura maçónica pelo que tomase imprescindível o seu uso e não deverá faltar na biblioteca
particular dos Maçons e das Lojas em geral.
Pela sua feitura, é-nos grato admitir, que o livro é redigido numa linguagem acessível a
todos e otimamente concatenado pela seqüência que lhes dão os seus capítulos dispostos da
seguinte maneira:
I — A antiguidade dos símbolos
II — A Maçonaria e a Liturgia
I I I — A Loja Maçônica
I V — As Luzes, as Jóias e outros símbolos
V — As Cores, os Números, os Sinais c a Linguagem
V I — A Liturgia e a força da Maçonaria
Portanto, sem grande esforço, qualquer obreiro da Arte Real está apto a aprender a
interpretação exata dos nossos símbolos, ao mesmo tempo facilitando às Lojas a divulgação
e aplicação da nossa liturgia, cuja prática em algumas oficinas é relegada a um plano secun-
dário, prevalecendo, quasi que com exclusividade, a realização de obras de caráter social e
beneficente, em detrimento das de cunho essencialmente espiritual e filosófico.
Ensina o nosso grau 7 (Rit.'. Esc.'.) que: "Sem necessidade de esperar por muito tempo, há
fatos que desde já devem despertar a vossa atenção: o estudo da Maçonaria; além disso, é
um assunto que se impõe ao vosso espírito. Ademais, como não buscar conhecer uma
corporação de que se fas parte? Lereis os livros que dela tratam. Essa leitura auxiliará
vossos estudos". Finalizando, encontramos a seguinte exortação: "Como conclusão a estes
ensinamentos, lembrai-vos que contraístes a obrigação de estudar a Maçonaria:

1 ° ) — Em sua História;
2º.) — Nos Símbolos; lembrando-vos que esses símbolos contribuíram não para revelar sua
doutrina, antes para ocultá-la;
3 º . ) — Em sua Moral. Juramos fidelidade a o dever, seja ele qual for.
N o grau 14 encontramos o seguinte preceito :
"Devo obter de vós um compromisso de empregardes alguns momentos de vossos laseres,
doravante, a o estudo da doutrina maçónica, não somente da letra dos seus estatutos, mas
sobretudo do sentido oculto e elevado de seus ensinamentos. Prometeis-nos isso?"
Compreendemos, perfeitamente, que a vida agitada e tumultuaria da atualidade, dificulta e
priva muitas vezes dessa suprema aspiração de instruirse, à muitos dos nossos Ilr.'., mas,
havendo bôa vontade e com um pequeno esforço em, sobrepujar esse óbice, não vemos
motivos para que os Maçons deixem de usufruir esses gosos intelectuais.
N o desempenho do cargo de G r . ' . Sec.', das RRel.'. LLit.'. encarecemos aos Maçons a
leitura e meditação sobre os conceitos exarados no livro: " A M A Ç O N A R I A E A
L I T U R G I A " , cujos ensinamentos possam penetrar e ficar gravados na mente de todos,
auxiliando e corroborando na formação de uma plêiade de obreiros dedicados e cônscios
de seus deveres para com a parte intelectual e espiritual da nossa Sublime Ordem e da
razão de serem Maçons.
A o ilustre autor, nosso presado e estimado amigo, D r . J o ã o Nery Guimarães, as nossas
efusivas congratulações e louvores em profusão pelo seu belíssimo trabalho, que honra e
enaltece a literatura maçônica brasileira.

ROBERTO PABST, 33.'. Grande Secretário das Relações Litúrgicas do Grande Oriente
do Brasil e Ven.', da Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Cao.'. "Rangel Pestana"
São Paulo, 14 de Janeiro de 1954.
A ANTIGUIDADE DOS SÍMBOLOS
SÍMBOLOS

A primeira constatação que empolga aquele que se aprofunda na interpretação da liturgia


maçônica é a da antiguidade dos seus símbolos, de suas alegorias.

Remontam as origens dos símbolos maçônicos à aurora do homem sobre a terra. Daí terem
alguns observadores apressados concluido que a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o
mundo. Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a Franco-Maçonaria, com as
características atuais, data do século 18, ou melhor, do ano de 1717, ponto de partida da
Franco-Maçonaria moderna. Foi nessa data que se firmou a preponderância da Franco-
Maçonaria especulativa, sobre a operativa.

Mas, anteriormente à memorável reunião das quatro lojas franco-maçônicas de Londres,


existiam várias lojas por toda a Inglaterra, Alemanha, França e Itália, formadas por
pedreiros de profissão, reunidos em confrarias, com regulamentos próprios, sinais de
reconhecimento, símbolos litúrgicos, e se tratando por irmãos. Guardavam ciosamente a
sua arte de construir do conhecimento do vulgo ou profanos. A par desses conhecimentos,
essas confrarias (Guilds, Brotherhoods, Bruderschaften, Confrèries) constituídas por
verdadeiros artistas (foram os construtores das grandes catedrais européias e os criadores
da arte gótica) reuniam e conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã, às vezes
confundidas com as tradições mais novas do cristianismo. Compreende-se, assim, o
respeito que os príncipes tiveram por essas corporações de artesãos, às quais dotaram de
regalias e privilégios.

Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons, maurerei)
foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte também as tradições
ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.

Estabeleceu-se, assim, um liame entre a Franco-Maçonaria do século 18 e a mais remota


antiguidade, que levou os escritores a que nos referimos, a declarar a Franco-Maçonaria
coeva da vinda do homem sobre a face da terra. A verdade, contudo, como já dissemos, é
um pouco diferente: os legítimos símbolos maçônicos é que se perdem na noite dos
tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a conhecemos, data de pouco mais de dois séculos,
ou por outra, a Instituição é nova e a sua essência é antiga.

Tão antigos são os símbolos adotados e conservados zelosamente pela Franco-Maçonaria,


que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum deles é de data posterior ao ano um
da era cristã. Tal afirmativa se reveste de tanta importância que o poder mantê-la
compensa todas as pesquisas, todas as vigílias gastas em escavar o dourado veio das tra-
dições antigas.
Existem símbolos na Franco-Maçonaria, usados desde a sua fase operativa, cujo significado
foi inteiramente estranho aos homens da época, não iniciados nos mistérios maçônicos,
quando não foram completamente desconhecidos. Pois bem, quando teve o mundo notícia
dos descobrimentos arqueológicos verificados no século 19, constataram os franco-maçons
que muitos de seus símbolos figuravam nos objetos encontrados, pertencentes à
civilizações já desaparecidas, com as quais os homens haviam perdido todo contacto,
anteriores ao advento do cristianismo.

E' forçoso admitir que os franco-maçons não inventaram, por coincidência, tais símbolos,
pois muitos deles tinham o mesmo significado maçónico de hoje. Alguns, por exemplo, são
tão evidentes, que não permitem margem à dúvidas. Existiu, portanto, um misterioso fio
que preservou a tradição antiga, fio esse que não trepidamos em declarar — o segredo dos
iniciados. A sabedoria antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre de-
terminado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, poude, assim,
chegar até nós. Só desta forma compreende-se o mistério que a muitos pareceu
indecifrável.

Ensinam a história, a sociologia e a literatura, que as obras homéricas foram guardadas pela
tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma escrita. O mesmo processo
sofreram quase todas as lendas dos primórdios da civilização. Se assim aconteceu em
relação a obras literárias e narrativas históricas, porque não sucederia o mesmo com uma
tradição iniciática, perpetuada através de símbolos?

Sobre o poder conservador dos símbolos, já disse o nosso Ir.’. MICHA que "se a verdade
sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão sublime que nenhuma
ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o simbolismo é por sua vez como
uma espécie de revestimento, de meio de conservação ideal dessa verdade e uma
linguagem ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação, e que só os iniciados
podem traduzir sem deformar-lhe o sentido".

A longevidade das práticas maçónicas repousa tranquilamente na imutabilidade dos seus


símbolos, muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas narrativas.

E o que é a liturgia senão o conjunto desses símbolos realizados sob determinada forma e
em determinadas circunstâncias?
A MAÇONARIA E A LITURGIA

Dentro da Franco-Maçonaria a liturgia não nos pode interessar só como fenômeno


histórico, como manifestação de pompa, de suntuosidade, de festa para os olhos, velada
pelos preconceitos e pela ignorância, aos distraídos e indiferentes que são arrastados pela
absorvente corrente dos interesses cotidianos .

A Franco-Maçonaria está tão ligada à liturgia, que contém toda a sua interpretação
esotérica e filosófica, que, sem a liturgia a nossa Sub.'. Ord.'. seria corpo exânime. Em seus
"Estudos Filosóficos", o Ir.'. DARÈRES, disse com exatidão que, "privar a Franco-
Maçonaria da sua língua sagrada é despojá-la da sua força diretora e do sopro vivificador de
sua animação universal; é roubar-lhe todo o encanto que está unido à sua crença e às doces
esperanças que lhe inspiram seus esforços filantrópicos. Há mistérios nessa Instituição —
diz ainda DARÈRES —, que o espírito deve saber compreender sem procurar defini-los".

A liturgia é um fenômeno vital, uma concreção orgânica, uma forma de vida perene e
atraente. Com felicidade disse ilustre escritor que, "a liturgia mostra sua beleza interior por
uma dinâmica inexausta".

Como disciplinadora das nossas tendências negativas, ela impõe a renúncia generosa às
próprias expansões que não se enquadrem dentro da regulamentação comum. É a
submissão de toda a tendência antropocêntrica, de toda a insurgência egoísta. Em liturgia
não existe o singular "eu", mas o plural "nós".

Temos na liturgia uma completa concepção de forma e de estilo, no sentido puro do


vocábulo: limpidez de linguagem, medida harmônica dos gestos, perfeita conformação do
espaço e das tonalidades plásticas e sonoras. Tudo, idéias, palavras, atitudes, expressões e
imagens, extraído dos elementos mais simples da vida espiritual. Riqueza opulenta, varie-
dade inesgotável, transparência nítida.

A robustecer e cimentar esse conjunto de qualidades, temos o fato importante de que a


liturgia se exprime por uma linguagem desusada entre os homens de hoje, mas profunda e
majestosamente clássica.

Resulta, pois, que instintiva e naturalmente vamos olvidando os detalhes históricos,


abstraindo as particularidades que encerra, para concentrar a atenção em seu sentido
eterno e supra-histórico.

A liturgia encerra dentro de si algo que nos convida a dirigir os olhos e o pensamento para
as estrelas. Que nos relembra o giro imutável e eterno de suas órbitas, e nos fala de sua
ordem equilibrada e harmônica e de seu majestoso e solene silêncio, na imensidão por
onde os astros caminham.
PAUL VALÉRY, poeta do simbolismo, sentiu a força expressiva da liturgia, também como
forma de arte, proclamando que a "liturgia e a arte vão unidos em estreito consórcio,
guardando afinidades profundas e se desenvolvendo em uma atmosfera de mistério e de
encanto, despertando no homem o instinto do divino".

Percorrendo o tesouro de símbolos, signos, imagens, alegorias e, por extensão, as


metáforas, as hipérboles, as metonímias e os tropos empregados na nossa liturgia, cada um
deles polivalente em seus significados, o maçom que tiver olhos para ver e ouvidos para
escutar, verá quão mesquinhas e inglórias são as lutas profanas que o cercam, e verificará a
antítese violenta entre o brutal realismo de nossos dias, que se infiltrou em todos os setores
da vida, com o aguilhão da sensualidade ou o poder penetrante de suas arestas, e o mundo
das idéias encerradas na liturgia, com toda a sua imponente gravidade e limpidez,
harmonia e seleção de formas.

E que melhor forma para encerrar os seus segredos poderia escolher a Franco-Maçonaria,
senão a de envolvê-los no extraordinário poder preservador das alegorias? Que melhor
linguagem poderia ser usada para manter viva a mensagem de que é portadora, através dos
séculos, senão a linguagem simbólica, visível e inteligível somente aos iniciados?

AURELIUS AUGUSTINUS, o pensador de Tagaste que a Igreja Romana canonizou,


referindo-se ao valor do símbolo, gravou indelevelmente este conceito: "omnia sunt per
allegoriam dieta" — tudo é dito através da alegoria. Mas, para entendê-la é preciso vê-la
pelos olhos do espírito.

A LOJA MAÇÔNICA
MAÇÔNICA

Temos frequentemente ouvido os maçons denominar o local onde se reúnem, de "templo",


enquanto chamam à entidade maçônica a que pertencem, de "loja". O local onde os
trabalhos maçônicos se realizam, é pois, o templo, o edifício em que a loja tem sede. E loja
é um conceito abstrato, que classifica a corporação maçônica no conjunto, é o nome por
assim dizer "legal" do agrupamento, na hierarquia dos corpos maçônicos de uma
determinada potência. Todas as lojas recebem um "título distintivo", que é o seu nome.
Assim, "loja" é o conjunto de irmãos que trabalham sob a chefia de um Ven.'. Mest.'. num
determinado "templo".

Mas se hoje assim se entende, antigamente não. A palavra "templo" era pouco usada,
dando-se larga preferência à palavra "loja" que congregava os dois significados.

O Ir.'. RAGON, em sua quase desconhecida obra — "La messe et ses mystéres compares
aux mystéres anciens" —, ensina que "os templos maçónicos chamavam-se lojas, que na
linguagem sagrada do Ganges quer dizer mundo, donde também se deriva a palavra
sagrada logos, que quer dizer verbo, discurso, razão". "Loja — diz RAGON — é o lugar em
que a palavra é dada, a razão das cousas explicadas e o verdadeiro sentido das alegorias é
desvelado sem perigo, perante homens experimentados".

O etimologista ALÓIS WALDE esclarece que "templo é palavra latina que denominava o
lugar quadrado, delimitado e orientado, no qual o augure tomava no céu os auspícios".

A construção de um templo obedece às regras da arquitetura sagrada antiga, que devem ser
seguidas. A primeira delas é a da orientação, isto é, deve o templo estar disposto de tal
forma que a entrada se dê pelo Ocidente, e a parte oposta, onde se fixa o altar, esteja
voltada para o Oriente. Essa regra preliminar encontra raízes velhíssimas em todos os
povos do universo que sempre viram no Oriente a fonte da sabedoria. Dessa orientação dos
templos deriva a posição das duas colunas, uma significando o norte e outra o sul. O
templo vai do Oriente ao Ocidente, do zenit ao nadir, de norte a sul ou do setentrião ao
meio-dia, conforme se adotar a moderna ou antiga denominação das posições geográficas.
A altura do templo é da superfície da Terra ao Céu e a profundidade, da mesma superfície
ao centro da Terra. É o símbolo do Mundo.

Tão forte é a influência solar em toda a antiguidade, que a maioria das religiões antigas
comparam as suas divindades ao astro rei, quando não é o próprio Sol o adorado. Durante
milênios foi o mediador visível entre o Supremo Arquiteto e a Humanidade. Os brâmanes,
os hebreus, os romanos, viravam-se para o Oriente para orar.

Deus é o Sol. O domingo é o dia do Senhor, "dominus dei", dos romanos, "sunday" dos
anglo-saxões, "sonntag" dos teutões, "dimanche" dos gauleses. As representações do Sol são
frequentes nas obras de arte e obras religiosas de toda a antiguidade. O Sol é o símbolo da
luz, da inteligência, da origem, do princípio ativo, enquanto a Lua representa o princípio
negativo, é o feminino, a passividade, a imaginação.

O que é o ostensório usado pela igreja romana, senão a imagem do Sol resplendente de sua
própria luz? As igrejas, desde DIOCLECIANO, tanto quanto possível, vêm sendo
orientadas de modo que a sua entrada se faça pelo Ocidente situando-se o altar,
invariavelmente, no Oriente. DIONÍSIO DA TRÁCIA ensinava que os templos dos antigos
eram colocados de acordo com a marcha do Sol e VITRÚVIO dizia o mesmo: "Templa
orientem spectari debet".

Visto o templo por fora, batamos ritualisticamente à sua porta, para que o Ir.'. Cobr.'. nô-la
venha abrir. Qual a razão das... pancadas, compassadas e regulares? Entre os vários
significados dessa prática, que distingue aquele que foi iniciado, que mostra assim saber
comunicar-se com seus Ur.', que estão trabalhando, está a alusão da frase bíblica: "Pedi e
dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á ".
O profano não saberia como chamar o Ir.'. Cobr.'. pela forma exata.

Franquiada a nossa entrada, olhemos à nossa volta. Nenhuma janela ou porta de acesso!
Sentimo-nos como se estivéssemos no santo tabernáculo, fora de todas as vistas.

Segundo MACKEY, a forma da loja é a de um paralelogramo, mais extenso no sentido


Oriente-Ocidente, como se fossem dois quadrados unidos, sem linhas curvas. O teto,
abobadado, é uma representação viva do firmamento estrelado, ostentando ao Ocidente a
Lua, no quarto minguante, e ao Oriente o Sol resplendente, projetando sua luz viva sobre o
Livro da Lei Sagrada.

Algumas lojas antigas costumavam representar no seu firmamento, os doze signos do


Zodíaco. Era a presença viva da Astrologia, com uma simbologia velhíssima,
contemporânea da civilização caldáica, senão mais antiga ainda, cujos rudimentos
conhecemos através das tábuas de escrever e que teve como cultores homens cuja
reputação atravessou os séculos, e que se aperfeiçoando e desenvolvendo transformou-se
numa ciência moderna, a Astronomia, destinada apenas a homens de cultura
especializadíssima e devotamento sem par aos estudos elevados de matemática e física.

Separando o teto das paredes, contemplamos a Cadeia de União, ora em forma de uma
corrente de metal, ora em forma de uma corda com nós, símbolo da união dos maçons
espalhados pela superfície da Terra. Essa Cadeia de União é interrompida junto ao pórtico
pelo qual se ingressa na Loja. Tal cesura indica que por ali poderão se unir novos irmãos.

Aos nossos olhos surgem, em seguida, as duas colunas, estranhamente dispostas, pois
emergem do chão e não chegam ao teto. Uma significa a força, a firmeza, e a outra a
beleza, ostentando cada uma delas, uma determinada letra. Recordam, segundo a tradição
maçônica, as colunas do t e m p l o de Salomão.

Ornadas de lírios, símbolo da pureza, essas colunas sustentam, em alguns ritos maçônicos,
duas esferas, sendo uma o globo terrestre e outra a projeção do mundo celeste sobre a
Terra. Em outros ritos, em lugar das duas esferas, servem de base a três romãs, fendidas
pela sazão, símbolo da abundância, da proliferação dos maçons sobre a face do globo.
Costumam essas romãs estar envoltas numa rede, emblematização da união.

Mas porque essas colunas estão assim singularmente dispostas, sem exercerem a função de
sustentar o edifício? Evidentemente têm elas outro significado. São mais obeliscos do que
colunas de sustentação. Os obeliscos, os pilares, as colunas, são formas arquiteturais muito
antigas. Segundo o historiador HERÓDOTO, os obeliscos egípcios eram uma homenagem
ao Sol. O Velho Testamento nos conta como Jacob plantou um pilar em Betei para
memorializar a escada que desceu do Céu à Terra. Josué levantou doze pilares para
assinalar em Gilgal a lembrança da sua travessia do Jordão. Samuel festejou a derrota dos
filisteus, erguendo um pilar entre Mispeh e Shem, e Absalão ergueu outro em sua própria
honra. E, o profeta Isaias, numa linguagem maçónica, quando quis dizer que os príncipes
egipcios caíram do poder, assim se exprimiu: "Suas colunas abateram-se".

Os estudiosos da Bíblia e os arqueologistas em geral, sabem que no templo de Salomão as


duas colunas, fundidas por Hiram, estavam separadas da construção, à sua entrada, do lado
de fora. Os antigos escritores gregos, referindo-se aos templos daquelas épocas afastadas da
história, citam, em suas descrições, diversos templos que apresentavam, na entrada,
colunas separadas do edifício.

Em 1882, durante escavações arqueológicas procedidas em Roma, descobriu-se um prato


de cerâmica reproduzindo o templo de Salomão, com as duas colunas de bronze na parte
exterior, seguindo idêntica disposição que se observa em certos templos fenícios.

Dividindo o templo encontramos uma balaustrada de pequena altura, no sentido


transversal. Na parte menor, que é a do Oriente, têm assento o Ven.'. Mest.'. , o Orad.'. e o
See.'. , além de Wen.'. MMest.'. visitantes, ex-VVen.'. e altas dignidades maçônicas. Na
parte maior, que é a do Ocidente, alinham-se filas de cadeiras, onde sentam-se os
aprendizes, os companheiros e os mestres. Nesta segunda parte, tomam também assento os
dois Wig., um ao pé de cada coluna, ou seja, na parte extrema, quasi próximos à porta.

O Ven.'. Mest.'. senta-se de frente para os obreiros, dando as costas à parede onde devem
estar representados o Delta, símbolo do Absoluto (tendo no centro o Olho da Sabedoria), o
Sol e a Lua. Sobre o Ven.'. Mest.'. deve estender-se um dossel, símbolo da hierarquia
sagrada. A mesa que serve ao Ven.'. Mest.'., erroneamente chamada de altar, apóia-se num
tablado de três degraus de altura, sendo o primeiro degrau o emblema da fortaleza, o
segundo o da beleza e o terceiro o da pureza.

Saindo-se do Oriente, desce-se um degrau e logo se nos depara um Altar, onde encontra-se
o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso. E' o altar dos juramentos.

O Livro da Lei Sagrada, durante os trabalhos da Loja deve estar aberto, (1) tendo sobre si o
Esquadro e o Compasso, com as duas pontas escondidas, no primeiro grau, em que as
verdades estão por ser reveladas; com uma ponta só do Compasso aparecendo, no segundo
grau, em que parte da verdade já foi revelada; e as duas pontas pousadas sobre o Esquadro,
quando a verdade já se mostrou por inteiro, ou seja, no terceiro grau. Encerrados os tra-
balhos da Loja, o Livro da Lei Sagrada deve ser fechado.

Ensina o Ir.'. LAWRENCE, autor de várias obras maçónicas, que o Livro da Lei Sagrada
não é obrigatoriamente a Bíblia, mas sim o livro sagrado da religião do maçom. Pode ser o
Corão, o Zend-Avesta, o Sastras, o Rig-Veda, como qualquer outro.
Conta LEADBEATER que numa loja maçónica de Bombaim havia cristãos, indús, budistas,
parsis, judeus, síquios, mussulmanos e jainos. A Loja costumava colocar sobre o altar os
livros sagrados das religiões professadas pelos seus membros.

É mais uma manifestação do espírito tolerante da Franco-Maçonaria, que não determina


aos seus membros a profissão de nenhuma religião determinada, exigindo apenas a crença
num ente supremo, o G.’. A.'. D.'. U.’., que lhe imprime o sentido espiritualista do qual não
abdica sob quaisquer circunstâncias.

No centro da Loja, estendido sobre o chão, é colocado o Tapete de Mosaico, que representa
o perímetro quadriculado do Sancto Sanctorum. Não deve, por isso, ser pisado pelos
obreiros. Aos nossos olhos, o Tapete de Mosaico emblematiza as alternativas da vida, das
alegrias e das tristezas, do bem e do mal, do dia e da noite, dos vícios e das virtudes, num
contraste harmonioso.

Aos pés das mesas em que se apoiam os VVig.'., vêem-se duas pedras, uma em estado
natural e outra polida. A primeira pedra, que é a que fica próxima ao 2.° Vig.'. é o símbolo
da paixão, do egoísmo, da imperfeição dos aprendizes. A segunda pedra, já trabalhada, fica
à frente do 1.° Vig.'. e alegorisa o aperfeiçoamento moral, e significa que o aprendiz enri-
queceu os seus conhecimentos. Querem alguns tratadistas maçônicos que uma terceira
pedra seja colocada no Oriente, junto à mesa do Ven.'. Mest.'. , pedra essa que tem o nome
de "perpendicular". Dado as particularidades que envolvem este símbolo, não o poderemos
esclarecer neste pequeno ensaio.

AS LUZES,
LUZES, AS JÓIAS E OUTROS SÍMBOLOS

Na organização maçônica são chamados de "luzes" aqueles que dirigem a Loja e nela
exercem funções de relevo. São cinco as principais "luzes" : Ven.'. Mest.'., 1.° e 2.° VVig.’.,
Orad.'. e Sec.-.. Como o próprio nome o indica, devem iluminar da Loja, concorrendo
sempre com a sua sabedoria, espírito de tolerância e firmeza. Dessas cinco luzes,
sobressaem-se o Ven.'. Mest.'. e os dois Wig.', que formam as três luzes vitais que ilu-
minam a Loja, conjuntamente com as três luzes astrais, o Sol, a Lua e a Estrela Radiosa.

O Ven.'. Mest.'. que ocupa a cadeira do rei Salomão, encarna a Sabedoria. 0 1.° Vig.'. é a
Força para realizar, e o 2.° Vig.'. é a Beleza que adorna. Toda grande obra reúne essas três
qualidades.

O Ven.'. Mest.'. é também chamado "hierofante", ou seja o sacerdote que nos mistérios
egípcios era encarregado de iniciar os neófitos e de interpretar os mistérios. Os VVig.'. por
sua vez, são os "episcopos", isto é, aqueles que vêem com segurança.
O Ven.'. e os VVig.'. empunham Malhetes, emblema do poder e da autoridade. E' o
símbolo do comando. Assim como os reis e soberanos usam o cetro, o Ven.'. Mest.'.
empunha o malhete.

Outro símbolo maçónico, de grande valor, é o Avental, interpretado como o emblema do


trabalho e da inocência. De uso obrigatório, o Avental não pode ser dispensado sob
pretexto algum. Constitui, na linguagem maçônica, o "vestido" do obreiro, sem o qual ele
está nu.

"No princípio do século dezoito os aventais eram idênticos àqueles usados pelos pedreiros
operativos. Eram grandes, chegando até o peito e descendo até os joelhos, de couro
irregular, ficando a parte da cabeça do bói sobre o peito e o restante apenas com as pernas
cortadas. Contudo, já naquela época alguns irmãos costumavam decorar seus aventais com
desenhos de arcos, colunas etc. Não havia o cuidado de um modelo único, agindo cada um
como melhor lhe parecia. Com o tempo, alguns desenhos tornaram-se populares e foram
copiados por outros maçons. Em fins do século dezoito pintavam-se cenas da legenda
maçónica ou detalhes das cerimônias. Logo depois do Ato de União, em 1813, foi
estabelecida a forma atual".

O Avental deve ser feito de pele branca, com um friso de pano azul nas bordas, tendo uma
abeta, também frisada de modo idêntico, que é usada abaixada nos graus de mestre e
companheiro. Os aprendizes apresentam-se com a abeta levantada, sendo que o seu
avental não possui friso algum. Dissemos friso azul, pois essa é a cor do simbolismo
maçônico, sendo um erro generalizado o uso da cor vermelha, o que mais adiante melhor
esclareceremos.

Os OOf.'. usam em volta do pescoço um Fitão ou colar de pano azul, caindo em ângulo
sobre o peito. Na extremidade do fitão, deve pender a Jóia do seu cargo. Algumas lojas
costumam inscrever o seu título distintivo ou número, no fitão. Ao contrário do Avental, o
Fitão é de uso facultativo para os obreiros, excetuados, é claro, os que exercem cargos.

Do fitão do Ven.'. Mest.'. pende um Esquadro aberto, apoiado sobre uma meia
circunferência graduada, tendo ao centro o Sol. Isso no rito Escocês Antigo e Aceito. No
rito de York, o Ven.'. Mest.'. usa simplesmente um Esquadro, símbolo da verdade. O
Esquadro apoiado pelo Malhete significa a verdade apoiada pela autoridade.

As Jóias do primeiro e segundo VVig.'. são respectivamente, o Nivel, emblema da


igualdade e o Prumo, emblema da equidade. O Orad.', ou Cap.', ostenta o Livro da Lei
Sagrada, sobreposto aos raios de um Sol cujo centro não se vê. Os CCobr.'. carregam no
fitão uma pequena Espada, emblema da luta franca, do combate leal. Os Diáconos usam
como jóia uma Pomba, em lembrança da pomba mensageira que Noé soltou da Arca. Este
símbolo, porém, é de uso mais recente, pois os maçons primitivos preferiam a figura de
Mercúrio, com o caduceu, figura clássica da mitologia, onde Mercúrio era considerado o
mensageiro dos deuses e o condutor dos mortos pelos mundos subterrâneos. Esse símbolo
persiste ainda em algumas lojas inglesas. O Sec.', usa duas Penas cruzadas e o Tes.', duas
Chaves, também cruzadas. O Hosp.'. é simbolizado por uma Bolsa, e o Chanc.'. tem o
timbre da Loja, dentro de um triângulo. Os MMest.'. de BBanq.'. trazem como jóia uma
Cornucopia da qual se derramam frutos variados e outros alimentos e os MMest.'. de
Harm.'. , uma Lira. O Mest.'. de CCer.'. usa um Laço de fita ou um Triângulo simples,
devendo também trazer em uma das mãos, uma pequena vara. O Arq.'. carrega uma
pequena Trolha.

As jóias do Ven.'. Mest.'. e dos VVig.'. são chamadas jóias móveis porque são transmitidas
aos seus sucessores na noite de posse da nova administração. Assim como há três jóias
móveis, existem também três jóias imóveis, que são a Tábua de Delinear (1), a Pedra Bruta
e a Pedra Polida, já descritas por nós. São chamadas jóias imóveis porque permanecem
expostas e imóveis na Loja para os irmãos nelas estudarem a moral.

AS CORES,
CORES, OS NÚMEROS, OS SINAIS E A LINGUAGEM

Na opulência da simbologia maçónica encontramos outros veios magníficos a explorar.


Tomemos, para começar, as cores utilizadas pela Franco-Maçonaria. A cor que predomina
entre nós é o azul. É a cor do simbolismo, em contraposição ao vermelho, que é a cor do
filosofismo. Daí termos assinalado, páginas atrás, o engano que se verifica no Brasil em se
classificar as lojas do rito escocês antigo e aceito, de lojas "vermelhas". Vermelhos são os
Capítulos, nunca as lojas. Qualquer que seja o rito, as lojas que trabalham nos três graus
básicos são "azuis". Portanto, ainda é tempo de se começar as retificações necessárias,
pintando-se novamente de azul todas as paredes internas dos nossos templos.

O azul é a cor magnética por excelência. Cor do planeta Júpiter, que rege o pensamento
moral, a idéia filosófica. Segundo DARIO VELOSO, "o azul repousa o corpo e fortalece o
espírito, convida à meditação, ao embevecimento, derramando na alma silenciosa, eflúvios
de bondade". Por isso a safira é a pedra dos sábios, dos filósofos, dos teurgos. É a cor do
céu.

O branco, cor dos aventais, é a paz, a virgindade de Isis. Branco era o avental do profeta
Elias e branco também o avental que cingia João Batista, como também eram brancos os
"efods" dos israelitas que serviam no Santo dos Santos. Nos mistérios pérsicos de Mitra, os
iniciados surgiam revestidos de um avental branco, e de modo igual eram paramentados os
iniciados nos mistérios de Eleusis, pois segundo CICERO, "o branco é a cor preferida dos
deuses". De tal forma o branco se associou à idéia de pureza, de virgindade, que os Essênios
cobriam os seus postulantes com uma veste alva, com as extremidades azuis.
Já o vermelho é a luta, o combate, é o planeta Marte. Indica o sacrifício, o sangue. No rubi
é o Direito, é o litígio entre a razão e o erro. Na púrpura é a cor preferida pelos magos. O
preto é a dor, a desesperança, a morte. Saturno é negro como o ónix. A cor negra é usada
em certas câmaras maçônicas e em determinadas cerimônias.

A numerologia, essencialmente simbólica, ocupa lugar relevante na Franco-Maçonaria.


Nem poderia suceder de modo diferente numa Instituição cuja base é fundamentalmente
esotérica.

O número um é a unidade, o princípio, o grande mistério, o átomo, a causa sem causa. O


número dois é a mulher, a dualidade do ser, o antagonismo. O número três, clássico por
excelência no simbolismo, é a idéia da trindade, do principio trino, da perfeição. Nele se
baseia o triângulo. O número quatro é a forma, a adaptação. Número da família, é o
símbolo da Terra. O número cinco é o pentagrama, o número do G.-. A.'. D.'. U.'. , número
predileto dos pitagóricos . O número seis é o equilíbrio das idéias, número preferido pelos
martinistas. Encerra a idéia do bem e do mal. Dele se formam os números apocalípticos. O
número sete é a realização, a aliança da idéia e da forma, número da sabedoria, reunião do
ternário e do quaternário. A tradição bíblica é riquíssima no número sete. "Lava-te sete
vezes nas águas do Jordão", foi dito a Naaman. "O justo tombará sete vezes". "Não digo sete
vezes mas setenta vezes sete". Número pleno e perfeito, o sete impera na liturgia da igreja
romana. Em sua "De divinis officiis", RUPERT DE TUYS diz que o "ofício santo, com suas
sete horas, é um fulcro divino de luz e de fervor que pode ser comparado ao sol cujos sete
raios iluminam, aquecem e vivificam todos os dias, a natureza inteira".

Uma loja maçónica só é perfeita quando tem sete maçons, colados no grau de mestre. Sete
ou mais.

Entre os símbolos maçónicos cujo significado é bastante oculto, situam-se os sinais. Por
eles os maçons se reconhecem e constituem um segredo que não pode ser revelado, sob
pena de perjúrio ao juramento prestado. Devem ser feitos com muita discrição e atenção.
Digamos até: com unção. Os sinais mal feitos, além de denotar negligência são uma
demonstração de ignorância maçónica. Evidentemente quem os faz de modo pouco
cuidadoso ou sem o devido respeito, ignora o seu verdadeiro significado.

O gesto é a palavra muda. Quando o maçom faz sinais, está transmitindo uma mensagem,
está realizando uma cerimônia, que pelo seu segredo, escapa ao entendimento dos
profanos.

Os sinais maçónicos merecem um estudo a parte, tal a sua complexidade. O Ir.'. WARD, já
citado, dedicou um belíssimo livro ao estudo dos sinais maçônicos, a cujas origens
remonta. Faz mesmo uma interpretação profunda, à luz de elementos colhidos nas fontes
mais insuspeitas da antiguidade, através de obras de arte recolhidas aos museus da Europa
e da Ásia. E nos aponta a existência dos sinais tão nossos conhecidos, em pinturas,
esculturas e descrições antigas, onde têm o mesmo significado compreendido pelos
maçons.

Os sinais são classificados em "guturais", aqueles que se relacionam com a garganta,


"cordiais", com o coração, "capitais", com a cabeça, "manuais", com as mãos, "umbrais",
com os ombros, e o sinal do "plexo solar", e exprimem a desgraça e o desespero, a
exaltação, a reverência, o horror, a resignação, o pesar, a adoração, o sacrifício, a simpatia,
a fidelidade, a obrigação, a destruição, o céu e a terra, o fim, a prece, o socorro. Inúmeras
são as estátuas clássicas e os quadros antigos que ele nos apresenta, em que constatamos a
execução desses sinais, em condições que não significam e nem podem significar somente
uma coincidência.

O sinal de preservação, por exemplo, que se pratica no segundo grau, é encontrado em


objetos contemporâneos às civilizações egípcia e maia, e também nas pinturas sacras,
principalmente nos quadros representando o juízo final, em que alguns espíritos imploram
ao G.'. A.'. D.'. U.'. que os preservem, enquanto que outros, condenados às chamas eternas
(notemos que a pintura é sacra e se encontra em igrejas da idade-média), fazem o sinal de
desespero, ou o sinal de horror, pertinente ao terceiro grau.

A linguagem dos sinais só é inteligível aos iniciados, dado o seu significado recôndito. Os
maçons, porém, possuem uma linguagem falada, igualmente desconhecida dos profanos.
Com ligeiras variações, é a mesma na Inglaterra, na França, na Alemanha, nos países de
fala espanhola e portuguesa. Os seus termos são geralmente tirados da arte do pedreiro ou
da construção. Assim, escrever é "traçar", carta é "prancha" e a ata é "balaustre", discurso é
"traçado geométrico", examinar alguém para verificar se é maçom é "trolhar", cruzar as
espadas sobre a cabeça de visitantes ilustres é formar "abóbodas de aço". A presença de
profanos entre maçons é assinalada pela palavra "goteira" intercalada numa frase.

Os filhos de maçons são "lowtons" isto é, cordeirinhos, e os maçons na linguagem comum


se chamam de "filhos da viúva", pois são irmãos de Hiram, filho de uma viúva de Neftali.

A LITURGIA É A FORÇA DA MAÇONARIA

Qual a Instituição, no mundo moderno, que conserva tão precioso tesouro da sabedoria
antiga senão a Franco-Maçonaria? Reunindo tantos elementos esotéricos, dentro dos
princípios e da tradição iniciática, a Ordem Maçônica é a instituição que os perpetua,
sendo a ponte de ligação entre um passado que remonta à noite dos tempos, dona de uma
sabedoria e conhecimentos que se perderam para o mundo profano, em ondas de sangue e
de barbárie, que durante séculos, em crises periódicas, convulsionaram o mundo.
A liturgia maçónica, realizando e interpretando esses símbolos, que são verdadeiros
mistérios, na acepção etimológica do vocábulo, isto é, "verdades guardadas", ocultas, tem
de ser imperativamente a sua hierogramata, ou seja, a sua intérprete. Aos maçons incumbe
decifrá-los e desvelá-los, enriquecendo o seu espírito e fortalecendo a sua alma,
aperfeiçoando-se, "polindo-se" para poder se "ajustar" na obra imortal da construção do
templo da virtude, como uma pedra exata e perfeita. Em conhecer esses símbolos, essas
alegorias, reside a ciência e a arte maçónicas.

Para isso é preciso ter abertos, não só os olhos do rosto, mas os do espírito, pois senão
vereis e não entendereis. À Franco-Maçonaria compete a missão de ser a vanguardeira da
Humanidade, sobre ela derramando a sua luz bem fazeja. "Vós sois a luz do mundo" —
disse uma vez o Grande Iniciado. Não podemos fugir a esse destino glorioso.

A Franco-Maçonaria, na sua longa história, tem sido às vezes instrumento da política, tem
sido vítima da política, tem atravessado períodos de perseguição e períodos de fastígio.
Sempre, porém, manteve resguardado o seu inapreciável tesouro, contido na liturgia, que é
o alimento da sua força espiritual. Afastai a liturgia da Franco-Maçonaria e vê-la-eis
fenecer até extinguir-se, como uma instituição profana qualquer, corroída pela luta
fratricida, atirada ao pasto das competições pessoais.

Interpretemos os símbolos, cultuemos o legado da sabedoria antiga e estaremos


robustecidos para enfrentar todas as vicissitudes.

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