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A MAÇONARIA E A LITURGIA
"Os símbolos são imutáveis, mas as interpretações variam. Essa é a lei do Esoterismo".
Armand BEDARRIDE — "Le travail sur la Pierre Brute", Paris, 1925.
Parecer aprovado pelo ilustre Conselho Estadual do Grande Oriente de São Paulo em 10 de
Março de 1954.
PROCESSO No 240/54
Lemos e relemos com imensa satisfação e grande enlevo, as páginas deste interessante e
utilíssimo livro, intitulado:
1 ° ) — Em sua História;
2º.) — Nos Símbolos; lembrando-vos que esses símbolos contribuíram não para revelar sua
doutrina, antes para ocultá-la;
3 º . ) — Em sua Moral. Juramos fidelidade a o dever, seja ele qual for.
N o grau 14 encontramos o seguinte preceito :
"Devo obter de vós um compromisso de empregardes alguns momentos de vossos laseres,
doravante, a o estudo da doutrina maçónica, não somente da letra dos seus estatutos, mas
sobretudo do sentido oculto e elevado de seus ensinamentos. Prometeis-nos isso?"
Compreendemos, perfeitamente, que a vida agitada e tumultuaria da atualidade, dificulta e
priva muitas vezes dessa suprema aspiração de instruirse, à muitos dos nossos Ilr.'., mas,
havendo bôa vontade e com um pequeno esforço em, sobrepujar esse óbice, não vemos
motivos para que os Maçons deixem de usufruir esses gosos intelectuais.
N o desempenho do cargo de G r . ' . Sec.', das RRel.'. LLit.'. encarecemos aos Maçons a
leitura e meditação sobre os conceitos exarados no livro: " A M A Ç O N A R I A E A
L I T U R G I A " , cujos ensinamentos possam penetrar e ficar gravados na mente de todos,
auxiliando e corroborando na formação de uma plêiade de obreiros dedicados e cônscios
de seus deveres para com a parte intelectual e espiritual da nossa Sublime Ordem e da
razão de serem Maçons.
A o ilustre autor, nosso presado e estimado amigo, D r . J o ã o Nery Guimarães, as nossas
efusivas congratulações e louvores em profusão pelo seu belíssimo trabalho, que honra e
enaltece a literatura maçônica brasileira.
ROBERTO PABST, 33.'. Grande Secretário das Relações Litúrgicas do Grande Oriente
do Brasil e Ven.', da Aug.'. e Resp.'. Loj.'. Cao.'. "Rangel Pestana"
São Paulo, 14 de Janeiro de 1954.
A ANTIGUIDADE DOS SÍMBOLOS
SÍMBOLOS
Remontam as origens dos símbolos maçônicos à aurora do homem sobre a terra. Daí terem
alguns observadores apressados concluido que a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o
mundo. Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a Franco-Maçonaria, com as
características atuais, data do século 18, ou melhor, do ano de 1717, ponto de partida da
Franco-Maçonaria moderna. Foi nessa data que se firmou a preponderância da Franco-
Maçonaria especulativa, sobre a operativa.
Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons, maurerei)
foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte também as tradições
ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.
E' forçoso admitir que os franco-maçons não inventaram, por coincidência, tais símbolos,
pois muitos deles tinham o mesmo significado maçónico de hoje. Alguns, por exemplo, são
tão evidentes, que não permitem margem à dúvidas. Existiu, portanto, um misterioso fio
que preservou a tradição antiga, fio esse que não trepidamos em declarar — o segredo dos
iniciados. A sabedoria antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre de-
terminado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, poude, assim,
chegar até nós. Só desta forma compreende-se o mistério que a muitos pareceu
indecifrável.
Ensinam a história, a sociologia e a literatura, que as obras homéricas foram guardadas pela
tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma escrita. O mesmo processo
sofreram quase todas as lendas dos primórdios da civilização. Se assim aconteceu em
relação a obras literárias e narrativas históricas, porque não sucederia o mesmo com uma
tradição iniciática, perpetuada através de símbolos?
Sobre o poder conservador dos símbolos, já disse o nosso Ir.’. MICHA que "se a verdade
sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão sublime que nenhuma
ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o simbolismo é por sua vez como
uma espécie de revestimento, de meio de conservação ideal dessa verdade e uma
linguagem ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação, e que só os iniciados
podem traduzir sem deformar-lhe o sentido".
E o que é a liturgia senão o conjunto desses símbolos realizados sob determinada forma e
em determinadas circunstâncias?
A MAÇONARIA E A LITURGIA
A Franco-Maçonaria está tão ligada à liturgia, que contém toda a sua interpretação
esotérica e filosófica, que, sem a liturgia a nossa Sub.'. Ord.'. seria corpo exânime. Em seus
"Estudos Filosóficos", o Ir.'. DARÈRES, disse com exatidão que, "privar a Franco-
Maçonaria da sua língua sagrada é despojá-la da sua força diretora e do sopro vivificador de
sua animação universal; é roubar-lhe todo o encanto que está unido à sua crença e às doces
esperanças que lhe inspiram seus esforços filantrópicos. Há mistérios nessa Instituição —
diz ainda DARÈRES —, que o espírito deve saber compreender sem procurar defini-los".
A liturgia é um fenômeno vital, uma concreção orgânica, uma forma de vida perene e
atraente. Com felicidade disse ilustre escritor que, "a liturgia mostra sua beleza interior por
uma dinâmica inexausta".
Como disciplinadora das nossas tendências negativas, ela impõe a renúncia generosa às
próprias expansões que não se enquadrem dentro da regulamentação comum. É a
submissão de toda a tendência antropocêntrica, de toda a insurgência egoísta. Em liturgia
não existe o singular "eu", mas o plural "nós".
A liturgia encerra dentro de si algo que nos convida a dirigir os olhos e o pensamento para
as estrelas. Que nos relembra o giro imutável e eterno de suas órbitas, e nos fala de sua
ordem equilibrada e harmônica e de seu majestoso e solene silêncio, na imensidão por
onde os astros caminham.
PAUL VALÉRY, poeta do simbolismo, sentiu a força expressiva da liturgia, também como
forma de arte, proclamando que a "liturgia e a arte vão unidos em estreito consórcio,
guardando afinidades profundas e se desenvolvendo em uma atmosfera de mistério e de
encanto, despertando no homem o instinto do divino".
E que melhor forma para encerrar os seus segredos poderia escolher a Franco-Maçonaria,
senão a de envolvê-los no extraordinário poder preservador das alegorias? Que melhor
linguagem poderia ser usada para manter viva a mensagem de que é portadora, através dos
séculos, senão a linguagem simbólica, visível e inteligível somente aos iniciados?
A LOJA MAÇÔNICA
MAÇÔNICA
Mas se hoje assim se entende, antigamente não. A palavra "templo" era pouco usada,
dando-se larga preferência à palavra "loja" que congregava os dois significados.
O Ir.'. RAGON, em sua quase desconhecida obra — "La messe et ses mystéres compares
aux mystéres anciens" —, ensina que "os templos maçónicos chamavam-se lojas, que na
linguagem sagrada do Ganges quer dizer mundo, donde também se deriva a palavra
sagrada logos, que quer dizer verbo, discurso, razão". "Loja — diz RAGON — é o lugar em
que a palavra é dada, a razão das cousas explicadas e o verdadeiro sentido das alegorias é
desvelado sem perigo, perante homens experimentados".
O etimologista ALÓIS WALDE esclarece que "templo é palavra latina que denominava o
lugar quadrado, delimitado e orientado, no qual o augure tomava no céu os auspícios".
A construção de um templo obedece às regras da arquitetura sagrada antiga, que devem ser
seguidas. A primeira delas é a da orientação, isto é, deve o templo estar disposto de tal
forma que a entrada se dê pelo Ocidente, e a parte oposta, onde se fixa o altar, esteja
voltada para o Oriente. Essa regra preliminar encontra raízes velhíssimas em todos os
povos do universo que sempre viram no Oriente a fonte da sabedoria. Dessa orientação dos
templos deriva a posição das duas colunas, uma significando o norte e outra o sul. O
templo vai do Oriente ao Ocidente, do zenit ao nadir, de norte a sul ou do setentrião ao
meio-dia, conforme se adotar a moderna ou antiga denominação das posições geográficas.
A altura do templo é da superfície da Terra ao Céu e a profundidade, da mesma superfície
ao centro da Terra. É o símbolo do Mundo.
Tão forte é a influência solar em toda a antiguidade, que a maioria das religiões antigas
comparam as suas divindades ao astro rei, quando não é o próprio Sol o adorado. Durante
milênios foi o mediador visível entre o Supremo Arquiteto e a Humanidade. Os brâmanes,
os hebreus, os romanos, viravam-se para o Oriente para orar.
Deus é o Sol. O domingo é o dia do Senhor, "dominus dei", dos romanos, "sunday" dos
anglo-saxões, "sonntag" dos teutões, "dimanche" dos gauleses. As representações do Sol são
frequentes nas obras de arte e obras religiosas de toda a antiguidade. O Sol é o símbolo da
luz, da inteligência, da origem, do princípio ativo, enquanto a Lua representa o princípio
negativo, é o feminino, a passividade, a imaginação.
O que é o ostensório usado pela igreja romana, senão a imagem do Sol resplendente de sua
própria luz? As igrejas, desde DIOCLECIANO, tanto quanto possível, vêm sendo
orientadas de modo que a sua entrada se faça pelo Ocidente situando-se o altar,
invariavelmente, no Oriente. DIONÍSIO DA TRÁCIA ensinava que os templos dos antigos
eram colocados de acordo com a marcha do Sol e VITRÚVIO dizia o mesmo: "Templa
orientem spectari debet".
Visto o templo por fora, batamos ritualisticamente à sua porta, para que o Ir.'. Cobr.'. nô-la
venha abrir. Qual a razão das... pancadas, compassadas e regulares? Entre os vários
significados dessa prática, que distingue aquele que foi iniciado, que mostra assim saber
comunicar-se com seus Ur.', que estão trabalhando, está a alusão da frase bíblica: "Pedi e
dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á ".
O profano não saberia como chamar o Ir.'. Cobr.'. pela forma exata.
Franquiada a nossa entrada, olhemos à nossa volta. Nenhuma janela ou porta de acesso!
Sentimo-nos como se estivéssemos no santo tabernáculo, fora de todas as vistas.
Separando o teto das paredes, contemplamos a Cadeia de União, ora em forma de uma
corrente de metal, ora em forma de uma corda com nós, símbolo da união dos maçons
espalhados pela superfície da Terra. Essa Cadeia de União é interrompida junto ao pórtico
pelo qual se ingressa na Loja. Tal cesura indica que por ali poderão se unir novos irmãos.
Aos nossos olhos surgem, em seguida, as duas colunas, estranhamente dispostas, pois
emergem do chão e não chegam ao teto. Uma significa a força, a firmeza, e a outra a
beleza, ostentando cada uma delas, uma determinada letra. Recordam, segundo a tradição
maçônica, as colunas do t e m p l o de Salomão.
Ornadas de lírios, símbolo da pureza, essas colunas sustentam, em alguns ritos maçônicos,
duas esferas, sendo uma o globo terrestre e outra a projeção do mundo celeste sobre a
Terra. Em outros ritos, em lugar das duas esferas, servem de base a três romãs, fendidas
pela sazão, símbolo da abundância, da proliferação dos maçons sobre a face do globo.
Costumam essas romãs estar envoltas numa rede, emblematização da união.
Mas porque essas colunas estão assim singularmente dispostas, sem exercerem a função de
sustentar o edifício? Evidentemente têm elas outro significado. São mais obeliscos do que
colunas de sustentação. Os obeliscos, os pilares, as colunas, são formas arquiteturais muito
antigas. Segundo o historiador HERÓDOTO, os obeliscos egípcios eram uma homenagem
ao Sol. O Velho Testamento nos conta como Jacob plantou um pilar em Betei para
memorializar a escada que desceu do Céu à Terra. Josué levantou doze pilares para
assinalar em Gilgal a lembrança da sua travessia do Jordão. Samuel festejou a derrota dos
filisteus, erguendo um pilar entre Mispeh e Shem, e Absalão ergueu outro em sua própria
honra. E, o profeta Isaias, numa linguagem maçónica, quando quis dizer que os príncipes
egipcios caíram do poder, assim se exprimiu: "Suas colunas abateram-se".
O Ven.'. Mest.'. senta-se de frente para os obreiros, dando as costas à parede onde devem
estar representados o Delta, símbolo do Absoluto (tendo no centro o Olho da Sabedoria), o
Sol e a Lua. Sobre o Ven.'. Mest.'. deve estender-se um dossel, símbolo da hierarquia
sagrada. A mesa que serve ao Ven.'. Mest.'., erroneamente chamada de altar, apóia-se num
tablado de três degraus de altura, sendo o primeiro degrau o emblema da fortaleza, o
segundo o da beleza e o terceiro o da pureza.
Saindo-se do Oriente, desce-se um degrau e logo se nos depara um Altar, onde encontra-se
o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso. E' o altar dos juramentos.
O Livro da Lei Sagrada, durante os trabalhos da Loja deve estar aberto, (1) tendo sobre si o
Esquadro e o Compasso, com as duas pontas escondidas, no primeiro grau, em que as
verdades estão por ser reveladas; com uma ponta só do Compasso aparecendo, no segundo
grau, em que parte da verdade já foi revelada; e as duas pontas pousadas sobre o Esquadro,
quando a verdade já se mostrou por inteiro, ou seja, no terceiro grau. Encerrados os tra-
balhos da Loja, o Livro da Lei Sagrada deve ser fechado.
Ensina o Ir.'. LAWRENCE, autor de várias obras maçónicas, que o Livro da Lei Sagrada
não é obrigatoriamente a Bíblia, mas sim o livro sagrado da religião do maçom. Pode ser o
Corão, o Zend-Avesta, o Sastras, o Rig-Veda, como qualquer outro.
Conta LEADBEATER que numa loja maçónica de Bombaim havia cristãos, indús, budistas,
parsis, judeus, síquios, mussulmanos e jainos. A Loja costumava colocar sobre o altar os
livros sagrados das religiões professadas pelos seus membros.
No centro da Loja, estendido sobre o chão, é colocado o Tapete de Mosaico, que representa
o perímetro quadriculado do Sancto Sanctorum. Não deve, por isso, ser pisado pelos
obreiros. Aos nossos olhos, o Tapete de Mosaico emblematiza as alternativas da vida, das
alegrias e das tristezas, do bem e do mal, do dia e da noite, dos vícios e das virtudes, num
contraste harmonioso.
Aos pés das mesas em que se apoiam os VVig.'., vêem-se duas pedras, uma em estado
natural e outra polida. A primeira pedra, que é a que fica próxima ao 2.° Vig.'. é o símbolo
da paixão, do egoísmo, da imperfeição dos aprendizes. A segunda pedra, já trabalhada, fica
à frente do 1.° Vig.'. e alegorisa o aperfeiçoamento moral, e significa que o aprendiz enri-
queceu os seus conhecimentos. Querem alguns tratadistas maçônicos que uma terceira
pedra seja colocada no Oriente, junto à mesa do Ven.'. Mest.'. , pedra essa que tem o nome
de "perpendicular". Dado as particularidades que envolvem este símbolo, não o poderemos
esclarecer neste pequeno ensaio.
AS LUZES,
LUZES, AS JÓIAS E OUTROS SÍMBOLOS
Na organização maçônica são chamados de "luzes" aqueles que dirigem a Loja e nela
exercem funções de relevo. São cinco as principais "luzes" : Ven.'. Mest.'., 1.° e 2.° VVig.’.,
Orad.'. e Sec.-.. Como o próprio nome o indica, devem iluminar da Loja, concorrendo
sempre com a sua sabedoria, espírito de tolerância e firmeza. Dessas cinco luzes,
sobressaem-se o Ven.'. Mest.'. e os dois Wig.', que formam as três luzes vitais que ilu-
minam a Loja, conjuntamente com as três luzes astrais, o Sol, a Lua e a Estrela Radiosa.
O Ven.'. Mest.'. que ocupa a cadeira do rei Salomão, encarna a Sabedoria. 0 1.° Vig.'. é a
Força para realizar, e o 2.° Vig.'. é a Beleza que adorna. Toda grande obra reúne essas três
qualidades.
O Ven.'. Mest.'. é também chamado "hierofante", ou seja o sacerdote que nos mistérios
egípcios era encarregado de iniciar os neófitos e de interpretar os mistérios. Os VVig.'. por
sua vez, são os "episcopos", isto é, aqueles que vêem com segurança.
O Ven.'. e os VVig.'. empunham Malhetes, emblema do poder e da autoridade. E' o
símbolo do comando. Assim como os reis e soberanos usam o cetro, o Ven.'. Mest.'.
empunha o malhete.
"No princípio do século dezoito os aventais eram idênticos àqueles usados pelos pedreiros
operativos. Eram grandes, chegando até o peito e descendo até os joelhos, de couro
irregular, ficando a parte da cabeça do bói sobre o peito e o restante apenas com as pernas
cortadas. Contudo, já naquela época alguns irmãos costumavam decorar seus aventais com
desenhos de arcos, colunas etc. Não havia o cuidado de um modelo único, agindo cada um
como melhor lhe parecia. Com o tempo, alguns desenhos tornaram-se populares e foram
copiados por outros maçons. Em fins do século dezoito pintavam-se cenas da legenda
maçónica ou detalhes das cerimônias. Logo depois do Ato de União, em 1813, foi
estabelecida a forma atual".
O Avental deve ser feito de pele branca, com um friso de pano azul nas bordas, tendo uma
abeta, também frisada de modo idêntico, que é usada abaixada nos graus de mestre e
companheiro. Os aprendizes apresentam-se com a abeta levantada, sendo que o seu
avental não possui friso algum. Dissemos friso azul, pois essa é a cor do simbolismo
maçônico, sendo um erro generalizado o uso da cor vermelha, o que mais adiante melhor
esclareceremos.
Os OOf.'. usam em volta do pescoço um Fitão ou colar de pano azul, caindo em ângulo
sobre o peito. Na extremidade do fitão, deve pender a Jóia do seu cargo. Algumas lojas
costumam inscrever o seu título distintivo ou número, no fitão. Ao contrário do Avental, o
Fitão é de uso facultativo para os obreiros, excetuados, é claro, os que exercem cargos.
Do fitão do Ven.'. Mest.'. pende um Esquadro aberto, apoiado sobre uma meia
circunferência graduada, tendo ao centro o Sol. Isso no rito Escocês Antigo e Aceito. No
rito de York, o Ven.'. Mest.'. usa simplesmente um Esquadro, símbolo da verdade. O
Esquadro apoiado pelo Malhete significa a verdade apoiada pela autoridade.
As jóias do Ven.'. Mest.'. e dos VVig.'. são chamadas jóias móveis porque são transmitidas
aos seus sucessores na noite de posse da nova administração. Assim como há três jóias
móveis, existem também três jóias imóveis, que são a Tábua de Delinear (1), a Pedra Bruta
e a Pedra Polida, já descritas por nós. São chamadas jóias imóveis porque permanecem
expostas e imóveis na Loja para os irmãos nelas estudarem a moral.
AS CORES,
CORES, OS NÚMEROS, OS SINAIS E A LINGUAGEM
O azul é a cor magnética por excelência. Cor do planeta Júpiter, que rege o pensamento
moral, a idéia filosófica. Segundo DARIO VELOSO, "o azul repousa o corpo e fortalece o
espírito, convida à meditação, ao embevecimento, derramando na alma silenciosa, eflúvios
de bondade". Por isso a safira é a pedra dos sábios, dos filósofos, dos teurgos. É a cor do
céu.
O branco, cor dos aventais, é a paz, a virgindade de Isis. Branco era o avental do profeta
Elias e branco também o avental que cingia João Batista, como também eram brancos os
"efods" dos israelitas que serviam no Santo dos Santos. Nos mistérios pérsicos de Mitra, os
iniciados surgiam revestidos de um avental branco, e de modo igual eram paramentados os
iniciados nos mistérios de Eleusis, pois segundo CICERO, "o branco é a cor preferida dos
deuses". De tal forma o branco se associou à idéia de pureza, de virgindade, que os Essênios
cobriam os seus postulantes com uma veste alva, com as extremidades azuis.
Já o vermelho é a luta, o combate, é o planeta Marte. Indica o sacrifício, o sangue. No rubi
é o Direito, é o litígio entre a razão e o erro. Na púrpura é a cor preferida pelos magos. O
preto é a dor, a desesperança, a morte. Saturno é negro como o ónix. A cor negra é usada
em certas câmaras maçônicas e em determinadas cerimônias.
Uma loja maçónica só é perfeita quando tem sete maçons, colados no grau de mestre. Sete
ou mais.
Entre os símbolos maçónicos cujo significado é bastante oculto, situam-se os sinais. Por
eles os maçons se reconhecem e constituem um segredo que não pode ser revelado, sob
pena de perjúrio ao juramento prestado. Devem ser feitos com muita discrição e atenção.
Digamos até: com unção. Os sinais mal feitos, além de denotar negligência são uma
demonstração de ignorância maçónica. Evidentemente quem os faz de modo pouco
cuidadoso ou sem o devido respeito, ignora o seu verdadeiro significado.
O gesto é a palavra muda. Quando o maçom faz sinais, está transmitindo uma mensagem,
está realizando uma cerimônia, que pelo seu segredo, escapa ao entendimento dos
profanos.
Os sinais maçónicos merecem um estudo a parte, tal a sua complexidade. O Ir.'. WARD, já
citado, dedicou um belíssimo livro ao estudo dos sinais maçônicos, a cujas origens
remonta. Faz mesmo uma interpretação profunda, à luz de elementos colhidos nas fontes
mais insuspeitas da antiguidade, através de obras de arte recolhidas aos museus da Europa
e da Ásia. E nos aponta a existência dos sinais tão nossos conhecidos, em pinturas,
esculturas e descrições antigas, onde têm o mesmo significado compreendido pelos
maçons.
A linguagem dos sinais só é inteligível aos iniciados, dado o seu significado recôndito. Os
maçons, porém, possuem uma linguagem falada, igualmente desconhecida dos profanos.
Com ligeiras variações, é a mesma na Inglaterra, na França, na Alemanha, nos países de
fala espanhola e portuguesa. Os seus termos são geralmente tirados da arte do pedreiro ou
da construção. Assim, escrever é "traçar", carta é "prancha" e a ata é "balaustre", discurso é
"traçado geométrico", examinar alguém para verificar se é maçom é "trolhar", cruzar as
espadas sobre a cabeça de visitantes ilustres é formar "abóbodas de aço". A presença de
profanos entre maçons é assinalada pela palavra "goteira" intercalada numa frase.
Qual a Instituição, no mundo moderno, que conserva tão precioso tesouro da sabedoria
antiga senão a Franco-Maçonaria? Reunindo tantos elementos esotéricos, dentro dos
princípios e da tradição iniciática, a Ordem Maçônica é a instituição que os perpetua,
sendo a ponte de ligação entre um passado que remonta à noite dos tempos, dona de uma
sabedoria e conhecimentos que se perderam para o mundo profano, em ondas de sangue e
de barbárie, que durante séculos, em crises periódicas, convulsionaram o mundo.
A liturgia maçónica, realizando e interpretando esses símbolos, que são verdadeiros
mistérios, na acepção etimológica do vocábulo, isto é, "verdades guardadas", ocultas, tem
de ser imperativamente a sua hierogramata, ou seja, a sua intérprete. Aos maçons incumbe
decifrá-los e desvelá-los, enriquecendo o seu espírito e fortalecendo a sua alma,
aperfeiçoando-se, "polindo-se" para poder se "ajustar" na obra imortal da construção do
templo da virtude, como uma pedra exata e perfeita. Em conhecer esses símbolos, essas
alegorias, reside a ciência e a arte maçónicas.
Para isso é preciso ter abertos, não só os olhos do rosto, mas os do espírito, pois senão
vereis e não entendereis. À Franco-Maçonaria compete a missão de ser a vanguardeira da
Humanidade, sobre ela derramando a sua luz bem fazeja. "Vós sois a luz do mundo" —
disse uma vez o Grande Iniciado. Não podemos fugir a esse destino glorioso.
A Franco-Maçonaria, na sua longa história, tem sido às vezes instrumento da política, tem
sido vítima da política, tem atravessado períodos de perseguição e períodos de fastígio.
Sempre, porém, manteve resguardado o seu inapreciável tesouro, contido na liturgia, que é
o alimento da sua força espiritual. Afastai a liturgia da Franco-Maçonaria e vê-la-eis
fenecer até extinguir-se, como uma instituição profana qualquer, corroída pela luta
fratricida, atirada ao pasto das competições pessoais.